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sábado, 18 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26400: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (35): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte V


Foto nº 1A  > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Colheita da mancarra (ou milho painço?... É sorgo, diz o nosso especialista Cherno Baldé).

Aqui os homens também trabalham! Em Fulacunda praticamente não havia atividades. Cultivava-se apenas junto ao arame que rodeava a tabanca, alguma mancarra, milho painço, pescava-se muito pouco, apanhavam-se cestos de ostras que cozinhávamos como petisco ao final do dia e havia um milícia que às vezes caçava uma gazela e nos vendia a “preço de ouro”.


Foto nº 1B  > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Colheita de sorgo.



Foto nº 2A Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Fazendo tijolos de adobe para uma morança. Durante a minha estada em Fulacunda, construíram-se apenas umas 3 moranças novas. As NT deram a sua ajuda preciosa


Foto nº 2B >  Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Fazendo tijolos de adobe para uma morança (2).


Foto nº 3 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Fonte dentro da tabanca. Furo feito pela companhia dos “Boinas Negras”, 1968/69 (?) [CCAV 2482, "Boinas Negras",  30 de junho de 1969 / 14 de dezembro de 1970]. 





Foto nº 4 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Horta do Tobias. Alguns soldados e gente da tabanca, sob a orientação do furriel Tobias,  dedicaram-se a esta horta que, como se vê, era bem verdejante, mesmo na época seca. Graças a ela tínhamos, couves, alfaces, pimentos e outras hortaliças.No lado esquerdo, vè-se uma picota (para retirar água de um poço).


Foto nº 5 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  Avó com filho de soldado branco. Em Fulacunda, verifiquei que havia 4 crianças filhas de soldados brancos,  pertencentes a companhias anteriores. Também verifiquei que apenas uma das mães continuava a viver em Fulacunda.


Foto nº 6 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Lavadeiras. Fonte antiga. Todos os soldados tinham a sua lavadeira. A lavagem da roupa era feita na tabanca com água retirada através do único furo (foto nº 3), feito por uma companhia de caçadores estacionada em Fulacunda em 68/69 [ou melhor, 69/70], e que penso chamar-se “Boinas Negras” [ CCAV 2482, "Boinas Negras", subunidade que esteve em Fulacunda entre 30 de Junho de 1969 e 14 de Dezembro de 1970, data em que foi rendida e partiu para Bissau]. Contudo, quando havia muita roupa para lavar, as lavadeiras deslocavam-se à fonte antiga (foto), que se localizava na parte exterior do aquartelamento e portanto sujeita a “surpresas” [acções do IN].


Foto nº 7A > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Vista aérea do quartel (à direita) e "reordenamento" (à esquerda)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 7 > Vista aérea da pista, da tabanca e do aquartelamento de Fulacunda... Tentativa de reconstituição de:
  • perímetro de arame farpado (a amarelo, tracejado);
  • espaldões (artilharia, armas pesadas...) e abrigos (a vermelho, círculo);
  • área cultivável em redor do arame farpado (a verde, linha)... 

No sentido su-sudeste / nor-noroeste, vê-se a pista e o heliporto...Para a esquerda era o porto fluvial .  

Pelas minhas contas, o observando a foto aérea, a tabanca de Fulacunda não teria nesta altura mais de meia centena de moranças (300 e tal pessoas): 30 moranças com telhado de zinco e umas 20 com cobertura de colmo... 

A população  vivia em economia de guerra:  homens (milícias) e mulheres (lavadeiras) dependiam da tropa. Não havia bolanhas perto.... Não havia produção de arroz (cujo preço irá triplicar em finais de 1973/74). Nem devia haver nenhum comerciante. A região de Qiuínara foi muito afetada pela guerra (que "oficialmente", para o PAIGC, começou em 23 de janeiro de 1963 em Tite; na verdade, começou muito antes; Tite não tinha qualquer importância, e tinha menos população que outras tabancas da região de Quínara como Bissásserma, Iusse, Enxudé, etc. Fulacunda, sim, era sede de circunscroção admonistrativa... Isoladfa, entrouu em total decadència, e hoje não terá mais de 1500 habitantes.

(Com  o ataque estúpido,  precipitado e infantil a Tite, desencadeado por um "djubi" a quem deram uma pistola, Arafan Mané, abriu-se a "caixa de Pandora", e a Guiné tornou-se um inferno para todos... Porquê, para quê, Arafan ?)

No final da guerra, as NT deveriam ter cerca de 220 homens em armas em Fulacunda: além da 3ª C / BART 6520/72 (160 homens) ,o Pel Mil 221 (30 homens) e o 31º Pel Art (3 obuses 14 cm) (30 homens). O setor S1 (Zona Sul, 1) estava sediado em Tite. Havia quartéis e destacamentos das NT em Tite,  Bissássema, Enxudé, Nova Sintra, Ganjauará, Fulacunda (mais de 1100 homens em armas, segundo a minha estimativa ).(LG)


Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagemcomplementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1. O Jorge Pinto: (i) ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; 

(ii) natural de Turquel, Alcobaça; 

(iii) professor do ensino secundário, reformado; 

(iv) membro da Tabanca Grande desde 17/4/2012, com 6 dezenas de referências no blogue;

(v) tem o melhor álbum fotográfico sobre Fulacunda, região de Quínara, chão biafada;

(vi) pela qualidade técnica e estética, pela sensibilidade sociocultural bem como pelo interesse documental dos seus "slides", estamos a republicar, depois de reeditadas, algumas das suas melhores fotos (*).

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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26317: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (34): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte IV




Fotos nº 1A e 1 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  " (...) Depois de 7/8 meses a vermos o céu sempre igual e a atmosfera amarelada com as poeiras vindas do deserto, os primeiros pingos grossos de chuva eram celebrados com grande alívio por nós e contagiante alegria pela criançada que aproveitavam as poças de água para se refrescarem, brincarem e encharcarem os adultos incautos"…





Foto nº 2A, 2B e 2   > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > "(...) . Mesmo em cenário de guerra havia disposição para 'jogatanas' de futebol. Este campo foi construído durante período que vivi em Fulacunda. Havia ainda um outro campo térreo, que na época das chuvas ficava impraticável para futebol."... (Na foto 2B, o Jorge Pinto, é o do meio, o quarto a contar da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda)






Foto nº 3A  e 3 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Soldados construindo a capela cristã.... Claro, não podia faltar o "bioxene" aos carpinteiros, a trabalhar ao sol...



Foto nº 4 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  O alf mil Jorge Pinto lendo a revista norte-americana "Time" (talvez esquecida por algum "velhinho" que tenha por ali passado: a revista é de  10 de maio de 1971).


Foto nº 5 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  Capa da revista "Tine, edição de MAY 10, 1971: "How to cope with Japan's business | Sony's Akio Morita"-|  (Como lidar com os negócios do Japão | Akio Morita da Sony. )
 
Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagemcomplementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1. O Jorge Pinto [ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Turquel, Alcobaça; professor do ensino secundário, reformado; membro da Tabanca Grande desde 17/4/2012, com 6 dezenas de referências no blogue ] tem o melhor álbum fotográfico sobre Fulacunda, região de Quínara, chão biafada. Pela qualidade técnica e estética bem como pelo interesse documental dos "slides" que tirou. 

Estamos a republicar, depois de reeditadas,algumas das suas melhores fotos (*).

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 21 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26296: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (33): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte III

sábado, 21 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26296: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (33): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte III


Foto nº 1


Foto nº 1A


Foto nº 1B


Foto nº 1C


Foto nº2 

Foto nº 2A


Foto nº 3


Foto nº 3A


Foto nº 4


Foto nº 4A


Foto nº 5


Foto nº 5A


Foto nº 5B


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)  >  s/d >   Içar da bandeira (toto nº 1), porto fluvial (foto nº 2), festas religiosas (fotos nºs 3 e 4) e carnaval (festa nº 5)


Fotos: © Jorge Pinto (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. O Jorge Pinto [ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Turquel, Alcobaça; professor do ensino secundário, reformado; membro da Tabanca Grande desde 17/4/2012 (*), com c. de 6 dezenas de  referências no blogue ] tem o melhor álbum fotográfico  sobre Fulacunda, região de Quínara, chão biafada. Pela qualidade técnica e estética bem como pelo interesse documental dos "slides" que tirou.

Estamos a revisitar e reeditar algumas suas melhores fotos (**).

2. Em respostas aos postes anteriores, mandou-nos a seguinte mensagem, aproveitando para: (i) desejar-nos boas festas; (ii) fazer prova de vida; e (iii) partilhar connosco mais 5 preciosas fotos 

 Data - sexta, 20/12/2024, 15:48

Assunto - Fotos de Fulacunda

Camarada amigo , Luís Graça


Obrigado pelo "melhor do mundo" que me desejas para o novo ano que aí vem.... Também para ti e toda família desejo que seja um bom ano, principalmente na saúde e na felicidade.

Respondendo às tuas questões pouco tenho a acrescentar ao que já está escrito e fotos anexas, no poste P12 387 (**). Acrescento, no entanto, que uma grande parte do tempo era passada no mato, em patrulhamentos, montagem de emboscadas e participação em operações feitas na zona do Quinara, com envolvimento de outras tropas..

Quanto à questão de "fazer as honras da casa" (**), isso não é verdade. Eu, apenas acompanhei um grupo de guerrilheiros, fortemente armados,  que fizeram questão de ir ver o porto no rio de Fulacunda, por onde se fazia o nosso abastecimento quinzena/ mensal e que era o nosso ponto mais vulnerável na minha opinião. 

O local e as circunstâncias como se procedia à descarga do barco oferecia condições excelentes para um ataque à nossa tropa. Ora isso, nunca aconteceu.... Talvez, por isso mesmo este bigrupo do PAIGC guerrilheiros tivesse interesse e curiosidade em ver o local.

Envio mais umas fotos relacionadas com a "vida na tabanca" e em que nós mais ou menos nos tentávamos integrar.

Abraço, Jorge

Anexo - 

Foto nº 1 > Içar da bandeira
Foto  nº 2 > Porto fluvial, rio de Fulacunda, afluente do rio Geba
Fotos nºs 3 e 4 > Festa religiosa
Foto nº 5 > Carnaval na tabanca

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26288: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (32): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte II



Foto nº 5


Foto nº 5A


Foto nº 6


Foto nº 7A

Foto nº 7


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) > Julho de 1974 >   Visita a Fulacunda  de um bigrupo do PAIGC, comandado por Bunca Dabó


Fotos: © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]

1. Aqui vai o segunda parte das fotos do Jorge Pinto, relativas à visita, a Fulacunda de um bigrupo do PAIGC.
 
O Jorge Pinto [ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Turquel, Alcobaça; professor do ensino secundário, reformado; membro da Tabanca Grande desde 17/4/2012, com 57 referências no blogue ] tem um excelente álbum fotográfico do seu tempo de Guiné, e em especial de Fulacunda, região de Quínara, álbum q1ue merece uma revisita, com reedição das suas melhores fotos, nesta série (*).


(i) Estas fotos, da  Parte II,  retratam a primeira visita dos militares do PAIGC à tabanca de Fulacunda, com destaque para a 5ª e 6ª fotos, onde a população ouve atentamente o comissário politico, sobre as "mudanças" que se avizinham.

(ii) Nesta sessão também é visível o Administrador da Circunscrição de Fulacundfa,  o sr, Norberto  (Fotos nº 5 r 5A) ;
 
(iii) Na última foto (nº 7) vê-se, à entrada da messe de oficiais, o comandante de bigrupo, Bunca Dabó, que atacou várias vezes o aquartelamento e a tabanca de Fulacunda, durante os dois anos em eu que lá estive.

JPinto


2. Na altra, em 2016,  os comentadores do P15818 puseram algumas questões pertinentes, incluindo o "colon" António Rosinha (que vê mais longe só com um olho, do que nós de binóculos) (*):

(i) Antº Rosinha

(...) "Estas fotos dos guerrilheiros com Jorge Pinto, assim como as de outros militares que após o 25 de Abril noutros posts, já foram mostradas aqui, mereciam um album. É que essas fotos falam em altos gritos. Aqueles rostos são eloquentes.


"É que todas as fotos, de uma maneira geral, mostram-nos "brancos", alegres, descontraídos, desarmados, eufóricos e ao mesmo tempo tranquilos. E mostram-nos "negros" armados, preparados para a guerra, incrédulos e indecisos, sem disposição de abandonar a guerra.


"Claro que como eu também vi os guerrilheiros do MPLA, da UNITA e da FNLA em Angola, e o semblante de quem sabe que a guerra ia piorar, e estavam dispostos a matar ou morrer, por isso, todas estas fotos me confirmam sempre aquilo que eu sempre digo. O MPLA e o PAIGC, não era no "tuga" que viam o seu grande inimigo, e sabiam que a guerra ia continuar sem o 'colon'. Até hoje ainda não largaram as armas, embora disfarcem. E até dentro dos próprios movimentos, precisavam de se armar, para se protegerem uns dos outros".(**)

quinta-feira, 3 de março de 2016 às 09:10:00 WET

(ii) Luís Graça


(...) Jorge, há camaradas do teu tempo que ainda têm relutância em mostrar estas fotos, no nosso blogue. Há sempre algum receio de crítica por parte dos pares, sobretudo pelos "velhinhos" que apanharam os duros anos do iníco da guerra ou que combateram o PAIGC no tempo de Spínola, como eu...

Sei que expor estas fotos, é também expor-nos... Mas seria uma pena não as publicar, e mais, vê-las no contentor do lixo... Não é desonra nenhuma "posar" para a fotografia com o "inimigo de ontem"... Acontece/aconteceu em muitas guerras que, como tudo na vida humana, chegam a um fim... E mais difícil, se calhar, é saber fazer a paz do que continuar a guerra...

Além do mais, fazes questão de dizer que quem veio ao vosso encontro foi o bigrupo do Bunca Dabo, não foram vocês que foram ter com eles... Não sei se a desconfiança era só de um lado... O que estariam a pensar os nossos camaradas africanas que optaram pelo "nosso lado" e a quem o PAIGC chamava, na sua propaganda, os "cães dos colonialistas" ? E eram fulas, mandingas, balantas, manjacos, biafadas, felupes, etc., como os seus "irmãos" do outro lado....

Ao mesmo tempo também há curiosidade, mútua, em "conhecer o outro" que nos combatia, que se calhar nos teve, no mato, debaixo da mira da Simonov, ou da Kalash ou do RPG... ou despejou carregadores de G3 contra o "sacana" emboscado por detrás daquele bagabaga, junto da aquele bissilão na orla da mata, na picada que ia ter à bolanha e ao rio, naquele dia e naquela hora, lembras-te, camarada ?...

Tens de explicar à gente donde veio exatamente este bigrupo... Há um tipo estranho, de farda amarela (?), com um gorro (ou "protetor de cabeça" ?), e pistola à cintura, à "cowboy", que tanto pode ser um apontador de RPG (segura um tubo), como poderia ser um eventual tripulante de uma viatura blindada (Vd. Foto nº 1 )...

Parece-me de todo improvável que este bigrupo, mesmo em julho de 1974, fosse "autotransportado"... Pelo que se percebe das fotos, tu foste com eles ao "porto de Fulacunda", nas turísticas viaturas da tropa a que no meu tempo chamávamos Unimog... Quando íamos para os "safaris", íamos de Unimog, 404 ou 411 (o célebre "burrinho")...

Temos que perceber (e até aceitar) as "cautelas" da "tropa" do PAIGC... A assinatura do acordo de Argel, ainda vem longe: se não erro, os políticos só "assinam a paz" em 25 de agosto de 1974... Até lá, a "paz foi-se construindo", com encontros como este e outros que se realizaram por todo o território...

Por fim, puxa pelos neurónios e confirma que o "caixa d'óculos", o Bunca Dabó, era mesmo o comandante... Olha que ele tem mais cara de comissário político, e pelo que eu tenho lido eram mais os comissários políticos que faziam os primeiros contactos e aproximações à NT, no pós-25 de abril. (...=


(iii) José Manuel Matos Dinis (1948-2021):

(...) Compreendo a satisfação da NT que nunca gostou da guerra, mas não se deixou amedrontar por ela, e gostaria de formular uma questão: na época dos retratos ainda estava por assinar o armistício e ainda se vivia em regime de guerra contra a guerrilha. 

Não seria plausível a entrada de guerrilheiros armados nas instalações militares, e como já vimos por outras descrições, por vezes até com arrogância. A descontracção mostrada pelas NT, demonstra que sabiam não correr riscos. A questão é a seguinte: o MFA da Guiné ter-vos-á dado indicações para confraternizar com o IN antecipando o fim da guerra, ou cada uma das unidades visitadas fê-lo por conta própria.
É que só vejo uma de duas possibilidades, e gostaria de ser esclarecido.
Abraços

(iv)  Antº Rosinha:

Em Abril de 1974, no caso de Angola, os movimentos já não tinham grande receio da tropa metropolitana. Só se aproximaram das populações e das cidades depois de Agosto, mas sempre armados, e sem à vontade e até com sensação de envergonhados.

Mas o grande receio deles era encontrarem-se com os movimentos adversários pelo que começaram imediatamente aos tiros esporádicos.

Entretanto eu peguei nos meus caixotes de retornado e em Novembro/74 já não assisti a mais nada em Angola. Mas faço ideia o que se teria passado com sobas e comandos africanos, que sabiam que eles se iam portar como terroristas com todas as letras, ou alguêm duvidava?

No caso da Guiné, já sabemos que o receio levou-os a criar as valas comuns para os comandos africanos de Spínola e alguns régulos.

Para mim, aquele ar com que se apresentam nas fotos já diz em parte o espírito com que chegaram junto do povo. Ajustar contas!

Mas, essa cara que vemos nas fotos que devia ser de alegria e abraços pelo menos junto do povo, continuava a mesma cara estranha, passados vários anos, nos quartéis em Brá e na rua.

Só devemos falar sobre aquilo a que assistimos, mas passados tantos anos a estudar, e a ouvir testemunhos, já podemos fazer afirmações e deduções que podem ficar para a história.(,,,)

quinta-feira, 3 de março de 2016 às 13:27:00 WET 
 
(v) Luís Graça:

(...) Não façamos uma leitura tão "imediatista", redutora, linear... destas imagens. Todos temos, os seres humanos, um "rosto" e uma "máscara"... O rosto é "aquilo que somos", a "máscara" é o rosto retocado, melhorado ou não, manipulado, com que nos apresentamos aos outros... É no espaço que medeia o rosto e a máscara que está a verdade...

Quem, como o Rosinha, viveu largos anos em África (,eu só vivi dois...) sabe qual é a importância da máscara nas culturas africanas... 


(vi) Antº Rosinha:

Luís Graça, eu não vejo aqui qualquer máscara, vejo apenas gente armada sem qualquer ideia de paz.

Os africanos, entre eles, demonstram sentimentos de satisfação, ou de convivência, de uma maneira instintiva. e de uma maneira irresistível, quer dançando, quer batendo palmas, quer apertando a mão e se forem mais velhos, fazendo vénias respeitosas.

Em variadíssimas fotografias pós 25 de Abril, que aqui já foram exibidas nunca vimos demonstrações de júbilo entre o povo e os guerrilheiros.

Eu não vejo nada que não esteja à vista de todos os por aqui passam frequentemente. Penso eu.

quinta-feira, 3 de março de 2016 às 17:48:00 WET

(vii) C. Martins:

Então foi assim...  malta das NT ficou contente porque antevia, finalmente, o final da guerra e o regresso a "no terra".

Nos "gajos" do PAIGC notava-se uma certa desconfiança sobre "tudo e todos"..não sabiam qual seria o futuro (deles), Quem mandava eram os "comissários políticos", os restantes "eram carne para canhão"

A população andava apreensiva e com razão.

Quanto aos elementos das NT locais tiveram reacções diferentes consoante as funções que desempenharam... Concretamente na arma de artilharia não se passou nada, reeceberam o pré a que tinham direito, passaram à disponibilidade e foram à sua vida. (...)

quinta-feira, 3 de março de 2016 às 22:48:00 WET 


(viii) Joáo Candeias Silva (1950-2022)

(...) Vou relatar o que se passou comigo no CIM, Bolama, no dia 1º de Maio de 1974, altura em que já ia a caminho do meu 25 mês na Guiné. 

Um Major de nome Lima, que julgo foi substituir o "célebre" major Coutinho, era o diretor de instrução e por quem os instrutores não morriam de amores, veio nesse dia "autorizar" quem quisesse participar numa manifestação do PAIGC na cidade. 

Não fui, nem conheci ninguém que lhe tivesse "obedecido". Desconheço se o major Lima era membro do MFA, pelo perfil militar demonstrado até aquela altura e depois eu considerava-o um ultra. (...)


3. Jorge Pinto procurou, na altura, responder5 a algumas das nossas questões, comentando (*):

(...) Em 1972/74, Fulacunda é uma tabanca totalmente isolada. A única picada transitada era a que servia de acesso ao porto de reabastecimento e que distava uns 4/5 Klms.

 O referido grupo do Bunca Dabó, pelo que sei, patrulhava/circulava a zona entre Fulacunda e os rios Corubal e Geba e por isso flagelava/atacava Fulacunda de vez em quando.

A visita deste grupo, composto por cerca de 50 elementos a Fulacunda, durante 1 dia, foi programada e preparada, mas desconheço pormenores. Sei, apenas que o mesmo já tinha acontecido noutras localidades da Guiné.

Naturalmente que a população de Fulacunda recebeu estes guerrilheiros, que vinham fortemente armados, em grande tensão. As fotos 5 e , demonstram isso.

A "exigência" da ida ao porto de Fulacunda, no mesmo dia da visita, considerei-a inútil, pois não fomos fazer nem ver nada de novo. Nesta viagem de 4/5 Klms iam cerca de 15 (guerrilheiros), bem armados, conforme fotos demonstram. 

Da parte das NT ia eu, um furriel e o cabo condutor, totalmente desarmados. Nenhum elemento da população nos acompanhou. Esta ficou dentro do recinto que era cercado por arame farpado conversando com os restantes elementos do PAIGC. 

As fotos  retratam a saída da Tabanca para o Porto.  As outras são tiradas no próprio porto.


4. Comentário do editor LG:

Jorge, já há tempos levantei esta questão: conmtinuo a ter dúvidas se o comandante... será mesmo o comandante ou o comissário político ? É um "caixa d' óculos", tem ar "citadino", de "intlectual", parece demasiado novo para ser comandante...  

Imagino que ainda seja "periquito", novato, devida ter ter vindo da URSS, ou da Europa de leste, ou de Conacri, ou do liceu de Bissau, ou de Dacar... E, pelo apelido, seria um biafada... Portanto, jogava em cada... Fumo seu cigarro, tem uma pistola Tokarev à cintura, e farda à medida...(Tdem piada, o oPAIGC nãopo usava fardas camufladas, mas sim fardas tipo nº 3, como as nossas, ditas de "trabalho"; quem seria o fornecedor ?)

E mais outra dúvida me assalta: como é que aquele homem (parece-me novo demais para andar naquela guerra há muito tempo...), se sentiria, uns tempos antes, atacando Fulacunda onde provavelmente teria parentes ?... 

 Enfim, reflexões serôdios de um "tuga" que passou, há mais de meia centena de anos, por tabancas fulas, mandingas, balantas, biafadas e andou no mato aos tiros contra homens armados de Kalash, "costureinhas" e de RGP, e já se interrogava, "in loco", nessa altura, em 1969/71, sobre o raio do sentido da guerra, em geral, e daquela guerra, em particular...

 "Guerra de libertação" ou "guerra civil" ?... Guerra, "tout court", meu estúpido, dizia ele, para os botões da sua farda camuflada... (não havia mais com quem conversar, nas penosas e dolorosas operações no mato).

O que te terão dito, Jorge, nessa altura, os teus habitantes de Fulacunda que estavam sob a tua proteção?... Em tempo de peste, fome e de guerra, bispo, comissário político, senhor da guerra, comandante de bigrupo, chefe de posto, e tropa... são tudo a mesma coisa, mensageiros de desgraça e de morte... "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" (Luís de Camões)... 

O que será feito deste Dabó ? E dos outros Dabós, comandantes e comissários políticos, a "nomenclatura" do PAIGC ?... Passaram â "peluda", como nós... Se não sabiam fazer mais nada, o que foram fazer ?

E da tua tropa que passou por Fulacunda ? E daquela pobre gente que lá "vivia" em Fulacunda, e que era "tão portuguesa",dizia a propaganda das NT,  como os tipos da tua terra, Turquel, Alcobaça ? Ou que vivia no "mato" a que o Bunca Dabó chamava "zona libertada" ?  Será que passaram a ter "o leite e o mel" da Terra Prometida ?

(Seleçãpo, revisáo / fixação de tyecxto, reedição das fotos: LG)
  
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(**) Vd.  poste de 3 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15818: (De)caras (32): Visita a Fulacunda, em julho de 1974, de Bunca Dabó e do seu bigrupo, "armado até aos dentes"... (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26278: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (31): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte I



Foto nº 1


Foto nº 1A


Foto nº 1B


Foto nº 2A


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)  >  1974 > As NT em patrulhamento  (junho)  e  uma visita de um bigrupo do PAIGC (julho)


Fotos: © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. O Jorge Pinto [ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Turquel, Alcobaça; professor do ensino secundário, reformado; membro da Tabanca Grande desde 17/4/2012 (*), com 57 referências no blogue ] tem um excelente álbum fotográfico do seu tempo de Guiné, e em especial de Fulacunda, região de Quínara. Merece uma revisita, com reedição das suas melhores fotos (**).


Nesta parte I,  publicamos 4 fotos. As duas últimas (nºs 3 e 4) retratam um patrulhamento das NT, feito ainda em junho de 1974, antes da primeira visita dos militares do PAIGC a Fulacunda, já em julho de 1974. 

As fotos nºs 1 e 2 têm a ver com essa visita, em que os guerrilheiros do PAIGC  contactaram com a NT, as autoriades civis e a populção local, de maioria biafada (a ver na Parte II). A digura de proa desse bigrupo era o comandante Bunca Dabó, que atacou várias vezes o aquartelamento e a tabanca de Fulacunda, durante os dois anos em eu que lá estive.

A seu pedido expresso, quiseram conhecer o porto de Fulacunda, por onde era feito o nosso reabastecimento [porto fluvial, no rio Fulacunda, vd, poste P12368].

As fotos evidenciam que a "confiança", por parte deles, ainda estava para nascer!!! ....(Já estávamos em Julho de 1974...)  Também ficou por explicar a utilidade desta visita, pois não fomos fazer nada nem ver nada de novo.

A minha companhia, 3ª C/Bart 6520/72, partiu do RAL 5 em 26.06.72 e regressou a 21.08.74. Teve como comandante o capitão mil inf José João Mousinho Serrote.

Jorge Pinto (fot0 atual à direita)

PS - "A 3. a Comp seguiu em 29lul72 para Fulacunda, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CArt 2772. Em 20ag073, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão e depois do COP 7 e novamente do seu batalhão, sendo especialmente orientada para a contrapenetração
no corredor de Guebambol."

Fonte: Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 240.
 
2. Comentário do editor LG:

Jorge, tu tens as melhores fotos de Fulacunda mas também fizeste uma reportagem completa e surpreendente  sobre a visita do  comandante do bigrupo, Bunca Dabó (ou  D'Abó, como tu o apelidaste)...  

É natural que houvesse, ainda, de parte a parte, alguma desconfiança. Afinal, o Acordo de Argel só seria assinado em 25 de agosto de 1974... Mas também era verdade que nenhuma das partes queria retomar as hostilidades...

O que salta à vista, nestas fotos históricas,  é a tua descontração (desarmado e em farda nº 2, fazendo as "honras à casa") em contraste com   o bigrupo do Bunca Dabó que vem "armado até aos dentes" (não faltam RPG e granadas, além das Kalash)... 

Convenhamos que, para uma visita de "cortesia e paz"  aos "Serrotes", a ti, aos teus camaradas e aos teus fregueses de Fulacunda, parece ser armamento a mais...  

Mas sobre esta visita conversaremos melhor  na II Parte.

Boas festas, feliz Natal, uma entrada suave, com paz e saúde, no Novo Ano de 2025. Luís

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Notas do editor: