Vídeo (7' 31''). Alojado em You Tube > Luís Graça
Lourinhã > Ribamar > Praia de Porto Dinheiro > Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > (*) O João Crisóstomo e o António Nunes Lopes encontram-se ao fim de 50 anos... Pertenceram à mesma companhia e ao mesmo pelotão... E evocam aqui, com uma espantosa precisão de detalhes, e grande emoção, uma dos mais duros episódios de guerra por que passaram, em 1966, em Darsalame (Baio), na zona de Baio/Buruntoni, no Xime, que o PAIGC sempre "controlou" durante toda a guerra, e onde era inevitável haver "contacto" com as NT... Qual o nome verdadeiro do místico soldado, de alcunha "Penálti", de aqui se fala ? Pode ser que alguém saiba mais sobre este homem, que foi herói e desertor...
João Crisóstomo, que é natural de uma freguesia vizinha, A-dos-Cunhados, do concelho de Torres Vedras, fez-se à vida depois do regresso da guerra. Andou pela Europa e Brasil, até se fixar em 1975, nos EUA, onde hoje vive (em Nova Ioprque) e que é a sua segunda pátria.
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Susetor do Xime > Carta do Xime (1961) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa do Xime e Darsalame (Baio) onde o pelotão do João Crisóstomo (alferes) e do António Nunes Lopes (furriel) sofreram uma violenta emboscada, em 1966, e tiveram um comportamento heroico... Na zona de Poindom / Ponta do Inglês, havia população que cultivava as bolanhas, na margem direita do R Corubal e que "apoiava" a guerrilha... Também eu ali conheci o inferno, três ou quatro anos mais tarde, em 1969/71... (LG).
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015).
Praia de Porto Dinheiro
por Luís Graça (*)
Finisterra,
pórtico do tempo,
és gare,
és algar,
porto dos portos das Atlântidas perdidas!
Foste estaleiro de vasos de guerra,
galeões, naus e caravelas
por haver ou nunca havidas,
diz o livro antigo do almoxarife.
Hoje não se constroem mais catedrais,
nas tuas fossas submarinas,
nem moinhos de vento,
nos teus corais de recife,
nem traineiras de grosso cavername,
nas rampas das tuas arribas fósseis.
Dóceis
são as ondas do teu mar com que afagas
a pele
e apagas
a púbis das raparigas.
Praia de Porto Dinheiro:
o irresistível apelo das algas
que são as hormonas do mar,
espigas, valquírias, ninfas, najas, canibais,
que vêm do fundo dos tempos imemoriais
para seduzir os filhos dos homens,
inebriar as suas almas,
enlear os seus corpos.
Há olhos que perscrutam a linha do horizonte
e rasgam a colina de neblina,
por detrás das Berlengas.
É de lá que vêm corsários,
monstros e mostrengas,
dinossauros,
loucos menestréis,
contadores de lendas,
mouras encantadas,
mercadores, invasores, conquistadores,
vikings, vírus,
e os bretões com o seu barco a vapor,
o Bateau ivre.
É de lá que vêm os portadores da peste, da fome e da guerra…
Mercator ergo pestiferus,
monstros e mostrengas,
dinossauros,
loucos menestréis,
contadores de lendas,
mouras encantadas,
mercadores, invasores, conquistadores,
vikings, vírus,
e os bretões com o seu barco a vapor,
o Bateau ivre.
É de lá que vêm os portadores da peste, da fome e da guerra…
Mercator ergo pestiferus,
mercador logo portador da peste,
de que Deus nos livre!
Deste nomes de fêmeas
aos teus barcos
que são machos,
máquinas fálicas
de lavrar e violar
Deste nomes de fêmeas
aos teus barcos
que são machos,
máquinas fálicas
de lavrar e violar
o vento, a água, o ar,
Jessica, Mafalda, Sofia,
Inês, Patrícia, Maria.
Formidáveis muralhas de palavras e moluscos
emparedam vivas as gentes, ribeirinhas,
na canícula desta tarde de verão
em que esperamos em vão
as hordas bárbaras,
ou tanto faz,
os soldadinhos de chumbo do Napoleão,
os mercadores fenícios,
ou as legiões romanas,
Jessica, Mafalda, Sofia,
Inês, Patrícia, Maria.
Formidáveis muralhas de palavras e moluscos
emparedam vivas as gentes, ribeirinhas,
na canícula desta tarde de verão
em que esperamos em vão
as hordas bárbaras,
ou tanto faz,
os soldadinhos de chumbo do Napoleão,
os mercadores fenícios,
ou as legiões romanas,
devidamente equipadas
e alinhadinhas,
nas suas galeras feitas de legos.
Não sabemos quem devemos mais esperar,
se Drácula ou Drake,
disfarçado da pérfida deusa Europa,
o deslizamento das placas tectónicas,
a erupção do teu gigantesco dinossauro,
o cobrador de impostos
em nome das tribos teutónicas,
Moisés e a tábua dos dez mandamentos,
a bela e frágil deusa Atena,
o profeta Jesus Cristo
ou o profeta Maomé,
o último guru do Vale da Sílica,
ou simplesmente o carteiro
que nos há-de trazer a carta a Garcia,
com a solução alquímica da vida,
o elixir da juventude,
o algoritmo da felicidade,
a chave do Euromilhões
ou a password do sítio
da gruta de Alibabá e os 40 ladrões.
Estou sentado na esplanada da tasca da Ti Augusta,
depois de saborear uma sopa de navalheiras,
e comer uma posta de arraia frita,
recuando ao tempo dos meus avoengos Maçaricos,
arrebanhados em terra
para a demanda, por mar, das Índias…
E aqui penso em como o mundo às vezes é tão simples,
se descartado das métricas todas
com que nos lixam a vida
e nos roubam o sonho e a poesia:
a econometria,
a sociometria,
a psicometria,
a biometria…
e alinhadinhas,
nas suas galeras feitas de legos.
Não sabemos quem devemos mais esperar,
se Drácula ou Drake,
disfarçado da pérfida deusa Europa,
o deslizamento das placas tectónicas,
a erupção do teu gigantesco dinossauro,
o cobrador de impostos
em nome das tribos teutónicas,
Moisés e a tábua dos dez mandamentos,
a bela e frágil deusa Atena,
o profeta Jesus Cristo
ou o profeta Maomé,
o último guru do Vale da Sílica,
ou simplesmente o carteiro
que nos há-de trazer a carta a Garcia,
com a solução alquímica da vida,
o elixir da juventude,
o algoritmo da felicidade,
a chave do Euromilhões
ou a password do sítio
da gruta de Alibabá e os 40 ladrões.
Estou sentado na esplanada da tasca da Ti Augusta,
depois de saborear uma sopa de navalheiras,
e comer uma posta de arraia frita,
recuando ao tempo dos meus avoengos Maçaricos,
arrebanhados em terra
para a demanda, por mar, das Índias…
E aqui penso em como o mundo às vezes é tão simples,
se descartado das métricas todas
com que nos lixam a vida
e nos roubam o sonho e a poesia:
a econometria,
a sociometria,
a psicometria,
a biometria…
Dizem que aqui reinou o rei Midas,
o mesmo que transformava lagostas e algas
em barras de ouro.
Porto Dinheiro,
dos casais por detrás das tuas colinas,
até ao mar imenso,
por aqui andaram, labutaram, penaram,
amaram, lutaram e naufragaram
os nossos antepassados
Um dia há de desaparecer nas Américas
o teu último carpinteiro de naus, caravelas e traineiras.
Não sobreviveu à industrialização da construção naval,
nem à crise dos anos 30.
Morreu longe, na Califórnia,
longe, muito longe do teu porto de abrigo.
Maldita pátria,
mil vezes amada,
e outras tantas odiada,
querida mátria
que tantos filhos pariste,
cruel frátria
que tantos irmãos rejeitaste!
Luís Graça
Lourinhã, Praia do Porto Dinheiro, 18/8/2011
V4 12 julho 2015 (**)
_____________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 13 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14872: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (2): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte I): organização 'impex' do Eduardo Jorge Ferreira (ex-1º cabo inf, do exército luso-britânico que se cobriu de glória na batalha no Vimeiro, em 21/8/1808; ex-alf mil, PA, Bissau, Bissalanca, BA 12, 1973/74)
_____________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 13 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14872: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (2): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte I): organização 'impex' do Eduardo Jorge Ferreira (ex-1º cabo inf, do exército luso-britânico que se cobriu de glória na batalha no Vimeiro, em 21/8/1808; ex-alf mil, PA, Bissau, Bissalanca, BA 12, 1973/74)
(**) Há uma versão anterior: vd. poste de 13 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11935: Manuscrito(s) (Luís Graça) (7): Praia do Porto Dinheiro, Ribamar, Lourinhã... À memória dos meus avoengos Maçaricos... Ao Horácio Fernandes, capelão militar em Catió e Bambadinca (1967/69)...
marinheiros, mareantes, navegantes,
pescadores, mercadores, construtores navais... desde Quinhentos
Ao António Fernandes (Patas),
contrutor naval que morreu na Califórnia
E ao seu neto, e meu primo e camarada, Horácio Fernandes,
capelão militar em Catió e Bambadinca (1967/69). (...)
Sem comentários:
Enviar um comentário