Foto nº 19 > O último adeus a Bissau
Foto nº 20 > Já no Atlàntico, em mar alto... O Virgílio Teixeira, ao centro, nesta foto de grupo
Foto nº 12 > Um contratempo: uma lancha da Marinmha vem buscar um militar a bordo...
Foto nº 13 > Uma hora depois, o militar regressa, na mesma lancha da Marinha...
Foto nº 14, 14A e 14B > Partida do Uíge, vista de Bissau Velho
Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]
Agora e depois de ver todo o filme da nossa partida de Bissau, vou comentar algumas fotos e cenas (*)
Parte I - A nossa partida, Bissau, 4 ago69
Continuando, na saída de Bissau, já estamos dentro do navio e por volta das 12 horas, quando se preparava o apito de partida, aparece uma lancha da qual tirei foto (Foto nº 12). Vieram uns capangas e levaram um aferes miliciano para o QG!... Um alferes cujo nome oculto.
Passadas menos de uma hora lá vem a mesma lancha com o dito, que entrou no Uíge sem nada dizer. Está retratado noutra foto (Foto nº 13(.
Eu sei a história, mas peço desculpa de não a contar, são regras básicas. Esta cena era impensável de acontecer. Mas aconteceu. Um navio com 700 homens a bordo, esperou uma hora para que um militar fosse a terra resolver alguma coisa que estava mal resolvida...
Dentro do Uíge já presentia que algo iria acontecer, pois esse companheiro e já amigo do Porto do tempo de escola, passou a manhã toda virado para mim e perguntava: "E se nos vêm buscar? ".
Muitissimas vezes, até que lhe perguntava porquê, sem respostas. E insistia sempre no plural, eu disse que "a mim ninguém me vem buscar!",,,
Continuando a viagem.
![]() |
Foto nº 16 > O heli do Spínola, sobrevoando o T/T Uíge |
Tudo está retratado em fotos, que são a minha última despedida daquela terra.
Na primeira refeição a bordo, com o balouçar do navio, tive de correr, pois toda a comida foi borda fora.
A primeira e única vez, nunca mais me lembrei disso. Era o meu baptismo de cruzeiro.
Em relação às fotos impensáveis, "todos ao molho e fé em Deus" (**), o que vim a saber depois, e agora parece que tem lógica depois das observações pertinentes do Luí e Valdemar, vendo agora melhor e com alta resolução e aumento, percebe-se que o pessoal nas lanchas anda atrapalhado com as malas e afins.
O pessoal do meu Batalhão depois da entrega das instalações em S.Domingos ao novo Batalhão que foi render o nosso, foi para Cacheu onde estiveram uns dias. Na viagem na LDG foi chuva toda a noite, e por isso acho que andam a ver se ainda alguma coisa resta em estado normal.
Eu não vim nessa viagem, já estava em Bissau, e nessa noite em que as nossas tropas faziam as deslocações no Rio Cacheu, eu já estava bem instalado em camarotes individuais , jantar de luxo, bar aberto e música de piano, e o jogo para quem gostava.
Tomamos todas as refeições nos 7 dias (3 a 9 de agosto de 1969) na mesa do comissário de bordo, Eduardo António de Ayala Monteiro. Éramos 6 e ao meu lado tinha o major José Manuel Barros Adão que comandava a força expedicionária rumo a suas casas. Era o comandante do BCAÇ 1932.
Embarcaram no Sal e outro sítio de Cabo Verde , e depois em Bissau as seguintes personagens.
- 1ª classe 47 pax
- 2ª classe 105 pax
- 3ª classe 539 pax
- 1ª classe 47 pax
- 2ª classe 105 pax
- 3ª classe 539 pax
Total 691 militares e algumas famílias .
Ainda sobre algumas dúvidas, neste embarque veio do BCAÇ 1933 a CCS, a CC1790 e CCAÇ 1791. Quanto à CCAÇ 1792 nunca esteve juntamente com o seu comando. Foi para a Guiné um mês depois e veio um mês mais tarde.
Do BCAÇ 1932, vinha a CCS e algumas companhias que nunca soube quais eram.
Durante a viagem foi só apanhar sol (Fotos nº 19 e 20), à noite no terraço ver o mar e estrelas, enquanto que a maioria passava o tempo na jogatina, coisa que nunca pratiquei por não saber, nem me puxar.
Mas, ainda tinha um frete pela frente, nas 6 noites com o pessoal a bordo. Ao terceiro dia ou quarto, fui escalado para Oficial de dia no Uíge. Tanta malta para fazer esse serviço e porque me calhou a mim? Não foi fácil, pois além dos trabalhos normais, que todos conhecem, tinha de assistir às refeiçoes a bordo, pequeno almoço, almoço e jantar.
![]() |
Foto nº 21 > Um navio (petroleiro) rumo ao sul |
Ao almoço acontece o impensável. Um levantamento de rancho! Já tinha essa experiência quando nos Adidos em Brá acontece-me o mesmo, mas com o pessoal todo marado e eram centenas. Consegui resolver.Neste caso e apelando à compreensão dos militares, que isso só iria me prejudicar e eles nada ganhavam com essa greve. Muitos soldados e cabos da minha CCS, com quem tinha laços de amizade e convívio, nas jantaradas que se organizaram ao longo da comissão, as coisas acalmaram e já pude ir dormir descansado.
Só pensava se aquilo corresse para o torto,
teria de fazer relatórios e não sei que mais, e só me ia complicar a minha chegada e passagem à disponibiidade. Tudo acabou em bem, felizmente.
No quinto ou sexto dia, no alto mar esgotei a última foto dos rolos numa imagem de outro barco a navegar rumo a Sul. Para onde? (Foto nº 21).
Teria tanta foto para tirar se tivesse mais rolos mas esgotei com tudo, incluindo um a preto e branco, nem para a chegada tive a oportunidade de fazer uma fotos.
Fica para a próxima expedição.
![]() |
Foto nº 31 > T/T Uíge: 5 ago 69 > Jantar à mesa do comandante; o Virgílio, ao fundo, de óculos, do lado direito |
Parte II - O jantar de despedida do dia 8 de agosto de 1969(**)
Um jantar excecional com farda a rigor, a surpresa da noite foi a entrada de vários funcionários de mesa, com as bandejas e o Peru assado à Condestável, com velas e outrascoisas, dançavam enquanto desciam rumo às mesas. Não dá para esquecer. Nunca tinha andado de cruzeiros ou barcos desta dimensão, era o meu baptismo, imperdoável.
Com musica, a Sinfonia nº 9 de Gelinka e Schubert. (**)
Depois os copos no bar e para quem queria havia musica para dançar se houvesse companhia feminina, e havia algumas senhoras.
Na noite do dia 9 de agosto de 1969 foi jantar normal, e dia 10 às 8h da manhã já se via o Cais de Alcântara e Lisboa. (ou Rocha do Conde de Obidos?)
As cerimónias e tudo o resto que a grande maioria já sabe. Eu até gosto disto, militarista.
Eu tinha à espera a minha namorada (minha mulher ainda), minha irmã e marido que a acompanharam, ela afinal tinha apenas 21 anos.
O nosso Tesoureiro tinha a mulher e filho de 2 anos à espera, e combinamos os 4 almoçar a um Restaurante que visitei sempre que ia apanhar avião para a Guiné.
Em 19set67, quando o avião militar DC6 não levantou voo e fiquei numa pensão (na Ajuda ou Anjos, julgo eu, desaguava em Almirante Torres) apanhava o eléctrico e depois de manhã cedo peguei um Taxi para Figo Maduro).
Mais tarde, nas primeiras férias, quando regressei em inícios de julho de 68;
Depois e finalmente, no final das ultimas férias em abril de 69.
Voltaria mais tarde, quando iniciei as minhas viagens para a Guiné Bissau, 4 no total.
O Restaurante Escorial , na Rua das Portas de Santo Antão, mais duas lojas acima do famoso Gambrinus, onde num jantar do dia 10 de agosto 99, data da minha chegada em 69, encontrei o nosso "Marocas", Mário Soares e familia (mulher, filho e filha).
O Escorial era já nesse tempo um restaurante de Luxo, almoçamos em 10 de agosto 69 os quatro, e mais a criança de dois anos e tal, filho do Tesoureiro. Eu comi sempre Bacalhau
assado na brasa com os respectivos acompanhamentos, o vinho nessa altura devia ser Verde Branco , mas não de lembro e finalmente uma conta sempre de respeito.
De seguida fomos de táxi para Tomar, a tropa foi de comboio e chegamos ao mesmo tempo.
Feito o espólio, recebemos a massa, e uma guia de marcha com data da peluda para o dia quatro de setembro, dia em que passei oficiosamente à disponibiidade.
No dia 11 de agosto já andava à procura do meu carro, na época os Mini 1000. E ainda nesse mês já tinha ido ao chapeiro arranjar o carro com uma pequena batida.
A 11 de março de 1971, tinha a minha filha, a primeira, 7 dias e já tive o acidente que marcou o fim do MINI.
(Revisão / fixação de texto, seleção e reedição das fotos: LG)
______________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 8 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26363: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (31): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte V: o embarque, no T/T Uíge, de regresso a casa, em 4 de agosto de 1969 (continuação)
(*) Último poste da série > 8 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26363: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (31): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte V: o embarque, no T/T Uíge, de regresso a casa, em 4 de agosto de 1969 (continuação)
11 comentários:
Virgílio, uma dúvida: tiveram mesmo "escolta de honra" ? O heli do Spínola, um helicanhão e um T-6 ? Ou foi uma coincidência ?
Acho que não era "normal"... Eu, pelo menos, não me lembro de nada disso...
Virgílio, a propósito das fotos nºs 12 e 13... Largas a lebre mas não soltas os cães... Mas tudo indica que se trata de um "segredo de Polichinelo"... Toda a gente ficou a saber, no T/T Uíge, por que é houve um "inadmissível" atraso na partida...
Afinal, o que é o teu amigo foi fazer ao QG ? Esqueceu-se da "chave" de um algum cofre ?...
Não precisas (nem deves) identificá-lo, mas estamos todos com natural(e até legítima) curiosidade em saber a razão por que o foram buscar ao navio e devolvê-lo uma hora depois... Ou vais levar o resto da história para a cova ?... Temos uma série no nosso blogue, para estas coisas: "O segredo de...". No fundo, é o nosso confessionário...
Bolas, a guerra já acabou há mais de meio século!... E todos os "crimes" já prescreveram.. (Nem é o caso. seguramente: se o teu amigo tivesse cometido alguma infração grave, nem sequer o tinham deixado partir...)
(....) na saída de Bissau, já estamos dentro do navio e por volta das 12 horas, quando se preparava o apito de partida, aparece uma lancha da qual tirei foto (Foto nº 12). Vieram uns capangas e levaram um alferes miliciano para o QG!... Um alferes cujo nome oculto.
Passadas menos de uma hora lá vem a mesma lancha com o dito, que entrou no Uíge sem nada dizer. Está retratado noutra foto (Foto nº 13).
Eu sei a história, mas peço desculpa de não a contar, são regras básicas. Esta cena era impensável de acontecer. Mas aconteceu. Um navio com 700 homens a bordo, esperou uma hora para que um militar fosse a terra resolver alguma coisa que estava mal resolvida...
Dentro do Uíge já presentia que algo iria acontecer, pois esse companheiro e já amigo do Porto do tempo de escola, passou a manhã toda virado para mim e perguntava: "E se nos vêm buscar? ".
Muitissimas vezes, até que lhe perguntava porquê, sem respostas. E insistia sempre no plural, eu disse que "a mim ninguém me vem buscar!" (...)
De lamentar a falta de dois comentadores,ambos veteranos neste blogue.
O Alberto Branquinho quando refere "monólogos com o meu umbigo" ou, o José Belo ,na sua experiëncia de cinauenta anos de vida no estrangeiro,que sempre sabe referir o: Me,Myself and I.
Jorge Santos
Grande Jorge (literalmente quanto ao físico!)bom vizinho na Escandinávia gelada.
De facto o ***Me/Myself/and I*** é expressão favorita.
Um abraço para ti e família com um atrasado…Gott Nytt År!
J.Belo
Bom ano novo!
Svenska
Bom Ano Novo!
Svenska
Ainda sei muito coisa em Sueco
VT.
Não sei de é coincidência. O Heli e T6, estão aí. E passou várias vezes â volta do Uige.
Deve ter sido por causa deste episodio rocambolesco.
Não se atrasa um navio destes com 700 pessoas a bordo, por uma ninharia.
VT.
Sobre esta cena lamentável, não me apercebi que alguém falasse dele durante a viagem.
Claro que muita gente viu, os que estavam em cima.
Eu sei porque já adivinhava isso, quando ela nos dias antecedentes, perguntava sempre com ar de medo, "" E se não nos dão a guia de Marcha?"
Mil vezes depois quando foi carimbada e assinada continua a perguntar ? E se não nos deixam embarcar?
Depois já lá dentro começa a lenga lenga: ?E se nos vêm buscar?
Já expliquei por email ao Luis que não posso adiantar mais e tem a ver com sitiuações que ficaram penduradas com um Comandante de Companhia e Miliciano.
VT.
Até que vieram mesmo, mas a ele.
ao
Talvez um dia eu venha a contar tudo, aqui, mais em pormenor, nunca identificando quem é, porque continua a ser agora meu amigo.
vT.
Camarada Jorge Santos
Ao contrário do que escreveste, a minha série NUNCA se chamou "monólogos com o meu umbigo", mas (e com sentido ABSOLUTAMENTE CONTRÁRIO) foi chamada e o conteúdo dos textos assim o mostrou: "Não venho falar de mim... nem do meu umbigo" !!!
Como está aqui (no blogue) arquivada, podes ir verificar.
Cuidado coma as precipitações porque, além do mais, geram injustiças.
Alberto Branquinho
A curiosidade é demais. Vou sintetizar o que ele nos contou, 50 anos depois, num dos almoços que fizemos uns quantos ex-companheiros da Guiné e amigos e colegas das escolas no Porto, uma amizade já antiga.
Era uma questão de dinheiros. Ele tinha resolvido mal alguma coisa na companhia. O capitão miliciano, veio apanhá-lo na hora da despedida. Em terra fez uma declaração de divida (não sei de quê ) no valor de 60 contos, que pagou cá em notas. Acho que foi burro.
Ficou sem dinheiro para o casamento.
Ele hoje diz que não pagaria essa verba aqui em Portugal.
Não sei mais contornos, porque não contou mais nada.
Tinha deixado para trás alguma coisa mal resolvida.
Por isso se preocupava se o vinham buscar, e porque não queria falar no singular, optou por falar de dois (nós).
Agora cada um faz o filme que entender, porque eu não sei mais nada, sei apenas quem é a vitima.
VT.
Enviar um comentário