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quarta-feira, 18 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26932: Humor de caserna (201): a vida de um "biafrense" na guerra do ar condicionado de Bissau (Abílio Magro, ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG, 1973/74)



Guiné > Bissau > QG/CTIO > "O "Biafra" fos Sargentos > c. 1973/74 > "Eu  junto às obras da piscina de sargentos que estava a ser construída nas traseiras dos nossos quartos"... Não sabemo se chegou a estar pronta, se foi estreada e usada... Era uma alternativa à piscina do Clube Militar de Oficiais (CMO), a que os sargentos só tinham acesso muito limitado.

Foto (e legenda): © Abílio Magro (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Excerto do poste P11164 (*), adaptado para a série "Humor de caserna" (**) do nosso camarada Abílio Magro (ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG. 1973/74).  Pelo número do cartão (568) de acesso às instalações do QG/CTIG, do Abílio Magro, deduz-se que lá deviam trabalhar centenas de militares e civis.

O Abílio é o mais novo dos 6 manos Valente Magro que "foram á guerra". Três são membros da nossa Tabanca Grande. O mais velho, o Fernando, infelizmente já morreu. O Abílio está entre nós desde 2013.  Vive em Ermesinde.



Humor de caserna - A vida de um "biafrense" na guerra do ar condicionado de Bissau

por Abílio Magro


O sol começava a nascer e ao longe, tenuamente, já se vislumbrava a costa da Guiné e, muito lentamente, o cais do Pidjiguiti tornava-se-me mais nítido e desejado.

Tinha a sensação de estar a regressar finalmente de uma longa ausência em terras inóspitas.

Cacine tinha ficado para trás. Foram poucos dias, eu sei (pareceram-me uma eternidade!), mas deu para "cheirar" ao de leve a guerra e sentir a vida dura do mato.

Senti-me regressar a "casa".

Em terra, aproveitei a boleia de uma das Mercedes que transportavam o pessoal da CCAÇ 3520 e que me deixou perto do QG/CTIG que não ficava longe do "aparthotel" onde estava alojado - o "Biafra". 

Este era um alojamento provisório para quem chegava à Guiné pela primeira vez, ou que estava em trânsito. Eu já contava com 3 meses de Guiné e ainda ali continuava. Talvez as baratas tenham feito alguma pressão nesse sentido.

Embora necessitado de um valente banho, as saudades de uma "bejeca" geladinha falaram mais alto e, deixada a "bagagem" e a G3 na "suite", logo me dirigi ao Bar da Messe de Sargentos que se encontrava ainda fechado, mas que o "barman", vendo o estado lastimoso em que me encontrava e sensível ao meu convincente "choradinho", logo se disponibilizou para procurar a "bejeca" mais gelada que se encontrasse nas redondezas.

Até tinha gelo lá dentro!... "Ganda barman!"...

Bebi-a de um trago, o que fez com que não pudesse ter "cantado o fado" durante uns dias, mas que me soube bem "comó caraças"!

Havia agora que me apresentar ao serviço e recomeçar a minha outra "guerra", a que muitos chamamavam "do ar condicionado" (aproveito para informar que o ar condicionado estava reservado para os gabinetes dos oficiais pois, abaixo disso, aguentávamos com aquelas ventoinhas "gigantolas" penduradas no teto e que, quando avariavam ou faltava a electricidade, nos obrigavam a parar de trabalhar e vir para a rua, o que nos era permitido).

Lavadinho, barbinha feita, calças verdes de terylene, camisinha de manga curta e aberta no pescoço, lá vou eu todo vaidoso apresentar-me ao Chefe do Serviço de Justiça e Disciplina, major dos SGE, Mário Lobão (julgo que, naquela época, os oficiais do SGE eram oriundos da classe de sargentos e que, após frequência de um curso na Escola Central de Sargentos de Águeda, acediam ao oficialato e podiam progredir na carreira até ao posto de tenente- coronel).

Para ir do meu gabinete ao do major, tinha de passar pelo gabinete dos advogados, alferes milicianos. E, ao passar por estes, dizem-me:

 − Não se vá apresentar assim, tem de levar gravata!

Eram uns brincalhões e eu era ainda muito 'pira'..., estão a ver?!

Gravata numa camisa daquelas e naquele clima?! "Gandas tangas. estes tipos!"

Continuei a marcha em direcção ao gabinete do major, entro, "bato-lhe a devida pala" e, quando me apronto para lhe contar as minhas desventuras, o homem levanta-se e vocifera:

− Isso não é assim, vá-se ataviar convenientemente e venha-se apresentar depois!

Se fosse hoje, corria para o computador, entrava no site da CP e comprava bilhete para o primeiro comboio que rumasse a Cacine. (Estou a brincar, não fiquei com saudades daquilo!)

Voltei para trás e, ao passar novamente pelo gabinete dos advogados, ouvi:

−  Está a ver, nós avisámos!

Lá me informaram de como me deveria apresentar ao homem e concluí que tinha mesmo de pôr gravata.

−  Oh,  c'um carago, uma gravata nesta camisa é completamente ridículo! Isto anda tudo 'cacimbado' ou foi a cerveja gelada que me baralhou os neurónios?!

Bom, lá fui ao "Biafra", procurei a farda que tinha trazido da Metrópole, vesti a camisa de manga comprida,  arregaçando-lhe as mangas e coloquei a gravata.

Aquela gravata no meu pescoço fazia tanto sentido como um terço nas mãos do Luis Filipe Vieira!

Resta-me a consolação de ter obrigado o homem a levantar-se para me receber (o respeitinho é muito lindo!).

Quem por lá andou,  sabe que havia algumas personalidades estrambólicas, mas,  pelo que pude constatar nos meus cerca de 18 meses de Guiné, muito poucos oficiais dos SGE tinham semelhantes comportamentos.

E a minha "guerra" lá foi continuando sem grandes sobressaltos. Aaproveito para aqui fazer um pequeno parênteses para vos dar uma ideia geral de como era a vida do pessoal do "ar condicionado".

Na pequena sala onde prestava serviço, com uma ventoinha "matulona" no teto, estavam também 4 escriturários, dos quais dois eram africanos (um civil, ex-guerrilheiro recuperado, e outro do recrutamento local), virados para mim.  E o espaço que existia entre as secretárias deles e a minha, não permitia que circulassem duas pessoas a par. 

A seu lado, estava ainda um 1º sargento de quem já não me recordo o nome e a quem o major parecia ter um ódio de estimação,  chamando-o de "Gebo" e encarregando-o das tarefas mais achincalhantes.

Dava pena vê-lo abeirar-se de mim, cheio de medo e, em surdina, pedir-me qualquer tipo de ajuda sem que o major "topasse". Felizmente para ele faltava pouco tempo para o fim da sua comissão.

A vida dos escriturários não era "pêra doce"! Entravam às 8 ou 9h00 (já não me recordo), destapavam as máquinas de escrever e era um matraquear contínuo até ao fecho do serviço, apenas com intervalo para almoço. 

Imaginem aquelas almas dias e dias seguidos (meses, toda a comissão!), sempre a bater à máquina com um calor insuportável e sem grandes hipóteses de "baldas"! E eu a levar com aquele constante "matraquedo" em cima!

Mas aquela "guerra" lá se foi travando até que surgem indícios de que a "coisa" estava a ficar mesmo feia e que parecia vir a alastrar-se a Bissau, com início de alguma guerrilha urbana, com bombas a rebentar no café Ronda, no QG/CTIG, num autocarro da Base Aérea e uma pseudobomba na Piscina do Clube dos Oficiais. (...)

(Seleção, revisão/ fixação de texto, título: LG)

 ____________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 27 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11164: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (6): Regresso a Bissau

Guiné 61/74 - P26931: Manuscrito(s) (Luís Graça) (269): o azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim








Lisboa > 8 de junho de 2025 > O mês da feira do livro e dos jacarandás

Fotos: © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim

por Luís Graça



Não gostavas de escrever a azul.
Também não gostavas de escrever a vermelho.
Sempre gostaste de escrever a preto.
Em papel liso.

Sempre detestaste as linhas
mas nem sempre havia papel liso
nem esferográficas pretas.

Vermelho, não, carmesim (*),
como se dizia antigamente,
no tempo em que o vermelho era proibido
nas repartições públicas do Estado de Direito.
E muito menos
nos registos paroquiais 
de batizados, casamentos e óbitos.

Carmesim e não vermelho,
era a cor das vestes dos cardeais.
Carmesim flamejante.

Também se usava o carmesim
nas provas tipográficas dos livros 
no tempo em que os tipógrafos eram anarcossindicalistas
e tinham três ódios de estimação:
Deus, o Rei e o Capital.

Branca e azul era a bandeira.
Depois passou a ser verde e vermelha,
Por pudor dizia-se verde-rubra.
Rubra da cor das faces das moçoilas do povo
que era pouco republicano
e muito temente a Deus.
Rubra como o tomate saloio.

Deus que, nesse tempo,
escrevia direito por linhas tortas.
Mas sempre a azul,  celestial.
Deus, Pátria e Família
também só podiam ser escritos a azul.
Era a única tinta que se usava
na tua Escola Conde Ferreira.

Gostavas de escrever à mão.
Mas às vezes não tinhas esferográficas pretas,  à mão.
E, depois, nem todas as esferográfica pretas prestavam.
Nem todas eram válidas e fiáveis.
Cmo as escalas,
biométricas, psicométricas e até sociométricas,
deviam ser.

Ficavas pior que estragado 
quando o bico (ou a ponta ?)
arranhava o papel liso do teu bloco de notas gráfico.
Dizia-se bico (e náo ponta) no tempo da Bic.
Gostavas da Bic, passe a publicidade.
Mas depois a Bic passou a ser feita em países
que eram pouco fiáveis mas que tinham futuro.

O teu país era fiável,
no tempo em que o ouro se mordia com os dentes.
Mas  depois, dizia-se, deixou de ter  futuro.
Há 500 anos que perdia a bússola
e passava a navegar à bolina,
em linguagem náutica.
Ou à deriva,
 em termos mais comesinhos.

Do azul só gostavas das flores dos jacarandás.
Não gostavas do azul
no tempo em que se embrulhava um homem 
em papel selado.
Que era azul, e tinha linhas,
25 linhas.
E não havia tira-linhas, só tira-nódoas.

Não gostavas do papel selado.
Azul, de 25 linhas.
Não gostavas do azul 
nem do vermelho, aliás, carmesim.
Do tempo em que os coronéis da censura
usavam lápis azuis e vermelhos, aliás, carmesins.

Quando foste para a tropa,
gostavas do preto.
Usavas boina preta, 
camisola preta, 
calças pretas, 
luvas pretas...
E esferográfica preta.

Mas depois, disseram-te, 
que era  politicamente incorreto,  o preto.
Por causa não-sei-quê-de-conotações-racistas.
Dizia-se negro, e não preto.
Mas houve uma altura em que o preto dava  jeito.
E, depois, dizia o capelão,
no princípio era o mundo.
E o mundo era a preto e negro.

Ainda te lembravas das fitas 
a preto e vermelho, aliás, carmesim,
com que batias à máquina
poemas sem pés nem cabeça,
só com tronco e braços decepados.
No tempo em que era proibido escrever a vermelho,´
por isso dizia-se carmesim.
E até os sinais de proibição do código da estrada
eram a carmesim.
Não se podia dizer nem escrever
vermelho.

E os próprios jornais, sobretudo os do reviralho,
só podiam publicar títulos de caixa alta
a carmesim.
Em dias de festa.
Ficava cara a impressão.
O preto não era cor, logo era mais barato.
Mas o azul também não vendia jornais.

O preto era a ausência de cor.
Não havia o preto na paleta das cores do arco-íris,
explicava-te o teu professor de química.

Os espanhóis, esses, eram daltónicos
e  foram mais pragmáticos:
só havia os rojos e os blancos.
E mataram-se uns aos outros.


Lisboa, Feira do Livro, 8 de junho de 2025


© Luís Graça (2025)

Nota do autor:

(*) carmesim

carmesim
(car·me·sim)

Imagem

Gradação muito carregada da cor vermelha.

nome masculino

1. Gradação muito carregada da cor vermelha.

adjectivo de dois géneros

2. Que tem essa cor.

Origem etimológica: árabe qirmezi, tingido de vermelho, de qirmiz, vermelhão, encarnado.

"carmesim", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/carmesim.
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 20 de março de 2025  > Guiné 61/74 - P26599: Manuscrito(s) (Luís Graça) (268): A velha Amura dos tugas, agora panteão nacional...

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26926: (De) Caras (234): o nosso Raul Solnado da Guiné... o Abílio, Valente e Magro, ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG (Bissau, 1973/7)



1. Comentário do nosso editor LG, ao poste P26923 (*)


Abílio: já em tempos aqui escrevemos que os "tugas" podem ter muitos defeitos, como todos gajos, "cagões", que habitam o planeta... Mas têm uma virtude: sabem rir-se de si próprios.. Talvez os italianos não saibam, nem os alemães, ou os "amaricanos"...Muito menos os russos, os chineses, e outros povos "imperiais",,, Mas os "tugas", desde o berço da nacionalidade até, pelo menos, às "campanhas de pacificação" nos Algarves d'aquém e d'além-mar em África, depressa aprenderam que:

(i) chorar no molhado não adiantava nada;

(ii) dar de beber à dor podia ajudar;

(iii) cantar o fado fazia bem à alma;

(iv) pedir aos santos dava jeito mas nem sempre resultava ("quando Deus não quer, os santos não ajudam");

(v) mas nada melhor, afinal,  do que uma boa anedota "para desenrascar a coisa", "desopilar"...


Uma anedota, uma "estória", não sobre o vizinho espanhol mas sobre si próprio (o alentejano, o alfacinha, o tripeiro, o marafado, o bimbo, o ilhéu...). Nada como uma boa história, de preferência, pirosa, galhofeira, brejeira, pícara... Às vezes misturada com uma lágrima quente...

Abílio, sei que não estás nos melhores dias...("A doença vem a cavalo, e vai a pé".) Mas és um rapaz do Norte, e já aqui escreveste, no blogue, algumas peças de antologia do nosso bom humor de caserna, na tua série "Um amanuense em terras de Kako Baldé"... Bom humor, já que o mau humor, de gente ressabiada, não nos interessa, dispensamo-lo, não ajuda o moral da tropa quando está enrascada, atolada na bolanha ou no tarrafe....

Tu, "mano" Abílio Magro, já não precisa de apresentações: fostes fur mil, CSJD/QG/CTIG, 1973/74), foste um dos últimos soldados do império... Entraste para a Tabanca Grande em 2013 e tem seis dezenas e meia de referências no blogue... 

Ganda pintarola!

Seguramente és um caso único na história das nossas "guerras da descolonização" (como dizem agora os senhores historiadores...), és proveniente de uma grande família de combatentes, pois, de 8 irmãos (6 rapazes e 2 raparigas) todos os machos foram dar com os costados nos vários TO (Angola, Moçambique e Guiné), chegando a estar 5 irmãos (todos milicianos) ao mesmo tempo, a cumprir serviço militar, dos quais 4 no Ultramar... 

Ainda não explicaste por que é que as manas não foram para enfermeiras paraquedistas. (A tua mãe teve juízo em travar o ímpeto guerreiro da família... Afinal, alguém tinha que ficar em casa para receber e ler o correio!).

Dos 8 irmãos tu eras (e és, felizmente estás vivo) "o mais novo", o caçula, e regressaste da Guiné em setembro de 1974, com a Guiné já independente e com os "turras" do PAIGC (perdoados e reabilitados, promovidos à categoria de "combatentes da liberdade da pátria") a fazerem patrulhas em Bissau, em conjunto com a nossa PM (sic)... (Fizemos a gurra e a paz, mas ainda não o luto, um pequeno pormenor importante para a história, e sobretudo para a nossa saúde mental.)

Não tens nenhuma cruz de guerra (foram todas vendidas em saldo, antes de chegar a tua vez), mas podes gabar-te de ter honrado a tua família, e os seus pergaminhos, como Valente e Magro que é...

As tuas histórias da guerra (antes da água do Geba, já tinhas provado a água do Cacine!) merecem figurar ao lado das histórias que o Raul Solnado que, se fosse vivo e tivesse tido o privilégio de te ter conhecido, a ti e à nossa Guinézinha, adoraria por certo (re)contá-las...

Abílio, aceita um chicoração fraterno deste teu "mano mouro"... Põe-te fino! Luís Graça (e Carlos Vinhal, teu "mano visigodo" de Leça da Palmeira).(**)

________________

Notas do editor:


´(*) Vd. poste de 16 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26923: Humor de caserna (200): "Bomba" no Clube de Oficiais, em Santa Luzia, Bissau, em plena sessão de cinema ao ar livre (Abílio Magro, ex-fur mil, CSJD/QG/CTIG, 1973/74) 

Guiné 61/74 - P26923: Humor de caserna (200): "Bomba" no Clube de Oficiais, em Santa Luzia, Bissau, em plena sessão de cinema ao ar livre (Abílio Magro, ex-fur mil, CSJD/QG/CTIG, 1973/74)


Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > O António Graça de Abreu, em boa forma, no regresso de férias na Metrópole, na  piscina do Clube de Oficiais, Santa Luzia,  enquanto aguardava transporte para o CAOP1, em Cufar, no Sul].

Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné ] 



Guiné > Bissau > c- 1973/74 > Clube de Oficiais, QG/CTIG em Santa Luzia > "Eu, na messe e piscina em Santa Luzia; ao fundo vê-se o ecrã de cinema, que funcionava à noite... Os sargentos podiam frequentar a piscina aos sábados, o cinema era acessível a oficiais e sargentos.

Foto (e legenda): © Carlos Filipe Gonçalves (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É uma história hilariante (*), esta, vivida e contada pelo  Abílio Magro, um dos seis manos Magro que a Pátria chamou ao seu serviço em Portugal e terras de alé-mar em Áfriica:

(i) foi fur mil, CSJD/QG/CTIG, 1973/74);

(ii) trocado por miúdos, a sigla quer dizer "Chefia do Serviço de Justiça e Disciplina do Quartel-General do Comando Territorial Independente da Guiné";

(iii) entrou para a Tabanca Grande em 2013;

(iv) é nosso colaborador e tem mais de seis dezenas e meia de referências no blogue;

(v) vive no Porto.


"Bomba" no Clube de Oficiais do QG/CTIG, em Santa Luzia, Bissau, em plena sessão de cinema ao ar livre

por Abílio Magro

Nas Instalações Militares de Santa Luzia existia um Clube de Oficiais, composto de acomodações, messe, piscina, esplanada bar e cinema ao ar livre. (Podia-se fumar enquanto se via uma "sessão"... "Porreiro, pá!").

A classe de Sargentos tinha acesso a esse Clube para assistir à exibição de filmes e, uma vez por semana (às quintas, julgo eu) [e/ou sábados, segundo o Carlos Filipe Gonçalves, que trabalhava na ChefInt] tinha também acesso à piscina.

O local era circundado por um muro formado com aqueles tijolos geométricos que permitem ver de um lado para o outro.

O cinema era montado no recinto da piscina e a tela era composta de um grande pano branco suportado por duas altas estacas. 

As cadeiras eram metálicas, daquelas de fechar, usadas normalmente nos parques de campismo e nas nossas praias.

Nestas circuntâncias, as sessões de cinema eram efetuadas à noite, como é óbvio,  e, como do outro lado do muro existiam tabancas, os respetivos habitantes viam o filme do outro lado da tela com as legendas do avesso, o que nunca impedia uma razoável assistência nativa.

Quando no filme se desenrolava uma qualquer cena de pancadaria entre um branco e um negro (Sidney Poitier, por ex.) e o negro dava um murro no branco, invariavelmente se ouvia uma grande salva de palmas vinda do outro lado do muro. Compreensível, diga-se de passagem.

Alguns soldados sentavam-se nos muros e também assistiam ao espectáculo.

Naquela altura pairavam no ar receios fundados de provável início de guerrilha urbana em Bissau. Ali, no cinema ao ar livre e com as luzes apagadas por via da exibição cinematográfica, e com as tabancas do outro lado do muro, uma bombita era "canja!"

O pessoal andava nervoso.

Naquela noite o cinema estava cheio, como de costume. Eu também lá estava a ver uma "sessãozita".

De repente vê-se um clarão... e a debandada foi geral! Com a confusão, algumas cadeiras "ensarilharam-se", provocando tropeções e quedas e os que caíam ao chão eram, espezinhados pelos outros, como foi o meu caso.

No chão, a ser espezinhado e com as cadeiras a atrapalhar, não conseguia fugir e entrei em pânico! Ouvia o som das "Kalashnikov"! Ia ser apanhado à mão, despedi-me da família!

Passadas longos minutos, lá me consegui erguer e, já pronto para saltar o muro, ouço risadas!

O pessoal da primeira fila tinha-se safado bem das cadeiras e, junto à tela, deliciava-se com o espectáculo. 

Extremamente nervoso e com o coração a bater a 200 r.p.m., mandei umas "bocas foleiras" aos de "tacha arreganhada" e dirigi-me ao chuveiro da piscina para lavar os arranhões (face, braços e pernas)... Tive a companhia do brig Galvão de Figueiredo que lá foi fazer o mesmo às mãos e que vociferou:

− Cambada de cretinos!

Entretanto:

− De quem são estas chaves?...

− Ó Magro, olha aqui o teu cartão!

Os meus "bens pessoais" lá foram aparecendo aos poucos.

Resumindo:
  • a "bomba" tinha sido uma caixa de fósforos que se incendiara a um soldado, enquanto acendia um cigarro em cima do muro e que se terá desequilibrado; 
  • na queda, terá arrastado consigo mais dois ou três camaradas;
  • os longos minutos no chão a ser espezinhado, ter-se-ão resumido a meia dúzia de segundos;
  • os tiros de Klashnikov seriam, afinal, as cadeiras metálicas a bater umas nas outras.
Mais um filme que ficou a meio e eu, novamente, fui direitinho ao quarto (no "Biafra" dos Sargentos).

Acreditem que foi o maior susto que apanhei em 18 meses de Guiné. Acreditem que, em pânico, a ser pisado, sem me poder levantar, nem ver o que se passava ao redor, nem que fosse feijão fradinho entrava no "uropígio"!

No dia seguinte, quando entro na CSJD,  vejo o cabo condutor-motorista do ten cor com a mão esquerda ligada.

− Então, que foi isso?

− Queimei-me ontem à noite no cinema.

Ali estava o autor do "crime"! (**)

(Revisão / fixação de texto / título: LG)



Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG / CTIG >"Cartão que nos foi distribuído para podermos circular no QG depois da bomba. Reparem nas datas de emissão e validade (parece que contavam comigo até ao fim da comissão)"

De facto, o cartão era válido de 27 de abril de 1974 a 27 de março de 1975... A bomba no QG/CTIG terá sido em 22 de fevereiro de 1974... A burocracia militar levou dois meses a emitir o cartão de acesso ao QG/CTIG!...

Foto (e legenda): © Abílio Magro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné- Bissau > Bissau > c. 1975 > Novo mapa, pós-colonial, da capital da nova república, já com as novas designações das ruas, avenidas e praças, que vieram substituir o roteiro português: Av 3 de Agosto, Av Pansau Na Isna, etc. Veja-se a localização do porto do Pijiguiti (para os barcos de pesca e de cabotagem), à esquerda do porto de Bissau (para os navios da marinha mercante).

Santa Luzia e o Cupelon (já fora da malha urbana da "Bissau Velha") ficavam paredes meias... 

Pensando bem, o QG/CTIG podia ser, teoricamente, um alvo fácil para uma ação terrorista do PAIGC... Até porque trabalhavam muitos civis naquelas instalações militares, onde se integrava o Clube de Oficiais e o "Biafra" (dormitório dos oficiais milicianos em trânsito por Bissau).

Foto: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 23 de maio de 2025 >  Guiné 61/74 - P26835: Humor de caserna (199): O meu grande "bubu" azul!... Que pena não mo terem deixado levar, vestido, no avião da TAP, de regresso a casa !... (Jorge Cabral, 1943-2021)


(**) Excerto do poste de 7 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11164: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (6): Regresso a Bissau

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26835: Humor de caserna (199): O meu grande "bubu" azul!... Que pena não mo terem deixado levar, vestido, no avião da TAP, de regresso a casa !... (Jorge Cabral, 1943-2021)






Foto nº 1


Foto nº 2



Foto nº 3


Legendas:

Fotos nºs 1 e 2 > Lisboa > Belém > 10 de junho de 2016 > O ex-alf mil art  Jorge Almeida Cabral, antigo cmdt do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71) com uma jovem militar da Marinha (foto nº 1);  e com Maldu Jaló, natural de Catió, e que era do tempo do Mário Fitas, tendo feito  parte da milícia do João Bacar Jaló (foto nº 2, aqui mais a esposa) (Fotos do Mário Fitas, ex-fur mil inf OR / Ranger, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67).

Fotos (e legendas): © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 3 Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Jovem fula ou mandinga vestido o seu grand boubou, e protegendo-se da canícula por intermédio do seu inseparável chapéu automático (dois luxos que chegavam à tabancas do interior, graças ao comércio dos djilas do tchon francês e ao patacon da guerra).

Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-fur mil OE/ Ranger,  CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
 
Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Capa do livro de Jorge Cabral, "Estórias Cabralianas", vol I. 
Lisboa: Ed José Almendra, 2020, 144 pp.  Tinha um II volume, praticamente pronto para ser publicado. A morte surpreendeu-o. A "estória" que reproduzimos não vem no livro... Foi publicada no blogue há 19 anos atrás. Merece ser conhecida dos nossos "periquitos".


1. Um dia o "alfero Cabral", o Jorge Cabral (Lisboa, 1943 - Cascais, 2021), sonhou que podia ser Cabral entre os Cabrais,  fula entre os fulas, mandinga entre os mandingas, guinéu entre os guinéus, homem entre os homens... e até louco entre os loucos!

Foi de tudo um pouco, o mais paisano dos militares que eu conheci na Guiné. Filho de militar e aluno  do Colégio Militar, disse-me em vida que "todos nós tinhamos direito a um pouco de loucura e de humanidade", o que implicava pôrmo-nos na pele do outro; e ele fazia isso como ninguém... 

Morreu cedo demais, aos 78 anos. Lembrá-lo aqui, no blogue que ele tanto amava, é um dever dos seus amigos e camaradas da Guiné.




Má chegada, pior partida... com o meu grande "bubu" azul e sempre com ameaça de porrada...

por  Jorge Cabral (1943-2021)



Com destino à Guerra, viajei no 
Alfredo da Silva, quase um cacilheiro, durante doze dias. Em primeira classe, sete oficiais e uma dona puta em pré-reforma habitavam um ambiente de opereta, jantando de gravata, com a estafada dama na mesa do comando. Depois havia a valsa… Cheirava a mofo, a decadência, ao fim do Império…

Cheguei à noite, sentindo logo a África, no calor, na cor, na humidade. A bordo subiram militares, e o putativo marido da senhora, cuja profissão nunca descobri. 

Um sargento gago carimbou-me a guia de marcha e assinalou:

− Pel Caç Nat 63. 

Bem lhe perguntei o significado da sigla e para onde ia, mas não sabia ou não quis dizer.

Desembarcado, apanhei uma boleia num camião militar carregado de batatas, que me deixou no "Biafra", depósito de alferes em trânsito por Bissau.

Talvez para impressionarem o periquito, todos se mostraram totalmente apanhados. Quanto ao meu destino foram animadores

 É,  pá, vais para um pelotão de nharros. É só embrulhar. Estás lixado.

Apresentado no Quartel-General, ordenaram-me a partida para o Xime. Tinha que tomar um barco no dia seguinte, às tantas horas.

 Regressado ao "Biafra", aconselharam-me a não ir:

 − Recusa-te. Os barcos são sempre atacados.
 
Confiante na experiência dos velhinhos, falhei o embarque tendo voltado ao QG. Aí um capitão barrigudo passou-me a um major nervoso, que me remeteu para um tenente-coronel que, quase apoplético, me descompôs:

 
− Começa mal! Está a pedir uma porrada. As ordens são para cumprir. Desapareça da minha vista!

Desapareci, e o certo é que fui de avião para Bafatá.

Muitos dias, muitos meses, mais de dois anos passaram e eu continuei no mato. (As cunhas funcionavam na perfeição. Chegados a Bissau, em rendição individual, podiam ser encaixados, sem grande escândalo, em qualquer Repartição.) 

Tinha porém de ser rendido, e a solução foi encontrada a nível de Batalhão, substituindo-me por um alferes da Companhia de Mansambo.

Entretanto o meu Pelotão foi para a ponte do rio Undunduma e a Missirá voltou o Pel Caç Nat 52, tendo eu permanecido mais três semanas e entrado ainda numa operação, na qual morreram dois soldados africanos que, indo a fumar o mesmo cigarro, accionaram uma mina antipessoal reforçada.

Finalmente, e após uns dias em Bambadinca, embarquei no Xime com destino a Bissau. Recusara à chegada, mas afinal regressava de barco… e ao "Biafra". Agora eu era o velhinho e o apanhado.

No dia da partida, eu que cismara aparecer em Lisboa vestido com o bubu azul, bordado a ouro, que comprara a um djila senegalês em Missirá, resolvera mandar encurtar a vestimenta a um costureiro de rua. Enquanto esperava, passou por mim um furriel conhecido, que me alertou: o voo havia sido antecipado. 

À pressa, pego no fato, meto-me num táxi e vou para Bissalanca (toda a minha bagagem, fotografias, o meu diário, os versos que escrevi, ficaram no "Biafra").

Chegado ao aeroporto enverguei o meu traje, causando o espanto e o riso dos passageiros, militares. Eis que sou cercado por um coronel e dois majores, os quais em coro me determinam:

– Não pode ir assim, é uma vergonha, lembre-se que é um oficial....E blá, blá, blá…

Tento contestar:

− Se um fula pode embarcar com um fato europeu, porque não posso eu ir vestido à fula?

Nada feito, se persistir não vou e levarei uma porrada. Obrigado a obedecer, lá entro no avião, no qual segue também o coronel, o que impediu de me fardar a bordo.

Teimoso,  porém, mal chego a Lisboa, envergo o grand boubou e é com ele vestido que abraço a família. 

Franze o sobrolho o meu pai que me diz que o Carnaval ainda não chegara, que tivesse juízo e não o fizesse passar vergonhas… Quanto à minha mãe, chorava, talvez de alegria, mas muito mais de tristeza. Coitado do filho…enlouquecera!

Num destes dias vou de novo vestir o meu grand boubou. Pode ser que tenha conquistado o direito a um pouco de loucura. Talvez


(Revisão / fixação de tecto, título: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26677: Humor de caserna (198): Carlos Fabião, um oficial duplamente superior, grandalhão e brincalhão (António Novais, ex-fur mil trms, Cmd Agr 2951, Cmd Agr 2952 e Combis, Mansoa e Bissau, 1968/70)

sábado, 10 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26787: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (10): Quando a "última" foi a "primeira"... A cap enf pqdt Maria de Lurdes Lobão, que fez história: em 16 de março de 1990, foi a primeira mulher a fazer de oficial de dia num estabelecimento militar, a Escola de Serviço de Saúde Militar (ESSM)

 



Cap enf pqdt Maria Lurdes Lobão, do último (9º) curso (1974).
(Cortesia de Fernando Miranda). Edição: LG (2025)


1. Foi a última das 46 enfermeiras paraquedistas. É do 9º (e último) curso (julho de 1974), que só formou uma, ela própria... Já não chegou a ir ao ultramar... Mas ficou na FAP... E em 1990 estava na Escola de Serviços de Saúde Militar (ESSM), com o posto de capitão. 

Conta aqui um episódio que pode parecer "anedótico", mas que a fez entrar, pelo menos,  na história da vida militar e quiçá na história da mulher portuguesa : terá sido a primeira mulher a fazer o serviço de oficial de dia, em 16 de março de 1990, dezasseis anos depois do 25 de Aril de 1974!

É natural de Vila Real, transmontana, portanto. Vive em Lisboa. Tem página no Facebook (Maria Lurdes Lobão).


Foto da página do Facebook da Maria Lurdes Lobão (Com a devida vénia...),
 Edição:  LG (2025)

A criação do corpo de enfermeiras paraquedistas remonta a 1 de junho 1961 (início do 1º curso, onde ingressou, entre outras, a nossa grã-tabanqueira Maria Arminda Santos, hoje tenente, reformada). 

Fizeram-se 9 cursos e formaram-se 46 enfermeiras paraquedistas. Tal como os capelães, eram graduadas (em sargentos ou alferes, conforme as qualificações profissionais de origem: Curso de Auxiliar de Enfermagem e Curso Geral de Enfermagem, respetivamente). Elas são as pioneiras. O ingresso nas mulheres nas Forças Armadas Portugueses, através do serviço militar voluntário, vai ser um processo lento. A Força Aérea foi o primeiro ramo a admitir mulheres, em 1988, através da criação de vagas para mulheres no serviço militar voluntário. O Exército e a Marinha seguiram-se em 1992.



Excerto de:
"Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pãg, 437  (com a devida vénia)






Excerto de:
"Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pp. 340/341  (com a devida vénia)




2. Perguntámos à IA: 

"É verdade que a Capitão Enfermeira Paraquedista Maria de Lurdes (ou Lourdes)  Lobão foi a primeira mulher a exercer funções de oficial de dia num estabelecimento militar, neste caso, na  então Escola de Serviços de Saúde Militar (ESSM), em Lisboa, no dia 16 de março de 1990 ?"

O nosso "Big Brother", que  tem a mania que sabe tudo (ou somos nós que lhe atribuímos ingenuamente a omnisciência...), não conseguiu responder a essa pergunta concreta. Tanta a Gemini IA / Google como a Perplexiti IA e o ChatGPT disseram-nos mais ou menos isto:;

(i) com base nos resultados de pesquisa fornecidos, não há confirmação documental ou referência explícita que comprove que a Capitão Enfermeira Paraquedista Maria de Lurdes (ou Lourdes)  Lobão foi a primeira mulher a exercer funções de oficial de dia na então Escola de Serviços de Saúde Militar (ESSM), em Lisboa, no dia 16 de março de 1990;

(ii) os resultados consultados abordam genericamente a presença e o papel pioneiro das enfermeiras paraquedistas nas Forças Armadas Portuguesas, destacando que desde 1961 algumas mulheres ocuparam funções militares, especialmente na área da saúde militar e como paraquedistas;

(iii) todavia, não foi identificado nenhum documento ou referência específica ao feito mencionado, nem ao nome de Maria de Lourdes (ou Lourdes)  Lobão associado a essa função ou data em particular.

Portanto, com a informação disponível, não é possível confirmar a veracidade da afirmação sobre Maria de Lurdes (ou Lourdes) Lobão e o seu papel pioneiro na ESSM em 16 de março de 1990. Caso existam fontes adicionais ou documentação interna das Forças Armadas, estas não foram localizadas nos resultados apresentados.

3. Comentário do editor LG: 

Não pudemos explorar o "Diário de Lisboa", disponível "on line", porquanto faltam dois  números da coleção (posteriores à data em causa, 16 de março de 1990, logo por azar  os dos dias 17 e 18; o jornal. de resto, será extinto nesse ano, a última edição foi a de 30 de novembro de 1990; começou a publicar-se em 1921.

Achamos, todavia,  que o depoimento da nossa camarada Maria Lurdes Lobão é fidedigno e consistente. E ninguém lhe tira dos louros desse dia (histórico) para as mulheres portuguesas que só ao fim de muitos séculos é que começavam a entrar no "androceu" (por analogia com o "gineceu", a parte da casa reservada às mulheres na Grécia antiga...).  

É, além disso, e sobretudo,  uma história bem humorada e bem contada. Parabéns, Lurdes Lobão, saúde e longa vida!... LG
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quarta-feira, 7 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26775: Os nossos enfermeiros (20): Era preciso ser doido para se ser especialista na ciência & arte de montar e desmontar minas e armadilhas... O caso do nosso Vilas Boas (António Carvalho, ex-fur mil enf, CART 6520/72, Mampatá, 1972/74)




Guiné > Região de Tombali > Mampatã > CART 6520/72 (1972/74) > O Vilas Boas à esquerda, no meio um militar do Pel Caç Nat 68 , à direita eu próprio

Foto (e legenda): © António Carvalho (2025).  Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O António Carvalho, mais conhecido como Carvalho de Mampatá, foi fur mil enf, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74); integra a Tabanca Grande desde 13/9/2008; tem cerca de referências no blogue; tem publicado algumas das suas histórias na série "Os nossos enfermeiros" (*); é autor do livro de memórias "Um Caminho de Quatro Passos" (Rio Tinto: Lugar da Palavra Editora, 218 pp., ISBN: 978-989-731-187-1); tem em mãos uym segundo livro, de ficção histórica, centrado sobre a figura de um "brasileiro de torna-viagem"; mora em Medas, Gondomar, de que foi autarca (presidente da junta de freguesai)  há uns largos anos atrás

 

1. Mensagem de  António Carvalho

Data . Quinta, 1/05/2025, 17:35 

Assunto - Vilas Boas

Na sequência do meu encontro de ontem, na Tabanca de Matosinhos, com o Lopes da Régua, o Pinto de Famalicão, o Polónia e o Miranda Lopes do Porto, e o Vilas Boas de Braga, achei de algum interesse mandar-te esta estória que saiu por lá, da boca do próprio (Vilas Boas). Se entenderes podes torná-la pública no nosso blogue.

Carvalho de Mampatá


Os nossos enfermeiros (20) > Era preciso ser doido para se ser especialista na arte de montar e desmontar minas e armadilhas... O caso do nosso Vilas Boas

por António Carvalho


Estávamos na estação seca, no ano quente da guerra, em 1973. Havíamos de apoiar a
engenharia militar nos trabalhos de abertura e pavimentação da estrada entre Aldeia Formosa e Nhacobá, com passagem por Áfia, Mampatá, Ieroiel, Colibuia e Cumbidjã. Connosco, na protecção a esses trabalhos, estiveram ainda a CCaç 18, a Companhia de Cavalaria 8351, grupos do Batalhão 3852 e, mais tarde do 4514. 

Quanto mais a estrada se estendia, maior era a área sob a nossa protecção e sob a pressão do IN. Nas extensas áreas terraplanadas fácil era montar minas. Montavam-nas eles e nós também, segundo as estratégias concebidas pelos quadros especializados. 

Na minha companhia, CArt 6250 (1972/1974), o mais entendido na arte de as instalar e levantar era o Vilas Boas, fur mil Minas e Armadilhas. Levantava muitas, as que ele próprio instalava e as do IN. 

Tornou-se tão célebre nessa arte perigosa de neutralizar e levantar minas que um dia, no Café Bento, numa mesa de pessoal em trânsito por Bissau, se falava num gajo maluco que levantava minas a torto e a direito, lá para os lados de Aldeia Formosa. O que não sabiam os palradores era que o sujeito objecto daquela conversação estava ali mesmo, numa mesa ao lado. Por certo, algo envaidecido por ser o alvo daquele conclave de gente da guerra, levantou-se e puxou dos galões : 

− Pois não sabem que é esse gajo ? Sou eu próprio.

Não crendo nele, por terem preconcebido na sua mente, um militar avalentado, nunca um
finguelas de corpo como o que se arvorava em herói perante eles, riram-se de chacota. O
nosso Vilas Boas, natural e residente em Braga, aborrecido por não o tomarem a sério,
levantou-se e foi-se embora, não se esquecendo de os mandar abaixo de Braga.

Já não via o Vilas Boas há 30 anos, mas tive a sorte de o reencontrar no antigo Milho Rei, em
Matosinhos, na quarta-feira , dia 30, onde convivemos com mais quatro combatentes da nossa companhia. O rapaz contou-nos coisas do arco da velha, entre elas vai esta pérola.

Num dado momento, em 1973, o rapaz, saltava de um lado para o outro, numa área
terraplanada onde ele próprio tinha instalado algumas minas, na zona de Colibuia. Perante a
estupefacção e desespero do nosso Capitão, Luis Marcelino, arredado dez ou vinte metros, ele insistia que as minas que ali colocara, tinham detonado todas, não carecendo por isso de ser removidas.

Querendo comprová-lo arremessou a pica para longe e continuou a calcar a terra, aos saltos. 

O nosso Capitão, ajuizado, resolveu, logo que chegou a Mampatá, marcar-lhe uma consulta de psiquiatria, no Hospital Militar de Bissau. E o rapaz lá foi para Bissau passar uns dias merecidos de férias. 

Será que aquela dança (perigosa), avistada pelo nosso Capitão, arrepiado, não foi mais do que uma artimanha do Vilas Boas para se livrar das agruras do mato ?

Carvalho de Mampatá
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Nota

Último poste da série > 28 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25314: Os Nossos Enfermeiros (19) : Negócios Imobiliários em Mampatá (António de Carvalho, ex-Fur Mil Enf.º)

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26695: Histórias de vida (59): O meu amigo A..., do Café Cenáculo, no Porto, e depois alferes da Cheret no QG/CCFAG (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

 


Praia de Vila do Conde, 1963...


Vila do Conde, Av Brasil, 17/3/2020...


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar de: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Histórias de vida > O  meu amigo A...,  do Café Cenáculo, no Porto, e depois alferes da Cheret no QG/CCFAG

por Virgílio Teixeira



O Café ainda existe, 64 anos depois de abrir. Abriu portas no dia 11 de novembro de 1961, já com início da guerra em Angola, e um mês e tal antes da invasão do Estado Português da Índia em 18 de dezembro de 61.

Esse amigo, 3 anos mais novo que eu, era de boas famílias, burguesia do Porto, mas ele próprio era um bocado desbocado, diferente de todos nós que ali frequentávamos o Café para estudar, tendo ainda hoje várias placas nas paredes dos diversos cursos universitários que por lá fizeram em parte a sua vida, tal como havia em muitos cafés do Porto, sem esquecer o Piolho, o Progresso, o Ceuta, o Avis, e tantos outros.

O A...  (omito o seu nome por razões óbvias) estudava engenharia no ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto), e já tinha a sua panca acentuada antes de chegar à Guiné.

Era o alferes miliciano A... L... que pertencia à Cheret – para quem não sabe, como eu não sabia, estava ligado a encriptação e desencriptação de menagens – e tem muitas histórias de conseguir pôr as transmissões do IN à volta da cabeça, com sucessivos códigos novos
. (Cheret é o acrónimo de "Chefia do Serviço de Reconhecimento das Transmissões".)

Isto porque um "cheret" anterior a ele, mas furriel miliciano, teria sido capturado, e isso significava  que o mais provável era ter passado tudo para os seus carcereiros. 

Estes combatentes não usavam armas, nem faziam serviços, estavam ligados ao QG/CCFAG– Rep não sei quantos,  das transmissões ou informações. Nem lhes era permitido ir em colunas ou outros meios de transporte terrestes ou fluviais, só por avião. 

Esteve em Bissau, depois em Catió e finalmente em Piche, quando aquilo já estava muito feio, já não era nada como no meu tempo, em que ia a Piche em colunas à boleia, só para conhecer melhor o que era a terra que me viu de G3 e farda camuflada.

Este colega e amigo, como estamos numa de "piadas de caserna", tenho dele uma de partir a moca. 

Quando o encontrei em Bissau, talvez dezembro de 67, eu não sabia que ele tinha ido para lá, encontro-o na Pensão da Dona Berta, acompanhado com a sua jovem esposa.

Conta ele que, depois de mobilizado, nada disse em casa, nem nem ele nem a namorada, os pais eram austeros e gente de dinheiro. Ele namorava a rapariga, e antes de sair, casou sem conhecimento de nenhum dos familiares de ambas as partes, não souberem de nada, só quando lá estavam em Bissau deram notícias.

Então ele não esperou pelo seu embarque gratuito, comprou bilhetes da TAP e lá foram eles para Bissau, onde passaram a sua Lua de Mel na Pensão da Dona Berta.

Andou assim uns 15 dias e nunca se apresentou no QG,  como seria normal. Conta ele que passeava na marginal com a mulher, e encontrou um militar muito zangado e com muita raiva, e dizia ele, que estava há mais de um mês à espera do seu substituto, e ele não aparecia nem ninguém sabia dele

– Possivelmente já desertou e eu aqui à espera dele!

Logo se desfizeram as dúvidas quando o outro disse que estava à espera de um alferes da Cheret!... Disse o A...:

 – Sou eu!!!

O resto não sei, mas foi uma alegria para o outro, e o A... nunca contou o que lhe aconteceu no QG.

Quando chegou aos 15 meses arranjou forma de ir parar ao HM 241 em Bissau, para a Psiquiatria, lá para maio ou junho de 69. Encontrou lá o outro A..., o F... da Companhia de Transportes, que vivia lá com a mulher e filha E..., que eu levava comigo a passear de mota, quando ia a Bissau. Tinha 3 anos, tem hoje 60.

Nessa altura estaria eu também na mesma zona da Psiquiatria. Eles foram mais espertos e lá conseguiram vir embora de avião militar, com destino ao Hospital da Estrela.

Mas em vez disso, resolveram ir para o Algarve e desenfiaram-se uns dias. O A... F....  já tinha mandado a mulher e filha para cá, e o A... L... já tinha mandado a mulher para a metrópole, a mulher tinha vindo muito antes. Como não ficou em Bissau, penso eu que ela veio recambiada.

O F...,  depois de cá chegar,  uns anos depois volta a frequentar a FEP (Faculdade de Economia do Porto) e acaba o curso e passa a ser um quadro importante do antigo BPA, depois BCP. Saiu reformado muito cedo com a pensão completa.

Ainda fiz alguns negócios com ele – com o Banco – em contratos "leasing" quer para mim quer para clientes. Não sei porquê, separou-se da mulher, que lá em Bissau trabalhava na Farmácia. Ficou solteiro. A mulher que casou com um juiz de Ovar, veio a falecer há um ano atrás.

Somos amigos e temos o nosso blogue – uma conta no WhatsApp com 7 amigos.

Em Bissau o F.... morava numa casa junto com o cunhado, o P... G...,  da CC e com a mulher dele,  a Ac..., irmã da mulher do F... Parece que não correu muito bem esta convivência conjunta.

Agora as irmãs já morreram, com um mês de diferença. O P...G... também aparece nos almoços do grupo, junto com o cunhado F...

A E.... casou e tem dois filhos, netos do F..., e encontramo-nos apenas nos
funerais das mulheres. Ela quase não me conhece, não se lembra, era muito miúda, é arquiteta e apresentou-me o marido, que tem como virtude ser mais um fanático do FCPorto, e que convida o sogro para ir ver os jogos do Porto na TV. O F... não gosta de futebol, mas puxa pelo Porto. O genro agradece.

Estou a fugir da conversa do A...L... da Cheret. Passaram à peluda, os dois A... (têm o mesmo nome). Eu e eles somos amigos do Café Cenáculo, desde os anos de 60. (Fica na Rua Antero de Quental.)

O A...L... perdi-lhe um bocado o rasto pois entretanto venho para Vila do Conde trabalhar numa multinacional sueca, e depois casei e mudámos para cá, e assim se foram perdendo lentamente os nossos amigos mais importantes, "longe da vista, longe do coração", quer para mim bem como para a minha mulher que já não tem amigas da infância e adolescência.

O A... entretanto divorciou-se, teve um filho da primeira mulher, que já adulto acabou com a vida, foi um rude golpe. Foi o A... que me contou cá em Vila do Conde, numa garrafeira de um amigo dele, onde nos encontramos. Fiquei chocado.

Entretanto ele vai abrindo o cofre e começa a contar a sua vida, com 3 casamentos e 3 divórcios à mistura. Tem filhas das duas últimas mulheres mulheres,   encontrando-se a viver em diversos países da Europa.

Ele ainda mantém relações de amizade com todas as suas mulheres e os filhos, mesmo a mãe do falecido, a sua primeira mulher que eu conheci em Bissau.

Há uns anos, cinco talvez, juntou-se com outra mulher, 5 anos mais nova do que ele, que era divorciada de um tal Virgílio – não sou eu – que também passou pela Guiné.

Alugou aqui uma casa, a 500 metros da minha, e está a viver com a dita – chamamos- lhe H...L... Passado um ano mais ou menos casaram pelo civil. O A... tem uma quinta em Entre-os-Rios , que tem um caseiro e está à venda mais ninguém lhe pegou ainda.

A atual mulher vivia no Porto, na Rua de Camões,  e tem um filho, que é surdo-mudo, casado com outra mulher com a mesma deficiência. O filho, que não conheço, não gostou deste ajuntamento da mãe e durante uns anos não se viam. O A... não se importava, porque não sabia como falar com ele em linguagem gestual, e assim festas e natais era tudo separado. 

Depois do último Natal, onde o A... foi passar com um amigo em Viseu, a mulher recebeu o filho em casa deles. Agora já se conhecem e tiveram nos anos de algum deles.

Quando o A... se juntou com a H...L...  foram mudar para casa alugada para os lados de Monte dos Burgos, perto do RI6, da Senhora da Hora.

Depois mudaram-se  para Vila do Conde, e hoje estamos todos os domingos de tarde, juntos, os quatro, em cafés cá em Vila do Conde.

Assim a minha mulher já tem com quem falar, pois entendem-se bem. Mas ela já vai dizendo que está cheia do A..., não sabe até quando o vai aturar.

 O A... tem apenas as filhas que estão ausentes, e os dois irmãos , um mais velho que "deu o salto"(para fugir da tropa) e já morreu recentemente, e o outro mais novo, que também ‘se safou da tropa’ por cunhas do pai dele, também já morreu. O A... andou também fugido, mas voltou ao serviço, não eram muito do sistema, nem o seu próprio pai e mãe, já falecidos.

O A...é bom rapaz, só tem dois defeitos:

(i) é do Benfica e abominava o Pinto da Costa, mesmo quando eles eram vizinhos nas Antas no mesmo prédio;

(ii) tem uma paixão, são os livros e vai a tudo que seja relacionado com a literatura e afins, pelo que só fala disso, e pouco se importa com a conversa dos outros: conhece os maiores nomes da nossa literatura, os mortos de os ler, e os vivos de conviver, o que não agrada nem à mulher, e muito menos a mim.

Mas lá vamos continuando com os nossos encontro, e agora que se juntou também o nosso Padre Bártolo, antigo capelão-mor na Guiné, Angola e Moçambique, e que depois viveu 30 anos em Genebra e tem altíssima cultura, e por isso agora eles falam um com o outro,  eu vou ouvindo sem nada perceber sobre as pessoas que falam.

O A... é de uma grande inteligência, formou-se em engenharia de sistemas digitais e afins, mas nunca pegou num computador e muito menos num "smart phone", tem apenas um telemóvel desses antigos da Nokia como tem a minha mulher, que não se deu com os outros.

Quando formamos o grupo do WhatsApp – Os veteranos da Guerra da Guiné – partilhamos mensagens e tudo o mais que vem à cabeça, especialmente coisas do outro mundo, fotos e vídeos de fazer corar um santo.

Como ele não tinha esse dispositivo, ficou associado ao da mulher, pois ele nunca tem o seu telefone ligado, nem servia para integrar o grupo WhatsApp.

Assim a partilha destas coisas todas que nós falamos e publicamos,  quem as via era a sua mulher,  a H...L, , até que um dia viu algo que não gostou mesmo, e telefona-me a perguntar o que era aquilo, por que razão recebia aquelas coisas obscenas... 

Lá lhe expliquei o engano e acabou-se a sua participação. Tudo o que tenho de lhe comunicar,  faço, diretamente a ele, para o telefone dela, mas jamais houve contactos, ninguém sabia disso e era tudo a abrir.

Não tem estes dispositivos nem quer, ele diz que nunca abriu um computador!...
Foi sempre professor universitário e chegou a sê-lo do meu genro, em algumas
disciplinas, ele formou-se em engenharia civil.

Para a Cheret só iam dois tipos de pessoas e com características bem vincadas:

  • quem era muito afecto ao sistema salazarista e agora até chamam de fascistas;
  • ou quem tinha inteligência excecional, especialmente ligada a números, para a função de encriptar mensagens.

Na primeira não cabia, mas sim na segunda e assim passou a ser um homem do sistema e bem controlado, digo eu.

Agora o que resta é esta quinta mulher, mas não têm filhos em comum, obviamente.

Ele é muito perfeccionista, tanto anda com uma T-shirt do Che Guevara, como um blusão camuflado, e tem como defeito principal, na perspetiva da mulher, o de comer muito e a toda a hora, e nós vemos isso nos lanches de domingo.

Fazem as despesas a meio, ela era bancária e recebe a sua reforma e a do falecido. Ele, dizem eles, que nem sabe quanto ganha, porque nunca consulta as contas!

A mulher, entretanto, arrendou a sua casa da Rua de Camões, e quando dá por ela, "já lá viviam dois gays: não pagam a renda e os advogados não veem maneira de os por de lá para fora, além de que são perigosos"...

Acho que, se ela recuperar a casa dela, vai acabar com tudo. Isto é  a nossa versão.

E assim vão as coisas.

Muito mais poderia aqui acrescentar, mas para já chega de conversa. Fim da novela, ao fim de um mês de a começar.

Em, 27 de março de 2025

Virgílio Teixeira

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26693: HIstória de vida (58): Henrique Pereira Rosa (Bafatá, 1946- Porto, 2013): o fur mil OE, CCAÇ 2614 (Nhala e Aldeia Formosa / Quebo, 1969/71), católico praticante, luso-guineense, que chegou a presidente da república, interino (2003-2005), da Guiné-Bissau