Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 9 de setembro de 2023
Guiné 61/74 - P24636: Convívios (972): Almoço/Convívio do pessoal do Programa das Forças Armadas da Guiné (PIFAS), hoje, 9 de Setembro de 2023, com a presença do senhor General Ramalho Eanes (João Paulo Diniz)
Foto: © Garcez Costa (2012). Todos os direitos reservados
1. Mensagem do nosso camarada João Paulo Diniz, um dos radialistas do PFA, chegada ontem ao nosso Blogue através do Formulário de Contacto do Blogger:
Quem foi militar na Guiné decerto recorda-se do PFA - Programa das Forças Armadas, carinhosamente tratado por PIFAS! Era um programa de Rádio, com três emissões diárias, feito em instalações próprias do Comando Chefe, em Bissau.
O Pifas tinha grande impacto, não só junto dos militares, mas também da população civil.
Uma das pessoas que chefiou o Pifas foi o Capitão Ramalho Eanes, no início da década de '70.
Em 1985 - já lá vão 38 anos... - houve um jantar entre aqueles que passaram pelo Pifas. Um dos presentes foi o então Presidente da República, Ramalho Eanes que, nesse dia regressado de uma visita oficial à China, fez questão de estar junto dos seus Amigos!
Agora é tempo de reencontros, e por isso, neste sábado, 9 de Setembro, está marcado um almoço no Páteo Alfacinha, em Lisboa, a partir das 12:30. O General Ramalho Eanes estará presente, juntamente com sua esposa, a Dra. Manuela Eanes. Na ementa do almoço estão incluídos muitos abraços, algumas lágrimas de emoção e... os sorrisos felizes de todos os presentes!!!
(Abraço, Luís Graça)
Cumprimentos,
João Paulo Diniz
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Nota do editor
Último poste da série de 7 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24629: Convívios (971): CCAÇ 3398 (Buba, 1971/73): Cinquentenário do regresso, Freiriz, Vila Verde, 2set2023 (Joaquim Pinto Carvalho)
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023
Guiné 61/74 - P24046: Efemérides (381): Os 60 anos da formação dos primeiros Comandos, em Zemba, Angola... Convite para a sessão solene comemorativa do encerramento das Comemorações, no auditório do Instituto de Defesa Nacional, Lisboa, 15/2/2023, 17h00 (Associação de Comandos)
1. Convite que nos chegou ontem por intermédio do cor inf ref Manuel Bernardo, com uma mensagem da Associação de Comandos (Delegação de Lisboa), que é do seguinte teor:
Date: segunda, 6/02/2023 à(s) 11:40
Subject: Convite
Caros Sócios, Companheiros e Amigos,
Anexo convite para a sessão solene do 60º aniversário da formação dos primeiros Comandos em Zemba.
Mama Sume
Jaime Silveira
2. Chama-se a atenção para os nossos camaradas que queiram comparecer a esta sessão solene, que deve ser dada, até ao dia 10 do corrente, a confirmação de presença, para estes contactos;
Telf: 21 353 83 73
email: associacao.comandos.dn@gmail.com
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Nota do editor:
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023
Guiné 61/74 - P24040: Memórias de Luís Cabral (Bissau, 1931 - Torres Vedras, 2009): Factos & mitos - Parte II: O comandante Pombo que intercedeu junto do 'Nino' Vieira por causa da situação humilhante em que se encontrava o Luís Cabral, detido no Forte da Amura, sem cinto nas calças e atacadores nos sapatos, depois do golpe militar de 14/11/1980
Fotos (e legendas): © Álvaro Basto (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O Pombo era então capitão piloto reformado. Tinha feito, segundo bem percebi, 4 comissões na Guiné. Vivia em Bucelas, sendo grande amigo do major gen paraquedista Avelar de Sousa, que passou pelo TO da Guiné, integrando o BCP 12, como comandante da CCP 123 (1970/71), e foi ajudante de campo, entre 1976 e 1981, do gen Ramalho Eanes, 1º presidente da República eleito democraticamente no pós 25 de abril. E esse facto é relevante para se perceber a influência, discretíssima, que o comandante Pombo terá tido na libertação do ex-1º primeiro ministro da Guiné-Bissau, Luís Cabral, depois do golpe de Estado do ‘Nino’ Vieira em 1980. Pareceu-me que não haver aqui imodéstia ou fanfarronice.
O comandante Pombo privou com os dois, o Luís Cabral e o 'Nino' Vieira. Dos dois era inclusive "amigo". Ao ‘Nino’ Vieira tratava-o mesmo por tu. E o Pombo continuou a ser o comandante Pombo, depois da independência da Guiné-Bissau.
Depois veio o golpe militar do ‘Nino’ em 14/11/1980 e o Luis Cabral ficou preso na Fortaleza da Amura… Sem cinto, por alegadas razões de segurança!... (E possivelmente sem atacadores nos sapatos: é dos livros.)
Mais tarde o Pombo moveu as suas influências, junto do seu amigo e camarada Avelar de Sousa… O presidente Ramalho Eanes, como é sabido publicamente, exerceu forte influência junto de ‘Nino’, no sentido de obter a libertação de Luís Cabral, preso há 13 meses. Primeiro, foi para Cuba e mais tarde veio para Portugal, tendo passado também, antes, por Cabo Verde. Acabou por viver o resto da sua vida (cerca de 25 anos) em Portugal: viria a morrer, no antigo Hospital do Barro, em Torres Vedras, em 30/5/2009. Ramalho Eanes e Luís Cabral tinham muita estima mútua.
"(...) Até certo ponto, o Presidente Ramalho Eanes teria dois motivos para receber bem, muito bem, o exilado Luís Cabral. E se não estou equivocado, também foi atribuída uma "mesada" ao presidente exilado.
Mas um dos motivos no meu entender, para Ramalho Eanes receber bem Luís Cabral, seria motivo político, era um ex-presidente de um PALOP.
O segundo motivo, no meu entender, seria um caso pessoalmente muito motivador, é que Luís Cabral proporcionou uma recepção na Guiné ao Presidente Ramalho Eanes, de tal maneira calorosa que passados mais de 2 anos dessa visita (1978), ainda se viam grandes cartazes com a foto do nosso Presidente, intactas e bem tratadas, nas mais importantes ruas da cidade de Bissau.
Mais tarde já com Nino na presidência, Ramalhos Eanes também foi bem recebido, mas não com tanta euforia. (...)"
Voltando ao comandante Pombo: contrariamente ao boato que corria na Guiné, no tempo da guerra colonial, ele nunca esteve feito com os “turras”… E a prova disso é que umas das aeronaves (não era um Cessna, era uma outra avioneta tipo DO 27…) foi perseguida por dois mísseis Strela, já depois do último avião da FAP ter sido abatido (em 31/1/1974, no leste do território)…
Ele contou-me os pormenores ao telemóvel: deve ter sido, deduzo eu, por volta de março ou mesmo abril de 1974, um ano depois do aparecimento dos Strela. O comandante Pombo vinha de Bissau para Farim, na “carreira normal” dos TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa)… O PAIGC (o Manecas dos Santos) conhecia o horário e os apontadores do Strela estavam à espera da aeronave nas imediações de Farim…
Havia a indicação de que a guerrilha queria mesmo cortar todas as ligações aéreas com o nordeste da Guiné. Deve ter havido falhas na segurança militar, nas imediações da pista de aviação… Para iludir os guerrilheiros, o comandante Pombo vinha com a sua avioneta a baixa altitude e a baixa velocidade. como mandavam as regras de segurança emitidas pela FAP no período pós-Strela. Mas antes de chegar ao destino ele fez inteligentemente uma mistura de combustível que não deixava rasto, isto é, "fumaça"… E, antes de aterrar, terá feito uma manobra de subida, na vertical, seguida de um voo a pique…
Foi o que eu percebi, desculpem-me se o relato é tecnicamente grosseiro… Mesmo assim não se livrou de ver passar-lhe, por perto, dois mísseis que lhe vinham dirigidos… Conseguiu, por fim, aterrar em segurança… "Não ganhei para o susto: os auscultadores saltaram-me da cabeça!", confessou-me ele...
3. Esta é umas das suas muitas histórias de piloto lendário, desde a famosa "Missão" de 1961, que já aqui foi contada (**)... De facto, o que muita gente também não sabia (eu incluído…) é que o comandante Pombo era um orgulhoso sobrevivente da “Operação Atlas”, a primeira (e única) travessia Monte Real – Bissalanca, feita pela Esquadra 51/201 (BA 5), constituída por aviões F-86F “Sabre”, realizada em agosto de 1961… Era então um jovem 1.º sargento piloto, com 27 anos...
O comandante Pombo esteve depois muitos anos no antigo Zaire em Kinshasa a trabalhar como piloto da companhia Sicotra Aviation (aviões de carga). Trabalhou ainda em Angola antes de ir para o Brasil em 2010.
O que o Pombo nunca foi, isso não, foi "piloto privativo" do Sékou Touré, a seguir à independência da Guiné-Bissau, como chegou a constar por aí... Esse boato foi desmentido pela filha, Maria João Pombo Rodrigues.
Guiné > Bissalanca > BA 12 > 1973 > Foto (histórica) de grupo com diversos pilotos (sargentos e oficiais, alguns já nossos conhecidos e referenciados no nosso blogue, como por exemplo - citamos de cor - o cor Moura Pinto, o ten cor Lemos Ferreira ou o cap Branco) e duas enfermeiras (a Giselda e a Piedade). O Pombo (que nessa altura já estava nos TAGP, não sabemos quando entrou) é o terceiro da primeira fila, a contar da direita para a esquerda. (E em quinto lugar, o nosso então ten pilav Matos, António Martins de Matos, hoje ten gen ref; o Miguel Pessoa não aparece na foto, pode ter sido ele o fotógrafo.)
(*) Vd. poste de 2 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24031: Memórias de Luís Cabral (Bissau, 1931 - Torres Vedras, 2009): Factos & mitos Parte I: Ainda não foi desta que o autor nos contou toda a verdade...
(***) Vd. poste de 4 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14218: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (32): Falei ao telefone com o comandante Pombo, amigo de Luís Cabral e de 'Nino' Vieira... e sobretudo um orgulhoso sobrevivente dos Strela (em 1973/74) e da "Operação Atlas", em agosto de 1961 (travessia, com uma esquadra de F-86F “Sabre”, Monte Real-Bissalanca, num total de 3888 km e o tempo de 7h50 sobre o Atlântico) (Luís Graça, com José Cabeleira, cap TMMA ref, Leiria)
(****) Blogue Especialistas BA12 Guiné 65/4 > 28 de fevereiro de 2014 > Voo 3068 > A Minha Colaboração (Miguel Pessoa, cor pilav, Lisboa)
quinta-feira, 16 de junho de 2022
Guiné 61/74 – P23356: (Ex)citações (408): Da parte operacional, pouco sei para além do que os meus amigos, quando vinham a Bissau, me contavam parte do que por lá passaram e também do meu serviço no Centro de Mensagens do QG (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS/CTM/QG/CTIG)
Caro e grande Camarigo Luís Graça
Primeiro que tudo os meus votos de boa recuperação do teu joelho que te deve ter obrigado a uma paragem sempre inconveniente em todos os sentidos, mas ao mesmo tempo te deve ter dado oportunidade para ires pondo a escrita em dia. Boas melhoras são os meus desejos sinceros.
joaquim costa
Agora quero dar-te os meus parabéns por esta magnifica apresentação, mesmo à distância, do livro do Camarigo Joaquim Costa “Memórias de Guerra de um Tigre Azul”, que foi uma autêntica lição de história que merecia ser bem divulgada, especialmente junto das entidades do poder, que ainda hoje não sabem, nem querem saber, que o País esteve em guerra durante 14 longos anos.
Como sabes e aliás desde o primeiro dia em que abriguei à sombra da Tabanca Grande, em todos os meus escritos sempre me referi a Bissau onde passei os meus 25 meses de comissão. Portanto, da parte operacional, pouco sei para além do que os camaradas meus amigos, quando vinham a Bissau, me contavam parte do que por lá passaram e também do meu serviço no Centro de Mensagens do QG, quando, infelizmente, eramos confrontados a qualquer hora do dia ou da noite, com os pedidos de apoio aéreo e pior do que isso, do pedido de evacuações derivadas da guerra.
Tenho lido muitos livros escritos por camaradas que passaram por lá as passas do Algarve como se costuma dizer, mas há um livro, “Nos Celeiros da Guiné, Memórias de Guerra” da autoria de Albano Dias Costa que em 1963, com a especialidade de Sapador de Infantaria e com o curso de explosivos, minas e armadilhas, foi mobilizado para a Guiné como Alferes Miliciano Atirador e de José Jorge de Campos Sá-Chaves que, como militar, frequentou o CEPM e estagiou no CIOE. Mobilizado em Julho de 1962 integrou a CCAÇ 413 tendo cumprido missão como Alferes Miliciano, na antiga Província Ultramarina da Guiné, (Dados retirados das badanas da capa e contracapa do referido livro) e Prefácio “Metamorfose dolorosa” do General Ramalho Eanes, que me escuso de transcrever na totalidade, apesar ser merecida a sua transcrição, porque são sete páginas, mas mesmo assim permito-me transcrever a 1.ª frase deste Prefácio, páginas 11 a 17:
“Poderia esta obra ter por titulo “Duas variações dramáticas sobre o mesmo tema”, dado que o tema, fundamental, são os jovens soldados na guerra – na guerra da Guiné -, que a guerra definitivamente marcou, roubando a uns, a vida, incapacitando, fisicamente, outros, marcando de angústia indelével o subconsciente e a memória não só destes últimos mas, também, a de todos os que lhe sobreviveram.” Mas permito-me ainda transcrever a última frese deste Prefácio: “Sentindo-me um irmão ex-combatente, destes ex-combatentes da CC 413, entendi não os abraçar com uma frase para a capa do livro, como me pediram, mas, sim, abraçá-los com este manifesto despretensioso, pequeno, mas sentido manifesto de solidariedade.” António Ramalho Eanes.
Sem querer ser fastidioso, ainda tenho que transcrever parte da “Dedicatória” dos autores, inserta na página 9, do citado Livro: “À memória dos camaradas da CC 413 que não envelheceram, tombados na Guiné, no cumprimento da comissão de serviço que lhes foi imposta, o Ataliba Pereira Faustino, o Francisco Matos Valério, o José Gonçalves Pereira, o José Basílio Moreira, o José Rosa Camacho, o José Pereira Rodrigues, o José Ramos Picão e o Joaquim Maria Lopes, em relação aos quais carregamos a culpa de continuarmos vivos.”
E refiro-me especialmente a este livro porque o mesmo, para além de tudo o mais, este livro regista a primeira morte, no conjunto dos três teatros de operações, de um conterrâneo meu, natural de Alcanena, o José Gonçalves Pereira, que despareceu em combate, cujos restos mortais vieram a ser recuperados mais tarde.
As minhas desculpas por este longo comentário
Um grande abraço.
Carlos Pinheiro
14.06.2022
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Nota do editor
Último poste da série de 8 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 – P23247: (Ex)citações (407): Pedaços da vida militar. A tropa e o caminho rumo à Guiné. (José Saúde)
segunda-feira, 2 de agosto de 2021
Guiné 61/74 - P22426: Tabanca Grande (523): O cap art Otelo Saraiva de Carvalho, com quem trabalhei na Rep ACAP, QG/CCFAF, em 1971, ao tempo do major inf Ramalho Eanes e do ten cor inf Mário Lemos Pires (Ernestino Caniço)... Em sua memória,.é reserado o lugar nº 846, à sombra do nosso poilão
Foto 1A > Guiné > Bissau > Amura > QG / CC FAG > Rep ACAP (Assuntos Civis e Acção Piscológica) > 1971 > Uma foto histórica: o Major Ramalho Eanes, de óculos de sol (Diretor da Secção de Radiodifusão e Imprensa). à ponta esquerda; o ten cor Lemos Pires (chefe da repartição), na ponta direita; o alf mil Ernestino Caniço está ao centro, na segunda fila.
Foto 1B > Guiné > Bissau > Amura > QG / CC FAG > Rep ACAP (Assuntos Civis e Acção Piscológica) > 1971 > Uma foto histórica: na segunda fila, o então capitão de artilharia Otelo Saraiva de Carvalho, na ponta esquerda, na segunda fila; ao centro, o terceiro a contar da direita deve ser o então já ten cor Luz Almeida (, será comandante da Polícia Militar em 1973).
Foto 2 > Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > QG/CCFAG > 1971 > Rep ACAP (Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica) > Departamento de Fotocine > Ao centro, o Cap Art Otelo Saraiva de Carvalho e à sua esquerda o Alf Mil Cav Ernestino Caniço, seu colaborador.
Fotos (e legendas): © Ernestino Caniço (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Subject: Otelo
Amigo Luís Graça:
Perante o teu convite para umas referências à Rep ACAP, a propósito do Coronel Otelo Saraiva de Carvalho, pela sua empatia, munificência e humanismo, vou espichar algumas linhas, tentando que, após meio século, não seja atraiçoado pela memória.
Como já tinha referido, fiz parte da Rep ACAP, no QG/CCFAG, na Fortaleza da Amura -Bissau no ano de 1971. À data era chefe da repartição o Major Lemos Pires (posteriormente promovido a Tenente Coronel).
Faziam parte, com funções de relevo, o Major Ramalho Eanes, o Major Luz Almeida, o Capitão Otelo Saraiva de Carvalho, o Alferes Arlindo Carvalho e o 1º Cabo João Paulo Dinis.
O Major Ramalho Eanes era o Diretor da Secção de Radiodifusão e Imprensa do Comando-Chefe. Com ele partilhei a responsabilidade da biblioteca, além de outros contactos nas nossas funções.
Na manobra psicológica em curso no T.O. o Capitão Otelo era Relações Públicas por mim coadjuvado e dentro da missão da Rep ACAP, com enfoque nos contactos internacionais, acompanhando figuras proeminentes, nomeadamente jornalistas, atores, senadores, etc., instalando-os e preparando programas, que o Tenente Coronel Lemos Pires apresentava ao General Spínola.
O louvor que me foi atribuído pelo Agrupamento de Bissau, foi redigido pelo Capitão Otelo por indicação do Tenente Coronel Lemos Pires.
Para a entrada na ACAP (após a desativação do meu pelotão Daimler) tinha-me sido destinado a Secção de Assuntos Civis. À minha chegada e pelos contactos anteriores, entendeu o Major Lemos Pires que eu tinha perfil para a Ação Psicológica, pelo que me colocou na Secção de Operações Psicológicas, dirigida pelo Major Luz Almeida.
Competia-me então (entre outros) dar apoio logístico ao General Spínola, Governador e Comandante Chefe, nas suas intervenções nas populações, bem como a feitura de ofícios para as entidades civis e militares por determinação do chefe da repartição.
Numa outra área intervinha na sensibilização das populações, nomeadamente através de
obras e estruturas efetuadas pelas nossas tropas. A gestão e fruição destas informações estavam a cargo do Alf mil Arlindo Carvalho, de acordo com as normas emanadas superiormente e com a supervisão do Major Ramalho Eanes.
O 1º Cabo João Paulo Diniz animava a rádio das Forças Armadas na Guiné-Bissau, sendo locutor no Pifas (Programa de Informação para as Forças Armadas).
Espero ter correspondido ao solicitado.
Um abraço, Ernestino Caniço
Médico – Chefe Serviço MGFGestor Serviços Saúde – Ordem Médicos
Pós Graduação em Direito da Medicina – Faculdade Direito Universidade de Coimbra
2. Comentário do editor L.G.:
Dois camaradas, o José Belo e o Ernestino Caniço, já aqui fizeram o elogio fúnebre do cor art Otelo Saraiva de Carvalho (1936-2021), que fez duas comissões de serviço em Angola e a última na Guiné (1970/73). (*)
Independentemente do seu lugar na nossa História, ele aqui é tratado como qualquer outro "camarada da Guiné", desde que tenha referências no nosso blogue. E o Otelo tem quase duas dezenas.
O Otelo faleceu
Segundo li no jornal
não haverá luto nacional
para o mentor da Revolução.
Dele ficará, pois, "enfermo".
Este, será, um termo
que indico como senão.
Mas já consta da História,
à margem da reles escória.
O povo não o esqueceu.
À despedida, acorreu.
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Notas do editor:
25 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22402: In Memoriam (399): Coronel Otelo Saraiva de Carvalho (1936 - 2021), autor do Plano de Operações do 25 de Abril de 1974 e que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné entre 1970 e 1973
terça-feira, 5 de setembro de 2017
Guiné 61/74 - P17734: Tabanca Grande (445): José Luís Pombo Rodrigues (1934-2017), o mítico comandante Pombo... Nosso grã-tabanqueiro, a título póstumo, fica connosco, à sombra do nosso sagrado poilão, sob o nº 752
Foto: © Manuel Resende (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
FAP > Esquadrilha do F-86, "Sabre" > Junho de 1956 > Da esquerda para a direita: (i) de pé, alf Moreira, ten Ramiro, alf Neves Oliveira e Aj Tércio; (ii) De cócoras, fur Pombo (, então com 22 anos), fur Pessanha, 2º sarg Moutinho, fur Carvalheira. ["Só por curiosidade. O Carvalheira era mais antigo que eu. Foi punido e atrasou a promoção. Um dia ele ao comandar uma parelha de F-84 em que eu era o asa, foi fazer umas passagens baixas em Famalicão e houve queixa. Naquele tempo era a doer"]...
Fotos do álbum de Fernando Moutinho, da incorporação de 1951, cap pil, residente em Alhandra [Poste 3 de março de 2014 > Voo 3075]
1. Família, amigos e camaradas disseram hoje o último adeus ao comandante Pombo (*). Tinha 83 anos, feitos em 3 de junho último. Tive o privilégio de falar com ele, duas ou trêz vezes, não na Guiné mas já cá e só muito recentemente. A primeira vez foi em 3/2/2015: a filha, Maria João, ligou-me e passou-lhe o telemóvel. Ela tinha ido com o pai a uma consulta médica. Ela informou-me que o pai tinha regressado do Brasil, para onde fora viver, em Maricá, perto do Rio, em agosto de 2010.
Tinha sido entretanto operado no hospital da Força Aérea ao fémur e fizera fisioterapia, voltara a andar. E já estava reformado.
Ao telefone. o nosso camarada, José Luis Pombo Rodrigues, popular e carinhosamente conhecido como o comandante Pombo, começou por falar-me dos problemas de saúde que o preocupavam então, e que terão motivado o seu regresso a Portugal. Transmiti-lhe os nossos votos de rápidas melhoras, em nome dos amigos e camaradas da Guiné. epois disso, recuperada a saúde, ele arranjaria, por certo, disposição para passar à escrita muitas das suas histórias e memórias da FAP e da Guiné. e partilhá-las connosco.
Nunca nos encontrámos pessoalmente na Guiné, embora no tempo em que eu lá estive (CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, maio de 1969/março de 1971), o comandante Pombo já fosse uma figura conhecido e até lendária. Aliás, eu transmiti-lhe (e reforcei) essa ideia, que pode ser colhida pela leitura do nosso blogue de cuja existência ele tomou conhecimento pela filha.
O Pombo é era então tenente ou capitão pil, reformado, já não posso precisar o posto. Tinha feito, segundo bem percebi, 4 comissões na Guiné. Voltara há pouco para Portugal, vivia então em Bucelas, sendo grande amigo do major gen paraquedista Avelar de Sousa, que passou pelo TO da Guiné, integrando o BCP 12, como comandante da CCP 123 (1970/71), e foi ajudante de campo, entre 1976 e 1981, do gen Ramalho Eanes, 1º presidente da república eleito democraticamente no pós 25 de abril. E esse fato é relevante para se perceber a influência, discretíssima, que o comandante Pombo terá tido na libertação do ex-1º primeiro ministro da Guiné-Bissau, Luís Cabral, depois do golpe Estado do ‘Nino’ Vieira em 1980. (**)
O comandante Pombo privou com os dois, o Luís Cabral e o 'Nino0 Vieira. Dos dois era incluive "amigo". Ao ‘Nino’ Vieira tratava-o mesmo por tu. E o Pombo continuou a ser o comandante Pombo, depois da independência da Guiné-Bissau. Terá havido um acordo entre as novas autoridades de Bissau e o governo português para que ele ficasse na Guiné... O PAIGC não tinha pilotos (muito menos Mig ou outros aviões). O comandante Pombo pilotava o pequeno Falcon que fora oferecido ao Luís Cabral, já não sei por quem. Este gostava muito dele, cmdt Pombo, e sempre que viajava com ele trazia-lhe uma garrafa de.. champagne.
Depois veio o golpe do ‘Nino’ e o Luis Cabral ficou preso na Amura… Sem cinto, por alegadas razões de segurança!... O comandante Pombo foi visitá-lo e encontrou-o sem cinto, com as calças na mão, numa situação humilhante para um ex-chefe de Estado… Diziam-lhe, os seus carcereiros, que era para ele não poder fugir. Achando essa uma situação indigna, o Pombo foi falar ao seu amigo ‘Nino’, que lhe deu razão…
Mais tarde o Pombo moveu as suas influências, junto do seu amigo e camarada Avelar de Sousa… O presidente Ramalho Eanes, como é sabido publicamente, exerceu forte influência junto de ‘Nino’, no sentido de obter a libertação de Luís Cabral que, primeiro, foi para Cuba e mais tarde para Portugal, onde virá a morrer, no antigo Hospital do Barro, em Torres Vedras, em 30/5/2009.. Ramalho Eanes e Luís Cabral tinham muita estima mútua.
Mas, e contrariamente ao boato que corria na Guiné, no tempo da guerra colonial, o comandante Pombo não estava feito com os “turras”… E a prova disso é que umas das aeronaves (não era um Cessna, era uma outra avioneta tipo DO 27…) foi perseguida por dois mísseis Strela, já depois do último avião da FAP ter sido abatido…
Ele contou-me os pormenores ao telemóvel: deve ter sido, deduzo eu, por volta de março ou mesmo abril de 1974, um ano depois do aparecimento dos Strela. O comandante Pombo vinha de Bissau para Farim, na “carreira normal” dos TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa)… O PAIGC conhecia o horário e os apontadores do Strela estavam à espera da aeronave nas imediações de Farim…
Havia a indicação de que a guerrilha queira mesmo cortar todas as ligaçãoes aéreas como nordeste da Guiné. Deve ter havido falhas na segurança militar, nas imediações da pista de aviação… Para iludir os guerrilheiros, o comandante Pombo vinha coma sua avioneta a baixa altitude e a baixa velocidade. como mandavam as egras de segurança emitidas pela FAP no período pós-Strela. Mas antes de chegar ao destino ele fez inteligentemente uma mistura de combustível que não deixava rasto, isto é, "fumaça"… E, antes de aterrar, terá feito uma manobra de subida, na vertical, seguida de um voo a pique…
Foi o que eu percebi, desculpem-me se o relato é tecnicamente grosseiro… Mesmo assim não se livrou de ver passar-lhe, por perto, dois Strelas que lhe vinham dirigidos…Conseguiu, por fim, aterrar em segurança… "Não ganhei para o susto: os auscultadores saltaram-me da cabeça!" ...
Esta é umas das suas muitas histórias de piloto lendário, desde a famosa "Missão" (1961)...
No final da nossa conversa, reforcei mais uma vez o convite para ele se sentar à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande e nos poder contar, na primeira pessoa, estas e outras histórias da sua longa vida na Guiné… Infelizmente a doença que o perseguia, não lhe deu tréguas...
Troquei vários emails om a filha Maria João e inclusive arranjámos ainda maneira de nos encontrarmo-nos e conhecermo-nos pesssoalmente na Tabanca da Linha, no verão de 2015.
O comandante Pombo esteve depois muitos anos no antigo Zaire em Kinshasa a trabalhar como piloto da companhia Sicotra Aviation (aviões de carga). Trabalhou ainda em Angola antes de ir para o Brasil em 2010.
Recorde-se que no dia 8 de agosto de 1961, oito F-86F "Sabre" descolaram da BA-5 para dar início a uma longa viagem que os levaria até Bissalanca (!)... Os aviões escolhidos para a missão foram os seguintes 5307, 5314, 5322, 5326, 5354, 5356, 5361 e 5362. A missão foi executada com êxito, os 8 aviões aterraram em Bissalanca no dia 15 de agosto. Segundo informação do blogue dos nossos camaradas "Especialistas da BA 12, Guiné, 65/74", o Pombo terá levado para Bissalanca o F-86F "Sabre" 5314. Essa história, quase épica, já foi aqui contada, no nosso blogue.(**)
Na noticia da sua morte, domingo, dia 3, escrevemos o seguinte:
"O comandante Pombo tem já cerca de 2 dezenas de referências no nosso blogue. Por proposta do fundador, administrador e editor do blogue, Luís Graça, ele passa doravante a integrar, a título póstumo, a nossa Tabanca Grandem sob o nº 752. Enfim, é uma figura lendária dos céus da Guiné e muitos de nós guardam dele uma grata recordação." Por questões de tempo, só hoje formalizamos o processo. O cmdt Pombo continuar a voar connosco nas nossas histórias e memórias. (***)
Muita gente que passou na Guiné-Bissau tem uma história com o Comandante Pombo. Para a família enlutada os meus sentidos pêsames
(iv) Fabrício Marcelino:
(v) Francisco Baptista;
Os meus sentidos pêsames à família do Comandante Pombo que em 1970 ou 1971 me transportou na sua avioneta, numa viagem inesquecível entre Buba e Bissau, grande parte dela a sobrevoar a baixa altitude o rio Grande de Buba. Que descanse em paz e que voe alto.
(vi) Hélder Valério:
Camaradas: Não sei bem o que dizer. Sei, isso sim, que tem sido um corropio de amigos e conhecidos que têm partido recentemente. A tristeza não deixa de nos apoquentar, mesmo sabendo-se, de certeza certa, que esta 'partida' nos está reservada a todos a qualquer momento.
À família enlutada, os meus pêsames. À Maria João, filha dedicada, as minhas saudações e os votos para que consiga superar a perda dolorosa.
Para a família enlutada os meus mais sentidos pêsames. Até sempre.
(x) Tabanca Grande [Luís Graça]
Maria João: é devastador perder um pai ou uma mães. Sei da ternura que a Maria João tinha pelo seu pai. Conheci os dois num convívio da Tabanca da Linha, em Oitavos, Guincho, Cascais, em junho de 2015«.
Neste momento, espero que as melhores memórias do seu pai a ajudem a fazer o luto. Faço questão de, a título póstumo, o juntar a esta grande comunidade virtual que são os amigos e camaradas da Guiné. O seu pai foi um lenda dos céus da Guiné e será sempre recordado com muito apreço, gratidão e ternura por muitos de nós. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz é o jovem que aparece no foto de grupo, com o seu pai, em Bubaque, Páscoa de 1974, do lado esquerdo...
Se a Maria João tiver uma pequena nota biográfica do pai, incluindo o ano do seu nascimento. ficar-lhe-ia grato pelo seu envio, quando puder...
Um grande beijo filial: os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são.
E ainda condolências de: António Pimentel, Belarmino Sardinha, David Guimarães, Delfim Rodrigues, Diniz Sousa e Faro, Gualter Pinto, Henrique Castro, Joaquim Pombo, Jorge Félix, José António Rosado, José Botelho Colaço, José Marcelino Martins, José Quintas, José Ramos, Manuel Augusto Reis, Manuel Resende, Ricardo Figueiredo, Rui Anibal Ferreira Silva e mais cerca de duas dezenas e meia de pessoas.
Notas de leitura:
(*) Vd. poste de 3 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17727: In Memoriam (304): Faleceu o Comandante Pombo, José Luís Pombo Rodrigues, uma figura lendária dos céus da Guiné. As cerimónias fúnebres terão lugar segunda e terça-feira, no Carregado e Póvoa de Santa Iria (Manuel Resende / Maria João Alves Pombo Rodrigues)
(**) 4 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14218: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (32): Falei ao telefone com o comandante Pombo, amigo de Luís Cabral e de 'Nino' Vieira... e sobretudo um orgulhoso sobrevivente dos Strela (em 1973/74) e da "Operação Atlas", em agosto de 1961 (travessia, com uma esquadra de F-86F “Sabre”, Monte Real-Bissalanca, num total de 3888 km e o tempo de 7h50 sobre o Atlântico) (Luís Graça, com José Cabeleira, cap TMMA ref, Leiria)
(***) Último poste da série > 5 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17733: Tabanca Grande (444): António Clodomiro Silva Castro, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4942/72 (Jemberém e Barro, 1973/74)
domingo, 16 de julho de 2017
Guiné 61/74 - P17586 Tabanca Grande (441): António Abrantes: foi cadete em Mafra, em julho de 1961, com o Manuel Alegre, Arnaldo de Matos e outros, sendo o Ramalho Eanes tenente; foi alferes mil, CCAÇ 423 (São João e Tite, 1963/65); senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 748.
Camaradas:
Só agora reparei que não enviei certos dados necessários:
(ii) Estava a dar instrução de Morteiros, em Viseu, quando a mês e meio de acabar o tempo normal fui mobilizado e para uma Companhia de Cacadores !
(iii) A minha Compannhia, a CCac 423, foi a ultima a ir por terra para o Sul da Guiné ,saindo de Bissau, Nhacra, Mansoa, Mansaba, Bafatá, Xitole, Aldeia Formosa, Buba, onde pernoitamos, Fulacunda, Brandão, Nova Sintra e, dada impossibilidade de chegarmos a S João, desvio para Tite para ao outro dia irmos até ao Enxudé (Porto de Tite ) onde embarcamos numa draga (a Geba) para, numa viagem atribuladam passarmos ao lado de Bissau e já no canal de Bolama nos aproximarmos do Continente, e com água pela cinta desembarcamos em S João .
2. Nova mensagem do nosso novo membro da Tabanca Grande:
(iv) o general Eanes era lá tenente;
Um grande abraço a todos os camaradas, coma esperança de também poder ficar a sombra do poilão da Tabanca Grande.
Nota: Tenho poucas fotografias mas a seu tempo mandarei mais algumas (se me for permitido) bem como algumas "estórias" passadas na Guiné.
Foto tirada em Tomar, vê-se parte do meu pelotão, com o malogrado Furriel Hércules Arcádio de Sousa Lobo, da 3ª secção (ainda cabo miliciano) [Foro nº 2]
Toto mais recente [Foto nº 4]
3. Comentário do nosso editor LG ao poste P17552 (**):
É uma honra ter, no blogue da Tabanca Grande, um representante dos bravos da CCAÇ 423. Até agora, não havia ninguém que representasse condignamente esta subunidade.
Não leves a mal que a gente se trate por tu, à boa maneira romana: afinal fomos e continuamos a ser camaradas de armas, no sentido forte do termo.
Fica desde já, o convite para te sentares à sombra do nosso poilão. Temos um lugar livre, o nº 748... Só precisamos, de acordo com os nossos regulamentos, de duas fotos tuas, uma dos heróicos tempos de Quínara e outra atual... E dois parágrafos de apresentação: já sabemos quem foste, pode-nos dizer quem és hoje, onde vives, o que fazes... Estás, por certo, reformado mas não "arrumado": precisamos de ti para cobrir esse ano de 1963, e os seguintes... Há falta de documentação fotográfica, de testemunhas, de histórias, etc.
Posso continuar a contar contigo ?
O precioso "comentário" que me mandaste sobre a maldita mina ou fornilho do dia 3/7/1963 (há 54 anos!) foi transformada em poste, como podes ver aqui.
Tens o meu email ou do Carlos Vinhal, para nos contactar, de futuro.
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(*) Último poste da série > 30 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17527: Tabanca Grande (440): Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017), ex-alf mil médico, CCAÇ 675 (Binta e Guidaje, 1964/66), nosso grã-tabanqueiro nº 747... Mais um camarada que não queremos que fique na vala comum do esquecimento
(**) Vd. poste d e29 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17522: (De) Caras (88): O fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, foi gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda, vindo a morrer no HMP, em Lisboa, no dia 16, devido às graves queimaduras. Eu era o comandante da coluna (António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, ex-alf mi inf, CCAÇ 423, São João e Tite, 1963/65)
segunda-feira, 17 de abril de 2017
Guiné 61/74 - P17250: Notas de leitura (947): "Em Tempos de Inocência", por António Pinto da França, Prefácio, 2006 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Fevereiro de 2016:
Queridos amigos,
Foi em Bissau que António Pinto da França desempenhou pela primeira vez o cargo de embaixador.
O seu diário é de alguém que, entre as obrigações prementes de obter um melhor relacionamento entre a Guiné-Bissau e Portugal, vagueia de olhos bem abertos a procurar entender as contradições daquela sociedade onde o peso das velhas hierarquias continuava muito forte, num tempo carregado de esperança por melhores dias, por emprego, melhor ensino e saúde. É igualmente uma escrita pessoal e íntima, como ele anota em dado passo: "Escrever é renunciar ao inútil, ser levemente lógico em meio à impotência do entendimento absoluto da vida. Arruma-se tudo muito bem arrumadinho, faz-se do papel o espelho de nós". É um documento valioso que nos obriga a pensar se a investigação histórica não deverá ter em conta este poderoso olhar de um antropólogo amador.
Um abraço do
Mário
Relendo “Em Tempos de Inocência”, por António Pinto da França
Beja Santos
Há em certos livros um fascínio que desponta, e depois toma conta de nós, quando a sua releitura é feita sem pressas, sem procurar resultados palpáveis como seja ler e fazer recensão. Pinto da França foi o segundo embaixador português da Guiné-Bissau, é o seu primeiro posto como embaixador, vem do Brasil e aqui aporta em 1977, o processo revolucionário guineense já dá sinais evidentes de oxidação e desencanto: "Em Tempos de Inocência", por António Pinto da França, Prefácio, 2006. Há neste diário a paixão de quem possui o dom de ver nos seres humanos e no meio circundante com uma lupa muito própria valores antropológicos e etnológicos. É uma escrita sem azedume, dotada de fina ironia, é um diplomata que se despe do seu fardamento para ver de forma translúcida as pessoas com quem trabalha, o casarão por onde deambula, sombreado e com jardim tropical e é, em simultâneo o homem que se expõe ao espelho, tirando partido da sua intimidade enquanto presenceia e anota os vagidos do nascimento de um país. E dá recorrentemente notícia dos seus estados de alma:
“Para manter uma certa ilusão de que a vida é una, de que eu existo e tenho passado mais futuro, recorro ao trabalho, aos que comigo trabalham, a livros, à escrita, alguns discos, cartas que me chegam de fora e falam de acontecimentos ou de sentimentos relativos, mas enquadrados numa aritmética lógica. Aqui tudo tem uma dimensão diferente. Escrever esclarece. Tenho agora uma vaga perceção da origem da minha dificuldade para explicar aos outros, aos que aqui e neste momento nunca vieram, como é e o que é para mim Bissau”.
Está atento e regista um conflito racial que muitos prendem iludir:
“Muitos guineenses olham os cabo-verdianos como uma classe colonizadora que os despreza e explora e não querem nem ouvir falar em tal união, achando que já lhes basta a predominância de cabo-verdianos nascidos aqui, instalados no Governo e em todos os postos de comando. Eles foram no tempo da colónia a classe intermédia, como na Indonésia os chineses e, politicamente mais preparados, puseram de pé o PAIGC, herdando assim o poder dos portugueses”.
Começou a escrever o seu diário em Junho de 1977 e em Março do ano seguinte volta a socorrer-se da introspeção:
“Gosto cada vez mais de escrever e menos de conversar.
No papel as ideias alinham-se serenas, direitinhas, e as palavras encadeiam-se escolhidas, apropriadas umas às outras. Enquanto se escreve nada nos distrai de nós próprios e descobrimos, de repente, que uma charada nossa, por longo tempo indecifrável, surge no papel resolvida, clara, evidente. A palavra, à conversa, é sempre desde início um duelo. Mais do que chegar a conclusão, importa marcar pontos no jogo do diálogo.
Conversar e primordialmente teatro e teatro é por natureza, ilusão. E para quê perder tempo com ilusões se o tempo nunca chega para a busca da verdade?”.
Aos poucos, vai visitando o país, recebe diplomatas e políticos e retribui as visitas. Não resisti a extrair uma memória da sua visita a Bambadinca:
“Ao entrar na parada abandonada do quartel, daquilo que foi um dos principais centros das Forças Armadas Portuguesas na Guiné, durante a guerra, deparámos com uma multidão que nos acolheu com vivas. Rostos espantados, atentos, curiosos, rodeavam-nos, escutavam os discursos feitos do alto de uma varanda. O discurso, em crioulo, do governador de Bafatá, era traduzido para Fula por um intérprete. No meio da escada, de mão na anca, mais do que recitando, o intérprete cantava, na saborosa língua Fula que a guerra acabou, os portugueses são e foram sempre irmãos, que estão a ajudar muito a Guiné-Bissau, os portugueses nada tinham a ver com o regime que lhes havia movido guerra, etc, etc. No final, muitos vivas a Portugal, ao presidente Eanes, ao Dr. Mário Soares, à amizade de Portugal e da Guiné-Bissau. E não é milagre passar-se tudo isto naquela povoação, quando ainda só quatro anos decorreram desde o fim da guerra, aqui tão a sério, tão cruel?”.
Vai a Lisboa protestar por não lhe terem dado conhecimento da visita de Ramalho Eanes e da planeada cimeira em Bissau com Agostinho Neto. Regressado a Bissau, fala da polícia política do Estado:
“Quando os Homens da Segurança vão prender alguém a casa, segue-se sempre uma confiscação de bens. Pelo que se depreende das apreensões, os objetos considerados prova de corrupção ou violação da lei são assaz variados. Incluem gravadores, pastas de dentes, cigarros, alguma roupa, sabonetes, uísque. Talvez seja uma nova forma de desencorajar o crime ou uma tradição da antiguíssima prática do saque”.
Recorda com humor a chegada das delegações de Portugal e de Angola. Tudo começou com eletricidade no ar, a sinceridade veio depois ao de cima. O ministro português dos Estrangeiros, Vítor Sá Machado, que era angolano e andou no liceu com Costa Andrade, o homem mais duro da delegação angolana, dizia-lhe em tom galhofeiro:
“Deixa-te daqueles discursos marxistas, que eu já te os conheço de cor e salteado!”.
E depois dos almoços, com a língua desatada pelo vinho, recordaram boémias de Lisboa. E impressionava todos o português impecável dos angolanos, brilhante no caso de Agostinho Neto. Sá Machado, que era caçador, exprimiu que queria ir à caça, coisa que era proibida na Guiné. O ministro da Segurança emprestou-lhe uma arma e lá foram, noite adiante, no jipe da embaixada, até às matas nos arredores de Bissau. Avistou-se qualquer coisa a brilhar no mato e o pisteiro de ocasião disse ao ministro:
“São os olhos de um leopardo, atire-lhe depressa”.
Mas não passava de uma fogueira esmorecida, à porta de uma cubata, em torno da qual cavaqueavam alguns indígenas. O ministro ficou muito envergonhado, desistindo de imediato a caçada.
É um fabuloso diário que nos faz duvidar que só há provas históricas nos documentos e afins. Com frequência, Pinto da França fala festivamente da obra que deixou, o Centro Cultural Português, despede-se emocionado por ter sido testemunha dos primeiros passos do novo país em condições tão desastrosas. “Por vezes tive a sensação de assistir a um parto dramático… Vai comigo uma suave recordação do povo guineense, da sua nobreza, da sua afabilidade, da sua hospitalidade, da sua resignação ou sofrimento. Ensinaram-me algumas coisas importantes. Passados estes anos de iniciação, na euforia ad independência, tempos duros e difíceis se desenham no horizonte, toldando as esperanças dos guineenses”.
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Nota do editor
Último poste da série de 14 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17243: Notas de leitura (946): “La Guine Bissau D’Amilcar Cabral à la reconstrution nationale”, por J.-CL. Andréini e M.-L. Lambert, Éditions l’Harmattan, 1978 (2) (Mário Beja Santos)
(i) António Graça de Abreu:
Com o CAOP 1, dei-lhe apoio na pista de Teixeira Pinto, em 1972/73, voei com ele na Guiné, de Bissau para Catió, já em 1974. Era um excepcional piloto e excelente pessoa. Reencontrei-o no ano passado, numa conferência que fiz na Associação da Força Aérea, na Avenida do Aeroporto, Lisboa. Selámos então um último abraço. Descança em paz, meu Amigo.
(ii) Carlos Matos Gomes