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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22959: Agenda cultural (798): Apresentação do livro "Guerra, Paz... e Fuzilamentos - Guiné 1970-1980" da autoria de Manuel Bernardo, dia 15 de Fevereiro, pelas 15h00, na Livraria-Galeria Municipal Verney, Rua Cândido dos Reis, 90 - Oeiras. A obra será apresentada pelo Coronel Tirocinado Comando Raul Folques

C O N V I T E


GUERRA, PAZ... E FUZILAMENTOS - GUINÉ 1970-1980

Da autoria do Cor. Manuel Amaro Bernardo

BARROSO da FONTE

Por ocasião dos 28 anos da inauguração do Monumento Nacional aos Combatentes do Ultramar, situado junto ao Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa, chega aos escaparates das melhores livrarias do país, a obra: GUERRA, PAZ... E FUZILAMENTOS - GUINÉ 1970-1980.

Assina este livro de livros, o Coronel Manuel Amaro Bernardo que nasceu em Faro, em 1939 e que é «um oficial reformado do Exército Português. Desde 1977, passou a fazer investigação sobre a História Contemporânea mais recente, tendo publicado nove livros até 2013». Extratos desses livros relacionados com a Guiné, mais aditamentos posteriores, reaparecem, em 472 páginas, algumas das quais já faziam parte de outra obra com idêntico título, em 2007.

Não conheci pessoalmente este meu coetâneo, ele do quadro permanente e eu miliciano. Mas a sua vasta obra, coerente, patriótica, disciplinada e rigorosa sempre me alentou a formar e a formatar essas virtudes culturais e cívicas que me nortearam, como jornalista e autor, nestes 68 anos de militância ininterrupta que completo em 24 deste mês. Na minha biblioteca pessoal, exposta ao público, na Cidade Berço, que chegou a ter vinte e três mil títulos, antes de enviar partes para Timor, Câmara de Montalegre e associações periféricas, consegui adquirir, cerca de um milhar de obras de militares de todas as ideologias. Prefaciei várias, editei dúzias (como editor) e como recensor literário, li muitos mais.

Confesso que uma leitora que pessoalmente não conheço mas que me privilegia com a sua amizade e a qual considero, uma espécie de anjo da guarda de todos, frequenta, em Lisboa, os centros culturais recomendáveis para as apresentações de livros.

A Editora Âncora, por exemplo, pegou no programa «Fim do Império» que foi criado pelo Coronel Manuel Barão da Cunha, quando foi funcionário da Câmara Municipal de Oeiras, no sector Cultural.

A maior parte dos livros dos militares de Abril, quer do quadro quer milicianos, primam pela entrega das obras que nos últimos 25 anos se têm publicado. Os amigos do livro, já conhecem os locais das apresentações. E, mal sabem de mais um, logo partilham essa presença, mesmo à distância.

Com mais esta obra assim aconteceu. Acabei de ler, reler e anotar elementos para uma recensão. Manuel Amaro Bernardo, Alberto Ribeiro Soares, Jorge Golias, Jorge Lage, Manuel Barão da Cunha, todos coronéis da Guerra do Ultramar, são figuras de alto nível intelectual e académico que aprecio ter à mão para reconhecer que todos fizemos parte do mesmo ciclo. Esse ciclo prejudicou a todos, quer os profissionais das armas, quer os milicianos. Aqueles viram interrompidas as suas carreiras às portas do generalato. No meu caso que foi o de muitos milhares, que atrasaram os seus cursos superiores o seu casamento, a reconstrução das suas vidas familiares. Nunca, alguém, corrigiu esta aberração. Mas ela existe desde que a democracia ficou institucionalizada. Esse quisto, quicá furúnculo gangrenoso, é irreversível

Compensações? Somente os 310 ex-políticos e juízes que durante toda a sua vida receberão, mensalmente, pensões de luxo, entre 883 e os 13.666 euros. Mas estas verbas, conhecidas por «subvenções mensais vitalícias» nada têm a ver com os restantes rendimentos do trabalho profissional desses sortudos.

Este livro de um comentador bem documentado, obriga a uma reflexão sobre os 48 anos de democracia em construção. Edição da Âncora - programa Fim do Império.

Barroso da Fonte

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22932: Agenda cultural (797): Museu do Aljube, Resistência e Liberdade, Lisboa: exposição temporária, de 13/1 a 20/3/2022: "A Guerra Guardada: Fotografias de Soldados Portugueses em Angola, Guiné e Moçambique (1961-74)

terça-feira, 15 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18636: Agenda cultural (637): Lançamento do livro "A Força Aérea no Fim do Império" (Lisboa, Âncora Editora, 2018, 480 pp.) (José Matos)

Capa do livro


1. Mensagem do nosso amigo José Matos, com data de 9 do corrente,

[Investigador independente em História Militar; tem feito investigação sobre as operações da Força Aérea na Guerra Colonial, principalmente na Guiné; é colaborador da Revista Mais Alto, da Força Aérea Portuguesa; tem publicado também o seu trabalho em revistas europeias de aviação militar, em França, Inglaterra e Itália; é membro da nossa Tabanca Grande desde 7 de setembro de 2015, tendo cerca de 3 dezenas referências no nosso blogue]

Olá,  Luís:

Pedia-te para divulgares no blogue a seguinte obra colectiva.

“A Força Aérea no Fim do Império” é um livro que acaba de sair na editora âncora sobre a forma como a Força Aérea actuou em África durante a guerra colonial. O livro tem textos de 24 autores que abordam diferentes aspectos da actuação da FAP nos antigos territórios ultramarinos.

O livro agora editado vai ser apresentado no dia 28 de Maio, em Lisboa, e incide exclusivamente sobre a acção da Força Aérea nas três ex-colónias. Como sabemos, foi uma força que teve um papel muito importante nas acções militares, mas também no apoio logístico levando comida, correio e outras coisas a quartéis muito isolados.

O livro tem 480 páginas e já está à venda nas livrarias e custa 24€. Para além das livrarias também pode ser encomendado directamente na própria editora. Ver o sítio aqui.

Ab,  Zé


2. Palavras do presidente da Liga dos Combatentes, sobre o livro:

 «Repito e reforço esta ideia, quantos combatentes, de Terra, Mar e Ar, estão vivos e devem a vida à ação da Força Aérea? Jamais se pode falar da História da Força Aérea, sem que se enalteça o período mais brilhante, como Ramo Independente das Forças Armadas Portuguesas: a sua ação na Guerra do Ultramar, antes, durante e depois dela ter terminado. 

"Por isso aqui estamos a enaltecer, sublinhar e agradecer em nome de todos os que direta ou indiretamente sentiram o que foi a ação da Força Aérea, nessa guerra, quer em ações independentes quer na extraordinária forma como conduziu, no seu âmbito, a Cooperação Aeroterrestre. A Força Aérea, sempre ao longo de toda a sua História, tem sabido evoluir de acordo com as circunstâncias e com os recursos disponíveis. Novos combatentes cumprem novas missões nas Operações de Paz e Humanitárias. A todos desejamos os maiores êxitos.»

Joaquim Chito Rodrigues
Presidente da Liga dos Combatentes


3. Sobre os 3 autores do livro, ver as seguintes notas biográficas: 

(i) Tenente-general piloto-aviador António de Jesus Bispo

Nasceu em 1938, em Abrantes. Serviu na Guiné, nos princípios de 1963, por cerca de três meses, como tenente; de agosto de 1964 a abril de 1966, como capitão com qualificação operacional em F86F, T6-HARVARD e DO27 e comandante de esquadrilha e de esquadra; e em nova comissão de serviço, de outubro de 1970 a novembro de 1971, como major com qualificação operacional em FIAT-G91, T6-HARVARD e DO27 e comandante do Centro de Operações Aerotácticas do Grupo Operacional.

Realizou cerca de 1100 horas de voo em acções operacionais do Aeródromo Base n.º 2, depois Base Aérea n.º 12, da Guiné.

É coautor do 9.º livro da coleção Fim do Império, "Olhares sobre Guiné e Cabo Verde".

(ii) Tenente-general piloto-aviador José Armando Vizela Cardoso

Nasceu em 1941, em Torres Novas, e em 1965 foi brevetado na BA1-Sintra, depois de ter frequentado a Curso de Aeronáutica na Academia Militar e concluído o tirocínio em T-37.

Frequentou de seguida, na BA2-Ota, o Curso de Instrução Complementar para Aviões de Caça e o Curso de Instrutor, em T-33. Em 1969 chegou a oferecer-se como voluntário para servir na Guiné, e em agosto de 1972 seguiu para Moçambique, para servir no AB7-Tete, depois de completar o Curso Operacional em F-86F e Fiat G-91, na BA5-Monte Real. 

Como Capitão, no AB7-Tete, exerceu em sobreposição, as funções de Comandante da ESQ702 «Escorpiões», Oficial de Operações do GO7001, Oficial de ligação da Força Aérea com o Exército, Oficial de Segurança de Voo da Unidade e, algumas vezes, foi Comandante do GO7001 e do próprio AB7. 

De regresso a Portugal, em outubro de 1974 foi colocado na BA5 onde, entre julho de 1975 e fevereiro de 1979, foi Oficial de Segurança de Voo e comandou a ESQ 103, voando T-33 e T-38. Entre 1979 e fevereiro de 1983, serviu na Divisão de Operações, do Estado-Maior da Força Aérea. 

Entre fevereiro de 1983 e agosto de 1985 serviu na BA6-Montijo, como Comandante Intº, Comandante do GO61 e 2.º Comandante. Serviu ainda na Divisão de Operações do SHAPE-Bélgica (1985-1988) e como Chefe de Divisão de Operações do EMFA. Em 1992/1993 comandou a BA5, qualificando-se em A-7P Corsair II e, já como Oficial General,  foi Adjunto para as Operações do CEMFA, Chefe de Gabinete do CEMFA e Director do IAEFA.

Deixou voluntariamente a Força Aérea em maio de 2000, com mais de 4000 horas de voo e quase 40 anos efectivos de serviço. Tem 12 condecorações (entre elas a Medalha de Serviços Distintos, com Palma) e 14 louvores.

(iii) Major-general piloto-aviador Ricardo Carvalho Cubas

Nasceu em Lisboa em 1936. Frequentou a Academia Militar tendo obtido o seu brevê depois de completar em T33, o curso complementar de aviões de combate. Foi instrutor de pilotagem no avião T6-HARVARD e fez três comissões em África. A primeira em Angola como piloto da Esquadra 94 em Luanda, a segunda na Guiné como comandante da Esquadra 122 na Bissalanca e a terceira em Angola como comandante da Esquadra 94 em Luanda. 

Para além de mais de cerca de 3 milhares de horas de voo em helicópteros (AL-III e SA330-PUMA) voou ainda, cumprindo muitas missões operacionais nos teatros de operações da Guiné e Angola em vários aviões, nomeadamente T6-HARVARD, DO27 e PV2-HARPOON.

Foi Diretor de Instrução da Força Aérea e delegado do Chefe do Estado Maior para a cooperação técnico-militar com os Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), passando à situação de reserva em 1994 e posteriormente à situação de reforma.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18441: Bibliografia de uma guerra (86): “África, Quatro Ases e uma Dama”, por Fernando Farinha, Daniel Gouveia, Conde Falcão, Pedro Cunha e Maria Morais; Programa Fim do Império, Âncora Editora, 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
Projeto bem esgalhado, este, imagens da guerra e da paz, da extrema tensão e violência à transbordante atitude do cuidado e registo da ternura. É só de lamentar não aparecerem imagens da guerra e da paz na Guiné onde se combateu, o mais surpreendente é que imagens não faltam. E o projeto é bem coroado com aquela dama que nos explica o porquê de uma escultura em pedra para homenagear que lá longe combateu, e que podemos venerar em Oeiras.
Um acervo de imagens onde há relicários como as fotografias de Fernando Farinha ou o constante olhar deslumbrado de Daniel Gouveia.
Um livro que vale muitíssimo a pena por isso.

Um abraço do
Mário


África, quatro ases e uma dama

Beja Santos

O título do livro, tratando-se de uma coleção que se prende com testemunhos da presença portuguesa no espaço imperial português, não deixa de ser intrigante. No introito, é referido que dos quatro ases de um baralho de cartas, dois são negros, cor fria (ou ausência de cor), “espadas” e “paus”, e podem ser relacionados com violência, guerra; os outros dois são vermelhos, cor quente, “copas” e “ouros”, podendo lembrar afetos e riqueza. Terá havido de tudo isto nessa errância portuguesa; e quando à dama, acolhe-se o testemunho de uma escultora que talhou na pedra uma homenagem ao militar português. É um livro de imagens selecionadas de diferentes títulos. Logo o ás de espadas, a figura central é o grande repórter de guerra Fernando Farinha, um nome obrigatório da guerra de Angola.

Fernando Farinha, ex-sargento miliciano do Grupo de Dragões de Angola, foi jornalista e fotojornalista em Angola e Lisboa. O ás de ouros cabe por inteiro a Daniel Gouveia, que foi alferes miliciano no Norte de Angola e que publicou nesta mesma coleção dois livros primorosos, um dos quais integra um cd com 198 fotografias. Não se admirará o leitor de ver nestas imagens o feitiço africano, a comoção muitas vezes contida no encontro de culturas, no registo da solicitude ou pelo deslumbramento da natureza. O ás de paus coube ao Coronel de Cavalaria Conde Falcão, deixa-nos fundamentalmente lembranças de Nancatári, Norte de Moçambique, com ligações a Mueda e Montepuez. E se até agora tínhamos o registo da guerra, o ás de copas é atribuído a Pedro Cunha que fotografou em Moçambique e Guiné, afetos e valores no pós-guerra, são imagens que devemos associar a países independentes. A dama de copas é a escultora Maria Morais que nos irá falar e mostrar um conjunto escultórico que homenageia os combatentes que morreram em África e fala-nos demoradamente do embondeiro.
É este, em síntese, o aliciante de “África, Quatro Ases e uma Dama”, por Fernando Farinha, Daniel Gouveia, Conde Falcão, Pedro Cunha e Maria Morais, Programa Fim do Império, Âncora Editora, 2017.

O acervo de Fernando Farinha, insista-se, fala do vendaval angolano, logo uma fotografia no rio Lifune, cenário de dramática jornada integrada na operação Viriato, da reconquista de Nambuangongo, assistimos igualmente a trabalhadores bailundos a abandonarem fazendas, registos épicos das tropas a retomar posições quando a guerrilha debandou, os grupos especiais preparados para o combate, e também os Dragões de Angola e os seus cavalos.

Daniel Gouveia tem outro registo. Aliás, basta ler o que aqui escreve a preludiar as suas sugestivas imagens: “Ideias estereotipadas eram destruídas num simples relance. Por exemplo, que os nativos eram pouco asseados. Mentira. A dada altura, transplantou-se uma população de 700 almas que estava sendo incomodada pelos grupos independentistas e forçada a apoiá-los em logística e recrutamento de jovens para futuros guerrilheiros. Foram trazidos para junto do nosso quartel, até aí deserto de população civil. As instalações militares situavam-se no alto de uma colina. No fundo do vale, 200 metros abaixo, passava um ribeiro. Pois as mulheres, todas as manhãs, faziam essa viagem de ida e volta duas vezes. A primeira, para trazer água para dar banho às crianças. Só depois disso voltavam, para ir buscar água para a comida”.

Conde Falcão entremeia viaturas nas picadas, cenas de aldeamento, somos confrontados com uma árvore enorme envolvida por planta parasita, muitas crianças. Com Pedro Cunha temos testemunhos do quotidiano, é de uma enorme beleza a imagem que nos deixa de pescadores no rio Cacheu.

Monumento 'Presença do Soldado Português em África' - inaugurado em 21 de Junho de 1997 . Localizado no Jardim do Ultramar, em Oeiras.
Foto: Com a devida vénia a Maria Morais

E chegamos a Maria Morais que nos conta com enorme delicadeza a evolução do seu projeto, a sua matéria-prima foram três grandes blocos de pedra semi-rijo que vieram de uma pedreira de Porto Mós. Trabalho de fôlego, como ela descreve: “O material eleito foi a pedra; cinzelar a pedra requer, para além de força de braços, a utilização de máquinas rebarbadoras pesadas, martelos pneumáticos, retificadoras, freses diamantadas, escopros e macetas, um local sujeito ao ruído provado pelo rasgo desferido na pedra pelo movimento mecânico, assim como requeria igualmente um local arejado que permitisse evacuar as constantes de nuvens de pó que me cobriram”.
E quanto ao resultado, a escultura que hoje podemos contemplar em Oeiras, dá uma explicação: “Procurei transmutar para a escultura em pedra as memórias de África, através das minhas memórias. No fundo, este conjunto escultórico é uma colagem tridimensional dessas memórias perpetuadas naquele material nobre – a pedra. O embondeiro aparece numa atitude tutelar, pela sua grandeza, magnificência. As pedras verticais e oblíquas representam capim, tantas vezes trilhado pelos nossos homens e quem sabe se, por entre esse capim, não terá ficado para sempre o murmúrio do adeus sem regresso de muitos deles”.
Espraia-se pelo assombro com que olha o embondeiro, conhecido pelos nomes de adansónia, calabaceira, bombácea, imbondeiro e mais, e dá-nos informações úteis, vale a pena registar algumas: “Dependendo da sua idade, esta árvore pode atingir entre 5 a 25/30 metros de altura; o seu diâmetro pode alcançar até 7/11 metros. No Zimbabué existe um embondeiro cujo diâmetro corresponde ao abraço estendido de 30 homens. O tronco é oco e resistente ao fogo. Nos meses de maior pluviosidade serve de reservatório de água. Algumas espécies podem armazenar até 120 mil litros de água, constituindo assim uma fonte de subsistência rural para as povoações limítrofes. Abriga inúmeros seres vivos nos buracos dos seus longos e esguios troncos, mas é o morcego que poliniza a sua única flor anual. Uma flor de rara beleza formal, grande e pesada, com vistosos pedúnculos, pétalas brancas sedosas e com estames aglomerados esfericamente, que nas extremidades terminam num pompom de cor púrpura”.

Grupos especiais em operação

O engenho das crianças não tem limites

Netinha conduzindo a sua avó cega

O Programa Fim do Império foi coordenado até há pouco tempo pelo Coronel Manuel Barão da Cunha e teve a ele associado a Liga dos Combatentes, a Comissão Portuguesa de História Militar e a Câmara Municipal de Oeiras.
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18271: Bibliografia de uma guerra (85): “O céu não pode esperar”, por António Brito; Sextante Editora, 2009 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17663: Notas de leitura (987): “Portugal e o Império Africano - Séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013 (2) (Mário Beja Santos)

“Portugal e o Império Africano – séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
Esta coletânea de intervenções de investigadores dá-nos a possibilidade de percorrer a linha de fundo entre 1825 e a descolonização, perceber como o sistema político liberal procurou soluções depois do abolicionismo da escravatura, lançou exposições, favoreceu novas estratégias comerciais, pacificou etnias hostis, atraiu colonos e investimentos, incrementou culturas a exploração de riquezas. Império frágil, necessariamente, sempre à sombra de um aliado protetor, a Grã-Bretanha. Uma matriz ideológica irá percorrer a Monarquia, a República e o Estado Novo, aqui o regime não soube encontrar resposta para o turbilhão revolucionário, a sua consigna era aguentar. Salazar dizia aos seus íntimos que a III Guerra Mundial lhe iria dar razão. Não houve III Guerra Mundial, a coesão interna desfez-se e os militares mais jovens puseram termo ao impasse, quando se perfilava no horizonte um vexame de proporções incalculáveis.

Um abraço do
Mário


O Império Africano, séculos XIX e XX: 
Um olhar da nova historiografia (2)

Beja Santos

“O Império Africano, séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013, é uma coletânea de reflexões produzidas durante um curso de verão promovido pelo Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. O coordenador estabeleceu moldura dos grandes eventos, ficou registado no texto anterior. Vejamos agora as grandes temáticas tratadas pelos outros intervenientes.

Primeiro, o abolicionismo. O novo pensamento comercial exigia o fim do comércio negreiro, Espanha e Portugal resistiram mais ou menos longamente à liderança moral e comercial britânica. O tráfico brasileiro ressurgira em força em 1834, a Inglaterra apertava a tenaz, formalmente abolimos a partir de 1839. O Marquês de Lavradio e Sá da Bandeira apresentaram em 1842 uma proposta para abolir o estado de escravidão, foi grande a polémica, os interesses dos proprietários dos escravos eram enormes. Em 1853 estava constituída a coluna vertebral da legislação abolicionista: a libertação de todos os escravos era formalmente uma realidade. Em 1874, Sá da Bandeira e Andrade Corvo pretendem regulamentar o trabalho africano. Mas não haja ilusões, recorrendo a inúmeros expedientes a legislação colonial permitia o uso arbitrário da mão-de-obra nativa.

Segundo, a economia colonial africana. Já se disse que da Monarquia à República e desta ao Estado Novo houve continuidade fundamental na colonização. Destaque-se o impacto do tráfico de escravos transatlântico: redefiniu relações sociais e políticas entre etnias, contribuiu para reestruturar identidades e instituições, expandiram-se redes comerciais que levavam as importações para o interior de Angola; a grande afluência de mercadorias importadas que acompanhou a procura de escravos não só provocou uma expansão geográfica como incrementou a produção africana de géneros para vender. Um investigador lembra-nos que “Ao entrar no século XIX o que é o Estado de Moçambique não constituía uma unidade política nem administrativa. Era a África Oriental Portuguesa, de contornos indefinidos, também designada por Conquista de Moçambique e Rios ou Capitania de Moçambique e Rios de Sena. Até 1752 dependia do Estado da Índia. Os locais onde se exercia a soberania portuguesa estavam reduzidos, além da ilha de Moçambique, às ilhas de Cabo Delgado, Inhambane e Lourenço Marques”. Foi o ouro e a prata que atraíram os portugueses. Quando se entrou no século XIX, a generalidade do senhorio era exercido por não europeus, senhores de terras, de escravos, investidos em autoridade colonial com o título de capitães-mores, comandante de milícias. O século XIX marca a ascensão das companhias: do ópio, do açúcar, faz-se comércio de marfim, introduzem-se as oleaginosas, a linha de caminho-de-ferro, atrai investidores e interesses bancário. E escreve-se: “No dealbar do século XX, o Centro e o Norte de Moçambique estavam em vias de ficar subordinados à administração das companhias majestáticas e de plantação, e o Sul, abatido o último grande império, o de Gaza, passava de uma administração militar de ocupação para uma administração colonial civil. Por todo o território as populações passaram a ser acusadas para o fornecimento de mão-de-obra, já não escrava, mas compelida, para as plantações, para a agroindústria, para as obras públicas, para os portos e caminhos-de-ferro. No Sul, estabeleceu-se uma emigração maciça de trabalhadores para a África do Sul. Tendo-se formado grandes massas de trabalhadores tanto dentro como fora da colónia, nem por isso estas profundas transformações sociais iniciadas em finais do século XIX projetaram uma burguesia e um proletariado capacitados para criarem as condições suscetíveis de subtrair Moçambique à condição mais intrínseca de colónia”.

A obra debruça-se sobre a questão colonial na política externa portuguesa. Em dado passo refere-se que no decurso da II Guerra Mundial, e já antes, eram essencialmente três os objetivos da nossa política externa: a defesa da independência nacional mormente contra o comunismo; a defesa do património colonial e a defesa da sobrevivência do regime. A partir de 1945, o regime sabe que se vai confrontar com a descolonização e por vagas. Tudo começa na Ásia e surgem as ameaças sobre o Estado da Índia, que será anexado em 1961. O Reino Unido sai da Índia, a França é derrotada na Indochina, praticamente toda a Ásia se liberta do colonialismo, segue-se a vaga do Norte de África e daí desce para os territórios habitados por negros. A partir de 1960, a ONU não mais largará o caso português, crescerá o isolamento diplomático. O regime de Salazar e de Caetano não conseguiram aberturas, não acharam respostas para o crescente evoluir da guerrilha até que a classe castrense, praticamente exaurida, deu a saída liquidando o regime e abrindo as portas à descolonização.

Foram diferenciados os caminhos seguidos por Angola e Moçambique. No primeiro país, a seguir à independência, veio a fatura das grandes divisões ideológicas contextualizadas pela própria Guerra Fria; a África do Sul sabia que o seu futuro dependia da contenção dos movimentos de libertação em Angola e Moçambique, procurou dar todo o apoio disponível, sobretudo em equipamento e informações. Mas a FRELIMO, na hora da descolonização, fez pesar para seu lado a vasta corrente internacional anticolonial.

O volume termina com a visão de Angola ao longo do século XX, até 1974, dá-nos um retrato da evolução da sociedade angolana durante a primeira república e o Estado Novo. Há números que dão que pensar. “Em 1950, menos de 1% da população não branca de Angola estava oficialmente na categoria de civilizada e em 1960 havia menos de 100 mil civilizados entre os 4 604 362 negros. Porém, o número de escolarizados cujo modo de vida se aproximava dos padrões europeus era muito maior do que aqueles a quem for permitido sair do estatuto de indígena”. Isso deve-se ao contributo das missões cristãs. O cristianismo aparece associado às transformações económicas e sociais geradas pelo sistema colonial, alterou conceções e modos de vida, práticas alimentares, de vestir, etc. Dessas missões cristãs saíram professores, enfermeiros, operários especializados e outros.

Este conjunto de comunicações são mais de que um olhar renovado da nossa historiografia; abrem o ecrã a uma leitura que pode formalmente iniciar-se em 1825 e findar com a descolonização, dão ao leitor a possibilidade de compreender como o liberalismo encontrou uma saída eficaz depois do trauma da independência do Brasil para reacender a mística imperial e ficamos a perceber como se estabeleceu uma linha de procedimento de absoluta simpatia com o império africano e como o regime de Salazar e Caetano não foram capazes de lidar com a torrente poderosa da descolonização. Ficaram ressentimentos mas a opinião pública de fundo aderiu sem remoques ao projeto europeu. O que nos leva a muitos séculos antes, quando se iniciou a expansão marítima e ao confronto das teses propugnadas pelo Infante D. Pedro e pelo Infante D. Henrique. Parecem acidentes da História ou talvez não.
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Nota do editor

Poste anterior de 7 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17655: Notas de leitura (985): “Portugal e o Império Africano - Séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 9 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17661: Notas de leitura (986): "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo: exorcizar velhos e novos fantasmas - Parte II (Luís Graça)

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17655: Notas de leitura (985): “Portugal e o Império Africano - Séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013 (1) (Mário Beja Santos)

“Portugal e o Império Africano – séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
A historiografia pós-colonial revela maturidade e sobrepõe-se às paixões ideológicas que marcaram as últimas décadas no século XX. A questão colonial volta a ser um tema centrado dos estudos históricos contemporâneos. Um dos resultados deste novo espírito é o presente trabalho de que aqui se faz a competente recessão, convidando-se todos os confrades a porem leituras em dia conhecendo novos trilhos de investigação que permitem refletir fora de uma atmosfera de paixões sobre a ascensão e queda do nosso império africano.

Um abraço do
Mário


O Império Africano, Séculos XIX e XX: 
Um olhar da nova historiografia (1)

Beja Santos

No final do século passado realizou-se um curso de Verão do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, subordinado ao tema “Portugal e o Império Africano – séculos XIX e XX”, coordenado por Valentim Alexandre, Edições Colibri, 3.ª Tiragem, 2013. A questão colonial é um dos temas centrais da história portuguesa contemporânea, basta pensar no ultimato britânico de 1890, as preocupações republicanas para intervir na Grande Guerra e a questão ideológica que desempenhou o império colonial no Estado Novo, acabarão por ser as guerras coloniais que precipitarão o regime para a sua guerra. Por diferentes razões, a investigação histórica nesta área continua a ser marcada por dificuldades muito ásperas: a carga ideológica, onde perpassava a imagem da missão civilizadora de Portugal, discursando-se correntemente de que Portugal não tinha futuro sem império; o facto de, após o 25 de Abril, se ter registado a falta de apoios institucionais e a concomitante desorganização dos principais arquivos históricos. Só lentamente se foi saindo da situação, contudo passou a prevalecer uma visão eurocêntrica do país que de modo algum corresponde à história recente.

Os estudos coloniais vão-se progressivamente libertando do fardo ideológico e é hoje patente a existência de uma investigação liberta de preconceitos: basta referir os trabalhos coordenados por Fernando Rosas e as investigações das equipas de Bandeira Jerónimo e Eduardo Costa Dias. O império africano terá o seu ponto de partida o ano de 1825, data do reconhecimento da independência do Brasil pelo Estado português, a partir dessa data as atenções viraram-se para África. Como escreve Valentim Alexandre:  
“Com a perda do Brasil, o império português ficou reduzido a alguns pequenos territórios dispersos pelo mundo, com ligações muito ténues à metrópole. Boa parte deles – os arquipélagos atlânticos de Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe e as possessões no continente africano, então limitadas a postos e enclaves no litoral, salvo uma linha de penetração a Norte do Cuanza, de Luanda a Malange, e uma outra, na costa oriental, de Quelimane a Tete, ao longo do rio Zambeze – tinha ainda então como atividade principal o tráfico de escravos para as Américas, quase totalmente controlada por negociantes estabelecidos, não no reino português, mas no Brasil”.

A Guiné não existia, a constituição liberal só faz referência a Bissau e a Cacheu. Para os negociantes, a compensação da perda do Brasil era fundamentalmente Angola e Moçambique. Foi necessário esperar pela vitória liberal na guerra civil para o projeto imperial adquirir alguma consistência. No final de 1836 a legislação setembrista era o primeiro impulso: abolição da exportação de escravos, reforma da administração ultramarina; a política de Sá da Bandeira procurou consolidar o domínio territorial português em África, designadamente pela ocupação da linha da costa de Angola e Moçambique. As relações económicas com as colónias tornam-se um facto, forma-se uma companhia da navegação, a Companhia União Mercantil, destinada a ligar Lisboa a Benguela, Luanda, Moçâmedes e Ambriz, com escala por Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe. O quadro das relações sociais conhece um novo desenvolvimento com a extinção do tráfico de escravos para Cuba e para o Sul dos Estados Unidos e também para várias zonas do Índico. Segue-se a ocupação efetiva, primeiro com as expedições promovidas pelo ministro Andrade Corvo, as viagens de Serpa Pinto e Capelo e Ivens. Andrade Corvo procura associar a política externa portuguesa aos interesses da Grã-Bretanha, primeiro com ligação do porto de Mormugão à rede ferroviária britânica do subcontinente africano; um segundo acordo tinha em vista a construção de um caminho-de-ferro de Lourenço Marques ao Transval, em troca de vantagens comerciais; uma terceira convenção deveria definir a fronteira Norte de Angola, admitindo a Grã-Bretanha que Portugal ocupasse a margem esquerda do rio Congo. Política que veio a falhar a partir de uma corrente do nacionalismo radical que exigia um máximo de direitos de Portugal na África Central, dizendo que qualquer acordo de limites seria uma lesão irreparável da soberania dos interesses nacionais. É nesse contexto que houve o malogro do Tratado do Congo que envolveu sérias resistências em várias potências coloniais e que está na génese da Conferência de Berlim, convocada para regular o exercício do comércio em África. A Conferência veio a consagrar a necessidade de posse efetiva, mas apenas em relação ao litoral do continente africano (ao contrário do que muitas vezes se diz). A nova situação criada pela Conferência acentuou o sentimento de urgência de ocupação da região entre Angola e Moçambique. E assim chegamos ao Mapa Cor-de-Rosa e ao Ultimato britânico, que veio dar impulso final às campanhas militares.

Como igualmente observa Valentim Alexandre, este período de ocupação militar plasma-se em transformações de relevo no sistema colonial: recorre-se mais intensamente aos capitais estrangeiros, dá-se amplas concessões a várias companhias, lançaram-se linhas férreas. Vão entretanto crescendo as reivindicações da Alemanha Imperial, chega-se a temer que a Grã-Bretanha aceda à divisão de Angola para satisfazer a estratégia de Berlim. Mas eclodiu a Grande Guerra e desapareceu temporariamente o fantasma da perda imperial. Os republicanos mantinham intransigentemente o ideal imperial, até porque iam emergindo novas ameaças de repartição dos nossos territórios coloniais cobiçados pela Alemanha e pela Itália.

O Estado Novo não descurou a propaganda colonialista, lançou exposições coloniais, intensificou-se a propaganda no ensino. Finda a II Guerra Mundial, em que o império permaneceu incólume, mudada a conjuntura propiciou o arranque da economia imperial em Angola e Moçambique. Renascera a mística, o império tinha que se modernizar. Como aqui se tem largamente referido, a Guiné encontra com Sarmento Rodrigues transformações de grande peso. Mas surgira uma nova ameaça, as superpotências queriam pôr fim aos impérios coloniais, lançou-se a descolonização, primeiro na Ásia e depois em África. O Estado Novo procura precatar-se: em 1951, dá-se a revisão constitucional e é abolido o Acto Colonial, o conceito de império e de colónias deu lugar a províncias ultramarinas de uma nação pluricontinental. Encontrou-se ideologia justificativa: o luso-tropicalismo. Mas a doutrina “de Minho a Timor” não convenceu as Nações Unidas nem os movimentos de libertação. A guerra eclode em 1961, dará impulso necessário à eliminação das estruturas sociais arcaicas, caso do Estatuto do Indígena. Procuram-se novas soluções, falar-se-á em mais autonomia na revisão constitucional de 1971, mas nada poderá salvar o império colonial.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17654: Notas de leitura (984): "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo: exorcizar velhos e novos fantasmas - Parte I (Luís Graça)

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16329: Notas de leitura (862): “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016 - Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Julho de 2016:

Queridos amigos,
Porventura são estes testemunhos na primeira pessoa a matéria mais aliciante para o leitor que foi combatente, pela diversidade, pela sinceridade, pelo feliz entrosamento entre a memória e um distanciamento que não deixou rancores.
O livro de António Inácio Nogueira merecia andar pelas mãos de todos. Estes jovens capitães, salvo melhor opinião, são um inequívoco termómetro da atmosfera que se vivia em muitos pontos da Guiné, são testemunhos que não iludem a desmotivação, a descrença, o salve-se quem puder. A despeito deste estado de espírito, é impressionante como a generalidade destes jovens capitães sentiu a responsabilidade do mando e a vontade de trazerem todos os seus homens nas melhores condições físicas e psíquicas. E muitos não escondem o orgulho de isso ter acontecido, ou quase.

Um abraço do
Mário


Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (3)

Beja Santos

O livro “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016, é o mais minucioso olhar até hoje lançado àqueles a quem depreciativamente se chamavam os capitães proveta, naquele dado momento em que nos batalhões os oficiais do quadro permanente se cingiam ao comando e por vezes à CCS, aquelas centenas de jovens de oficiais que tinha sido aprovados nos cursos de comandantes de companhia, dados em Mafra passaram a ser os executantes operacionais por excelência.

Na análise que temos estado a efetuar, abordou-se a síntese que o autor nos dá sobre o enquadramento histórico e político da guerra, os modos de seleção e formação dos jovens capitães, passou-se em revista textos autobiográficos de cinco desses jovens capitães e entrou-se num importante capítulo abarcando cerca de três dezenas de testemunhos na primeira pessoa. Obviamente que nos cingimos ao que se escreve sobre a Guiné, sem prejuízo, é dito insistentemente, que o documento é suficientemente importante para ser lido do princípio ao fim por qualquer combatente de qualquer dos três teatros de guerra.

Vejamos o que nos diz José Fernando Real Magalhães Mendes que embarcou para a Guiné em Setembro de 1971 e deixou Bissau em Dezembro de 1973. Depois do 25 de Abril, ligou-se à LUAR e até se envolveu no assalto à Embaixada de Espanha. Teve pressão e recompôs-se, acabou os estudos e foi para advocacia. Ofereceu-se como voluntário, fez estágio em Angola na zona dos Dembos. Coube-lhe Bajocunda na Guiné. Investiu na população, andou nos trabalhos de reordenamento. Não esconde que de vez em quando investia pelo Senegal adentro para trazer vacas, pagava sempre, a contrapartida era o médico e o enfermeiro tratarem a população. “Um dia veio um sujeito muito atrapalhado dizer que tinha a mulher grávida e estava muito mal. Eu fui com o pelotão do alferes Sequeira ao Senegal. Fomos até lá, levámos o furriel enfermeiro e depois pedimos uma evacuação para junto da fronteira, o furriel enfermeiro disse que a mulher ia morrer se não fosse tratada. Veio um helicóptero e levou-a para Bissau, soube depois que ela se safou e o filho também, isso caiu muito bem na população”. Permaneceu em Bajocunda os 27 meses. Guarda na memória alguns aspetos chistosos:
“Quando saiu legislação que nos permitia entrar no quadro permanente, o comandante do batalhão chamou-me: 
- Ó Mendes, saiu agora uma lei… Você frequente lá aquilo não sei quanto tempo, é promovido ao quadro. Você tem capacidade, aproveite. 
Apresentou-me um papelinho e eu respondi: 
- Meu comandante, vou pensar. Nesse dia reuni os meus alferes todos, mandei vir uma garrafa de uísque, rasguei o papel e peguei-lhe fogo. 
Mais tarde disse: 
- O meu comandante desculpe, mas quero acabar o meu curso de Direito. 
- É uma pena para si, é uma boa carreira – retorquiu ele”.

Confessa que cometeu muitos erros, por ser muito novo.

José Manuel Nunes Marques fez estágio na Guiné, em Aldeia Formosa, era já licenciado em Engenharia Civil. Esteve em Cumbijã, depois Nhacobá. “Não me aconteceu rigorosamente nada, mas vi muita gente morrer”. Viveu uma situação disciplinar tumultuosa em Bolama, acabou por ir parar a Jemberém. Um dia, pelas três da manhã, chegou uma comunicação encriptada para abandonar Jemberém, foram para Cacine. A desmotivação era enorme, ninguém estava para arriscar a vida. Seguiu-se um alto de averiguações pelo modo como se tinha feito a desocupação de Jemberém, ficou tudo abafado, o castigo foi tirarem-lhe o comando da companhia. Nas novas funções, andou a fazer entrega de vários aquartelamentos ao PAIGC.

Há um capitão que foi depois coronel, Luís de Jesus Ferreira Marcelino, esteve na Guiné entre Junho de 1972 e Agosto de 1974. Ingressou na GNR mais tarde, terminou a sua carreira como coronel, Chefe do Estado-Maior da Brigada de Trânsito. No comando de uma companhia independente percorreu diversos sítios da Guiné: Aldeia Formosa, Mampatá, Colibuia. Não esquece a vida em tabanca, as missões humanitárias, o reordenamento das populações. Manuel da Silva Ferreira da Cruz teve uma vida difícil em Cobumba, antes da incorporação fez estágio como engenheiro técnico de química e depois de 1974 reiniciou a sua vida profissional numa empresa da indústria de plástico. Fez estágio no Leste de Angola, o IAO realizou-se em Bolama, seguiu-se Mansambo no Leste, participou numa operação gigantesca e depois seguiu para Cobumba, que o PAIGC classificava como zona libertada, houve inúmeros ataques. Dá relevo a um episódio passado durante uma visita do Comandante do COP 4 à sua Companhia. O oficial disse-lhe que “a companhia não apresentava ações e contactos significativos com o IN, que deveria ativar mais a companhia, já que os soldados deveriam estar preparados psicologicamente para morrer, se necessário fosse – tudo dito assim a frio”. Ao que Ferreira da Cruz retorquiu que iria chamar o pessoal e que ele, enquanto comandante, lhe transmitiria esta mensagem. Ao que o comandante do COP 4 respondeu: “Não, não é assunto urgente”.

Ainda há mais histórias, conto abreviadamente. Marcos António Blanch da Fonseca Dinis foi colocado em Piche, a seguir ao 25 de Abril a sua guerra foi de papel e polícia, a impedir roubos nas lojas. Nuno Álvares da Graça Matias Ferreira considera-se um privilegiado, não teve nenhuma experiência de guerra, era licenciado em Direito, foi delegado do procurador da República da Guiné, Fidélis Cabral Almada pediu-lhe para ficar até ao último dia. Óscar António Soeiro Soares andou por Caboxanque, Cadique e outras paragens. “No aquartelamento de Caboxanque, em 6 meses, sofri 14 ataques com artilharia. Tentava responder, mas os nossos morteiros tinham menor alcance que os canhões sem recuo deles. Era só para fazer barulho”. Em Bissau, participou na detenção do General Bettencourt Rodrigues. “Ouvi o Bettencourt nas telecomunicações, na noite de 24 para 25 perguntar ao chefe da PIDE: que unidades é que temos do nosso lado? E o da PIDE respondeu: que eu saiba nenhuma”. Raul Manuel Bivar de Azevedo andou pelo Chão Felupe. Rui Jorge Martins Pedro e Silva foi um dos capitães da operação “Grande Empresa”.

Há notas avulsas, o nosso confrade Vasco da Gama é um dos contadores. Aqui chegamos ao fim de um trabalho de doutoramento, alguém que andou à procura dos Capitães do Fim passados mais de 40 anos do seu regresso da guerra.

Uma história muito bem contada que deve ser por todos conhecida.
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Nota do editor:

Vd. postes anteriores de:

18 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16314: Notas de leitura (859): “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016 - Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (1) (Mário Beja Santos)
e
22 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16325: Notas de leitura (860): “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016 - Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (2) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16325: Notas de leitura (861): “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016 - Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Julho de 2016:

Queridos amigos,
Este camarada da Guiné apresentou uma tese de doutoramento na Universidade Fernando Pessoa, em 2015, sobre os capitães do fim do Império, os jovens comandantes de companhia com que se procurava suprir a carência básica de oficiais formados na Academia Militar, foram formados às centenas e lançados nos três teatros de guerra.
Há um meritoso trabalho de síntese a descrever um enquadramento histórico-político da guerra, um levantamento sério do que era a seleção e a formação destes jovens capitães, e chegamos a dois capítulos essenciais que decorrem do levantamento de autobiografias de cinco capitães seguindo-se um bem coligido elenco de 30 histórias de vida. Obviamente que nos cingimos àquelas que têm a ver com a sua presença na Guiné.
Direi sem qualquer hesitação que é uma obra que justificadamente devemos conhecer e sobre ela refletir, não ilude a carga polémica que a acompanha do princípio ao fim: a Pátria estava exausta, estava-se no limite dos recursos humanos, aqueles jovens saíam da universidade claramente politizados, sabiam melhor que os seus camaradas dos primeiros anos da guerra que havia ventos da História e que sem debate político se caminhava para o precipício.

Um abraço do
Mário


Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (2)

Beja Santos

Dando seguimento aos aspetos essenciais da obra “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016, depois de se sintetizar o enquadramento histórico e político da guerra e como se selecionavam e formavam estes comandantes de companhia, abre-se espaço a cinco autobiografias militares a que se seguem testemunhos na primeira pessoa. Por razões compreensíveis, acolhem-se aqueles que se relacionam expressamente com a Guiné, mas é imperioso chamar à atenção do leitor para o considerável interesse que têm os testemunhos dos comandantes de companhia que combateram em Angola e Moçambique.

As cinco autobiografias de comandantes de companhia combateram em Angola e Moçambique. Escreve o autor: “Estas cinco narrativas são o rosto da guerra traiçoeira e permanente em Mueda e Candulo e da fuga dos aquartelamentos das nossas tropas, das emboscadas e dos ataques a aquartelamentos em Sanga Planície e Miconge, do isolamento em N’Riquinha que magoa por dentro, nas terras do fim do mundo, da paz que se negoceia em segredo os matagais de Cangumbe com a UNITA, dos últimos tiros e dos últimos combates em N’Dalatando, Cabinda, Malange, Massabi e Pangamongo. Dos saques perpetrados e das debandadas, quando se aproxima o fim, na reta final do império” e segue-se a série de depoimentos: de Afonso Maria de Eça de Queiroz Cabral, relatando do saque de Vila Salazar (N’Dalatando), ao golpe de Cabinda; de António Inácio Correia Nogueira, cavaleiro do Maiombe, de António Pereira de Almeida, que andou em Mueda e em Candulo; de Benjamim Fernando Almeida, o negociador nos matagais de Cagumbe; e Lionel Pedro Cabrita, a quem se deve o texto de N’Riquinha a Rivungo, nas terras do fim do mundo.

Temos os testemunhos na primeira pessoa e os da Guiné tocam-nos pelo vigor, pela sinceridade e em tantos casos pelo desassombro.

Logo Abílio Delgado, o capitão puto de Guileje, incorporado em Abril de 1970, tinha 20 anos, fez a guerra e seguiu-se uma carreira profissional na banca. Ofereceu-se como voluntário para o curso de comandantes de companhia. O estágio, no posto de alferes, foi realizado no Leste de Angola, na região do Luso. Quem ministrou o curso em Mafra para comandante de companhia nunca tinha estado no Ultramar. Foi mobilizado para a Guiné, no comando de uma companhia independente. Foi colocado em Guileje, cujo aquartelamento descreve: “Eram cerca de 700 pessoas dentro do aquartelamento, contando com a população. A atividade operacional resumia-se a patrulhas diurnas, dia sim, dia não, com um efetivo de dois grupos de combate, e a coluna de reabastecimento, de Gadamael até Guileje. Durante a época das chuvas estávamos isolados por via terrestre, não havia reabastecimento. As condições de defesa satisfaziam, tínhamos boa artilharia e bom apoio aéreo, quando necessário”. Considera ter havido bom relacionamento com os subordinados, embora fosse o mais novo dos oficiais. Era o capitão puto, tinha 22 anos, chegou à Guiné em 1971.

Albertino Santos Pereira foi aterrar em Geba, fora mobilizado em 1972. Tinha sido nomeado para ir substituir o capitão de Guileje, acabou por ir parar a Geba, foi substituir um capitão que morreu de cancro. O seu grande orgulho foi trazer de regresso todos os seus homens, herdou uma companhia sem primeiro-sargento, teve uma comissão liquidatária trabalhosa, confrontou-se com problemas administrativo-logísticos de monta.

Carlos Alberto Gaspar Martinho embarcou para a Guiné em Março de 1972. Na universidade participou no movimento associativo “contra a Guerra Colonial” e esteve para fugir com dois colegas. O pai pediu-lhe para não ir. Fez o estágio em Angola, experiência inolvidável, saiu-lhe um capitão apanhado pelo clima, que fizera uma operação em que se perdeu metade dos efetivos, tiveram um trabalhão para regressar. Foi para o Olossato e Spínola assegurou-lhe: “É tão má esta zona que as companhias que vão para lá só ficam um ano, se tiverem bons resultados. Se o nosso capitão tiver resultados ótimos, dou-lhe a minha palavra de honra como vem aqui para Bissau, ao fim de um ano… Mantenha-me os itinerários todos limpos". Foi ferido na primeira flagelação, coseram-lhe os dedos. No Olossato, imprimiu uma disciplina rígida, foram levantadas muitas minas e houve poucos mortos em combate. Rodaram para Quinhamel, estava lá há um mês quando recebeu uma mensagem do Comando-Chefe para se apresentar no quartel-general. Apresentou-se e Spínola explicou-lhe que lhe tinha dado a palavra de honra que agora ia quebrar, dava-lhe a missão de se apresentar em Binta e a fazer a picagem e a desminagem da picada de Binta para Guidage. “Em Guidage ficam dois grupos de combate seus, e os outros dois grupos vão para Bigene. O senhor fica em Guidage, com os dois grupos, e comanda a outra companhia, de africanos, que lá está. O capitão Salgueiro Maia vai-se embora. Tem três dias. Tudo o que precisar peça. Estamos entendidos?”
Encontrou Salgueiro Maia e este barafustava: “Isto não se resolve com a guerra, chego à Metrópole e rebento com esta merda toda”. Deplora que todo o seu trabalho e dos seus soldados não mereceu uma réstia de conhecimento.

João Londral Ivens Ferraz de Freitas Leito Martins. Passou treze meses na Guiné. “Fui colocado em Canjadude, onde aquartelava a CCAÇ 5, com soldados africanos enquadrados por oficiais e sargentos europeus. Canjadude tinha um quartel com uma casa para os serviços administrativos, um pequeno barracão para as refeições da tropa branca, valas em ziguezague, bunkers semi subterrâneos para alojamentos, e a aldeia indígena ao lado, cheia de enormes mangueiras que abrigavam o povoado”. Foi aqui que fez o estágio. Voltou a Mafra e formou batalhão sobre o comando do Tenente-Coronel Luís Atayde Banazol. Mobilizados para a Guiné, feito o IAO, marcharam para Farim, a atividade militar englobava Jumbembém, Nema, Lamel, Canjambari, Farim. O pior momento terá sido o ataque ao quartel, em Jumbembém, Fevereiro de 1974. E adiante: “Devo mencionar que os nossos soldados estavam emocionados com o fim da guerra e abraçavam os soldados do PAIGC. A capacidade de confraternização dos portugueses estava ali bem patente! Também fui de Berliet a Guidage. Percorri em silêncio a célebre zona de emboscadas, entre Binta e Guidage. Parecia-me ainda cheirar o fumo do rescaldo, buracos, troncos queimados, uma paisagem tenebrosa. Dias depois, fui com o Major Morna de helicóptero a Binta para entrega da unidade ao PAIGC. Depois, foi a retirada de Cuntima, de Jumbembém e de Farim”.

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 18 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16314: Notas de leitura (859): “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016 - Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (1) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16314: Notas de leitura (860): “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016 - Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Julho de 2016:

Queridos amigos,
A tese de doutoramento de António Inácio Correia Nogueira incidiu sobre quem eram e como se formaram os Capitães do Fim, e daí um registo de indiscutível importância de testemunhos dos protagonistas.
Escreve Maria Inácia Rezola que "um dos aspetos mais inovadores da tese de António Nogueira reside no facto de o autor ter concebido e preparado um minucioso questionário, combinando perguntas abertas e fechadas, que aplicou a cerca de uma centena e meia de capitães milicianos".
E, mais diante refere que o autor analisa "como um exército, cansado e esgotado pelo esforço de guerra, ao recorrer a incorporação de grande número de milicianos se torna bastante mais permeável à pressão social e contestação estudantil e política que se fazia sentir".
Um obra polémica, irá pôr em confronto aqueles que pugnam pela insustentabilidade contra os que ainda advogam que a guerra podia continuar, e ainda por muito tempo.

Um abraço do
Mário


Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (1)

Beja Santos

“Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016, é o que se chama uma obra de leitura obrigatória para quem combateu na guerra colonial e pretenda conhecer ao pormenor o pensar daqueles a quem depreciativamente chamavam os capitães de proveta.

Na base deste livro está a tese de doutoramento de António Inácio Nogueira, licenciado em Ciências Físico-Químicas, mestre em Ciências da Educação e doutor em Sociologia. Foi comandante da Companhia de Cavalaria n.º 3487. O conteúdo é aliciante, não há razões para despegar a leitura: um vasto olhar sobre o enquadramento histórico e político da guerra, a seleção e formação destes oficiais milicianos destinados ao curso de comandantes de companhia, seguem-se testemunhos, notas de ocorrência, várias polémicas, provas documentais de indiscutível valia para conhecer mentalidades, formas de liderança e visões da guerra. Obra necessariamente polémica, divide radicalmente aqueles que continuam a teimar de que aquela guerra era sustentável e os outros que mostram pelo que passaram e puderam testemunhar que o conflito deixara de ter militarmente qualquer saída, a liderança fundamental daqueles capitães estava comprometida por uma incontornável descrença.

Primeiro, o enquadramento histórico e político, vamos ser precisos, grande parte desta narrativa aparece abordada em inúmeras obras. O autor releva a politização estudantil, o papel desempenhado pelo PCP e por organizações da extrema-esquerda, sublinhando as atividades do MRPP, o PCP (m-l) e alguns setores católicos progressistas. Não terá sido por acaso que Otelo Saraiva de Carvalho e Diniz de Almeida falam da participação destes Capitães do Fim nos preparativos do 25 de Abril. A partir de 1970, aproximadamente, estes capitães vão sendo integrados num exército predominantemente milicianizado. Quanto à importância da companhia, o autor acolhe o depoimento do Coronel Carlos Matos Gomes:  
“A função atribuída pelo Exército à companhia em quadrícula era de tal forma ampla que abrangia todos os aspetos inerentes à guerra e à missão do Exército. A companhia era um Exército em miniatura. O capitão da companhia era um general em miniatura: devia comandar, administrar e fazer política. Para além de tudo isto, as companhias tinham as suas missões, embora de caráter generalista, como, por exemplo defender a sua zona de ação, o que dava aos capitães a responsabilidade, solitária, de decidir o que fazer, onde fazer, como fazer”.
O autor lembra a ação dos milicianos na Guiné em torno do 25 de Abril, aí aparece uma mão cheia de dirigentes do movimento estudantil de Coimbra de 1969. “A decisão de criar o MAPOS (Movimento Alargado de Praças, Oficiais e Sargentos), em 4 de Maio de 1974 – o designado Movimento para a Paz, fio da sua quase exclusiva pertença e contribuiu, significativamente, para a resolução rápida do processo de paz na Guiné”.

Segundo, o recrutamento, e como eram selecionados e preparados estes comandantes de companhia. Anota o autor que em percentagem da população, Portugal tinha mais homens em armas que qualquer outro país Ocidental. Dera-se impulso à africanização dos contingentes, foram chamados os antigos oficiais subalternos que não tinham sido mobilizados e com a Academia Militar com escassos candidatos, o recurso encontrado foi o de estes capitães oriundos do curso de oficiais milicianos. A Escola Prática de Infantaria vai tornar-se num epicentro desta formação de oficiais milicianos. Ponderavam-se várias caraterísticas: medicação, sociabilidade, apresentação/aprumo, espírito de sacrifício, decisão e capacidade física, capacidade de comando, grau de conhecimentos militares. E havia as provas físicas: peso de 5 kg, salto em comprimento, 100 metros de obstáculos, lona ou galho, abdominais, paliçada, muro, vala, entre outras. Assim se formava um alferes miliciano ao fim de 900 horas, dividas por 22 semanas. Em dado passo da guerra a instrução de aperfeiçoamento operacional passou a ser ministrada já em África.

Até aos capitães proveta, ia-se buscar, com atrás se referiu, oficiais milicianos que não tinham ido a África. É em 1970 que o Estado-Maior do Exército define os critérios para seleção, formação e graduação de comandantes de companhia do quadro de complemento. Seriam feitos testes a todos, seguir-se-iam sessões de formação, abria-se a porta a voluntários e a propostos pelos formadores, era por aqui que se começava. Pezarat Correia esteve ligado a todo este processo de formação. É major em Mafra, em 1972, manifesta críticas aos seus superiores, logo à partida a carga horária de 8 horas. A convite o autor, testemunha:
“O ser um bom capitão, na altura, era fundamentalmente ser um comandante de tropas consciente da situação objetiva que estava a viver-se. A maior parte do tempo o capitão estava isolado com a sua companhia e tinha, muitas vezes, que tomar decisões que tornavam o seu poder quase discricionário. Não podia estar à espera de orientações. Vinha de um curso de oficiais milicianos onde era preparado para comandar um pelotão e, de repente, fazia-se uma extensão da sua preparação para comandar uma companhia e obviamente que à partida era um homem que estava mal preparado”.
Há uma certa polémica quanto ao facto destes Capitães do Fim, por falta de formação, terem contribuído para o agravamento do estado da guerra. Há inquiridos que se abstêm de responder e há mesmo quem recuse veementemente tal possibilidade. Segue-se um rol de depoimentos, destaco o de Manuel Monge, Major-General na reforma e que foi capitão na Guiné. Diz ter tido sob o seu comando vários Capitães do Fim e justifica:
“De Junho de 1973 a Fevereiro de 1974 comandei o COP 5, no Sul da Guiné, em Gadamael-Porto. Tive sobre as minhas ordens vários destes capitães. Eu, capitão de cavalaria do quadro permanente fui graduado em major para exercer esse comando. Era uma situação operacional muito difícil. Os meus capitães tiveram um desempenho notável. Depois do desaire de Guileje, segurámos a situação em Gadamael, Cameconde e Cacine e, aí, o PAIGC não avançou significativamente mais".

O autor agora vai recolher depoimentos dos Capitães do Fim.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de julho de 2016 Guiné 63/74 - P16308: Notas de leitura (858): “Costa Gomes Sobre Portugal, Diálogos com Alexandre Manuel”, editado por A Regra do Jogo, 1979 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4576: Bibliografia de uma guerra (49): Lista de 77 autores de obras sobre o fim do Império (Mário Beja Santos / Manuel Barão da Cunha)

1. Lista gentilmente enviada pelo nosso camarada Beja Santos, da responsabilidade de Manuel Barão da Cunha. Cor Cav Ref e escritor:

ALGUNS AUTORES DE OBRAS SOBRE O FIM DO IMPÉRIO (77) (versão 15) (a):


[Revisão / fixação de texto / notas adicionais entre parênteses rectos: L.G.]


* Afonso, tenente-coronel Aniceto: “O Meu Avô Africano”, a acção decorre no norte de Moçambique imediatamente antes do 25 de Abril; aniceto.afonso4@gmail.com, 963 047 043.

* Arouca, Manuel: “Deixei o meu coração em África”. [...]

* Bernardo, cor. Infantaria Manuel Amaro: “Timor: abandono e tragédia; a descolonização de Timor (1974-1975)” c/ Morais e Silva, “Prefácio”,2000, 271pp; “Combater em Moçambique – guerra e descolonização, 1964-75”, “Prefácio”, 2003, 452pp; “Memórias da Revolução, Portugal, 1974-1975”, “Prefácio”, 2004; “Guiné 1970-1980”, com prefácio de Ricardo Durão, ed. Prefácio, 2007, 410pp.

* Beça, coronel Carlos Gomes: “Angola – a luta contra a subversão e a colaboração civil -militar”, 1977.

* Brito, António: “Olhos de Caçador”, Sextante Editora, 2007,407 pp, capa com foto de Fernando Farinha, a acção decorre no norte de Moçambique, sendo o narrador o soldado Zé Fraga, compelido a ir para a guerra por ter estado preso e que acaba por ser ferido e ficar deficiente; romance bem escrito mas que beneficiaria com a diminuição de referências “merdosas”.

* Cabrita, Leonel Pedro ( Pedro C. ): “Os Capitães do vento”. [...]

* Cadilhe, Gonçalo: “África acima”. [...]

* Calvão, capitão de mar e guerra Guilherme Alpoim: “Contos de guerra”, com Sérgio A. Pereira, 1994.

* Caan, J. P.:”Contra a insurreição em África (1961-74)”, Ed. Atena, 1998.

* Cardoso, cor. Inf. Mário Vargas: …, inédito.

* Castilho, Rui de : “O Capitão do Fim”, “Prefácio”, 2002, 476 pp. Muito interessante, a acção decorre no norte de Moçambique, no final da guerra, sendo a personagem principal um oficial miliciano que acaba por ser graduado em capitão.

* Correia, majgeneral Pedro Pezarat: “Descolonização de Angola – a jóia da coroa do império português”, 1991.

* Cruz, Pompílio da: “Angola, os vivos e os mortos”, Intervenção, 1976.

* Cunha, cor. Cavalaria Manuel Barão da : “Aquelas Longas Horas”, 1968; “Tempo Africano”; “A Flor e a Guerra”; “Radiografia Militar”, “Na 23ª Hora do MFA”; “Tempo africano – aquelas longas horas em sete andamentos”, 2008.

* Faria, Joaquim: “Boinas Verdes, os soldados sempre tiveram voz”, ed. do autor, 2005.
* Fernandes, tencor Álvaro Henriques: “Kianda, o rio da sede”, 1996.

* Ferreira, coronel piloto aviador Amadeu (+): “Catana, canhangulo e arma fina”, 1964.

* Ferreira, Antunes: “Morte na Picada”, Via Occidentalis, 2008.

* Ferreira, Manuel Ennes: “Angola – Portugal, do espaço económico português às relações pós-coloniais”, Escher, 1990.

* Gomes, cor. Cav. Carlos Matos ( Carlos Vale Ferraz ) : “Nó Cego”, 1982; “Soldadó”, 1988; “Moçambique-1970”, Prefácio; (matosgomesCnetcabo.pt, 964 018 979 ).

* Gouveia, Daniel: “Arcanjos e bons demónios- crónicas da guerra de África 1961-1974”, “Hugin”, 2ª ed. 2002, a acção decorre em Angola. [...]

* Gueifão, dr. Carlos : “Mata Couros ou as guerras do capitão Agostinho”, Universitária Editora, 1998,177pp, o autor foi capitão miliciano, decorrendo a acção em Mafra, Lamego e Angola.

* Guerra, Álvaro(+): “O Capitão Nemo e Eu” [...]

* Guerra, João Paulo: “Memórias das Guerras Coloniais”, Afrontamento, 1993.

* Lavado, Ana Paula: “Vozes ao vento” ( 253 964 095, 962 642 975 ). [...]

* Lima, Coutinho e: “A Retirada do Guileje”.[2008]

* Lobo, Domingos: “Os Navios negreiros sobem o Cuando” e “As Lágrimas dos Vivos”, Veja, 2005.

* Loja, António: “As Ausências de Deus no labirinto da guerra colonial”, ed. Notícias, 2001.

* Lopes, tencoronel Rui de Freitas: “Manguços e outros, recordações de Angola”, 114 pp A4, inédito; “Quadros da minha tropa, 1ª série”, 95 pp A4, inédito.

* Lourenço, cor. Inf. Vasco : “No regresso vinham todos”, 1975.

* Machado, tenente cororonel António José de Melo: “Entre os Macúas de Angoche”, 1970.

* Machado, gen. Ernesto : “No sul de Angola”, 1956.

* Magalhães, Helena Pinto: “Mousse de Manga”, ed. “Oro Faber”, 2008.

* Magalhães, Júlio: “Os Retornados. Um amor nunca se esquece.”,A Esfera dos Livros, 2008.

* Maia, tenente-coronel Cav., dr. Fernando Salgueiro (+): “Capitão de Abril: histórias da guerra do ultramar e do 25 de Abril”, 1994

* Marcelino, cor. Inf. Rui : “Guerras da minha guerra”, inédito; ( rapmarcelino@netcabo.pt ).

* Martelo, David: “As Mágoas do Império”, Europa-América. [...]

* Martins, ten.cor. Inf. José Lomba, José Aparício (aparjose@gmail.com, 919 012 674, 217 597 965 ), cor.José Parente ( rparente@ndr.pt, 964 124 640, 217 270 017 ), ten.gen. Silvestre Martins, cor. Tir. António Botelho e outros 16 : “A Geração do fim - Infantaria 1954-2004”, “Prefácio”, 2007, 356 pp.

* Mata, Inocência e Laura Cavalcante Padilha (organização): “A Mulher em África, vozes de uma margem sempre presente”, Colibri, 2007.

* Matias, Abel: “Angola, paz só com Muxima”, Edições Ora & Labora, 1996, 1993, 267 pp.

* Mc Queen, Norrie: “ A Descolonização da África Portuguesa”, Ed. Império, 1998.

* Melo, general da FA Carlos Galvão de (+): “Um militar na política”, ed. Shinton Investments, 3ª ed. 2002, 235 pp.

* Mendes, ten.gen. do Ex. Reynolds : [...]

* Mendes, Abílio Teixeira: “Henda Xala”, com prefácio de Vítor Alves, Ulmeiro, Lisboa, 1984, 235 pp, o autor é médico e a acção decorre em Angola. [ autor já morreu].

* Mensurado, cor. Inf. Pára - quedista Joaquim Manuel : “Que nunca por vencidos se conheçam”,1993: “Os Páras na guerra”.

* Metzner, Leone: “Caso Angoche. Mais um crime”, Intervenção, 1979.

* Miguel, Ruy: “Os Últimos heróis do Império (1961–1974)”.

* Morais, cor. Cav. Carlos Alexandre de (+): “A queda da Índia portuguesa”. [...]

* Mourão, coronel Piçarra: “ De Guiné a Angola – o fim do Império”, Quarteto, 2004.

* Nunes, ten.coronel Art. António Lopes Pires : “Angola 1961, da Baixa do Cassange a Nambuangongo”; “Angola 1966-74, vitória militar no Leste”; “Operações em Angola (1961-1964), prémio Ministro da Defesa 1999; “Operações em Angola (1964-74)”.

* Ornelas, cap. Ayres de (+): “Carta de África – campanha do Gungunhana”, 1895.

* Passos, Inácio de: “Moçambique, a escalada do terror”, Literal, 1977.

* Paulo, ten. cor. (?) Cav. João Mendes (+): “Elefante Dundum” ( jou-canavarro@clix.pt, 917950000)

* Pais, cor. Inf.José C. (+): “Coisas de África e a Senhora da Veiga”. [...]

* Pinheiro, Pedro: “A Última Crónica da Índia”, Editorial Escritor, 1997.

* Pires, maj. gen. do Ex. Mário Lemos(+) : “Descolonização de Timor: missão impossível”, 1991

* Ribeiro; Margarida Calafate: “África no Feminino”. [...]

* Rocha, gen. Vieira da(+): “Acção da Cavalaria portuguesa no sul de Angola em 1914/15”, 1936.

* Rodrigues, tenente- general do Ex. Joaquim Chito : “Moçambique, anatomia de um processo de paz”, 2006.( chitorod@gmail.com ).

* Santos, cor. Carlos Afonso dos ( pseudónimo Carlos Selvagem ) (+): “Império ultramarino português”, 1920.

* Santos, dr. Mário Beja : “Na Terra dos Soncó”, ed. Círculo de Leitores, 2008, e “Tigre Vadio”, ed. Temas e Debates, 2008.

* Santos, Nicolau: “Jacarandá e mulemba”. [...]

* Santos, cor. Nuno Valdez dos : “O desconhecido Niassa”, 1964.

* Sena, tenente- coronel de Cav. João Sena ( pseudónimo Bernardino Louro) : “O Caçador de brumas” 2 vols, 3ºvol. inédito ( jose26do6@gmail.com )

* Schneidam, A. W. : “Confronto em África”, ed. Tribuna. [....]

* Silva, cor. Pil. Av. José Morais da : “Timor: abandono e tragédia”, com Manuel Bernardo, 2000:*Silva, tenente-general Mário Jesus da (+): “O Sortilégio da cobra”. [...]

* Silva, dr. Rui Neves da : “Milicianos – os peões das nicas”.

* Silveira, António (+): “Morto em combate”, recomendado pelo Júri do Prémio Caminho 1989, Ed. Caminho, 1990, 8000 ex., 191 pp.

* Simões, cor. Cav. Joaquim Ribeiro : “Adeus Goa, adeus Lisboa”, 1986; “Os Sinos de Bafatá”. [...]

* Soares, coronel Alberto Ribeiro : “As Mulheres na Guerra”, ed. Gráfica Combatente. [...]

* Spínola, marechal António de (+) : “Por uma Guiné melhor”, ed. Agência Geral do Ultramar (AGU), 1970, 400pp; “Linha de Acção”, AGU, 1971, 502pp; “No Caminho do Futuro”, AGU, 1972, 438pp; “Por uma Portugalidade Renovada”, AGU, 1973, 640pp.

* Teixeira, Armando Sousa: “Guerra Colonial, a memória maior que o pensamento”, Ed. Avante; comentário de Mário Beja Santos. [...]

* Vaz, cor. Cav. doutor Nuno Mira : “Opiniões públicas durante as guerras de África 1961/74”; “Chão de ventos”. [...]

* Verdasca, cap. Inf. José: “Memórias de um capitão – guerrilha em Moçambique”, Universitária Editora, 2003.

* Viana, Manuel: “A Balada do Pidjiguiti”, Editorial Escritor, 2001.

* Vouga, cor. Cav. Fernando Costa Monteiro (nome literário Costa Monteiro ): “Caminhos perdidos na madrugada”, romance, “Escritor”, 1999

Oeiras, 2009.01.26 a 06.24

Manuel Barão da Cunha, com a colaboração de: coronéis Manuel Bernardo e José Parente, drs. Carlos Gueifão e Mário Beja Santos e outros.
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Nota de L.G.:

(a) É uma lista bibliográfica em construção... Faltam-lhe muitos outros autores, incluindo membros do nosso blogue. Eis, a título meramente exemplificativo, mais alguns autores já referenciados no nosso blogue, em especial na série Bibliografia de uma Guerra (temos mais de 150 referências com a palavra-chave Bibliografia) (**):

Abreu, António Graça de - Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra e Paz, 2007.

Aguiar, Cristóvão de - Braço Tatuado - Retalhos da Guerra Colonial, 2ª ed. Lisboa: Dom Quixote, Lisboa (Colecção: Autores de Língua Portuguesa). 2008.

Antunes, José Freire - A guerra de África (1961-1974), 2 volumes. Lisboa: Temas e Debates, 1996.

Bacelar, Maj Gen Sérgio Augusto Margarido Lima - A Guerra em África, 1961-1974: Estratégias Adoptadas pelas Forças Armadas. Porto: Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto, 2000.

Bastos, Manuel - Cacimbados: a vida presa por um fio. Babel Ed, 2008, 142 pp.

Brandão, José - Cronologia da Guerra Colonial: Angola-Guiné-Moçambique 1961-1974. Lisboa: Prefácio, 2008.

Branquinho, Alberto - Cambança, 2ª ed. [2009]

Cabral, Luís - Crónica da Libertação. Lisboa: O Jornal, 1974.

Chabal, Patrick - Amílcar Cabral: Revolutionary Leadership and People’s War. Trenton, NJ: Africa World Press, 2003.

Fernando, Beningno - O Princípio do Fim. Porto: Campo das Letras. 2001. 78 pp (Campo da Memória, 6).

Fraga, Luís Alves de - A Força Aérea na Guerra em África: Angola, Guiné e Moçambique 1961-1975. Lisbon: Prefácio, 2004.

Henriques, Fernando de Sousa - No Ocaso da Guerra do Ultramar: Uma Derrota Pressentida [...]

Lobato, António - Liberdade ou EvasãoO o mais longo cativeiro da guerra. Erasmos Ed. [...]

Loureiro, João - Postais antigos da Guiné. Lisboa: João Loureiro e Associados. 1997. 143 pp.

Melo, João de - Os Anos da Guerra, 1961-1975: Os Portugueses em África; Crónica, Ficção e História. Lisbon: Publicações Dom Quixote, 1988.

Monteiro, Fernando Amaro; Rocha, Teresa Vasquez - A Guiné do século XVII ao século XIX: O testemunho dos manuscritos. Lisboa: Prefácio, 2004.

Nóbrega, Álvaro - Luta pelo poder na Guiné-Bissau. Lisboa: ISCSP, 2003.

Oliveira, José Eduardo Reis de - Golpes de mão's: memórias de guerra. Prefácio de Alípio Tomé Pinto, Ten Gen [2009] [...]

Rei, Abel de Jesus Carreira - Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá. Memórias da Guiné (1967/68). (?): (?). 2002.

Reis, António - A minha jornada em África. Ed. Ausência [...]

Rodrigues, Luís Nuno - Marechal Costa Gomes: No Centro da Tempestade. Lisboa: A Esfera do Livro, 2008.

Rosa, António Júlio - Memórias de um prisioneiro de guerra. Porto: Campo das Letras.2003.

Spínola, Gen António de - Portugal e o Futuro. Lisboa: Arcádia, 1974.

Traquina, Manuel Batista - Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné. (?): Palha. 2009 (?). 230 pp., 70 fotos [Contactos do autor, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70: Telefones: 241 107 046 / 933 442 582; E-mail: traquinamanuel@sapo.pt]

Vicente, Mário - Pami Na Dono, a guerrilheira. Prefácio de Carlos da Costa Campos, Cor. Edição de autor. 112 pp. Estoril, Cascais. 2005

Vd. também:

A primeira série do nosso Blogue (Abril de 2005 / Maio de 2006)

Ver também as valiosíssimas página dos nossos camaradas:

Jorge Santos > Guerra Colonial > Bibliografia (com centenas de referências, de A a Z!!!)

António Pires> Guerra do Ultramar: Angola, Guiné, Moçambique > Livros

Vd. ainda no nosso blogue os postes de:

27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4430: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (3): Parte III (Bibliografia)

19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4380: Bibliografia de uma guerra (45): Entre o Paraíso e o Inferno, de Abel de Jesus Carreira Rei (CART 1661, 1967/68)

12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4330: Bibliografia de uma guerra (44): Memórias de um Prisioneiro de Guerra, de António Júlio Rosa (M. Beja Santos)

25 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3936: Bibliografia de uma Guerra (43): 14.º Volume da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (V. Briote)

4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3563: Bibliografia de uma guerra (40): Venturas e Aventuras em África, de Cristina Malhão-Pereira (Beja Santos)

28 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3536: Bibliografia de uma guerra (39): Nó Cego, de C. Vale Ferraz. (Cor Matos Gomes)

18 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3478: Bibliografia de uma guerra (37): Cacimbados, de Manuel Correia Bastos: CART 3503, Mueda, Moçambique, 1972

10 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3430: Bibliografia de uma guerra (36): No ocaso da Guerra do Ultramar, de Fernando Sousa Henriques. (Helder Sousa)

26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3520: Bibliografia de uma guerra (38): Tempo Africano, de M. Barão da Cunha. (Beja Santos).

19 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3331: Bibliografia de uma guerra (35): Desertor ou Patriota, de David Costa: da brincadeira ao pesadelo... (V. Briote)

17 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3907: Bibliografia de uma guerra (42): Escritor Combatente: "A Geração do Fim" (Mário Beja Santos)

27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2136: Bibliografia de uma guerra (19): Guiné-Bissau e Cabo Verde, uma luta, um partido, dois países (Parte III) (V. Briote)

28 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1323: Bibliografia de uma guerra (15): Os Mastins e o Disfarce, de Alvaro Guerra (Beja Santos)

(**) Vd. também as séries do nosso blogue:

Notas de Leitura
Memórias Literárias da Guerra Colonial
Agenda Cultural
A literatura colonial