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quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27343: S(C)em Comentários (79): Das "Vinhas da Ira" às "sopas de cavalo cansado", passando pelos verdes que me faziam azia... Tudo isto para dizer que prefiro...os maduros (Virgílio Teixeira, Vila do Conde)


O vinho verde branco "Camperlo" que também se
bebia em Bissau (passe a pblicidade...). 
Foto: Vt (2025)


1. Comentário (e fotos) do Virgílio Teixeira, ao poste P27280 (*)



As Vinhas da Ira. Romance de John Steinbeck, Escrito em 1939. A sua obra-prima. Adaptado ao cinema, surge o filme em 1940, dirigido por John Ford, com Henry Fonda como principal protagonista. Vi este filme ainda com 10 a 12 anos. Nunca o esqueci.

Dei este titulo ao comentário por me fazer lembrar as vinhas,  os vinhos e as bebedeiras....

O Luis fala e elenca uma série de vinhos que se bebiam no CTIG, eu conhecia todos, exceto o "Casal Mendes", que não me lembro de ver no meu tempo.

E naturalmente os Alvarinhos que já eram e são artigos de luxo, bebo quando mos oferecem, mas
não compro, até porque não sou apreciador de vinhos verdes, parece que me fazem azia, não os troco por maduros nrancos de qualidade, com graduação acentuada, e tintos obviamente.

O mais consumido por mim era o "Casal Garcia", que, ainda pós-desmobilização, bebia nos
dias muito quentes, mas tudo passa.

Na sequência no excelente trabalho inserto no Poste 27280, resolvi intervir com algo para mais conversa, senão a IA escreve tudo por nós e eu não sei defender-me!

Desde ainda criança começou a minha iniciação dos vinhos como tantos outros conhecem.
 
Estamos ainda em plena 2a guerra mundial, os bens escacionavam, o pequeno almoço eram as celebres "sopas de cavalo cansado": malga com broa desfeita ou casqueiro militar aos bocados; rega-se com vinho tinto, verde de pipa ou garrafão, adicionamos muito açúcar amarelo e depois é só comer.

 Não sei se fez bem ou mal, era o que havia!

E sempre bebia vinho às refeições, era de garrafão de vidro encestado.
 
Lembro me por exemplo, uma despedida de ano, talvez 59 ou 60, e num autocarro dos STCP, em plena Baixa Portuense, foi festejada a efeméride com garrafas de champanhe da conceituada marca  "Magos", uma garrafinha de 0,25

Sem direito a copo, que se abria com as cápsulas tipo cerveja e de águas do "Sameiro". Por isso nós, quando se falava dessa cápsula chamávamos de "Sameira".

Nas brincadeiras de jogar com elas, com enchimento de casca de laranja, e com os dedos fazer as corridas nas bermas dos passeios, sem sair das linhas até chegar o primeiro.

"Casal Mendes"
(passe a publicidade)
que eu náo conheci.
Foto: Vt (2025)

Que raio de brincadeiras que nem os Fulas ou Felupes as adoptaram. Não havia passeios, nem saneiras nem cascas de laranja, talvez.

O vinho que aqui se fala, o "Campelo", verde tinto e verde branco, faziam parte das bebidas de café. Encontrei 2 garrafas com rótulo original numa prateleira. A versão tinto e a versão branco que também a bebi na Guiné.
 

 O "Casal Mendes" não conheci, temos uma garrafa actual em foto, na prateleira de garrafeira. Nunca provei.

O vinho verde branco, bebe se fresco ou geladinho e não se nota defeitos. Nada como alguns vinhos Alvarinho, que são uma selecção à parte. "Palácio da Brejoeiro"  e outros.
 
Afinal não sou cliente de verdes!
 
Nunca vi uma vindima [excepto as que fazia por conta própria nos meus 10 anos nas videiras dos vizinhos]. Depois uma grande dor de barriga!
 
Abraços fraternos.(**)
 
Virgílio Teixeira
Em 2025 10 04

 PS - Nesta hora, ano 67,  já tinha feito o trajecto nos "barcos turra", e por estrda em coluna a caminho de Nova Lamego]. Já passaram 58 anos...




Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Dmingos, 1967 /69);  natural do Porto, vive em Vila do Conde.


______________

Notas do editor LG:


Vd. também postes de:

26 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27255: Felizmente ainda há verão em 2025 (39): Quem se lembra do vinho verde branco, "Gatão, em garrafa de cantil com argola, que depois servia para fazer candeeiros de mesa de cabeceira nos nossos "resorts" turísticos ?

20 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27232: Felizmente ainda há verão em 2025 (35): os vinhos verdes que aprendemos a gostar na guerra: Casal Garcia, Aveleda, Gatão, Três Marias, Lagosta, Palácio da Brejoeira (...sem esquecer o Mateus Rosé, da Sogrape)

11 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14598: A bianda nossa de cada dia (5): Se a vida era boa em Lisboa, em Bissau nem tudo era mau... Do arroz de todas cores ao vinho verde alvarinho "Palácio da Brejoeira"... (Hélder Sousa)

11 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14595: A bianda nossa de cada dia (4): Os nossos "chefs gourmet", lá no mato.. A fome aguçava o engenho... (Jorge Rosales / Manuel Serôdio / Vasco Pires)

9 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14589: A bianda nossa de cada dia (3): o melhor casqueiro da zona leste, amassado e cozido em forno a lenha pelo Jacinto Cristina e pelo Manuel Sobral, no destacamento da ponte Caium... Mas nem só de pão viviam os homens do 3º Gr Comb, os "fantasmas do leste", da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)

7 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14584: A bianda nossa de cada dia (2): homenagem ao nosso cozinheiro Manuel, hoje empresário de restauração (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

5 de maio de 2015 Guiné 63/74 - P14574: A bianda nossa de cada dia (1): histórias do pão e do vinho... precisam-se!


(**) Último poste da série > 1 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27273: S(C)em Comentários (78): Na Guerra (tal como na Política) Não Vale Tudo... (António Rosinha / Cherno Baldé / Luís Graça)

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27323: O vinho... pró branco de 2ª e pró tinto de 1ª (1): o "vinho para o preto" em Lourenço Marques, a "água de Lisboa" em Bissau e a "cerveja Cuca" em Luanda...



Capa do livro do José Capela, "O vinho para o preto: notas e textos sobre a exportação do vinho para África". Porto: Afrontamento, 1973, 170 pp.




Esta é uma variante popular, pícara (e sem ofensa para os crentes...), da oração tradicional, rezada pelos nossos avós, há 100 anos, para pedir a benção de Deus ao deitar e ao acordar: "Com Deus me deito, com Deus me levanto, na graça de Deus e do Divino Espírito Santo"-


1. Fui desencantar este livrinho arrumado no sótão mas felizmente ainda sem estar  roído  pela traça. Lembro-me de o ter comprado, na feira do livro da Lourinhã, que eu próprio organizei, com outros jovens da terra, na "praça do coreto"... Em 1973 ! 

Não estava propriamente proibido, mas vendia-se por baixo do balcão como outros livros que corriam o risco de ser apreendidos, arbitrariamente, pela PIDE/DGS, dando um rombo nas "finanças" da organização... (Havia uma delegação a 18 km dali, em Peniche. E alguns dos pides eram mesmo burros: eram capazes de implicar com uma "bíblia protestante", como fizeram ao meu amigo Bernardino Anastácio, o meu barbeiro, que um dia foi dentro por ser "fala-barato" e do "reviralho". Revistada a barbearia e  a casa, só lhe levaram uma "bíblia protestante"...Acabou por ser solto, por falta de provas  ou indícios de ser um "perigoso comunista".)

É reconhecido hoje que este livrinho do José Capela dava já, na época, surpreendentes pistas para a compreensão das dinâmicas económicas e sociais da "nossa" África, particularmente de Moçambique.

 A guerra colonial estava ao rubro e tudo o que se escrevesse sobre as colónias (ou "províncias ultramarinas") , a sua história, a economia, a sua sociedade..., era lido com avidez. Só não se podia falar da guerra, essa, sim, tabu. Para mais, vindo de autores   "desalinhados" com o regime, como o José Capela.

Eu sabia, em 1973,  que o José Capela era  padre ou ex-padre. Mas pouco mais. Afinal é o pseudónimo de José Soares Martins (Feira, 1932–Porto, 2014), um historiador e jornalista português cuja vida e obra estão profundamente ligadas a Moçambique e à análise crítica do colonialismo português. 

Natural de Arrifana, concelho da Feira, concluiu aos 22 anos o curso de Teologia no seminário do Porto em 1954. Chegou a Moçambique  anos depois, como padre. Mas enveredou rapidamente para o jornalismo.  Foi chefe de redação e diretor-adjunto do "Diário de Moçambique", com sede na Beira, o  jornal fundado pelo primeiro bispo daquela Diocese, D. Sebastião Soares de Resende (1906-1967), e de resto seu tio. Sim, o  famoso Bispo da Beira que entrou em  rota de colisão com Salazar e o seu regime (tem mais  400  páginas o seu processo no arquivo da PIDE/DGS).

Em 1962 o José Capela  relançou naquela cidade moçambicana o semanário "Voz Africana", que dirigiu, de facto, até 1968. Este jornal teve nesse período um papel importantíssimo na consciencialização dos moçambicanos,  negros, sobretudo no que respeitava à exploração económica de que eram vítimas.

Com a morte prematura do bispo da Beira,  ficam praticamente  inviabilizados  aqueles dois projectos jornalísticos.  Por outro lado, com as crescentes pressões que as autoridades portuguesas  iam fazendo sobre vozes incómodas como a dele,  o José Capela teve de abandonar bruscamente Moçambique. Contudo, vai levar primeiro para o Brasil e depois para a Bélgica, documentação importante,  nomeadamente os escritos inéditos de D. Sebastião e a volumosa correspondência que reuniu, enviada pelos moçambicanos, negros,  para a "Voz Africana" sob a forma de "cartas ao diretor". 

Essa documentação ajudou-o a  fazer  retrato da situação social que então ali se vivia, e de que ele foi também testemunha direta. Com a censura em vigor,  não puderam ser publicadas na altura. Mas dessa correspondência, ele vai reunir uma amostra significativa  no livro "Moçambique pelo Seu Povo" (1971). Não conheço a obra (nem outras do autor sobre a história colonial de Moçambique), pelo que não vou falar dela.

 De regresso a Portugal, em 1970, fundará no Porto  o  prestigiado jornal "Voz Portucalense" . Tornou-se editor (ajudou a fundar as editoras Confronto e Afrontamento), e participou também nos "Cadernos Anticoloniais". Depois da independência de Moçambique,  serviu entre 1978 e 1996 como Adido Cultural na Embaixada de Portugal em Maputo. 

O seu livrinho  "O Vinho para o Preto" (1973)  (disponível aqui, íntegra,em formato pdf) é, pois, o único que eu conheço do José Capela. Tem como  subtítulo: "Notas e textos sobre a exportação do vinho para África".  

As notas são sucintas (c. de 30 pp.): introdução, bebidas cafreais, vinho para o ultramar. Os textos preenchem o resto do livro, são cerca de 130 páginas, constituídos por  documentação diversa dos finais do séc. XIX e princípios do séc. XX,  nomeadamente  recortes de imprensa sobre a exportação de vinho, relatórios administrativos,  regulamentos, mapas estatísticos, etc.  Seria fastidioso ver tudo isto em detalhe.
 
Do livro para já, interessa-me reter o título e fazer aqui um brincadeira, um trocadilho, para inaugurar uma nova série, onde fundamentalmente se fale dos vinhos que consumíamos na Guiné, o da Intendência  (a famosa "água de Lisboa" ) e os vinhos comerciais, de marca,  que chegavam à cantina, à messes e as restaurantes de Bissau, Bafatá e pouco mais.

Era conhecido, esse vinho que era exportado para África, pela designação pejorativa de "vinho para o preto" (termo que, de resto, já vinha de finais do séc. XIX). Tinha uma clara conotação racista.  Mas também era bebido pelo branco, a que chamávamos de segunda. Na época os colonos de África não eram propriamente a "fina flor da Nação"... 

O ponto central da argumentação do José Capela é que o "vinho para o preto" não era apenas um produto de exportação; ele tipificava e espelhava toda uma situação global de relações económicas coloniais, tendo  servido como um mecanismo de exploração e controlo da população africana.

A exportação deste vinho, muitas vezes de qualidade inferior (quando não mesmo uma "mixórdia") era crucial para absorver o excedente da produção vinícola portuguesa (então em crise), beneficiando com isso sobretudo a burguesia mercantil do Porto e a economia metropolitana. 

O livro enquadra esta prática nas transformações por que estava a passar a economia  portuguesa, com o desenvolvimento do capitalismo industrial.

O vinho colonial tornou-se um dos principais mecanismos de extração indireta de riqueza da população africana. O dinheiro que os trabalhadores africanos, nomeadamente os mineiros que iam para a África do Sul, obtinham com o seu trabalho,  era depois absorvido pelo comércio colonial através da venda deste vinho nas cantinas e tascas.

O José Capela aprofunda as consequências sociais e morais deste comércio, nomeadamente em Moçambique:

(i) degradação e alcoolismo: a imposição e o consumo massivo deste vinho teriam contribuído para a degradação física e moral da população local; o  autor liga o abuso do álcool introduzido pela Europa a problemas sociais graves, um tema já debatido em conferências internacionais como a de Berlim (1885);

(ii) supressão das bebidas locais (ou "cafreais"): o sistema colonial, para garantir o mercado para o vinho importado, frequentemente recorria a medidas repressivas, como a taxação das bebidas destiladas e fermentadas indígenas, a proibição e a destruição sistemática de alambiques familiares e artesanais, etc.,  de modo a tornar  praticamente obrigatório o consumo do vinho português;

(iii) contexto suburbano: o consumo deste vinho nos subúrbios das cidades africanas em expansão, em condições de insalubridade, é descrito como um reflexo das péssimas condições de vida e de trabalho impostas pelo sistema colonial.

Em resumo, "O Vinho para o Preto" é um pequeno ensaio de  análise histórica, mais próximo do "estudo de caso", que utiliza o comércio do vinho para ilustrar a perversão do sistema  económico colonial. Que no essencial se baseava na exportação de produtos manufaturados na Europa, com alto valor acrescentado, e a importação de matérias-primas, extraídas  pelos indígenas a baixo custo.

2. Num artigo do jornal "O Século", de 15 de janeiro de 1899, sobre a "exportação de vinhos", pode ler-se:

(...) Em vista da baixa geral que tem havido nos preços dos vinhos dos mercados brasileiros muitos viticultores nos têm pedido informações referentes à exportação  para Lourenço Marques.

Devidamente esclarecidos  podemos aconselhar que os vinhos tintos devem ir em barris de quinto ou décimo (*), ou engarrafados, quando bem límpidos, sem exagerada força alcoólica, 12 graus em média, não carregados de cor nem maduros.

Os vinhos verdes, os  de Colares e os claretes têm fácil colocação  em Lourenço  Marques e no Transval. 

Em quanto a vinhos brancos, os de mesa melhor é que vão engarrafados, assim como os vinhos generosos.

O vinho branco, denominado "para preto". tem larguíssimo consumo, e pena é que a escala alcoólica ou limites para tais vinhos ainda não esteja  resolvida, o que tem causado gravíssimos  prejuízos aos exportadores e, assim, aos viticultores. (...).

In: José Capela, "O vinho para o preto: notas e textos sobre a exportação do vinho para África". Porto: Afrontamento, 1973, pág. 61

Num outro recorte do jornal "O Século", de 21 de janeiro de 1899, lê-se:

(...) Uma casa comercial  de Lisboa, com sucursal  em Lourenço Marques, lembrou-se de aguardentar muito os vinhos brancos, elevando a graduação a 17 e 18 por cento de álcool, na esperança de que o preto preferisse este vinho à aguardente, sua bebida habitual.

Generalizou-se  tão bem entre a raça negra o vinho assim preparado de preferência à aguardente,  que, começando a exportação do vinho chamado "vinho para o preto" por algumas dezenas de barris,  já se eleva a milhares de barris por mês  (....) 

In: José Capela, "O vinho para o preto: notas e textos sobre a exportação do vinho para África". Porto: Afrontamento, 1973, pág. 64

3. A questão que se pode pôr, num blogue de antigos combatentes, que partilham memórias (e afetos), é a seguinte: afinal, o vinho que nos chegava à mesa, no mato, era ou não uma variante do "vinho pró preto", uma espécie de "vinho pró branco de 2ª.", os expedicionários e a pequena comunidade de colonos brancos e assimilados  ?

O mercado ultramarino continuou a ter  um papel importante no escoamento da nossa produção vinícola, até à descolonização. Recorde-se que havia, ao tempo da guerra colonial, um problema de excesso de produção (e falta de qualidade)...

Dizia-se que Salazar dizia que "beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses"... O que em parte era verdade: antes do êxodo rural nos anos 60, a vitivinicultura dava trabalho a um exército de mão de obra barata nas aldeias... Em 1940, a vinha ocupava mais de 320 mil hectares e havia cerca de 337 mil produtores!... (Em termos de exportação de produtos agrícolas, só a cortiça ultrapassava o vinho; recorde-se que a superfície de vinha atualmente é pouco mais de metade da existente em 1940, c. 175 mil hectares.)

De facto, o trabalho na vinha, até ao fim de meados de 1960,  ainda ocupava muitos trabalhadores ao longo do ano... A mordernização da agricultura comneça tarde no nosso país.  Recordo-me quando era puto, em meados dos anos 50, de assistir à vinda de enormes ranchos de trabalhadores sazonais, homens e mulheres, para a minha zona (Lourinhã, Estremadura), na altura das vindimas... Eram os "ratinhos", vinham da Beira!... Recordo-me de ver, nos anos 60,os primeiros motocultivadores...

Em resumo, seria interessante saber mais sobre o vinho que a "metrópole" (Lisboa) nos mandava... A tropa era um segmento de mercado precioso, a partir do início da guerra em Angola... 

O que é que a malta sabe mais sobre isto ?

Em boa verdade, a generalidade dos nossos camaradas, no TO da Guiné, não se podia dar ao luxo de dizer o provérbio popular: "pão que sobre, carne que baste e vinho que farte"... Muitas vezes, faltava o pão, a carne e o vinho... Em quantidade e qualidade... 

Mas também se diz que "a fome é a melhor cozinheira"... Passou-se fome e sede na Guiné, todos estamos de acordo...Mas ninguém morreu de fome... Já de sede, desidratação, houve seguramente casos,,,

Que fique claro: não estão aqui em causa os nossos camaradas da Intendência que deram o seu melhor (e alguns morreram) no cumprimento da missão que lhes cabia no TO da Guiné...


4. O 'colon' António Rosinha, que foi para Angola nos idos de 50 do séc. XX,  e que foi depois  "retornado" à força, pode ser apresentado, sem ofensa, como  "branco de 2ª"  (...e eu como preto de 1ª na nossa "Guiné... zinha"). Já levantou aqui uma questão engraçada sobre o vinhinho que ia para as nossas Áfricas, o tal "vinho para o preto", de que nos fala o José Capela, e que dá o mote para esta nova série. De qualquer modo, em vez da "água de Lisboa", ele já preferia a "Cuca" (como bom angolano que era e que queria continuar a ser em 1975):


Angola bebe Cuca desde 1947...
(Imagem: BUS Creative Agency,
com a devida  vénia...)

(...) O único vinho verde possível de encontrar nas colónias, nos anos 50, antes do grito" Para Angola rapidamente e em força",  era apenas o Casal Garcia, caríssimo, e só em alguns restaurantes mais para o fino.

Com a ida dos militares para a guerra, começou a aparecer o Gatão e outras marcas engarrafadas, porque até ali foi sempre vinho "embarrilado", barris de 100 litros, nunca azedava, milhões de litros, desaparecia todo.

Ninguém distinguia se era martelado ou não, ninguém se queixava à ASAE (devia ter outro nome).

Embora, no caso de Angola,  a bebida nacional fosse a cerveja. A CUCA promovia 
frequentes mini Oktoberfest memoráveis para quem tomava parte. (...)  (**)


A história da Cuca remonta a1947, o ano dea fundação da Companhia União de Cervejas de Angola (CUCA), uma filial da Central de Cervejas, dona da marca Sagres. A Cuca foi a primeira cerveja produzida industrialmente em Angola. O nome seria uma homenagem à serpente Cuca, presente em tradições africanas, O  logotipo da marca  é um pássaro, simboliza a paz. A Cuca  tornou-se um "ícone cultural angolano (sic),  mas agora nas mãos da multinacional francesa Castel...  Todavia,   é paradoxal:  é mais barata a uma garrafa de cerveja (200 kwanzas) do que uma garrafa de água.. 

Curioso: uma marca colonial que os "tugas" lá deixaram... Outras duas cervejas de origem angolana são a Eka e Nocal.

Em suma,  o assunto parece que dá "pano para mangas", neste caso, garrafas e garrafas de vinho e cerveja, pires de tremoços  e muito paleio... Esperemos que  os leitores nos mandem os seus  contributos para esta nova série, que é uma variante da série "Comes & Bebes"... e do "Humor de caserna".  Que não nos falte, ao menos, o vinho, a cerveja e os tremoços.. E o humor. Sobretudo o humor.

_______________

Notas do editor LG:

(*) Um barril de quinto ou décimo era 1/5 ou 1/10 de uma pipa. Um recipiente mais pequeno que facilitava  o manuseio, o transporte em navio, a descarga, etc., nomeadamente com destino para o Brasil e África.  A pipa-padrão, na época, era a da Norte  do País (Porto, Douro), equivalente a 525/550 litros. Um barril de quinto ou décimo  seria, pois, c. 100 litros ou 50 litros, respetivamente.

(**) Vd. comentário ao poste de 3 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27280: Manuscrito(s) (Luís Graça) (274): Vindimas, ainda são o que eram ? - Em Candoz, sim, no essencial - II (e última) Parte

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27255: Felizmente ainda há verão em 2025 (39): Quem se lembra do vinho verde branco, "Gatão, em garrafa de cantil com argola, que depois servia para fazer candeeiros de mesa de cabeceira nos nossos "resorts" turísticos ?



Foto nº 1 > Vinho verde Gatão, da Sociedade Portuguesa dos Vinhos Borges & Irmão Lda (passe a publicidade): a garrafa em forma de cantil, com uma argola, foi lançada em 1950. Foi esta garrafa e este rótulo que conhecemos nos nossos bares, messes e cantinas na Guiné...


Foto nº 2 > Vinho verde Gatão, da Sociedade Portuguesa dos Vinhos Borges & Irmão Lda.. Um rótulo histórico.

Fonte: Cortesia de sítio oficial da marca Gatão


1. Felizmente que ainda há verão em 2025 (*)... Ou vai havendo. Até ao São Martinho, se Deus quiser.  Ou até quando a gente... puder!

Não conhecia a história do vinho verde Gatão (**)... Lembrava-me que se vendia e bebia em Bambadinca, no meu tempo, no bar e messe de sargentos (1969/71).  Já não me lembro do preço: mas devia andar à volta dos 20, 25 "pesos", como as outras marcas mais populares (Casal Garcia, Três Marias, Gazela, etc.). Mais caro nos restaurantes (Bafatá, Bissau...), c. 30/35 "pesos" (o "patacão" da Guiné).

A garrafa e o rótulo eram originais: a garrafa era (e continua a ser) "em cantil, com argola"; o rótulo, um gato, um gatão, felpudo, de  botas e pingalim na mão esquerda, segura com a mão direita uma garrafa... (Depois, por volta de 1990, estilizaram o gato: eu gostava mais do rótulo original e da garrafa; havia quem fizesse candeeiros de mesa de cabeceira com a garrafa, nas nossas casernas de mato).

 Já não me lembrava que a marca era comercializada pela Borges & Irmão. Nem sabia que a Sociedade Portuguesa dos Vinhos Borges & Irmão Lda  era, originalmente,  de dois irmãos tripeiros que fundaram o Banco Borges & Irmão. E que hoje já não existem, nem a empresa de vinhos nem o banco... Ou melhor: continua a existir a Sociedade Portuguesa dos Vinhos Borges & Irmão Lda, embora integrada desde 1998 no Grupo JMV - José Maria Vieira SA (passe a publicidade...).

Num caso e o noutro, seja vinho, seja banca, são ativos de outras empresas... De qualquer modo as marcas vivem sempre mais do que as empresas... As marcas são como as almas, dizem que sobrevivem aos corpos...

 Enfim, outras histórias. Como diria o Teixeira de Pasdoaes,  as coisas são como são, são possibilidades realizadas contendo inúmeras possibilidades realizáveis...

A marca Gatão e a marca Borges... continuam no mercado. Eu é que nunca mais bebi Gatão.  Desde 1969/71, quando estive na Guiné a cumprir o meu dever cívico, o serviço militar obrigatório (quase 3 anos, de meados de 1968 a março de 1971). 

Agora, tenho, na Quinta de Candoz, as mesmas castas, Pedernã, Azal, Trajadura, Avesso, Loureiro... Candoz pertence à subregião de Amarante, da Região Demarcada dos Vinhos Verdes...Estamos ali a 30 km de distância... Em suma, somos vizinhos.

Há dias lembrei-me desta marca, Gatão, quando, em Amarante, fui visitar uma exposição sobre o espólio, a vida e a obra do escritor amarantino Teixeira de Pascoaes (1877-1952).


Amarante, Gatão > Casa de Pascoaes.
Cortesia de Wikimmedia Commons.


Sabia que existia a Casa-Museu Teixeira de Pascoais, nos arredores de Amarante, sito na  Casa de Pascoaes , da família Teixeira Vasconcelos (o topónimo Pascoaes vai o escritor adotá-lo como pseudónimo literário, juntando-o ao apelido Teixeira). 

Ora essa casa, onde o autor viveu a maior da vida e onde morreu, aos 75 anos, fica na antiga freguesia de Gatão, ali mesmo, nos arredores de Amarante.

Nunca fui a Gatão,  que tem uma bela igreja, dos séc. XIII/XIV, monumento nacional desde 1940, e que faz parte da Rota do Românico. 

Bolas, nunca fui a Gatão, ali mesmo ao lado de Amarante, embora conheça uma boa parte da Rota do Românico (um projeto turístico-cultural, que reúne, atualmente, 58 monumentos e dois centros de interpretação, distribuídos por 12 municípios dos vales do Sousa, Douro e Tâmega: Amarante, Baião, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Resende).

Tenho, portanto, que ir a Gatão, ainda em vida. Há um motivo acrescido para lá ir: no cemitério local, repousam os restos mortais do poeta, que mandou inscrever como epitáfio o seguinte aforismo (ele adorava aforismos): "Apagado de tanta luz que deu, frio que tanto calor que derramou».
 
Mas já desfiz a minha  dúvida (que nada tinha de existencial): o vinho verde branco Gatão que eu bebia em Bambadinca na messe de sargentos (eu,  o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o Roda, o Branquinho e outros), em garrafa em forma de cantil com argola (foto nº 1), não tem nada a ver  com a Casa de Pascoaes, em Gatão, Amarante,  mesmo que o Pascoaes tivesse vinhas herdadas do pai. 

Refira-se, a propósito, que deveria ser, para ele, uma cruz,  a vitivinicultura. Uma cruz que ele comparava à coroa do Rei Dom Carlos que, por ter nascido filho de rei, teve que ser rei... (Mas, justiça se lhe faça: além de grande  poeta de corpo e alma, Pascoaes parece que também não era mau podador...).



Amarante > 5 de setembro de 2025 > Casa da Cadeia, agora “Lugar Saudade – Teixeira de Pascoaes” > Exposição temporária “Teixeira de Pascoaes" (...) > Excerto de Drama Junqueiriano. Dom Carlos teria sido visita do Solar de Pascoaes...


Foto (e legenda): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



História do Gatão

O Gatão é uma marca portuguesa de vinho verde pertencente ao grupo Borges.   No sítio oficial da marca, consta que a história do Gatão começou a ser construída em 1895, altura em que a Borges usou pela primeira vez a imagem de um gato num rótulo (foto nº 2).

Recorde-se que a Região Demarcada dos vinhos Verdes foi criada em 1908.

Em 1935 foi lançado oficialmente o vinho Gatão, inicialmente como um vinho verde tinto.  A marca foi amplamente exportada, e hoje tem  presença em cerca de 50 países nos cinco continentes. O vinho verde (sobretudo branco) é um produto de que nos devemos orgulhar.

Nos anos 90, foi lançada nova imagem e a garrafa de tipo bordalesa. Enfim, mudam-se os tempos, os gostos, as modas, etc,

Pergunta-se: qual a possível origem do nome Gatão na marca de vinho  Gatão (Borges) ?

Num sítio de vendas (Casa Portuguesa, Áustria, citado pelo sítio oficial da marca Gatão) há uma explicação, curiosa,  que nos parece verosímil:

“A designação Gatão deve-se  uma aldeia com o mesmo nome, de onde provinham as uvas que serviam de base à sua produção. 

"Fruto do aumento das vendas,  a proveniência das uvas diversificou-se. À medida que se criou uma lei que obrigava que o nome de uma marca que coincidisse com nome de uma região produtora, só pudesse usar uvas dessa região, levou os responsáveis a encontrar outra justificação para o nome.

"Dado tratar-se de uma marca já bem implantada no mercado, o Gatão passou a ser, não a designação da origem das uvas, mas um 'gato grande' "...

Em Gatão continua a existir a  Casa de Pascoaes, agora alojamento local (rés do chão) e casa-museu Teixeira de Pascoaes (1º andar). Casa que, ao que parece, também produz excelentes vinhos verdes de quinta. (Declaração de interesse: nunca os provei, nem os vi ainda no mercado.)

Também não encontrei, na Net, dados sobre a exportação ou o consumo de vinho verde branco no Ultramar Português, e muito menos na Guiné, ao tempo da guerra colonial (1971/74). Que foi um excelente mercado para os nossos vinhos, isso foi. O mercado militar e o civil.  Mas também tenho ideia de que muito vinho branco leve da Região de Estremadura foi parar ao Ultramar, gazeificado e com rótulo de vinho verde. Nos anos 60 a Região produzia muito mais vinho verde tinto do que branco (numa proporção talvez 9 para 1).

As marcas que eu conheci (comprei, provei ou vi) na Guiné, em 1969/71, continuam a existir no mercado: Palácio da Brejoeira, Aveleda, Casal Garcia, Gatão, Lagosta, Gazela, Três Marias, Campelo, Casal Mendes, etc. 

Atenção: o vinho verde era só para os "dias de festa"... Chegava caro a África, em parte também pelos custos de transporte. A preços de hoje, uma garrafa de vinho verde branco, para o militares, em oito euros.

Hoje, o Vinho Verde permanece como o DOC não licoroso mais exportado entre os vinhos portugueses ( historicamente, Alemanha, Estados Unidos, França, Angola, Canadá, Brasil, Suíça e Reino Unido representam mais de 80% das exportações do nosso Berdinho).

  Bibó o Binho Berde!  (Declaração de interesse: tenho mais de 18 anos,  não sou produtor de vinho verde, é a "chef" Alice...).
 
 ________________________
 
Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 23 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27246: Felizmente ainda há verão em 2025 (38): "Poema de Outono", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

(**) Vd. 20 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27232: Felizmente ainda há verão em 2025 (35): os vinhos verdes que aprendemos a gostar na guerra: Casal Garcia, Aveleda, Gatão, Três Marias, Lagosta, Palácio da Brejoeira (...sem esquecer o Mateus Rosé, da Sogrape)

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27240: No céu não há disto: Comes & bebes; sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (49): Peixinhos fritos, no Douro Bar Petiscaria, junto à Barragem do Carrapatelo; à mesa, os fantasmas do Zé do Telhado e do Serpa Pinto


Foto nº 1 > Cinfães > São Cristóvão da Nogueira > Barragem do Carrapatelo > Douro Bar Petiscaria > 18 de setembro de 2025 > Entrada: fritada de peixe-rei e diversos ciprinídeos, apresentada com limão e salsa. 



Foto nº 2 > Cinfães > São Cristóvão da Nogueira > Barragem do Carrapatelo > Douro Bar Petiscaria > 18 de setembro de 2025 > Entrada: enguias fritas... (durante muito tempo a enguia andou desaparecida do rio Douro, devido às barragens, tal como a lampreia e o sável)


Foto nº 3 > Cinfães > São Cristóvão da Nogueira > Barragem do Carrapatelo > Douro Bar Petiscaria > 18 de setembro de 2025 > Prato principal: peixe frito (boga, lúcio e outros), acompanhado com arroz de tomate e feijão.




Foto nº 4 e 4A > Cinfães > São Cristóvão da Nogueira > Barragem do Carrapatelo > Douro Bar Petiscaria > 18 de setembro de 2025 > Vinho de autor, "Terras de  Serpa Pinto" (*)... Um agradável surpresa.

Fotos (e  legendas): © Luís Graça  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Cinfães, em matéria de viticultura, pertence à subregião de Baião, Região Demarcada dos Vinhos Verdes... enquanto a nossa Quinta de Candoz pertence à subregião de Amarante...  Em São Cristóvão de Nogueira, na margem esquerda do rio Douro, junto à Barragem do Carrapatelo, fui lá descobrir duas coisas que não há no céu:

(i) peixinho do rio Douro (!), frito, incluindo como entrada umas "enguias fritas" que estavam simplesmente  "divinais" (parece que a enguia-.europeia já estava  a voltar ao Carrapatelo em 2022, diz a EDP!)

(ii) um vinho branco, de autor (!), "Terras de Serpa Pinto"...

Éramos seis (cinco mulheres, incluindo a "chef" Alice, mais eu)... As entradinhas foram uma travessa de peixinhos fritos, juvenis, só com molho de limão e salsa, e mais um prato de enguias fritas; "peixe-rei", disse-me a simpática jovem senhora que nos serviu à mesa, cá fora, sob um toldo, em dia de calor, com vista para a albufeira e a Casa do Carrapatelo (na outra margem).

 E quem diz Casa do Carrapatelo diz logo ( ou pensa no) Zé do Telhado, cujo fantasma continua a povoar a serra de Montedeiras e estas terras das bacias do Douro, Tâmega e Sousa (**).

O prato principal foi uma travessona de peixe frito do rio (lúcio, boga e outros), acompanhada de um tacho de arroz de tomate e feijão... 

Bebemos duas... garrafas do "Terras de Serpa Pinto". Mais o pão,  a salada e os cafés. No final, pagámos 110 euros, com gorjeta.

 Seguramente que no céu, condomínio de luxo, será mais caro (***)...

Aqui fica o nome e o endereço deste achado: 

Douro Bar Petiscaria,
São Cristovão da Nogueira, Cinfães,  
Telemóvel: + 351 916 093 515


Tem página no Facebook. Diz que está sempre aberto. Mas não: fecha á terça.

2. Os nossos "vagomestres" deviam ser  especialistas em peixe de rio (e de... bolanha). Mas infelizmente não o são...

Aqui vão então algumas dicas para suprir essa falha. Com a ajuda do assistente de IA / Perplexity.

O melhor peixe do rio Douro, especificamente na albufeira da Barragem do Carrapatelo, para fritar, é a boga.  É de pequeno porte e sabor delicado. É tradicionalmente servida frita em casas ribeirinhas da região que deviam abundar, em tempos, mas hoje não. 

Hoje em dia  aqui apanham-se várias espécies de peixe, tanto autóctones como exóticas.  As principais espécies invasoras são o lúcio-perca, o achigã e o lúcio. A sua introdução nas nossas albufeiras teve um impacto muito negativo.

Peixinhos bons  par fritar: 

  • a boga (Pseudochondrostoma polylepis) é muito apreciada frita, crocante por fora, é tradicional nas margens do Douro;
  • barbo (Barbus bocagei) também pode ser preparado frito ou em caldeiradas, sendo consistente e saboroso; 
  • enguia (Anguilla anguilla), embora menos comum, também é servida; 
  • peixinhos do rio (vários ciprinídeos, da família da Carpa,  de pequeno tamanho), usados para frituras rápidas, apresentados, com limão e salsa, e normalmente acompanhados com arroz de tomate ou migas.

Espécies que se apanham hoje (mas um crescente número são espécies exóticas):

Os peixes nativos de maior destaque são o barbo, a boga e a enguia:
  • Barbos (Barbus spp.);
  • Boga (Pseudochondrostoma polylepis);
  • Enguia (Anguilla anguilla).

A carpa (Cyprinus carpio) não é nativa.  Entre os peixes exóticos capturados, nomeadamente na pesca desportiva e artesanal, estão: achigã, lúcio-perca, carpa e pimpão, sobretudo nas zonas profundas da albufeira:
  • o siluro (Silurus glanis), o grande peixe-gato europeu, predador de topo, pode chegar a medir mais de 2 metros e pesar até 100 kg: é uma ameaça crescente para o rio Douro;
  • o achigã (Micropterus salmoides) é outra "praga", sendo originário da América do Norte: é um predador voraz de ovos e juvenis de peixes nativos; 
  • o lúcio (Esox lucius): espécie da Europa Central e Norte da Ásia, foi introduzida para a pesca desportiva.
Todos estes peixes têm valor algum comercial e são apreciados na gastronomia local. E inclusive já aparece nas bancas de peixe dos nossos hipermercados.

Outras espécies exóticas que representam ameaça ao ecossistem
a: 
  • Lúcio-perca (Sander lucioperca)
  • Ruivaco (Rutilus rutilus)
  • Alburno (Alburnus alburnus)
  • Pimpão (Carassius carassius)

3. A  EDP  diz que está a fazer a  monitorização das eclusas de peixes no Douro (esperemos que não seja "show-off"). É  um mecanismo que facilita a migração de peixes no rio; os resultados recentes são positivos e mostram que há espécies nativas a transpor as barragens; o projeto da EDP esteve em destaque na celebração do "World Fish Migration Day",  em 2022.


Num artigo publicado há mais de 3 anos, a EDP Global disse:

(...) Criadas para facilitar a passagem de peixes, as eclusas são um mecanismo essencial para garantir a biodiversidade e a proteção das espécies fluviais. 

A monitorização da ictiofauna que utiliza as eclusas de peixes está atualmente em operação em cinco barragens: Crestuma-Lever, Carrapatelo, Régua, Valeira e Pocinho.

Os resultados deste projeto demonstram, por exemplo, que uma espécie migradora em risco de desaparecimento, como é o caso da enguia-europeia, tem utilizado as eclusas para chegar à albufeira da Valeira, a 145 quilómetros da foz do rio Douro. 

É nas áreas a montante que crescem e se preparam para voltar ao mar, onde se reproduzem – no espaço de ano e meio, foram contabilizadas quase 25 mil enguias na barragem de Carrapatelo.

 Também já se observou o aparecimento de outras espécies nativas, como a solha das pedras, a truta marisca, o peixe-rei ou o robalo-legítimo.(...)

O investimento que foi feito para modernizar o funcionamento das eclusas, espera-se que venha a contribuir para que "outras espécies migradoras, como a lampreia e o sável, possam também transpor as barragens do Douro num número expressivo". 

Oxalá assim seja, senhores da EDP, de quem eu sou fidelíssimo cliente até agora!

 O projeto também permite detectar a presença de espécies invasoras (como a achigã ou o peixe-gato-negro).

(...) A presença do lúcio, lúcio-perca e achigã na bacia do Douro representa um dos principais desafios ecológicos contemporâneos da região. 

Proteger as espécies autóctones exige um esforço coordenado entre cientistas, autoridades locais e a sociedade civil. (...)

(Pesquisa: LG + Assistente de IA / Perplexity)

(Condensação, revisão / fixação de texto, negritos: LG)

________________

Notas do editor LG:

(*) Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto,(1846-1900),  militar, explorador e administrador colonial, é filho de Cinfães.

(**) Vd. poste de 21 de setembro de 2025 Guiné 61/74 - P27238 : As nossas geografias emocionais (58): Rio Douro: Nos caminhos do Zé do Telhado: Barragem e Casa do Carrapatelo

(***) Último poste da série : 7 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27193: No céu não há disto: Comes & bebes; sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (48): Jaquinzinhos da "arte xávega" da Praia da Vieira, azeitonas, arrozinho de tomate, pão, e vinho... Um home mata a sua fome e a sua sede..

domingo, 21 de setembro de 2025

Guiné 61/74 – P27239: (Ex)citações (438): Noite de petisco: cabrito assado no forno (José Saúde, ex-fur mil op esp / ranger, CCS / BART 6523, Nova Lamego, 1973/74)

 




Nova Lamego >c. 1973/74 >Noite de petisco: cabrito assado no forno > Os furriéis Godinho, o Santos, um camarada de Coimbra, o outro Santos, o Rui Álvares e eu. 

Foto de José Saúde (2025)





1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.



Noite de petisco Cabrito assado no forno: momentos inesquecíveis


por José Saúde


Camaradas,

A linha do tempo vai, vagarosamente, alimentando uma infinidade de prazeres onde a nossa juvenilidade proporcionava um mar de gigantescas emoções aquando da comissão militar por terras da Guiné. Eramos jovens, com as mentes a enviarem-nos para sensatos sonhos, mas para muitos dos nossos camaradas esses mundos dos sonhos quedaram-se em maquiavélicas crueldades que a guerrilha proporcionava.

Porém, existiram momentos inesquecíveis que nos embalavam para uma imensidão de alegrias quando a hora passava pelo refrescar as gargantas e alimentar estômagos já fatigados de refeições servidos em “pratos de loiças cuja criação tinha a marca de Bordalo Pinheiro e de talheres prateados”. Claro que estes utensílios que aqui menciono, entre ásperas, são meras ficções, dado que o nosso 2º sargento Martins, o homem que orientava a nossa messe, servia a rapaziada com pompa e circunstância, quer na qualidade de refeições, quer no conjunto de vasilhames que colocava nas mesas. O sargento Martins, um homem de Elvas, fazia jus em colocar-nos na mesa bons repastos, atendendo à circunstância então deparada. O pessoal não reclamava e toca a encher o “bandulho”.

Hoje, recorrendo às muitas fotografias que armazenei, lá vou puxando pelas imagens que arrumo, com paixão, no meu baú, recordando, com saudade, os tempos em que a nossa camaradagem se fixava num elo comum onde amizade obviamente proliferava.

Sabemos, pois é irreversível, que um dia viajaremos para uma outra plenitude, mas dessa antiga expedição, forçada, transportaremos connosco vivências que o tempo jamais ousará apagar. Guiné, sim a Guiné, aquela terra vermelha por nós calcorreada, foi palco das mais dispares crueldades. Mas, por outro lado, fica a razão que aqui vos deixo, sobrando o afirmar que o petisco fora feito pelos cozinheiros do rancho geral.

Estava divinal! O jovem animal foi comprado na tabanca e não recordo quantos pesos terá custado. O banquete teve lugar na cantina dos soldados e assado no forno com o saber do mestre padeiro da unidade. O rapaz nunca se refutou a pedidos desta estirpe. Estava sempre disponível! A sua presença no repasto assumia-se como imprescindível e o seu trabalho reconhecido.

Uma mesa comprida, bancos alongados, uns sentados, outros em pé e com a inevitável presença das velhas sagres, a rapaziada comeu e bebeu que se fartou registando-se cenas hilariantes durante o beberete. O Santos, com um sorriso fechado, assemelhava-se a um emigrante desconhecido que parecia não entender o motivo da festança. O seu pensamento levava-o, talvez, a meditar num levantamento de uma mina anticarro que poderia, eventualmente, ser o seu próximo destino. O Rui, vagomestre da Companhia, mostrava os seus dotes de comediante. O ranger Rui, ao meu lado, desfazia-se com as brincadeiras. O Godinho, em frente, ria que nem um doido. Eu, já toldado, apontava a cara do homem de Coimbra e ele presenteava-me com caretas que faziam rir todo o grupo em período de dar ao dente.

A noite de petisco - cabrito assado no forno com batatas - foi sobejamente regada. Uma festança que conheceu outros capítulos. A guerra naquela noitada foi outra: comida e bebida que chegou, sobrou e regalou os jovens combatentes.

Aquele pessoal da cantina dos soldados era formidável. Um pedido nosso – furriéis – era logo timbrado com um profundo SIM. 

Ao sair da guerra do comestível, e já um pouco desequilibrado com excesso de álcool, cai num buraco feito à entrada da cantina que, não obstante o seu aviso de alerta, me deixou sequelas numa perna.

Aquilo a que chamávamos buraco era um abrigo feito propositadamente por antigos camaradas que por ali tinham passado e que se abrigavam dos ataques noturnos do IN. Um símbolo que a rapaziada fazia jus em preservar. O local era conhecido, mas naquela noite surpreendeu-me. Fui arrastado pelo devaneio de umas cervejas a mais e de um inoportuno ziguezaguear que me levou a calcorrear por um trilho referenciado, mas atempadamente esquecido.

Sobrou a maravilhosa noite de convívio de homens que viviam em pleno palco de guerra!

Abraços, camaradas

José Saúde

Fur Mil OpEsp/RANGER, CCS / BART 6523

___________ 

Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

30 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 – P27169: (Ex)citações (437): Por aí, ouvindo, vendo, lendo, analisando e concluindo. (José Saúde)

Guiné 61/74 - P27238 : As nossas geografias emocionais (58): Rio Douro: Nos caminhos do Zé do Telhado: Barragem e Casa do Carrapatelo

 




Foto nº 1 >  Cinfães > São Cristóvão de Nogueira > Margem esquerda do rio Douro | Albufeira da barragem do Capatelo... Ao fundo, na margem direita, a Casa do Carrapatelo (que deu o nome à barragem). Data de 1706. É de estilo barroco. Ficou tristemente célebre pelo assalto,  de 8 de janeiro de 1852, do bando Zé do Telhado.



Foto nº 2 e 2A  > A Casa do Carrapatelo, nas faldas da serra de Montedeiras, na margem direita do rio Douro, próximo da barragem do mesmo nome... Fica na freguesia de Penha Longa, concelho de Marco de Canaveses


Vídeo, fotos e  legendas): © Luís Graça  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Cinfães > Albufeira da Barragem do Carrapatelo e  Casa do Carrapatelo > 18 de setembro de 2025 > Vistas a partir da margem esquerda do Rio Douro. Imagens obtidas da esplanada da Petiscaria Douro Bar, Macieira, São Cristovão da Nogueira, Cinfães, Portugal, telem + 351 916 093 515. Um ponto de paragem obrigatória para quem adora peixe do rio!... Sempre aberto (exceto à terça).

O sítio fica a escassos quilómetros da Quinta de Candoz. E merece bem a visita...como veremos em poste a seguir. Aqui o rio separa dois concelhos (Marco de Canaveses e Cinfães) e dois distritos (Porto e Viseu) (LG).

_________________________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 16 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27123: As nossas geografias emocionais (57): EUA, Flórida, Key West: passei à porta do José Belo, meu camarada (António Graça de Abreu, Cascais)

sábado, 20 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27232: Felizmente ainda há verão em 2025 (35): os vinhos verdes que aprendemos a gostar na guerra: Casal Garcia, Aveleda, Gatão, Três Marias, Lagosta, Palácio da Brejoeira (...sem esquecer o Mateus Rosé, da Sogrape)


Rótulo (histórico) do vinho verde Gatão, da Sociedade dos Vinhos Borges & Irmão Lda. Um dos vinhos verdes que consumíamos na Guiné, em garrafa tipo cantil. A sua história remonta a 1895. Deve ser uma das marcas mais antigas.


Casal Garcia, da Aveleda, Penafiel. O mais conhecido na Guiné, ao tempo da guerra colonial. A marca nasceu em 1939. È a marca de vinos verdes mais vendida em todo o mundo.



Outro vinho verde apreciado, em garrafa tipo cantil, o "Três Marias", das Caves Casalinho,  Vizela A empresa foi fundada em 1944.  Esta marca foi lançado em 1956.



Vinho verde branco, "Lagosta", da Real Companhia Vinícoal de Portugal. Rótulo.  É uma das marcas mais antigas (1902). POertecne hoje à Enoport Wines.




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 (1972/73) > Legenda: "Nesta foto está o Figueiral em frente (ao meio) de óculos escuros e a comer uma cabritada com a garrafa de Casal Garcia à frente. Eu estou do lado esquerdo da foto (...).. De costas para a foto está o Pinto Carvalho. Do lado direito da foto, em primeiro plano está o alferes Bastos, o homem do obus (alf de Artilharia) e logo a seguir, portanto à esquerda do Figueiral, está um segundo tenente de que não me recorda o nome. Era habitual haver um abastecimento via barco por mês e que vinha sempre escoltado pela Marinha, ficando o Oficial instalado lá no quartel [em Bedanda, na margem esquerda do Rio Cumbijã]" 

Foto (e legenda): © António Teixeira (1948-2013) Todos os direitos reservados. Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2013). 




Hélder Sousa, ribatejano do Cartaxo
ex-fur mil de trms TSF
 (Piche e Bissau, 1970/72)

 
1.  O verão está a chegar ao fim... Acaba amanhã, no calendário; dia 22, segunda feira,  já é outono (astronómico), prolongando-se até 21 de dezembro.

As vindimas também acabaram en Candoz. Já fizemos o nosso vinho. Já nas cubas de inox. E ainda entregámos maos 3 toneladas e tal  de uvas na Aveleda, em Penafial,  a  empresa de que somos fornecedores há muitos anos...Uvas de altíssma qualidade (arinto ou perdená, como se diz aqui, mais azal)... Sem um único cacho podre ou seco... Estão com  13,8 graus de álcool provável, segundo as medições da Aveleda.

Estamos, na região dos vinhos verdes,  ainda em plena azáfama... Ainda há vizinhos a vindimar. Fica bem, por isso,  falarmos um pouco dos vinhos verdes, se não se importarem os nossos leitores... Vinhos verdes de que só ouvimos falar (e provar), muitos de nós, na Guiné... 

(...)  "De Piche, em termos de Messe também não me lembro como era. Sei que cá fora, no Tufico, bebia cerveja. Mas no Quartel lembro-me bem de "estrear" Alvarinho "Palácio da Brejoeira". 

Nunca tinha bebido (para mim 'vinho verde' era Casal Garcia e similares) e isso foi possível porque um dos Capitães era uma pessoa de gostos refinados (até mandou vir, a suas custas, um aparelho de ar condicionado que mandou montar no quarto)  e fez com que fossem fornecidas algumas caixas e, como uma delas se "partiu",  lá tivemos a sorte (eu, o vagomestre cúmplice e mais uns dois ou três esforçados companheiros) de experimentar esse vinho. E gostei! (...) (*)

2. "Palácio da Brejoeira", alvarinho (só para capitão de "gostos refinados" e oficiais superiores...) e "Casal Garcia" (para alferes e furriéis milicianos): já temos duas marcas de "vinho verde" que se consumiam no CTIG.

Aliás, foi na Guiné que muitos de nós,"mouros",  "sulistas", começaram a apreciar o vinho verde branco: quem ainda não se lembra de marcas históricas, para além do Casal Garcia e do Palácio da Brejoeira ? Quem não se lembra  do Aveleda,  Casal Garcia, Três Marias, Garcia,  Lagosta, Gazela, Casal Mendes, etc. ?

A malta do Norte, de Minho e Entre-Douro-e-Minho, estava habituado ao "verde tinto", boa parte dele de fraca qualidade,  proveniente de castas locais como o  bom "vinhão" mas também de "produtores diretos", como o Jacquet, ou Jaquê, e o "americano",  hoje completamente banidos...

3. Acaba de se assinalar os 117 anos da publicação da Carta de Lei de 18 de Setembro de 1908, que instituiu a Demarcação da Região dos Vinhos Verdes, uma das mais antigas na Europa, a segunda em Portugal, a seguir à Região Demarcada do Douro, a mais antiga região vitícola regulamentada do mundo (remonta a 1756).

Lê-se no novo portal sobre os Vinhos Verdes, da CVRVV (Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes), que "curiosamenmte, ao contrário da imagem que hoje apreciadores de todo o mundo têm do Vinho Verde, terão sido, sobretudo, tintos, os vinhos que começaram por trazer fama à região".

Foi a partir de finais do século XIX que os vinhos brancos, elaborados a partir das castas locais, começaram a ser apreciados nos grandes centros urbanos.

Foi preciso esperar pela "guerra colonial", para os vinhos brancos ganhassem uma crescente quota quer na produção, quer na exportação. Os vinhos verdes tintos ficaram progressivamente remetidos a um consumo maioritariamente local (o que durante muitos anos também foi uma "injustiça": hoje recomeçam a ser "descobertos", têm de resto uma enorme importância na culinária local...

Decisiva, neste processo de "renascimento" dos vinhos verdes brancos , foi "a investigação efetuada a partir dos anos 60 e 70, que não apenas estudou em profundidade as variedades brancas autóctones (castas como Loureiro, Trajadura, Arinto ou Alvarinho, por exemplo), como revolucionou a forma como se plantavam e conduziam as vinhas na região, fazendo a transição de uma viticultura de subsistência, focada no mercado regional, para uma viticultura profissional, orientada para o mercado nacional e de exportação" (Fonte: portal da CVRVV).

Os vinhos verdes brancos portugueses começaram a ganhar maior projeção, inclusive no Ultramar, a partir dos anos 60 e 70, momento em que marcas como Aveleda, Casal Garcia, Gatão, Lagosta, Três Marias e Palácio da Brejoeira se tornaram presenças constantes em restaurantes, cantinas e messes militares do império colonial, acompanhando também o Mateus Rosé—embora este último não seja técnica e legalmente um vinho verde.





Na cantina de Nova Sintra, em meados de 1970, o vinho verde (da Aveleda)  custava à volta de 8 euros (a preços de hoje), o equivalente a metade de um garrafa de uísque bovo (16 eruos), segundo documentos disponibilizados pelo Aníbal José Soares da Silva, ex-fur mil vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70). 

Em 30 de junho de 1970, havia 221 garrafas de vinho verde em "stock", no valor de cerca 4,7 mil escudos (preço médio de custo=21,2 escudos). Uma refeição em Bafatá (bife com batatas fritas e ovo a cavalo) andava à volta dos "vinte pesos".

Nesse mês de junho de 1970 venderam-se 4 garrafas de Mateus Rosé, a 20$50 cada uma (de 15 requisitadas em armazém). Mas de 17 garrafas de vinho Aveleda (requisitadas, em armazén) não se vendeu nenhuma...

Fonte: Excerto de Balancete da Cantina, 30 de Junho de 1970, CCAV 2483, "Os Cavaleiros de Nova Sintra".


4. Marcas icónicas no Ultramar

Aveleda e Casal Garcia (produzidos pela Aveleda) destacaram-se por serem vinhos leves, frescos, fáceis de beber, com baixo teor alcoólico e enorme aceitação em climas quentes, como os de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

Gatão, Lagosta. Três Marias, etc., tornaram-se marcas populares, apostando em vinhos brancos jovens, relativamente acessíveis em África...

Palácio da Brejoeira consolidou-se como símbolo de prestígio, sobretudo o seu Alvarinho, sendo mais apreciado por elites e em ocasiões especiais.

Mateus Rosé, embora não seja vinho verde, fez história como um vinho jovem, acessível, e amplamente consumido no Ultramar e internacionalmente (era serviço nba TAP), alcançando notoriedade após as décadas de 50 e 60 em restaurantes, missões diplomáticas e unidades militares portuguesas em África.

Lembro-me de outras marcas em Bambadinca, no bar de Sargentos (que era bem fornecido): Gazela, Campelo, Casal Mendes (das Caves Aliança, hoje Bacalhoa)... 

Nunca bebi o "Palácio da Brejoeira", alvarinho: era raro e caro... Mesmo assim os verdes brancos masi correntes não eram baratos: andavam, pelos 25 escudos nas nossas messes e cantinas (e, se bem recordo, 35, nos restaurantes em Bafatá). Não se bebiam todos os dias, longe disso: bebia-se em dias especiais, festas de aniversário, por exemplo.

Mas os nossos leitores, camaradas desse tempo, têm por certo recordações que vão partilhar connosco.

(**) Último poste da série > 16 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27222: Felizmente ainda há verão em 2025 (34): Mata-mouros e outros apelidos e alcunhas, raros, exóticos, pícaros, brejeiros, etc.