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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26433: Fichas de unidade (38): BCAÇ 507 (Bula, 1963/65)



Batalhão de Caçadores nº 507

Identificação: BCaç 507

Unidade Mob: RI 2 - Abrantes

Cmdt: TCor Inf Hélio Augusto Esteves Felgas

2.° Cmdt: Maj Inf João Luís Freire de Almeida | Maj Inf José António Monteiro de Oliveira Leite

OInfOp/Adj: Cap Inf Carlos Elmano Rocha

Cmdt CCS: Cap Inf Agostinho da Costa Alcobia

Divisa: -

Partida: Embarque em 14Ju163; desembarque em 20Jul63 | Regresso: Embarque em 29Abr65

Síntese da Actividade Operacional

Foi constituído e organizado a partir do BCaç 239, do qual transitaram os elementos de recompletamento. Era apenas composto de Comando e CCS, não
dispondo de subunidades operacionais orgânicas.

Em 20Ju163, sucedendo ao BCaç 239, assumiu a responsabilidade da zona NO e N da Guiné, designada por Sector B, após a remodelação do dispositivo de 2Ag063, desde a costa atlântica à linha Cuntima-Porto Gole e até aos rios Mansoa e Geba, com a sede em Bula e integrando as companhias estacionadas em Teixeira Pinto, Mansoa, S.Domingos e Farim e os pelotões de reforço, cujos efectivos se encontravam disseminados por várias localidades. 

Com a chegada de novas companhias, foram, sucessivamente, criados os subsectores de Mansabá e Ingoré, em 28Jul63 e Bissorã, em lAg063.

Em 1Set63, por entrada em sector do BCaç 512, a zona de acção foi reduzida dos subsectores de Mansoa, Farim, Mansabá e Bissorã, sendo, entretanto,
criados, em 8Mai64, mais o subsector de Binar e, em 02Mar65, ainda o de Có.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, de reconhecimento,
batidas e emboscadas, com o objectivo de desarticular e limitar as acções do inimigo e barrar o alastramento da subversão para Oeste e garantir a segurança e protecção das populações, quer actuando sobre as bases de refúgio, quer sobre as linhas de infiltração do inimigo.

Pelos resultados obtidos em armamento e material capturado, destacam-se
as operações "Fisga" e "Beja", entre outras.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 
  • 2 metralhadoras ligeiras, 
  • 5 pistolas-metralhadora,
  • 8 espingardas,
  • 3 minas
  • 2832 munições de armas ligeiras.

Em 28Abr65, foi rendido no sector de Bula, então já designado por Sector
01, desde 11Jan65, pelo BCav 790 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de
efectuar o embarque de regresso.

Observações -  Não tem História da Unidade.

Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 49/50.
_______

Nota do editor:

Último poste da série > 20 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26404: Fichas de unidade (37): BCAÇ 599 (Tite, 1963/65)

Guiné 61/74 - P26430: O segredo de... (49): António Medina (1939-2025) - Parte V: Comentários (2014): (I) Vasco Pires / Luís Graça / Manuel Carvalho / António Graça de Abreu / Joaquim Luís Fernandes / Júlio Costa Abreu / Manuel Luís Lomba / António Rosinha / António Medina / César Dias / Carlos Pinheiro / João Lemos



Guiné > Região do Cacheu > Zona Oeste > Sector 01 (Teixeira Pinto) > Jolmete > "Eu com o Dandi Djassi, futuro capitão de milícia, em pose para a foto".

Foto de Manuel Resende.  ex-alf mil, CCaç 2585/BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71.

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2012). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Major General Hélio Esteves Felgas (1920-2008): duas comissões na Guiné  (Bula, 1963/64; Mansoa, Tite, Bafatá, 1968/69); um dos militares portugueses da sua geração mais condecorados, autor de dezenas de livros e artigos sobre a "luta contra o terrorismo", a guerra ultramarina... Comparou a Guiné ao Vietname. Também considerava que a solução para a Guiné não era militar mas política... Foi, todavia, um crítico de Spínola que lhe terá roubado, entretanto, a ideia dos reordenamentos (aldeias estratégicas) (1). Um oficial intelectualmente brilhante mas controverso, dizem alguns dos seus pares, mais novos. (Foto gentilmente cedida ao nosso blogue pela filha, Dra. Helena Felgas, advogada, que era amiga do prof Jorge Cabral.)
 


1. Na altura, a "partilha do segredo" do António Medina (1939-2025) (*) provocou diversos comentários (**) que merecem ser aqui revistos, incluindo a resposta do autor (que infelizmente acaba de nos deixar no início deste ano). Também o Vasco Paris (1948.2016), camarada da diáspora lusófona já não está entre nós (morreu no Brasil).

Outro camarada da diáspora lusófona é o Júlio Costa Abreu, é contemporâneo dos acontecimentos tal como o Manuel Luís Lomba. Camnaradas de épocas diferentes, mas que conheceram o "chão manjaco": Manuel Carvalho, António Graça de Abreu, Joaquim Luís Fernandes e João Lemos, além do António Medina.


(i) Vasco Pires (1948-2016) (ex-alf mil. cmdt, 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72),

"War is hell,"

"You cannot qualify war in harsher terms than I will. War is cruelty, and you cannot refine it; and those who brought war into our country deserve all the curses and maledictions a people can pour out. I know I had no hand in making this war, and I know I will make more sacrifices to-day than any of you to secure peace."


General William Tecumseh Sherman

Parabéns, Camarada, por conseguires exorcizar os teus "fantasmas".

terça-feira, 24 de junho de 2014 às 20:25:00 WEST 

 PS -  (...) Fiz a citação do major-general Sherman, por se tratar de um militar da terra de adoção do camarada Medina.

Citei-o também, por ser o autor da célebre frase "War is hell", repetida até hoje à exaustão.

Transcrevi a frase seguinte, por ter sido feita, por um militar considerado intransigente, num momento de decisão particularmente difícil - a evacuação e incêndio de Atlanta.

Quanto a juízos de valor,nada tenho contra quem os faz, contudo, eu tento não os fazer. (...)


(ii) Luís Graça, editor

Nunca é demais recordar uma das regras básicas do nosso blogue, sem a qual não pode haver "partlha de memórias e de afetos":

(...) "recusa da responsabilidade coletiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro" (...)


(iii) Manuel Carvalho Manuel Carvalho (ex-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete e Quinhamel, 1968/70)


 
(...) Cerca de quatro anos depois junho de 68 a minha companhia 2366 chegou a Jolmete e aí permanecemos cerca de um ano. O Blog tem fotos minhas desse mesmo barracão que era o edifício com mais qualidade que existia em Jolmete.A pouca população que havia tinha sido recuperada no mato. O régulo atual de Jolmete julgo que é o Cajan Seidi. Por acaso não te lembras do nome desse régulo? (...)


(iv)  António Graça de Abreu ( ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74):

Diz o António Medina:

"Não se trata de nenhuma minha criatividade ou ficção, mas sim a descrição verdadeira de factos sucedidos, contados a mim na altura por quem foi testemunha e participante de uma acção bastante degradante e vergonhosa."

Portanto o António Medina não assistiu aos "fuzilamentos", ouviu contar.

Não digo que não possam ter acontecido, todas as guerras são sujas, tudo é possível, até o assassínio de três majores e um alferes, mais dois guias, gente do meu CAOP 1, em 1970, militares desarmados que iam em negociações de paz, exactamente na estrada do Pelundo para o Jolmete.

Estive sete meses em Teixeira Pinto, em 1972/73, estive no Jolmete em 1972, jamais ouvi esta história. Eu sei que já haviam passado oito anos, mas "fuzilamentos" deste tipo costumam deixar lastro na memória das gentes.

Gostava que estes "fuzilamentos" fossem confirmados por mais pessoas que se possam pronunciar com verdade, com factos, não de ouvir contar. (...)
 

(v) Joaquim Luís Fernandes (ex- alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973, e Depósito de Adidos, Brá, 1974):
 
(...) Eu sou um sentimentalão! E se calhar muito ingénuo.

Ao ler esta narrativa sentia uns arrepios e um desgosto profundo e interrogava-me: Como terá sido possível tão medonho ato por parte de um corpo do exército português, formado e enquadrado por valores éticos,que condenariam em absoluto tal procedimento? Ou havia nesse tempo outra doutrina que eu desconheço?
E porque duvidar da verosimilhança da descrição do camarada António Medina?...

Tudo isto mexe comigo. Porque vivi aí os meus primeiros medos e pisei esse chão incerto e instável,sou remetido para as questões que tantas vezes coloquei a mim próprio: Porquê a antipatia que via espelhada nos rostos dos manjacos e a sua desconfiança e má vontade?

Teria a ver com a memória desses factos, ou eram memórias bem mais antigas, do tempo de Teixeira Pinto ou ainda mais antigas do tempo dos escravos do Cacheu?

Em 1973, em Teixeira Pinto, coabitávamos em paz aparente com a população local,(velhos, mulheres alguns jovens adolescentes e crianças) mas sentia que eramos "personas non gratas". Toleravam-nos enquanto os serviamos Diziam-me os meu soldados: "Eles fazem de nós seus criados".

Também ainda não consegui encaixar bem toda a tramoia dos assassinatos dos três majores, do alferes e dos acompanhantes, em 1970. Apesar de tudo o que li, ficaram-me vários hiatos sem explicação. Agora fico com mais esta dúvida: Será que um acontecimento não tem nada a ver com o outro? A minha intuição diz-me que sim. Pelo menos o local escolhido foi o mesmo. Porquê?... Esta história tem muito por contar! (...)


(vi) Júlio Costa Abreu (ex-1º cabo 'cmd', Grupo Centuriões, Cmds do CTIG, Brá, 1964/66)

(...) Ser ou não ser , e questão ter ou ter razão.

E de quem foi na culpa de terem fuzilado em Banbandinca depois do 25 de Abril tantos soldados Comandos, como por exemplo o Jamanca e muitos outros, ou será que depois de eles terem confiado nos novos donos da Guiné foi a paga que lhes deram? 

Isso também motivo para serem assassinados ?  E guerra realmente nunca foi limpa mas isso e normal.

Julio Abreu (
Crupo de Comandos Centurioes, ex-Guiné Portuguesa)


(vii) Manuel Luís Lomba (ex-fur mil cav, CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66):

(...) Terei sido contemporâneo destas circunstância.Chegamos a Bissau (BCav 705) em 26/7/64 e a minha subunidade (CCav 703) foi de intervenção para Bula em Agosto, fez o seu baptismo de fogo em Naga e durante 20 dias reforçou a atividade operacional o BCaç 507, comandado pelo então tenente-coronel Hélio Felgas - que alinhava no mato.

Sem pretender sindicar a memória do camarada António Medina, acho algo de estranho. Aquele comandante exortava-nos à implacabilidade em relação à gente que nos recebesse à bala ou granada, mas incitava-nos ao cuidado de poupar populações. Enfatizava o dilema das mesmas - colocados entre a tropa e os "terroristas". 

Havia bastantes presos, junto à casa da guarda que recebiam o rancho geral e não me apercebi de maus tratos. Isto dois meses após esses eventuais factos. Cercar tabancas e fazer capturas foi o nosso dia a dia nosso de cada dia operacional. 

Aconteceram atos lamentáveis? Com certeza. Mas o fuzilamento dos capturados diferido dois meses suscita melhores provas. Luís Cabral não refere esse evento no seu livro "Crónica da Libertação". E aquele foi o tempo da prisão de importantes paigcistas, como Rafael Barbosa, Fernando Fortes, sem esquecer os que vieram a conspirar e assassinar Amílcar Cabral que não foram eliminados. (...)


(viii) António Rosinha (ex-fur mil, Angola 1961/62, e topógrafoda TECNIL, Guiné-Bissau, 1987/93)

(...) Todos os crimes e fuzilamentos e atrocidades cometidos pelos tugas estão adaptados ao discurso anticolonial conveniente às autoridades revolucionárias que tomaram conta do poder em toda a África.

Isto desde o início da guerra em 1961, sempre se acreditou em tudo o que vinha de Argel, Moscovo e Brazaville e Conacry.

Desde os números arredondados tipo os 50 mártires do Pidjiquiti até aos milhares de turras da UPA lançados ao mar, pelos luxuosos PV2 da FAP, tudo está "provado" e "comprovado".

Só falta descobrir o segredo das valas comuns e da contagem dos respectivos cadáveres. (...)

quinta-feira, 26 de junho de 2014 às 13:51:00 WEST 
 
(ix) António Medina (1939-2025) (ex-fur mil,
OE, CART 527 /  (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65).

 (...) 
Acabo de tomar conhecimento de comentários feitos por alguns camaradas, mostrando certa relutância em aceitar a narrativa dos factos acontecidos na área de Jolmete. Cada um tem o direito de aceitar ou discordar e até pedir provas mais concretas desde que estejam disponíveis.

Segundo a teoria aplicada pelo comandante do Batalhão de Bula , ver comentaário do camarada Manuel Lomba porque assim reza o seu segundo parágrafo:

” Aquele comandante exortava àimplacabilidade em relação às gentes que nos recebessem à bala  ou granada mas incitava-nos ao cuidado de poupar populações" ,

Ora, o que foi feito em Jolmete ?

Pouparam, sim, a vida das mulheres e crianças. Mas sem condescendência, como vingança, exterminaram os homens da tabanca,considerando o facto que talvez fossem coniventes com os autores da tal emboscada ou assim evitar o perigo de virem a pegar em armas. Foi uma ação bastante secreta como é obvio.

Se enquadra ou não na teoria operacional daquele comandante  ?

Sabemos que casos semelhantes aconteceram não só na Guiné mas também em Angola e Moçambique, em grupos ou a nível individual.

O camarada Manuel Carvalho se refere ter estado em Jolmete em 1968, quatro anos depois , assim como que a pouca população que havia em Jolmete tinha sido recuperada no mato. isto vai ou não ao encontro do que escrevi, da fuga da população que restou e se refugiou no mato?

Estava eu em Bissau como empregado do BNU quando em 1970 se deu o caso dos três majores, um alferes e outros na estrada de Jolmete. Não obstante fossem militares e em guerra, o caso consternou os civis da cidade de Bissau. Teria sido vingança do PAIGC sobre a tropa colonial ?  (...)
 

(x) César Dias, ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)

(...) Camaradas, não tenho dificuldade nenhuma em considerar veridica a narrativa do António Medina, já era diferente se estes episódios se tivessem passado durante a era de Spinula, tanto quanto me apercebi não era possivel uma situação destas, com ou sem PIDE. (...)
 
segunda-feira, 30 de junho de 2014 às 13:06:00 WEST 


(xi) Carlos Pinheiro (ex-1.º cabo trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, Bissau, 1968/70):

(...) Fiz a minha comissão na Guiné de outubro de 68 a novembro de 70. Desembarquei cá no dia da Operação Mar Verde.

 Ao longo daqueles 25 meses tive conhecimento de tanta coisa mas, como respondi ao inquérito, dessas cenas macabras nunca ouvi falar com consistência. Estava lá quando os 3 Majores e o Alferes foram selvaticamente assassinados nessa zona de Jolmete. Um horror. 

Mas estava lá também quando foi a evacuação de Madina de Boé quando morreram aquelas dezenas de militares na jangada que se virou. Mas uma coisa conclui hoje. O comandante de Bula falado no poste foi o mesmo que coordenou o abandono de Madina de Boé. E no ano seguinte levou uma Torre e Espada ao peito no Terreiro de Paço. Coincidências? Não sei. (...)


(xii) João Lemos  (ex-alf mil sapador, CCS/BART 6521/72, Pelundo, 1972/74)


(...) Pertenci à CCS do BART 6521/72, onde era alferes miliciano sapador. Estive no Pelundo desde 1972 até à entrega deste quartel, tal como os de Có e o de Jolmete, ao PAIGC, em 1974. Em Jolmete estava a 3ª Companhia do BART 6521/72. 

Fui muitas vezes a Jolmete, pois comandei muitas vezes as escoltas entre Jolmete e João Landim. Passei muitas vezes na “2ª bolanha”, onde foram assassinados os Majores, o Alferes e os dois guias negros em 1970.

 Cheguei portanto a esta zona 8 anos depois dos factos narrados pelo camarada António Medina. Convivi muito com Dandi Djassi que veio a ser fuzilado, tal como o “Sete”, pelo PAIGC, depois da saída das tropas portuguesas da Guiné Bissau. 

Dandi Djassi era de Jolmete, mas vivia no Pelundo, onde, juntamente com as milícias desta localidade, combatia o PAIGC ao lado das tropas portuguesas. 

Nunca ouvi falar dos factos narrados pelo camarada António Medina, mas, tal como diz o comentário anterior do camarada Cesar Dias, "não tenho dificuldade nenhuma em considerar verídica a narrativa do António Medina, já era diferente se estes episódios se tivessem passado durante a era de Spínola, tanto quanto me apercebi não era possível uma situação destas, com ou sem PIDE”. (...)

(Revisão / fixação de texto: LG)

___________

Notas do editor:

(**) Vd,. poste de 5 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18988: Blogues da nossa blogosfera (103): "Memórias de Jolmete", de Manuel Resende: Cajan Seidi, o atual régulo de Jolmete, neto de Cambanque Seidi, o régulo de Jol que, em 1964, foi uma das cerca de 20 vítimas de represálias das NT (Manuel Resende / Eduardo Moutinho Santos)

sábado, 25 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26425: O segredo de... (46): António Medina (1939-2025) - Parte II: em 24 de junho de 1964, a CART 527 sofreu uma emboscada no regresso a Jolmete...Como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte pelo comando do BCAÇ 507, sediado em Bula, e executados pelas NT, dois meses depois


Guiné > Região do Cacheu >  Carta de Pelundo (1953) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Jolmete e Ponta Nhaga, na margem esquerda do rio Cacheu. Pelundo ficava a sudoeste de Teixcira Pinto. E Bula a leste.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


 
O António Medina
na mata da Caboiana (c. 1964)

O António Medina (1939-2025) nasceu na ilha de  Santo Antão, Cabo Verde.

Foi fur mil inf, OE, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65).

Trabalhou no BNU em Bissau (até à independência) e  depois em Lisboa.

Emigrou para os EUA em 1980. 

Morreu no princípio de 2025 em Medford, Massachusetts (onde vivia), aos 85 anos.






Guiné > Zona Oeste > CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65) > s/l > s/d > O fur mil OE António Medina e a sua secção.



Guiné > Região do Cacheu > Zoan Oeste > Pelundo > O António Medina, em primeiro plano, com miúdos e adolescentes da tabanca... Atrás,  instalações do quartel protegidas por bidões com areia.

Fotos (e legendas): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



António Medina,2016

Região do Cacheu > Setor Oeste > Teixeira Pinto, Pelundo, Jolmete, Ponta Nhaga >  24 de junho de  1964, emboscada  do IN e suas consequências

por António Medina (1939-2025)
 

I. Já lá vão precisamente cinquenta anos que carrego um facto bastante sombrio e macabro que a minha memória, vencendo o tempo e as mazelas deixadas em mim pela doença do Parkinson, conseguiu preservar no silêncio até hoje, pela maneira desumana e cruel que um julgamento sumário foi executado, ditado pelo Comando do Batalhão de Caçadores 507, de Bula [sendo na altura seu comandante o tenente coronel Hélio Felgas].

Não se trata de nenhuma minha criatividade ou ficção, mas sim a descrição verdadeira de factos sucedidos, contados a mim na altura por quem foi testemunha e participante de uma ação bastante degradante e vergonhosa, devidamente escondida e “abafada” pelos militares e a PIDE, porque das vítimas nada reza.

Por questão da minha própria ética procurarei evitar denunciar aqueles responsáveis que estiveram diretamente envolvidos em tal processo.

Desejo também esclarecer neste caso especifico que, como furriel operacional,  fui um dos indicados a participar com a minha secção no cerco à  tabanca de Jolmete que a seguir mencionarei, na captura de elementos considerados subversivos e na escolta dos mesmos para Teixeira Pinto onde ficaram sob a nossa guarda dentro daquele perímetro militar. 

Quando “Sargento Dia” em escala como qualquer um outro, assisti o corpo da guarda na distribuição de água e sobras do rancho para o sustento dos mesmos.


II. Por determinação do Comando de Bula, assiduamente as tabancas de Ponta Nhaga e de Jolmete eram visitadas pelas nossas forças, dentro do espírito do programa de reconhecimentos como retenção a possíveis infiltrações inimigas.

Sentiamo-nos confiantes e familiarizados,  mais com os residentes de Jolmete, pela simpatia e maneiras com que éramos distinguidos, muitas vezes dando-nos as boas vindas, exibindo as suas danças e cantares na cadência de um bater de palmas e pés no chão, ao som de um batuque não ensurdecedor, pelo contrário harmonioso no qual um ou outro soldado por graça se juntava.

No clima amistoso que se vivia, [a gente] se estendia no chão de papo para o ar em qualquer sombra, as cartucheiras debaixo da cabeça para melhor conforto e a arma ao lado, conversa amena entre soldado e nativo, negociando particularmente um frango para um delicioso churrasco no regresso ao quartel, um ou outro apreciando em silêncio as curvas de uma bajuda de “mama firmada” que bem parecia mais ter sido talhada a canivete, comportamento que fugia às regras e normas de segurança exigidas pelo status da guerra e que bem poderiam custar a nossa própria vida, o que estávamos ignorando.

A pedido do sargento encarregado do rancho e sob a discrição e consentimento do régulo que fixava os preços, quantas vezes se comprou frangos, ovos, cabritos e bananas que tivessem disponíveis, oferecendo-nos o gostoso e fresco vinho de palma (seiva da palmeira) sem todavia pressioná-los. 

Como “labaremos” (agradecimento),  se distribuía garrafões e latas vazias e algum arroz que o inventário do vagomestre classificava como sobra na existência do fim de cada mês.

A nível de pelotão, repetitivamente e em roulement,  lá íamos em coluna auto pela estrada de terra batida totalmente despreocupados, sem qualquer referência a minas ou outras armadilhas porque delas ainda nada ou pouco se falava, de Teixeira Pinto, passando por Pelundo,  seguindo em direção de Ponta Nhaga, depois regressar a Teixeira Pinto passando por Jolmete,  e vice-versa na semana seguinte.

Quando menos se esperava, no dia de S. João, 24 de junho de 1964, à tardinha durante o nosso regresso de Jolmete para Teixeira Pinto,  fomos surpreendidos e emboscados por um grupo armado a cerca de quatro quilómetros da tabanca, causando-nos algumas baixas com certa gravidade.

De madrugada chovia a potes, encharcados mas agora conscientes da presença inimiga, cautelosos e com medo, reforçados,  regressámos a Jolmete, com um percurso a fazer a pé depois de Pelundo, para que o factor surpresa nos beneficiasse na operação sob o comando do capitão de Teixeira  Pinto.

 As instruções eram taxativas para se prender todos os homens,  inclusive o régulo, deixando apenas mulheres e crianças. Que fossem transportados para Teixeira Pinto onde ficariam sob a nossa custódia até novas instruções. Assim tudo foi feito em cumprimento, sem qualquer resistência .

Conhecíamos o neto do régulo de Jolmete,  de nome Celestino, rapaz de cerca de 22 anos de idade, simpático, vestido e calçado, expressando-se bem em português, com o segundo ano dos liceus já feitos no Honório Barreto em Bissau onde dava continuidade aos seus estudos. Sempre que chegava a Teixeira Pinto era ele hóspede da nossa messe para uma refeição e bate-papo connosco,  furriéis. Acontece que naquela manhã o Celestino estava na Tabanca do avô e também foi preso.

III. Levados para Teixeira Pinto ficaram fechados no edifício do celeiro que se situava dentro da área do quartel, cedido pelo Administrador do Concelho, numa estadia de quase dois meses sob nossa guarda.  

Pelos resultados colhidos nos interrogatórios  se constatou que o grupo armado planeava atacar na nossa hora de ociosidade, com receio de alguma represália da tropa a posteriori, o régulo e o neto felizmente convenceram-lhes que alterassem seus planos para uma acção fora da tabanca, o que de nada serviu mais tarde como atenuante para lhes poupar a vida.

Entretanto o Comando de Bula [BCAÇ 507] ditou-lhes a pena capital,  para que todos fossem fuzilados em local secreto, com exceção do Celestino que continuaria preso em Teixeira Pinto. Que fossem transportados pela estrada de Jolmete em dia a indicar onde estaria tudo já preparado pelos participantes de Bula.

Eram eles cerca de vinte homens, o régulo de Jolmete já homem velho, de barbas e cabelos brancos, fraco pela má alimentação, outros mais novos, todos sendo transportados em GMC  sob escolta do segundo pelotão [da CART 527].

 No local indicado já os esperava um dos capitães de Bula, com uma vala aberta por uma escavadora e um outro pelotão alinhado à distância, olhando de frente para a vala, de costas para a estrada. 

O pelotão da CART 527 cuidou apenas da segurança da área para que o trabalho fosse ultimado sem qualquer interferência do inimigo.

De mãos atadas, os prisioneiros foram alinhados de costas para a vala. O capitão de Bula ali estava como oficial mandante da ordem. Através de um intérprete explicava a razão daquele procedimento, quando um dos presos consegue se soltar e fugir em direcção à mata. 

Nesse interim de confusão o pelotão disparou precipitadamente sem ter recebido ordem de fogo, restando corpos sem vida caídos na vala, à podridão, sem direito sequer a um choro, à dança das mulheres grandes ou a um toque de bombolom.

A vala comum foi fechada e armadilhada com minas anti-pessoal plantadas por sapadores de Bula. No dia seguinte essa acção da tropa colonial foi revelada pelos órgãos do PAIGC .

O Celestino continuou preso em Teixeira Pinto até que um dia a sua pena também capital não tardasse a chegar. 

Um furriel seria indicado para executar a sentença, que para nós era bastante pesaroso e em nada dignificante, dado o relacionamento e bom trato que mantínhamos com ele até se retratar como informador, para depois ser prisioneiro de guerra sem qualquer possibilidade de defesa.

Desta maneira, logo se soube da execução a ser cumprida, naquela tarde os furriéis saíram quanto mais cedo do quartel procurando uma forma de evitar participar no fuzilamento.

 Eu, como exemplo, decidi sem que ninguém desse conta visitar um senhor cabo-verdiano empregado comercial de uma casa libanesa, pai de uma linda morena a quem ia eu fazendo olhos bonitos para um possível namoro “caliente”. Me permitiu aquele senhor,  meu patrício, arrastar um pouco mais a minha visita naquela noite, sem todavia lhe dar a entender do que se estava passando. 

O facto foi consumado por um colega furriel miliciano e sua secção nas imediações do pequeno aeródromo de Teixeira Pinto

Viveu-se alguns dias em clima de pesar e tristeza no quartel, evidenciado pelos soldados nativos (eram eles distribuídos pelos pelotões e tinha eu três deles na secção) que praticamente se afastaram das outras praças. 

No dia seguinte da execução fui instruído para fazer uma patrulha de reconhecimento com o meu grupo em determinada área, notei que no momento de um pequeno descanso que achei por bem todos fizéssemos, os três militares se afastaram do grupo e se sentaram, de armas na mão como todos nós. 

Tive certa apreensão no momento o que me levou a aproximar e ficar junto deles em conforto, sem todavia ter havido nenhuma conversa, pelo contrário um silêncio absoluto de quem se sentia bastante magoado e triste. Felizmente nada aconteceu talvez pela disciplina, tratamento amigo e igual para todos que sempre implementei.

Regressámos algum tempo depois à tabanca de Jolmete e constatámos que tinha sido destruída, suas palhotas queimadas não pela tropa, abandonada pelos sobreviventes que se puseram em debandada para local desconhecido.

Acreditámos nessa altura que tivessem procurado lugar que para eles fosse mais seguro, em apoio também ao PAIGC por jamais merecermos sua confiança.

Uma vasta área foi limpa do capim, árvores e arbustos para que fosse construído para a nossa defesa e logística um verdadeiro ”fortim” com troncos de cibos, chapas de bidões e zinco, terra batida, conforme as fotos em anexo.

António Medina, 
Medford, Massachusetts, USA,  junho de 2014

(Revisão / fixação de texto, negritos, parênteses retos: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26424: O segredo de... (45): António Medina (1939-2025) - Parte I: "Uma história de terror que me atormentou toda a vida (Jolmete, junho / setembro de 1964)

Guiné 61/74 - P26424: O segredo de... (45): António Medina (1939-2025) - Parte I: "Uma história de terror que me atormentou toda a vida (Jolmete, junho / setembro de 1964)"


  
Guiné  > Região do Cacheu > Jolmete > CART 527 (1963/65) > Aspeto da vida no aquartelamento.   O António Medina, à esquerda


Foto (e loegenda): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




António Mediba, 2016
1. Mensagem, de  
 23 de Junho de 2014, às 22:52, enviada pelo nosso saudoso camarada da diáspora António Medina (1939-2025) (*) , e que voltamos a republicar (em quatro postes, a última com com os comentários dos nossos leitores) (**).


Recorde.se:

(i) o António Medina era natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde,

(ii) foi fur mil inf, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65):

(iii) trabalhou depois BNU em Bissau (***) e em Lisboa;

(iv) passou a viver nos EUA desde 1980, em Medford, Massachusetts (onde morreu há dias) (*)


Olá,  camarada e amigo Luís:

Há muito não te contactei porque procurei ultimar este trabalho que vivia em letargia nas minhas memórias, precisamente para coincidir com o aniversário deste acontecimento que na altura me desapontou imenso, sem todavia nada poder fazer.

Antes de se tomar qualquer iniciativa,  gostaria que atentamente lesses o seu conteúdo e me desses a tua opinião se pode ou não ser publicado no blogue. Considerei este caso como uma forma de terror que se pode juntar a muitos mais e infelizmente praticados pelo nosso exército em todas as frentes de luta.

Aguardarei ouvir a tua opinião quando puderes.

Um abraço
Medina


2. Resposta de L.G. na mesma data (23/6/2014):

António:

Não há, não houve, nem nunca haverá guerras "limpas". No caso da guerra que nos coube em sorte, é minha opinião que nem nós nem o PAIGC fomos "meninos de coro".

Na mesma altura, ou antes, em que se passam os acontecimentos que tu relatas (em Jolmete, na região do Cacheu, entre junho e setembro de 1964), o PAIGC fazia o seu 1º congresso em Cassacá, no sul, na região de Tombali, e "limpava" a casa, com julgamentos revolucionários e execuções sumárias que tiveram o OK de Amílcar Cabral...

Mas uma mão não limpa a outra, nem um partido dito revolucionário como o PAIGC podia servir de bitola para "avalizar" o comportamento dos militares de um exército regular, de um país ocidental como o nosso.

Usámos a arma do terror, tal como o PAIGC usou. Infelizmente, vou sabendo, aqui e acolá, em conversas "off record", com outros camaradas do teu tempo, de mais casos, pontuais é certo, de execuções sumárias, praticadas nessa época, noutros sítios (por ex., no setor de Bambadinca, zona leste onde estive)... Não sabemos qual a extensão dessas práticas, espero que tenham sido meros casos isolados. Também não adianta "sacar" culpas para o exército, ou reparti-las com a PIDE e/ou a administração colonial...

No mínimo, e não havendo tribunais de guerra, estas decisões deviam ter o OK (tácito ou explícito ) de Bissau, e no caso concreto que relatas, do brig Arnaldo Schulz (ministro do interior de Salazar, entre 1958 e 1961, promovido a brigadeiro em 1963, ainda em Angola, e nomeado depois governador e comandante-chefe no TO da Guiné, em maio de 1964; chegou a Bissau a 24 de maio de 1964).

Eu fiz a guerra, de junho de 1969 a março de 1971, no tempo de Spínola e da chamada política da "Guiné Melhor"... Não participei nem tive conhecimentos de casos como o que relatas. Mas no meu tempo, os meus soldados africanos da CCAÇ 12, os mais velhos (com o pobre do Abibo Jau, mais tarde fuzilado pelo PAIGC) contaram-me algumas histórias macabras, da responsabilidade da polícia administrativa de Bambadinca.

Por outro, Samba Silate é um exemplo triste de uma tabanca balanta reduzida a cinzas.... E um padre italiano, da missão de Samba Silate, Antonio Grillo, foi preso pela PIDE em 23/2/1963, acusado de atividades subversivas... Já escrevemos sobre isso, aqui no blogue... 

A "guerra subversiva" e "contrassubversiva", nesta época (1959/64), ainda está muito mal documentada....

Um dos princípios fundamentais do nosso blogue é a nossa obrigação de relatar factos e episódios por nós vividos ou do nosso conhecimento direto, procurando dizer a verdade e só a verdade, e recusando fazer juízos de valor...

O teu testemunho é assertivo, pormenorizado, ponderado, equilibrado e, parece-me, isento e responsável, ditado também por um imperativo de consciência de um homem cristão e português, como tu.

Em dez anos de blogue é a primeira vez, em 2014, que um camarada nosso tem a coragem de, publicamente, assinar um relato desses, com execuções sumárias de suspeitos de colaborar com o IN.

Da minha parte, suspeito que este tipo de ações não chegava a constar dos nossos relatórios militares, sendo portanto altamente improvável que um dia os investigadores tenham acesso a estes factos no Arquivo Histórico Militar, por exemplo.

Tens o meu OK, para publicar o teu testemunho, e gostaria que fosse já, 50 anos depois. É uma efeméride trágica. Tens o cuidado de não identificar nenhum camarada, e esse é um dos nossos princípios. Não somos juízes nem queremos julgar ninguém. Esses factos também fazem parte da nossa memória (dolorosa) da guerra na Guiné.

Dou-te os parabéns pela tua decisão de contar este "segredo". É também uma afirmação contra o medo de seres julgado pelos teus pares. Espero que apareçam mais versões destes acontecimentos. As tuas melhoras, se possível.

Um abraço fraterno. Luís Graça


O António Medina na mata da Caboiana
(c. 1964)

3. R
esposta do António Medina, na "volta do correio" (24/6/2014):


 Obrigado,  Luís,  pela tua apreciação ao meu testemunho que resolvi trazer à tona do que realmente aconteceu há cinquenta anos. Vamos então publicá-lo quanto antes como dizes e conto com a tua colaboração nesse sentido.

 Gostaria de o realçar talvez com algumas fotos minhas de Jolmete que certamente aí tens, assim mesmo vou tentar reenviá-las de imediato para que não se perca mais tempo. Logo após a publicação, agradecia que me avisasses para que eu possa tomar conhecimento. Telefonar-te-ei um dia desses.

Um abraço amigo
AMedina



Crachá da CART 527

4. Ficha de unidade >  Companhia de Artilharia nº 527

Identificação: CArt 527
Unidade Mob: RAL 1 - Lisboa
Crndt: Cap Mil Art António Maria de Amorim Pessoa Varela Pinto | Cap Art Domingos Amaral Barreiros

Divisa: -
Partida: Embarque em 27mai63; desembarque em 4jun63 | Regresso: Embarque em 29abr65

Síntese da Atividade Operacional

Em 25jun63, seguiu para Teixeira Pinto, a fim de reforçar o BCaç 239 e depois o BCaç 507, com vista à realização de operações de patrulhamento e batida na região de Binar.

Em 8ag063, substituindo a CCaç 154, assumiu a responsabilidade do subsector de Teixeira Pinto e destacamento de Cacheu, ficando então integrada no dispositivo e manobra do BCaç 507 e tendo ainda empenhado efectivos em diversas operações realizadas na região do Jol e Pelundo, entre outras; por períodos variáveis, destacou, ainda, efectivos para reforço das guarnições locais de Calequisse, Caió e Bachile.

Em 28abr65, foi rendida no subsector de Teixeira Pinto pela CCav 789 e recolheu a Bissau para embarque de regresso.

Observações - Não tem História da Unidade. Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 439.


5. O essencial do "segredo" do António Medina  será republicado, dez anos depois, no poste seguinte desta série (***):  

em resumo,  "foi há 50 anos [agora 60], a 24 de junho de 1964, sofremos uma emboscada no regresso ao quartel, que teria depois trágicas consequências para a população de Jolmete: como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte e executados pelas NT, dois meses depois".

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26417: In Memoriam (531): António Medina (Santo Antão, Cabo Verde, 1939 - Medford, Massachusetts, EUA, 2025), ex-fur mil at inf, OE, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió 1963/65), nosso grão-tabanqueiro desde 2014

(**) Último poste da série > 21 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25862: O segredo de... (44): Aos 70 anos, comecei a ficar farto da guerra (Torcato Mendonça, 1944-2021)... Um "segredo póstumo" que chega ao blogue por mão da Ana Mendonça e do Virgínio Briote

Vd também poste de 29 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14945: O segredo de... (19): António Medina (ex-fur mil, CART 527, 1963/65, natural de Cabo Verde, mais tarde empregado do BNU, e hoje cidadão norte-americano): Desenfiado em Bissau por três dias, por causa dos primos Marques da Silva, fundadores do conjunto musical "Ritmos Caboverdeanos"... Teve de se meter num táxi, até Teixeira Pinto, que lhe custou mil pesos, escapando de levar uma porrada por "deserção"!

(***( Vd. poste de 4 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24725: O segredo de... (39): António Medina: O surpreendente reencontro, em Bissau, em junho de 1974, com o meu primo Agnelo Medina Dantas Pereira, comandante do PAIGC

sábado, 30 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24715: Facebook...ando (38): António Medina, um bravo nativo da ilha de Santo Antão, que foi fur mil na CART 527 (1963/65), trabalhou no BNU em Bissau (1967/74) e emigrou para os EUA, em 1980, fazendo hoje parte da grande diáspora lusófona - Parte III: de sintex pelo rio Cacheu e afluentes, até às ilhas de Pecixe e Jeta


 Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3 

 Guiné  > Região do Cacheu >  Rio Cacheu e afluentes >  CART 527 (1963/65)   

Por determinação do nosso comandante do Batalhão de Bula, BCAÇ 507 (Bula, 1963/65), tenente coronel Hélio Felgas, tivemos que fazer reconhecimentos fluvial nos afluentes, estendidos às Ilhas de Jeta e Pecixe (a sul / sudoeste de Teixeira Pinto).

Para isso foi-nos distribuído uma pequena lancha em plástico reforçado, (sintex) com motor fora de borda, manobrado por um cabo e um soldado de Engenharia.

Interessante saber, com exceção do Rio Corubal,  no Sul da Guiné, onde se dá o fenómeno do Macaréu,  à semelhança do Amazonas (recuo das águas para a nascente, criando uma onda de grande porte), os denominados Geba, Mansoa e Cacheu não são rios, mas sim braços de mar que entram pela terra dentro, |  21 de Dezembro de 2013 
·

Fotos (e legenda): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da seleção de fotos do álbum do nosso camarada da diáspora lusófona, 
António Medina:

(i) ex-fur mil at inf,  CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió 1963/65), de resto o único representante desta subunidade, na Tabanca Grande;

(ii) de seu nome completo, António Cândido da Silva Medina, nasceu em 26 de setembro de 1939, na ilha de Santo Antão, Cabo Verde (completou há dias 84 anos);

(iii) estudou no liceu Gil Eanes (Mindelo, São Vicente) (o único liceu então existente nas ilhas);

(iv) depois da "peluda", em Bissau, e até à independência, foi funcionário do BNU (Banco Nacional Ultramarino), entre 1967 e 1974;

(v) vive desde 1980 nos EUA, em Medford, no estado de Massachusetts, onde foi bancário;

(vi)  tem página no Facebook (último poste: 30 de outubro de 2022); 
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 27 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24703: Facebook...ando (37): António Medina, um bravo nativo da ilha de Santo Antão, que foi fur mil na CART 527 (1963/65), trabalhou no BNU em Bissau (1967/74) e emigrou para os EUA, em 1980, fazendo hoje parte da grande diáspora lusófona - Parte II

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24332: Em busca de... (320): Camaradas da CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65), que se vão reunir no dia 27 (Nora do camarada Alfredo Ramos de Almeida, que lhe quer fazer uma surpresa; email: lidiamisa@gmail.com)


Crachá da CART 527 (1963/65)


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Jolmete  CART 527 (1963/65) >  Três militares, sendo o da esquerda o fur mil António Medina (tem 3 dezenas de referências no nosso blogue, entrou para a Tabanca Grande em 15 de fevereitro de 2014).

Foto (e legenda): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Lídia Misa (?), nora do camarada Alfredo Ramos de Almeida, ex-combatente, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65), que nos chega através do Formulário de Contacto do Blogger, com data de ontem, às 9h06: 

Boa tarde, procuro ex-militares da Companhia de Artilharia 527 nos anos 1963/65.

Sou a nora do sr. Alfredo Ramos de Almeida e queria fazer-lhe uma surpresa encontrando novos camaradas para juntar ao grupo que eles já têm.

 Se alguém puder ajudar, agradecia pois dia 27 de maio vão ter um encontro.

Cumprimentos,

P'lo Alfredo Ramos de Almeida | email: lidiamisa@gmail.com


2. Comentário do editor Luís Graça:


Obrigado, Lídia, pelo seu contacto. A melhor maneira de satisfazer o seu pedido e ajudá-la a si e ao nosso camarada Alferdo Ramos de Almeida, é mandar-nos mais informação sobre o seu sogro, acompanha de algumas fotos, digitalizadas, e com legendas: pelo menos uma atual, e duas ou très do seu tempo da vida militar.


O único representante da CCAÇ 527 que temos na Tabanca Grande é o António Medina. De seu nome completo, António Cândido da Silva Medina (fotos acima), nasceu em 26 de setembro de 1939, na ilha de Santo Antão, Cabo Verde, estudou no liceu Gil Eanes  (Mindelo) e vive desde 1980 nos EUA, em Medford, no estado de Massachusetts. Em Bissau, e até à independência, foi funcionário do BNU (Banco Nacional Ultramarino), depois de passar à disponibilidade. Tem página no Facebook (último poste: 30 de outubro de 2022). É primo do antigo comandante do PAIGC, Agnelo Dantas.

Gostaríamos que o Alfredo Ramos de Almeida se juntasse a ele e aos 875 camaradas que formam este blogue coletivo, entre vivos e mortos. Para isso precisams de fotos para os seus antigos camaradas o reconhecerem. E contactarem o nosso blogue. Não é fácil,  porque são pessoas  com mais de oitenta anos, e pouco ou nada familiarizados com a Internet. Daí a preciosa ajuda de familiares, como é o seu caso.

Escreva-nos, ainda antes do encontro anual da companhia, para um destes  endereços dos nossos editores, de preferência o meu:

(i) Luís Graça (Lourinhã) > luis.graca.prof@gmail.com

(ii) Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos) > carlos.vinhal@gmail.com

(iii) Eduardo Magalhães Ribeiro (Maia) > magalhaesribeiro04@gmail.com

(iv) Jorge Araújo (Almada) : joalvesaraujo@gmail.com

(v) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné : luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com


Um abraço e votos de muita saúde e longa vida para o nosso camarada Almeida,

3. Ficha de unidade >  Companhia de Artilharia nº 527

Identificação: CArt 527
Unidade Mob: RAL 1 - Lisboa
Crndt: Cap Mil Art António Maria de Amorim Pessoa Varela Pinto | Cap Art Domingos Amaral Barreiros

Divisa: -
Partida: Embarque em 27Mai63; desembarque em 04Jun63 | Regresso: Embarque em 29Abr65

Síntese da Actividade Operacional

Em 25Jun63, seguiu para Teixeira Pinto, a fim de reforçar o BCaç 239 e depois o BCaç 507, com vista à realização de operações de patrulhamento e batida na região de Binar.

Em 08Ag063, substituindo a CCaç 154, assumiu a responsabilidade do subsector de Teixeira Pinto e destacamento de Cacheu, ficando então integrada no dispositivo e manobra do BCaç 507 e tendo ainda empenhado efectivos em diversas operações realizadas na região do Jol e Pelundo, entre outras; por períodos variáveis, destacou, ainda, efectivos para reforço das guarnições locais de Calequisse, Caió e Bachile.

Em 28Abr65, foi rendida no subsector de Teixeira Pinto pela CCav 789 e recolheu a Bissau para embarque de regresso.

Observações - Não tem História da Unidade.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 439.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20299: Efemérides (313): Na Guerra da Guiné, há 55 anos: A emboscada comandada por Osvaldo Vieira à escolta sob o meu comando, na estrada Mansabá-Farim, ao cair da tarde daquele 1.º de Novembro de 1964

1. Em mensagem de ontem, 31 de Outubro de 2019, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) enviou-nos um texto lembrando uma emboscada lavada a cabo no 1.º de Novembro de 1964, a uma coluna auto na estrada Mansabá-Farim, comandada por Osvaldo Vieira.


Na Guerra da Guiné, há 55 anos: 
A emboscada comandada por Osvaldo Vieira à escolta sob o meu comando, na estrada Mansabá-Farim, ao cair da tarde daquele 1.º de Novembro de 1964

A malta do 2.º Curso de 1963 do CISMI – Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, – merecerá o registo da história de excelente colheita.
Começámos em Agosto, saímos Sargentos tirocinados em Dezembro, mas, por “criatividade” dos nossos chefes militares, com o posto de Cabos Milicianos – para fazermos o serviço de Sargento ao custo do soldo de Praça.

Em 4 meses de recruta/especialidade, a “Academia Militar de Tavira” superiorizou 1200 instruendos a Hitler – ele saiu da tropa com o posto de Cabo “chico”.

A minha classificação final foi de 12,26 valores – só não tive notação negativa nos “trabalhos de estrada” – e, 0,2 de valor terão feito de mim o mais infortunado furriel da CCav 703, na Guerra da Guiné: não tive grupo de combate certo, fui obrigado a substituir todos os furriéis operacionais e 2 dos 4 alferes e acabei a comissão como comandante de 2 Grupos de Milícias. O Manuel Simas, que já nos deixou, era o segundo classificado, com 12,24 valores, e, na nossa interacção, se não foi a minha sorte grande foi a sua terminação – era mais capaz que eu.

A primeira substituição foi a do vagomestre, Furriel Aurélio Cunha, que dias após o desembarque baixou ao Hospital Militar 241.
O Aurélio Cunha será um prestigiado repórter, chegou a redactor principal do “Jornal de Notícias” e é autor do notável livro “Um Repórter Inconveniente”, está vivo e recomenda-se; o Manuel Simas será um escultor brilhante nos Estados Unidos, acabou professor no Ensino Secundário em Ponta Delgada e deixou-nos há 2 anos.

E foi no desempenho de vagomestre que eu e mais 11 nos vimos confrontados pelo carismático comandante Osvaldo Vieira e a sua malta, naquela emboscada, – a primeira sofrida pela CCav 703. Até então, apenas havíamos operado cercos, assaltos, etc.
O Comando-Chefe desencadeara a “Operação Confiança”, na sua pretensão de “limpar“ o Oio, à CCav 703 coube a missão do desimpedimento da estrada Mansabá-Farim, que o MLG e não o PAIGC havia pejado de abatises, desde 1962, o primeiro movimento armado independentista da Guiné, com o assalto e a vandalização de Susana, Varela, etc a seu crédito.

Montámos barracas cónicas chamadas “tendas coloniais” num descampado, arredores de Bironque, de dia uns faziam de militares-madeireiros, outros faziam patrulhas operacionais e de reconhecimento por água, em duas noites “embrulhamos” morteiradas de 82 – a sua segunda ou a terceira ocorrência na Guiné.
Levámos apenas atrelado-tanque de 10 000 litros de água, mas em Bironque não havia esse precioso líquido (viemos a saber que Teixeira Pinto se havia queixado do mesmo), não tivemos uma côdea de pão, passámos do rancho quente a rações de combate, as moscas passaram a enxamear o amontoado de marmitas não lavadas e, quando já tínhamos menos dum cantil per capita, o pequeno heli Alouette II das evacuações sanitárias, poisou com o Brigadeiro Sá Carneiro (tio do futuro fundador do PPD). O nosso enérgico Capitão Fernando Lacerda não era dado a tibiezas fizera subir o tom nas reclamações da falta do reabastecimento de água e o Comandante Militar, em vez de nos mandar gerricanes de água mandou-nos a sua presença – mas para admoestar e ameaçar o capitão com uma “porrada”. Mas deixou-nos um ensinamento: - Em tempo de guerra, as marmitas lavam-se com terra…

Nada tive a ver com a “Ordem de Operações” ou o estacionamento em Bironque, mas a sua falta de água sobrara para mim. A Guerra da Guiné também foi assim.
O nosso capitão disponibilizou-me o camião Mercedes, o seu condutor Domingos Pardal e uma esquadra, reforçada com os três elementos da cozinha, deu-me liberdade para acrescentar até 4 voluntários de folga (os outros operacionais tinham uma missão operacional), arregimentei apenas 3 voluntários, formei uma escolta de 12 fiz a lenga da praxe e lá fomos à água ao BArt 645, sediado em Mansabá. Eh, malta! Estou a sentir arrepios, à medida que vou recordando e evocando o acontecido, evidência que temos uma espécie de “disco rígido” que grava para a vida as nossas emoções fortes – o medo, no caso.

Troço da estrada Mansabá-Farim, com o Bironque sensivelmente a meio do caminho
Infogravura Luís Graça & Camaradas da Guiné

O Domingos Pardal dobrou o para-brisas, pusemos os óculos à aviador, tapamos as fuças com os lenços verdes, avançamos para Mansabá, a grande velocidade, levantado e deixando nuvens de pó, recebeu-nos um capitão “águia negra”, murmurou que só um maluco mandaria tão pequena escolta e disse-me, indicando 2 obuses 8.8 apontados para os lados de Bironque: - Vocês acabaram de passar no meio “deles”! A malta “águia negra” foi muito hospitaleira, emprestaram-nos toalhas para o banho, atestaram-nos o atrelado-tanque, abonaram-nos “vianda”, eu aviei meio casqueiro, uma lata de conserva de perdiz das Conservas Brandão e uma “bejeca” gelada.

O comandante de Mansabá mandou um pelotão escoltar-nos até meio do caminho, o seu Unimog avariou em plena mata, gastamos tempo a arranjar maneira de o ultrapassar, a noite tropical é rápida a chegar, o seu alferes disse-nos que o seu comandante permitia que regressássemos a Mansabá – mas a malta de Bironque desesperaria mais um dia sem água!
Como não era uma ordem, levantei os queixos e o olhar aos nossos, não houve reacção negativa, afivelei a máscara de sujeito decidido, saltei para o camião, lembrei-me e repeti a bravata do Henrique Galvão, no caso do Santa Maria: - Prá frente é que é o caminho!

Cerca de um quilómetro depois, desabou uma trovoada de rajadas e de rebentamento de granadas, todos voamos para o chão a ripostar, as balas faiscavam no taipal metálico e chicoteavam-me aos ouvidos, os sacos de areia em parapeito vertiam-na, um soldado dizia que estava cego, e, afortunadamente, as granadas rebentavam do outro lado da estrada. Dada a densidade da mata, os atiradores e granadeiros atacantes estavam-nos muito próximos, mas o outro lado era-nos seguro e campo da explosão das granadas deles.

O condutor Domingos Pardal continuou em 1.ª velocidade, deitara-se e orientava a condução pela porta aberta do seu lado, acelerava com uma mão e guiava com a outra, fiz-lhe o sinal convencional para arrancar e ao cabo da esquadra meu adjunto (lamento não me lembrar do nome) para retirarem a rastejar pela valeta, os atacantes encarniçaram o fogo sobre o camião e eu e mais 3 ficámos uns momentos na retaguarda, a dar segurança. Nesse momento e manobra localizámos os seus ninhos de tiro, os 4 despejamos 2 carregadores cada sobre eles, 160 balas, ouviram-se gritos e ruídos, deduzi que retiravam e também retiramos, a rastejar pela valeta.
 E já o Pardal vinha de marcha atrás com a malta, de regresso à “zona de morte”, porque ficáramos para trás. Rapaziada valente! Ao nosso encontro veio uma coluna de auxílio, comandada pelo capitão. Foram cerca de 10 minutos, que nos pareceram uma eternidade!

Moral da estória: O camião Mercedes, novinho em folha, tinha 17 impactos de bala na cabine, o taipal do lado do ataque estava todo cravado, os sacos de areia do seu peitoril estavam desfeitos, a primeira rajada atirara areia aos olhos daquele soldado, que recuperou, - mas o atrelado-tanque estava intacto!

Troço da estrada Mansabá-Farim em Fevereiro de 1971, pouco tempo após terminado seu asfaltamento. Ainda persiste o pó branco com que era coberto o alcatrão acabado de aplicar.

Foto e legenda: Carlos Vinhal

Sou recorrente nesta narrativa como preito de memória à malta que já partiu e de homenagem à malta ainda subsistente do BCav 705, do BCav 490, do BArt 645, da BCaç 507, do “Capitão do Quadrado”, com quem interagimos no norte da Guiné – no Oio e Morés.

E também não esqueço o Osvaldo Vieira, morto em desgraça, em Janeiro de 1974 e os bissau-guineenses que nos afrontaram de armas na mão, tão convencidos quanto nós, “por uma Guiné Melhor”.
Mereciam melhor sorte!
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20248: Efemérides (312): Mina anticarro em Canturé, regulado do Cuor, 16 de Outubro de 1969 (Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52)