Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Medjo > Abril de 2015 > Manuel Umaru Djaló
Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Medjo > 2 de maio de 2013 > O nosso camarada Zé Teixeira, "régulo" da Tabanca Pequena de Matosinhos, com o régulo de Medjo, numa das suas viagens ao sul da Guiné-Bissau.
Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Medjo > Abril de 2015 > O Zé Teixeira, o Eduardo Moutinho Santos (advogado, também "régulo" da Tabanca de Matosinhos) , e o Manuel Umaru Djaló e uma das suas mulheres.
Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Medjo > Abril de 2015 >Manuel Umaru Djaló, o Eduardo Moutinho Santos e o Zé Teixeira
1. Mensagem dno nosso muito querido amigo e camrada José Teixeira (ex-1.º cabo aux enf CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá eEmpada, 1968/70)
Data: 28 de agosto de 2015 às 22:22
Assunto: Faleceu o Régulo de Medjo - Manuel Umaru Djaló
Mais um soldado português que parte para o eterno aquartelamento.
O Régulo de Medjo, Manuel Umaru Djaló, serviu o exército português como primeiro cabo em Guiledje na Guiné.
Acabada a Guerra, entregou a G3 e dedicou-se à sua família e à sua terra – a Tabanca de Medjo, que com o fim da guerra iniciou a sua reconstrução, depois de ter sido abandonada pelo exército português em 1968 e consequentemente pela população autóctone. [Nela vive lá hoje grande parte da população que veio de Guileje]
Homem calmo e sensato, foi reconhecido pela população de Medjo que o escolheu para seu Régulo.
Conheci-o em Guiledge em 2008. Tinha o cuidado em se identificar como Manuel Umaru Djaló, para se definir como um soldado português, combatente em Guiledge no período mais quente da guerra.
Sabia acolher com um sorriso, um abraço de carinho. Era como um irmão, igual a tantos outros camaradas de guerra com quem tenho o grato prazer de conviver.
Gostava de conversar. Voltar ao passado. Contava as suas aventuras, de guerra desapaixonadamente, tal como nós quando nos encontramos nas tertúlias das Tabancas que em boa hora começaram a proliferar por este País.
Foi para mim um privilégio conhecer o Manuel e partilhar bons momentos de convívio com ele e sua família.
Foi gratificante para mim conversar com o Manuel sobre a guerra que nos marcou a todos. Possibilitou-me uma visão diferente dessa maldita guerra – a visão de um guineense que se afirmava soldado português, passados tantos anos, e se orgulhava de ter vestido a farda e lutado ao lado dos soldados da "Metrópole".
Tinha sempre uma palavra de afeto e um sorriso para dar.
Portugal e os seus camaradas de armas estavam no seu coração.
Tive oportunidade de o visitar em abril passado e notei-o muito cansado, mas nada fazia prever o triste desenlace.
Um amigo, um irmão que parte. Portugal ficou mais pobre. A Guiné-Bissau ficou mais pobre.
Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008)> Um excerto da comunicação do Cor Art Ref Coutinho e Lima sobre a sua missão, enquanto comandante do COP 5, e a sua decisão de retirar Guileje, em 22 de Maio de 1973. Na apresentação da comunicação, o militar português, agora na situação de reforma, apresentou-se com o traje que lhe ofertado pelo régulo e população de Guileje (que hoje vive em Mejo), em gesto de homenagem e de gratidão (LG).
1. Mensagem do José Belo (ou Joseph Belo)com data de 6 de Abril último. O nosso camarada, antigo Cap Inf, vive hije na Suécia, há mais de 30 anos. Foi Alf Mil na CCAÇ 2381, Os Maiorais ( Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70).
Assunto - Folclore
Li, com muito interesse, tudo o surgido no blogue quanto ao encontro do Guileje. Os seus organizadores estão, sem dúvida, de parabéns.
De entre as variadas fotos,surpreendeu-me uma. Um dos participantes,o Sr. Coronel de Artilharia, do Exército de Portugal, na situação de Reforma, envergando um bonito trajo típico local (1) . Ideia original e, por certo, com simpáticas intenções para com os Guinéus.
A ser,em futuro próximo,organizado em Portugal um encontro semelhante,e não propunha Aljubarrota,porque aí,frente a inimigo também mais numeroso,e por certo "melhor municiado",as nossas gentes mantiveram-se no terreno (talvez, porque como os Guinéus do Guileje,lutámos no nosso "chão",e pela nossa independencia)..
Mas, e de qualquer modo, a realizar-se tal encontro na nossa terra,será que os antigos Oficiais do PAIGC, participantes, nos irão aparecer vestidos de Campinos, Pescadores da Nazaré ou Pauliteiros de Miranda, em retribuição do gesto simpático do Sr. Coronel?
Estocolmo 6 de Abril 2008. José Belo(Capitão de Infantaria na situção de Reforma).
2. Dei conhecimento prévio do teor desta menagem ao Cor Art Ref Coutinho e Lima, que é também membro (recente) da nossa tertúlia, e com quem privei recentemente na Guiné-Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (29 de Fevereiro a 7 de Março de 2008):
Meu caro amigo:
Aqui tem o comentário (bem humorado...) do José Belo, que foi Alf Mil da CCAÇ 2381 (Empada, Buba, Quebo, Mampatá, 1968/70) e que, depois do 25 de Novembro de 1975, foi para a Suécia, onde vive... Mande-me o que entender, como reposta...
PS- Há dias estive a falar com o seu camarada de curso, o Cor Jales Moreira, que esteve em Bambadinca (1972/74)... O seu Batalhão, o BART 3873, vai reunir-se e queriam convidar-me... Eu estive em Bambinca mas foi em 1969/71...
Um abraço.
Luís Graça
3. Resposta do Coutinho e Lima:
Caro amigo Luís Graça
Recebi o mail do José Belo, que agradeço.
Relativamente ao comentário, o meu amigo sabe tão bem como eu, que a população que estava em GUILEDJE em Maio de 1973 e que agora ocupa MEJO, resolveu oferecer-me a túnica branca dos velhos e dos sábios, em reconhecimento da decisão que tomei naquela data, retirando toda a tropa, milícia e população para GADAMAEL.
Não posso deixar de referir que da MISSÃO atribuida ao COP 5, com sede em GUILEDJE e de que eu era o Comandante, constava, no que diz respeito à população: " Assegura a defesa eficiente dos aglomerados populacionais ocupados pelas NT...".
Porque, na situação concreta vivida em GUILEDJE, em 21 de Maio de 1973,não podia garantir a defesa eficiente da população, foi esse factor, além de outros, que me levaram a tomar a decisão de efectuar a operação de retirada, em 22 de Maio de 1973; a retirada foi uma surpresa para o PAIGC, que não só não se apercebeu dela, como só entrou em GUILEDJE em 25 de Maio de 1973, isto é, 3 dias depois.
A distinção que a população resolveu atribuir-me, em 1 de Março de 2008, foi para mim totalmente inesperada, porquanto, no depoimento que o Cipaio, representante da população (na ausência do Régulo), prestou no processo que me foi instaurado, declarou que a população não queria sair de GUILEDJE.
Ao fim de quase 35 anos, o Régulo UMARU DJALÓ [, filho mais novo do velho régulo Suleimane Djaló,]foi intérprete da gratidão das suas gentes, concluindo que a decisão que tomei em 21 de Maio de 1973, foi adequada à situação e permitiu que não houvesse nenhuma baixa. Recusar a atitude da população era uma grande indelicadeza da minha parte. A última parte do texto não me merece qualquer comentário, por considerar a comparação sem pés nem cabeça.
O meu amigo, em função do que eu escrevi, dará ao José Belo a resposta que entender.