1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada,
1968/70), com data de 12 de Julho de 2015:
E como o amor não escolhe cor, junto um poema soltado ao vento há muitos anos que poisou na minha mente, empurrado pelo tempo que nos tornou velhos e de consciência tranquila... ou não, porque o amor, esse, aconteceu, não tenho dúvidas.
E este tempo de férias é bom para re(viver).
Abraços
Zé Teixeira
E o amor não tem cor
Tinha uma pele de uma suavidade intensa,
Pigmentada com laivos do sangue
Que a impregnava e, transformava o negro, negro,
Numa coloração rosada; divinal para os meus olhos sedentos
E coração inflamado de amor.
Assim era a pele daquela jovem africana,
De corpo esbelto e seios firmes.
E o Sol incidindo sobre ela os seus raios doirados,
Dava ainda mais beleza àquele corpo
Talhado por mão divina em noite de lua cheia.
Meu coração deixou-se encandear,
Meus dedos, agilmente, procuraram os pomos ardentes
Que lhe saltavam do peito descoberto,
Atraídos pelo sorriso cativante e acolhedor
Que me devorou as entranhas,
Na ânsia de neles encontrar a chave da porta do futuro.
Um olhar, profundo e firme
Vindo de uns olhos amendoados e de um negro cativante
Disse-me que estava a ser ousado em demasia,
Enquanto duas mãos firmes me retinham o gesto,
Deixando-se ficar entrelaçadas nas minhas mãos atrevidas.
Perdi-me na prisão dos seus braços
E fizemos das nossas vidas o mais belo templo do amor.
José teixeira
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Nota do editor
Último poste da série de 16 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14885: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (6): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte III): Álvaro e Helena do Enxalé, sejam bem-vindos à Tabanca Grande!...Oxálá / inshallah / enxalé nos possamos voltar a reunir mais vezes para partilhar memórias (e afetos)... Vocês passam a ser os grã-tabanqueiros nºs 695 e 696
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 18 de julho de 2015
Guiné 63/74 - P14895: Filhos do vento (41): Uma história com final feliz? Fatinha, filha da Maria Mandinga, de Cuntima, encontrou a família do pai e o pai, que está em França (António Bastos, ex-1.º cabo, Pel Caç 953)
com sede em Bissau; cortesia da sua página na Net
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Data: 17 de julho de 2015 às 22:22
Assunto: Filhos do vento: história com final feliz.
Camarada Luís e Tabanca Grande, boa tarde.
Luís, tenho uma história muito feliz a contar é um pouco longa, mas se não for possível! Não há problema, também podes reduzir o texto.
Vamos à história; No dia 2/5/2015, foi o almoço anual do BArt 733 em Santiago do Cacém, não foi organizado por mim mas estou sempre presente.
Passados uns dias, em 18/5/2015, às 20h00 horas toca-me o telefone, era o colega que organizou o almoço (António José, que era da CCS):
- Ó Bastos, ligou-me um africano de Cuntima a perguntar se eu tinha a direcção do F... das transmissões, eu disse que não tinha e não conhecia esse nome, mas que ia ligar para outro colega e depois dizia qualquer coisa.
O António José liga para mim, conta-me o caso e pergunta se pode dar o meu contacto.
Bom, eu sem ser do Batalhão, lá vou tentar resolver este caso, fui à história do BArt 733, não constava ninguém com aquele nome.
Eram 22h00, horas liga-me o Fernando Candé (, o africano de Cuntima, como ele diz):
- Bastos, eu e minha esposa andamos à procura do F... que era de transmissões do 733.
Eu digo-lhe que com esse nome, F..., não havia ninguém no 733, então ele começa a contar-me que não quer saber dos bens que o F... possa ter, mas a esposa só queria dar um beijo no pai e apertá-lo contra o seu coração.
Bom, eu começo a pensar, vou-me meter nalguma, mas ao mesmo tempo com pena da Fatinha (é o nome da esposa do Fernando) e começo por pedir elementos para seguir com o caso.
Bom, eu começo a pensar, vou-me meter nalguma, mas ao mesmo tempo com pena da Fatinha (é o nome da esposa do Fernando) e começo por pedir elementos para seguir com o caso.
- Em que ano nasceu a Fatinha? -
Resposta:
Resposta:
- Quarenta chuvas.
- Como se chama a mãe da Fatinha?
- Maria Mandinga, já faleceu.
- Em que tabanca morava ela?
- Em Cuntima.
Eram poucos elementos para eu poder avançar, mas liguei ao Carlos Silva, a perguntar se havia algum colega dele com esse nome, o Carlos diz-me logo que no Batalhão dele não havia ninguém, fui à nossa tabanca e localizei um colega da CArt 3331, não me sabia dizer, deu-me outro contacto de um colega da Marinha Grande, esse já me ajudou alguma coisa, disse que conheceu a Maria Mandinga e a filha que era pequena, ia sempre às costas da mãe e que talvez tivesse um ano... Isto no ano de 1971. Ela, Fatinha, devia ter 44 ou 45 chuvas, devia ser filha de alguém das unidades que passaram por lá entre 1968 e 1970.
Vou tentar encontrar na nossa tabanca alguém da CCaç 1789, encontro uns quantos, todos do Norte, o Sousa esse conheceu a Maria Mandinga e sabia que tinha tido uma filha de um militar, não me quis dizer mais nada (e eu concordo, maluco sou eu). Deu-me outros contactos, ao ligar ao terceiro contacto, apareceu um colega que me disse que conheceu a Maria Mandinga e a filha, e que o pai era da unidade dele, o F...,
Bom, batia certo com o que o Fernando dizia e, mais, depois de eu falar com o colega que é do Porto, o Teixeira, este logo se prontificou em me ajudar.
Dou o contacto do Teixeira ao africano de Cuntima, e eles encontram-se no dia 6/6/15 em Vila Nova de Gaia que é onde mora o Fernando, foi uma alegria para ambos, o Teixeira convida o Fernando e a Fatinha para almoçar em casa dele no Porto, no almoço o Fernando diz que o nome dele lá na Guiné, é Cherno e não Fernando, e que quando era pequeno (7 anos) estava sempre na oficina a ajudar os mecânicos.
Dou o contacto do Teixeira ao africano de Cuntima, e eles encontram-se no dia 6/6/15 em Vila Nova de Gaia que é onde mora o Fernando, foi uma alegria para ambos, o Teixeira convida o Fernando e a Fatinha para almoçar em casa dele no Porto, no almoço o Fernando diz que o nome dele lá na Guiné, é Cherno e não Fernando, e que quando era pequeno (7 anos) estava sempre na oficina a ajudar os mecânicos.
Depois, no dia do almoço anual da companhia, leva o Fernando e a Fatinha, bom, foi uma alegria para aquele pessoal todo mas uma tristeza para a Fatinha, pois o pai não apareceu porque está emigrado em França, mas o Teixeira consegui-o o contacto e a direcção da família do F... e até do próprio.
Então, o Teixeira mete pernas a caminho e vai sozinho a Vila Nova de Famalicão, encontra a irmã do F..., conta-lhe o que se está a passar e logo resposta da tia da Fatinha:
Então, o Teixeira mete pernas a caminho e vai sozinho a Vila Nova de Famalicão, encontra a irmã do F..., conta-lhe o que se está a passar e logo resposta da tia da Fatinha:
- Quero conhecer a minha sobrinha já.
Já se falaram pelo telefone, já lhe mandou uma foto do pai que está em França e, agora depois de passar o Ramadão, o Fernando, a Fatinha e o casal Teixeira vão-se encontrar com a família de Famalicão para almoçar.
O Teixeira já falou ao telefone com o F..., mas ele não levou a coisa a sério. A família está convencida que ele venha agora de férias. Então vão aguardar.
Eu também vou aguardar, e até pelas fotografias que eles prometeram mandar da família Teixeira, família Baldé, família da tia e até do próprio F... (se ele concordar em dar a cara).
Não me alongo mais um abraço e até breve.
António Paulo S. Bastos,
ex-1º Cabo do Pelotão Caçadores 953,
Não me alongo mais um abraço e até breve.
António Paulo S. Bastos,
ex-1º Cabo do Pelotão Caçadores 953,
Cacheu, Bissau, Farim, Canjambari e Jumbembem, 1964/66
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Nota do editor:
Guiné 63/74 - P14894: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXV: fevereiro de 1973: três meses depois do fim da comissão, faz-se a sobreposição com os "piras" do BCAÇ 4616/73, o "batalhão liquidatário" (mar / ago 1974)
Foto nº 1
Foto nº 2
Foto nº 3
Fotos do álbum do José Carlos Lopes, ex-fur mil amanuense, com a especialidade de contabilidade e pagadoria, especialidade essa que ele nunca exerceu (na prática, foi o homem dos reabastecimentos do batalhão).(*)
Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)
1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)
[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974); economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; foto atual à esquerda].
O destaque do mês de fevereiro de 1974 (pp. 85/88) vai para:
(i) Fim da comissão do BART 3873 em finais de outubro de 1973; chega o BCAÇ 4616/73, três meses depois (!) para o substituir: período de sobreposição;
(ii) duas flagelações ao destacamento do Mato Cão (, guarnecido pelo Pel Caç Nat 52), cuja missão é assegurar a proteção da navegação no Geba Estreito (entre o Xime e Bambadinca);
(iii) flagelação ao destacamento do Rio Pulom, setor do Xitole, com pronta e eficaz resposta da CART 3942 (Xitole);
(iv) a segurança à coluna logística Bambadinca / Xitole tem contacto com o IN. no subsetor do Xitole;
(v) ataque ao barco civil "Rajá", em Ponta Varela, subsetor do Xime, com RPG e armas automáticas;
(vi) a CCAÇ 12 e a CCAÇ 21 falham objetivo na Op Pró Ronco 2, que era atingir as Pontas Luís Dias e João da Silva, na margem direita o Rio Corubal;
(vii) apoio à preparação do congresso regional do povo do concelho de Bafatá, a realizar em março de 1973.
História da Unidade - BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) - Cap II, pp. 85/88
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Xime
sexta-feira, 17 de julho de 2015
Guiné 63/74 - P14893: Inquérito online: "Na Guiné, durante a comissão, utilizei os CTT para telefonar para casa": 1. Sim, em Bissau; 2. Sim, fora de Bissau; 3. Sim, em Bissau e fora de Bissau; 4. Não, nunca utilizei; 5. Já não me lembro... Fecha 5ª feira, dia 24
Edifício dos CTT de Mansoa, foto de César Dias (c. 1969/71)
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Amigos e camaradas, camarigos:
Alguns camaradas telefonavam, para casa (ou para os amigos, colegas de trabalho, etc.), a partir dos CTT (Bissau, Mansoa, Bambadinca, Bafatá, Gabu, Catió...).
Não havia estações em todo o lado. E as ligações não eram fáceis (*)... Por outro lado, poucos de nós tinham, na época, telefone em casa...
Na Guiné, no nosso tempo, tinha-se de marcar dia e hora, com a menina dos CTT, para ligar para casa, a 4 mil km de distância... Nem sei qual era o tarifário... Felizmente que isso foi no século passado... Mas deve haver histórias à volta deste tema... Uma ou outra já foi contada no blogue (*).
Guiné-Bissau, Gabu, 2005. Antigo edifício, colonial, dos CTT, agora recuperado. Imagem: Tino Neves (1969/71) .. |
Na maior parte dos "buracos" onde (sobre)vivemos não havia estes luxos da civilização... Como não havia outros, ainda mais elementares, como a água potável, a eletricidade, o frigorífico, o rádio... Muitos de nós nunca telefonaram para casa: confesso que foi o meu caso...
Aqui vai o mote para a sondagem desta semana...
SONDAGEM: "NA GUINÉ, DURANTE A COMISSÃO, UTILIZEI OS CTT PARA TELEFONAR PARA CASA".
Responder a uma das cinco hipóteses:
1. Sim, em Bissau
2. Sim, fora de Bissau
3. Sim, em Bissau e fora de Bissau
4. Não, nunca utilizei
5. Já não me lembro
Por favor, não respondam por email, mas sim no sítio próprio, na coluna do lado esquerdo do blogue, ao alto...
Se tiverem fotos de editícios dos CTT (e histórias relacionadas com...), mandem...
Mandem também um bate-estradas nas férias deste verão de 2015... Ao menos para fazer prova de vida!
Abraços, xicorações, beijinhos. Luís Graça
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Nota do editor:
(*) Vd, poste de 17 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14890: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte VII: O edifício dos CTT de Bambadinca: c. 1968/70 e 2010 ... (Fotos completadas com as de Humberto Reis, ex-fur mil op esp., CCAÇ 12, 1969/71)
(*) Vd, poste de 17 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14890: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte VII: O edifício dos CTT de Bambadinca: c. 1968/70 e 2010 ... (Fotos completadas com as de Humberto Reis, ex-fur mil op esp., CCAÇ 12, 1969/71)
Guiné 63/74 - P14892: Agenda cultural (418): 32º festival de Almada: sábado, 18, 20h00, música guineense, o "Djumbai Jazz" (Jorge Araújo)
Data: 17 de julho de 2015 às 12:54
Assunto: Agenda Cultural - 32.º Festival de Almada
Caro Luís,
Quase no limite da data de encerramento, anexo, para os efeitos que entenderes por bem, um pequeno texto elaborado a propósito do festival em epígrafe.
Que tenhas um óptimo fim-de-semana.
Um abraço amigo,
Jorge Araújo.
O nosso blogue apoia a música guineense > Djumbai Jazz
2. Música guineense em Almada, neste sábado, às 20h00
Caros Camaradas Tertulianos.
Anexo informação alusiva ao 32.º Festival de Almada 2015, a decorrer até ao próximo sábado, 18 de Julho, numa organização conjunta entre a Câmara Municipal de Almada e a Companhia de Teatro de Almada.
Trata-se de um festival iniciado em 1983, a nível de Teatro Amador, e que cresceu até se tornar, hoje, num dos festivais de teatro mais referenciados na Europa. A Companhia de Teatro de Almada encerra, deste modo, a sua temporada teatral portuguesa com uma programação diversificada em vinte e sete produções, ao longo de quinze dias, contando com um ciclo de seis espectáculos do “novíssimo teatro espanhol”, reunindo o que de melhor se faz no país vizinho. Outras doze produções chegam-nos de Itália, Suíça, Alemanha, Brasil, Roménia, México e França, representando igualmente o que de melhor se produz no teatro daqueles países. O programa contará, ainda, com nove produções lusas, entre as quais três estreias.
Para Rodrigo Francisco, Director Artístico da CTA, o facto de este Festival ser organizado por uma companhia de teatro independente ajuda certamente a explicar as suas longevidade e estabilidade, assentes numa relação de proximidade quer com o público de Almada, quer com os artistas que nos visitam.
Como criadores que somos, gostamos de confrontar-nos com o que de melhor se faz no mundo. A emulação pode por vezes ser dolorosa – mas tem-nos ajudado a crescer. Assim como ao nosso público, que se torna a cada ano mais exigente e não nos permite a cristalização em soluções já testadas ou fórmulas repetitivas…
Este ano, graças ao prestígio alcançado ao longo do tempo e ás boas-vontades que a Companhia de Teatro de Almada tem sido capaz de reunir, o conjunto de apoios obtidos em Portugal e no estrangeiro permitiu reunir uma programação rara. [E, no que respeita a financiamentos, refira-se que a subvenção da Secretaria de Estado da Cultura a esta Companhia recuou para os valores de 1997].
O festival mantém a sua característica de Festa, com espectáculos de rua todos os dias, exposições e colóquios, para além do teatro e da música, nomeadamente dos PALOP.
No programa musical, destaca-se no próximo sábado, dia 18 de Julho, pelas 20:00 horas, a actuação do «Djumbai Jazz», um quarteto oriundo da Guiné-Bissau.
A sua actuação terá lugar na Esplanada da Escola D. António da Costa, em Almada.
«Djumbai Jazz» é um projecto musical iniciado, nos anos noventa do século passado, por Maio Coopé, cantor, músico e compositor guineense.
Na sua génese, como explica Maio Coopé [Lisboa Africana], está o facto de no seu país, sobretudo nas zonas suburbanas, antes das crianças irem dormir, há uma reunião junto dos mais velhos, ao redor da fogueira. Contam-se histórias e há sempre uma pessoa para cantar. Trata-se de um costume da Guiné-Bissau e que esteve sempre bem próximo dele.
Foi neste ambiente que Maio Coopé se inspirou, transformando-se em nome importante na música tradicional da Guiné-Bissau, mesclando-a com outros ritmos e sonoridades da África Ocidental.
Com um forte abraço de amizade.
Jorge Araújo.
Jul 2015
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Nota do editor:
Guiné 63/74 - P14891: Notas de leitura (737): “Lugar de Massacre", de José Martins Garcia (1): Regressar à leitura de um dos livros indiscutíveis da guerra da Guiné (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Julho de 2014:
Queridos amigos,
Vamos aos factos quanto à datação e faseamento da literatura da guerra. Nos anos 1960, pontificou a confiança no soldado português e o sentido de missão – é assim que podemos entender os escritos de Manuel Barão da Cunha e as primeiras obras de Armor Pires Mota. À entrada dos anos 1970, Álvaro Guerra deixa-nos parágrafos empolgantes e em 1973 publica “O capitão Nemo e eu”, um livro soberbo onde a Guiné é dona e senhora. E a seguir ao 25 de Abril, com estoiros de pirotecnia José Martins Garcia legou-nos o importantíssimo “Lugar de Massacre”, romance incontornável, um dos motivos de orgulho que devemos ter nesta literatura onde prima a originalidade e o arrebatamento.
Façam o possível por encontrar “Lugar de Massacre”.
Um abraço do
Mário
Lugar de Massacre, de José Martins Garcia (1): Regressar à leitura de um dos livros indiscutíveis da guerra da Guiné
Beja Santos
Não é a primeira vez que aqui se fala neste belíssimo romance de José Martins Garcia, um dos primeiros a ser publicado no termo da guerra. Em nota, o autor informa-nos: “Este romance foi redigido entre o mês de Dezembro de 1973 e o dia 8 de Setembro de 1974. Qualquer coincidência com a realidade colonial dos anos 1966-1968, no que respeita à Guiné, não é produto do acaso”.
“Lugar de Massacre” tem merecido sucessivas edições e é alvo de continuada investigação universitária. Não é difícil perceber porquê. É um livro burlesco, codificado, com laivos de surrealismo, pintalgado de uma sexualidade excessiva, é uma obra em que o uso do palavrão aparece como um recurso natural e em que a linguagem é deliberadamente rebuscada de um português antigo, há para ali escrita alquímica e laboratorial. Incorpora uma metáfora da condição humana como escreveu Maria Edite Gordalina da Fonseca numa tese de mestrado que a Veja editou em 2003, em que compara “Lugar de massacre” com “Aparição”, de Vergílio Ferreira. Ela fala num romance-problema, romance que põe um problema e que dá ao leitor várias hipóteses de interpretação. A personagem Pierre Avince é uma das traves-mestres da arquitetura do romance. Pierre é oriundo de um meio social humilde, faz parte de uma espécie de aristocracia intelectual e cultural, é profundamente culto, é a imagem do império à deriva, transporta por todos os lugares de peregrinação os restos de uma mala. Escreve em rememoração, será frequente o leitor confrontar-se com a expressão “alguns anos depois”. A relação com as mulheres é cinzenta, indolor. O livro está carregado de símbolos, Pierre é oficial de transmissões e todo o equipamento que procura montar nunca funciona, é um inteiro fracasso. Pierre Avince é José Martins Garcia ao espelho.
A Guiné, toda ela, é o território onde está confinado o massacre de uma geração. O mato é lugar de massacre, tem aspetos bons quando suscita o isolamento e a clausura. Em termos niilistas, todas aquelas histórias com oficiais são de pôr os cabelos em pé, se acaso as tomássemos a sério, os oficiais em permanentes práticas homossexuais, Pierre vê panascas em todos os sítios, o oficialato é encarado com o mais completo desprezo, ao longo destas viagens só encontramos uma figura positiva, o capitão Camilo, o resto são pessoas desprezíveis.
Bissau é o ponto de partida e o ponto de chegada do romance, Pierre viaja por Catió, Bafatá, Ponta do Inglês, S. Domingos, Ingoré, Sedengal e Suzana. O recurso imagético é diversificado. Por exemplo, Catió tem bolanhas com odor podre; na Ponta do Inglês à para ali uma completa anarquia, um gato misterioso nome de morteiro 81, uma macaca a fazer arremessos de circo, o soldado Zé Burro que adorava fornicar ovelhas, e sofre porque estas não existem na Guiné, nesta Ponta do Inglês há um poilão onde apareceu Cristo. Os espaços interiores ligados a Bissau têm um tratamento insignificante, seja o Quartel-General seja a camarata da neuropsiquiatria do Hospital Militar de Bissau. Bissau é um cenário pintado em tons caricaturais, ali pontificam pessoas tratadas como aberrações ou serviços enigmáticos: “Sua Alteza”, “Chefe dos Comestíveis”, “Secção das Movimentações Perdidas”, “Serviços da Mortandade às Pingas”… Há por ali muita maldade, corrupção e decadência, é espaço dos bacanais típicos de Sodoma e Gomorra.
A instabilidade emocional de Pierre vai em crescendo, adensa-se à medida que se avoluma o dramatismo das situações que o rodeiam. Pierre vive consumido em álcool, do entorpecimento chega aos sinais da loucura, fala com familiares, inexplicavelmente passa a discorrer sobre o tempo e o espaço, as duas categorias fundamentais do entendimento, transformado em argonauta, incapaz de dar algum sentido à existência, anda de lugar em lugar, em jeito de interlúdios para se ganhar novo fôlego e para se perceber o seu desgaste temos a imagem da mala: velha mala, mala desconjuntada, incrível mala desconjuntada e suja, mala de Judeu Errante, farrapos de mala, parece que anda na Guiné a espiar uma culpa e ao mesmo tempo ganha a aguda consciência do absurdo da sua condição.
Obra enigmática ou cabalística, como se entenda. Bissau é uma cidade bíblica, tipo Sodoma e Gomorra, como se pode falar do cativeiro da Babilónia, das redondilhas de Camões, da Mensagem de Fernando Pessoa, tudo vem a propósito ou despropósito da guerra como situação limite, no vazio do tempo, do permanente a desejar da morte. Mas Pierre é um ser que nunca desiste – aí reside a questão central da metáfora da condição humana, mesmo alcoolizado, atormentado pelas imagens da peste que ele vê em Suzana, em pleno chão Felupe.
Mas “Lugar de Massacre” está longe de se confinar a Pierre Avince. O romance, aliás, começa com a chegada à Guiné do jovem conde d’Avince, uma clara imagem do passado, é uma das figuras anacrónicas do império tratadas com vitríolo por José Martins Garcia: “Descendente de uma família guerreira, cem anos inativa por imposição da paz e da prosperidade, coubera-lhe em sorte retemperar os gumes de antanho”. O seu passado é caricaturado para provocar gargalhada, vejamos a mãe do conde d’Avince: “A condessa era virtuosa. Por virtuosa, desposara o homem da sua vida, pálido, louro, tímido, casto, de brasão antigo, de fortuna incerta – mas todo ele aprumo. Uma lua após o himeneu, Dona Violante continuava virgem e dava graças as céu pela correção do esposo. Dom Teodósio, angelical, desflorou-a numa noite chuvosa, depois de algumas consultas, caras, a um especialista. Quando a condessa se convenceu do interessante estado, Dom Teodósio entregou-se com assiduidade às reuniões que, no fundo, constituíam a sua razão de ser. Dom Teodósio presidia à Liga para a Salvação do Passado, organismo completamente brasonado, cujas sessões se desenrolavam até de madrugada agrupando fidalguias, projetos e lamentações”. Este jovem conde que vai para a Guiné é literalmente um inútil, mas sente a sua missão de ir defender o solo sagrado. Foi colocado na Secção das Movimentações Perdidas. Procura amizades, conhece o Silva. Horrorizado, o conde ouve falar o Silva coisas que lhe parecem sinistras, do espiritismo ao vampirismo.
É nisto que entra no romance Pierre Avince, já bem alcoolizado, apresentar-se-á a Sua Alteza perdido de bêbado. Vai viver no quarto do conde e discursa coisas assim: “Um dos piores defeitos da nossa colonização é o anacronismo. Transpõem-se para os colonizados valores caídos em desuso. Quando derem a estes gajos uma fábrica de armamento, é porque já foi inventada, para os deuses, uma forma superior de destruição, o armamento fluido, o rei da morte. Quando os civilizados deixam de ligar à moral de entrepernas, a moral de entrepernas é exportada para outras latitudes. Isto é o mundo que a Europa criou”. O conde reage, mostra a sua indignação. Felizmente que chegou o conde d’Enxeque, veio também trabalhar para os Serviços de Conjugação.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14873: Notas de leitura (736): “Guerra d’África, 1961-1974, Estava a guerra perdida?”, por Humberto Nuno de Oliveira e João José Brandão Ferreira, Fronteira do Caos, 2015 (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Vamos aos factos quanto à datação e faseamento da literatura da guerra. Nos anos 1960, pontificou a confiança no soldado português e o sentido de missão – é assim que podemos entender os escritos de Manuel Barão da Cunha e as primeiras obras de Armor Pires Mota. À entrada dos anos 1970, Álvaro Guerra deixa-nos parágrafos empolgantes e em 1973 publica “O capitão Nemo e eu”, um livro soberbo onde a Guiné é dona e senhora. E a seguir ao 25 de Abril, com estoiros de pirotecnia José Martins Garcia legou-nos o importantíssimo “Lugar de Massacre”, romance incontornável, um dos motivos de orgulho que devemos ter nesta literatura onde prima a originalidade e o arrebatamento.
Façam o possível por encontrar “Lugar de Massacre”.
Um abraço do
Mário
Lugar de Massacre, de José Martins Garcia (1): Regressar à leitura de um dos livros indiscutíveis da guerra da Guiné
Beja Santos
Não é a primeira vez que aqui se fala neste belíssimo romance de José Martins Garcia, um dos primeiros a ser publicado no termo da guerra. Em nota, o autor informa-nos: “Este romance foi redigido entre o mês de Dezembro de 1973 e o dia 8 de Setembro de 1974. Qualquer coincidência com a realidade colonial dos anos 1966-1968, no que respeita à Guiné, não é produto do acaso”.
“Lugar de Massacre” tem merecido sucessivas edições e é alvo de continuada investigação universitária. Não é difícil perceber porquê. É um livro burlesco, codificado, com laivos de surrealismo, pintalgado de uma sexualidade excessiva, é uma obra em que o uso do palavrão aparece como um recurso natural e em que a linguagem é deliberadamente rebuscada de um português antigo, há para ali escrita alquímica e laboratorial. Incorpora uma metáfora da condição humana como escreveu Maria Edite Gordalina da Fonseca numa tese de mestrado que a Veja editou em 2003, em que compara “Lugar de massacre” com “Aparição”, de Vergílio Ferreira. Ela fala num romance-problema, romance que põe um problema e que dá ao leitor várias hipóteses de interpretação. A personagem Pierre Avince é uma das traves-mestres da arquitetura do romance. Pierre é oriundo de um meio social humilde, faz parte de uma espécie de aristocracia intelectual e cultural, é profundamente culto, é a imagem do império à deriva, transporta por todos os lugares de peregrinação os restos de uma mala. Escreve em rememoração, será frequente o leitor confrontar-se com a expressão “alguns anos depois”. A relação com as mulheres é cinzenta, indolor. O livro está carregado de símbolos, Pierre é oficial de transmissões e todo o equipamento que procura montar nunca funciona, é um inteiro fracasso. Pierre Avince é José Martins Garcia ao espelho.
A Guiné, toda ela, é o território onde está confinado o massacre de uma geração. O mato é lugar de massacre, tem aspetos bons quando suscita o isolamento e a clausura. Em termos niilistas, todas aquelas histórias com oficiais são de pôr os cabelos em pé, se acaso as tomássemos a sério, os oficiais em permanentes práticas homossexuais, Pierre vê panascas em todos os sítios, o oficialato é encarado com o mais completo desprezo, ao longo destas viagens só encontramos uma figura positiva, o capitão Camilo, o resto são pessoas desprezíveis.
Bissau é o ponto de partida e o ponto de chegada do romance, Pierre viaja por Catió, Bafatá, Ponta do Inglês, S. Domingos, Ingoré, Sedengal e Suzana. O recurso imagético é diversificado. Por exemplo, Catió tem bolanhas com odor podre; na Ponta do Inglês à para ali uma completa anarquia, um gato misterioso nome de morteiro 81, uma macaca a fazer arremessos de circo, o soldado Zé Burro que adorava fornicar ovelhas, e sofre porque estas não existem na Guiné, nesta Ponta do Inglês há um poilão onde apareceu Cristo. Os espaços interiores ligados a Bissau têm um tratamento insignificante, seja o Quartel-General seja a camarata da neuropsiquiatria do Hospital Militar de Bissau. Bissau é um cenário pintado em tons caricaturais, ali pontificam pessoas tratadas como aberrações ou serviços enigmáticos: “Sua Alteza”, “Chefe dos Comestíveis”, “Secção das Movimentações Perdidas”, “Serviços da Mortandade às Pingas”… Há por ali muita maldade, corrupção e decadência, é espaço dos bacanais típicos de Sodoma e Gomorra.
A instabilidade emocional de Pierre vai em crescendo, adensa-se à medida que se avoluma o dramatismo das situações que o rodeiam. Pierre vive consumido em álcool, do entorpecimento chega aos sinais da loucura, fala com familiares, inexplicavelmente passa a discorrer sobre o tempo e o espaço, as duas categorias fundamentais do entendimento, transformado em argonauta, incapaz de dar algum sentido à existência, anda de lugar em lugar, em jeito de interlúdios para se ganhar novo fôlego e para se perceber o seu desgaste temos a imagem da mala: velha mala, mala desconjuntada, incrível mala desconjuntada e suja, mala de Judeu Errante, farrapos de mala, parece que anda na Guiné a espiar uma culpa e ao mesmo tempo ganha a aguda consciência do absurdo da sua condição.
Obra enigmática ou cabalística, como se entenda. Bissau é uma cidade bíblica, tipo Sodoma e Gomorra, como se pode falar do cativeiro da Babilónia, das redondilhas de Camões, da Mensagem de Fernando Pessoa, tudo vem a propósito ou despropósito da guerra como situação limite, no vazio do tempo, do permanente a desejar da morte. Mas Pierre é um ser que nunca desiste – aí reside a questão central da metáfora da condição humana, mesmo alcoolizado, atormentado pelas imagens da peste que ele vê em Suzana, em pleno chão Felupe.
Mas “Lugar de Massacre” está longe de se confinar a Pierre Avince. O romance, aliás, começa com a chegada à Guiné do jovem conde d’Avince, uma clara imagem do passado, é uma das figuras anacrónicas do império tratadas com vitríolo por José Martins Garcia: “Descendente de uma família guerreira, cem anos inativa por imposição da paz e da prosperidade, coubera-lhe em sorte retemperar os gumes de antanho”. O seu passado é caricaturado para provocar gargalhada, vejamos a mãe do conde d’Avince: “A condessa era virtuosa. Por virtuosa, desposara o homem da sua vida, pálido, louro, tímido, casto, de brasão antigo, de fortuna incerta – mas todo ele aprumo. Uma lua após o himeneu, Dona Violante continuava virgem e dava graças as céu pela correção do esposo. Dom Teodósio, angelical, desflorou-a numa noite chuvosa, depois de algumas consultas, caras, a um especialista. Quando a condessa se convenceu do interessante estado, Dom Teodósio entregou-se com assiduidade às reuniões que, no fundo, constituíam a sua razão de ser. Dom Teodósio presidia à Liga para a Salvação do Passado, organismo completamente brasonado, cujas sessões se desenrolavam até de madrugada agrupando fidalguias, projetos e lamentações”. Este jovem conde que vai para a Guiné é literalmente um inútil, mas sente a sua missão de ir defender o solo sagrado. Foi colocado na Secção das Movimentações Perdidas. Procura amizades, conhece o Silva. Horrorizado, o conde ouve falar o Silva coisas que lhe parecem sinistras, do espiritismo ao vampirismo.
É nisto que entra no romance Pierre Avince, já bem alcoolizado, apresentar-se-á a Sua Alteza perdido de bêbado. Vai viver no quarto do conde e discursa coisas assim: “Um dos piores defeitos da nossa colonização é o anacronismo. Transpõem-se para os colonizados valores caídos em desuso. Quando derem a estes gajos uma fábrica de armamento, é porque já foi inventada, para os deuses, uma forma superior de destruição, o armamento fluido, o rei da morte. Quando os civilizados deixam de ligar à moral de entrepernas, a moral de entrepernas é exportada para outras latitudes. Isto é o mundo que a Europa criou”. O conde reage, mostra a sua indignação. Felizmente que chegou o conde d’Enxeque, veio também trabalhar para os Serviços de Conjugação.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14873: Notas de leitura (736): “Guerra d’África, 1961-1974, Estava a guerra perdida?”, por Humberto Nuno de Oliveira e João José Brandão Ferreira, Fronteira do Caos, 2015 (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P14890: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte VII: O edifício dos CTT de Bambadinca: c. 1968/70 e 2010 ... (Fotos completadas com as de Humberto Reis, ex-fur mil op esp., CCAÇ 12, 1969/71)
Foto nº 1 > Bambadinca, c. 1968/70 > Edifício dos CTT (1)
Foto nº 2 > Bambadinca, c. 1968/70 >Edifício dos CTT (2), sito no lado direito, descendente, da rua principal da povoação... A rua, de terra batida, vinha do quartel e seguia para o rio, o porto fluvial e a estrada de Bafatá.
Foto nº 3 > Bambadinca, c. 1968/70 >Edifício dos CTT (3) > Outra perspetiva da rua que dividia a tabanca ao meio, e era muito movimentada (peões, animais e viaturas; vê-se ao fundo um jipe que se dirige ao quartel que ficava num pequeno promontório)
Foto nº 4 > Guiné-Bissau, Bambadinca, 2010 > Antigo edifício dos CTT, em ruínas (1)
Foto nº 5 > Guiné-Bissau, Bambadinca, 2010 > Antigo edifício dos CTT, em ruínas (2) e moranças vizinhas
Foto nº 6 > Guiné-Bissau, Bambadinca, 2010 > Antigo edifício dos CTT, em ruínas (4) e aspeto parcial da rua, agora em desuso,
Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]
Foto nº 8 > Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1970 > Vista aérea (1): do lado esquerdo parte (nordeste) do quartel e posto administrativo; ao centro, a tabanca; ao fundo, o rio Geba, o porto fluvial, o destacamento da intendência e o início da bolanha de Finete (na margem norte do rio); e, do lado direito, a nova estrada em construção que ligará o Xime a Bafatá, e que em Bamdinca, contornava a bolanha (que ficava a sul)
Foto nº 9 > Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1970 > Vista aérea (3): Legendas: Parte do recinto do quartel (1) e rede de arame farpado, a leste e nordeste; porta de armas,com cavalo de frisa (4); casa e loja do Rendeiro (3); edifício dos CTT (5) e fontenário (6), ambos na antiga rua principal; nova estrada, circundando a tabanca pelo lado leste/nordeste (7); ligação ao porto fluvial á esquerda e à estrada (já existente, alcatroada) de Bafatá (11); porto fluvial / cais (8); rio Geba (9); destacamento da Intendência (10).
Foto nº 10 > Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1970 > Vista aérea (2): Legendas: Rio Geba (1), destacamento da Intendência (2), porto fluvial / cais (3), bolanha de Finete (4), rampa de acesso ao quartel e posto administrativo (5), loga e casa do Rendeiro (6), edifício dos CTT (7), fontenário (8) .
Foto nº 11 > Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970 > Entrada principal, pelo lado nordeste (sentido Bafatá), do aquartelamento. O fontenário está sinalizado com um círculo a vermelho, ficava a uns 50 metros da casa e estabelecimento comercial do Rendeiro; do outro lado, fiacava o edifício dos CTT. Nesta rampa ia perdendo a vida o major Ribeiro, o "major elétrico", º comandante do BCAÇ 2852 (de nome completo, Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro): o seu jipe ficou debaixo de toros de madeira que se desprenderam de uma camioneta (civil ?) que estaciuy na subida...
Foto nº 13 > Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970 > Vista (parcial) da tabanca de Bambadinca, com o Rio Geba ao fundo. Foto tirada do lado nordeste. Em primeiro plano, contígua ao arame farpado, a casa e o estabelecimento comercial do Rendeiro, um dos poucos comerciantes portugueses que conhecemos na Guiné, em 1969/71. Assinalado com um círculo a vermelho o fontenário de Bambadinca, melhioramento inaugurado em 1948. Não t5enho a certeza de lá algum vez ter parado para beber água. Nem sei se no meu tempo já tinha água...
Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]
Jaime Machado, foto atual, na Senhora da Hora, Matosinhos |
As ligações nem sempre eram fáceis, e tinham de ser pedidas de um dia para o outro. Havia CTT nas principais povoações da Guiné. No caso de Bambadinca, desconheço a data da sua instalação, mas deve ser de meados da década de 1950.
O Beja Santos, que lá voltou a Bambadinca, também em 2010, recorda o nome da empregada dos CTT, a Dona Leontina ("uma gentil senhora com quem se apalavrava o dia e a hora para telefonar para Lisboa"). Presumo que a senhora fosse caboverdiana, tal como a professora,a Dona Violante, e o chefe de posto (de quem não me lembro o nome).
Contrariamente à capela, à escola e ao posto administrativo, o edifício dos CTT ficava fora do recinto do quartel de Bambadinca (fotos nºs 8, 9, 10)... Mais exatamente, ficava no lado direito da rua principal que, descendo do quartel, atravessava a tabanca de Bambadinca, dando acesso do lado esquerdo ao porto fluvial (e destacamento da Intendência) e do lado direito à estrada (alcatroada) para Bafatá... O edifício dos CTT ficava do lado oposto da casa e loja do Rendeiro (, comerciante, branco, da Murtosa)... Mais à frente, também do lado esquerdo ficava o fontenário (foto nº 10). [Vd. também aqui fotos do fontenário, construído em 1948].
No nosso tempo (CCAÇ 12, julho 69/mar 71), Bambadinca nunca foi atacada... Desde o último ataque (28/5/1969), melhorou o dispositivo de segurança. E a presença de uma companhia de intervenção, de pessoal fula, mantinha o PAIGC à distância...
Em janeiro de 1974, o edifício dos CTT é objeto de arremesso de uma granada de mão, defensiva, de origem chinesa,,, mas sem consequências de maior... Foi mais exatamente no dia 18/1/1974, às 20h45. O efeito foi mais psicológico. Após buscas pelas NT, foram encontradas mais duas granadas, do mesmo tipo, chinesas, que não rebentaram ou que provavelmente foram arremessadas com cavilha de segurança, por algum aprendiz de guerrilheiro...
Tudo indicava que havia, por esta altura, uma célula ativa do PAIGC na localidade de Bambadinca... Essa hipótese já sido levantada pelo comando do BART 3873 quando em novembnro de 1972, a PIDE/DGS [, de Bafatá,] efetuara uma prisão, de um elemento ligado à comunidade caboverdiana, prisão essa que foi seguida de distribuíção de planfletos denunciando a atuação da polícia política. Tanto para o PAIGC como para as NT, Bambadinca era uma posição estratégica, porta de entrada para o leste (mas também para o sul), económica. demográfica e militarmente muito relevante.
Em 2010, o Jaime Machado voltou a Bambadinca (, tal como o Beja Santos em 2010, e eu, em 2008). A antiga rua principal, outrora animada e ladeada de casas de habitação e de comércio de estilo colonial (foto nº 2), era agora uma desolação (fotos nºs 4, 5, 6 e 7)... O edifício dos CTT estava em ruínas. O Humberto Reis, em 1997, também por lá passara, e já era uma ruína... A Bambadinca que nós conhecêramos, já não existia... (LG)
__________
Nota do editor:
Último poste da série > 11 de julho 2015 > Guiné 63/74 - P14864: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte VI: Mulheres e bajudas (III)
No nosso tempo (CCAÇ 12, julho 69/mar 71), Bambadinca nunca foi atacada... Desde o último ataque (28/5/1969), melhorou o dispositivo de segurança. E a presença de uma companhia de intervenção, de pessoal fula, mantinha o PAIGC à distância...
Em janeiro de 1974, o edifício dos CTT é objeto de arremesso de uma granada de mão, defensiva, de origem chinesa,,, mas sem consequências de maior... Foi mais exatamente no dia 18/1/1974, às 20h45. O efeito foi mais psicológico. Após buscas pelas NT, foram encontradas mais duas granadas, do mesmo tipo, chinesas, que não rebentaram ou que provavelmente foram arremessadas com cavilha de segurança, por algum aprendiz de guerrilheiro...
Tudo indicava que havia, por esta altura, uma célula ativa do PAIGC na localidade de Bambadinca... Essa hipótese já sido levantada pelo comando do BART 3873 quando em novembnro de 1972, a PIDE/DGS [, de Bafatá,] efetuara uma prisão, de um elemento ligado à comunidade caboverdiana, prisão essa que foi seguida de distribuíção de planfletos denunciando a atuação da polícia política. Tanto para o PAIGC como para as NT, Bambadinca era uma posição estratégica, porta de entrada para o leste (mas também para o sul), económica. demográfica e militarmente muito relevante.
Em 2010, o Jaime Machado voltou a Bambadinca (, tal como o Beja Santos em 2010, e eu, em 2008). A antiga rua principal, outrora animada e ladeada de casas de habitação e de comércio de estilo colonial (foto nº 2), era agora uma desolação (fotos nºs 4, 5, 6 e 7)... O edifício dos CTT estava em ruínas. O Humberto Reis, em 1997, também por lá passara, e já era uma ruína... A Bambadinca que nós conhecêramos, já não existia... (LG)
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Nota do editor:
Último poste da série > 11 de julho 2015 > Guiné 63/74 - P14864: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte VI: Mulheres e bajudas (III)
Guiné 63/74 - P14889: História da CART 3494 (9): As folgas no colectivo da CART 3494 no Xime (os passeios de domingo ao cais e outras escapadelas) (Jorge Araújo)
1. O nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), a seguinte mensagem com data de 13JUL2015.
Camaradas,
A presente narrativa, bastante mais ligeira do que tem sido habitual, surge com o objectivo de ajudar a desvendar o mistério relacionado com o aparecimento de autocarros civis no Cais do Xime, nos anos de 1972 e 1974, quando aí estavam aquartelados os efectivos da CART 3494 e, depois, os da CCAÇ 12.
Ela acontece na medida em que, como sabem todos aqueles que estiveram instalados no aquartelamento aí existente [Xime], ou aqueles que por lá tiveram de passar rumo ao leste ou a Bissau [Cais], a distância entre ambos era curta, permitindo registar/gravar alguns factos.
Independentemente da distância, o que estava em causa na nossa missão era garantir, por todos os meios disponíveis, a segurança a esses dois pontos estratégicos, particularmente o Cais, local sujeito aos nossos olhares mais atentos.
Por via dessa responsabilidade, o Cais registava visitas constantes dos militares, sendo que aos domingos, o objectivo era mais lúdico, onde se batiam umas «chapas à civil» para se enviarem para a metrópole, como sinal de vida e, ainda, como meio terapêutico regulador da angústia, da saudade e do sofrimento familiar.
Para a história, aqui ficam mais estas curtas memórias desses tempos no CTIG.
AS FOLGAS NO COLECTIVO DA CART 3494 NO XIME
(OS PASSEIOS DE DOMINGO AO CAIS E OUTRAS ESCAPADELAS)
- De duplo efeito: consolação e alívio pessoal e meio de comunicação regulador da angústia, da saudade e do sofrimento familiar -
1.- INTRODUÇÃO
Não foi fácil chegar ao título e subtítulos destas curtas memórias relacionadas com a gestão dos diferentes tempos diários do contingente militar da CART 3494 nos primeiros treze meses da sua comissão ultramarina passados no Xime, entre 1972/1973, uma vez que o seu modelo e método utilizados estavam sempre dependentes da dinâmica do conflito, influenciando, de forma impiedosa, os desempenhos nas missões/acções delas emergentes e, naturalmente, o número de efectivos envolvidos.
Por via dessa dinâmica, e porque estamos de acordo com os teóricos da comunicação que defendem que o título do objecto [assunto] deve corresponder ao seu conteúdo, e vice-versa, eis então a justificação para essa dificuldade de partida, que tentámos superar.
Uma vez que toda a agenda de actividades era organizada a partir da interface entre diversos tempos: o tempo operacional contextualizado nas diversas missões/acções, o tempo social como meio de aprofundamento de valores, nomeadamente a partilha, a solidariedade e o companheirismo [que ainda hoje perduram, passadas que estão mais de quatro décadas], o tempo da escrita, do luto e da solidão, pela angústia, saudade e sofrimento familiar implícitos na distância e nas incertezas diárias de que se revestiam todas as nossas práticas, que nem sempre eram coincidentes entre os seus pares, e que ocorriam em momentos diferentes ao longo das vinte e quatro horas do dia.
Por isso, as “folgas ao domingo” é um conceito que não existe no quadro do conflito como foi aquele que experienciámos nos longínquos anos de 1972/1973, nas matas do Xime, ainda que o seu significado se refira a “espaço de tempo destinado ao descanso”. Mesmo assim, o colectivo conseguiu encontrar alguma consolação e alívio das pressões do seu quotidiano em actividades informais de lazer e/ou recreio.
Uma das principais consolações era a mudança de indumentária, trajando à civil sempre que era possível pendurar o camuflado. Era o que acontecia maioritariamente à noite, aquando do jantar. O outro dia era o domingo, independentemente de este ser igual a todos os restantes, onde as actividades operacionais marcavam a sua presença regular, com destaque para a já estafada referência à segurança da Ponta Coli e às embarcações no Geba.
Caso estivessem institucionalizadas as “folgas ao domingo”, então não estaríamos certamente numa guerra de guerrilha, a não ser que a quiséssemos ironizar plagiando o nosso grande humorista Raul Solnado (1929-2009) na sua “A História da Guerra de 1908 - … os domingos são para descanso”.
Para quem não conhece esta história ou a queira recordar, eis o seu endereço [www.youtube.com/watch?v=YnW4SvF8yYU].
Sempre que o tempo livre era desfrutado fora do aquartelamento, só existiam três locais possíveis: o Cais e o seu espaço envolvente, situado a duas centenas de metros e, naturalmente, percorridas a pé. Bambadinca e Bafatá eram as duas outras hipóteses, mas que implicavam recurso a transporte militar, e que se poderiam classificar de escapadelas.
Em função da situação geográfica do Aquartelamento do Xime, e para o competente enquadramento do texto, seleccionámos o conjunto de imagens que seguem.
2.- FOTOGALERIA
Foto 1. Cais do Xime – 1974. Imagem do camarada António Rodrigues [P14797-LG], com a devida vénia, tirada do Aquartelamento do Xime.
Foto 2. Cais do Xime -Jun/1972. Imagem do macaréu… um fenómeno da natureza que, diariamente, era observado com muita curiosidade e respeito, pelas razões que já são conhecidas.
Foto 3. Cais do Xime - Jun/1972. Margem esquerda do Rio Geba. Pontão e grua utilizada na colocação e retiro de objectos pesados nas/das embarcações civis.
Foto 4. Cais do Xime - Jun/1972. Estrada velha Xime-Bambadinca. Da esqª/ditª, os furriéis: Josué Chinelo (20.º Pel. Artª.), Carola Figueira, Jorge Araújo, António Carda e Mário Neves [substituto do camarada Manuel Bento, morto em combate].
Foto 5. Bafatá - Jun/1972. Café do Libanês. Da esqª/ditª, os furriéis: Carvalhido da Ponte, Sousa Pinto [1950-2012], Jorge Araújo, Mário Neves e Ferreira [motorista] e o Libanês (?).
2.1-QUANDO UM AUTOCARRO CIVIL ENCONTRADO NO CAIS DO XIME SE TRANSFORMOU EM ESPAÇO DE ANIMAÇÃO
No domingo 24SET1972, em novo passeio ao Cais do Xime, agora organizado por alguns dos elementos da equipa das “Transmissões”, foi encontrado um autocarro civil, para espanto dos presentes, sem motorista e sem passageiros.
Logo o mesmo foi tomado de assalto, com os operacionais a procederam à sua competente inspecção e a divertirem-se “à grande e à guineense” com os diferentes desempenhos e peripécias.
Com a narrativa deste episódio, para o qual contámos com a preciosíssima ajuda do camarada Sousa de Castro [fotos], pretendemos ainda desvendar o mistério dos autocarros que surgiram em 1974 no Cais do Xime e que suscitaram, também, muitas interrogações expressas nos textos publicados no blogue da «Tabanca Grande», como são os casos dos P14797-LG + P14810-LG + 14832-LG.
Foto 6. Cais do Xime – 24SET1972. O autocarro “apreendido” (a brincar) pelos operacionais das transmissões da CART 3494, sob o comando do Furriel Luís Domingues, à porta da frente.
Foto 7. Cais do Xime – 24SET1972. Consumada a apreensão, o grupo de oito elementos pousa para a posteridade. Da esqª/dtª. = Fur. Trms Luís Domingues; António Correia (electricista); Manuel Ramos (1.ºC ap.m’81 - 1950-2012); Rogério Silva (S Radiotelegrafista - 1950-2002); Pinóquio (Op. Cripto); José Vicente (S Trms Inf); Emílio Tojal (S Trms Inf); e, sentado, Sousa de Castro (1.ºC Radiotelegrafista).
Foto 8. Cais do Xime – 24SET1972. Com a situação controlada, cada elemento do grupo toma o seu lugar na protecção ao autocarro.
Foto 9. Cais do Xime – 24SET1972. O Sousa de Castro é nomeado para conduzir o veículo para lugar seguro.
Será que o autocarro “aprendido” pelos operacionais da CART 3494, em 24SET1972, é um dos que aparecem na foto abaixo do camarada António Rodrigues [furriel da CCAÇ 12] em 1974?
É difícil saber-se… na justa medida que não é possível comparar as fotos a preto e branco com as fotos a cores, a não ser que se conseguisse identificar a matrícula, o que não é o caso.
Eis uma história diferente (mais soft) passada no Xime em 1972 em que intervieram elementos da CART 3494.
Com um forte abraço de amizade.
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
___________
Nota de M.R.:
Vd. Também o último poste desta série em:
10 DE JULHO DE 2015 > Guiné 63/74 - P14861: História da CART 3494 (8): O 1.º ano da CART 3494 no Xime (Janeiro de 1973 – mês de mais recordações) (Jorge Araújo)
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