Mostrar mensagens com a etiqueta Açores. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Açores. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25128: Capas da Vida Mundial Ilustrada (1941-1946) - Parte II: embarque de tropas expedicionárias para os Açores, em maio de 1941

 


Legenda (não há indicação do autor da foto):  "O sr. capitão Santos Costa, Subsecretário de Estado da Guerra, passa revista a mais um contingente de tropas para reforçar a guarniçáo militar dos Açores.  Desta vez foi um contingente de engenharia que embarcou para aquele arquipélago, no 'Carvalho Araújo' "... (O glorioso paquete "Carvalho Araújo" que navegou durante 4 décadas entre as ilhas e o continente e transportaria ainda tropas para a Guiné, no nosso tempo, antes de chegar oa fim dos seus dias...)

Capa da "Vida mundial ilustrada : semanário gráfico de actualidades": ano I, nº 2, 29 de maio  de 1941. Preço: 1 escudo. (*)

(A imagem foi reditada, com a devida vénia... LG; cortesia de Hemeroteca Digital de Lisboa / Câmara Municioal de Lisboa





Legenda: "Soldados Portugueses cotinuam a seguir para várias pates do Império onde a sua presença se torna necessária para afirmação da nossa soberania.  Damos, em cima, dois aspetos do último embarque de tropas para os Açores".
  

1. É desconhecido,  da maior parte dos nossos leitores, o esforço que Portugal teve que fazer na II Guerra Mundial para se defender e defender os seus territórios ultramarinos, com destaque para os arquipélagos atlânticos de maior interesse estratégico para os beligerantes: as potências do Eixo (Alemanha, Itália,  etc.) e os Aliados (Inglaterra, EUA, etc.).

Sobre os planos de defesa de Cabo Verde, já aqui temos falado (**)... Cerca de seis mil homens foram enviados para Cabo Verde, com destaque para as ilhas do Sal e de São Vicente. Para os Açores, form quase cinco vezes mais: 28 mil homens.

Era então Subsecretário de Estado da Guerra, braço direito de Salazar, considerado um "germanófilo",  o capitão Santos Costa (1899 - 1982)  (***).

Eis alguns resumos e excertos da dissertação de mestrado de Tiago Henrique Magalhães da Silva (2010), abaixo citado:

(,...) "Com o início da guerra, e até 1940, dão-se algumas alterações militares" (...) O  exército ordena uma mobilização parcial, passando de c. de 32,6 mil homens, em 1939, para 48,9 mil. Não há ainda preocupaçõea com a defesa das ilhas (e em especial dos Açores).

(...) "O Exército reforça também significativamente as ilhas a partir de Abril de 1941. Será a maior força expedicionária portuguesa, a dos Açores, contabilizando 28 000 homens, o que corresponde a duas divisões. Apesar da grandeza do dispositivo, as carências de armamento não podem ser mais claras, apenas o número das armas ligeiras está de acordo com as necessidades do exército." (...)

Há um reforço de três batalhões de infantaria expedicionários: 
  • o BI 8, para o Faial:
  • o BI 9, para S. Miguel:
  • e o BI 10, para Angra.

Em Julho de 1941, chega aos Açores a terceira vaga dos reforços, incluindo mais batalhões de infantaria: o BI 12 e o BI 14, ambos para S. Miguel. 

Em novembro de 1941, a quarta (e última) vaga vem completar, no essencial, o dispositivo militar  do arquipélago.

Nas próprias ilhas também se fazia, entretanto,  um importante esforço de mobilização: são criando-se vários batalhões de infantaria a partir das duas unidades-mãe: os batalhões independentes de infantaria, o BII 17 (Terceira) e o BII 18 (S. Miguel).

O número de 28 000 homens apontado por António José Telo (historidor, professor catedrático aposentado da Academia Militar) poderá, eventualmente, corresponder à totalidade de efectivos contabilizando substituições, ou talvez, englobando os efectivos da Marinha.

Segundo António José Telo  ("Os Açores e o controlo do Atlântico: 1898 – 1948. Porto: ASA, 1993, pág. 276, cit, por Silva, 2010, pág. 86):

(...) "Em 1941, o comando militar dos Açores dirige já uma guarnição distribuída por três ilhas, com uma presença simbólica nas outras. O grosso das forças está em S. Miguel, sede de três regimentos de infantaria (RI 18, 21, 22), companhias de metralhadoras, artilharia antiaérea e de campanha e as baterias de defesa de costa de Ponta Delgada. O RI 17 está na Terceira e o RI 20 no Faial, ambas as ilhas reforçadas com unidades de artilharia de campanha, antiaérea e auxiliares”. (...)

Fonte; Adapt. de Tiago Henrique Magalhães da Silva - "Operação dos Açores 1941". Dissertação de Mestrado em História Contemporânea. Porto:  Universidade do Porto, Faculdade de Letras, 2010, 117 pp. (Sob a orientação do Professor Doutor Manuel Loff). 


___________________

Notas do editor

(*) Vd.  29 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25120: Capas da Vida Mundial Ilustrada (1941-1946) - Parte I: embarque de tropas expedicionárias para Cabo Verde, em junho de 1941.... "Partiram alegres e confiantes"...

(***) Sobre o gen Fernando dos Santos Costa   (1899-1982)

Militar e político que foi figura destacada do regime salazarista. Entre 13 de Maio de 1936 e 6 de Setembro de 1944 ocupou o cargo de Subsecretário de Estado no Ministério da Guerra, de cuja pasta era titular o próprio Presidente do Conselho, Salazar, a quem sucederá à frente do Ministério da Guerra entre 6 de Agosto de 1944 e 2 de Agosto de 1950. Quando a pasta da Defesa substituiu a da Guerra, manteve-se à frente do novo Ministério até 4 de Agosto de 1958, data em que foi afastado do governo. Em 1961 foi promovido a General. (José Martins)

Vd. a publicação Correspondência do General Santos da Costa (1936-1982). Organização e prefácio: Manuel Braga da Cruz . Editora: Verbo, Lisboa, 2004,

"O General Fernando Santos Costa foi um dos mais estreitos colaboradores de Salazar e um dos mais longevos ministros dos seus governos. Ao longo dos 22 anos que esteve no Governo, onde ocupou os cargos de subsecretário de Estado da Guerra e de ministro da Guerra e da Defesa, foi a figura mais importante do regime junto do Presidente do Conselho de Ministros. Principal fautor da reestruturação das Forças Armadas e da sua subordinação ao poder político, Santos Costa participou ao lado de Salazar, de modo decisivo, na formulação da política de guerra, desde o deflagrar da Guerra Civil de Espanha até ao início da Guerra Fria, depois do termo da II Guerra Mundial (****), assumindo desse modo relevante papel não só nacional como internacional. 

"A documentação que se reúne nesta obra, com prefácio de Manuel Braga da Cruz, contribuirá seguramente para uma maior compreensão da personalidade de Santos Costa e de suas ideias e orientações políticas".

(****) Portugal e a II Guerra Mundial - Cronologia breve (LG):

1939

17 de Março - Assinado por Salazar e Franco o Pacto Ibérico, Tratado de Amizade e Não Agressão

1 de Setembro - Invasão alemã da Polónia. Início da II Guerra Mundial. Portugal, no dia seguinte, declara a sua posição de neutralidade no conflito europeu.

1940

Começam a afluir a Portugal dezenas e dezenas de milhares de refugiados, na sua maioria judeus, e nomeadamente em trânsito para os EUA.

6/7 de Junho - A Alemanha invade a França que irá capitular. Reafirmação da "estrita neutralidade" de Portugal. Conhecimento dos planos (secretos) da "Operação Félix" (invasão de Espanha e, eventualmente, Portugal, para a conquista e ocupação de Gibraltar, vital para o controlo do Mediterrâneo). Os ingleses fazem todos os esforços para manter a neutralidade da Península Ibérica.

Dezembro - Plano de retirada do governo português para os Açores na hipótese (temida pelos ingleses e levada a sério por Salazar) de invasão do país pela Alemanha e pela Espanha. O arquipélago dos Açores chegará a ter quase 3 dezenas de milhares de homens em armas, com equipamento inglês.

1941

22 de Junho – A URSS é invadida pela Alemanha. Aumenta a germanofilia em Portugal,  nomeadamente. Estreitam-se os laços económicos com a Alemanha.

Dezembro - Declaração de guerra dos Estados Unidos contra as pptências do Eixo, após o ataque japonês a Pearl Harbour. Reforça-se em Portugal o receio de ocupação, pelos Aliados, das ilhas atlânticas. Aumenta a importância estratégica dos Açores. Em 1941 Portugal perde 4 navios, três dos quais da marinha mercante, incluindo o Cassequel, de 122 m, da Companhia Colonial de Navegação. No final do conflito, terã perdido 18 mil t, o equivalente a 7% do total da arequeação bruta

1942

Março - Racionamento de bens essenciais, na sequência de Bloqueio económico imposto pelos Aliados. Portugal é obrigado a aceitar, no verão desse ano, um acordo comercial favorável aos interesses do seu velho aliado que lhe garante a independência da metrópole e das ilhas adjacentes bem como a soberania das colónias.

Novembro/Dezembro - A sorte das armas começa a virar-se para os Aliados.

1943

Janeiro - Capitulação dos alemães em Estalinegrado.

Maio – Queda da Tunísia a favor dos aliados. Ameaça sobre os Açores, vital para o abastecimento de aviões provenientes da América. Negociação com os ingleses e depois com os americanos.

Agosto - Cedência das bases das Lajes, nos Açores. O Governo Britânico compromete-se a dar apoio e auxílio militar a Portugal, em caso de ataque. Modernização das nossas Forças Armadas.

Junho - Portugal cancela a exportação do volfrâmio, face ao braço de ferro mantido com a Inglaterra. O principal cliente deste minério, essencial para a indústria de armamento, tinha sido a Alemanha.

1944

Maio - II Congresso da União Nacional. Delineada a estratégia de sobrevivência do regime de Salazar.

6 de Junho – O tão esperado Dia D (Desembarque nas praias da Normandia pelas forças aliadas).
Novembro - Acordo (secreto) de concessão de facilidades militares nos Açores, assinado por Portugal e os Estados Unidos.

1945

30 de Abril – Morte de Hitler em Berlim. Três dias de luto oficial decretados pelo governo português.

Maio – Capitulação das tropas alemãs.

6 e 9 de Agosto - Lançamento de bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasáqui, que irão apressar a rendição japonesa (a 2 de Setembro)

27 de Setembro – O território de Timor volta à administração portuguesa, depois da ocupação japonesa (mas também australiana e holandesa).

_______________

Nota do editor:

domingo, 26 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24888: S(C)em comentários (18): Obrigado, América! Thank You, America ! (José Câmara, Soughton, MA)


"The First Thanksgiving, 1621",  quadro a óleo (c. 1912/15), da autoria de  Jean Leon Gerome Ferris (1863–1930). Imagem do domínio público. Cortesia de Wikimedia Commons.



O nosso veterano José Câmara


1. Postagem, na página do Facebook Tabanca Grande Luís Graça, com a data de 23 de novembro de 2023, 2:19,  do José Câmara (ex-fur mil inf, CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73;  natural de Fazenda, Lajes das Flores, Ilha das Flores, Açores;  luso-americano, a viver em Stoughton, MA (Massachusetts), EUA; agente de seguros; ingressou na Tabanca Grande em 15/9/2009; autor da série "Memórias e Histórias Minhas" de que publicou até à data 37 postes; tem cerca de 140 referências no nosso blogue):

Amigos e camaradas-de-armas,

O Thanksgiving Day nos EUA é, sem dúvida alguma, o grande feriado familiar nos EUA. Os primeiros imigrantes celebraram o fim das colheitas com orações e festa que se prolongaram por três dias (diz a Wikipedia), e às quais se juntaram os nativos da área de Plymouth, Estado de Massachusetts.

Para muitos imigrantes é conhecido como o dia dos perus. Isso não significa menos respeito por esta grande nação americana que nos recebeu de braços abertos e nunca nos impediu de irmos tão longe quando as nossas capacidades humanas permitiram.

Não é segredo para ninguém o respeito que sinto por este grande País Americano. Dentro do possível, emprestei-lhe o melhor que trouxe do País que me viu nascer e crescer e que moldou o meu caracter, a minha forma de estar na vida. Foi o melhor que lhe pude dar. Aqui dei continuidade a esses princípios, formei a minha família e vi crescer os meus filhos em pessoas de bem. Tudo isso se conjugou para me sentir um homem realizado na vida.

Por favor, deixem-me compartilhar com todos vós um grande Dia de Acção de Graças, um feliz Thanksgiving Day.

Com respeito e consideração,
José Câmara
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 15 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24851: S(c)em comentários (17): "Por ti, Portugal, eu juro!": Memórias e testemunhos dos comandos africanos da Guiné (1971-1974), tese de doutoramento, de Sofia da Palma Rodrigues (2022), UC/CES: Resumo

domingo, 25 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24431: In Memoriam (481): José Marcelino Sousa (1949 - 2023), ex-1º cabo at inf, CCAÇ 3327 / BII 17 (Bissau, Mata dos Madeiros, Calequisse, Tite e Bissássema, 1971/73): natural da ilha das Flores, Açores, vivia desde 1974 em Stoughton, Massachussetts, EUA... Passa a sentar-se, no lugar nº 877, sob o poilão da nossa Tabanca Grande (José Câmara / Luís Graça)


Foto nº 1 > José Marcelino Sousa


Foto nº 2 - José Marcelino Sousa, 1° da esquerda, em Santa Margarida,  junto dos companheiros da ilha das Flores


Foto nº 3 >  José Sousa, na direita, no regresso de uma operação à Junqueira, zona de Bissássema, Guiné.


 Foto mº 4 > Nicho em louvor de N. Sra. de Fátima em Calequisse, Guiné,  "CCAÇ 3327, 3º Gr Comb, Açoreanos"...

Fotos (e legendas):  © José Câmara (2023). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Postagem, no facebook da Tabanca Grande Luís Graça, colocada pelo José Câmara, em 24 de junho de 2023, 10:25 ( José Câmara, de seu nome completo, José Alexandre da Silveira Câmara, ex-fur mil inf,  CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73, tem 135 referências no nosso blogue; é natural de Fazenda, Lajes, Ilha das Flores, Açores; vive desde 1973 em Stoughton, Massachussetts, EUA; foto à direita)

José Marcelino Gonçalves de Sousa, natural da freguesia da Fazenda, concelho de Lajes. Ilha das Flores, faleceu em Boston, EUA, no passado dia 20 do corrente mês de Junho de 2023. (*)

O José Sousa, como 1° cabo atirador de infantaria, nº mec. 09570170, integrado no 3° Gr Cmbt da CCaç 3327/BII17, cumpriu a sua comissão de Serviço Militar na então Província Ultramarina da Guiné, no período janeiro de 1971 a janeiro de 1973. Nesta província passou por Bissau, Mata dos Madeiros, Calequisse, Tite e Bissássema.

Em Calequisse, foi o grande mentor e obreiro de um nicho em louvor de Nª Srª de Fátima, que ainda hoje se mantem em muito bom estado de conservação, e ao qual doou a imagem. Mas foi durante um ataque do inimigo ao quartel de Bissássema que o José Sousa demonstrou a sua grande capacidade de liderança e arrojo quando, a peito descoberto, lançou várias granadas com o seu inseparável Lança-Granadas, atingindo as zonas de onde o inimigo atacava.

O José Sousa, como companheiro e militar, era muito respeitado pelos seus pares e os seus superiores hierárquicos viam nele um excelente colaborador em quem podiam confiar no cumprimento das missões que lhe eram confiadas. Pelas suas qualidades cívicas e militares foi justamente louvado pelo Sr. Comandante do Batalhão de Artilharia 6520/72.
 
Como muitos jovens do seu tempo, após o serviço militar, o José Sousa seguiu os caminhos da imigração tendo fixado residência em Stoughton, estado de Massachussetts, onde trabalhou em vários serviços e formou a sua família. Mas o José não se quedou por aí, também teve uma acção muito meritória na Comunidade Luso-Americana da Vila de Stoughton ao integrar a prestigiada Sociedade Filarmónica de São João de Stoughton, da qual foi Tesoureiro e mais tarde Presidente.

Para os familiares do José Sousa as nossas sentidas condolências num abraço solidário.

Numa nota estritamente pessoal, os bancos da escola primária, ir buscar as vacas ao sítio da Tronqueira na freguesia da Fazenda, o serviço militar na CCaç 3327/BII17 na Guiné, a Sociedade Filarmónica de São João, em Stoughton, são alguns dos trilhos de vida que palmeamos lado a lado e que jamais esquecerei.
 
Que Deus te tenha em Seu Bom Regaço. Até logo, amigo.

Foto 1 – José Sousa
Foto 2 – José Sousa, 1° da esquerda, em Santa Margarida junto dos companheiros da ilha das Flores
Foto 3 – José Sousa, na direita, no regresso de uma operação à Junqueira, zona de Bissássema, Guiné.
Foto 4 – Nicho em louvor de Na. Sra. de Fátima em Calequisse, Guiné


Obituário inserido na Farley Funeral Home, de Stoughton, com a devida vénia.

Jose Marcelino Sousa

Jose Marcelino Sousa, 74, a longtime resident of Stoughton, died unexpectedly at St. Elizabeth’s Medical Center in Brighton on Tuesday, June 20, 2023. 

He was the husband of Inelda (Rosanina) Sousa for 48 years. 

Born and raised in Fazenda, Flores, Azores, Portugal, he was the son of the late João Augusto and Palmira (Goncalves) Sousa. 

Jose served in the Portuguese Army and remains close with several of his Army friends to this day. He moved to Stoughton in 1974. 

He worked at several different businesses in the area. Jose was a member of the Sociedade Filarmómica De São João in Stoughton and a former member of Stoughton Fish & Game. He enjoyed hunting, fishing, raising turkeys, collecting hats and birdwatching, especially hummingbirds but his greatest joy was spending time with his family and taking trips back to Portugal.

In addition to his wife, Jose is survived by his children, Robert R. Sousa and his fiancé Shayna Lehrer of Brockton and Roseann R. Freitas and her husband João Stoughton as well as his grandchildren, J.C. Freitas, Dakota Bourne, Francisco Freitas, Caylee Sousa, Julius Sousa, Sebastian Freitas and Lily Lehrer. He was the brother of Helena Costa and Palmira Sousa both of Stoughton, Filomena Fraga of Flores and the late João Sousa. He is also survived by many nieces and nephews.

Funeral will be held from the Farley Funeral Home, 358 Park St. (Rt. 27) Stoughton on Tuesday, June 27 at 9 AM followed by a Funeral Mass at Immaculate Conception Church, Stoughton at 10 AM. Visiting Hours Monday from 4-7 PM. Interment will take place at Holy Sepulchre Cemetery, Stoughton.

To order memorial trees or send flowers to the family in memory of Jose Marcelino Sousa, please visit our flower store.


Versão em português: Google Translate / Editor LG:

José Marcelino Sousa, de 74 anos de idade, residente de longa data em Stoughton, morreu inesperadamente no St. Elizabeth's Medical Center em Brighton na terça-feira, 20 de junho de 2023.

Foi casado com Inelda (Rosanina) Sousa durante 48 anos. Nascido e criado em Fazenda, ilha das Flores, Açores, Portugal, era filho do falecido João Augusto e Palmira (Gonçalves) Sousa.

O José serviu no Exército Português e permanece próximo de vários de seus amigos, antigos combatentes, ao longo da sua vida. Mudou-se para Stoughton em 1974.

Ele trabalhou  na região, em vários ramos de atividade. Foi membro da Sociedade Filarmónica de São João em Stoughton e ex-membro da Stoughton Fish & Game. Gostava de caçar, pescar, criar perus, colecionar chapéus e observar pássaros, principalmente os beija-flores, mas a sua maior alegria era passar o tempo com a família e fazer viagens de volta aos Açores, Portugal. 

Além de sua esposa, José deixa os seus filhos, Robert R. Sousa e a sua noiva Shayna Lehrer de Brockton e Roseann R. Freitas e seu marido João Stoughton, bem como seus netos, J.C. Freitas, Dakota Bourne, Francisco Freitas, Caylee Sousa, Julius Sousa, Sebastian Freitas e Lily Lehrer. Era irmão de Helena Costa e Palmira Sousa,  ambas de Stoughton, Filomena Fraga das Flores e do saudoso João Sousa. Também deixa muitas sobrinhas e sobrinhos. 

O funeral será realizado na Farley Funeral Home, 358 Park St. (Rt. 27) Stoughton na terça-feira, 27 de junho às 9h, seguido de uma missa fúnebre na Imaculate Conception Church, Stoughton às 10h. Horário de Visitação Segunda-feira das 16h às 19h. O enterro acontecerá no cemitério Holy Sepulcher, Stoughton. 

Para encomendar árvores memoriais ou enviar flores à família em memória de José Marcelino Sousa, visite a nossa loja. (...)
Guiné > Região de Quínara > Tite > Bissássema > CCAÇ 3327 / BII 17 > O 1.° cabo at inf José Marcelino Sousa  junto do Monumento da CCav 2765 aos seus mártires de guerra. (**)

Foto (e legenda): © José Câmara (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

2. Comentário do editor LG:

O José Marcelino Sousa, ou simplemente José Sousa, já tinha algumas referências aqui no no nosso blogue, graças ao seu grande amigo de infância, conterrâneo, vizinho e camaradas de armas, José Câmara. Ambos serviram na CCAÇ 3327,  nasceram e cresceram em Fazenda, Flores, Açores, e vivveram a maior parte da vida em Stoughton, Massachussetts, EUA.

O José Marcelino Sousa também participou, por exemplo, em 26 de julho de 2014, na Ortigosa, Monte Real, Leiria, no encontro que juntou as CCAÇ 3327 e 3328 (***). Na altura, vivia na Ilha das Flores, deslocando-se com frequência aos EUA...

A evocação que dele faz o José Câmara é de um irmão que fala de outro irmão... Espantosamente, as suas vidas seguiram, quase a par e passo, os mesmos trilhos, nos Açores, na Guiné e na emigração... 

(...) "Numa nota estritamente pessoal, os bancos da escola primária, ir buscar as vacas ao sítio da Tronqueira na freguesia da Fazenda, o serviço militar na CCaç 3327/BII17 na Guiné, a Sociedade Filarmónica de São João, em Stoughton, são alguns dos trilhos de vida que palmeamos lado a lado e que jamais esquecerei." (...)

Muitos destes nossos camaradas açorianos, quando morrem, ficam inumados na "vala comum do esquecimento"... Não será o caso do José Marcelino Sousa: o seu "mano" José Câmara escreveu-lhe uma comovente nota biográfica, por ocasião da sua morte, e a nossa Tabanca Grande passa a acolhê-lo, à sombra do nosso fraterno e sagrado poilão, sob o nº 877.

À família enlutada, na América e nos Açores, apresentamos as condolências do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

PS - Sobre os Açores e os açorianos temos mais de 250 referências no nosso blogue. Mas sentimos que há muitas falhas e omissões: grande parte dos nossos camaradas açorianos, que passaram pelo CTIG, ao longo da guerra do ultramar / guerra colonial, escolheram os caminhos da emigração e da diáspora. O José Câmara tem feito a ponte entre o nosso blogue e a comunidade açoriana na América do Norte. Que Deus o proteja, dando-lhe saúde e longa vida.
___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 23 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24426: In Memoriam (480): Carlos Nuno Carronda Rodrigues (1948-2023), ex-alf mil, CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/72), cor inf ref... Passa a integrar a título póstumo a Tabanca Grande, sob o n.º 876

 

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24304: Historiografia da presença portuguesa em África (367): Diogo Gomes na obra de Vitorino Magalhães Godinho (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Agosto de 2022:

Queridos amigos,
Naquele ano de 1943 Vitorino Magalhães Godinho dava à estampa o Vol. I de "Documentos Sobre a Expansão Portuguesa", vinha na sequência da "A Expansão Quatrocentista Portuguesa", era uma historiografia pioneira, logo na introdução o eminente historiador avisa os leitores quais sãos as fontes que ele consulta, é uma história sem aspetos miraculosos nem vulgaridades, e mostra-se mesmo oposto à vulgata ultranacionalista no final da sua introdução: "Entre o ideal medievo da religiosidade e cavalaria, e o ideal moderno na razão, da experiência e do lucro, a atividade de descobrir, conquistar e colonizar, exerce-se no plano da prática metódica, da cobiça, da preocupação com o destino da alma, da aventura raciocinada, do impulso da força das armas e da tenacidade do desbravamento do solo. A economia mercantil da expansão cristaliza em vários pontos na agregação senhorial, o pensamento técnico articula-se às conceções teóricas mas não rasga os moldes básicos das ideias antigas. Daí o interesse largamente humano da história da expansão portuguesa. Como as cidades italianas e flamengas dos séculos XI a XIV, como a Holanda e Inglaterra dos séculos XVII e XVIII, Portugal e Espanha nos séculos XV e XVI queriam a norma e são o quadro das transformações económicas e políticas." Nascia assim a historiografia moderna, um tanto em contraponto com a carga mitológica que envolvera a Exposição do Mundo Português, alguns anos antes.

Um abraço do
Mário



Diogo Gomes na obra de Vitorino Magalhães Godinho (2)

Mário Beja Santos

Na sua juventude, aquele que se virá a credenciar como o mais importante historiador dos Descobrimentos portugueses, Vitorino Magalhães Godinho, publica duas obras que serão a alavanca da sua assombrosa investigação, no arranque da década de 1940: A Expansão Quatrocentista Portuguesa e os Documentos Sobre a Expansão Portuguesa. Logo na introdução do Vol. I de Documentos Sobre a Expansão Portuguesa, o historiador deixa bem claro que sabe ao que vem, pauta-se pela evidência científica, não vai haver fantasia nem batalhas de Ourique nem as invenções da historiografia de Alcobaça, alerta-nos para as fontes do seu estudo: as narrativas (crónicas, relações); fontes diplomáticas (diplomas régios, diplomas emanados de entidades com direitos senhoriais, bulas pontifícias); documentos diversos, obras técnicas (tais como roteiros, regimentos náuticos, tratados cosmográficos e náuticos). E elenca o conjunto de todas estas fontes que pretende compulsar para o seu trabalho.

É exatamente neste vol. I, publicado pela Editorial Gleba em 1943 que Vitorino Magalhães Godinho retoma o estudo da Relação dos Descobrimentos da Guiné, atribuído a Diogo Gomes e que tinha sido publicada em 1900 no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa. No texto anterior, deu-se conta do essencial da visão de Diogo Gomes de Sintra quanto ao projeto henriquino, refere o funeral do Infante, e passa agora ao serviço do rei D. Afonso V. Em 1462, viaja de novo para a terra dos Barbacins e conta como ele e António da Noli, no regresso a Portugal, encontram ilhas, ele é o primeiro a pôr o pé em terra na ilha a que passou a ter o nome de Santiago. “Havia ali grande pescaria. Em terra, porém, achámos muitas aves estranhas e rios de água doce. As aves esperavam-nos sem fugir, assim as matávamos com paus. Havia aí muitos patos. Também era grande a fartura de figos. E depois vimos a ilha da Canária que se chama Palma, e em seguida fomos à ilha Madeira. E querendo ir a Portugal com o vento contrário fui às ilhas dos Açores e António da Noli ficou na ilha da Madeira; com melhor tempo chegou a Portugal antes de mim, e pediu ao rei a capitania da ilha de Santiago, que eu descobrira; e o rei deu-lha, a ele e ele a conservou até morrer.”

Segue-se a descrição que faz das ilhas do mar oceano do Ocidente. Começa assim: “Ouvi eu, Diogo Gomes de Sintra, que algumas caravelas da armada do rei João de Portugal que foram a África contra os Serracenos, apanhando vento contrário, não puderam resistir à tormenta, correram e viram algumas ilhas. Contentes de ver terra, e julgando ali encontrar algum refúgio daquela tormenta, foram a uma ilha, agora chamada Lançarote, e acharam-na despovoada”. Falará sobre as ilhas Canárias, descreverá Tenerife, Palma e assim chegamos à Madeira, primeiro Porto Santo e depois Madeira, referirá o seu povoamento. Seguidamente, espraia-se sobre o descobrimento das ilhas do Açores, referindo exclusivamente Santa Maria e S. Miguel. Há uma nota curiosa de Diogo Gomes de Sintra sobre esta ilha, e que tem a ver com a Ordem de Cristo, de que o Infante D. Henrique era administrador e de onde arrecadava meios para as suas expedições:
“Não muito tempo depois, o Infante D. Pedro, irmão do Infante D. Henrique, pediu a seu irmão esta ilha de S. Miguel, que lhe foi dada no temporal e no espiritual, que assim ficou como as outras ilhas da Ordem de Cristo, dando de todas a dízima, o que o pontífice Eugénio confirmou, e onde fez menção que todas as ilhas descobertas no mar oceano eram do senhor Infante e da Ordem de Cristo.”

Recordo ao leitor que Vitorino Magalhães Godinho denuncia confusões e equívocos, sobretudo comparando a sua Relação com a Crónica da Guiné de Zurara. E releva questões suscitadas pelo descobrimento do arquipélago de Cabo Verde: “O descobrimento do arquipélago de Cabo Verde tem-se atribuído quer a Diogo Gomes quer a António da Noli quer a Cadamosto. Na Relação, a viagem de Diogo Gomes na companhia do genovês data de 1462; ora a viagem do veneziano é de 1456, e documentos oficiais atribuem o descobrimento a António da Noli, cuja viagem deve ser anterior à de Cadamosto que ao encontrar quatro das ilhas supôs ser erradamente o seu descobridor. Mesmo admitindo que na Relação há confusão cronológica e que Diogo Gomes acompanhasse António da Noli, não parece de aceitar o tirar ao genovês a glória do descobrimento, pois de contrário certamente o rei não lhe concederia a capitania de Santiago.”

Mas há outros comentários que me parecem dignos de apreço. Exemplos:
“Está por analisar a função e valor das ilhas na economia portuguesa do século XV. A Madeira tornou-se o centro de valiosíssima experiência económica pelo cultivo da vinha, cana do açúcar e trigo; as suas madeiras foram primaciais na construção naval”; ”Provavelmente o arquipélago açoriano fora já conhecido no século XIV, talvez devido às navegações do reinado de D. Afonso IV. Acumulam-se as incertezas quanto ao descobrimento ou reconhecimento no século XV. A carta régia de 2 de julho de 1439 autoriza ao Infante o povoamento de sete ilhas açorianas e declara que já anteriormente D. Henrique mandara lá deitar ovelhas. Gaspar Frutuoso di-las descobertas por Gonçalo Velho em 1432, mas o globo de Nuremberga, de Martim Behaim data o reconhecimento de 1431, e a carta maiorquina de Gabriel Vallseca de 1427, atribuindo-o a Diogo de Sunis (Sines ou Sevilha?). Corvo e Flores foram encontradas em 1452 por Diogo de Teive”; “A obscuridade que envolve a figura do Regente (Infante D. Pedro) não nos permite avaliar a amplitude da sua ação, quer nos Descobrimentos quer na colonização; por aqui vemos que esta o preocupou e, embora arrojado, não é ilícito aventar que lhe deve decisivo impulso (cujos traços houve depois o cuidado de apagar)”.

Finda aqui o trabalho sobre a Relação de Diogo Gomes de Sintra, no estudo seguinte Vitorino Magalhães Godinho debruça-se sobre o Infante D. Henrique, a sua antologia inclui textos de Zurara, Duarte Pacheco, João de Barros, Damião de Góis, para além de apresentar várias cartas. O jovem historiador abria uma nova faceta na investigação e pela primeira vez oferecia-se ao leitor não iniciado a possibilidade de acesso a documentação fundamental sobre este período da Expansão Portuguesa.


Estátua de Diogo Gomes na cidade da Praia, Cabo Verde
Estátua de Diogo Gomes na fortaleza de Cacheu
Vitorino Magalhães Godinho na juventude
____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24279: Historiografia da presença portuguesa em África (366): Diogo Gomes na obra de Vitorino Magalhães Godinho (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24238: Facebook...ando (25): Os dois irmãos gémeos Medeiros, da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/74), naturais da Ribeira Grande, a viverem hoje no Canadá (o Adriano) e nos EUA (o David)


Guiné  > Região de Tombali > Cufar > CAÇ 4740 (1972/74), Leões de Cufar" >  Foto de grupo com os manos gémeos Medeiros, Adriano e David, que estão por identificar. Mas, pela pesquisa que fizemos nas suas páginas do Facebook, seriam o primeiro e o terceiro, na fila que está de pé, a contar da esquerda para a  direita.  O Armando Faria está em primeiro plano, agachado, de bigode, no lado esquerdo.

Foto (e legenda): © Armando Faria (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guião dos "Leões de Cufar", CCAÇ 4740 (1972/74), mobilizada pelo BII 17


1. Recentemente, e com referência ao poste P24229 (*), o nosso camarada Armando Faria (ex-fur mil inf MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74, natural de Vila Nova de Gaia), postou o seguinte comentário, na página do Facebook da Tabanca Grande:

(...) A CCaç 4740 teve dois gémeos em Cufar, Guiné, junho de 72 Agosto 74, o Adriano Medeiros e o David Medeiros, pertenceram ao 4.º grupo de combate". (...) 

O comentário vinha acompanhado de uma foto de grupo, com pessoal da CCAÇ 4740, onde presumivelmente estão os dois manos, o Adriano e o David. Mas não estão identificados.

Mandei ao Armando um mail, ontem, dia 20, com o seguinte teor:

"Armando: como vai isso ? A saúde e o resto ? Não tens dado notícias, embora participes na nossa página do Facebook... Há dias encontrei esta tua foto (...)

Acho que era invuilgar haver dois gémeos na mesma unidade ou subunidade... Gostava que os identificasses na foto... Já fui à página deles no Facebook.... E gostava que, estando um na América e outro no Canadá, como muitos outros camaradas açorianos, aceitassem o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande... Será que têm mais fotos desse tempo ?

Os irmã
os Magro foram seis, os que estiveram nos nossos TO em África, mas nenhum era gémeo, três estiveram ao mesmo tempo na Guiné em dada altura...

Vês se dás uma ajuda. O meu pesar pela morte do teu cunhado, Manuel Matias. Também perdi a minha cunhada, muito querida, há dias. Estive um mês na Madalena, V.N. Gaia, tua terra, a dar apoio à família... Abraço grande, Luís".

Enquanto se aguarda a resposta do Armando Faria (que tem 25 referências no nosso blogue), fazemos este poste, na série Facebook...ando. (**)

Os manos Medeiros são naturais da Ribeira Grande, Açores, nascidos a 29 de novembro de 1951, vivem no Canadá, em Winnipeg, o Adriano (tem página no Facebookl, aqui) e, nos EUA, Seekonk , Massachusetts. o David (tem página aqui).

O Armando Faria é autor da História da CCAÇ 4740 (vd. imagem da capa à direita).

Pode ser que outros camaradas como o Luís Mourato Oliveira (que pertenceu a esta companhia, em rendição individual), ou o António Graça de Abreu, do CAOP 1  (que esteve com eles em Cufar), nos possam também dar uma ajuda nesta identificação. Mas o Armando Faria é o camarada mais indicado para o fazer, está em contacto com eles, e tem organizado alguns dos encontr0s dos "Leões de Cufar" (**)

2. Em resposta ao nosso pedido, o Armando Faria legendou, no nosso Facebook,  a foto acima, do seguinte modo:

"Tabanca Grande Luís Graça Então vamos lá dizer algo deste pequeno grupo que pertencia ao 4.º grupo da CCaç 4740, formada em Angra do Heroísmo no BII 17 e onde se encontram; da esquerda para a direita de pé, 1.º cabo Adriano Medeiros, Canadá, Fur Mil Santos, Continente, sold David Medeiros, EUA, 1.º cabo Dâmaso, S. Miguel, 1.º cabo Joao Soares, EUA, sold Simas, Pico,  faleceu em 25/08/2015; 1.º cabo Ernesto, Canadá;  em baixo, Alf Silva e Fur Armando Faria, no Continente."

sexta-feira, 10 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24135: Notas de leitura (1562): "Livro de Vozes e Sombras", de João de Melo; Publicações D. Quixote, 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Junho de 2020:

Queridos amigos,
É um belo romance, urdidura sólida, sempre a satisfação do autor a retratar personagens, a vincar ambientes, a levar-nos com imenso prazer pelos prados de S. Miguel, a sentir o vento e a humidade. Dá um tratamento imaginativo àquilo que se designa por uma história de retornos e até de exílios. Com um bom ponto de partida, uma entrevista com um operacional lendário da Frente de Libertação dos Açores. Deplora-se que o autor imagine uma Guiné de clichés, numa atmosfera de Angola de 1961, não houve o cuidado de perguntar a alguém como era o orografia daquele terreno, senão não teríamos o falsete de um operacional dementado a querer atirar um guerrilheiro para um precipício, é mesmo não ter o cuidado de saber que naquela terra há tudo menos montanhas e abismos. Mas do mal o menos, tirando este episódio menor, mal talhado e engerocado, lê-se com imenso agrado, toda a descrição turbilhonante daquela Angola em chamas, convulsiva, de 1975, assegura páginas brilhantíssimas do que há de melhor na nossa literatura contemporânea.

Um abraço do
Mário



Um ex-operacional da Frente de Libertação dos Açores na guerra da Guiné

Mário Beja Santos

Não hesito em considerar o romance "Livro de Vozes e Sombras", de João de Melo, Publicações D. Quixote, 2020, como uma das obras mais bem conseguidas do autor de "Autópsia de um Mar de Ruínas" e "Gente Feliz com Lágrimas", tem sólida estrutura, ressuscita o período da agitação independentista nos Açores, dá-nos quadros fulgurantes, entre os melhores que a literatura portuguesa produziu sobre o fim do nosso Império, da tragédia da descolonização angolana, e estabelece um arco feliz, original, nestes diferentes passos tumultuosos. Tudo começa quando uma jornalista, umas boas décadas depois das turbulências em que se contextualizaram as atividades da FLA – Frente de Libertação dos Açores, consegue permissão para ir entrevistar um antigo operacional, de nome lendário. Aqui se inicia uma narrativa de múltiplos regressos. Não menos singular e inspirador é o modo como decorre a entrevista e a substância da mesma, o jogo de cintura entre entrevistado e entrevistadora, a importância do não dito, como igualmente, pela voz de uma cega é-nos dada uma apreciação do retorno, e poder discretear sobre o fim do Império, obrigando aquela jornalista a entender que algo havia de novo no seu trabalho: a dignidade das vítimas.

Mariano Franco, o ex-operacional da FLA, combateu na Guiné, o tema surgiu necessariamente na entrevista. Foi voluntário, quis ir defender a sua pátria de então, passou pelas Operações Especiais, esteve em Tancos, a aprender minas e armadilhas. “A pátria que fui defender à Guiné unia num todo as nossas terras ultramarinas e europeias, a História nacional, séculos carregados de obras por esse mundo fora, a luz acesa da civilização lusíada nas trevas primitivas de Catió, Bafatá, Farim e Bassorá [provavelmente o autor queria ter escrito Bissorã]. Conheceu rios e pântanos, matou cobras e ratazanas, adoeceu de paludismo, começou a ficar louco. Confessa à entrevistadora que viu de tudo na Guiné, “pernas e braços decepados pelo rebentamento das granadas, peitos abertos e vazios como arcas arrombadas, negros degolados e com as cabeças empaladas, cadáveres sem sepultura na sua própria terra, e que dariam de comer aos crocodilos; vi mulheres esventradas que acabavam de dar a vida pelos filhos, restos humanos cobertos de enxames de moscardos, à espera dos abutres e das hienas malhadas; vi corpos despedaçados no meio da lama, olhos abertos de espanto e ainda por morrer: pareciam seguir-nos no caminho que levávamos, tal e qual os olhos dos retratos e das pinturas nos salões e nos museus. A minha loucura foi varrida pelo sopro dos canhões sem recuo nos ataques ao quartel. Aguentou o clamor, o desvario das explosões, o fogo repentino das emboscadas, capaz de resistir a qualquer massacre. Até que um dia ela, essa minha loucura, se moveu dentro de mim, entre silêncios e estrondos, para me tornar mais feroz do que tudo quanto nos feria e nos matava na guerra”.

E conta uma história, durante uma operação intersetaram gente que à cabeça carregava cestos, trouxas de roupa, sacos de farinha e arroz, decretou-se uma sentença de morte para alguns deles, era o olho por olho, dente por dente, ainda recentemente tinham tido mortos e feridos no pelotão de Mariano Franco. Bem podiam ter dado voz de prisão a uma vintena ou até um pouco mais daqueles carregadores do mato e trazê-los para Bissau, o general Spínola até podia atribuir uma condecoração, daquelas que eram dignas do 10 de junho. Mas Mariano tinha sede de sangue, estava turvado pela vindicta, ordenou que lhe reservassem um prisioneiro só para ele. O prisioneiro, um carregador do mato, dir-lhe-á, pensa ele em imaginação: “Branco colono, tuga militar, traficante de escravos, limpa-retretes do Salazar, capataz do fascismo português em África!”. E continua: "ele a tratar-me por esclavagista e por colonizador, veja, estando eu na Guiné a arriscar a vida civilizadora de tantas etnias da pretalhada: mandingas, manjacos, fulas, papéis, balantas, bijagós, felupes, uns macacos do inferno que cuspiam no prato que se lhes dava a comer!”.

E avançam para um penhasco, do cimo do qual se precipitava um barranco fundo. O prisioneiro continua a fazer frente ao torcionário, já descontrolado preparou-se para o degolar, e foi Pires, o seu guarda-costas que se atirou ao prisioneiro de catana em punho, despachou-o com uma guilhotinada na nuca. “Voou-lhe uma rodela do casco traseiro da cabeça. E empurrou-o para o abismo. O corpo guinou, deu meia volta no ar e ainda se voltou para mim, parecia que o comissário da guerrilha pretendia olhar-me uma última vez nos olhos e acusar-me do meu crime de guerra. Não sinto culpa nem remorsos de nada. A minha ideia de pátria multicontinental começou a morrer aí. E acabou de vez no meu regresso ao país anterior, não este; o que me mandou morrer e matar para defender o que nunca fora meu”. Mariano Franco guarda alguns cadernos onde fez o inventário dessa guerra que teima em não lhe sair da pele. “A minha guerra pessoal amarrei-a com uma mordaça em cinco cadernos escritos à mão. Depois de a escrever, expulsei de mim o espírito do mal que me possuíra. Pude voltar a dormir, sem pesadelos nem sonhos, sem novos regressos a África por entre suores ardentes e sobressaltos, a boca seca e as goelas a arder, com uma sede de tísico a meio da noite, e eu afinal deitado na minha cama”.

É o troço da obra de João de Melo menos inspirado, tudo aquilo é um cenário de papelão, não procurou informação condigna sobre o terreno da Guiné, senão não teria inventado aqueles precipícios e abismos que seguramente viu em Angola, quando por lá andou, e que não existem na Guiné, o que há de mais elevado é na região do Boé, umas elevações raquíticas, inadequadas à fantasmagoria que ele criou. Acresce que não há nada de novo, é uma escrita mastigada, em que se rebuscam violências, cabeças empaladas, gente sanguinária a dar com um pau. Mesmo a imagem do guerrilheiro resistente, convertido em mártir, é aqui excessivo e postiço, e João de Melo socorre-se de frases destemperadas, do género: “Tinha pela frente o meu Gungunhana, novo imperador de Gaza: tão soberbo quanto ele perante o Mouzinho ao mandá-lo sentar-se no chão, a seus pés, e ele a recusar dizendo que não se sentava. Porque não? Porque o chão estava sujo! Assim via eu esse homem à minha frente, de pé, qual feiticeiro da tribo, de rosto levantado, a olhar de alto para mim. Eram sobretudo os olhos que me desafiavam. Os olhos, os olhos. Sanguíneos, na expetativa de um desvario na cobardia dos meus atos”.

É um belíssimo romance, bom será que em novas edições este ridículo episódio guineense seja totalmente retocado para ser digno de caber num romance onde se fala de alguém que viveu as asperezas de uma vida operacional, mas sem os delírios, os precipícios e os abismos que não houve na guerra e continua a não haver no espaço físico da Guiné.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 6 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24123: Notas de leitura (1561): Curiosidades guineenses no fundo do baú (Mário Beja Santos)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24085: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (37): Sentimentos que a farda militar encobre


1. Em mensagem de 18 de Fevereiro de 2023, o nosso camarada José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), enviou-nos mais uma das suas Histórias e Memórias, desta vez relacionada com as trágicas e traiçoeiras minas.


MEMÓRIAS E HISTÓRIAS MINHAS

37 - Sentimentos que a farda militar encobre

Nos últimos tempos, por razões que para aqui não interessam, tenho estado afastado da escrita, mas continuo atento. O tema “minas” tem-me chamado a atenção não só pelo desaparecimento prematuro de vidas e, como não podia deixar de ser, pela destruição da qualidade de outras, que se prolongaram nos tempos.

A CCaç 3327/BII17, companhia que integrei até ser transferido para o Pel Caç Nat 56, também teve o seu malfadado encontro com aqueles engenhos na zona de Bissássema. Vou deixar que a História da Unidade fale por si na descrição dos acontecimentos e, mais importante que tudo, integrar os sentimentos que então assolaram o Fur Mil Luís José Vargem Pinto, comandante da 3.ª Seccão, do 4.° GComb, do qual eu também fiz parte. Acrescento aqui que na altura deste acontecimento eu já tinha sido transferido para o Pel Caç Nat 56.

Na História da Unidade (CCaç 3327/BII17) – CAP II, FASC XI – PAG 25 é possível ler-se uma descrição bem elucidativa do que aconteceu naquele dia 16FEV72. Os elementos feridos não faziam parte da CCaç 3327. A sua presença no local deveu-se à proteção que fizeram ao comandante do Batalhão de Tite que entendeu deslocar-se ao local do rebentamento e, segundo testemunhos de militares da 3327, por pouco não pisou uma das minas.

Este foi o estado em que ficou o pontão destruído pelo PAIGC. Sem dúvida que foi uma grande carga explosiva. Foi à volta destes escombros que foram implantadas as minas que o Furriel Pinto levantou.

Em 2011, aquando do convívio da CCaç 3327, realizado no BII17, na ilha Terceira, o Fur Mil Pinto presenteou-me com uma pequena descrição daquilo que tinha sido a sua acção no levantamento das minas e os sentimentos que então o assolaram para tomar tal decisão. Importa realçar que toda a sua acção envolve à volta dos mais altos princípios humanos e desprezo total por aquilo que lhe pudesse acontecer.

Pela pena do FurrielMil Pinto:
“...Quando levantei as minas não foi pensando no dinheiro, nem sequer sabia que pagavam 1000 escudos cada mina levantada. Em primeiro lugar pensei que não podia deixá-las no terreno, porque alguma noite podia ser necessário passar por lá e pisar alguma, aí, adeus ó perna.
Em segundo lugar pensei na população, se ficassem no trilho quando alguém por lá passasse iam acioná-las e aí seria o rebentamento com perdas irreparáveis.
Rebentá-las no sítio não era possível, o inimigo sabia à distância a nossa posição.
Portanto decidi levantá-las e levá-las para o quartel.
Quero agradecer ao nosso comandante a confiança que depositou em mim como graduado e aos homens por mim comandados para uma missão tão difícil.”

Convívio no BII17, Angra do Heroísmo, Terceira, Açores, ano de 2011. Eu (à esquerda) com o Fur Mil Pinto.

Um abraço transatlântico
José Câmara

____________

Nota do editor

Último poste da série de 1 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22056: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (36): Um levantamento de rancho servido com uma bofetada

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23874: História de vida (50): sinto-me muito realizada e feliz por ter sido uma simples enfermeira e, durante a guerra, enfermeira paraquedista (Rosa Serra) - Parte III: Relembrando o enorme prazer de saltar de paraquedas (e os meus instrutores, srgt Nogueira e cap Cordeiro)... O último salto que fiz, foi em dezembro de 1973, quatro meses antes de passar à disponibilidade


Cópia do documento atestando a atribuição do grau de Cavaleiro da Ordem de Benemerência 
à alferes enfermeira paraquedista Maria Ivone Quintino dos Reis, em 28 de fevereiro de 1962.  O original foi doado ao museu do RCP (Regimento de Caçadores Paraquedistas), em Tancos.


Foto (e legenda): © Rosa Serra (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Rosa Serra, em Ponte de Lima,
24 de agosto de 2020.
Foto: António Mário Leitão (2020)


 1. A Rosa Serra, natural de Vila Nova de Famalicão,   fez o curso de enfermagem no Porto, tendo aí conhecido a veterana Maria Ivone Reis (1929-2022), em 1967,  quando esta andava a recrutar jovens enfermeiras para a FAP (*). Fez o 45.º curso de paraquedismo, sendo "brevetada" em 13 de março 1968. Foi graduada em alferes enfermeira paraquedista.  

Conheceu os três teatros de operações da "guerra do ultramar": Guiné 1969-70, Angola 1970-71, e Moçambique 1973. Passou  à disponibilidade em 1 de março de 1974. Tem sido, juntamente ccom a Maria Arminda Santos e a Giselda Pessoa,  uma das mais mais ativas e profícuas autoras de textos sobre a história das enfermeiras paraquedistas e as suas protogonistas. 

Vive em Paço de Arcos, Oeiras. É membro da nossa Tabanca Grande desde 25/5/2010. É coordenadora literária e coautora do livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", 2.ª edição, Porto, Fronteira do Caos, 2014, 439 pp. 

Está a ultimar um livro com a sua história de vida como enfermeira e enfermeira-paraquedista. Como "aperitivo", estamos a reproduzir aqui, por cortesia sua, um texto inédito seu, de 21 páginas, que nos chegou às mãos através de um amigo e camarada comum, o Jaime Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970-72) (**), membro da Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo), Lourinhã.



Rosa Serra, ex-alf enf paraquedista
(Guiné, 1969/79; Angola, 1970/71;
Moçambique, 1973)


História de vida (excertos): sinto-me muito realizada e feliz por ter sido uma simples enfermeira e, durante a guerra, enfermeira paraquedista (Rosa Serra)

Parte III:  Relembrando o enorme prazer de saltar de paraquedas (e os meus instrutores, srgt Nogueira e cap Cordeiro)  ... O último salto que fiz,  foi em dezembro de 1973,  quatro meses antes de passar à disponibilidade

E continuei seguindo a ordem das perguntas, agora sobre as desilusões (**) que expliquei não ser no plano pessoal, mas que foi nesta passagem pela Força Aérea, que despertei para os interesses de algumas pessoas, uma delas que serviu mal a Força Aérea, mas aproveitou-se bem dela, com incapacidades falsas, dadas por médicos sem escrúpulos, e que todos nós pagámos com os nossos impostos, para essa pessoa estar isenta de IRS com uma alta incapacidade há mais de quarenta anos.

É a única mulher “combatente” na lista dos deficientes das Forças Armadas, dos antigos combatentes da guerra do Ultramar Português. Desculpem a expressão, é uma “ovelha tresmalhada”, para nossa tristeza e desilusão, que não pode servir de exemplo para ninguém.

É triste ver uma nossa enfermeira, sempre saudável, que ignora os princípios éticos, inerentes à sua profissão, a Enfermagem.

Foi ainda como enfermeira paraquedista que despertei para muitos outros interesses que me escandalizaram:  caso dos Açores.

Sempre achei estranho situar-se na Ilha Terceira, um minúsculo hospital, rotulado como Hospital da Força Aérea, existindo apenas nessa ilha uma única Unidade Militar (BA 4) que, se algo acontecesse aos jovens militares, poderiam recorrer ao hospital civil, de Angra do Heroísmo, enquanto que no Continente existiam várias Bases Aéreas espalhadas pelo País, e sem qualquer hospital desse Ramo.

Os militares da Força Aérea só poderiam ser tratados ou socorridos no Hospital Militar da Estrela.

Nesta ilha açoriana existia um médico, salvo erro graduado em tenente coronel, que,  ao saber da existência de enfermeiras paraquedistas e sendo amigo do Diretor do Serviço de Saúde da Força Aérea em Lisboa, pediu a este se poderia enviar duas delas aos Açores, pois gostaria de as conhecer.

O Senhor Diretor assim fez, enviou duas enfermeiras que, ao chegarem lá, arregaçaram as mangas e com o seu profissionalismo, deram uma volta tal à orgânica, dos fracos serviços de enfermagem lá prestados, que o sr. Diretor gostou tanto que avançou logo com novos pedidos, ao seu amigo de Lisboa. Como os argumentos que iria usar, acreditava ele, que o Diretor de Lisboa não iria recusar.

A primeira proposta foi para que as enfermeiras paraquedistas, após o curso de paraquedismo e como forma de adaptação aos Serviços de Saúde Militar, passassem a fazer um estágio no Hospital da Terra Chã e só depois seguiriam para o Ultramar.

(Note-se: nessa altura havia uma enfermeira que quando se candidatou a paraquedista, desempenhava as suas funções no Serviço de Urgência do Hospital Central da Cidade onde trabalhava e, pasmem-se, também essa foi fazer estágio aos Açores no pequeno hospital da Ilha Terceira. Enquanto que o primeiro curso de Enfermeiras Paraquedistas, após concluído o curso de paraquedismo, foi fazer um estágio no Serviço de Urgência do Hospital de S. José. Espantados…? Eu também.)

Voltando ao nosso Diretor da Terra Chã:  pouco tempo depois, deparou-se com um obstáculo, houve anos em que nenhuma enfermeira se candidatou a Enfermeiras Paraquedista.

Esperto como era, o Senhor Diretor dos Açores apresentou nova ideia ao seu amigo de Lisboa:  

–  Senhor Diretor do Serviço de Saúde da Força Aérea Portuguesa  argumentou ele –, coitadas das nossas enfermeiras, com um trabalho tão desgastante no Ultramar, bem merecem descansar nesta pequena, pacata e linda Ilha Açoriana durante uns tempos.

E para lá foram descansar algumas. Mas,  como em tudo, há sempre alguém que não está na Força Aérea para fazer favores a este tipo de pessoas, até que chegou o dia em que o sr. Diretor de Lisboa informou essa enfermeira que teria de ir para os Açores.

Essa senhora enfermeira foi, mas apenas para arranjar argumentos suficientes para nunca mais lá pôr os pés. Passado pouco tempo da sua estadia na bela Ilha Açoriana, a mesma enfermeira foi à BA 4,  pediu uma viagem para Lisboa e apresentou-se na Direção do Serviço de Saúde da Força Aérea em Lisboa, colocando os seus motivos para não voltar aos Açores.

Perante os argumentos apresentados,  o sr. Diretor do Serviço de Saúde da Força Aérea de Lisboa ligou logo para a  ilha, informando o seu amigo e lamentando que a dita enfermeira tinha argumentos demasiado fortes para não ir para os Açores. E acrescentava que, de facto, as enfermeiras paraquedistas, não tinham sido  criadas para essas funções.

O diretor Açoriano, com a sua prepotência, barafustou até se cansar e rematou que não era a sra. enfermeira que se recusava, era ele que não a queria lá, pelo seu mau feitio.


A então ten enf pqdt Ivone Reis,
em Cacine, 12/12/1968. Nasceu
em 1929, faleceu em 2022.
Foto: António J. Pereira
da Costa
 (2013)



Como curiosidade, que eu saiba, do primeiro curso de enfermeiras paraquedistas foi esta a única enfermeira paraquedista que,  no ano seguinte após concluído o curso de enfermeiras paraquedistas, lhe foi atribuído o grau de Cavaleiro da Ordem de Benemerência,  dada pelo sr. Presidente da República Américo Tomás, visto e registado a fl. 109 L.2 Decreto de 28 de fevereiro 1962, publicado no Diário do Governo nº 73, 2ª série de 27/3/1962, Expedido pelo Chancelaria das Ordens Portuguesas aos 3 de abril, de 1962, nº 1588. Por tanto cerca 6 meses depois, do primeiro curso de Enfermeiras Paraquedistas terminar a meio de agosto de 1961.

Em cima  a foto do respetivo diploma cujo original foi oferecido para o museu do 
Regimento de Caçadores Paraquedistas (RCP), em Tancos, no dia 15 de outubro de 2022.

Entretanto o  RCP, em Tancos, que tinha uma elevada noção de guerra, sabia que os primeiros socorros em terra, mesmo antes do Helicóptero de Socorro chegar, são importantes e, como tropa organizada e inteligente que é, teria de ter sempre alguém capaz para analisar qualquer situação, como: proteção à clareira onde o Helicóptero pudesse aterrar em segurança, assim como alguém devidamente preparado, que prestasse os primeiros socorros aos seus camaradas feridos, até esta aeronave chegar e os levar para o hospital.

A Direção do Serviço de Saúde da Força Aérea apenas se preocupava com os ditos “enfermeiros” da Força Aérea, que nos Açores aprendiam a dar comprimidos, injeções e a desinfetar pequenas escoriações e com fracas noções de assepsia.

Os paraquedistas resolveram a sua questão, não deixando que a Direção de Saúde da Força Aérea de Lisboa resolvesse o seu problema. Assim, nomearam enfermeiras paraquedistas, em anos diferentes para,  no próprio Regimento,  darem um Curso Avançado de Primeiros Socorros aos seus camaradas paraquedistas, acompanhando-os no respetivo estágio feito no Hospital Militar Principal em Lisboa.  

E os socorristas Paraquedistas ficaram mais bem preparados, e de forma mais adequada e mais eficaz, para poderem cuidar dos seus camaradas quando feridos ou doentes, até o Helicóptero chegar e os levar para o hospital.

Deixaram assim os “enfermeiros” da Força Aérea, sossegados nas suas Bases Aéreas,  a fazerem precárias tarefa tal como lhes ensinaram.

Foram três enfermeiras paraquedistas que, em anos diferentes, foram nomeadas para darem formação adequada aos seus camaradas socorristas paraquedistas e os acompanharam no seu estágio no Hospital Militar da Estrela em Lisboa.

Quando chegou a minha vez, após dar à formação aos nossos socorristas paraquedistas, com respetivo acompanhamento do estágio feito no Hospital Militar da Estrela, aproveitei e formulei um pedido ao nosso comandante, sr. coronel Fausto Marques, autorização para fazer o curso de instrutores e monitores, tal como a enfermeira Manuel França o tinha feito 2 ou 3 anos antes. 

Fui autorizada e concluí-o com muito gosto. Fiz este curso apenas pelo prazer de saltar e considero ter sido mais um contributo para o meu próprio equilíbrio. Devo este prazer de saltar ao meu instrutor do curso de paraquedismo, na altura o senhor sargento pqdt Nogueira, meu querido instrutor, que me estimulou o prazer de saltar.

Sempre me disse que eu saltava muito bem da torre e por isso podia perfeitamente tirar partido desses momentos mágicos que os saltos nos proporcionam. Dizia-me ele; 

–   Primeiro logo que larga a porta,  mantem o corpo recolhido e conta 232, 233, 234, que é o tempo para a calote se soltar do arnês e abrir. Depois é necessário verificar se todos os cordões não estão enrolados, e saber de que lado vem o vento. Com os pequenos minutos que lhe restam,  aproveita para olhar mais longe, ver o horizonte, ver a terra de cima. Depois certifica-se de que lado vem o vento e,  se necessário,  fazer trações, para que este não a leve para zonas não aconselhadas, evitando assim acidente.

Sempre fiz isso, tudo como ele me ensinou. Apenas me surpreendeu o silêncio, que o “escutei“ com surpresa e foi maravilhoso. Razão por que anos mais tarde pedi ao nosso primeiro comandante Fausto Marques, para fazer o curso de instrutores e monitores só pelo prazer de saltar. Foi meu instrutor neste curso o sr. capitão pqdt João Costa Cordeiro que, quando acabei o curso me convidou para um jantar em Abrantes com ele e com a sua esposa.

Fiquei tristíssima quando,  poucos anos depois,  ele foi para a Guiné e morreu num salto de queda livre.

Fiz vários saltos, sendo o último feito na Beira,  em Moçambique. quando de passagem para Lisboa, vinda de Mueda no fim da minha comissão, aguardando no BCP 32 pelos feridos, que vinham de Lourenço Marques. 

O primeiro foi um salto automático e,  acabada de chegar a terra e logo de seguida,  vi a filha do engenheiro Jardim, a Carmo, junto a um Helicópetro da Força Aérea,  equipada para fazer um salto manual, eu que estava junto de um paraquedista perguntei-lhe se havia um paraquedas para eu fazer um salto manual. Como foi buscar de imediato um, eu informei o piloto, que estava já dentro da aeronave,  que também eu ia saltar. 

Assim foi,  entrámos as duas, e a Carmo nem “tugiu nem mugiu", simpática pensei eu, mas ignorei a presença da dita filha do engenheiro Jardim, entrámos. Ela ficou mais perto da porta quando já estávamos numa altura suficiente,  já não sei a quantos metros de altitude, ela saltou e, de seguida, saltei eu. Foram os dois últimos saltos que dei e a última comissão que fiz. Fins de dezembro de 1973.

É de notar que nunca viemos como passageiras, mesmo em fim da comissão, sempre viemos prestando cuidados e assistência aos feridos durante toda a viagem até Lisboa.

(...) 

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Links / Titulo e subtítulo / Parênteses retos com notas: LG]

____________

Notas do editor:

(...) Muito recentemente, ao sair do Serviço de Urgência para o internamento do Hospital de Cascais, uma enfermeira jovem fez-me as seguintes perguntas: (i) quando resolveu ser enfermeira?;  (ii) nunca se arrependeu por ter escolhido enfermagem?;  (iii) onde trabalhou? (iv) quantos anos exerceu essa profissão?;  e (v) teve alguma desilusão ou desilusões?

Após a minha narrativa dos vários locais onde exerci a minha profissão, logicamente também referi que fui enfermeira paraquedista. A jovem, de olhos abertos de espanto, informou-me:

– O meu marido é militar paraquedista.

Sorri… (...)



(...) Perguntaram-me, no Hospital de Cascais onde estive recentemente internada, onde trabalhei, e ficaram admiradas, as enfermeiras, quando desfiei os vários locais e as experiências que tive durante quarenta anos.

Há um que deixou todas ainda com mais espanto. Foi o período em que estive na Força Aérea, como enfermeira paraquedista. (...)