Mostrar mensagens com a etiqueta CCAV 1617. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta CCAV 1617. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 3 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24114: Notas de leitura (1560): "Sons da Guerra Colonial", por Carlos Miranda Henriques; Edições Vieira da Silva, 2023 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Fevereiro de 2023:

Queridos amigos,
Não é usual alguém, mesmo solidário com amigos antigos combatentes, e com livro já publicado sobre a guerra colonial, pretenda homenagear aqueles jovens que andaram em diferentes teatros de operações, recolhendo múltiplos depoimentos, aliás não esquece em In memorium o José Eduardo Reis de Oliveira, que era para nós o Jero, de saudosa memória, temos aqui algumas histórias pícaras, tudo rescende ao feitiço africano, mesmo quando a narrativa está focada em dor e sofrimento. Uma iniciativa que nos merece muito respeito.

Um abraço do
Mário



Quando o escritor se arvora em recolector de guerras alheias

Mário Beja Santos

É, acima de tudo, uma antologia de muita escuta e camaradagem, um ajuntamento de pequenos textos elaborados por antigos combatentes nos três teatros de operações. Há narrativas assinadas sob pseudónimo, por vontade dos seus autores. São lembranças de uma juventude sofredora, observa o recolector, que tanto deu a Portugal sem regatear, sem nada exigir em troca: "Sons da Guerra Colonial", por Carlos Miranda Henriques, Edições Vieira da Silva, 2023. Iremos aqui cingirmo-nos aos relatos que se prendem com a Guiné, encontrei inclusive um nosso confrade, Belmiro Tavares.

Abre as hostilidades Carlos Matos Oliveira, capitão miliciano, recorda o telefonema de António Silva, cabo-enfermeiro da CCAV 1617/BCAV 1897, é telefonema que se repete pelo S. João, vem a propósito da operação Espadeirar, que se realizou no Oio em 23 de junho de 1967, quem comandava a operação era o capitão Alarcão, da CCAV 1616. Chegaram a um objetivo que era a base de Cã Quebo, na região do Oio; não houve resistência, encontrou-se uma pistola CESKA e duas granadas, seguiram pelo trilho que levaria à estrada Mansabá-Bissorã, aqui começaram os problemas, veio fogo de morteiros, o capitão foi ferido, o radiotelegrafista atingido mortalmente, sem que fosse avistado pelos camaradas, ficando no terreno com o rádio e os códigos; o autor foi ferido por um estilhaço de rocket, o enfermeiro dava-o como morto, respondeu-lhe com um palavrão. Lá se pediu ajuda à aviação. E remata a sua recordação dizendo que voltaram a Cã Quebo mais duas vezes, de lá saiu com estilhaços num braço e nas costas.

Augusto Silva, que foi alferes miliciano, vem contar o que passou com as formigas, não ficamos a saber em que lugar se deu a ocorrência, o que interessa é que houve uma emboscada durante um patrulhamento e o comandante do pelotão, o alferes Saldanha Antunes, ordenou que se abrigassem atrás de ninhos das formigas bagabaga; finda a emboscada, por ali andava o alferes Antunes aos berros com as ferroadas dolorosas das formigas nas partes íntimas…

A história seguinte remete-nos para a CCAV 5398, assina um tenente-coronel com as letras A. A., a unidade militar estava sediada entre Bafatá e Gabu, o comandante, capitão Crispim Malaquias acompanha uma força que vai fazer um patrulhamento ofensivo, perto do Senegal, começam a chover as morteiradas, quem abriu fogo está bem municiado, foi necessário pedir apoio aéreo, quando surge o Fiat, o piloto pede referências pois diz só haver dezenas de gazelas em fuga, há um soldado que solta um palavrão, é nisto que o piloto viu a saída do morteiro da força do PAIGC e foi até lá largar umas bombas, antes de se retirar para Bissau quis saber quem é que lhe tinha chamado uma certa insolência, semanas mais tarde haverá um encontro e o piloto dirá a quem o imprecou: “Deixa lá, a tua sorte é que eu não sou casado”.

Segue-se uma história intitulada A mão de vaca, tem a ver com uma unidade estacionada no Boé, aquela gente andava tão faminta de uma comida caseira quando um grupo veio de férias logo se lançou em busca de almoço, a ementa era escassa mas todos se sentiram feliz a pedir mão de vaca, e assim se conta:
“O odor da comida quase pronta já chegava ao nosso olfato e passados momentos a única empregada de mesa do restaurante depositava os três pratos pedidos de mão de vaca, e que era como descrevo: uma mão de vaca inteira em tamanho natural com os dois dedos do animal voltados para nós e que ultrapassava os limites da travessa-prato, tendo como acompanhamento uma pequena mão cheia de feijão branco. A surpresa foi tal que boquiabertos ficámos, sem palavras, mas passados minutos lá nos atirámos ao petisco que acabou por nos saber muito bem.”

Entra em cena agora o nosso confrade Belmiro Tavares, estamos em finais de abril de 1966, uma companhia é enviada de Bissau para Farim totalmente desarmada, ir-se-á recordar com bom humor do uso do capacete em toda a atividade operacional, alguém será salvo pelo seu uso e fala-se na madrugada de 3 de dezembro de 1965, a missão era na zona de Sanjalo, alguém se apresentou sem capacete, o alferes reponta, o cabo radiotelegrafista regressa devidamente equipado, há tiroteio pelo caminho, resultam três feridos que serão recambiados para Bissau de helicóptero, é no regresso que o cabo radiotelegrafista mostra ao alferes o capacete com um sulco com certa de quatro centímetros de comprimento e um milímetro de fundo, afinal o capacete salvava vidas.

Não falta uma história de amor, quem assina é J. Monteiro, furriel miliciano. Houve para ali uma patrulha acidentada, ao atravessar uma zona de palmeiral e bananal, uns babuínos faziam grande algraviada, atirava todo o tipo de projetos, não faltavam dejetos. Lá chegaram a uma tabanca e pediram água para se lavarem. Entra em cena uma menina de vinte anos, apresentada como uma beleza serena e africana, de pele castanha e com uns olhos enormes, vivos e muito pretos. A menina deu-lhe para a paixão e disse ao furriel que ele tinha que ir lá mais vezes pelo caminho dos macacos para ela o lavar. Paixão correspondida, passaram a viver juntos com discrição. Houve despedida sem rancores, despeitos ou mágoas:
“Dei-lhe o meu fio de ouro com um crucifixo de pendente, para que sempre se recordasse de mim. Coloquei-lhe no anelar da mão esquerda uma aliança de ouro que comprei em Bissau. Passados estes anos todos, continua viva dentro do meu coração, e quando faço oração peço a Deus que esteja feliz na sua Guiné.”

Belmiro Tavares foi engenheiro de pontes improvisado, o Capitão Tomé Pinto mandou reconstruir a ponte de Genicó, antes de partir para cumprir a missão andou a fazer uns gatafunhos, fizeram-se duas “cavas” de cerca de vinte centímetros de profundidade, derrubaram-se umas palmeiras, cujos troncos foram cortados à medida da largura do ribeiro, feita a ponte arranjou-se uma “placa de sinalização” a avisar que havia perigos de morte, ora colocaram-se ali umas granadas para fazer estragos, explosão houve, nunca mais os guerrilheiros, até ao fim da comissão da CCAÇ 675 procurou destruir a dita ponte de Genicó.

Esta antologia de narrativas alheias tão ternamente recolhidas termina com um conjunto de poemas de Carlos Miranda Henriques e de Augusto Silva. Uma bonita ideia, recolher depoimentos e fazer-nos recordar.


Belmiro Tavares
____________

Noita do editor

Último poste da série de 27 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24105: Notas de leitura (1559): Histórias Coloniais, por Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus; A Esfera dos Livros, 2013 - Pidjiquiti, 3 de agosto de 1959: para cada um a sua verdade (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8355: Memória dos lugares (156): Cutia em 1966, aquando do alcatroamento da estrada Mansoa-Mansabá (José Barros)

1. Mensagem de José Ferreira de Barros* (ex-Fur Mil At Cav, CCav 1617/BCav 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato, 1966/68), com data de 26 de Maio de 2011:

Caro amigo Carlos:
A Vida em Cutia não foi fácil.
A construção da estrada Mansoa-Mansabá deu-nos o suor pela testa.
O IN não nos largava.
As condições de habitabilidade também foram bastante difíceis.

Envio algumas fotografias de Cutia que farás com elas o que muito bem entenderes

Um grande abraço
José Barros


CUTIA, 1966 - ALCATROAMENTO DA ESTRADA MANSOA-MANSABÁ

Cutia, 1966 > Barreira de Controle de passagem de colunas de Mansabá-Mansoa, com vista do aquartelamento.

Cutia, 1966 > Cozinha de campanha

Cutia, 1966 > Forno onde se cozia o pão para a Companhia ali instalada

Cutia, 1966 > Lado da estrada para o abrigo

Cutia, 1966 > Visita do Comandante Chefe e Governador da Guiné ao aquartelamento. General Arnaldo Schulz acompanhado pelo Capitão Torres Mendes, CMDT da CCAV 1617

Cutia, 1966 > Traseiras do abrigo

Cutia, 1966 > Pavilhão do Refeitório. Ceia de Natal. O Comandante da CCAV 1697, Capitão Torres Mendes a dirigir algumas palavras de ocasião

Cutia, 1966 > Hora da refeição. Bicha de pirilau para ir à cozinha de campo buscar a paparoca porque ainda não tínhamos barracão para refeitório

Cutia, 1966 > Vista parcial da tabanca de Cutia. Do lado contrário ficava o aquartelamento. O alcatrão ainda aqui não tinha chegado.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8148: Convite (9): Amigo Frade junta-te a nós para partilhares, lembrares e reviveres histórias por que passamos naquela saudosa terra (José Barros)

Vd. último poste da série de 8 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8243: Memória dos lugares (155): Bedanda 1972/73 - A Mulher, Menina, Bajuda de Bedanda (2) (António Teixeira)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8148: Convite (9): Amigo Frade junta-te a nós para partilhares, lembrares e reviveres histórias por que passamos naquela saudosa terra (José Barros)

Na foto, Barros, Frade e Timótio


1. Mensagem de José Ferreira de Barros* (ex-Fur Mil At Cav, CCav 1617/BCav 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato, 1966/68), com data de 21 de Abril de 2011:

Amigo Carlos Vinhal
Obrigado pelo mail com o comentário do Luís Frade, companheiro e amigo na CCav 1617.

Aí vai um pequeno texto para o Frade com uma fotografia, que publicarás ou não, e farás as correcções e alterações que achares por bem.

Meu amigo, e companheiro de alegrias e infortúnios em terras de Mansoa, Cutia e Mansabá.

Frade, foi com alegria e comoção que li o teu comentário no blogue Tabanca Grande, e lembro-me perfeitamente de ver o telhado de zinco a voar pelo ar.
Pelo que me tenho apercebido, visitas o blogue com alguma frequência, e por isso mesmo estou daqui a fazer-te o convite, para te inscreveres como membro desta grande família que é a Tabanca Grande. É tão fácil e fica barato!

Amigo, junta-te a nós, para nos podermos encontrar mais vezes e partilhar, lembrar e reviver histórias por que passamos naquela saudosa terra.

A fotografia que junto é em Mansabá ou Cutia? Tenho a impressão que é Cutia.
Espero poder encontrar-te no próximo 21 de Maio em Castanheira de Pêra no convívio anual do Batalhão.

Um grande abraço e uma Santa Páscoa para todos.
José Barros


2. Notas do editor:

i - Comentário deixado no Poste 7940 a que se refere o nosso camarada José Barros:

José Barros, lembras que ficámos uma noite em Brá e que nessa mesma noite um tremendo tornado nos levou os telhados de zinco onde dormimos? Só depois seguimos para Mansoa!
Lembro com saudade tudo que descreves!
Sou o Luís Frade Furriel de Transmissões da CCAV 1617. Aquele que o Cap. Torres Mendes não gramava mas que temia.
Abração
Luís Frade

ii - O seu a seu dono.
Quem reencaminhou o comentário do camarada Luís Frade para o tertuliano José Barros foi o editor Luís Graça.

iii - Convite a Luís Frade

Caro Luís Frade, reforçando as palavras do teu camarada da "1617", e nosso tertuliano, José Barros, convido-te também a te juntares a nós e à nossa missão de deixar as nossas memórias publicadas neste suporte internáutico que é o Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.
Selecciona uma foto do teu tempo de tropa e outra actual, escreve uma pequena história, se quiseres acompanhada com fotos legendadas, e envia para que te possamos apresentar à tertúlia.

Teremos o maior prazer em receber e publicar as tuas histórias e fotografias, contribuição que ficará a constituir património do Blogue, disponível para no futuro se poder recolher elementos, quiçá, para contar a história da guerra colonial no que diz respeito ao TO da Guiné.

Utiliza para o envio da tua correspondência preferencialmente o endereço luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com. Deverás utilizar conjuntamente o endereço de um dos co-editores constantes da página.

O co-editor
Carlos Vinhal
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8135: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (8): Um obrigado do fundo do coração a todos vós por me terdes aceite nesta grande família, fazendo avivar aquilo que há muito estava esquecido (José Barros, CCAV 1617, Cutia e Mansabá, 1966/68)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8135: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (8): Um obrigado do fundo do coração a todos vós por me terdes aceite nesta grande família, fazendo avivar aquilo que há muito estava esquecido (José Barros, CCAV 1617, Cutia e Mansabá, 1966/68 )



Guiné > Região do Oio > CCAV 1617 (Cutia  e Mansabá, 1966/68)  > Cutia > 1966 > José Barros à conversa com bajuda a lavar a roupa... A CCAV 1617 esteve aquartelada em Cutia até a construção da estrada Mansoa - Mansabá. Pertencia ao BCav 1897  (Nov 66 / Ago 68)




Guiné > Região do Oio > CCAC 1617 (Cutia  e Mansabá, 1966/68)  > Cutia > 1966 > José Barros no interior da tabanca com miúdos 


Guiné > Região do Oio > CCAC 1617 (Cutia  e Mansabá, 1966/68)  >  1866 > Binta é o nome da senhora... 

Fotos (e legendas): © José Barros (2011). Todos os direitos reservados


1. Mensagem de  José Barros (ex-Fur Mil At Cav, CCav 1617/BCav 1897, MansoaMansabá e Olossato, 1966/68), com data de ontem,  relativa ao nosso 7º aniversário do nosso blogue:

 Caros camaradas e amigos editores:


É com alegria e satisfação que aqui estou como um dos membros mais novos desta fabulosa Tabanca, a felicitar-vos pelo magnífico trabalho que tendes desenvolvido ao longo destes sete anos.

Um obrigado do fundo do coração a todos vós por me terdes aceite nesta grande família, fazendo avivar aquilo que há muito estava esquecido.

É fantástico verificar que somos quase 500 tabanqueiros que nos juntamos e partilhamos histórias, emoções e recordações, daquela terra que nos levou alguns anos da nossa vida, mas à qual ficamos ligados para sempre, não apenas à terra, mas também as suas populações, onde decerto fizemos amigos.

Que o Senhor Jesus vos dê a todos vós muita saúde e alegria para poderdes continuar a manter esta chama viva por muitos e longos anos.

Junto algumas fotografias de Cutia, entre elas de uma senhora com um menino ao colo,  de nome Binta, que recordo com saudade pela força que me deu. Nunca esquecerei que um dia me disse: 
- Furriel, bo não fica triste, tempo passa depressa e bo vai para casa. 

São pequenas coisas como estas que nos fazem amar a Guiné e as suas gentes.

Parabéns e um abraço para todos

José Barros
_______________

Nota do editor:

18 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8127: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (7): Estimado Blogue, passados apenas 7 anos acolhes quase 500 ex-combatentes (Manuel Marinho)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8064: O meu baptismo de fogo (24): Num ataque de... formigas (José Barros)

1. Mensagem do nosso camarada José Barros (ex-Fur Mil Atirador de Cavalaria, CCav 1617/BCav 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato, 1966/68), com data de 4 de Abril de 2011:

Caro amigo e camarada Carlos Vinhal
Envio uma pequena história do meu tempo de “periquito” a que dei o nome de Baptismo de fogo.

Junto ainda fotografias de Mansoa e Cutia, que farás com elas, e com o texto, o que bem entenderes.



O meu baptismo de... formigas


Cutia, 1966-68 > Estes eram os homens da minha Secção.

Às primeiras horas da manhã de um certo dia de Novembro de 1966, tudo apostos para mais uma operação de treino operacional.

Saímos do quartel em fila indiana na direcção da mata, não me recordo que sentido seguimos.

À frente ia um Pelotão de Milícias, seguidos pelos elementos da Companhia dos “velhinhos” que nos iam dando algumas dicas sobre os perigos que poderíamos encontrar.

Andámos horas e horas pelo meio da mata, até que saímos do mato e entrámos numa bolanha, que na época estava seca. Caminhávamos há já algum tempo, quando reparo que em determinado local os homens da frente davam um salto, e toda agente a seguir chegava aquele local e saltava.

No lugar onde seguia não era visível nenhum obstáculo. Ia perguntando a mim mesmo o porquê daquele salto!

Não demorou muito para ficar a saber o porquê de tal salto.

No momento em que me aproximo do local, rebenta uma emboscada vinda da orla da mata. Vai toda a gente de imediato para o chão e vira fogo contra o IN.

Secretária improvisada para escrever o meu primeiro bate-estradas para minha mãe

Eu não fugi à regra, também fui para o chão, mas nem um tiro dei. Mal caí fui atacado por uma enorme quantidade de formigas, que imediatamente se meteram pelo camuflado dentro e foram alojar-se nas zonas mais sensíveis do corpo, nomeadamente nos “ditos cujos”. O desespero era tanto que nem conta dei da emboscada ter acabado. Os camaradas que seguiam junto a mim, nomeadamente o pessoal da minha Secção, fartaram-se de gozar com o sucedido durante algum tempo.

Continuamos o nosso caminho de regresso ao aquartelamento. As dores e o desespero lá foram desaparecendo com o decorrer do tempo.

Chegado ao aquartelamento, fui tomar banho. Espanto dos espantos! O raio das formigas estavam mortas, mas com as suas tenazes cravadas na pele. Tive que as catar como quem cata piolhos.

Nunca soube qual o nome dessa formiga. Sei apenas que era uma formiga preta e pequena.

Foi este o meu baptismo de fogo. Não fiz fogo, mas sofri a bom sofrer com as malfadadas formigas.

Um grande abraço
José Barros
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7984: Memórias de Mansabá (11): A construção da estrada Cutia-Mansabá e a defesa dos seus pontões (José Barros)

Vd. último poste da série de 24 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3511: O meu baptismo de fogo (23): Uma vacina para o enjoo... (António Paiva)

terça-feira, 22 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7984: Memórias de Mansabá (22): A construção da estrada Cutia-Mansabá e a defesa dos seus pontões (José Barros)

1. Mensagem de José Ferreira de Barros* (ex-Fur Mil At Cav, CCav 1617/BCav 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato, 1966/68), com data de 18 de Março de 2011:

Caro camarada e amigo Carlos Vinhal:
Obrigado pela rectificação do nome da zona do pontão.

Junto uma fotografia de um dos pontões rebentado pelo IN. A esta distância já não consigo dizer se era o de Mamboncó ou algum dos anteriores.
Durante muito tempo foi o pão nosso de cada dia. Nós construíamos, eles destruíam, era o jogo do rato e do gato.

Já depois da estrada toda construída até Mansabá, o rebentamento do pontão de Mamboncó era frequente.

Ouve necessidade de ter naquela zona uma actividade operacional muito grande, sobre tudo emboscadas. Eram feitas por um Grupo de Combate que era rendido de oito em oito horas, durante muitas semanas. Foi um período muito desgastante para a nossa gente. Nesta actividade nunca tivemos feridos, mas houve muita “pólvora”.

Junto ainda duas fotografias da entrada de Mansabá que farás com elas e com a do pontão aquilo que bem entenderes.

Obrigado pela foto do memorial do meu Batalhão. Penso que foi construído na traseira do edifício do Comando.

Já agora, não te querendo maçar, gostaria de saber se a história do menino JM contada por um camarada que andou por aquelas andanças nos anos 65/67, não esteve em Mansabá com a CCav 1617 e por conseguinte com o BCav 1897.

Um grande abraço de amizade para ti e para todos os camaradas.
J.Barros


Um dos vários pontões existentes ao longo da estrada Cutia-Mansabá.

Tanto quanto me lembro, uma vez que não foi enviada legenda para esta foto, a casa que se vê à esquerda era o estabelecimento da Casa Gouveia que tinha como gerente um cabo-verdiano que nos deixava nervosos sempre apanhava boleia nas nossas colunas para se afastar de Mansabá. Dá para perceber. Lá ao fundo na confluência da estrada para Farim, ficava o abrigo do Castelo.
Fotos © José Barros (2011). Direitos reservados  de José Barros
Legendas de CV

Localização do Memorial do BCAV 1897, localizado junto ao Refeitório dos Praças que no tempo desta Unidade talvez ainda não tivesse sido construído.
Foto © César Dias (2011). Direitos reservados.
Legenda de Carlos Vinhal
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 – P7974: Blogpoesia (121): Canção ao Lavrador Desconhecido, de António Cabral (José Barros)

Vd. último poste da série de 18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7811: Memórias de Mansabá (10): Fotos da bolanha de Mansabá, a nossa praia (Ernesto Duarte)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7940: Tabanca Grande (270): José Ferreira de Barros, ex-Fur Mil da CCAV 1617/BCAV 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato (1966/68)

1. No dia 10 de Março recebi esta mensagem do nosso camarada José Barros, ex-Fur Mil da CCAV 1617/BCAV 1897:

Sou um ex-Fur Mil da CCav 1617 do BCav 1897. Gostava de fazer parte desta grande família. O que devo fazer?
Um abraço amigo.

Junto uma foto da construção da estrada Cutia-Mansabá.

Frente de trabalho da construção da estrada Cutia/Mansabá
Foto: © José Barros (2011). Direitos reservados

Localização (aproximada) do destacamento de Cutia na estrada Mansoa/Mansabá


2. No dia 11 de Março enviei ao nosso novo camarada esta mensagem:

Caro camarada e amigo José Barros
Muito obrigado pelo teu contacto.
Começo por justificar a palavra amigo, já que camaradas somos de certeza.
Pela foto que envias, deduzo que fizeste parte das forças de protecção aos trabalhos de construção da estrada entre Cutia e Mansabá.
Eu fui um dos passantes nessa estrada nos anos de 1970 a 1972, com algum conforto e segurança, graças ao teu esforço e ao dos teus camaradas. Estive em quadrícula em Mansabá durante 22 dos 23 meses de comissão na Guiné. És meu amigo, desde já por isso.

Para fazeres parte da nossa tertúlia, envia-nos por favor uma foto actual e outra do tempo de tropa, em formato JPEG, tipo passe, se possível.

Queremos que nos digas quando embarcaram e quando regressaram, qual a vossa Unidade, por onde andaram na Guiné, o teu posto, Especialidade e tudo o mais que nos possas contar. Poderás fazer um pequeno resumo da tua actividade que servirá como apresentação à tertúlia. Nada de muito elaborado porque somos pessoas simples como verás.

Fico a aguardar o teu novo contacto.

Recebe um abraço do camarada e amigo
Carlos Vinhal


3. No dia 13 de Março tivemos novo contacto do nosso camarada:

Caro camarada e amigo Carlos Vinhal:
Obrigado pela amabilidade das tuas palavras.

Sou:
José Ferreira de Barros, casado, natural de Godim – Peso da Régua.
Vivo em Vila Real há já 41 anos.
Tenho 68 anos e sou pai de três filhas.
Actor reformado.

Fui:
Fur Mil Atirador de Cavalaria. (carne para canhão)
Pertenci à CCav 1617/BCav 1897 que esteve em Mansoa, Mansabá e Olossato de Novembro de 1966 a Agosto de 1968.

A CCav 1617 saiu de Alcântara no “Ana Mafalda” em 30 de Outubro de 1966, tendo chegado ao porto de Bissau em 4 de Novembro, seguindo nesse mesmo dia em coluna militar para Mansoa, onde ficou aquartelada até à chegada do restante Batalhão que terá acontecido duas ou três semanas depois.

Depois dos periquitos terem recebido algum treino operacional dado pelos “velhinhos” foram assim distribuídas as companhias:

CCAV 1615, CCS e comando – Mansoa
CCAV 1616 – Olossato
CCAV 1617 – Cutia, onde ficou aquartelada até a construção da estrada Mansoa - Mansabá.

Quando a construção da estrada chegou mais ou menos ao pontão de Macombo “se a memória me não falha”, esta Companhia passou para Mansabá onde se encontrava há já algum tempo a CCS e o Comando.

O Batalhão regressou à Metrópole em 2 de Agosto de 1968.

Obrigado a vós editores e a todos os que não deixam apagar da memória o que a nossa geração sofreu e continua a sofrer.

Um grande abraço para todos.

Aqui vão as fotos de um menino e moço e as de um “Velho” alegre e dinâmico com muita vontade de viver sempre com um sorriso nos lábios mesmo nos momentos difíceis.


4. Comentário de CV:

Caro José Barros
É um bom tema para o blogue o testemunho dos camaradas da década de 60, principalmente daqueles que participaram na protecção aos trabalhos de construção de estradas alcatroadas, que tiveram um incremento nessa altura. Era notória a dificuldade na deslocação da tropa, assim como os reabastecimentos, ao longo de todo o TO mais ainda porque era fácil a instalação de minas anticarro nas estreitas picadas existentes, que ceifavam diariamente vidas e causavam muitos feridos graves.

Julgo que a tua Companhia levou a estrada até Mansabá, se não mesmo até ao Bironque. A minha Companhia participou, com outras forças, na protecção aos trabalhos de prolongamento e conclusão da estrada até à margem esquerda do Rio Cacheu, em frente a Farim. Esta importante localidade da Guiné ficou assim ligada por uma boa estrada até Bissau, numa distância superior a 100Km, em alternativa à perigosa ligação fluvial.

Na tua mensagem dizes que quando a estrada chegou ao pontão de Macombo a CCAV 1617 passou para Mansabá. Não quererias dizer Mamboncó?

Se clicares no nome das localidades sublinhadas, abrirás os respectivos mapas e poderás relembrar nomes de sítios por onde andaste.

Se quiseres colaborar na feitura das nossas memórias, particularmente no que respeita à zona por onde andámos, o Óio, manda as tuas fotos e textos com aquilo que ainda lembras para que possamos dar a conhecer à tertúlia e aos nossos leitores, que são muitos.

Antes de terminar, mando-te o abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores, e já agora, vê se te lembras do memorial que se vê nas duas fotos abaixo.

Recebe um abraço do camarada mansabense
Carlos Vinhal


Mansabá, 11OUT70 > Fur Mil Carlos Vinhal, Sold Avelino Gonçalves Pinto e Fur Mil Fernando Nunes no memorial do BCAV 1897 que assinala a sua passagem naquela localidade.
Foto: © Carlos Vinhal (2011). Direitos reservados



Mansabá, 10 de Março de 2008 > O mesmo memorial do BCAV 1897 fotografado pelo nosso camarada Carlos Silva
Foto: © Carlos Silva (2011). Direitos reservados
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7932: Tabanca Grande (269): Manuel Alberto Cunha Bento, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do CAOP Teixeira Pinto (1969/71)