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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22502: Memória dos lugares (425): Mafra, EPI, março de 1967: desfilando com o meu pelotão, o 1.º, da 1.ª Companhia de Instrução do COM, após o juramento de bandeira (Eduardo Moutinho Santos, advogado, Porto)

 

Mafra > EPI > Março de 1967 > Fotografia do meu pelotão (1.º Pelotão da 1.ª Companhia de Instrução) do COM de janeiro de 1967, desfilando de regresso à parada da EPI, depois do juramento de bandeira.   Nesta foto,  do meu  "álbum de guerra", estou em 3.º lugar na 1.ª fila. O sargento, que empunha uma FBP,  não conta.

A foto foi tirada por um familiar de um camarada soldado-cadete. A foto é de março de 1967. Ainda fiquei mais cerca de 3 meses em Mafra para a especialidade de atirador de infantaria... A foto não pode, pois,  ser do pelotão do Paulo Raposo, ele foi incorporado na 2.ª leva (Abril) de 1967 de futuros alferes...

Foto (e legenda): © Eduardo Moutinho Santos (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. M
ensagem de Eduardo Moutinho Santos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e ex-Cap Mil Grad, CMDT da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada), advogado com escritório no Porto, e régulo da Tabanca de Matosinhos; tem mais de 2 dezenas de referências no nosso, entrou formalmente para a Tabanca Grande em 22/10/2012 (*):


Data - terça, 31/08/2021, 12:53

Assunto - A galeria dos meus heróis (42): De companheiros de infortúnio a amigos para a vida

Olá, Luís Graça. Bom dia.

Esperando que estejas a gozar merecidas férias, e que a tua recuperação esteja a correr bem à sombra do Poilão de Candoz, queria, antes de mais, deixar-te um abraço de parabéns pelo enternecedor conto "A galeria dos meus heróis". De companheiros de infortúnio a amigos para a vida"  (**) que, após uma leitura atenta, quase me pareceu autobiográfico (de mim) em parte!!!

Fiz um comentário à fotografia de um pelotão de soldados-cadetes desfilando em Mafra, após o juramento de bandeira, de regresso à parada da EPI, foto que apareceu num dos "artigos " que o Paulo Raposo, nos longínquos anos de 2008, inseriu no Blogue de que eu, então, ainda desconhecia a existência. Não pode ser o pelotão do Paulo Raposo, ele foi incorporado na 2.ª leva (Abril) de 1967 de futuros alferes...

Aproveito para te enviar a mesma foto que tenho no meu "álbum de guerra", onde estou em 3.º lugar na 1.ª fila. O sargento não conta.

Abraço
Eduardo Moutinho
Advogado, Porto



Guiné > Região de Cacheu > Jolmete > CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845 (1968/70) > No "baú dos despejos" encontrei esta declaração que terei assinado para vir de férias, e que me terá sido devolvida porque não fui "d'assalto" até Paris... Fazia parte das regras militares assinar este tipo de declaração.

Foto (e legenda): © Eduardo Moutinho Santos (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentário de L.G.

Eduardo, fico sensibilizado pelo teu comentário. E lisonjeado, também. Tiveste a coragem de ler o conto (**), que é demasiado extenso para o blogue. A ideia era retratar uma época e uma terra de província. Este Portugal dos anos 40/50/60/70 já não existe, para os nossos filhos e netos, felizmente, é passado, ou melhor nunca existiu. Mas nós atravessámos essas décadas... E não foram pera doce. (***)

Obrigado por me teres autorizado a publicar a tua mensagem como poste, com o teu nome, incluindo a foto do teu pelotão, no COM, Mafra, jan-março de 1967. Já agora, vê se lembras de alguma vez, no teu tempo (1.º semestre de 1967) teres ouvido o termo "Máfrica" para designar, pejorativamente, a EPI.

Entretanto, e como já to disse, por email, ainda não estou em Candoz. Até sexta feira tenho fisioterapia, aqui na Lourinhã. Vou lá estar uma semana, e dia 11 de setembro, sábado, comprometi-me com o António Carvalho a ir, com todo o gosto (, e apesar das minhas limitações de mobilidade) à Tabanca dos Melros, fazer a apresentação do seu livro. Se lá puderes ir, teremos a oportundiade de falarmos um pouco mais e darmo-nos aquele abraço.
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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 22 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10556: Tabanca Grande (366): Eduardo Moutinho Santos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2366 e ex-Cap Mil Grad, CMDT da CCAÇ 2381 - "Os Maiorais" (Guiné, 1968/70)

(**) Vd. postes de:

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22388: Notas de leitura (1366): “História da Unidade - Batalhão de Caçadores 2845", em verso, por Albino Silva (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Julho de 2021:

Queridos amigos,
Os nossos poetas populares bem podiam um dia fazer uma jornada de convívio e contribuir para o levantamento destas peças que poderiam ajudar os investigadores do futuro a confirmar acontecimentos passados e bem referenciados pelo estro poético. Como é evidente, esta poesia não é isenta, são testemunhos com muitos abraços fraternos, ninguém comparece nos convívios com estas poesias pronto a fazer guerras pessoais. Acresce, como Albino Silva diz no seu livro, socorreu-se, para falar das companhias operacionais, da história da unidade, e como todos nós sabemos nem tudo ficou registado como exatamente aconteceu. Mas o que apraz neste momento realçar e que devíamos fazer um esforço a que haja um inventário dessa poesia popular da guerra da Guiné, uma verdadeira parente pobre, discreta e apagada da nossa atenção, que poderá vir a ter muita utilidade em novas gerações de historiógrafos.

Um abraço do
Mário


História do BCAÇ 2845 em verso

Mário Beja Santos

Ficará para as próximas gerações de investigadores a tentativa de apurar ou esboçar um inventário da história das unidades militares em verso, missão por ora inextrincável, sabe-se aqui e acolá da existência de poetas populares que procederam a tal registo. Guardo a melhor lembrança que tive quando descobri "Missão Cumprida", por António Alberto Santos Andrade, pertenceu ao BCAV 490, e que me catapultou para escrever "Nunca Digas Adeus às Armas".

Albino P. da Silva foi maqueiro, pertenceu à CCS do BCAÇ 2845, com sede em Canchungo (Teixeira Pinto) e com um conjunto de destacamentos envolvendo Bissorã, Olossato, Jolmete, Pelundo, Bachile e algo mais. Conta o seu itinerário que começou em Braga, esteve depois em Coimbra no Regimento de Serviço de Saúde, foi formar batalhão em Chaves no BCAÇ 10 e daqui partiram para Teixeira Pinto. Ficamos a saber que viveu em Angola, passou-lhe pela cabeça fugir, repensou e fez o serviço militar. Trabalha com quadras, e vê-se que não faz grande esforço para alcançar as rimas. Fora para Angola trabalhar, queria ser comerciante, assustou-se com o início da guerra, fugiu para França e lembrava-se daqueles sete soldados em Camabatela (Angola) que protegiam e guardavam a vila. Lembrava-se que esses sete soldados não tinham medo, e assim veio cumprir o serviço militar, chegam no princípio de maio de 1968 e partem imediatamente para Teixeira Pinto. Gosta de contar as suas brejeirices, o serviço de enfermaria abriu-lhe muitas portas para certas ternuras de ocasião. Aproveita para nos dizer que a CCS era composta por maqueiros e doutores, enfermeiros e eletricistas, mecânicos e condutores, sapadores e analistas, escriturários e cantineiros, cozinheiros e transmissões, SPM e padeiros. Seria incomum que não se queixasse da comida, mas não deixou de exultar as ostras e o camarão.

A sua poesia dirige-se inicialmente para a vivência da CCS, distribuição de muito mezinho, muita bajuda a consolar, dá-nos uma descrição de Teixeira Pinto, inevitavelmente o comércio de comes e bebes e em cada trecho de rapsódia deixa a sua marca de água, Albino Silva maqueiro da CCS. Lembranças não faltam, tanto das morteiradas como das batucadas, e põe a CCS num grande ecrã, de oficiais a praças, faziam as transmissões, os cozinheiros, os quarteleiros, o vagomestre, os mecânicos, não esquece os pintores nem o carcereiro, recorda todos com emoção.

Percebe-se que afina a sua mestria e a sua veia poética a propósito dos convívios, “tiramos fotografias/ alegres também cantamos/ prometemos uns aos outros/ que para o ano voltamos”. Destaca a enfermaria e maternidade em Teixeira Pinto, uma palavra muito especial para o médico, Maymone Martins, alvo de várias imagens. É certo e seguro que os convívios o estimularam a passar da CCS para as outras unidades, as operacionais, sabe exaltar quem mesmo na CCS tinha o corpo mais exposto, caso dos condutores e dos sapadores, manda um abraço ao sacristão militar que era um bom pregador e tudo quanto fazia era apenas por amor, sintetizando todos tinham um fraquinho pelas bajudas pacatas e que se não fosse a tropa também não haviam mulatas. Parece que Portugal inteiro esteve representado neste batalhão, ele vai elencando quem e como e a sua proveniência geográfica. E saudades da Guiné não lhe faltam, quando dela se fala na televisão sente sempre emoção e lança uma saudação e um pedido de cuidados: “O Governo agora é vosso / o território também é / por isso sois vós agora / a governar a Guiné. / Governai bem a nação / nós a malta não esquece / pois só queremos p’ra Guiné / o que de bom ela merece. / Nunca mais andei aos tiros / percam lá essa mania / combatam só os maldosos / que usam a cobardia”.

Chegou a vez de pôr em verso as companhias operacionais (CCAÇ 2366, CCAÇ 2367 e CCAÇ 2368). Agora sim, fala-se de valentia, armamento às costas, emboscadas, operações, citam-se os nomes, seguem-se os louvores, enumeram-se os efetivos, referem-se localidades como Olossato, Ponte de Maqué, Pelundo, Có, Jolmete, exaltam-se façanhas e bravuras. Não deixa de mencionar que houve recompletamentos das companhias, das milícias, das tabancas, o nome de todas as operações, deu-se ao cuidado de ler a história da unidade. E para todos chegou a hora do regresso. Fala de uma África que lhe atravessa o coração, de partilhas, de intensa camaradagem. “Sonhando contigo Guiné / creio ser bom e não mau / Assim se lembrarei sempre, da Guiné e de Bissau. / Guiné foi castigo / Guiné foi verdade / Guiné foi juventude / Guiné hoje saudade”. Agradece a ajuda que lhe deu o Comandante Aristides Monteiro, embora inicialmente tenha aparecido o Tenente-Coronel Martiniano, creio tratar-se do oficial-inquiridor que desceu de um helicóptero em Missirá, ele fora alvo de um processo de inquérito para se apurar como é que aquela mexeruca em duas grandes flagelações perdera 45 camas, centenas de lençóis e cobertores e fronhas, dezenas de pás e picaretas, correias de várias utilidades, até capacetes. Não houve para ali meias verdades, disse ao Sr. Coronel Martiniano que me tinham pedido da CCS para ali descrever nos relatórios das flagelações tudo quanto tinha desaparecido das arrecadações de Bambadinca e que o batalhão anterior descurara de dar baixa. O coronel riu-se e o inquérito foi arquivado. Aqui encontrei uma associação com as recordações poéticas do Albino Silva com o que a vida me ensinou a ser camarada de infortúnios de uma nova CCS, fi-lo com gosto, quem se interessaria em trazer cobertores fedorentos e arreios da I Guerra Mundial como recordações daqueles trópicos onde tudo apodrece?

E desejo ao Albino Silva que nos continue a dar conta de todos os seus convívios, já que a saudade é muita que também deseje melhor sorte à nossa querida Guiné.
Destacamento de Jolmete com a sua pista de aviação
Rua Principal de Olossato, fotografia da CCAÇ 2367 (1968-1970), com a devida vénia
Festa dos Manjacos em Bachile, do site Conversas ao Acaso, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22366: Notas de leitura (1365): “Oito Viagens, Uma Voz”, por Sérgio Matos Ferreira; Edições Vieira da Silva, Lisboa, 2018 (Mário Beja Santos)

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21312: Documentos (31): Envio de Declaração de comprometimento de voltar a Jolmete em alternativa a uma ida "d'assalto" para Paris (Eduardo Moutinho Santos, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2366)



1. Mensagem do nosso camarada Eduardo Moutinho Santos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e ex-Cap Mil Grad, CMDT da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada), com data de 31 de Agosto de 2020:

Carlos Vinhal
Um abraço.

No "baú dos despejos" encontrei esta declaração que terei assinado para vir de férias, e que me terá sido devolvida porque não fui "d'assalto" até Paris...

Fazia parte das regras militares assinar este tipo de declaração.

Partilha o documento com a Tabanca.

Novo abraço
Porto, 30/8/2020
Eduardo Moutinho Santos
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terça-feira, 5 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20945: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (5): Composição da CCAÇ 2366/BCAÇ 2845

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 28 de Abril de 2020:

Boa tarde Carlos Vinhal.
Já vi que publicaste todo o trabalho que te tinha enviado e por isso mesmo aqui vai mais um. Desta vez é a Companhia de Caçadores 2366, do Manuel Carvalho aqui na Tabanca, Periquito Atrevido - Jolmete.

Sem mais de momento, um grande abraço para todos os Chefes de Tabanca e, ainda para todos os Tertulianos.
Albino Silva

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Nota do editor

Último poste da série de 28 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20915: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (4): Composição da CCS/BCAÇ 2845 e vídeo do Convívo de 2011 dos Vampiros

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20862: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (2): Em Teixeira Pinto, um pintor/maqueiro ou um maqueiro/pintor

1. Em mensagem do dia 9 de Abril de 2020, o nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), enviou-nos parte das suas memórias, que esperamos tenham seguimento. Publicamos agora a segunda parte.

TEIXEIRA PINTO

Não bastava o serviço que ia fazendo e isto ainda nos primeiros meses de Guiné, quando numa formatura o Capitão Queiroz, Comandante da CCS, perguntou quem era pintor na vida civil mas, ninguém respondeu. Assim deu meia volta, entrou na Secretaria e 5 minutos depois voltou e chamou meu nome.

Como começou na letra A, foi fácil saber que eu era pintor fora da guerra e então dispensou-me de formaturas para eu ir pintar a Cantina da Companhia.~

Deu-me 4 latas de 5 litros de tinta com as cores vermelho, preto, branco e amarelo, e pôs o carpinteiro a fazer mesas e cadeiras dos barris do vinho, a que eu tinha de queimar a cera para que a tinta agarrasse.

Pintei mesas e cadeiras, pintei paredes e emblemas, como o das Panhards, o da CCS, Batalhão e mapa de Portugal. Uma das paredes era reservada a cada um que quisesse escrever o nome de sua terra em troca de umas moedas para umas "bazucas", cerveja.  No Mapa de Portugal havia apenas cores das Províncias e um pontinho em cada Cidade mas sem nome, que da mesma forma só com uns Pesos na lata era escrito o nome da Cidade. Lembro que o primeiro a querer colocar o nome era um Major de seu nome Guilhermino Nogueira Rocha, mas que aguardou que toda a malta de Lisboa lá colocassem também os Pesos.

Assim nesse sistema o mapa foi cheio não só das Cidades mas também de Vilas.

Numa das paredes e já depois de tropa estar a dormir, escrevi, Sala Tenente Coronel Aristides Pinheiro, que com a Bandeira Portuguesa foi tapado para o dia da inauguração da Cantina.

Chegou o dia e à noite, por volta das 21h00, concentraram-se os Oficiais, Sargentos e a tropa da CCS e não só, pois também alguns civis marcaram presença bem como o Major Guilhermino Rocha, e então o Comandante, Aristides Pinheiro, fez a inauguração da Cantina com o seu nome. Houve festa da boa pois tinham vindo de Jolmete para o efeito alguns militares da companhia 2366 com concertinas, viola e bombos, tornando a festa mais linda. O mal foi a partir dali.

O Major, a quem chamávamos o V..., cheio de inveja por não ser o seu nome na Cantina e ser do Comandante, começou a passar por mim e ameaçar-me com uma porrada, até que um dia mandou o seu condutor procurar-me no Quartel para ir ter com ele. Não fui, mas no dia seguinte ameaçou o condutor com uma porrada se não me levasse. Estava eu a sair da Casa do Médico , o “Dr. Maymone”,  às nove da manhã quando o condutor parou o Jeep e disse-me para eu entrar e que arranjasse desculpa para o Major porque ele estava como uma fera e prometia porrada. Então entrei no Jeep, e logo tirei a boina da cabeça, desabotoei a camisa e pus a fralda de fora.

Ao chegar ao Comando, o homem em grande gritaria contra mim, perguntou-me se era forma de me apresentar a um Comandante, e onde tinha estado no dia anterior que ninguém me viu no Quartel. Respondi que tinha estado de Guarda ao Fortim, o que era mentira. Então disse-me ele:
- Quero-te aqui à uma hora para começares a pintar o Bar dos Senhores Oficiais.

Ao que eu respondi que não era pintor mas sim do Serviço de Saúde. Resposta dele:
 - Não quero saber, e à uma hora aqui, e não és dispensado de qualquer serviço.

Chamou o rapaz que estava no Bar e disse-lhe que,  enquanto eu estivesse ali a pintar, para não me levar dinheiro daquilo que eu quisesse do Bar.

Apareci para o trabalho às duas da tarde e não à uma como ele tinha dito. Ele estava à minha espera e disse-me:
- Eu não te mandei estar aqui à uma hora?

Minha resposta foi que tinha estado à uma hora mas tinha o maçarico entupido e tive de ir à oficina auto desentupir, por isso cheguei mais tarde.

Então disse ele que ia perguntar ao Sargento Mecânico se eu tinha ido lá com o maçarico e também ia à Secretaria saber se eu tinha estado de serviço e foi mesmo mas eu já tinha falado com o 1.º Sargento e com o Mecânico para eles confirmarem.

Normalmente aquele trabalho era para uma semana, mas levou um mês, já que como não pagava nada no Bar, era só desenfiar tabaco e cerveja para o pessoal do Serviço de Saúde e para mim.


Num belo dia o tal Major foi dar uma volta numa motorizada de um Fuza, e ao chegar ao fundo da Avenida caiu e esfarrapou-se todo. Telefonou o médico para a Enfermaria e lá tive eu de lhe ir fazer o curativo durante 5 dias.

Mais tarde apanhou o paludismo e eram 2 horas da noite, telefonou o médico para ir medicá-lo com urgência que estava com paludismo. Chamei o Maqueiro de serviço e, como era urgente, o rapaz nem se fardou como devia levando nos pés uns chinelos, sem boina. Foi, bateu à porta e o Major manda entrar mas ao ver que ele não estava fardado em condições, insultou-o de tudo e ameaçou-o com uma porrada. Isso de porrada era o seu forte em oferecer. O Maqueiro chegou à Enfermaria todo furioso porque o Major o insultou, sinal de que não estava assim tão mal como o médico tinha dito.

Peguei eu no estojo com seringa e agulha e lá fui em tronco nu sem nada na cabeça. Bati à porta e logo me mandou entrar. Ao olhar para mim, num forte grito disse:
 - Ó pá,  tu és enfermeiro ou pintor? Entra.

Entrei e disse-lhe que era pintor na vida civil e Maqueiro na guerra. Então preparei uma injeção que tomou nas veias e logo outra de Hidromicina Forte, intramuscular. Tinha dado as injeções e diz ele:
- Então não me dás mais a injeção?

Respondi dizendo que a próxima seria no dia seguinte. Então diz ele:
- Ó pá tanta vez te ofereci porradas e tu ias apanhá-las e não dizias nada.

Eu respondi:
- Meu Major eu conhecia bem seu feitio e sabia que nunca me ia castigar porque nunca fiz mal a ninguém e cumpria tudo direitinho como na Recruta me haviam ensinado. Por outro lado, saiba o meu Major que sou voluntário aqui na Guerra.

Diz ele:
- Voluntário?
- Sim meu Major. Eu tinha estado em Angola e quando começaram os massacres perto de mim, lá no Norte, concretamente no Quitexe, eu tive de vir embora, mandado pelo Administrador, pela idade que eu tinha, 14 anos. Depois, cá, para não ir para a tropa porque iria parar ao Ultramar, fugi para França de assalto. Ao fim de um ano tive de ir ao Consolado de Portugal em Lyon e perguntei ao Cônsul até que idade tinha de estar em França para não ir para a tropa, ao que ele respondeu que só a partir dos 40 anos podia regressar a Portugal. Não esperei mais e fiz o passaporte de regresso a Portugal e vim para a tropa. Por isso considero-me voluntário.

Então o Major bateu-me nas costas e disse:
- Fizeste bem, rapaz. Daqui a pouco tempo vamos embora e és um homem livre. Não conhecia tua história e coragem. Agora quero que sejas tu a vir dar-me as injeções que faltam porque não quero outro.

A partir dali era dos melhores amigos que eu tinha, e tanto assim que todos os meses mandava o impedido dele vir entregar-me um envelope com 100 Pesos dentro. Eu dizia cá para mim, que pena não ter sido mais cedo…

Em Teixeira Pinto e arredores não havia ninguém que gostasse dele e até chegou o General Spínola a ir a Teixeira Pinto falar-lhe e ameaçá-lo com um castigo, o que veio mesmo a acontecer, pois mandou-o para o Cacheu.

Foi numa das escoltas, e para nosso espanto, num belo dia, ao inicio da tarde, apareceu de Jeep sozinho em Teixeira Pinto, regressando na mesma sozinho até ao Cacheu. Ficávamos espantados porque não fossem os bombardeiros ou o heli canhão levávamos porrada. Como era possível ele fazer aquilo sozinho?

Estas são memorias minhas mas que há muito mais para contar.

Albino Silva,
Sol. Maq. 011004/67
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Nota do editor

Poste anterior de 14 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20856: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (1): Mobilizado para a Guiné, destino: Teixeira Pinto

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18989: (De)Caras (116): Sou dos que acreditam na história que o Cajan Seidi conta sobre o aniquilamento de cerca de vinte Homens Grandes da população de Jolmete, em 1964 (Manuel Carvalho, ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70)






Guiné > Região do Oio > Jolmete > Caç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) > O grandalhão do Manuel Carvalho com a "lavadeira Melinha", a Amélia, hoje a 3ª mulher do Cajan Seidi, atual régulo de Jolmete, neto de Cambanque Seidi, o régulo de Jol que, em 1964, terá sido executado pelas NT, à frente de um grupo de duas dezenas de homens grandes, como represália pela sua alegada colaboração com o PAIGC. O  pai do Cajan, por sua vez, tinha sido morto pelo PAIGC, logo no início da guerra de guerrilha.


Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) >  "Baile, na recepção aos periquitos da CCAÇ 2585: a dançar,  a partir da esquerda,  um furriel mecânico, o Crista de costas e eu. A minha lavadeira já me tinha posto os palitos."


Guiné > Região do Oio   > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) >  Foto sem legenda: as "mulheres grandes" e a NT... Apoio médico-sanitário ?...  Nesta altura, a pouca população que existia, tinha sido "recuperada do mato"... Depois dos trágicos acontecimentos de junho/setembro de 1964, os sobreviventes (mulheres e crianças), ter-se-ão refugiado nas matas do Oio...


Guiné > Região do Oio  > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) >  Vista (parcial) da tabanca.



Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) >  "Eu, com o Dandi e o Martins na chegada da operação em que apanhamos o RPG2 e três armas". (Dandi, natural de Jol, no chão manjaco, capitão da companhia de milícias do Pelundo, agraciado com Cruz de Guerra pelo Gen Spínola em 1972, será fuzilado pelo PAIGC em 1975)

Fotos (e legendas): © Manuel Carvalho (2012). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70) ao poste P18988 (*):


(...) "Pois o Cajan foi um dos nossos valentes milícias de Jolmete,  conhecia muito bem a zona e foi muitas vezes o homem da frente, é bom vê-lo ainda com alguma saúde, também não andará longe dos setenta anos.

A Amélia que está na segunda foto de vestido rosa,  continua muito franzininha como era há 50 anos mas tratava muito bem da roupa de muitos de nós e até julgo que tinha algumas mais velhas,  suas colaboradoras. Quem quiser ver como ela era há 50 anos,  tenho uma foto com ela ao colo no poste P10191 (**).

Sou dos que acreditam na história que o Cajan conta sobre o aniquilamento de cerca de vinte Homens Grandes da população de Jolmete. (***) (...)

2. Excerto do poste P10191:

(...) Ao ler as estórias e ver as fotos do Augusto Santos, de Jolmete do ano de 72, lembrei que tenho fotos de Jolmete do inicio de 68 quando nós,  CCaç 2366,  lá chegamos. Sei que pelo menos o Augusto Santos o Manuel Resende e o Firmino vão gostar de ver algumas diferenças.

Como podem ver em Jolmete até bailes fazíamos,  foi a recepção aos periquitos da CCAÇ 2585: a dançar da esquerda um furriel das viaturas, o Crista de costas e eu. A minha lavadeira já me tinha posto os palitos. (...)

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18988: Blogues da nossa blogosfera (103): "Memórias de Jolmete", de Manuel Resende: Cajan Seidi, o atual régulo de Jolmete, neto de Cambanque Seidi, o régulo de Jol que, em 1964, foi uma das cerca de 20 vítimas de represálias das NT (Manuel Resende / Eduardo Moutinho Santos)


Guiné-Bissau > 2017 > Moutinho dos Santos com Cajan Seidi, a quem convidou para  ir almoçar em Canchungo (ex-Teixeira Pinto).


Guiné-Bissau > 2017 > Moutinho dos Santos e o Fernandino Leite  com a Amélia,  a 3ª mulher de Cajan Seidi, e com os seus filhos,  em Jolmete.

Fotos (e legendas): © Eduardo Moutinho Santos / Manuel Resende (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Blogue Memórias de Jomete > 30 de agosto de 2018 > Post nº 76 - Cajan, Régulo de Jolmete (*)

Manuel [Cármine] Resende [Ferreira] [, foto à direita,]
ex-alf mil art,  CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884,
Jolmete, Pelundo, Teixeira Pinto
(, maio 69/mar 71)

Nota informativa para quem não se lembra: 

Moutinho dos Santos era alferes da Companhia que esteve antes de nós em Jolmete, a CCAÇ 2366. Era a Companhia do sr. capitão Barbeites. Depois de sair de Jolmete em 28 de maio de 1969 (, dia em que ficámos por nossa conta, e logo com um grave acidente com a bazuca do 1º cabo Brotas), tal como mais tarde o nosso alferes Almendra, foi graduado em capitão pelo sr. general Spínola e a Companhia foi para Quinhamel, gozar “férias”, mas ele, como capitão, teve que ir comandar outra Companhia no Sul [, CCAÇ 2381]. Presentemente exerce advocacia no Porto e é um excelente elemento [, um dos régulos,] da Tabanca Pequena de Matosinhos, com várias idas à Guiné para entrega de bens.


[Eduardo Moutinho Santos, ex-alf mil, CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e cap mil grad. cmdt da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada); foto à esquerda]


Pergunto eu a Moutinho dos Santos:

“Amigo Moutinho Santos, recentemente estive com o Marques Pereira, alferes da minha Companhia, a 2585,  que vos sucedeu. Presentemente vive em Moçambique, e veio cá. Mostrei-lhe fotos do Cajan e disse-lhe que o Cajan tem um filho médico no Hospital de Santo António, creio que foste tu que me deste essa informação. Sabes quem é a mãe? perguntou ele, será a Maria Sábado, do nosso tempo ?.... Sabes alguma coisa dele, ou contactos... “ (*)


Resposta de Moutinho dos Santos:

Olá, Resende.

De facto, o Cajan Seidi, soldado milícia do Pelotão de Milícias de Djolmete, que "alinhou" connosco, e convosco, nas matas do Djol, tem em Portugal, mais especificamente no Porto, um "filho" médico, o dr. Jorge Seidi (conhecido entre os amigos por Jorgito). Ele faz parte das equipas de Urgências do Hospital de Santo António, penso que como contratado de uma empresa de "manpower" que presta serviços aos hospitais do Porto. Pus a palavra filho entre aspas, pois, na verdade ele não é filho biológico do Cajan, mas sim sobrinho.

Como sabes, segundo as "leis" da etnia manjaca, e de outras etnias da Guiné, em que os sobrinhos e primos também são considerados "filhos" quando vivem todos na mesma morança, o irmão que herda a "posição" (sucede no cargo) de outro irmão mais velho, também "herda" a mulher e os filhos do irmão. Com o Cajan sucedeu isso.

O avô do Cajan, de nome Cambanque Seidi, régulo do Djol, tinha vários filhos, sendo um deles o pai do Cajan, de nome Domingos, que foi morto pelo PAIGC logo no início da luta pela independência. O avô, ao tempo régulo, foi um dos mortos na "chacina" praticada em 1964 pelas NT contra os homens grandes da tabanca de Djolmete e outras do regulado.

Este "assunto" consta de um Post do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, ali colocado por um Furriel [, António Medina,] de uma companhia [, CART  527,] da guarnição de Bula / Teixeira Pinto em 1964, antigo combatente que emigrou para os USA (**)... O Cajan teria nesta data 15/16 anos...

[Foto à esquerda: Antonio Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, CalequisseCacheu,Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA desde 1980; tem dupla nacionalidade, portuguesa e norte-americana; é nosso grã-tabanqueiro desde 1/2/2014]

Este "assunto", a que ninguém se referia quando estivemos em Djolmete, e também nunca falado anteriormente quer pelo nosso Exército quer mesmo pelo PAIGC, foi-me confirmado pelo Cajan e por dois dos seus "filhos" que, inclusive, na última visita (2017) que fiz a Djolmete,  quiseram indicar-me o local onde foram enterrados, em "vala comum", muito perto do sítio onde os nossos 3 majores foram mortos em 1970...

Como o Cajan era o neto sobrevivo mais velho do régulo, veio a "herdar" o cargo do avô, pois o irmão/primo a quem tal cargo pertenceria já tinha falecido, deixando viúva a Quinta e o filho Jorge que - na altura em que estivemos em Djolmete - estaria à guarda de um tio em Dakar (Senegal) e internado numa Missão Católica. Oficialmente ninguém se referiu - que eu saiba - ao cargo do Cajan durante a nossa estadia em Djolmete.

Assim, o Cajan com o cargo de régulo do Djol, herdou como 1ª mulher a cunhada, de nome Quinta - que vivia em Djolmete ao tempo em que nós por lá estivemos -, de quem veio a ter mais 3 filhos (Joãozinho, falecido, Minguito e Melita, médica em Bissau). Actualmente está em Portugal com o filho,  dr. Jorge. O Cajan tem mais 4 mulheres... e 25 filhos ao todo...

A segunda mulher do Cajan é a Maria Sábado - nossa conhecida - de quem o Cajan tem vários filhos (um deles o Fidalgo que é professor e director da Escola E/B de Canchungo, ex-Teixeira Pinto).

A terceira mulher do Cajan é a nossa conhecida Amélia, de quem o Cajan tem 6 filhos (vários deles a viver em Bissau).

A quarta mulher do Cajan é a Emília de quem o Cajan tem vários filhos. 

Por fim, a quinta mulher, ainda muito nova, de nome Maria, também tem já filhos...

Para o ano, se tudo correr bem, se houver "patacão"  e a saúde ajudar, tenciono voltar à Guiné-Bissau e a Djolmete para, com a Tabanca Pequena de Matosinhos, fazermos a instalação de um poço artesiano, pois, os poços tradicionais que a ACNUR abriu na Tabanca de Djolmete, quando serviu de Campo de Refugiados dos independentistas do Casamance, secaram todos e a população (3.000 habitantes), que só tem uma hora de água por dia do poço do Centro de Saúde, voltou a ter de ir buscar a água à bolanha...

Depois falamos sobre este assunto.

Um abraço,
Eduardo Moutinho Santos

[Reproduzido com a devida vénia. Revisão  e fixação de texto: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné] 
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Notas do editor:

domingo, 24 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15660: Inquérito 'on line' (33): Só pouco mais de um terço (35,7%) de um total de 123 respondentes, é que diz que "sim, a tropa fez de mim um homem"...



Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3



Foto nº 4


Guiné > Região de Cacheu > Jolmete > c. finais de 1968/ maio de 1969 > 

Fotos nº 1 e 2 > Senhora Supico Pinto também a falar ao pessoal no refeitório; 

foto nº 3 > Na messe; à  esquerda julgo que é o falecido sr maj Passos Ramos, depois, sentada, uma senhora do MNF que não sei identificar;  a seguir, de pé, o nosso cap Barbeitos a falar com a esposa [, elegantíssima,] do general Spínola e depois, sentada, está a Cilinha Supico Pinto, como era conhecida e tratada naqueles tempos. 

Foto nº 4 >  Spínola em Jolmete com as senhoras do MNF: destaque para Cecília Supinco Pinto, de amarelo.

Fotos do álbum de Manuel Carvalho (ex-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70). (*)


Fotos (e legendas): © Manuel Carvalho (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


A. INQUÉRITO DE OPINIÃO: "SIM, A TROPA FEZ DE MIM UM HOMEM"


1. Totalmente verdadeiro > 10 
(8,1%)
2. Verdadeiro > 34 
(27,6%)
3. Nem verdadeiro nem falso > 53 
(43,1%)
4. Falso > 15 
(12,2%)
5. Totalmente falso > 8 
(6,5%)
6. Não sei responder > 3 
(2,4%)
Votos apurados > 123  
(100,0%)


Sondagem fechada: 21 jan 2016  10h06.

B. Comentário dos editores:

Não sei se poderia perguntar às mulheres, hoje,  se a tropa fez (ou faz) delas "mais mulheres"... SEm o querer, estamos a jogar com os estereótipos homem/mulher...

No nosso tempo não há a quem perguntar, com exceção das nossas camaradas enfermeiras paraquedistas (que tiveram o mérito, histórico, de abrir às mulheres as fileiras das Forças Armadas Portuguesas)... As poucas mulheres que "foram à guerra", no TO da Guiné, era "esposas", civis, que acompanharam os maridos, militares,  nas suas comissões de serviço, nalguns (poucos) sítios, relativamente seguros e confortáveis... E, claro, Cecília Supico Pinto, sempre "festiva",  e as suas colegas do Movimento Nacional Feminino (MNF).

Para os homens, a tropa está longe de ter sido uma experiência "realizadora"... É, pelo menos, o que se depreende das respostas (n=123) ao nosso inquérito de opinião, "fechado" no passado dia 21. (**)
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Notas do editor:

(*) Vd.. poste de 24 de janeiro  de 2013 >  Guiné 63/74 - P10999: Ainda as visitas da Cilinha pelas Unidades Militares estacionadas no mato (Manuel Carvalho)

(...) Ao ver o poste sobre a visita ao Olossato das Senhoras do MNF (...),  lembrei-me que devia ter fotos, e tenho 5, não sei se são todas da mesma visita, porque duas tem indicação de meados de Maio de 1969 e as outras não tem data.

Da comitiva fazem parte o Sr. General Spínola e o então cap. Almeida Bruno que na altura o acompanhava sempre e numa foto na messe julgo que está de camuflado o Maj. Passos Ramos, que cerca de um ano mais tarde viria a ser cruelmente assassinado pelo PAIGC naquela zona.
Está também a esposa do Sr. General Spínola e uma Senhora do MNF que não sei identificar.

Para além desta visita a Jolmete penso que houve uma outra em fins de 68 ou princípio de 69 mas não tenho a certeza. Como sempre foram distribuídos uns maços de cigarros uns isqueiros e umas palavrinhas para atenuar a crise. (...)

(**) Último poste da série > 20 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15643: Inquérito 'on line' (32): "A tropa fez de mim um homem"?... A tropa acrescentou a decisão e a determinação na acção, atitudes muitas vezes necessárias para o vencimento de inércias, e o alcance de objectivos (José Manuel Matos Dinis, "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha)

sábado, 26 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15159: O nosso querido mês de férias (3): 10 de março de 1970: eu a partir e o ministro do ultramar, Silva Cunha, a chegar, no mesmo Boeing 707, da TAP ( Manuel Resende, ex-alf mil da CCaç 2585 / BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)


Guiné > Bissau > Bissalanca > Aeroporto > 10 de março de 1970 > Saída dos passageiros

Guiné > Bissau > Bissalanca > Aeroporto > 10 de março de 1970 > Aguardando a chegada do 707 da TAP, com o ministro do Ultramar, Silva Cunha



Guiné > Bissau > Bissalanca > Aeroporto > 10 de março de 1970 >  Sessão de cumprimentos. [Joaquim Silva Cunha foi ministro do ultramar, de 1963 a 1973; a visita à Guiné nessa altura foi de 10 a 19 de março de 1970].



1. Texto do Manuel Resende, ex-alf mil da CCaç 2585 / BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)


Estive em Jolmete desde maio de 1969 até março de 1971. Fui de férias, uma vez,  à metrópole, no período de 10 de março a 10 de abril de 1970 [, e não em julho de 1970, como escrevi por lapso no poste P5246 (*)].

Quando fui de férias embarquei no mesmo 707 da TAP que tinha trazido Silva Cunha à Guiné, daí as fotos que tirei no aeroporto [, vd acima].

No aeroporto de Bissalanca havia grande agitação. Esperava-se a chegada do avião da TAP com o senhor ministro do ultramar, e não dos deputados da metrópole que vinham visitar a Guiné, e que depois irão morrer num acidente de helicóptero (. A minha confusão deveu-se aos 40 anos de esquecimento quase total das coisas da Guiné, só quando descobri o nosso blogue é que me comecei a entusiasmar.)

Tirei algumas fotos no aeroporto,  mas como a minha meta  era embarcar (**), não liguei muito a essa visita. Era um dia de semana, 3ª feira, o 10 de março de 1970.

Silva Cunha irá depois visitar Jolmete no dia 16 de março, 2ª feira. Silva Cunha dirigiu-se ao CAOP em Teixeira Pinto, e de lá foi a eventualmente ao Pelundo, sede do meu Batalhão. A comitiva foi depois a  Jolmete em três helicópteros.

Chegado a Jolmete, depois das férias, em abril de 1970,  fui informado  da visita do ministro do ultramar. Como havia fotos da visita,  tiradas pelo furriel Rodrigues,  da minha Companhia, eu adquiri cópias, que são as que mostro a seguir.

Terminada a visita,  os helis saíram de Jolmete para Teixeira Pinto depois do almoço, para deixarem o pessoal do CAOP. Como não estive lá,  não sei quem foi do CAOP, mas pelo menos o sr. coronel Alcino, comandante, esteve lá, como se pode ver em quase todas as fotos.

Jolmete era um aquartelamento exemplar no mato. O sr. general Spínola tinha um fraquinho por Jolmete; esta mensagem foi-nos transmitida logo à chegada. Os nossos antecessores, CCaç 2366 comandada pelo sr. cap Barbeites, construíram o quartel de raiz, nós continuamos e aperfeiçoamos. Eles tiveram uma forte actividade militar, nós continuamos e aumentamos, com saídas praticamente diárias, o que nos privou de ataques ou flagelações ao aquartelamento durante toda a comissão.

Construímos, entre outras coisas, dois abrigos, a vala de defesa em volta do quartel, uma escola e 24 casas para a população civil, graças à nossa equipa de pedreiros, como o Firmino (Régua), o Ramos, o Lima, o Spínola (não confundir com o nosso General), o Risadas e outros que não me recordo os nomes, mas que de seu modo, deram o corpo ao manifesto, erguendo obra que após a independência foi toda destruída.

A companhia que nos sucedeu, foi a CCAÇ 3306.

Manuel Resende


Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Abre-se a porta e vê-se o gen Spínola. No banco de trás o cor Alcino, cmdt do CAOP.




Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Do outro heli saem outras individualidades



Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Cap Almendra, cmtd  da CCAÇ 2585 cumprimenta e dá as boas-vindas ao gen Spínola e ao ministro do ultramar, Silva Cunha





Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Cumprimentos ao oficial de dia, alf mil Marques Pereira, pelo ministro Silva Cunha e gen Spínola. Vemos distanciado, à esquerda, o cor Alcino,l cmdt do CAOP.




Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Visita da comitiva à cozinha. Além de Siva Cunha e coronel Alcino, vemos dois furriéis dos helis e dois repórteres

Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Visita à Capela



Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Despedidas finais, regresso a Bissau



Guiné > Região do Cacheu > Jolmete >  O capitão Almendra, cmdt da companhia, a CCAÇ 2585. Era alferes mil graduado em capitão, tendo substituído, em agosto de 1969, o capitão QP, António Tomás da Costa, promovido a major.

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14519: (Ex)citações (272): Os bailaricos de Jolmete com instrumentos oferecidos pelo MNF (Manuel Carvalho)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70), com data de 11 de Abril de 2015:

Boa noite Carlos
Ao ver o poste sobre os instrumentos musicais oferecidos pelo MNF para Bambadinca(*), lembrei-me que nós CCAÇ 2366 também recebemos uma oferta semelhante em meados de 68 pouco tempo depois de chegarmos a Jolmete.

Como a população era pouca e a maioria vinha do mato e pernoitava tudo dentro do arame farpado procurávamos animar um pouco o ambiente e então os instrumentos eram fundamentais.

Fizemos um ou outro bailarico inclusive na recepção aos periquitos da CCAÇ 2585, outras vezes cantávamos e tocávamos, enfim o que era preciso era animar a malta.

Já não me lembro o que foi feito dos instrumentos, se vieram se ficaram lá.

Tenho pena destas fotos não serem vídeos com som. As baterias parecem iguais.

Carlos estás à vontade para fazeres o que muito bem entenderes com este material.

Um grande abraço
Manuel Carvalho










Fotos: © Manuel Carvalho
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 10 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14455: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (97): José Maria de Sousa [ Ferreira, minhoto de Braga, com escola de condução no Porto], ex-sold mec aut (BART 1904 e PINT, Bambadinca, 1968/70) descobre os seus companheiros do conjunto musical, da CCS/BCAÇ 2852, a quem o Movimento Nacional Feminino ofereceu, em 1969, os instrumentos

Último poste da série de 16 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14479: (Ex)citações (271): Também estive na Op Bola de Fogo, de 8 a 14 de abril de 1968, no apoio à construção do aquartelamento de (e depois nos reabastecimentos a) Gandembel (Mário Gaspar, ex-fur mil MA, CART 1659, Gadamael, jan 67 / out 68)