terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26357: Humor de caserna (92): "Então a senhora não me conhece ?!...Foi-me buscar a Bambadinca quando eu fui ferido!"... (Maria Arminda Santos, ex-ten grad enfermeira paraquedista, FAP, 1961/70)

Guiné, Bissalanca, BA12, s/d   > Da esquerda para a direita, (i) a Maria Arminda; (ii) a Maria Zulmira André (falecida em 2010); e (iii) a Júlia Almeida (falecida em 2017). 

 Foto de cronologia do Facebook da Maria Arminda Santos. (Editada e reproduzida aqui com a devida vénia...) (LG)



 
A Maria Arminda Santos (n. 1937, ex-tenente graduada enfermeira paraquedista, 1961-1970, hoje ref) pertenceu ao grupo das Seis Marias, nome pelo qual ficou c
onhecido o 1.º curso de Enfermeiras Paraquedistas portuguesas feito em 1961. Nossa grã-tabanqueira nº 500 (desde 23 de maio de 2011), co,m mais de 6 dezenas de referências no blogue, é agora a decana ou a matriarca das antigas enfermeiras paraquedistas: tem uma "memória de elefante" e é uma excelente contadora de histórias.

Nasceu e vive hoje em Setúbal. Os pais eram oriundos do concelho de Mafra. O pai foi combatente da I Grande Guerra. E algumas histórias que ouviu dele,   terão influenciado a sua decisão de ser enfermeira e depois paraquedista.

Passou por todos os TO, e nomeadamente Guiné (1962 / jan 63) e depois  1965/67, e 1969 (vários períodos no CTIG, onterrompidos, por outras missões), até passar à disponibilidade em finais de 1970.





Fonte: Excertos de Maria Arminda - "Manifestaçóes de reconhecimento."  In: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág. 370 (com a devida vénia) (Imagem acima: Capa do livro)

Coautoras (das 30 da lista, com a Rosa Serra, editora literária, 18 são Marias...):

Maria Arminda Pereira (Santos por casamento) | Maria Zulmira André   | Maria da Nazaré Andrade (†) | Maria do Céu Policarpo | Maria Ivone Reis (†) | Maria de Lourdes Rodrigues | Maria Celeste Guerra | Eugénia Espírito Santo | Ercília Silva | Maria do Céu Pedro (†) | Maria Bernardo Teixeira | Júlia Almeida 
(†)  | Maria Emília Rebocho | Maria Rosa Exposto | Maria do Céu Chaves | Maria de Lourdes Cobra | Maria de La Salette Silva | Maria Cristina Silva | Mariana Gomes | Dulce Murteira | Aura Teles | Ana Maria Bermudes | Ana Gertrudes Ramalho | Maria de Lurdes Gomes | Octávia Santos | Maria Natércia Pais | Giselda Antunes (Pessoa, por casamenti) | Maria Natália Santos | Francis Matias | Maria de Lurdes Costa.

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Então a senhora não me conhece ?!...

por Maria Arminda Santos




(...) A vida dá tantas voltas! E, assim sendo, em 1974, resolvi mudar de casa e fui morar para uma zona desconhecida.

Ninguém sabia quem eu era e o que fazia ou tinha feito. 

Passados poucos dias abordou-me um vizinho, um homem da rua, como é hábito dizer-se na minha terra, que me perguntou se eu não o conhecia.

Não tinha a mínima ideia de já alguma vez o ter visto, pelo que respondi negativamente. Então, com um largo sorriso. disse-me:

–  Pois eu lembro-me muito bem de si, foi-me buscar a Bambadinca. quando fui ferido!

Não queria acreditar, mas era verdade!

Passado pouco tempo, os habitantes da rua ficaram a saber...

Foi numa época menos boa e de certa conflitualidade, após o 25 de Abril, e o modo como a população encarava os militares que tinham estado em Africa não era muito favorável.

Esse facto nunca me intimidou e, sempre que fosse oportuno, eu afirmava que tinha andado na guerra do Ultramar como enfermeira. (...)

(Seleção, revisão / fixação de texto, título. negritos, itálicos: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26348: Humor de caserna (91): O anedotário da Spinolândia (XIV): "Vão-se todos vestir com a roupa que tinham quando viram o helicóptero!"... (Mário Gaspar, ex-fur mil art, MA, CART 1659, Gandembel e Ganturé, 1967/69)

4 comentários:

Anónimo disse...

É um caso quase como quando nos cruzamos com algum individuo que vemos muitas vezes na tv. Dá a sensação de nos conhecermos mutuamente. A Maria Arminda tem muita gente que a conhece a auem ela valeu que se lembram dela ela é que não se pode lembrar de todos. Um abraço
Juvenal Amado

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Achei piada à pergunta do ex-combatente: "Atão, a senhora não me conhece ?"...Como se um ferido de guerra, com direito a helievacuação, não passasse a ser famoso!...Sem ofensa para ninguém, já vi alguns mostrar, com humor e galhardia, as "cruzes de guerra" que ficaram cravadas no corpo...

Mas estas histórias passam-se com todos nós...Com 40 anos de ensino, tenho alunos que me reconhecem, e eu faço um esforço do caraças para me lembrar deles, que foram centenas e centenas...E hoje alguns é que são famosas, por serem figuras públicas, e não eu...

Obrigado, Arminda, gosto do teu sentido de humor, sempre discreto e saudável... Tem um mérito: não ofende ninguém...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A Arminda que é uma mulher sábia e experiente, com 9 anos de guerra (1961/70), toca aqui também num ponto delicado e sensível, e que, como tal, tende a ser esquecido nos nossos escritos: os "mal amados" do dia 26 de Abril... Foram, afinal, todos os antigos combatentes...

No dia 26 começaram a ser, não direi hostilizados, mas "mal amados"... Todos eles, incluindo as enfermeiras paraquedistas... Todos deixámos de falar da "guerra do ultramar" (que passou a ser "guerra colonial")... Todos nos esquecemos, que tínhamos participado nessa guerra, uma geração inteira !... (Má consciência, culpa, pudor, vergonha ?!... enfim, um filme que já tínmhamos visto noutras "salas de cinema"!),

E algumas enfermeiras paraquedistas deverão ter tido os seus problemas por estes dias de 74/75...A Maria Ivone, por exemplo, foi "saneada" pelos seus "camaradas" da Força Aérea e só foi reintegrada, felizmente, no tempo do Ramalho Eanes... Mas a mágoa ficou...

Anónimo disse...

Pois é.
Também já vi este filme, não numa sala de cinema, mas em qualquer sitio onde falava disso.
Comecei logo com os Suecos, para onde fui trabalhar logo que regressei,
Apesar de o Dono Mr. Sven Arvid Nilson, na sua fábrica em Eskilstuna, já saber disso pelos testes psicotécnicos que tive de fazer, os seus mandatários em Portugal, e depois os muitos técnicos que vinham ensinar a produção das limas, não aceitaram bem este tipo que andou pela Guiné a fazer mal àquele povo, faminto, pobre, escravos, etc. etc.
Logo vim a saber que foram os Suecos que financiaram grande parte da guerra de guerrilha na Guiné, e então começou o filme, que durou 13 longos anos.
VT.