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domingo, 2 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26452: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (51): Não é o Quinto... mas o Triplo Império: a praça, a pastelaria e o hotel...





Foto nº 1, 1 B e 1A >




Foto nº 2 e 2A >



Guiné-Bissau > Bissau > 2 de fevereiro de 2025, 12: 16 > Av Amílcar Cabral e Praça dos Heróis da Independência (até 1975, Praça do Império)... Do lado esquerdo, Café e Pastelaria Império e, em segundo plano, o Hotel Império.


Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]

1. Chapa do "Triplo Império", a praça p. d. (sem ofensa para os guineenses e muito menos para os heróis da independência), o hotel e o café e pastelaria... Tirada hoje mesmo, às 12:16, pelo nosso "embaixador em Bissau", Patrício Ribeiro... 

Digam lá,  quem tem um "embaixador" destes, apto (e pronto)  para todo o serviço ? Só lhe sugeri: "Patrício, quando puderes e se passares por lá....". 

É um privilégio, Patrício, uma honra... Deus no Céu e o Patrício em Bissau!... (*)

Está visto agora que o Jorge Pinto tirou a sua já famosa foto de agosto de 1974, "virado de costas" para o palácio do Governador, o monumento ao "Esforço da Raça" e a praça do Império, e apanhando o último  troço da velhinha Av da República (agora Av Amílcar Cabral, que também era republicano...). 

Repare-se (foto a seguir) que o fotógrafo e os militares em primeiro plano já estão com os pés na praça do Império (que era/é redonda)... A esplanada da Pastelaria Império, em L, dava para a Avenida da República e para a Praça do Império,




Foto nº 3 e 3A

Guiné > Bissau > s/l  
[Praça do Império] > Agosto de 1974 >  "Confeitaria" (pode ler-se no pendão ao nível do 1º andar) > Uma das mais concorridas esplanadas de Bissau, já no fim da guerra..  Foto do Jorge Pinto, ex-alf mil art, 3ª C/BART 6520 / 72 (Fulacunda, 1972/74). 

Os dois militares que aparecem de costas, eram do pelotão do Jorge. Hoje sabemos que esta "confeitaria" era/é a Pastelaria (e Café) Império (**)... No nosso tempo não existia era o Hotel Império (ver foto a seguir).

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]





Fonte: António Estácio (1947 - 2022) - "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., il,). Com a devida vénia... (***)
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Notas do editor:

(**) Vd. poste de 31 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26443: Fotos à procura de... uma legenda (192): Bissau, agosto de 1974: qual a mais famosa esplanada da cidade ? Café Bento ou cervejaria Solmar ? E esta foto é da 5ª Rep ou da Solmar ?

(***) Vd. poste de 7 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20322: Historiografia da presença portuguesa em África (184): Roteiro de Bissau: ainda as velhas e as novas toponímias, depois de 21/1/1975

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26448: Fotos à procura de...uma legenda (194): Pastelaria e Café Império, diz o Cherno Baldé, "comi lá em 1979 o primeiro bolinho de arroz"... E o Patrício Ribeiro confirma: "É o antigo Café Império, na praça do Império, onde hoje é o Hotel Império, o café é diferente mas continua a manter o mesmo nome, ainda hoje tomei lá o pequeno almoço"...




Guiné-Bissau > Bissau > Vista aérea > S/d > Assinalado a amarelo o café e pastelaria Império, na antiga Praça do Império (hoje, dos Heróis da Independència) (ao lado, o Hotel Império, e atrás, com maior volumetria, o Hotel Royal)

Foto: cortesia da página do Facebook da Society for The Promotion of Guinea-Bissau, una ONG,com sede em Bissau. Disponibiliza centenas de fotos da Guiné-Bissau de hoje. Merece uma visita. As fotos, em princípio, são do domínio público, não é indicada a sua autoria.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


Guiné-Bissau > Bissau >  Antiga Praça do Império (hoje, dos Heróis da Independência) > s/d > "Café Império, que hoje já não deve existir (ou transformou-se numa padaria e pastelaria, segundo lemos algues). Era local de encontro de muitos militares, durante a guerra colonial". Foto do álbum do Albano Costa, ex-1.º cabo at inf da CCAÇ 4150 (Bigene e Guidaje, 1973/74), fotógrafo profissional reformado (Guifóes, Matosinhos).

Foto (e legenda): © Albano Costa (2000).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > O "misterioso" estabelecimento comercial com esplanada, fotografado pelo Jorge Pinto, na véspera de regressa a Portugal... Alguns confundiram-no com o Café Bento, outros com a Cervejaria Solmar...A memória já não é o que era... Pormenor que podia ser uma pista: no pendão, ao nível do 1º piso, pode ler-se "Confeitaria" (e não "Continental", como sugere o Valdemar Queiroz)... 


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




1.  Alguns dirão que andamos aqui a discutir "o sexo dos anjos"...O mesmo é dizer, "conversa da treta" (*)...

A conversa quotidiana da generalidade dos seres humanos é sobre "coisas fúteis", do passado ou do presente.. Ninguém se interroga sobre o futuro... O passado e o presente conhecemo-los, mal ou bem... Temos uma narrativa "securizante", graças à nossa memória "seletiva"... O futuro, esse, não..., está carregado de incertezas. E a incerteza maior é a da hora e do lugar em que o "barqueiro de Caronte" nos vier buscar para a última viagem sem retorno...

Àparte esta reflexão melancólica (e meta...física!), lidamos mal com a incerteza... O futuro está fora da nossa zona de conforto...

Por isso, meus amigos, vamos lá continuar a decifrar o enigma (*): Café Bento ? Cervejaria Solmar ?... 

Nem uma coisa nem outra, dizem os mais "expertos" que calcorrearam a Bissau Velha do tempo colonial, à procura de uma bom vinho da "metrópole", de um bifinho com ovo a cavalo e batatas fritas, ou simplesmente de uma "bejeca" (como se diz hoje) para matar a malvada da sede (que na guerra e nos trópicos era a triplicar)...


2. O Cherno Baldé, que é hoje o "dono do chão", é perentório: 

"Ah!, tugas do caraças, o tempo não volta para trás...Mas se voltasse, vocês iriam parar de novo à Pastelaria Império, que ainda hoje existe com esse nome!... Ali na antuga Praça do Império onde se ergue o mamarracho de um monumento racista e colonista "Ao Esforço da Raça", inauguradio em 1945!... Escapou à fúria iconoclasta do Luís Cabral e dos seus rapazes paigecistas, todos filhos do colonislismo!...

Descolonizaram tudo, deitaram abaixo as estátuas dos vossos ilustres antepassadpos, mudaram a toponímia (rebatizada com os nomes dos grandes combatentes da liberdade da Pátria), arrumaram com os resquíscios todos dos velhos 'colóns0 (comoo diz o Rosinha),  decidiram por decreto que iriam construir um 'homem novo', segundo a Bíblia do Amílcar Cabral, mas continuaram a chamar 'Império' à pastelaria e ao hotel, junto à antiga Praça do Império, agora dos Heróis da Independència"...

De facto, a Pastelaria Império ainda hoje existe, com esse nome, e tem página no Facebook!...  Localização: Praça do  Império" (sic), Bissau, Guiné-Bissau, Telef +245 966 467 126...

E o Patrício Ribeiro acaba de o confirmar:

(...) Uma das fotos, mostra o antigo Café Império, na praça do Império, onde hoje é o Hotel Império, o café é diferente mas continua a manter o mesmo nome, onde hoje tomei o pequeno almoço, com vento e algum frio, 20º.

sábado, 1 de fevereiro de 2025 às 12:47:00 WET "(...)

Quanto à antiga Casa Esteves...,. " desde alguns anos é um banco. Perto do antigo Hotel Portugal, onde hoje funciona um Hotel, casino, bar e restaurante."


3.  Mais umas achegas da "malta-do-tempo-que-não-volta-p'ra-trás":

(i) Valdemar Queiroz :

Na última fotografia, aumentada, lê-se CONTINENTAL, no pendão na varanda da esplanada , pelo que os dois (militares) "já olham pro Continente” . 

sábado, 1 de fevereiro de 2025 às 13:43:00 WET 


(ii) Cherno Baldé:

Em 1979 aconteceu a minha primeira viagem a capital Bissau e, ainda lembro-me como se fosse hoje, o meu irmão trouxe-me a cidade que, já não era a mesma cidade do Gen. Spinola, mas ainda respirava-se um pouco do ambiente colonial, e na Pastelaria Império (na foto), deu-me a comer o meu primeiro bolinho de arroz e a seguir fomos assistir a um filme na então famosa UDIB, logo d'outro lado da Avenida da República/Amilcar Cabral. E, desde então nunca mais nos separamos salvo os anos de estudos no estrangeiro.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025 às 16:02:00 WET


(iii) Hélder Sousa:





(...) Tirei a minha carta de condução automóvel durante o ‘tempo da tropa’. Foi em Bissau, em Novembro de 1971.

Numa escola de condução ‘civil’, a “Escola de Condução Manuel Saad Herdeiros, Lda,” que se situava na Rua Tenente Marques Gualdes. À séria, com aulas de código e de condução pelas ruas de Bissau e também, já nas últimas lições, na estrada até ao aeroporto. O mais difícil era arranjar local para fazer “ponto de embraiagem”….

Quase tudo plano, havia três ou quatro sítios onde isso se fazia. Ensaiava-se em todos esses locais e um deles calhava de certeza no exame. A mim foi na pequena rampa de acesso à então “Praça do Império”, vindo do lado do aeroporto. Foi a última manobra e após isso, ficando aprovado, lá se foi comer uma ‘sanduiche’ de queijo da serra na “Pastelaria Império”. Com o examinador, claro! (...) (**)



(iv) Carlos Pinheiro:

(...) Nessa avenida estavam talvez as maiores casas comerciais. Por exemplo: a Casa Gouveia, da CUF, que vendia ali de tudo e que tudo comprava o que os naturais produziam, principalmente a mancarra; o Banco Nacional Ultramarino, o banco emissor da Província;o Cinema UDIB; e ao lado uma boa gelataria, mais acima, a Pastelaria, Padaria e Gelataria Império, assim baptizada por estar já na Praça do Império onde se situava o Palácio do Governo e a Associação Comercial. (...) (***)

Afinal, em que é que ficamos ? 

Café Bento, não, Cervejaria Solmar, não... Pastelaria ou Café Império. sim!!!





Excerto de mapa de Bissau > Posição relativa da Pastelaria (e Café) Império e o do Hotel Império, na antiga praça do Império, hoje dos Heróis da Independência. Uns chamam-lhe pastelaria, outros café... O Albano Costa tirou uma chapa em novembro de 2000 (****).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)
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Notas do editor:

(*)  1 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26446: Fotos à procura de... uma legenda (193): A foto de agosto de 1974, do Jorge Pinto, corresponderia a um dos três cafés-cervejarias existentes nas imediações da Praça Honório Barreto, o Internacional, o Portugal ou o Chave 
de Ouro ?

Vd. poste anterior:

31 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26443: Fotos à procura de... uma legenda (192): Bissau, agosto de 1974: qual a mais famosa esplanada da cidade ? Café Bento ou cervejaria Solmar ? E esta foto é da 5ª Rep ou da Solmar ?

(****) Vd. poste de 9 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16287: Memória dos lugares (340): Café Império, Praça dos Heróis Nacionais, Bissau, em novembro de 2000 (Albano Costa, ex-1.º cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74, o fotógrafo de Guifões, Matosinhos)

Guiné 61/74 - P26446: Fotos à procura de... uma legenda (193): A foto de agosto de 1974, do Jorge Pinto, corresponderia a um dos três cafés-cervejarias existentes nas imediações da Praça Honório Barreto, o Internacional, o Portugal ou o Chave de Ouro ?



Guiné > Bissau > s/d [. c 1969/70] > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Coleção "Guiné Portuguesa") (Detalhe). Coleção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)

Agora a Praça chama-se Che Guevara... e o antigo Hotel Portugal era, quando estive em Bissau em 2008, Hotel  Kalliste...



Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral > 16 de novembro de 2023 > 50 anos da independência (proclamada unilateralmente em 24 de setembro de 1973) > Desfile militar... A parada começou por descer a avenida, seguindo para a marinha, dando a volta junto ao porto do Pidjiguiti e subindo depois de novo a artéria  nobre de Bissau... O palanque com as autoridades guineenses e os convidados estrangeiros estava montado em frente ao antigo cinema UDIB... Nesta foto, tirada pelo Patrício Ribeiro da varanda da Pensão Central (estabelecimento criado pela saudosa Dona Berta) estão assinalados, a vermelho, o antigo Hotel Portugal, e a amarelo a Casa Esteves (pintada de branco e com muitas janelas no 1º piso), segundo identificação do fotógrafo. (*)

Foto  (e legenda): © Patrício Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



Guiné-Bissau > Bissau > Casa Esteves > s/d > Av Domingos Ramos, nº 33 (?). Foto: cortesia da página do Facebook de Adilson Cardoso. nascido na Guiné-Bissau, a viver em Lisboa. 

O fundador, António Augusto Esteves, foi dos poucos velhos colonos portugueses que terá ficado por lá, depois da independência, tendo sido, ao que parece, simpatizante do PAIGC. Ou soube adaptar-se ao fim do "império". 

Antes da independência, a Casa Esteves era na Rua Administrador Gomes Pimentel, num r/c, havendo no piso superior 4 moradias para a família e para alugar... Em frente ficava a Tipografia das Missões onde se publicava "O Arauto" (a informação é da Lucinda Aranha Antunes. "O Homem do Cinema", Alcochete, Alfarroba, 2018, p. 112). (Este edifício não parece ser o mesmo da foto em questão, do Jorge Pinto, agosto de 1974, veja-se o gradeamento do primeiro andar, que seria a área de residência. Segundo o Patrício Ribeiro, é agora um banco,.  desde há uns anos.)




 
Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > Uma das famosas esplanadas de Bissau, a um mês dos "tugas irem definitivamente para casa"... 

O fotógrafo não identifica o local, diz apenas: "A foto foi tirada em Bissau, um ou dois dias antes do nosso regresso, por volta de 23 de agosto de 1974. Quem não conhece esta esplanada?!!!"...

 O autor foi alf mil  art, 3ª C/BART 6520 / 72 (Fulacunda, 1972/74). Os dois militares que aparecem de costas, seriam do pelotáo do Jorge. (O Fernando Carolino tem uma foto igual, se calhar oferecida pelo Jorge; ele regressaria mais tarde à metrópole, já em setembro, por ser de rendição individual)... 

Tem-se especulado à volta do nome deste estabelecimento do tempo do fim da guerra: Café Bento ou Cervejaria Solmar ? Se calhar nem um nem outra...

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


1. Será que vamos conseguimos esclarecer  o "mistério" da foto do Jorge Pinto, de agosto de 1974 ? (**)...

O edifício em questão ficaria entre os CTT e o antigo Hotel Portugal..., do lado direito de quem descia a Av da República (hoje Av Amílcar Cabral) mas também dava para a Rua Honório Barreto (hoje Domingos Ramos)... 

Esse edifício já foi aqui identificado como sendo a Casa Esteves, tanto pelo Patrício Ribeiro (*) como pela nossa amiga Lucinda Aranha (***)

O Carlos Pinheiro, o nosso melhor "guia turístico" de Bissau,  diz que no no seu tempo (1968/70) havia na Praça Honório Barreto  (ou imediações) os seguintes estabelecimentos: (i) o Internacional; (ii) o Portugal; e (iii) o Chave de Ouro, "tudo cafés-cervejarias mas também onde se comiam umas febras ou uns bifes, quando havia" (****)

Como se chamaria então  a esplanada da foto de agosto de 1974 ? Venham lá mais ajudas, caros leitores...

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(***) Vd, poste de 1 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20297: (De)Caras (139): Quem foi António Augusto Esteves, colono desde 1922, comerciante, fundador da "Casa Esteves", simpatizante do PAIGC?

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26443: Fotos à procura de... uma legenda (192): Bissau, agosto de 1974: qual a mais famosa esplanada da cidade ? Café Bento ou cervejaria Solmar ? E esta foto é da 5ª Rep ou da Solmar ?





Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > Uma das famosas esplanadas de Bissau, a um mês dos "tugas irem definitivamente para casa"... O fotógrafo nãpo identifica o local, diz apenas: "A foto foi tirada em Bissau, um ou dois dias antes do nosso regresso, por volta de 23 de agosto de 1974. Quem não conhece esta esplanada?!!!"... O autor foi alf mil  art, 3ª C/BART 6520 / 72 (Fulacunda, 1972/74). Os dois militares que aparecem de costas, seriam do pelotáo do Jorge. (O Fernando Carolino tem uma foto igual, se calhar oferecida pelo Jorge; ele regressaria mais tarde à metrópole, já em setembro, por ser de rendição individual) (*)

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


1. Qual a mais famosa esplanada de Bissau ?  O Café (e cervejaria) Bento, dirão muitos (tem 11 referências no nosso blogue) ... Também era conhecido com a 5ª Rep, o maior "mentidero" da cidade: era um dos nossos locais de convívio, dos gajos do mato, dos desenfiados e sobretudo dos heróis da guerra do ar condicionado; recorde-se que havia 4 grandes repartições militares em Bissau, no QG, na Amura,  mas a 5ª Rep,  o Café Bento, era a mais famosa, porque era lá que paravam todos os "tugas" que estavam em (ou iam a) Bissau, gozar as "delícias do sistema";  era lá que se fazia "contra-informação", de um lado e do outro; era lá que se contavam as bravatas, os boatos e as mentiras da guerra...

O Café Bento ficava na esquina da Av da República  (hoje Av Amílcar Cabral) (do lado esquerdo, de quem descia), com a  Rua Tomás Ribeiro (hoje António Nbana) (nº 1 a vermelho no croquis a seguir), já perto do final da única avenida de Bissau, digna desse nome... 

Do outro lado dessa artéria, um pouco mais à frente, no sentido descendente, ficava a Casa Gouveia, a maior "superfície comercial da cidade"...

O edifício do Café Bento, ao   que parece, passou a ser, mais tarda, a sede da delegação da RTP África (hoje, com novas instalações, inauguradas em 2021, na Rua  Angola,  78, Chão de Papel, já fora portanto da "BissauVellha"; foi aqui que nasceu o saudoso António Estácio).

Em 1970, eu, o Humberto Reis e outros diriam que a melhor esplanada era o Pelicano (acabada de inaugurar,  ficava na Marginal, hoje Av 3 de Agosto). 

Mas o que importa agora á a foto que publicamos acima: Café Bento  ou Cervejaria Solmar (que infelizmente não vem no croqui do António Estácio). Vai uma aposta ?


  • O Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), que conheceu bem Bissau, antes e depois da independência, diz que a foto é o Café Bento, a famosa 5ª Rep,. do seu tempo (1967/69), do meu tempo (1969/71)... 


  • O Jorge Pinto (que tirou esta foto na véspera do regresso a casa, ams que conhecia mal Bissau, sempre enfiado em Fulacunda) diz também que não era o Café Bento, não se lembra bem do nome mas acha que podia ser a Solmar... Sabe que era perto da marginal do rio, da Casa Pintosinho...


Mas há mais camaradas nossos que conheceram bem (pou relativamente) Bissau, por lá terem estado colocados... e fazerem referências ao quer ao Café Bento / 5ª Rewp ou ao Café Restaurante Solmar... Por exemplo;

  • ou o nosso camarada da FAP, Mário Serra de Oliveira (que teve o  seu próprio restaurante em Bissau) [ex-1.º cabo escriturário, nº 262/66, BA 12, Bissalanca, 1967/68; esteve destacado na messe de oficiais em Bissau, entre maio de 1967 e dezembro de 1968; depois, já como civil, entre janeiro de 1968 e agosto de 1981, como empregado e como empresário passou por diversos estebelcimentos: Café Restaurante Solmar, Grande Hotel, Pelicano, Ninho de Santa Luzia (uma casa sua, que abriu em 14/11/1972), Tabanca, Casa Santos, Abel Moreira, José D’Amura e Oásis; trabalharia ainda na embaixada dos EUA; é autor, entre outros, do livro "Palavras de um Defunto... Antes de o Ser"(Lisboa: Chiado Editora, 2012, 542 pp, preço de capa 16€]
  • o Abílio Duarte, amigo e camarada do Valdemar Queiroz, ambos da CART (temos uma foto dele no café Bento);
  • sem esquecer o nosso também querido amigo guineense,  o Nelson Herbert...




Infografia: António Estácio (1947-2022)  / Blogue Luís Graça / Camaradas da Guiné (2025)


Infelizmente o croqui que encontrámos num livrinho do António Estácio (1947-2022) (nascido em "chão de Papel"...), só inclui a parte oriental da Bissau Velha, entre o lado esqerdo, de quem desce, da Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura (8) (antiga Rua Capitão Barata Feio, hoje Rua 24 de Setembro).

Aguardamos, por parte dos nossos leitores. uma ajudinha para legendar a bela foto do Jorge Pinto, que desdobrámos em quatro para uma leitura mais atenta e detalhada.




Planta de Bissau (edição, Paris, 1981) (Escala: 1/20 mil)



Guiné-Bissau > Bissau > 1996 > Duas décadas depois da independência... Rua onde ficava a célebre cervejaria Solmar, aqui evocada pelo Hélder Sousa, acabado de chegar a Bissau, em 9 de novembro de 1970: "Após o jantar, uma voltinha para desmoer e reconhecer os vários locais de interesse, a Solmar, o Solar do 10, a Ronda, o inevitável Café do Bento (5ª Rep.), a casa das ostras na rua paralela à marginal, o Pelicano"...

Foto (e legenda) © Humberto Reis (2005). Todos os sireitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

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(***) Vd. 9 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18908: Estórias de Bissau (20): A cidade onde vivi 25 meses, em 1968/70: um roteiro (Carlos Pinheiro)... [Afinal o "Chez Toi" era a antiga casa de fados "Nazareno"...

(****) Último poste da série > 11 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26255: Fotos à procura de... uma legenda (191): a 4ª e última foto por identificar não pode ser o reordenamento e a pista da "minha" Gadamael, em finais de 1971 (Morais da Silva, cor art ref)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26442: As nossas geografias emocionais (37): A Fulacunda do meu tempo (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)








Foto nº 1, 1A e 1B



Foto nº 2 e 2A


Foto nº 3 e 3A



Foto nº 4 e 4A

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda 3ª C/Bart 6520/72 (1972/74) > Aspetos do  quotidiano da população civil de Fulacunda (Fotos nºs 2, 3 e 4); porto fluvial de Fulacunda (a 2 km a nordeste do aquartelamento): reabastecimento quinzenal: mantimentos, caixas de munições, sacos de arroz para a população, etc.  (foto nº 1).


Fotos (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


1. Mandei há dias uma mensagem ao Jorge Pinto com o pedido de resposta a várias perguntas:


Dá uma vista de olhos por este poste com mais fotos tuas "melhoradas", e com alguns acrescentos meus nas legendas (*).

Confirma ou corrige, por favor:



(i) a população de Fulacunda andava à volta das 300/400 pessoas ?


(ii) a tropa, cerca de 220 ? (3ª C/BART 6250/72 + 1 Pel Mil + 1 Pel Art)


(ii) o PAIGC, quantos bigrupos teria no teu subsetor (Fulacunda) ? um ou dois, no máximo...


(iii) não havia bolanhas, não havia comerciantes... logo o arroz vinha de fora...


(iv) mancarra ou milho painço ? (a mim parece-me milho, ou sorgo, diz o Cherno Baldé);


(v) população: só biafada ? balantas também ? as milícias eram fulas ? E,se sim, originárias donde ?


Manda mais fotos destas, se tiveres... Um chicoração, Luis

PS - Sei que o Fernando Carolino, cunhado do Juvenal Amado, e que foi alferes da tua companhia, e vive am Valada de Frades, tem "slides" de Fulacunda...


Dá um jeitinho, tu e o Juvenal para ele se juntar ao blogue e partilhar essas fotos (Diz-lhe que essas fotos vão parar um dia ao lixo, os netos não vão querer saber nada da Guiné, e muito menos de Fulacunda, e nós temos o dever de as salvar...



2. Resposta do Jorge Pinto:

Data - 25/01/2025, 22:05
 
Boa noite , Luís

Hoje, decidi que não adiaria mais a resposta ao teu mail. Vou tentar responder às questões que colocas e enviar mais umas fotos de Fulacunda e Bissau...

(i) Quanto à população de Fulacunda seriam mais ou menos 400 pessoas de etnia Biafada;

(vi) Havia uma família Balanta em que chefe de família usava sempre com um chapéu de cipaio, todo o dia pedia vinho ao nosso vagomestre e estava quase sempre metido em desacatos na tabanca.(Parece que o pai é que tinha sido cipaio, ou seja,elemento da "polícia administrativa, antes da guerra.)

 Havia, ainda, uma família Fula, pacata e que caçava às vezes umas gazelas que nos vendia, bem caras. (Havia pouca caça, em redor de Fulacunda.)

(ii) Toda esta população tinha familiares nas tabancas do mato que rodeavam Fulacunda e que muitas vezes vinham de visita, nos davam algumas "informações" sobre o movimento do bigrupo de Bunca Dabó, levando em troca uns quilos de arroz.
 
O pelotão de milícias era composto por uns 35 / 40 elementos, comandados pelo alferes Malá, homem grande e muito respeitado, com uma idade aproximada de uns 55 anos.

(iii) Em Fulacunda não havia comerciantes. Existia uma "mini e velhinha loja", pertença de um libanês ausente em Bissau e que às vezes um "rapazola" da tabanca abria para vender à população uns panos (tecidos) que ele enviava pelo barco que nos reabastecia.
 
Havia muito pouca atividade agrícola. Apenas era cultivada a área em redor do arame farpado que circundava todo o aglomerado. Cultivavam principalmente mancarra e algum milho painço. O alimento da população era basicamente o arroz fornecido pela tropa. (Os homens eram milícias, as mulheres lavadeiras... Enfim,. "economia de guerra"...)

Envio 5 fotos. A última foi tirada em Bissau, um ou dois dias antes do nosso regresso, por volta de 23 de agosto de 1974. Quem não conhece esta esplanada?!!!
[Será publicada noutro poste.]

As outras foram sendo tiradas em Fulacunda, durante os dois anos de comissão. (**)

Forte abraço e desejo de boa saúde, Jorge.


3. Em conversa o telefone, o Jorge Pinto adiantou ainda mais as seguintes informações adicionais:

Fulacaunda era uma terra importante amntes da guerra. Tinha um porto fluvial a 2 km, no rio Fulacunda, afluente do Geba (e, portanto,com fácil ligação a Bissau). 

Além disso, era um ponto de cruzamento de várias estradas, conforme se pode ver na carta da antiga província da Guiné (1961) (escala 1 /500 mil):

  • para oeste/noroeste, Enxudé, Jabadá. Tite, Bissássema..); 
  • para sudoeste (São João, Bolama); 
  • par sul/ sudeste: Nova Sintra, Buba, Aldeia Formosa, Empada)...

A leste tinha formidável barreira do rio Corubal, cujas margens e bolanhas eram controladas pelo PAIGC (pelo menos até 1972, ano em que foi reconquistada a península de Gampará, a nordeste de Fulacunda).

Antes da guerra havia uma numerosa população (uns 4 tabancas) à volta da vila, que era sede de circunscrição, com casas de estilo colonual, uma delas a do administrador. A população refugiou-se no mato, ficando sob controlo do PAIGC. A restante (c. 400) foi a que ficou em Fulacunda. Tudo a gente com família no mato (na guerilha ou na população sob controlo do PAIGC=...

Havia, para leste, junto ao rio Corubal, margem esquerda, duas grandes bolanhas, que continuaram a ser cultivadas, e que eram uma importante fonte de abastecimento de arroz para o PAIGC (tral como as bolanhas do outro lado rio, no sector L1, subsetores de Xime, Mansambo e Xitole):  Guebambol e Canturé (a tropa chamava-lhe Cantora, nesse tempo, diz-me o Jorge).

Havia cerca de 220 homens em armas em Fulacaunda: 

  • a 3ª C/BART 6520/72;
  •  1 pleotão de milícias (comandado pelo prestigiado alf de 2ª linha Malan;~
  •  1 pel art, com 3 obuses 14 cm.

O PAIGC tinha um  bigrupo na zona, comandando pelo Bunca Dabó. 

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26400: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (35): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte V

(**) Último poste da série > 27 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26429: As nossas geografias emocionais (36): Fulacunda, sempre!... (Henk Eggens, médico neerlandês, a viver em Portugal)

Guiné 61/74 - P26440: (De) Caras (226): Encontro de inimigos de ontem, em Fulacunda, julho de 1974 (Henk Eggens, médico neerlandês, cooperante na Guiné-Bissau, 1980/84)






Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) > Julho de 1974 > Pormenor de foto de grupo: visita do bigrupo de Bunca Dabó, do PAIGC, ao quartel e tabanca de Fulacaunda, e ao porto fluvial (que ficava a 2 km de distância). Na foto, o alf mil Jorge Pinto, em farad nº 2, completamente desarmado, faz o papel de antitrião... Descontraído... Os "iniumigos de ontem" quiseram ir ver o porto fluvial...


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Guiné-Bissau > s/l> s/d > O Comandante das FARP Quemo Mané (Canjabel, região de Quínara, c. 1932 - Moscovo, 1985). Fonte: Plataforma Casa Comum / Fundação Mário Soares > Arquivo Amílcar Cabral... Pasta 05248.000.024. Reproduzido com a devida vénia...

Citação:
(1966-1973), "Quemo Mané", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43764 (2022-2-19)



1. Mensagem enviada por Henk Eggens (*),



O dr. Henk Eggens, neerlandês, médico,
cooperante na Guiné-Bissau
(Fulacunda e Bissau, 1980/84)



Data - quinta, 9 jan 2025 , 12:40
Assunto - Encontro de inimigos

Olá,  Luís,

Já desde o final do ano passado queria responder-te e agradecer pelos links para as fotografias e textos que dizem respeito a Fulacunda, Guiné-Bissau.

Fiquei olhando para as fotografias que mostram os encontros entre soldados do exército português e os guerrilheiros do PAIGC. Além da qualidade boa das fotografias em si, fiquei pensando no efeito mental deste encontro; deve ter sido emocional e confuso para ambas as partes. Vejo os portugueses relaxados, sem armas, e os do PAIGC tensos e, como escreveste, "armados até aos dentes" com RPG e AK.(**)

Fiquei pensando sobre a mudança de paradigma que deve ter acontecido nas mentes de todos os presentes. Encontrar pessoas que queriam te matar pouco tempo antes do encontro. Acho, mas não conheço, que deve existir artigos, teses e livros sobre este fenómeno que deve marcar pessoas no mundo inteiro quando a guerra acaba e os inimigos se encontram pela primeira vez. Tens conhecimento destas publicações?

Vejo as notícias da Síria nestes dias onde deve acontecer o mesmo.

Numa outra entrada no teu blogue vi a referência a um comandante do PAIGC, Quemo Mané. Este foi o governador da região de Quínara e meu vizinho durante minha estadia em Fulacunda (1980-1982). Havia rumores sobre a sua crueldade durante a luta. A história sobre o 'julgamento revolucionário' no blogue ilustra bem estes rumores de então. Tive pouco contacto com ele, mas ainda assim metia medo nas pessoas e em mim na altura. (***)

Abraços,
Henk

PS- Admito que deixo meu app IA corrigir os meus textos portugueses por erros ortográficos.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26209: Ser solidário (275): Quatro anos como médico cooperante (1980-1984), em Fulacunda e em Bissau (Henk Eggens, neerlandês, consultor internacional em saúde pública, reformado, a viver em Santa Comba Dão)

(**) Vd. poste de 18 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26278: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (31): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte I

(***) Último poste da série > 28 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26206: (De) Caras (225): Duas fotografias, girândola e fastígio das recordações (Mário Beja Santos)

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26435: Memórias de um "Serrote" (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, "Os Serrotes", 1972/74) (1) Periquito, de rendição individual, e confuso logo à chegada a Bissau, em relação à pragmática da tropa...




Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > Sem legenda: "Confeitaria", café-esplanada... Av da República  (hoje Av Amílcar Cabral)  (?)... O Jorge Pinto tem uma foto igual, tirada uns dois ou três dias da regresso da 3ª C/BART 6520/72.  


Foto: © Fernando Carolino (2025). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Fernando Carolino  já aqui publicou,  há uns largos anos (*), um poste com fotos do seu álbum, relativas a Fulacunda, onde fez a sua comissão de serviço, como alf mil, de rendição individual, na 
3.ª CART/BART 6520/72, "Os Serrotes" (Fulacunda, 1972/74)

Afinal,ele é contemporâneo (e conterrâneo!) do nosso Jorge Pinto, também ele alf mil, desta subunidade, e membro da nossa Tabanca Grande.

Fernando Carolino,
setembro de 1973
O Fernando Carolino, que é natural de Alcobaça, mas vive em Valado de Frades, Nazaré, mandou-nos, através do seu cunhado, o Juvenal Amado, um primeiro texto e fotos da Guiné. 

Estou a aguardar o seu OK em relação à sugestão que lhe fiz para criar uma série com o seu nome, e à sua aceitação do nosso convite (que já vem de 2016) para integrar a Tabanca Grande.

Para já vamos publicar um primeiro texto, nesta série, com título provisório, "Memórias de um Serrote". Também já lhe sugerimos outros títulos: 

(i) "Em rendição individual, colocado no fim do mundo (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)";

(ii) "Des(a)venturas de um alferes miliciano (Fernando Carolino, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)";

(iii) "Memórias de Fulacunda (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)".

 Recorde-se que a 3ª C/BART 6520/72 publicava um jornal de caserna, mensal, "O Serrote", de que era diretor o Jorge Pinto. 


Periquito, de rendição individual, e confuso logo à chegada a Bissau,
 em relação à pragmática da tropa...

por Fernando Carolino



Primeiro episódio de uma passagem pela Guiné

Pleno inverno, talvez novembro, muito frio em Lisboa, quando embarquei em avião da TAP rumo à Guiné.

Ia em rendição individual, preencher o lugar deixado “vago” por outro alferes miliciano no aquartelamento de Fulacunda, que seria para mim na altura um qualquer fim de mundo.

Chegado o aparelho voador ao aeroporto de Bissau, porta aberta e vamos sair. O impacto do ar exterior deixou-me quase em choque: o corpo ficou de imediato molhado com a roupa a colar-se ao corpo, numa sensação de enorme desconforto.

Refleti: será que vou aguentar isto…. ?

Lá fui andando de indumentária número dois (ou um) com sapato fino, boné de pala e galões de alferes a condizer.

Levava comigo uma guia de marcha que mencionava QG e Fulacunda,  se bem me lembro, mas que eu não sabia bem o que eram ou onde as encontrar.

Fui seguindo de mala de viagem na mão, não sabendo bem para onde, esperando encontrar talvez um militar que me pudesse dar uma ajuda.

Não era difícil afinal encontrar militares. Havia muitos pela rua para onde quer que olhasse. Mas, comecei a sentir-me deslocado: é que todos que vi estavam vestidos de camuflado e eu com fatinho “chique”. 

Senti-me terrivelmente mal, a ponto de decidir imediatamente alterar a situação. Lá consegui encontrar uma espécie de “café”, entrei, devo ter pedido qualquer coisa para beber (não me lembro), e procurei uma casa de banho para mudar de farda. Abstenho-me de descrever a qualidade ou o estado do local.

Mudei-me e voltei para a rua muito mais confiante. Estava como todos os outros: fato de
trabalho…quer dizer de combate.

Percorridos uns poucos metros parou junto de mim uma viatura da PM. Mostraram intenção de falar comigo e parei. Pediram-me a identificação e mostrei-lhes tudo o que tinha, nomeadamente a guia de marcha. Logo verificaram que se tratava de um oficial, fizeram a respectiva continência e… de forma muito correcta informaram: 

− O meu alferes desculpe mas está em trânsito, não está de serviço, e não pode por isso estar de camuflado.

Não queria acreditar! 

− Acabei de mudar-me agora mesmo − expliquei. 

− Pois, mas não pode. Se quer ir para o QG é melhor vir connosco na viatura.

−  Pois então calha bem. Não terei que ir a pé para um sítio que não sei onde fica.

E lá fomos. Chegados ao local, apresentações num gabinete, explicação da situação e, em pouco tempo tudo se resolveu. O superior hierárquico ali presente decidiu: 

− Como o senhor é novo aqui, fica de oficial de dia e, estando de serviço,  já a farda fica a condizer.

E assim já não tive que voltar a mudar de indumentária.

Foi um primeiro episódio de uma longa estadia por terras da Guiné.

Gostaria que todos os episódios que se seguiram fossem tão pacíficos.

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 17 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15761: Memória dos lugares (334): Fulacunda (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Alcobaça, a viver em Valado dos Frades, Nazaré)