Lourinhã > Freguesia da Marquiteira > Ventosa do Mar > 5 de agosto de 2025 > Foto de t-shirt de um comedor de batatada de peixe seco, uma iguaria que não há no céu... nem nos restaurantes da Terra da Alegria. Só na Marquiteira e na Ventosa do Mar... A da Marquiteira foi há um mês.
Fotos (e legenda): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Garça & Camaradas da Guiné]
Bolas!.. A vida é breve... Tão breve... Um dia destes estamos numa cama de hospital a rever a merda do filme das nossas vidas ao contrário. De trás para a frente. De frente para trás. Um documentário curto. Um filme mudo. Uns escassos segundos. Uma semibreve. Em trinta, sessenta segundos. O nosso tempo de antena... Tão breve como um orgasmo... E depois "damos o peido mestre!"... E vinte e quatro depois somos consumidos pelo fogo. A 900 graus.
A vida é tão breve e cruel, camaradas. O fim do filme não é nada bonito. Porra, merecíamos melhor, não acham ?!...
Acabámos de nascer. Há 70, 80 anos... Heroínas foram as nossas mães. Nove meses a afagar a barriga. E depois a parir. E depois a amamentar-nos... Não há mais lindo do que a gravidez das nossas mães. A infinita ternura que puseram, do princípio ao fim, na nossa gestação. Mãe só há uma. Pai todos podem ser. Progenitores, doadores de sémem.
As nossas mães que pariam em casa. Com dor. Sem assistência médico-hospitalar. No tempo do... Velho Estado Novo. Cumprindo a maldição bíblica. Parirás com dor. Iam parir na casa das suas mães, se não vivessem longe.
Andámos a jogar ao pião. Há 70 e tal anos. Somos filhos do pós-II Guerra Mundial. Da Idade Atómica. Da Bomba Nuclear. Aprendemos a rezar. Aprendemos as primeiras letras. Com sete ou oito anos já andávamos a jogar à porrada com os outros miúdos da rua e da escola. Na Rua do Castelo ou no Largo do Convento. Ou na Rua Grande, Ou no Largo das Aravessas. Vimos o primeiro sangue a escorrer da cabeça. Saltámos às fogueiras de santo António, São João e São Pedro. Fizemos gazeta à escola e à catequese. Quando o Rio Grande da Lourinhã transbordava. E, sem nos darmos conta, estávamos todos nus, em bicha de pirilau, com a mão a esconder as "vergonhas", à frente dos senhores coronéis da tropa que decidiam quem era apto ou não apto para servir a Pátria. Nus, em pelota, no primeiro andar do velho edifício republicano da câmara municipal.
És fã, de há muitos anos, desta iguaria dos pobres. Que merecia ter uma confraria. A da Batatada do Peixe Seco. Costumas não perder as tradicionais batatadas de peixe seco da Marquiteira e da Ventosa do Mar. Este ano perdeste, por um dia, a da Marquiteira. Que é a Rainha da Festa. Honra à Marquiteira, terra do teu primo, amigo e camarada Rogério Gomes, que esteve em Angola, na guerra...
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Nascemos de um orgasmo. Semibreve. Trinta segundos. Tão simples como isso. Nada de mais anódino (do grego, "anódunos, -on", sem dor).. Anódino, anónimo, vulgar... A maior parte das nossas vidas cabe num pequeno vídeo de 30 a 60 segundos, Um minuto. Nada tem de heróico. E o que é que levamos da nossa vida terráquea para a prometida eternidade ?... Uns dizem que é o que se come, se bebe e se f*de...
Como a gente dizia, na tropa, com crueldade e a estupidez dos nossos verdes anos (em que, pobres de nós , pensávamos que éramos eternos, imortais, invulneráveis!), somos todos "meias lecas, meias f*das", feitos numa noite alegre de verão ou numa noite de pesadelo de inverno...
Acabámos de nascer. Há 70, 80 anos... Heroínas foram as nossas mães. Nove meses a afagar a barriga. E depois a parir. E depois a amamentar-nos... Não há mais lindo do que a gravidez das nossas mães. A infinita ternura que puseram, do princípio ao fim, na nossa gestação. Mãe só há uma. Pai todos podem ser. Progenitores, doadores de sémem.
As nossas mães que pariam em casa. Com dor. Sem assistência médico-hospitalar. No tempo do... Velho Estado Novo. Cumprindo a maldição bíblica. Parirás com dor. Iam parir na casa das suas mães, se não vivessem longe.
Como a tua, que hoje faria 103 anos. Se fosse viva. Morreu com 92. Maria da Graça. Nascida em 6 de agosto de 1922, No Nadrupe, a 3 km da vila, Lourinhã. Filha da tia "Patxina" , Maria do Patrocínio, e do Manuel Barbosa. Em dia de festa. Festa do Nadrupe, em honra de Nossa Senhora da Graça. Daí o apelido, Graça. A três quilómetros da Lourinhã. Na margem direita do Rio Grande da Lourinhã. Que era navegável no tempos dos fenícios,romanos, visigodos, mouros, cruzados.... O mar chegava à Lourinhã nos século XII, XIII, XIV... A tua casa está construída em leito de mar. Assente em fósseis marinhos. E um dia destes será engolida por um tsunami. Estupidez dos autarcas e do Estado que nos deixa construir e habitar em antigos leitos de mar. Todos queremos, afinal, viver à beira-mar, e mais perto do sol, para um dia sermos engolidos por eles, pela água e pelo fogo.
Andámos a jogar ao pião. Há 70 e tal anos. Somos filhos do pós-II Guerra Mundial. Da Idade Atómica. Da Bomba Nuclear. Aprendemos a rezar. Aprendemos as primeiras letras. Com sete ou oito anos já andávamos a jogar à porrada com os outros miúdos da rua e da escola. Na Rua do Castelo ou no Largo do Convento. Ou na Rua Grande, Ou no Largo das Aravessas. Vimos o primeiro sangue a escorrer da cabeça. Saltámos às fogueiras de santo António, São João e São Pedro. Fizemos gazeta à escola e à catequese. Quando o Rio Grande da Lourinhã transbordava. E, sem nos darmos conta, estávamos todos nus, em bicha de pirilau, com a mão a esconder as "vergonhas", à frente dos senhores coronéis da tropa que decidiam quem era apto ou não apto para servir a Pátria. Nus, em pelota, no primeiro andar do velho edifício republicano da câmara municipal.
Um ou dois anos depois, lá estavam os "filhos de sua mãe", com uma p*ta de uma Mauser, na Índia, ou com uma "namorada", de nome G3, em Angola, Guiné e Moçambique,a defender os cacos do Império. Que fora grande no tempo do nossos maiores. Já não te lembras dos seus nomes. Os heróis da Pátria. Que vergonha!... Tinhas a obrigação de os saber. Eras um "barra" em história, quando fizeste o exame de admissão ao Liceu. Em Lisboa. Um terror, o exame de admissão...
Hoje, "radioativo, protésico, parkinsónico e...alzheimareado", já não te lembras a quem deste três anos da tua vida, tão curta (vais fazer oitenta, se lá chegares, em 29 de janeiro de 2027!)... Se alguém souber, por favor, que te ajude!... É uma obra de caridade...
São três da manhã. Estás con insónias. E quando estás com insónias, levantas-te, abres o "portátil"... e escreves. Alimentas o blogue, a tua "droga", a tua "adição".
São três da manhã. Estás con insónias. E quando estás com insónias, levantas-te, abres o "portátil"... e escreves. Alimentas o blogue, a tua "droga", a tua "adição".
Nunca se deve comer batatada de peixe seco à noite. Muito menos na Ventosa do Mar, Lourinhã. Numa manjedoura coletiva que juntou mais de 350 bocas, esfomeadas, ruidosas, alegres... Como em romaria... Ontem, 5 de agosto de 2025. No último dia da tradicional Festa do Emigrante. Convivendo à mesa com gente de diferentes gerações. Filhos de muitas mães e terras: Cadaval, Lourinhã, Seixal, Marteleira, Ventosa, Cesaredas, Lisboa, Marco de Canavese, Paris.. Gente que adora batatada de peixe seco. Iguaria que só existe em terras ribeirinhas da Lourinhã como a Marquiteira, a Ventosa do Mar, Ribamar. Honra a esta gente que mantém esta tradição.
Ficaste ao lado de pequenos empresários, gente valorosa, na casa dos 40/50, como os teus filhos. Mas a quem já nada diz a p*ta da guerra que te roubou três anos de vida, e ainda tira o sono a muita gente, cinquenta, sessenta anos depois. Só tira o sono a quem a fez. Como tu.
Porra!... Faltou o Eduardo Jorge Ferreira, que já está lá no céu. Desde 2019. E que sempre te dizia, na caldeirada de Ribamar ou na batatada de peixe seco da Ventosa: "Luís, olha que no céu não há disto!"... E ele era crente, tão cristão como tu és herege!...
Ainda hoje esta gente fala com respeito e ternura do senhor professor Eduardo Jorge... Que falta fazes, nosso irmão!... E tu, mano João Crisóstómo, que estás para aí sozinho, com a tua Vilma, em Nova Iorque. Bolas, nunca comeste com a malta, teus amigos e camaradas, a batatada de peixe seco!... E o mano Rui Chamusco que deve estar andar pelo Sabugal (ou por Alter do Chão ?)... Bolas, Eduardo, João, Rui, como é difícil, em agosto, juntar a gente toda de que a gente gosta.
És fã, de há muitos anos, desta iguaria dos pobres. Que merecia ter uma confraria. A da Batatada do Peixe Seco. Costumas não perder as tradicionais batatadas de peixe seco da Marquiteira e da Ventosa do Mar. Este ano perdeste, por um dia, a da Marquiteira. Que é a Rainha da Festa. Honra à Marquiteira, terra do teu primo, amigo e camarada Rogério Gomes, que esteve em Angola, na guerra...
Mas estiveste ontem, há meia dúzia de horas, na batatada de peixe seco, na da Ventosa do Mar. Terra do João Duarte, o presidente da Câmara Municipal da Lourinhã (agora em fim de mandato). Que sabe receber, como ninguém, os seus amigos e convidados. Na sua "manjedouro" eram dezenas os comensais, os companheiros. Convidou-te, a ti, à Alice Carneiro, ao Jaime Silva, e aos "duques do Cadaval" (Joaquim Pinto de Carvalho e Céu Pintéus). Sem distinção de terras, clubes ou partidos. Um gesto de grande hospitalidade e nobreza. Na tua terra ainda são todos iguais.
A batatada de peixe seco honrou a tradição. Não faltou a generosidades deste gente da Ventosa do Mar, Lourinhã. Malta nova, que organiza a festa. Que dá uma semana das suas férias ou do seu tempo em prol dos outros. Que veste a camisola, pela sua terra. Que lindo, que exemplo, que inveja, em tempo de crueldade, individualismo, egoísmo, arrogância, ódio, xenofobia, por toda a parte no mundo!... E aqui mesmo, ao teu lado...
Não faltou a batata, a cebola, a arraia, a sapata... e pela primeira vez o espadarte seco (que é mais duro de roer)... A sapata e a arraia são as rainhas da festa...
No final,estafaram-se duas garrafas de aguardente DOC da Lourinhã e uma de uísque velho, da garrafeira do João Duarte... Obrigada, Ventosa do Mar!,,, Obrigado, mordomos da festa do emigrante da Ventosa do Mar!... Obrigado, João Duarte, que sabes honrar a tua terra, Ventosa do Mar, como ninguém!
Lourinhã, 6 de agosto de 2025, entre 3 e meia e as seis e meia da manhã. (Três horas para escrever e editar este poste!...Três horas roubadas ao sono... Mas não à vida. Solidária.)
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Nota do editor LG:
Último poste da série > 3 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27085: Felizmente ainda há verão em 2025 (8): Santiago de Compostela não é apenas uma questão de bike...terapia (Paulo Santiago, caminheiro e amante dos desportos radicais...)
Último poste da série > 3 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27085: Felizmente ainda há verão em 2025 (8): Santiago de Compostela não é apenas uma questão de bike...terapia (Paulo Santiago, caminheiro e amante dos desportos radicais...)
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