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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13821: Memória dos lugares (278): Jugudul, abril de 2006: (i) as instalações do antigo aquartelamento das NT, então cedidas ao empresário Manuel Simões (1941-2014); (ii) a bomba de combustível Galp; e (iii) a destilaria de aguardente de cana de açúcar (Fotos de A. Marques Lopes)











Guiné-Bissau > Região do Oio > Jugudul > Abril de 2006 > Aspetos parciais do antigo aquartelamento de Jugudul, cujas instalações foram adquiridas por (ou cedidas a) o empresário  lusoguinense Manuel Simões (Bolama, 1941- Jugudul, 2014) a seguir à independência (*). Ali instalou a sua casa, uma bomba de combustível (da GALP) e uma destilaria de aguardente de cana de açúcar.

Nos últimos anos de vida (de acordo com o testemunho do Zé Teixeira que esteva na sua casa em 2013), o Manuel Simões acabou por  fechar a destilaria, por não poder concorrer com os preços praticados por uma outra  destilaria, com moderna tecnologia,  que abrira entretantio, nos arredores de Bissau.

Na altura, da viisita da malta do Porto, em abril de 2006,  o Manuel Simões também tinha uma ponta (herdade) onde cultivava caju.

Fotos: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
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1. São imagens do fim de uma época... e  de uma vida de 70 e tal anos vividos na Guiné. Referimo-nos ao Manuel Simões. Sobre ele escreveu, em comentário ao poste P13783, o António Rosinha:

"Essa figura de 'branco africanista' à portuguesa, que Manuel Simões representa, é que foi a estirpe de gente que foi totalmente incompreendida neste rectângulo onde se dizia que Àfrica era para os africanos, para não dizer 'terra dos pretos', como se dizia na realidade. Aliás, Mugabe também pensa assim."



As fotos são do A. Marques Lopes, tiradas no âmbito da viagem "Do Porto a Bissau", realizada em abril de 2006. (**).

Recorde-se, por outro lado, que a um ano e picos do 25 de abril de 1974, a tabanca de Jugudul esteve a "ferro e fogo" (6 mortos, meia centena de moranças destruída), , como recorda aqui o nosso camarada Carlos Fraga (Poste P11417, de 18 de abril de 2013);

(...) "Caro Luís: A tabanca do Jugudul foi destruída no ataque de 23/1/73. Tirei as fotos que te mandei dos restos dessa tabanca. As moranças já estavam construídas, quando lá estive a substituir as que foram destruídas no ataque." (...)

Consultando a história do BCAÇ 4612/72, verifiquei  que o novo reordenamento de Jugudul tinha começado, logo a seguir, em  7 de março de 1973, e que a construção da estrada Jugudul-Bambadinca era um "espinho" cravado na garganta do PAIGC... (LG)
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segunda-feira, 5 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P847: Do Porto a Bissau (25): Ruínas e lembranças de Mansambo (A.Marques Lopes)



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2004 > O Saagum e o António de Almeida (1) , ambos pertencentes à CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69), junto ao único monumento que resta de pé (erigido pela CART 2714, 1970/72 - "Bravos e Leais" - , pertencente ao BART 2917 (1970/1972). Já em 1996, quando o Humberto Reis lá esteve, era o único que restava das unidades de quadrícula ali sediadas... (LG)




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2004 > O pouco que resta do antigo aquartelamento, feito com sangue, suor e lágriams por homens como o Carlos Marques dos santos, o Torcato Mendonça, o Saagum, o António Almeida ou o Ernesto Ribeiro membros da nossa tertúla, que pertenceram, todos eles, à CART 2339 (1968/69), a unidade que construiu aquele aquartelamento.




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2004 > O José Clímaco Saagum, de regresso, à famigerada fonte de Mansambo, quase 40 anos depois (2): aqui foi gravemente ferido, em emboscada montada pelos guerrilheiros do PAIGC, em 19 de Setembro de 1968. O Saagum era soldado do 1º pelotão da CART 2339 (Mansambo, 1968/69). Nas duas fotos acimas, uma granada de morteiro, abandonada, e um aspecto da fonte, que continua a ser utilizada pela população local (LG).


1. Texto do A. Marques Lopes:

Caros camaradas e amigos:

O António Almeida e, sobretudo, o Saagum tinham de ir a Mansambo, [fazer] a catarse necessária. Como sabem, o Saagum sofreu na fonte de Mansambo (a cincoenta metros do quartel!) uma emboscada terrível que o feriu para toda a vida (2). Mais lembranças.

A. Marques Lopes

2. Comentário de L.G.:

Mansambo é dos sítios da Guiné, por onde passámos, que tem mais referências no nosso blogue (3): hoje, fazendo uma pesquisa em Blogue-fora-nada > Serach this blog, encontrei 79 referências a Mansambo!... As fotos que hoje se publiquem não precisamd e gardnes legendas: falam por si ... NO entanto, é preciso contextualizá-las... Obrigado ao A. Marques Lopes por estas "lembranças de Mansambo".

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Notas de L.G.


(1) Vd. post de 12 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCXCIX: Boa viagem para o Almeida e o Saagum (CART 2339)


(2) Vd. post de 12 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXV: Do Porto a Bissau (12): A fonte de Mansambo (Albano Costa)

(3) Vd. entre outros posts mais os seguintes:

14 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCVIII: A emboscada na fonte de Mansambo (19 de Setembro de 1968) (Carlos Marques dos Santos)

9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DIX: As baixas da CART 2339 (Mansambo, 1968/69)

30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDI: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (3): Memórias da CART 2339

terça-feira, 30 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P820: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)

Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado Anastácio Vieira Domingos, nº 688/64, que pertencia à CCAÇ 727. Era muito provavelmente alentejano. A CCAÇ 727 teve como unidade mobilizadora o RI 16, de Évora. A comissão foi de Outubro de 1964 a Agosto de 1966. O Soldado Anastácio não chegou a conhecer a época das chuvas: morreu ao fim de dois meses de Guiné, mais exactamente a 13 de Dezembro de 1964. O seu nome consta do memorial aos mortos das guerras do ultramar, junto à torre de Belém. (LG).



Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o 1º Cabo Augusto Quintã, de 1966, nº ...204/66, que pertencia a uma unidade do Exército [número ilegível] .

Morreu "pela Pátria" a 19 do Outubro de 1967, conforme se pode confirmar pela lista que consta do memorial aos mortos das guerras do ultramar, junto à torre de Belém, em Lisboa. Obrigado ao Jorge Santos, pela ajuda. (LG).


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado [Comando ? ] Ramajó Candé (ou Canté ?) que morreu a 23 de Junho de 1968, conforme se pode confirmar na lista dos nomes dos mortos nas guerras do Ultramar, no memorial junto à torre de Belém (LG).



Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado, de 1966, Manuel da Costa [Sacramento], pertencente a uma unidade do Exército, e que morreu a 16 de Agosto de 1967, conforme se pode confirmar através do memorial erguido aos mortos da guerra do Ultramar, junto à torre de Belém (LG).


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado nº 021208/64, João Gomes, pertencente a uma unidade do Exército, e que morreu a 16 de Junho de 1967, conforme se pode confirmar através do memorial erguido aos mortos da guerra do Ultramar, junto à torre de Belém (LG).

Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado Manuel Rogério L[opes] Torres, pertencente a uma unidade do Exército, e que morreu a 10 de Novembro de 1964, conforme se pode confirmar através do memorial erguido aos mortos da guerra do Ultramar, junto à torre de Belém. Era muito provavelmente do Norte do país: pertencia à CART 566, cuja unidade mobilizadora foi o RAP 2, de Vila Nova de Gaia. A CART 566 esteve na Guiné de Agosto de 1964 a Novembro de 1965. O Soldado Torres também morreu na época seca, ao fim de escassos três meses de Guiné (LG).

Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado Apa Ié, pertencente a uma unidade do Exército, e que morreu a 10 de Agosto de 1968, conforme se pode confirmar através do memorial erguido aos mortos da guerra do Ultramar, junto à torre de Belém (LG).

Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o lendário Capitão Comando João Bacar Jaló, natural da Guiné, morto em combate em 16 de Abril de 1971 (LG).



Guiné > Bissau > 1966 > Cemitério onde ficaram sepultados os primeiros combatentes da guerra colonial. Há placas funerárias de militares de origem metropolitana que vão, pelo menos, até 1968. O estado de abandono do cemitério faz doer oc oração, diz-nos o Marques Lopes, que esteve lá recentemente, em Abril de 2006, com o Xico Allen (LG).

Foto: © Virgínio Briote (2005)


Texto e fotos (excepto a última): © A. Marques Lopes (2006)


1. Estes são os restos mais dolorosos da nossa passagem pela Guiné. Muito mais do que o que resta de abrigos e casernas. São placas de sepulturas no cemitério de Bissau, aquelas em que se pode ainda ler algumas letras ou números. Mais há, mas já nada se pode ler.

Soube, em tempos, que chegou a haver uma comissão encarregada de fazer a trasladação dos corpos lá sepultados. Mas nunca funcionou, segundo sei. É pena, pois eles e as respectivas famílias mereciam. Ali, parece que só a família do Bacar Jaló (1) tem tratado dele.

A. Marques Lopes


2. Comentário de L.G.:

Amigos e camaradas:

Quem se interessa por cemitérios ? Só os góticos, a tribo dos góticos, os nossos putos que se vestem de preto e têm horror à luz do dia...Por uma manhã ou uma tarde do mês de Abril de 2006, não sei ao certo em que dia, o A. Marques Lopes (julgo que acompanhado do Xico Allen) entrou no velho cemitério (colonial) de Bissau e fotografou os restos mais dolorosos do resto do nosso Império: as lápides funerárias, os restos dos soldados portugueses que por lá ficaram, mortos nos primeiros anos de guerra (até pelo menos 1968), "mortos pela Pátria", e que a Pátria nem sequer se deu ao trabalho de os trasladar para as suas terras natais...
Vocês dirão: depois de morto, tanto me faz... Mas espiritual e culturalmente não é assim... Os seres humanos só fazem o luto baseado na evidência da morte... E eu sei do que falo porque tenho parentes e conterrâneos, desaparecidos no mar, cujos corpos nunca deram à costa: e sem o cadáver não se pode fazer o luto, nem os ritos de passagem associados à morte, nem há viuvez nem orfandade...

Pois o Marques Lopes, que é um homem de cultura e de sensibilidade, tentou o insólito e o impossível: fotografar os últimos vestígios (materiais) de uma guerra, as letras e os números de identificação dos tugas (e alguns naturais da Guiné) que morreram e não tiveram uma sepultura condigna no cemitério da sua terra natal...
Em oito fotografias que le me mandou, só duas eram legíveis... Pela minha parte, passei um bom bocado de tempo a recompôr/reconstituir/decifrar o resto (Obrigado ao Jorge Santos, pela sua ajuda, já que me socorri da lista dos mortos da guerra colonial que consta do seu site)...

Julgo não ter perdido o meu tempo: de facto, e como muito bem diz o Marques Lopes, "eles e as respectivas famílias mereciam"... Ficam, pelo menos aqui, registados no nosso blogue os seus nomes, talvez alguém ainda os possa reconhecer, meio século depois, de entre os seus familiares e amigos.
E os seus nomes são (por odem alfabética): Anastácio Vieira Domingos, Apa Ié, Augusto Quintã, João Bacar Jaló, João Gomes, Manuel da Costa [Sacramento], Manuel Rogério Lopes Torres, Ramajó Candé (ou Canté ?)... (L.G.)
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Nota de L.G.

(1) João Bacar Jaló (ou Djaló): Capitão da 1º Companhia de Comandos Africanos, na altura sediada em Fá Mandinga:

vd posts de:

(i) 11 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri (Luís Graça)

(...) "O comandante operacional, esse, era o lendário capitão graduado comando João Bacar Jaló, um torre e espada, ex-alferes de milícia, de etnia fula, que viria a morrer em combate, mais tarde, já depois de Conacri (...). Não creio que tenha trocado com o João Bacar Jaló mais do que meia dúzia de palavras, em português. Mas estou a vê-lo, a entrar na parada do quartel de Bambadinca, ao volante de um burrinho (Unimog 411), à revelia de qualquer Regulamento de Disciplina Militar (RDM), à frente dos seus garbosos comandos, fabricados em série, denotando forte espírito de corpo, moral elevada e não menor fanfarronice.

"Alguns de nós chamávamos-lhes, com um certo desprezo e ironia, os muchachos de Pancho Villa por andarem armados até aos dentes e com fitas de metralhadora a tiracolo, além de gostarem de se fazer anunciar com enervantes rajadas de Kalash para o ar… Nas barbas do comandante do BART 2917 e do seu oficialato" (...).


(ii) 13 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXIV: Estórias cabralianas (6): SEXA o CACO em Missirá

(...) "Recomposto o Caco, olhou-me uma última vez e disse:
-Já vi tudo!

"Ao encaminhar-se para o helicóptero, ainda lhe ouvi comentar para a comitiva:
-Porra, que não é só o Alferes! Estão todos apanhados!

"Deve porém ter ficado impressionado, pois três dias depois voltou. Eu não estava. Tinha ido a Fá, buscar uma garrafa de whisky, prenda mensal do Capitão João Bacar Djaló. Contou-me o Branquinho que quando o informaram da minha ausência, Sua Excelência exclamou:
- Ainda bem!" (...)

segunda-feira, 22 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P781: Do Porto a Bissau (20): Os filhos que lá deixámos (A. Marques Lopes)


Texto de A. Marques Lopes, coronel DFA, na reforma, ex-alferes miliciano na Guiné (1967/68) (CART 1690, Geba, 1967/68; e CCAÇ 3, Barro, 1968)... Visitou recentemente a Guiné-Bissau, num viagem de grupo organizada pelo Xico Allen...


Guiné-Bissau > Barro Guiné-Bissau >
> Jorge Gomes Bigene (à esquerda)
Bigene> Bacar Turé (à direita)
Fotos: © A. Marques Lopes (2006)


Caros camaradas e amigos:

Foram casos que muito me sensibilizaram nesta visita à Guiné. É sabido que há-de haver muitos casos destes (1), mas estes tocaram-me pessoalmente e quero dar notícia disso.

Em Barro, o Bacar Sani, filho do Cacuto Seidi, disse-me que havia um filho de branco (2) chamado Jorge Gomes. Pedi para o ir chamar, mas o rapaz não vinha, vergonha ou receio, não sei. Fui eu pela tabanca dentro à procura dele e lá cheguei á sua morança.

Disse-me que o pai se chamava Fernando Gomes e que lhe tinha dado o nome, mas fora-se embora. Não sabia quem era a mãe, porque ela desaparecera, por vergonha e repúdio dos da sua etnia (não lhe perguntei qual). Também não me soube dizer a qual companhia pertencia o pai, mas penso que terá sido das últimas a estar em Barro, pois que o rapaz tem 33 anos.

Passámos, depois, em Bigene, onde parámos bastante tempo para o turbulento fotógrafo Hugo [Costa] fazer a sua reportagem fotográfica. E aí conheci o Bacar Turé, que me disse ser filho do imediato Varela, médico do Destacamento 21 dos fuzileiros que estavam em Ganturé [no Rio Cacheu, a sul de Bigene], e que o comandante [Alpoím] Galvão conhecia bem o pai dele, que se fora e não lhe dera nome, daí ser Bacar Turé.

Há mais casos semelhantes a estes, é claro, pois é verdade, como disse o António Gedeão, que, como muitos, também eu "Tremi no escuro da selva, /Alambique de suores, /Estendi na areia e na relva, /Mulheres de todas as cores" (in Poema da Malta das Naus) (2). E tive de pensar sobre o que faria eu se soubesse que tinha medrado alguma semente minha em terras da Guiné... mas cada um deve pensar por si, evidentemente.

A. Marques Lopes

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Notas de L.G.

(1) Um outro caso já aqui foi referido, em Guileje: vd. post de 21 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (3): Dauda, o Viegas

" (...) Este menino, na altura com onze, doze meses de idade, era filho da Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa. Tinha o nome de Dauda, mas era tratado por todos nós por Viegas, apelido do pai, capitão que comandara a companhia de Cacine. Ainda hoje, quando revejo as dezenas de fotografias que fiz do garoto, acho que poderíamos anteceder Silva a Viegas" (...).

Vd. também, do Zé Neto, o post de 18 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLVI: Os filhos de branco (Zé Neto)


(2) O Zé Teixeira também nos relatou aqui outros casos, de filhos de brancos que por lá ficaram, melhor ou pior integrados nas comunidades locais de suas mães: vd. post de 16 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXLV: O raio do puto era branco (Zé Teixeira)


(3) António Gedeão > Poema da malta das naus

Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do sol.

Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
Pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.

Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.

Chamusquei o pêo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.

Com a mão direita benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.

Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.

Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.

Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu.

O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.

In Teatro do Mundo, 1958

Fonte: CITI - Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa (com a devida vénia...)

domingo, 21 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P777: Do Porto a Bissau (19): Do Quelélé a Guileje, a obra da AD do Pepito (A. Marques Lopes)

Texto do A. Marques Lopes:

Logo no dia 13 de Abril, os que fomos de jipe fizemos uma visita à AD do Pepito, no Bairro do Quelélé, onde tivemos o gosto de conhecer ao vivo este nosso amigo, que mostrou ser a pessoa maravilhosa e sensacional que já imaginávamos.

Já sabem da nossa participação na Rádio Comunitária Voz do Quelélé, apoiada pela AD. Mas, ali no Quelélé, onde tem a sua sede, esta ONG tem outras iniciativas que me deixaram grandemente espantado, pelo inesperado do seu alcance, pelo inusitado que me pareceram num país sem quase nada.

Com óptimas instalações, a Escola de Artes e Ofícios do Quelélé tem um belo pavilhão com várias salas onde se podem ver dezenas de jovens:

(i) numa delas aprendem informática, em secretárias individuais com computador;

(ii) noutra aprendem as técnicas da electrónica, também em secretárias individuais com aparelhagem própria;

(iii) numa outra as futuras auxiliares de educadora de infância aprendem como participar na educação das crianças guineenses;

(iv) recebem aulas sobre transformação de frutas, gestão dos recursos marinhos, radialismo, de actor de teatro e iluminação de teatro noutra sala...

Explicou-nos o Pepito que muito daquele material, secretárias, computadores e material electrónico, tinha sido oferecido, porque já não usado, por empresas e ministérios portugueses, e com a grande ajuda do Instituto Marquês Valle Flor, uma ONG portuguesa (no dia seguinte, quando fomos esperar ao avião os quatro elementos que se juntaram ao nosso grupo, encontrámos o Pepito e um representante deste Instituto que tinha chegado para ver a AD na zona do Cantanhês).

Foi o que nós vimos, mas todas as iniciativas e acção da AD estão plenamente expressas no seu Relatório de Actividades, já referenciado no blogue.

Convidou-nos o Pepito para irmos ver as instalações da AD na zona do Cantanhês, oferecendo-nos as suas instalações para pernoitar, pois, disse, seriam precisos dois ou três dias. Infelizmente, devido à dificuldade em organizar todas as visitas com um grande grupo, não nos foi possível lá ir.

Mas, quando sozinhos, eu e o Allen decidimos um dia ir a Guileje e ver a sua recuperação histórica, e aqui estão algumas fotografias [mostrando nomeadamente granadas abandonadas pelas NT e que ainda não foram neuralizadas ou detonadasa]. Depois, o dia já ia alto, não deu para ir mais longe e houve que regressar a Bissau.

Abraços

A. Marques Lopes

Fotos: © A. Marques Lopes (2006)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Guiné 63/74 - P442: O Rali Porto-Bissau (1): Jantar em Moreira de Cónegos (Marques Lopes)


Moreira de Cónegos, Guimarães > Janeiro de 2006 > O grupo jantarista e excursionista que vai fazer o Rali Porto-Bissau, no próximo mês de Abril, confraternizando num restaurante nortenho...

© A. Marques Lopes (2006)


Texto do A. Marques Lopes

Camaradas e amigos:

Para saberem quem são estes alegres convivas:

(i) de pé, a contar da esquerda: Franscisco Allen, M. Lopes, Albano Costa, Casimiro e Hugo Costa;

(ii) assentados (nem se conseguiram levantar!), a contar da esquerda - Manuel Costa e Armindo.
Anteontem, 18 de Janeiro, este belo grupo (perdoem a modéstia) juntou-se num jantar num restaurante em Moreira de Cónegos, mesmo pegado ao estádio do valoroso clube Moreirense. Esta iniciativa, do Allen, teve como objectivo juntar os elementos que vão participar no, já anunciado, Rali Porto-Bissau, a fim de afinar alguns aspectos da sua preparação. E os participantes serão: Allen, M. Lopes, Hugo Costa (filho do Albano), Manuel Costa (primo do mesmo Albano) e Armindo.

A data da partida ficou marcada para 5 de Abril às 07H00. A ideia é chegarmos um dia antes dos participantes no Rali por via aérea, que irão a 14 de Abril (ou para podermos estar nessa data em Bissau, no caso de haver algum atraso pelo caminho), e que são:

(i) Carlos Marques dos Santos, de Coimbra,
(ii) Casimiro e Ernesto, do Porto,
(iii) António Almeida e um camarada DFA, o José Clímaco Saagum, soldado do 1.º Pelotão da Cart 2339 ferido, em 19 de Setembro de 1968 (segundo informação do Carlos Marques dos Santos).

O regresso está previsto para todos a 28 de Abril, de avião.

Foi um bonito convívio de ex-combatentes que mostraram ser um grupo coeso, na solidariedade e amor à Guiné, e à volta do pica-miolos que o Armindo encomendou. O Albano, que mostrou ser um sentimentalão, desabafou:
- Apesar de tudo, se não tivesse havido guerra na Guiné não estávamos aqui todos neste convívio... Era bom que a nossa tertúlia se juntasse um dia.

Já devem ter perguntado por aquela pretinha que aparece do lado direito. É a Kombi, uma guineense de 27 anos, que trabalha no Algarve e que decidiu vir visitar o Porto. Como é conhecida do Manuel Costa, este convidou-a para ir ao pica-miolos também.

No futuro haverá certamente mais notícias.

A. Marques Lopes