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sábado, 23 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21800: Os nossos enfermeiros (14): Na falta de médicos, optou-se pela secção sanitária a nível de companhia: um fur mil enf e três 1.ºs cabos aux enf (António J. Pereira da Costa / Paulo Santiago / António Carvalho / José Teixeira / Luís Graça)


Guiné >Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > 1969 (ao tempo do BCAÇ 2852, 1968/70) > Da esquerda para a direita, o 1º cabo aux enf Fernando [Andrade] Sousa (, vive na Trofa), o 1º cabo aux enf Carlos Alberto Rentes dos Santos ), é de Amarante, vive em França), o fur mil enf João Carreiro Martins (,vive em Lisboa) e o alf mil at cav José António G. Rodrigues (, já falecido, vivia em Lisboa; estava aqui de oficial de dia, era o cmdt do 4º Gr Comb).


Guiné >Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > 1969 
 (ao tempo do BCAÇ 2852, 1968/70)  > Três elementos dos serviços de saúde: ao centro, o fur mil enf João Carreiro Martins;  à sua esquerda,  o 1º cabo ex enf Fernando [Andrade]Sousa; e à sua direita o 1º cabo aux enf José Maria S. Faleiro (, morada actual desconhecida; foi dos primeiros a ser evacuado por doença intectocontagiosa, ainda em 1969).

Os três militares da CCAÇ 12 estão junto ao monumento erigido pela CCAÇ 1551 / BCAC 1888 (Bambadinca, mai - nov 1966; Fá Mandinga, nov 1966 - jan 1968): além de Bambadinca, teve pessoal destacado em Xitole, Saltinho, Mansambo; Missirá e Dulombi).


Fotos (e legendas): © Fernando Andrade Sousa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

1. Comentários a vários postes sobre os serviços de saúde militares, e os nossos médicos e enfermeiros:


(i) António J.Pereira da Costa (*)


Louvemos o coronel médico Carlos Reis Alves, pela sua acção variada e pelo médico que foi ou ainda é. O conhecimento é algo que não nos podemos despir e que podemos aplicar sempre.

Pela recensão que foi apresentada podemos concluir que a sua acção dirá respeito a um TO [Angola] e num dado momento da Guerra [1970/71].

As alterações que se verificaram são consequência do "problema do pessoal" ou falta dele... Efectivamente seria lógico que em cada companhia existisse um médico. Efectivamente, teríamos uma unidade isolada - como era habitual - à qual estava ligada uma população que, às vezes atingia os milhares de pessoas.

Porém, o número de médicos não chegava e, assim rapidamente se resvalou para um médico por batalhão que era manifestamente insuficiente, devido à dispersão das unidades no terreno. E era o mínimo dos mínimos.

Assim, surge-nos o trabalho das Secções Sanitárias, sob o comando do furriel e com 3 cabos auxiliares de enfermagem (maqueiros), cujo trabalho foi heróico, quer pela insuficiência de meios, quer pela falta de conhecimentos, quer pelas variadíssimas situações que lhe poderiam surgir. Mas este será um tema para outro estudo.

Recordo que, no BArt 1896 e BCaç 2834, havia dois médicos, um em Cacine e outro em Buba.

Em Mansoa, havia também dois médicos no BCaç 4612, ambos em Mansoa. Um deles visitou a CArt 3567. Curiosamente era... ginecologista.


(ii) Paulo Santiago  (**)

No Saltinho, ao tempo da CCaçç 2701, havia Médico, o Dr Martins Faria, que era de Guimarães e faleceu precocemente há uns vinte anos. 

Na mesma altura,também havia médico no Xitole, o Dr Nunes de Matos.

No Saltinho, deixou de haver médico quando lá estava a Companhia da tragédia [ do Quirafo
, a CCAÇ 3490, Saltinho, 1972/74].

No Xitole [, CCAÇ 3492 /BART 3873, Xitole, 1972/74] continuou a haver Médico. O Dr Azevedo curou-me um otite.

Em Galomaro [, CCS / BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74], 
esteve o Dr Veloso, foi Director do IPO do Porto, e agora julgo ser Presidente da Liga. O Dr Pereira Coelho também esteve em Galomaro, mas tive pouco contacto com ele. 


(iii) António Carvalho [Carvalho de Mampatá] (**)

Caro amigo Teixeira e caros tabanqueiros

É (como costuma ser) interessante esta tua descrição pormenorizada da tua passagem por locais da Guiné, alguns deles comuns à minha permanência lá, pouco tempo depois.

No meu tempo, a minha companhia 
[, CART 6250/72, Mampatá,1972-74] tinha quatro Cabos Auxiliares de Enfermagem ( Celso, Gomes, Pinto e Azevedo), um por cada grupo de combate. Eram todos desenrascados e excelentes no mato.

Eu [, furriel enfermeiro,] estava mais na Enfermaria do Quartel, mas, algumas vezes, por doença ou férias de um 1º Cabo, ou ainda quando o Capitão saía, tinha também que alinhar no mato.

Nunca fiz qualquer diário, infelizmente, por isso não posso fazer descrições muito minuciosas de como aquilo funcionava. 

 Certo é que só havia um Alferes Médico na sede do Batalhão [BCAÇ 3852], em Aldeia Formosa, e esse era, segundo o que conheço, no período 72/74, o panorama geral naquele território.

O Médico terá visitado a nossa Companhia uma ou duas vezes , no decurso da comissão. O que sucedia com mais frequência era eu deslocar-me a Aldeia Formosa para receber instruções ou formação do Médico.

Na enfermaria do aquartelamento de Mampatá, havia dois turnos de trabalho, um destinado a pessoal civil e outro a pessoal militar. Claro que qualquer civil ou militar era atendido em qualquer um dos turnos e em qualquer hora se se tratasse de alguém que padecesse de algum ferimento ou doença grave que requeresse atendimento imediato. Os civis eram tratados com os melhores meios disponíveis, nada lhes sendo regateado. Estávamos, então, no tempo do Spínola. 

 
(iv) José Teixeira (**)

Bom amigo Carvalho: No tempo em que estive em Mampatá era o enfermeiro do Grupo de Combate aí sediado.

A Companhia [, CCAÇ 2381, 1968/70,]  estava sediada em Aldeia Formosa e tinha um Gr Comb em Mampatá e outro na Chamarra. Em Aldeia Formosa ficaram dois Gr Comb e um cabo auxiliar de enfermeiro.

Como o Furriel se estava nas tintas , era o desgraçado que alinhava em todas. Por exemplo: ia a Buba na coluna, regressava no dia seguinte com as viaturas carregadas e no outro dia a seguir partia para Gandembel.

Era duro, até porque as saídas de batimento da zona era feita a nível de Gr Comb e o desgraçado estava sempre a alinhar. Por esta razão eu sempre disse que fui um homem de sorte.

Eu montava o meu posto de socorros num sobrado de uma casa e atendia os meus camaradas e a população em geral. Foi um tempo bom para mim pelo que me pude dedicar à população, conhecer as pessoas os seus hábitos e valores, etc


(v) Luís Graça (***)

Em comentário à publicação do álbum de Fernando Andrade Sousa que foi 1º cabo aux enf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, entre maio de 1969 e março de 1971), e mora na Trofa
, escrevemos o seguinte:

É inacreditável como é que a CCAÇ 12, uma subunidade de intervenção ao serviço do BCAÇ 2852 e depois do BART 2917, só tinha dois enfermeiros operacionais para alinhar no mato, aliás, dois 1ºs cabos aux enf, o Fernando Sousa e o Carlos Alberto Rentes dos Santos.

E este último só por pouco tempo, já que foi trabalhar como carpinteiro (!) no reordenamento de Nhabijões!... 

O 1º cabo aux enf José Maria S. Faleiro foi cedo evacuado para a metrópole. por doença infetocontagiosa (creio que hepatite) e e só muito mais tarde foi substituído pelo 1º cabo aux enf Fernando B. Gonçalves [, de quem já nem me lembro].

Os médicos e os furrieis enfermeiros (como era o caso do nosso João Carreiro Martins, de resto já enfermeiro na vida civil ) não alinhavam no mato (!), sendo cada vez mais absorvidos pelas tarefas de prestação de cuidados de saúde às populações civis!...

Spínola parecia confiar apenas no HM 241, nos helicópteros da FAP e nas enfermeiras paraquedistas que vinham fazer as evacuações Ypsilon!... 

Mas é legítimo perguntar-se: quantos camaradas nossos não terão morrido por falta de primeiros socorros e reanimação no mato!... A vida ali contava-se ao segundo... E nenhuma graduado tinha aprendido na recruta e na especialidade a fazer um simples garrote para estancar um ferimento de bala numa perna ou num braço!... Muito menos administrar um soro... É que os enfermeiros também eram alvos a abater, no caso de uma emboscada no mato.,,

Nunca vi ninguém protestar por esta insólita situação. A política da "Guiné Melhor" levou Spínola a "canibalizar", literalmente,  o seu próprio exército: alguns dos nossos melhores operacionais eram afetados a missões civis, como os reordenamentos, os postes militares escolares e os serviços de saúde! Spínola tinha pressa em "roubar" as populações ao PAIGC... 

Com a melhor das intenções, acabou por desfalcar as companhias que andavam na "porrada"... Enfim, não sabemos  o que se passava com as tropas especiais,que tinham outro estatuto e poder reivindicativo... Seria interessante saber como estavam organizados os serviços de saúde nos destacamentos de fuzileiros especiais, nas companhias de comandos, no BCP 12...

Mais: a CCAÇ 12 é obrigada a participar directamente no "projecto de recuperação psicológica e promoção social da população dos Nhabijões", ao tempo do BCAÇ 2852 (e depois do BART 2917), fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa, constituída pelos operacionais:

  • alf mil António Carlão (cmdt do 2º Gr Comb, já falecido);
  • fur mil at inf Joaquim M. A. Fernandes (cmdt da 1ª seção do 4º Gr Comb);
  • 1º cabo at inf Virgílio Encarnação (cmdt da 3ª seção do 4º Gr Comb);
  • sold arv at int Alfa Baldé.

Foram tirar o respectivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969, estava  a CCAÇ 12 há três meses em Bambadinca, à ordens do BCAÇ 2852...

Foram ainda requisitados à CCAÇ 12 dois carpinteiros, um  1º cab at inf (cujo nome ainda consegui saber) e próprio 1º cabo aux enf Carlos Albertos Rentes dos Santos.

A CCÇ 12 tinham 24 operacionais (graduados e 1ºs cabos atiradores),
metropolitanos, e uma centena de praças do recrutamento local, distribuídos por 4 grupos de combate, sem contar com os especialistas, metropolitanos (condutores auto, transmissões, enfermagem, etc., ao todo uns 35/40). 

Os 4 elementos operacionais brancos que são retirados à companhia, representavam... um 1/6 do total!

Na prática, e durante muitos meses, o pobre do 1º cabo aux enf Fernando Andrade Sousa era o único a "alinhar no mato", dos 4 elementos iniciais da equipa de saúde!... (A CCAÇ 12 não tinha, de resto, soldados maqueiros; é possível que, por vezes, tenha alinhado o pessoal sanitário da CCS em operações a nível de batalhão).

E o Fernando também tinha, além disso, de integrar as equipas de "ação psicossocioal" (!), por exemplo, as visitas às tabancas, vacinação, etc.... E mais: ia todos os dias para o poste de saúde quando estava em Bambadinca!... E ainda foi destacado, dois ou três meses, no princípio de 1970, para o Xime da CART 2520, que estava sem enfermeiro!...

Em conclusão foram homens como o Fernando Anadrade Sousa, "marca c...",, como se diz no Norte, que seguraram as pontas desta "p... de guerra"!... (Julgo que levou, no fim, um louvor, averbado na caderneta militar, como seria, de resto, da mais elementar justiça!... Era o mínimo que  o capitão lhe podia dar!).
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21781: Nota de leitura (1335): Os serviços de saúde militar e a guerra colonial - Parte I (Luís Graça)

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16757: Álbum fotográfico de Fernando Andrade Sousa (ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 12, 1969/71) - Parte IV: Os bravos da equipa de enfermagem



Guiné >Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Da esquerda para a direita, o 1º cabo aux enf Fernando Sousa, o 1º cabo aux enf Carlos Alberto Rentes dos Santos [, é de Amarante, vive em França], o fur mil enf João Carreiro Martins (,vive em Lisboa) e o alf mil at cav José António G. Rodrigues [, já falecido, vivia em Lisboa; estava aqui de oficial de dia, era cmdt do 4º Gr Comb]


Guiné >Zona leste > Setor L1 >  Bambadinca > CCAÇ 12  (1969/71) > 1969 Três elementos dos serviços de saúde: o fur mil enf João Carreiro Martins, à sua esquerda o 1º cabo ex enf Fernando Sousa e à sua direita o 1º cabo aux enf José Maria S. Faleiro [, morada actual desconhecida; foi dos primeiros a ser evacuado por doença intectocontagiosa, ainda em 1969)]... Os três militares da CCAÇ 12 estão junto ao momnumento erigido pela  CCAÇ 1551 / BCAC 1888 (Bambadinca, mai - nov 1966; Fá Mandinga, nov 1966 - jan 1968): além de Bambadinca, teve pessoal destacado  em Xitole, Saltinho, Mansambo; Missirá e Dulombi).


Guiné >Zona leste > Setor L1  > Bambadinca > CCAÇ 12  (1969/71) > c. 1970 > O  1º cabo aux enf Fernando Sousa,  de regresso a Bambadinca, depois de uma operação no subsetor de Mansambo... Estamos no tempo das chuvas, quie transformavam as picadas em ribeiras caudalosas....



Guiné >Zona leste > Setor L1  > Bambadinca > CCAÇ 12  (1969/71) > c. 1970 > O  1º cabo aux enf Fernando Sousa, na chamada ação psicossocial... A população é fula, a tabanca deveria situar-se np regulado de Badora (ou até mesmo no Xime)


Guiné >Zona leste > Setor L1 >  Bambadinca > CCAÇ 12  (1969/71) > c. 1970 >  1º cabo aux enf Fernando Sousa, vacinando a população... É auxiliado por um colega da CCS/BART 2917 (1970/2), o 1º cabo aux enf, Américo,  natural do Porto e jogador de futebol júnior ...   (Na CCS,   havia também soldados maqueiros que estavam distribuídos pelos destacamentos.)

Pelo vestuário, a população parece-nos ser balanta, do reordenamento de Nhabijões, que tinha muitos parentes no "mato" (leia-se, em tabancas son controlo do PAIGC, ao longo da margem direita do Rio Corubal(...  Alguns vinham, nas calmas e nas barbas da NT, abastecer-se em Nhabijões, ir ao médico a Bambadinca ou fazer compras  no comércio local.

Fotos (e legendas): © Fernando Andrade Sousa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Continuação da publicação do álbum de Fernando Andrade Sousa que foi 1º cabo aux enf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, entre maio de 1969 e março de 1971), e mora na Trofa. Era seu superior hieráquico o fur mil enf João Carreiro Martins, membro, também ele, da nossa Tabanca Grande (*).

O Fermando Sousa tem página no Facebook. foi praticante de futebol e tem experiência associativa.

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segunda-feira, 29 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14806: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte III: O grave acidente com arma de fogo que vitimou o Uam Sambu, do Pel Caç Nat 52, na manhã de 1/1/1970



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 > Uma enfermeira paraquedista prepara o moribundo Uam Sambu para a evacuação para o HM 241...  O camarada, de costas, com o camuflado todo ensanguentado é o Mário Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat  52, de acordo com a identificação feita pelo fotógrafo, o Jaime Machado.  À saída da Missão do Sono, em Bambadincazinho, o Sambu foi vítima de um grave acidente com arma de fogo que lhe custou a vida. Esta foto, no meu entender, só pode ter sido tirada neste dia, trágico, para todos nós. Em todo o caso, estas legendas são "por nossa conta e risco".


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 > Não conseguimos identificar a enfermeira paraquedista que,  nessa manhã, a do primeiro dia do novo ano de 1970, veio de DO 27 para tentar salvar o Sambu,,, Em vão, ele irá morrer na viagem... Vamos tentar saber quem era a enfermeira...


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 >  A DO 27 que no primeiro dia do novo ano de 1970, logo de manhã cedo,  veio fazer evacuação do Sambu. Do lado esquerdo, de perfil, vê-se o piloto, com "cara de puto", alferes...


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 >  Outro pormenor dos primeiros socorros que foram prestados ao Sambu antes de ser evacuado. Era médico do batalhão o Vidal Saraiva. À esquerda do Beja Santos, sob a asa do DO 27, com a mão direita à cintura, em pose expectante, parece-se ser o fur mil enf da CCAÇ 12, o meu amigo João Carreiro Martins,  de quem não tenho notícias há uns anos.
 

Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 >  Um DO 27 a levantar voo, de regresso a Bissau... Pode ser a mesma da foto anterior, como pode ser outra... Tudo indica que esta foto tenha sido tirada noutra altura e noutro lugar. Parece-me ser a pista de Bafatá, avaliar pelo casario ao fundo... (O Jaime Machado diz-me que que é Bambadinca e vem na sequência das fotos anteriores,,,).  (LG)

Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico  do nosso camarada Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) (*), que vive em Senhora da Hora, Matosinhos [, foto atual à direita], e é contemporâneo do Mário Beja Santos.

Ao ver estas fotos, tive um arrepio, quando o Jaime Machado me disse que o camarada com o camuflado ensanguentado era o Beja Santos, o nosso "Tigre de Missirá"...  

Lembrei-me imediatamente deste trágico acidente que ceifou a vida ao Uam Sambú.  Fui pesquisar os escritos do Mário Beja Santos. Aqui vai um excerto do poste P2540, de 15/2/2008 (**)

(...) O Setúbal já nos tinha avisado que viria o Xabregas [, condutor,]  ao amanhecer, eu que não estivesse preocupado. Assim que clareou, todos de pé, arrumadas as mantas, satisfeitas as necessidades mais prementes nas redondezas, esperámos a tiritar a aproximação dos faróis do Unimog, procurando desentorpecer os músculos. Assim foi naquele amanhecer de 1 de Janeiro de 1970. O Xabregas trouxe um burrinho, o que significava dez militares sentados, 20 a pé. Dez não, um outro saltava para o lado do condutor, mais um outro encavalitava-se junto do alferes. Uam Sambu senta-se ao pé de mim e diz a Quebá Sissé:
- Sobe,  Doutor, dá cá a mão!

Vejo o riso feliz e sempre aberto de Quebá Sissé, segue-se o estrondo inusitado de uma rajada de G3, procuro levantar-me, oiço gritos de aflição, imprecações, um coro desorientado de protestos, e é nisto que Uam me cai nos braços,  enterrando-me no assento:
- Alferes, estou morto!

Com Uam no meu colo, vejo o seu peito esburacado, os lábios num esgar de dor, o olhar a esmorecer, o sangue passa para a minha farda em abundância. O burrinho corre em poucos minutos nas mãos expeditas do Xabregas até à enfermaria. Vou a correr tirar da cama o [alf mil médico] Vidal Saraiva que se debruça atarantado sobre Uam com o peito tracejado por diferentes perfurações. 

Cá fora, desenrola-se uma outra tragédia, há quem ameace o Doutor, ouve-se a palavra assassino, ouvem-se as expressões impensadas do costume. Ora, tinha sido o mais estúpido dos acidentes, o malogrado Doutor ao subir metera o dedo no gatilho e fulminara Uam, o Doutor era a alma mais pacífica do 52, ninguém lhe conhecia azedume, aguentara estoicamente todos os comentários ao seu trabalho de cozinheiro. Percebendo que era necessário pôr termo àquela ira dementada, disse ao Domingos:
- Não quero aqui ninguém, tudo para a tabanca, tu desces imediatamente com eles e explicas que foi um acidente, quem tocar no Doutor tramo-lhe a vida.

Dita a bazófia, acerquei-me da marquesa onde o Vidal Saraiva me avisou:
- Só por milagre se salva, tem os órgãos vitais atingidos, veja o sangue aos cantos da boca, pulmões e rins têm lesões que presumo serem irreversíveis. Vamos ver como é que ele se aguenta até Bissau.

 O DO [27] chegou rapidamente e lá fomos todos a acompanhar o moribundo até à pista de aviação, Binta, a mulher do Uam, gritava o seu desespero, o Pel Caç Nat 52 assistia ao transporte de Uam num silêncio total, estarrecido. Dispersámos, o Vidal Saraiva era o mais acabrunhado entre nós. (...) 

2. Comentário do editor:

Não sei se o Beja Santos alguma vez chegou a ver estas fotos. São imagens obtidas a partir de "slides". O Jaime e o seu pessoal sairiam de Bambadinca um mês e picos depois,  sendo rendidos pelo J. L, Vacas de Carvalho, e o seu Pel Rec Daimler 2206.  Os "slides" eram revelados no norte da Europa (Suécia, por ex.). E o correio era moroso. De qualquer modo,  gostaríamos de ter um "feedback" do nosso querido amigo e camarada Beja Santos, além de incansável e generoso grã-tabanqueiro,  para quem mandamos um alfabravo fraterno, extensivo ao autor das fotos. O Mário e o Jaime foram contemporâneos de Bambadinca, com uma pequena de diferenças de meses. Eu também estive com eles, lá, na mesma altura, desde julho de 1969... O Jaime saiu em fevereiro de 1970, e o Mário, dois meses depois, em abril de 1970, se não erro.


3. Há mortos que nunca se enterram

(...) Acerca do tema que agora circula no blogue (..), queria também dizer o seguinte: mortos que ficam são os que matamos com as nossas mãos; mortos dolorosos são os que não podemos enterrar e que nos culpam por um determinado acto precipitado; mortos são aqueles cuja morte não percebemos como Uam Sambu que morreu nos meus braços ao amanhecer de 1 de Janeiro de 1970, num estúpido acidente de G3. O morto que vou falar tem a ver com uma amizade profunda, o insólito da notícia no dia em que me casei pelo civil [, o alf mil art Carlos José Paulo de Sampaio, natural de Anadia, mobilizado para Moçambique, pelo BCAÇ nº 10, em 12 de Abril de 1969, morto em combate no norte de Moçambique em 2/2/1970]. (...) [Excerto de poste do Beja Santos, P1740, de 8/5/2007]
 ________________

Notas do editor;

(*) Último poste da série > 24 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14790: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte II: Ao serviço do BART 1904 (de maio a setembro de 1968) e do BCAÇ 2852 (de outubro de 1968 a fevereiro de 1970)

(**) Vd. poste de 15 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2540: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (20): A morte de Uam Sambu, na Missão do Sono, em Bambadincazinho


Cópia do poema escrito por Beja Santos, na morte do Uam Sambu: "O pseudopoema foi escrito logo a seguir à morte de Uam, penso que a 2 de Janeiro [de 1970]. Vim para Bissau a 12, reescrevi-o e enviei-o à Cristina, tal como se pode ver, cheio de dor. Estou doente, mas comecei a dormir melhor. Digo à Cristina que estou ansioso por a ver, Suspeito que será em Fevereiro, não será assim. Saio de Bissau, e com o Pel Caç Nat 52 vamos para a operação Topázio Valioso" (BS).

Foto (e legenda): © Beja Santos (2007). Todos os direitos reservados.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10782: Álbum fotográfico do ex- fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (2): Quem seria o "anjo do céu" que veio na DO 27, nº 3331, buscar feridos a Bambadinca ? Pede-se a ajuda do Humberto Reis, do João Carreira Martins, do Abel Rodrigues, da Giselda Pessoa, da Maria Arminda, da Rosa Serra, do Jorge Narciso...


Foto nº 38 -  A (pormenor)


Foto nº 38

Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) / CCAÇ 12  (1969/70) > Pista de aviação de Bambadinca... Evacuação de feridos > Em primeiro plano, uma enfermeira paraquedista (cuja identidade desconhecemos, mas esperemos que possa ser revelada por uma das suas camaradas), e o fur mil enfermeiro da CCAÇ 12, o João Carreiro Martins, o nosso querido "Pastilhas"... A seus pés um ferido, com a cabeça engessada...



Foto nº 36 - A (pormenor)


Foto nº 36-B (pormenor)


Foto nº 36

Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) / CCAÇ 12 (1969/70) > Pista de aviação de Bambadinca... A Dornier 27, nº 3331, está pronta a descolar, levando não um mas dois feridos... Ou é ilusão de ótica ?

Na foto 36, vê-e ao centro o fur mil op esp Humebrto Reis (2º Gr Conmb / CCAÇ 12), e à esquerda o oficial de dia, que me parece ser,  visto de costas, o alf mil Abel Maria Rodrigues, nosso grã-tabanqueiro, tal como o Humberto. Estendido na maca, na parte de trás,  está o ferido com a cabeça engessada, e no cockpit, no lugar do copiloto (ou do mecânico),  parece-me "ver" outro ferido, africano...

Serão militares da CCAÇ 12,  serão civis,  ou serão prisioneiros de guerra ? Os nossos feridos graves, em combate, eram sempre ou quase sempre helitransportados a partir do mato... Não é aqui o caso... Estes feridos são evacuados a partir de Bambadinca... Não poderiam ser seguramente os feridos das duas minas anticarros, que explodiram em 13 de janeiro de 1971, à saída do reordenamento de Nhabijões... Nessa altura, o fur mil Lopes já estava longe,  na metrópole, há 7 meses... Tanmbém não poderiam ser prisioneiros da Op Lança Afiada, março de 1969 (Nessa altura ainda estavámos na matrópole, nós, malta da CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12)...

Na ausência de legendas, neste álbum do José Carlos Lopes [,foto à esquerda, numa rara foto, de bigode, em Bambadinca, possivelmente já  na segunda metade de 1969 ou princípios de 1970,] e não querendo maçá-lo ao telefone a esta hora, só espero que alguém de Bambadinca desse tempo me ajude, a começar pelos camaradas da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, aqui referidos e retratados, o Humberto Reis, o Abel Maria Rodrigues (?) e o João Carreiro Martins...

Espero também que as nossas queridas enfermeiras paraquedistas, as camaradas Giselda Pessoa, Rosa Serra e Maria Arminda (ou o melec Jorge Narciso, que é do nosso tempo de Guiné) me consigam também identificar a enfermeira paraquedista da foto nº 38...que nesse dia (não sabemos qual, mas só estar compreeendido entre finais de julho de 1969 e finais de maio de 1970) foi até Bambadinca buscar feridos graves...

Já falei ao telefone com o meu camarada Lopes, de resto meu vizinho (, mora em Linda a Velha, concelho de Oeiras,) e embora ele não visite o nosso blogue (por um questão de princípio e de higiene mental, não quer voltar a reviver esses tempos), está disposto a partilhar mais fotos do seu álbum e da sua coleção de diapositivos com os amigos e camaradas da Guiné que integra a nossa gloriosa e fraterna Tabanca Grande.

Prometi ir um dia destes fazer-lhe uma visita. Soube por outro lado qual era a sua verdadeira especialidade: Contabilidade & Pagadoria, um delicioso nome arcaico ou castrense para tesouraria... Até lá,  o meu reconhecimento e agradecimento, em nome de toda a nossa Tabanca Grande. (LG)