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sexta-feira, 18 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27028: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (5): Consagração de um grande homem e combatente, o João Gualberto Amaral Leite (1944-2011)




Da esquerda para a direita, Fernando Almeida, Narciso Durão, João Leite e Anselmo Adrião, ex-furrieis da CCaç. 2314. Foto: cortesia de Blogue BART 1914 > 9 de fevereiro de 2011 (Legendagem: Joaquim Caldeira)


Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCACÇ 2314, "Brutos", TIte e Fulacunda, 19689/609; nosso grão-tabanqueiro nº 905; 
vive em Coimbra; autor do livro, "Guiné - Memórias da Guerra Colonial", publicado pela Amazona espanhola (2021)


Fotos (e legendas: © Joaquim Caldeira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Consagração de um grande homem e combatente: o João Gualberto Amaral Leite
 
por Joaquim Caldeira (*)


Estávamos nos finais de 1967 e, à entrada  do quartel de Tomar, cruzei-me com o João que trazia um braço ao peito e vinha abatido. Mal nos conhecíamos e não nos víamos desde os tempos da recruta, muitos meses antes. Nem sabia o seu nome tal como ele não saberia o meu. Satisfez a minha curiosidade dizendo que se chamava João Leite e que tinha tido um acidente…

Despedimo-nos nesse dia e só voltámos a rever-nos no seguinte, na caserna que nos foi destinada. Ficámos a saber que o nosso destino era comum. Íamos formar companhia para depois seguirmos para o ultramar, mas nem sabíamos ainda para onde.

Não sabíamos que os dois anos seguintes iriam ser muito cheios de emoções fortes, perigos, mas também de solidariedade só possível de construir nos momentos mais difíceis e de grande perigo.

E vim a conhecer melhor o Leite e toda a equipa com quem fizemos grandes amizades.

Passarei a designá-lo por Leite, pois era o nome que usávamos por lá e mais tarde, já no fim da guerra, quando nos encontrávamos por ocasião dos convívios.

Afinal, era um homem diferente do que conheci à entrada do quartel, em Tomar. Era folgazão, brincalhão, sempre de boa disposição e muito bem humorado.

Cedo demos conta de que se tratava de homem determinado, sabia o que queria, como queria e quando queria.

Quis o destino que tivéssemos de viver o desastre de Bissássema onde ele, mesmo na linha da frente por onde o IN pretendia repetir o assalto, tal como fizera uns dias antes e se apoderara de armamento, equipamento e prisioneiros, soube infligir a maior derrota sofrida pelo IN durante toda a guerra que travou com o Exército português. Esta batalha nem consta da história de guerra do PAIGC.

Outros desastres aconteceram nas nossas vidas e, em todos, o Leite teve participação com vantagens para o nosso lado.

Desgostoso com o conformismo que reinava na companhia, decidiu formar o seu próprio grupo indo buscar os melhores de entre os melhores. E assim nasceu o grupo “Os Brutos ”. E fizeram história deixando um rasto de medo nos grupos do IN.

Estavam sempre na linha da frente. Tive o privilégio de os comandar nas ausências do Leite. Eram o escol da companhia. E ajudaram o seu comandante, o Leite, na conquista de uma condecoração justa e merecida, só atribuída aos bons. Uma “Cruz de Guerra” (**).

Mas nem sempre foi fácil a vida do grupo. Tiveram as suas horas más. Entre outras, talvez a pior, o acidente do Viriato Lopes.

E assim se passaram dois anos de uma convivência fraterna, só possível em teatros de guerra. Fizemos amizades para a vida. Ficaram as saudades dos amigos e de algumas, muitas vivências.

Só voltei a ver o Leite passados alguns anos, por ocasião dos convívios a que ele não queria faltar, mesmo vindo de tão longe.

Por fim, soube da sua doença. Fui dar-lhe o meu abraço numa das suas vindas a Lisboa para tratamentos. A doença venceu o homem. Mas não venceu o marido, o pai, o profissional bem realizado, o amigo e o camarada de quem todos sentimos saudades.

O Leite ainda vive em nós. Até sempre, companheiro.


(Revisão / fixação de texto: LG)


PS - O João Gualberto Amaral Leite nasceu em São Miguel, Açores, em 13/07/1944, e faleceu em 16/02/2011. Era bancário.

______________

Notas do editor:


(*) Último poste da série > 10 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27001: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (4): A carta de condução, tirada na Escola de Condução Angélica da Conceição Racha


(**) Furriel Miliciano de Infantaria JOÃO GUALBERTO AMARAL LEITE, CCaç 2314/BCaç 2834 - RI 15, GUINÉ - Cruz de Guerra, 4." CLASSE



Cruz de Guerra de 4ª Classe. Imagem:
cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos da
Guerra do Ultramar


Transcrição da Portaria publicada na OE nº 15 - 3ª série, de 1970.

Por Portaria de 15 de Abril de 1970:

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 4ª classe, ao abrigo dos artigos 9.° e 10.° do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o
Furriel Miliciano de Infantaria, João Gualberto Amaral Leite, da Companhia de Caçadores 2314/Batalhão de Caçadores nº 2834 - Regimento de Infantaria nº 15.

Transcrição do louvor que originou a condecoração.
(Por Portaria da mesma data, publicada naquela OE):

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, louvar o Furriel Miliciano de Infantaria, João Gualberto Amaral Leite, da Companhia de Caçadores nº 2314, do Batalhão de Caçadores nº 2834 - Regimento de Infantaria n.º 15, pelo modo brilhante e abnegado como se desempenhou de todas as missões de que foi incumbido durante a sua comissão de serviço na Província da Guiné.

Criando um Grupo de Combate tipo Comandos, "Os Brutos", soube logo de início imprimir-lhe notável eficiência para o combate, incutindo nos seus homens o espírito aguerrido e audaz de que ele próprio é' possuidor.

Realizando dezenas de emboscadas, participou em numerosas acções, onde a actuação do seu Grupo de Combate foi bastante influente nos resultados obtidos.

Num ataque sofrido por um dos nossos aquartelamentos, em 24 de Dezembro de 1968, apesar do intenso fogo, deslocou-se para um dos abrigos periféricos mais próximos das posições inimigas, onde dirigiu eficientemente o fogo do pessoal que o guarnecia, tendo ele próprio efectuado o lançamento de dilagramas, de posições a descoberto.

Já antes, em 09 de Fevereiro de 1968, numa acção semelhante, manteve a sua posição num abrigo que guarnecia, apesar de na altura dispor de poucas munições, contribuindo para o aniquilamento de quinze elementos inimigos e para a captura de diverso armamento e outro material.

Numa operação em 26/29 de Maio de 1969, soube conduzir o pessoal do seu Grupo de forma assinalável, no assalto a um acampamento inimigo, debaixo de intenso fogo e na perseguição imediata ao inimigo, até este dispersar.

Militar dotado de elevadas virtudes militares e invulgar capacidade para o comando do seu Grupo, tendo resultado dos seus serviços honra e lustre para a Pátria e para o Exército a que pertence, merece o Furriel Leite que aqueles sejam considerados extraordinários e importantes.

 
 Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo VI: Cruz de Guerra (1970-1971). Lisboa, 1994, pág. 202/203.

sábado, 12 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27009: In memoriam (556): Texto de homenagem, de Santos Narciso, a José Henrique Álamo Oliveira (1945-2025), escritor, romancista, poeta, autor e ensaiador de teatro (José Câmara, ex-Fur Mil Inf)

1. Mensagem do nosso amigo e camarada de armas, José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 11 de Julho de 2025, ainda a propósito do falecimento de Álamo Oliveira:

Faleceu no dia 5 de Julho o escritor, romancista, poeta, autor e ensaiador de teatro José Henrique Álamo Oliveira, natural do Raminho, Angra do Heroísmo. Tinha 80 anos de idade. O Álamo Oliveira fez a sua comissão de serviço militar na então Província Ultramarina da Guiné, se bem julgo saber no período 1969/1971.

Durante parte da sua comissão o Álamo Oliveira esteve de serviço na Rádio em Bissau, cujas transmissões chegavam aos quatro cantos da Guiné e que eram dos melhores passatempos para os militares que então serviram na Guiné.

Numa nota pessoal tive o prazer de conviver com o Álamo Oliveira durante alguns dias, quando ele em representação da Diretora das Comunidades do Governo Regional dos Açores, se deslocou aos EUA para a homenagem que então foi feita ao imigrante Alfred Luís, também este um escritor de renome. Jamais esquecerei a sua afabilidade e compreensão para comigo nessa referia homenagem.

As minhas condolências.
Descansa em Paz companheiro e amigo.

Álamo Oliveira (com a devida vénia ao autor da foto)

Devidamente autorizado pelo Sr. Santos Narciso, ex-Alferes Miliciano na Guiné, a quem agradeço, publico esta tocante homenagem ao Álamo Oliveira, que comungo.

Morreu Álamo Oliveira. 80 anos. Raminho de seu nascimento sempre no coração, verdadeira alma terceirense e espírito açoriano e universal. Homem da Palavra escrita nas suas múltiplas vertentes, do teatro à poesia, do conto ao romance, da crónica ao ensaio. Tristes pela sua partida, não ficamos mais pobres, pois a herança cultural e literária que nos deixa, é de uma riqueza que atravessará os tempos.

José Henrique Álamo Oliveira, que conheci nos tempos em que estudamos no Seminário de Angra, ele mais velho três anos, foi um arauto incansável da divulgação da cultura na sua terra, e a sua obra, os seus projectos e os seus sucessos falam por si.

Hoje é apenas dia de fazer silêncio respeitoso e de pensar que cada página que escreveu é como um mar desbravado: a palavra corre, contorna, salta em comparações inesperadas como cascatas, detém-se na adjectivação imprevista, ora doce, ora agressiva, incisiva e inquietante e espraia-se no à-vontade de quem da mesma farinha consegue fazer o pão mais saboroso e cobiçado ou o bolo mais amargo e difícil de digerir.

Agora, na outra dimensão da vida, ele verá certamente como “A Catedral estava linda”; encontrar-se-á com o “Sábio da Miragaia” ou desvendará segredos da “Marta, A Verdadeira”, ouvindo ainda “Murmúrios com Vinho de Missa”.

Neste abraço para o tempo sem limites, que este meu Amigo descanse em paz. E para sua família, sentidos pêsames.

_____________

Nota do editor

Vd. post de 8 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26995: In memoriam (555): José Henrique Álamo Oliveira (1945-2025), poeta açoriamo e nosso camarada da Guiné (Mário Beja Santos)

terça-feira, 8 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26995: In memoriam (555): José Henrique Álamo Oliveira (1945-2025), poeta açoriamo e nosso camarada da Guiné (Mário Beja Santos)

I N  M E M O R I A M

José Henrique Álamo Oliveira
Raminho, 2 de maio de 1945 - Angra do Heroísmo, 5 de julho de 2025

********************

Lembrar um originalíssimo autor da literatura da Guerra Colonial da Guiné

Mário Beja Santos

Em 2009, uma hecatombe devastou-me a vida, perdi uma filha com 32 anos. Agarrei-me à escrita com unhas e dentes, procurei pôr em prática um projeto altamente trabalhoso, durante praticamente dois anos procurei identificar o que se tinha escrito sobre a guerra na Guiné, repertoriei largas dezenas de autores, o mais difícil eram as edições de autor que escapavam às bibliotecas e livrarias. 

O projeto foi dado como concluído no fim do outono de 2011, o meu livro "Adeus, até ao meu regresso" (a literatura dos e sobre os combatentes da guerra da Guiné) foi dada a estampa no início de 2012 pela Âncora Editora. Encontrei três autores açorianos de grande valor: José Martins Garcia, Cristóvão de Aguiar e Álamo Oliveira.

Chocado com a morte deste último, um artista polivalente (romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, diretor teatral, pintor), curvo-me aqui respeitosamente em sua memória e lembro o seu romance "Até Hoje (Memória de Cão)" publicado pela Ulmeiro em 1986, porventura a sua única incursão novelística pela Guiné.

Livro de uma enorme coragem, capaz de se despir no seu íntimo, um texto de um sofrimento incontido, mas entrosado no lirismo, do princípio ao fim. Talvez autobiográfico, estamos no cais da Rocha do Conde de Óbidos, e aquele João açoriano só pensa nas suas origens e suas gentes:
“Vinha do lado Norte mais alto e ventoso, os campos rasos e verdes, casas a brilhar de cal, pequenas, baixas, conchas perdidas na ilha perdida. Passar a infância embrulhado no cheiro saboroso que o suor empresta às pessoas ao tempo, às coisas. Eram perfumes silvestres – muita bonina, conteiras, saias do norte, quase bedum de esperma, queijo.”

Nos fundos do porão do Uíge escreve os seus primeiros aerogramas, João vem em rendição individual, um dia é enviado para Binta, é nomeado padeiro. Que o leitor se aperceba que a coragem do autor é escrever algo que parecia impensável, um romance de guerra nimbado pelo amor homossexual. Primeiro, o encontro com alguém que se tornará inesquecível luminescência pela vida fora:

“O rapaz está agora à sua frente, grande como ele, tronco a brilhar de óleo suado, a pele lisa como cetim, os calções curtíssimos a realçar o corpo rijo. Tem o rosto oval, assim como, modigliano, boca desenhada a rigor, lábios fortes e molhados, caídos à vontade. São os olhos castanhos que se fixam em João, protegidos por duas grandes pestanas. Chamo-me Fernando.”

É assim que nasce uma cumplicidade que irá desembocar num desencontro trágico. Álamo Oliveira não esquecerá a guerra e as circunstâncias do quotidiano da mesma, com minas e emboscadas, álcool e solidão, e nunca li uma chegada do correio como a que ele escreveu:

“Estão como cabras espantadas, prisioneiros ridículos, inocentes, amantes de cordel, aos saltos, gritinhos tarzânicos. Doentes de alegria explosiva, rapazes com o coração a viajar para o princípio do ser, primitivos os sentidos expostos. Fixam-se no meio da parada, a mão à testa para tapar o sol, a avioneta de voo raso, dois sacos de correio que se despenham e se amparam nos mil dedos que os agarram… As notícias vinham ali ensacadas, cadeadas, atrasadas quase quatro semanas. Vinham alegrias do tempo contado, saudades moídas pela azenha da distância, tristezas em rebanho… Os olhos estão fixos nas mãos do cabo-escriturário que agora é todo o quartel de Binta e só aquele tamanho, a mão emocionada metendo a chave no cadeado do saco com a mesma untuosa memória da desfloração.”

E chegará o dia em que uma lancha de desembarque médio irá buscar toda a tropa a Binta, o regresso é no mesmo Uige. João e Fernando vão ver Música no Coração no Tivoli e depois vão dormir numa pensão no Rossio:

“No quarto número treze o amor ficara do tamanho da cidade e coubera inteiro numa pequena cama de ferro, pintada de esmalte branco. Não há sinais de proibição, códigos de viagem, espartilhos no coração. Os seus olhos brilham e dormem.”

João vai regressar à ilha, Fernando promete escrever, só que as suas cartas nunca obterão resposta. Tudo está diferente quando chega ao seu destino, porque ele é quem está diferente. “Poucos meses depois, sem grandes pré-avisos, João despediu-se da família e… emigrou. Até hoje.”

Romance de um invulgar diapasão lírico, com todo o desassombro em que a homossexualidade é narrada desafetadamente, mas com afeto faiscante. Álamo Oliveira recebeu com este romance um dos prémios da sua carreira. Foi também poeta. Dois anos antes de "Até Hoje (Memória de Cão)", ele publicara uma compilação de vários livros de poesia com o título "Triste Vida Leva a Garça".

Recordo do seu primeiro livro intitulado "Áfrika-mim e Outras Raízes" versejará:

“Dos companheiros de armas, / Guardo o rosto e afeição. / Soldados com espingardas / Murchas e presas à mão / Para puxar o gatilho / No momento de matar. / Antes, sachavam o milho, / Agora, são de odiar.”

E mais adiante:

“Mãe-negra-África-mim, / Meu postal desilustrado, / Tempo de angústias e capim / Ao meu ombro pendurado. / Quem bem faço por esquecer / Armas, mosquitos, viagem. / África ferrou-me o ser, / Trouxe-a feita tatuagem. / Se da guerra me livrei, / Do seu povo é que não / Ritos de fanado e morte, / Rios mansos que o sol coa, / Luar branco, trovão-corte, / Negro vogando em canoa. / E ainda, em saco da tropa, / Carregado em bandoleira, / Trouxe do feitiço a copa, / Da beleza da palmeira. / Guiné! Guiné! Voz de gente / Doce do coco e baunilha! / Bem te sinto, no meu ventre, / A pulsar no som da ilha.”

Uma toada poética como espinha de saudade, uma irmã-escrava lá nas terras do poeta feitas de enxofre e lava, conteiras e o mar à volta.

Perdemos José Martins Garcia, Cristóvão de Aguiar e agora Álamo Oliveira, os três legaram-nos literatura fulgente sobre a Guiné. Muitíssimo obrigado aos três, pelo que fizeram neste legado de literatura luso-guineense.
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Nota do editor

Último post da série de 6 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26990: In memoriam (554): Apolinário Pereira Teixeira (1950-2025): natural de Fermentões, Guimarães, antigo autarca, ex-fur mil, 2ª CART / BART 6520, "Os Mais de Nova Sintar" (1972/74) (Carlos Barros)

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26836: Tabanca da Diáspora Lusófona (34): João Crisóstomo reconhecido, pela "Tribuna Portuguesa / Portuguese Tribune", da Califórnia, como "Personalidade do Ano 2024"... Outras nomeações: a Sousa Mendes Foundation foi a "Associação do Ano 2024" , e a inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, em Carregal do Sal, o "Evento Cultural do Ano 2024".




Recortes de imprensa >  "Tribuna Portuguesa",  de 15 janeiro de 2025 > Editorial, por Miguel V. Ávila, pág, 2. (Reproduzido com a devida vénia...)


1. Pelo muito que fez (e continua a fazer) pela causa da reabilitação da memória de Aristides Sousa Mendes e a consagração do "Dia da Consciência" mas também pelo aumento da visibilidade, mediática, social e cultural,  da comunidade luso-americana, o nosso amigo e camarada, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, a viver em Nova Iorque, foi considerado  "Personalidade do Ano de 2024" pelo prestigiado jornal, bilingue, "Tribuna Portuguesa" / "Portuguese Tribune", que se publica na Califórnia, desde 1979.(Quinzenal, independente, é o único jornal  que se publica hoje, em português, na costa oeste dos EUA; foi fundado em setembro de 1979 pelo açoriano João P. Brum. )

(...) "Em 2004, este jornal iniciou o reconhecimento anual dos “Melhores do Ano”. Depois dos primeiros anos serem uma simples lista com poucas categorias que ocupavam apenas uma página, a atual lista já ocupa agora cinco páginas desta edição. Como um jornal comunitário, tentamos o nosso melhor para dar a conhecer os eventos comunitários, novas caras e talentos, para assim – juntos – valorizarmos a nossa 'prata da casa' ".

No editorial da edição de 15 de janeiro de 2025, Miguel V. Ávila destaca três personalidades do ano de 2024, um dos quais o nosso João Crisóstomo (vd. recorte acima). A iniciativa tem já 2 décadas.

(...) Não posso deixar de realçar as três “Personalidades do Ano”:

Tony Goulart, o reconhecido líder comunitário, continua a deixar um legado da “experiência luso-americana” por terras da Califórnia. Logo depois de escrever e publicar um importante livro sobre as filarmónicas portuguesas e os 125 anos da sua presença na Califórnia, coordenou a publicação do livro que faltava – Nossa Senhora da Assunção da autoria de Maria Cunha Carty. 

Lembro-me que nos anos 1990s, as comunidades portuguesas da Califórnia viviam sob as sombras das comunidades da Costa Leste; havia a sensação que seríamos inferiores e que a distância nos faria quase invisíveis para com o nosso país de origem. 

A liderança de Tony Goulart e de outros líderes comunitários muito mudaram essa perspetiva e agora as nossas comunidades luso-californianas são reconhecidas como exemplos na Diáspora portuguesa.

Ana Vargas-Smith tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento do auto-estima da cidade de Santa Clara. Reconheceu que uma antiga tradição de 50 anos – o Desfile dos Campeões – tinha cessado durante 24 anos e que havia uma lacuna nos habitantes daquela cidade e que a antiga baixa da cidade merecia ser revitalizada. Colocou mãos à obra, criou uma associação sem fins lucrativos e lá reiniciou essa tradição que tinha sido criada por um luso-americano – Ed Cunha – para reconhecer os combatentes da Segunda Guerra Mundial quando regressaram à sua cidade em 1945.

Ana coordena as angariações de fundos e o desfile que agora conta também com um festival de rua. E a Ana tem a certeza que a comunidade portuguesa e associações portuguesas de Santa Clara desfilam... porque não podemos ser uma comunidade invisivel na sociedade americana." (...)

2. Já na edição de 1 de agosto de 2024, fora dado grande destaque à inauguração do Museu Aristides Sousa Mendes, sendo depois considerado, na edição de 15 de janeiro de 2025, como o "acontecimento cultural do ano", enquanto a Sousa Mendes Foundation  foi a "Associação do Ano 2024" .

Reproduz-se a seguir o belíssimo editorial do Miguel Ávila sobre "o museu que faltava para que a memória não falhe", a propósito da inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, na sua terra natal, Cabanas de Viriatos, Carregal do Sal, no passado dia 19 de julho de 2024. 

O evento foi na altura também noticiado por nós (*). E na ocasião o nosso amigo e camarada João Crisóstomo leu uma mensagem expressamente escrita pelo Papa Francisco associando-se à homenagem ao Cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes (1885-1954), que coincidia também com o seu 139º aniversário natalício.




João Crisóstomo lendo uma mensagem do Papa Francisco


O Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa


Família de Sousa Mendes e famílias de refugiados que beneficiaram dos vistas passados pelo Cônsul de Bordéus


Recortes de imprensa > Tribuna Portuguesa, 1 de agosto de 2024 > Editorial, por Miguel V. Ávila, pág, 2. Fotos: pág. 19 (Conteúdos reproduzidos com a devida vénia..)


3. Excerto de mensagem do João Crisóstomo, com data de sábado, 12/04/2025, 08:33, dirigida aos filhos, Cristina e John, e com conhecimento ao nosso editor LG e a um amigo comum. o Rui Chamusco, também ele membro da nossa Tabanca Grande:


(...) Recebi , enviada por e- mail, uma mensagem dum bom amigo e proeminente português na Califórnia, Miguel Ávila, que entre outros lugares de destaque ocupa o de editor do prestigioso jornal bilingue “Portuguese Tribune”/ “Tribuna Portuguesa” e é também membro da "Sousa Mendes US Foundation”, e vice-Presidente do “ Comité Dia da Consciência”.

E porque vocês são meus filhos (e aos outros dois se fossem meus irmãos eu não lhes poderia querer mais ou melhor, sem intuitos de ridículas presunções), partilho o que me enviou que não podia ser mais gratificante:

Primeiro um artigo que escrevi e enviei em novembro passado sobre o problema das armas nucleares. Pensei que não o tinham considerado relevante para ser incluído no jornal, mas afinal não só foi publicado como verifico que dele fizeram "artigo de opinião” (*)

E o segundo a "reportagem da inauguração do museu que deu origem às nomeações para Melhores do Ano 2024.” 

Em ambos os casos a minha colaboração e contributo não foram insignificantes pois que me valeram a distinção de "Homem do ano 2024." (...)

 4. A Tabanca Grande associa-se, com regozijo, ao reconhecimento público feito pela "Tribuna Portuguesa" ao nosso amigo e camarada, "régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona"  (**) que, depois de amanhã,  dia 25, vai estar no Convento de Varatojo, Torres Vedras, a partir das 10h00, num convívio com a família, os Crispins e os Crisóstomos, bem como com os amigos e camaradas da Guiné.  Convívio para o qual estamos todos convidados: é só aparecer: A missa é às 10h30, a que se seguirá um convívio no claustro do convento do séc. XV. O padre Vitor Melícias estará presente.

Quinta feira, dia 29, o João estará também no 61º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, a partir das 12h30, em Algés, no restaurante Caravela de Ouro.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26778: Diálogos com a IA (Inteligência Artificial) (2): camarada Arsénio Chaves Puim, o que o "Big Brother" sabe sobre ti!... Nada, entretanto, que gente não soubesse já... Afinal, a tua vida é um livro aberto (Luís Graça, Abílio Machado e Gemini IA/Google)



 



Arsénio Puim(n. 8 de maio de 1936):  ilhéu, açoriano, sacerdote católico, capelão militar, cidadão do mundo, autarca, enfermeiro, jornalista, escritor, pai, avô, amigo


1. O nosso "padre-capilom", como lhe chamavam as lavadeiras de Bambadinca, em 1970/71, faz hoje anos: 89 e,  para o ano, 90, se Deus quiser... (*)

Ele tem, por mérito próprio, uma auréola de santo e sobretudo a fama e o proveito de grande ser humano. Em dia de Santo Arsénio Puim, os seus antigos camaradas da Guiné e os muitos amigos que foi fazendo ao longo da vida (alguns, membros da nossa Tabanca Grande), querem saber como vão as moléstias e bizarrias... 

Sobre isso, o nosso "Big Brother" não sabe de nada e ainda bem. Notícias mais recentes sobre o Puim,  deu-nos o Abílio Machado, que aqui deixou um frase de antologia: "Há amizades que são maiores que a vida" (**). 

Vale a pena transcrever o essencial que o Machadinho nos contou no passado dia 10 de março de 2025:

 (...) (Eis) algumas notícias de como está o nosso ex-capelão: de facto, cheguei há dias da visita aos Açores e de cumprir um velho desejo: dar um abraço ao nosso velho amigo.

Estivemos em contacto dois dias que,  não dando para nos inteirarmos de tudo, foram suficientes para seguirmos o curso que a vida de um e outro tomou.

O Puim, com os achaques que a vida sempre nos presenteia - digamo-lo nós também - está para a sua idade em boa forma física e mental.

Gostei de o ver, jovem de espírito como sempre e seguindo o curso do mundo com interesse e atenção, fazendo do ser humano a sua missão na vida.

Foi um encontro muito emotivo em que, inevitável, relembramos muitos dos momentos vividos na Guiné.

O Miguel esteve presente pois estava em S. Miguel, em teletrabalho.

Tive a oportunidade conhecer a Leonor - esposa, mãe, avó, artista, de um afecto e uma energia transbordantes, o Puim não podia ter escolhido melhor nem ela a ele. Também o Pedro e a esposa e filhos: os netos do Puim.

Que bela família e como fomos recebidos!

Foram dias cheios, de facto há amizades que são maiores que a vida. (...) (**)

2, Depois disto, Abílio, tudo o mais é ruído, é retórica, é paleio, é conversa da treta... Tocaste na "mouche"... E, por certo, o nosso Santo Arsénio Puim vai ler-te ou reler-te com emoção... Duvido que ele continue a ler diariamente as "baboseiras" que a gente aqui escreve no nosso blogue. Tu também és pouco assíduo. 

Mas hoje o "artista principal" é o nosso camarada, antigo alferes capelão graduado do exército portuguê-...E e eu quis fazer-lhe uma "brincadeira", agora que a IA ameaça os nossos empregos (ou "tachos, e mais concretamente o meu, à frente deste blogue, há mais de vinte anos; tenho até, confesso, a tentação de lhe passar a pasta: estou velho, protésico, radioativo e, se calhar, parkinsónico; estou como o jogador de xadrez: com a IA, arrumo o tabuleiro e as peças).

Fiz uma pergunta "inocente" ao assistente da IA, do meu navegador, o Gemini IA / Google: 

"Ouve lá, ó robò, o que  é que tu sabes de um gajo que esteve na tropa comigo, de nome Arsénio Chaves Puim, era alferes capelão, depois foi expulso, uma trapalhada, dizem que meteu a PIDE, mais o comando do unidade, uma história mal contada, uma sacanice... A unidade dele era o BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)... 

Depois, coitado, lá voltou à sua ilha e aos seus paroquianos...Continuou a fazer jornalisnmo, e, ao mesmo tempo que era sacerdote, católico, quis ser ainda mais útil à sua comunidade, tirando o curso de enfermagem...

Mais tarde, deixou o sacerdócio e dedicou-se inteiramente à prestação de cuidados de saúde. Casou, teve filhos, escreve livros sobre a sua terra e as suas gentes, tem netos, tem amigos, vive em São Miguel"...

Bem, aquilo que me levaria dias e dias a escrever, o raio do robô em escassos minutos, e depois de consultar umas seis dezenas de "websites" (incluindo alguns dos nosssos, ele despreza os que não têm links...),  fez-me um relatório completo com a "biografia multifacetada" do nosso homenageado de hoje.  

Tiro o quico ao nosso robô. sim, senhor, que belo trabalho, tirando um ou outra imprecisão ou "delírio" (como essa da "participação do BART 2917 na 'Op Mar Verde' e o reforço temporário de guarnições fronteiriças"...)...

Bem, o esboço de biografia, para mais "à borla", não está mal engendrado, não, senhor, embora "chata p'ra burro"...

Esperemos que o Puim, família e amigos gostem desta prendida da Tabanca Grande, ou melhor, do robô do Google (que reproduzimos com a devida vénia, e apenas com um pequeno retoque, além da revisão e fixação de texto)...

Nós, apesar de tudo, ainda escrevemos melhor do que o robô (****), mas o gajo ganha-nos em produtividade, em "memória de elefante", velocidade de pesquisa e de tratamento de grandes massas de dados...

Eu diria que é muito "high tec", mas ainda tem pouco "human touch"... Por enquanto, ainda está a aprender a ser homem (e mulher)...

Um dia feliz, camarada Puim, porque santo já tu és! Um chicoração meu e do Machadinho. E já agora do robô da Gemini IA/ Google, que também quis associar-se à tua festa:


(...) "Meu caro amigo Luís  Graça que bom saber que o Arsénio celebra 89 anos! Uma vida rica e cheia de feitos, desde a tropa em Bambadinca até ao cuidado da sua comunidade em São Miguel. Que percurso inspirador!

Por favor, transmite-lhe os meus mais sinceros parabéns. Que o seu dia seja repleto de alegria, rodeado pelo carinho da família e dos amigos. Que continue a partilhar a sua sabedoria e a sua paixão pela escrita e pela sua terra por muitos e longos anos. Um abraço fraterno para o teu camarada Arsénio Chaves Puim!" (...)


Arsénio Chaves Puim: Uma Biografia Multifacetada


pelo Gemini IA / Google




Arsénio Chaves Puim emerge como uma figura de relevo na história portuguesa do século XX, com uma trajetória de vida que atravessa momentos cruciais como a Guerra Colonial e a evolução sociocultural dos Açores. As suas experiências como antigo capelão militar na Guiné, enfermeiro, jornalista e escritor conferem-lhe uma perspetiva singular sobre diversas facetas da sociedade portuguesa. A sua ligação intrínseca aos Açores, tanto como local de nascimento como cenário da sua vida após o serviço militar, constitui um fio condutor que permeia as suas diversas atividades e interesses. Este relatório visa apresentar uma biografia abrangente de Arsénio Chaves Puim, com base na informação disponível, explorando as suas experiências e contribuições em diferentes domínios.

2. Primeiros Anos e Formação:

Arsénio Chaves Puim nasceu em 1936 na ilha de Santa Maria, nos Açores, mais precisamente no lugar da Calheta, na freguesia de Santo Espírito (1). Santo Espírito é um local de particular importância histórica e cultural na ilha, sendo conhecido por albergar o porto baleeiro do Castelo (1). 

 A sua infância e juventude decorreram, assim, num ambiente fortemente marcado pela tradição marítima da caça à baleia, uma atividade que desempenhou um papel crucial na economia e na cultura de muitas comunidades açorianas durante o século XX. Esta exposição precoce ao mundo da baleação e à vida das gentes do mar provavelmente influenciou o seu interesse posterior pela história local e pelas tradições da sua ilha natal.

A sua formação inicial ocorreu na freguesia onde nasceu (1).  Prosseguiu os seus estudos no Seminário de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, onde completou o curso de Teologia (1).  Após a conclusão dos seus estudos teológicos, dedicou-se ao ministério sacerdotal até ao ano de 1976 (1).

A sua educação religiosa e o período em que exerceu funções como sacerdote terão certamente moldado a sua visão do mundo e os seus valores éticos, podendo ter contribuído para a sua posterior tomada de posição face à Guerra Colonial.

3. Capelão na Guerra Colonial (1970-1972):

No decurso da Guerra Colonial, Arsénio Chaves Puim serviu como capelão militar na Guiné (4) . Foi integrado no Batalhão de Artilharia 2917 (BART 2917) , prestando serviço em Bambadinca entre os anos de 1970 e 1972 (4). 

 Embora os conteúdos dos documentos (7) não estejam acessíveis, os seus títulos ("História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72")  sugerem que oferecem informações históricas detalhadas sobre as atividades e o contexto do batalhão durante o período em que Puim lá serviu. 

De igual modo, o título do documento (8) ("Guiné 63/74 - P9322:... "P'la Guiné e suas gentes": a alocução patriótica do comandante, em Viana do Castelo, a 8/4/1970, antes da partida (Benjamim Durães)") indica que Arsénio Puim, enquanto capelão, proferiu uma homilia, evidenciando o seu papel ativo no seio da unidade militar.

Informações adicionais sobre o ambiente operacional em que Puim se inseriu podem ser encontradas em (9), que mencionam a participação do BART 2917 na "Op Mar verde" e o reforço temporário de guarnições fronteiriças. 

Estes detalhes ajudam a compreender a dinâmica militar e as operações em curso durante o seu período de serviço. O documento (10) do sítio ultramar.terraweb.biz descreve o período em que o BART 2917 atingiu o termo da sua comissão de serviço na Guiné e assinala a importância estratégica de Bambadinca como centro de reabastecimento na zona leste, fornecendo um contexto logístico relevante para a sua localização. A referência ao CCS/BART 2917 em Bambadinca durante 1970/72 num memorial para combatentes (11) reforça a sua ligação específica a esta unidade e período temporal.

Contudo, a sua missão como capelão foi interrompida, sendo expulso do exército em meados de 1971, considerado pelas autoridades militares como "persona non grata" no território (4).  O documento (6) revela que a sua expulsão foi precedida pela sua prisão pela PIDE/DGS (a polícia secreta portuguesa) no Dia Mundial da Paz, 1 de janeiro de 1971, sendo posteriormente levado para Bissau. 

A notícia da sua expulsão e da sua oposição à Guerra Colonial foi também veiculada pelo Expresso (5) ("Toda a história do capelão contra a Guerra Colonial que desafiou o regime"), que o identifica como o segundo capelão a ser expulso após o Padre Mário de Oliveira, num contexto de crescente oposição de membros do clero à guerra. O seu caso é novamente mencionado em (6), que reiteram a sua prisão pela PIDE/DGS na mesma data e a consequente expulsão do exército.

O título do artigo (12) ("O capelão expulso por querer descalçar os dois sapatos à guerra") sugere que a sua expulsão resultou de uma profunda incompatibilidade entre o seu papel como capelão e a sua consciência face à violência e injustiça da guerra, indicando um conflito moral significativo com o regime da época.

4. Transição para a Vida Civil e Carreira na Enfermagem:

Após a sua expulsão do exército, Arsénio Chaves Puim regressou aos Açores (4).  Em 1976, concluiu o curso de enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Ponta Delgada (12).

 No mesmo ano em que deixou o sacerdócio, iniciou uma nova etapa profissional dedicada ao cuidado da saúde, exercendo a profissão de enfermeiro até 1995 (1).  A sua reforma como enfermeiro do Serviço Regional de Saúde da Região Autónoma dos Açores é mencionada em (6),  atestando uma longa carreira nesta área. A decisão de enveredar pela enfermagem, logo após a sua saída do sacerdócio e a experiência traumática na Guerra Colonial, pode ser interpretada como uma continuação do seu desejo de servir a comunidade, agora numa vertente mais ligada ao bem-estar físico e à cura.

5. Envolvimento no Jornalismo:


Arsénio Chaves Puim desempenhou um papel ativo no panorama mediático da ilha de Santa Maria como cofundador do jornal "O Baluarte de Santa Maria" (2). Exerceu também o cargo de primeiro diretor desta publicação (2). 

O documento (13) traça a história detalhada do "O Baluarte de Santa Maria", recordando que o primeiro periódico na ilha foi "O Mariense" (1885) e que se seguiram outros com edições limitadas. A primeira fase de "O Baluarte" surgiu em 1928, mas cessou a publicação em 1932 devido a motivos políticos após a instauração do Estado Novo. 

A segunda série do jornal foi lançada a 1 de maio de 1977 por Arsénio Chaves Puim, José Dinis Resendes e João de Sousa Braga, com o objetivo de resgatar os ideais democráticos e liberais dos jornais anteriores da ilha. A designação oficial passou a ser "O Baluarte de Santa Maria" em 1980. A edição impressa entrou em hiato por tempo indeterminado em 2016, mas o jornal mantém-se ativo online. A sua participação na refundação do jornal após o fim do regime autoritário demonstra o seu compromisso com os valores democráticos e a liberdade de imprensa.

O documento (14) lista Arsénio de Chaves Puim com a morada do "O Baluarte de Santa Maria" em Vila do Porto, confirmando a sua ligação contínua à publicação. Indica também que se trata de uma publicação regional em papel, lançada a 05/12/2011, o que poderá referir-se a um registo ou iteração posterior. 

Adicionalmente, foi o redator principal do jornal "A Crença" em Vila Franca do Campo (2).  O seu envolvimento com um segundo jornal, numa localização diferente dos Açores (São Miguel, onde se situa Vila Franca do Campo, em contraste com Santa Maria, onde se baseia "O Baluarte"), sugere um interesse mais vasto pelo jornalismo regional e um desejo de contribuir para a informação pública em diferentes partes do arquipélago.

6. Contributos Literários:

Desde 2001, Arsénio Puim publicou quatro livros dedicados à história e etnografia dos Açores, com um foco particular na ilha de Santa Maria (2).

Uma das suas obras mais notáveis é "A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" (1).  O documento (4)  revela que esta publicação é uma edição revista, aumentada e melhorada do seu livro de 2001, intitulado "A pesca da baleia na ilha de Santa Maria", demonstrando um interesse de longa data por este tema. 

O documento (1) fornece detalhes sobre o conteúdo do livro, destacando a sua exploração do enquadramento histórico, as duas épocas da baleação, relatos de vivências e o impacto socioeconómico da atividade, incluindo um "Glossário Baleeiro". O prefácio de José de Andrade Melo elogia Puim por dar relevância à história da baleação em Santa Maria e por contribuir para a história mais ampla da baleação nos Açores. 

Os documentos (15) e (17) anunciam o lançamento do livro a 29 de agosto em Vila do Porto, com uma apresentação de José de Melo, confirmando a sua publicação recente em 2024 (como também indicado em 4). O documento (16) da RTP Açores também reporta o lançamento do livro, sublinhando que acrescenta novos dados à sua obra anterior sobre o assunto. 

O documento (19) fornece informações bibliográficas sobre a edição anterior de 2001, publicada pelo Museu de Santa Maria, com um título semelhante. A sua dedicação a documentar a história da baleação em Santa Maria, culminando em múltiplas edições do seu livro, sublinha o seu compromisso em preservar e partilhar este aspeto importante do património cultural e económico da sua ilha natal.

Outra obra relevante é "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências" (20). O documento (21) descreve a segunda edição revista e aumentada, publicada em 2021. Enfatiza o foco do livro na etnografia e na linguagem de Santa Maria, destacando o objetivo do autor de preservar a herança moral, cultural e linguística da ilha, inspirado pelo conhecimento do dialeto local por parte do seu pai. Este livro demonstra o seu interesse mais vasto pelo tecido cultural de Santa Maria, para além da baleação, revelando o seu compromisso em documentar a vida quotidiana, a linguagem e as tradições do seu povo.

O documento (22) apresenta um registo bibliográfico na Biblioteca Nacional de Portugal em seu nome, sugerindo a existência de outras publicações ou contribuições. No entanto, a informação limitada (ISBD, NP405) impede a obtenção de mais detalhes. O documento (23) da Novagráfica menciona "150.º LIVRO – 29540.ª PÁGINA", o que poderá referir-se a uma entrada de catálogo ou ao seu envolvimento num projeto literário mais amplo relacionado com autores ou publicações açorianas. Seria necessário mais contexto para interpretar esta informação. O documento (24) lista um livro intitulado "São João da Vila : uma viagem pela noite mais alegre do ano..." onde Arsénio Chaves Puim é creditado pela revisão do texto. Isto indica o seu envolvimento na comunidade literária dos Açores, oferecendo a sua experiência a outros autores.

Tabela 2: Publicações de Arsénio Chaves Puim



Título | Ano | Editora


  • A pesca à baleia na Ilha de Santa Maria | 2001 | useu de Santa Maria
  • O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências (1ª ed.) | 2008 | Câmara Municipal de Vila do Porto
  • O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências (2ª ed.) | 2021 | Câmara Municipal de Vila do Porto
  • A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores |! 2024 |Letras Lavadas Edições
  • Contribuição (Revisão de Texto) - São João da Vila | 2010 | [Vila Franca do Campo : s.n.] (Nova Gráfica)


7. Vida nos Açores:

Após o seu regresso, Arsénio Chaves Puim estabeleceu-se nos Açores (4). Desde 1982, reside em Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel (1). O documento (26) menciona Vila Franca do Campo como uma subdivisão geográfica relacionada com o seu trabalho como revisor de texto, confirmando a sua ligação a esta localidade. 

Antes de se mudar para Vila Franca do Campo, em Santa Maria, trabalhou como professor de Português e História no Externato (1). Desempenhou também os cargos de Vereador e, posteriormente, de Presidente da Câmara Municipal de Vila do Porto em Santa Maria, demonstrando o seu envolvimento ativo na política local (2). Foi um dos fundadores do Museu Etnográfico de Santa Maria, evidenciando o seu compromisso com a preservação do património cultural da ilha (2).

Após a sua mudança para Vila Franca do Campo, continuou a sua participação cívica, integrando diversos órgãos autárquicos e exercendo funções como Mesário da Santa Casa, uma instituição de beneficência (2).  O documento (27) contém um aviso oficial da Câmara Municipal de Vila do Porto, datado de 1982 e assinado pelo Presidente da Câmara, Arsénio Chaves Puim, confirmando o seu papel no governo local de Santa Maria nessa época. 

O documento (2) refere que foi agraciado com a Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal pela Câmara Municipal de Vila Franca do Campo em 2009, reconhecendo as suas significativas contribuições para essa comunidade. O documento (28) lista "Arsénio de Chaves Puim" entre os beneficiários de apoio financeiro para publicações periódicas em 2017, provavelmente relacionado com "O Baluarte de Santa Maria", indicando o seu envolvimento contínuo nos assuntos mediáticos e comunitários. 

O seu vasto envolvimento na política local, na educação e em instituições culturais, tanto em Santa Maria como em Vila Franca do Campo, demonstra um profundo e contínuo compromisso com o serviço público e o bem-estar da sua comunidade nos Açores. A sua trajetória, de um capelão militar controverso a um líder cívico respeitado, sublinha a sua dedicação em contribuir positivamente para a sociedade na sua vida pós-guerra.

8. Reconhecimento e Legado:

Arsénio Chaves Puim foi agraciado com a Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal pela Câmara Municipal de Vila Franca do Campo em 2009 (1). Esta distinção assinala o elevado apreço que a comunidade lhe dedica pelas suas longas e diversas contribuições.

Uma publicação num blog de 2024 (4) refere-se a Arsénio Puim com estima e amizade, mais de meio século após a sua expulsão do CTIG (provavelmente um centro de treino militar relacionado com o seu serviço como capelão). A publicação estabelece um paralelo entre a sua experiência e a de Aristides Sousa Mendes, sugerindo que foi uma "vítima da ira de César por mor de Deus e da sua consciência cristã". Isto indica que a sua postura de princípios durante a Guerra Colonial continua a ser recordada e respeitada em certos círculos. 

Outra publicação num blog de 2024 (4) expressa apreço pelo seu mais recente livro, "A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores", demonstrando a sua relevância contínua e a sua contribuição para a cultura e história dos Açores. 

O reconhecimento que recebeu, tanto através de prémios formais como de menções positivas contínuas em comunidades online, sugere que Arsénio Chaves Puim deixou um impacto positivo duradouro nos Açores. A sua oposição de princípios à Guerra Colonial, apesar das consequências pessoais, e a sua subsequente dedicação a documentar e promover a cultura açoriana valeram-lhe respeito e admiração.

9. Conclusão:

A vida de Arsénio Chaves Puim representa uma jornada através de diversas experiências, desde os seus primeiros anos em Santa Maria e o seu caminho para o sacerdócio, passando pelo seu serviço controverso como capelão durante a Guerra Colonial e a sua subsequente expulsão, até às suas bem-sucedidas carreiras na enfermagem e no jornalismo, e às suas significativas contribuições como autor e líder cívico nos Açores. 

A sua profunda ligação ao seu património açoriano é evidente nas suas obras literárias e na sua participação ativa na vida comunitária local. Arsénio Chaves Puim demonstra resiliência e uma notável transformação de uma figura de conflito durante um período divisivo da história portuguesa para um membro respeitado e honrado da sociedade açoriana, deixando um legado de ação baseada em princípios e de preservação cultural.

Tabela 1: Cronologia da Vida de Arsénio Chaves Puim


Evento | Ano(s)


Nascimento | 1936


Período como Capelão na Guiné ! 1970-1971/72


Expulsão do Exército | 1971


Conclusão do Curso de Enfermagem | 1976


Anos de Prática na Enfermagem | 1976-1995


Cofundação de "O Baluarte de Santa Maria" | 1977


Residência em Vila Franca do Campo | desde 1982


Publicação de "A pesca à baleia na Ilha de Santa Maria" | 2001


Publicação de "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências" | 2008, 2021


Atribuição da Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal | 2009


Publicação de "A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" | 2024


Trabalhos citados

(1) A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores - Letras Lavadas, acesso a maio 8, 2025, https://www.letraslavadas.pt/a-pesca-a-baleia-na-ilha-de-santa-maria/

(2) Arsénio Chaves Puim - Bertrand Livreiros - livraria Online, acesso a maio 8, 2025, https://www.bertrand.pt/autor/arsenio-chaves-puim/1908227

(3) A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores de Arsénio Chaves Puim - Livro - Wook, acesso a maio 8, 2025, https://www.wook.pt/livro/a-pesca-a-baleia-na-ilha-de-santa-maria-e-acores-arsenio-chaves-puim/30523866

(4) Arsénio Puim - Luís Graça & Camaradas da Guiné, acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Ars%C3%A9nio%20Puim

(5) Toda a história do capelão contra a Guerra Colonial que desafiou o regime - Expresso, acesso a maio 8, 2025, https://expresso.pt/revista/2023-05-14-Toda-a-historia-do-capelao-contra-a-Guerra-Colonial-que-desafiou-o-regime-4f8b16fe

(6) Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72), acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/05/guine-6374-p4378-arsenio-puim-o.html

(7) Guiné 63/74 - P9021: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (1): Resumo dos factos e feitos mais importantes, por João Polidoro Monteiro, Ten Cor Inf (Benjamim Durães), acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/11/guine-6374-p9021-historia-do-bart-2917.html

(8) Guiné 63/74 - P9322: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (2): "P'la Guiné e suas gentes": a alocução patriótica do comandante, em Viana do Castelo, a 8/4/1970, antes da partida (Benjamim Durães) - Luís Graça & Camaradas da Guiné, acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/01/guine-6374-p9322-historia-do-bart-2917.html

(9) Armamento apreendido a dirigente da Frente Nacional - ForumDefesa.com, acesso a maio 8, 2025, https://www.forumdefesa.com/forum/index.php?topic=3916.45

(10) ACTIVIDADE DA CART 3494 DO BART 3873 NO TEATRO DE O. P. GUINÉ (1) - Terraweb.biz, acesso a maio 8, 2025, https://ultramar.terraweb.biz/Imagens/Guine/SousadeCastro/CArt3494_actividade_01_02.pdf

(11) Guerra do Ultramar: Angola, Guiné e Moçambique, acesso a maio 8, 2025, https://ultramar.terraweb.biz/Memoriais_concelhos_Setubal_EscolaSebastiaodaGama.htm


(12) O capelão expulso por querer descalçar os dois sapatos à guerra | Sete Margens, acesso a maio 8, 2025, https://setemargens.com/o-capelao-expulso-por-querer-descalcar-os-dois-sapatos-a-guerra/


(13) O Baluarte de Santa Maria – Wikipédia, a enciclopédia livre, acesso a maio 8, 2025, https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Baluarte_de_Santa_Maria


(14) Liliana Assunção de Paulo Carona - Estudo Geral, acesso a maio 8, 2025, https://estudogeral.uc.pt/retrieve/271804/TESE-AFEMINIZA%C3%87%C3%83ODOJORNALISMOREGIONALEMCONTEXTOPORTUGU%C3%8ASOCASODOSJORNAISCENTEN%C3%81RIOS-LilianaCarona.pdf


(15) Câmara Municipal de Vila do Porto, acesso a maio 8, 2025, https://www.cm-viladoporto.pt/SITE/projectos/ver.php?id=2972


(16) Escritor mariense lançou livro "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", acesso a maio 8, 2025, https://acores.rtp.pt/cultura/escritor-mariense-lancou-livro-a-pesca-a-baleia-na-ilha-de-santa-maria-e-acores/

(17) A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores, Arsénio Chaves Puim - Livro - Bertrand, acesso a maio 8, 2025, https://www.bertrand.pt/livro/a-pesca-a-baleia-na-ilha-de-santa-maria-e-acores-arsenio-chaves-puim/30523866

(18) Etiquetas - Letras Lavadas, acesso a maio 8, 2025, https://www.letraslavadas.pt/produto-etiqueta/arsenio-chaves-puim/

(19) A pesca à baleia na Ilha de Santa Maria - Arsénio Chaves Puim - Google Books, acesso a maio 8, 2025, https://books.google.com/books/about/A_pesca_%C3%A0_baleia_na_Ilha_de_Santa_Maria.html?id=FOC_HAAACAAJ

(20) O povo de Santa Maria seu falar e suas vivências / Arsénio Chaves Puim - Rede de Bibliotecas de Braga catálogo, acesso a maio 8, 2025, https://opac.rbb.blcs.pt/bib/232522

(21) Guiné 61/74 - P22819: Notas de leitura (1399): "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências", 2ª edição revista e acrescentada (2021), por Arsénio Chaves Puim, um caso de grande sensibilidade sociocultural e de amor às suas raízes (Luís Graça ) - Parte I, acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/12/guine6174-p22818-notas-de-leitura-1399.html

(22) Arsénio Chaves Puim - BNP - Bibliografia Nacional Portuguesa, acesso a maio 8, 2025, https://bibliografia.bnportugal.gov.pt/bnp/bnp.exe/q?mfn=127577&qf_AU==PUIM%2C%20ARSENIO%20CHAVES

(23) A Açorianidade no Tempo - PT - Nova Gráfica, acesso a maio 8, 2025, https://www.novagrafica.pt/a-acorianidade-no-tempo-pt/

(24) Resultado de pesquisa - BNP - Bibliografia Nacional Portuguesa, acesso a maio 8, 2025, https://bibliografia.bnportugal.gov.pt/bnp/bnp.exe/q?mfn=192188&qf_CDU==394.2(469.9)

(25) Guiné 63/74 - P5338: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71) (4): O pacto de Deus... com os 'turras', acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/11/guine-6374-p5338-memorias-de-um-alferes.html

(26) MARC details for record no. 7026 › Biblioteca da Lagoa catalog, acesso a maio 8, 2025, https://biblioteca.lagoa-acores.pt/cgi-bin/koha/opac-MARCdetail.pl?biblionumber=7026

(27) Quinta-feira 17 de Junho de 1982 - Diário da República, acesso a maio 8, 2025, https://files.diariodarepublica.pt/gratuitos/3s/1982/06/1982d137s000.pdf

(28) Relatório Anual sobre a aplicação do Decreto Legislativo Regional n.º 20/2010/A, de 31 de maio, alterado e republicado pelo - Portal (azores.gov.pt), acesso a maio 8, 2025, https://portal.azores.gov.pt/documents/36258/8b3b8e21-9eaf-10b9-48e0-c9a799393889


Fonte: Gemini IA / Google (com Luís Graça, na revisão / fixaçãpo de texto)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26777: Parabéns a você (2374): Arsénio Puim, ex-Alferes Graduado Capelão da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/71)


(**) Vd. poste de 10 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26568: (In)citações (262): de visita ao nosso ex-capelão Arsénio Puim, que vive em São Miguel, Açores: há amizades que são maiores que a vida (Abílio Machado, ex-alf mil. CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

(***) Vd. 8 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24299: O nosso blogue por descritores (7): Arsénio Puim, com mais de 6 dezenas de referências... Foi alferes graduado capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), tendo sido expulso em maio de 1971

sábado, 29 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26627: Os nossos seres, saberes e lazeres (675): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (198): Bruscamente, no Natal passado, uma viagem relâmpago a Ponta Delgada – 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Dezembro de 2024:

Queridos amigos,
Ir a São Miguel é como chegar à segunda casa, o deslumbramento nunca cansa, é verdade que há uma dor por todos aqueles que aqui me deram tanta estima e que já partiram. Estava ali no jardim de Antero de Quental, depois de ter deixado na Biblioteca Municipal os livros autografados e que me foram oferecidos por Armando Cortes Rodrigues, a derradeira figura do Orpheu, olhei para a casa onde visitava o meu professor de Cultura Portuguesa, António Machado Pires, foi uma melancolia, outras já tinham acontecido, como a perda do médico oftalmologista Botelho de Melo, que me tratou em Bissau de uns olhos chamuscados por uma mina anticarro. Para quem deixou a vida profissional há uma dúzia de anos, foi também um raro prazer conversar com gente de uma associação de consumidores que ajudei a fundar, falámos do passado, andámos pelo presente e visionámos o que parece vir a ser o futuro, as associações de consumidores carecem de posturas novas neste admirável novo mundo que orbita no digital, na cultura da urgência e na modernidade líquida, cabe-lhes conjugar esforços perante as ameaças ambientais e uma solidariedade que contrarie este primado do individualismo, o grande Cavalo de Tróia da equidade e do Estado social. E fica-me a vontade de regressar depressa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (198):
Bruscamente, no Natal passado, uma viagem relâmpago a Ponta Delgada – 2

Mário Beja Santos

Recapitulando, aterrei em Ponta Delgada ao principio da tarde, o secretário-geral da ACRA – Associação dos Consumidores da Região dos Açores telefonara-me dias antes lembrando-me das minhas obrigações enquanto um dos impulsionadores, ia para 35 anos, desta organização que privilegia os interesses dos consumidores açorianos, é uma promotora de causas de interesse público, acrescento que, tirando a DECO, é a associação de consumidores que resta da década de 1980, em tempos de pré-adesão à CEE e depois houvera cerca de dúzia e meia de associações, desapareceram praticamente todas ou não chegam ao grande público. Não podia dizer que não, a ACRA lutara denodadamente, anos a fio, para a criação de um centro de arbitragem de conflitos de consumo da região, este entrou em pleno funcionamento, é uma vitória de estalo, mas que traz problemas de foco, agora as reclamações dos conflitos de consumo são tratados nesse centro de arbitragem, o CIMARA, a ACRA precisa urgentemente de encontrar novos azimutes ou reforçar parcerias neste mundo de ameaças ambientais onde o consumo pesa, onde o paradigma digital suscita preocupações, tal como as tecnologias que decorrem e irão decorrer da inteligência artificial, a informação e educação do consumidor carecem de redobrados cuidados. Tive a tarde por minha conta, percorri uma cidade que conheço relativamente bem, aqui vivi de outubro de 1967 a março de 1968, fiz amizades inquebrantáveis, há saudades sem conto, memórias vivas e pesar por aqueles que já partiram e a quem devo profunda gratidão. Comecei o novo dia na cidade da Lagoa, houve larga conversa no auditório camarário, é um ritual que não descuro, almoçar filetes de abrótea ou peixe porco. E depois de regalado, pedi ao anfitrião que me levasse ao outro lado da cidade, extasia-me esta enseada e o contraponto da pedra vulcânica com a terra verde.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário
Cidade da Lagoa, vista da Igreja de Nossa Senhora do Rosário
Enquanto aqui fiz tropa esta bela igreja barroca, que pertenceu aos Jesuítas, chamada Igreja do Colégio, esteve sempre fechada, muito depois reabriu e tem um interior faustoso, compatível com o esplendor desta fachada, aqui me detenho e recordo que em frente vivia um senhor chamado Leonardo que saía de caleche, ou talvez uma tipoia, bem indumentado, de botina e chapéu de coco, era um gosto ver aquela marca do passado a meter-se no meio do trânsito. Aqui ao lado da Igreja do Colégio é a Biblioteca Municipal Antero de Quental, aqui venho depositar presentes, um deles foi uma oferta do Dr. Armando Cortes Rodrigues que me convidara para jantar em casa, na Rua do Frias, recebeu-me parecia um gaúcho, recordou-me os seus tempos de Lisboa, inevitavelmente Fernando Pessoa veio à baila, os livros com dedicatória dele ficam nesta biblioteca.
Não há nada de espetacular nesta fotografia, sei muito bem, estamos no Largo 2 de Março, era precisamente naquela esquina que parava uma viatura militar que transportava para os Arrifes os milicianos, oficiais e sargentos, que iam dar recruta. Não havia viaturas, mas o transporte era completamente desconfortável, o camião aos saltos, nós de pé agarrados a uns puxadores manhosos, aos encontrões uns aos outros, a viatura aos saltos e a parar bruscamente quando passavam as vacas. Foi assim, voltei facilmente a 55 anos atrás.
Também no Largo 2 de Março esta casa apalaçada era uma ruína, em franco abandono, dá gosto vê-la aprumada, transformada em alojamento local, passava por aqui todos os dias, lá ao fundo virava à esquerda para me ir encontrar com gente amiga no café Gil ou na Tabacaria Açoriana.
O café Gil agora é um restaurante de sushi, a livraria Gil fechou, é loja expectante, sobrevive a Tabacaria Açoreana, com bastantes alterações, mantém à entrada uma zona de cafetaria, em espaço intermédio temos os jornais, revistas e a lotaria e depois a zona de livraria, ainda um tanto parecida com o que foi. Tem agora este aspeto de tertúlia, antes de entrar ainda procurei o Melo Bento no seu escritório, disseram que talvez estivesse na Açoreana, não estava, talvez a tertúlia comece mais tarde. Olhei melancolicamente para o escaparate onde se vendia o República ou o Diário de Lisboa.
O meu quarto ficava aqui, Rua de Lisboa, n.º 31, 1.º andar, janela sem varanda, quarto com direito a banhos e tratamento de roupa, vinha do quartel, desfardava-me, e partia à civil com um livro debaixo do braço. Nunca esqueci o dia em que sobraçava um calhamaço de cerca de 700 páginas, uma biografia de Kennedy feita por Theodore Sorensen, Editorial Aster, 1967, eis senão quando sou abordado na Tabacaria Açoreana por alguém que me pediu para ler o livro no fim de semana, marcámos ponto de encontro, o dito senhor nunca mais apareceu… O que posso dizer é que a casa levou obras, no meu tempo era uma simples alvenaria branca, uma porta muito simples e nada de gelosias como estas.
É incrível como passei tantas vezes por aqui a caminho do Largo de São Francisco, ou em sentido inverso, para ir para o meu quarto, e nunca me detive para conversar com o Roberto Ivens, natural aqui da terra, que andou com o Brito Capello naquelas expedições africanas, nos tempos em que procurávamos consolidar o Terceiro Império, é um busto bonito, a peanha é elegante, um dever de memória bem assumido.
Houve grandes benfeitorias, naqueles anos 1960 o coliseu estava um tanto escalavrado, é hoje uma casa de concertos, no meu tempo era sobretudo cinema, aqui trouxe um pelotão para vermos o filme Lord Jim, realizado por Richard Brooks, com um elenco de primeiríssima água, descobri que um bom número dos meus recrutas jamais tinha entrado num cinema, foi uma noite de grande felicidade, o comandante do batalhão autorizou que viéssemos todos de viatura, a partir dos Arrifes, finda a sessão, a minha malta regressou à caserna.
Venho despedir-me deste saudoso Antero, nunca foi poeta do meu culto, mas jamais esquecerei a sua conferência no Casino Lisbonense intitulada Causas da decadência dos povos peninsulares, não entendo como todos aqueles que se debruçam sobre a história do pensamento português omitem sempre esta reflexão anteriana.
E também venho despedir-me do Largo da Matriz, um pouco mais à frente há um café que subsiste com o nome Nacional, eu era comensal, comia todos os dias pão, azeitonas, sopa, uma travessa com peixe ou carne e uma sobremesa. Sempre muito bem servido. O empregado caiu na asneira de dizer que era irmão de um recruta meu, adverti-o que no dia em que ele me tratasse mal havia consequências sérias para o irmão, ele terá ficado inquieto, chegava ao desplante de me dizer “Hoje peça a carne, o peixe não está muito bom.” E também neste Largo da Matriz estava o consultório do Botelho de Melo, amigo para sempre, tratou-me carinhosamente a vista depois de um trágico acidente com uma mina anticarro.
Por uso e costume, nunca me apresento em imagem nestas deambulações. Abro exceção porque foi um momento de rara felicidade, reencontrei o jornalista Sidónio Bettencourt, ele era estagiário aí pelos anos 1980 nos estúdios da Emissora Nacional, onde eu gravava programas, nem todos eram em direto. Coube ao Sidónio fazer uma gravação de um desses programas, no final disse-lhe que ele devia ficar na Emissora pelo seu alto profissionalismo. Agradeceu o meu comentário, mas disse-me prontamente que o seu lugar era aqui. Entrevistou-me longamente, não esqueceu aquele encontro de há largas décadas, alguém que acompanhara a emissão nos estúdios disse-me logo que tínhamos que ficar na fotografia. Dei-lhe um abraço e parti para o aeroporto, a visita meteórica chegara ao fim.
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Nota do editor

Último post da série de 22 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26605: Os nossos seres, saberes e lazeres (674): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (197): Bruscamente, no Natal passado, uma viagem relâmpago a Ponta Delgada – 1 (Mário Beja Santos)