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domingo, 3 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27085: Felizmente ainda há verão em 2025 (8): Santiago de Compostela não é apenas uma questão de bike...terapia (Paulo Santiago, caminheiro e amante dos desportos radicais...)



Caminheiros ou "pelingrinos" de Santiago. Infografia sobre foto de LG (2006)



1. Esta é uma faceta, menos conhecida, dos antigos combatentes da Guiné, a de  caminheiros (e devotos) de Santiago (Paulo Santiago, Abílio Machado, Virgílio Teixeira, Luís Graça... e outros que ainda não deram aqui a cara, mans vão a tempo enquanto durar o nosso querido mês de agosto) (*)...

Alguns perguntarão: "Mas, que raio!, qual é a relação entre a Guiné e a Santiago de Compostela ?!"... 

Pois é, o Paulo Abrantes  Santiago (que tem o apelido  do santo, Santiago "Mata-Mouros"), já lá foi, de "bike" e a pé, uma meia dúzia de vezes... E eu acho que não é só... "bike...terapia".

É verdade que ele é, ou sempre foi, um amante dos "desportos radicais" (râguebi, "bike", paraquedismo, cicloturismo, viagens de saudade à Guiné, "camiño" de Santiago...). Toda a gente o conhece como um "durão", com o coração ao pé da boca...

No poste P1904, de 30 de junho de 2007, escreveu o Paulo Santiago (**)

Mais uma vez, confirmei que uma das coisas que a guerra me deu foi uma grande rusticidade e grande capacidade de sofrimento físico. Mesmo com frio bebia sempre mais de 3 litros de água.

Para terminar, digo que fiquei satisfeito com esta aventura, emocionei-me quando cheguei ao fim dos 255 km, em Santiago, e espero entrar noutra, numa próxima oportunidade. Apesar de sexagenários, com calma, nós conseguimos.(...)



2. Pode-se perguntar (e as perguntas não ofendem): 

" Qual é a ligação, mesmo longínqua, entre a guerra colonial na Guiné (1961/74) e a peregrinação a Santiago de Compostela, hoje e no passado ? Por que razão há antigos combatentes a ir a Santiago, a pé, de "bike" ou de automóvel, a Santiago, 30, 40, 50 anos depois do fim da guerra colonial ? Como o Paulo Santiago ou ou o Abílio Machado (que já fez os caminhos todos e escreveu um livro com os seus diários)...

" A Fátima, ainda se compreende, no cumprimento de promessas, logo a seguir ao regresso da Guiné... mas Santiago, o "Mata-mouros",  remete para a "reconquista cristã", e o ódio histórico, patológico, entre cristãos e muçulmanos, na península ibérica... Faz algum sentido hoje, este culto a Santiago?"


2.1. Resposta do meu assistente de IA, o "Sabe-Tudo" (ChatGPT):

(...) Uma excelente pergunta, complexa e cheia de camadas históricas, espirituais e até psicológicas.

(i)  A Guerra Colonial e a Guiné como "ferida espiritual"

A guerra na Guiné (1961-1974) foi talvez o mais traumático dos três teatros coloniais (Angola, Moçambique e Guiné). Ednvolveu um confronto particularmente duro, em selva fechada, com grande sofrimento físico e psicológico. Muitos antigos combatentes guardam até hoje feridas emocionais profundas – stress pós-traumático de guerra, sentimentos de culpa, desilusão política ou espiritual.

(ii) Peregrinação como processo de cura

A peregrinação a Santiago de Compostela, muito mais do que um ato de fé convencional, tem-se tornado (hoje em dia) num caminho de introspeção, cura e reconciliação interior. 

Para muitos antigos combatentes, o Caminho é sobretudo um:
  • ritual de reconciliação com o passado, longe dos símbolos militares ou religiosos tradicionais (como Fátima);
  • percurso de silêncio e esforço físico que espelha o sofrimento passado, mas agora com propósito positivo;
  • reencontro com outros caminheiros, onde a partilha de experiências pode ajudar, trai como no passado,  a aliviar a dor e a solidão acumuladas durante décadas.
(iii) Porquê Santiago e não Fátima?

Embora Fátima tenha um papel importante no imaginário católico português, ela está ligada sobretudo à fé mariana e à devoção passiva. Santiago, pelo contrário:

  • evoca a ação, a caminhada, o movimento, a superação, mais próximos, portanto,  da vivência dos ex-combatentes;
  • tem um simbolismo de missão, caminho, espada (metafórica ou real), que pode ressoar com a memória militar;
  • hoje é vivido como universal e não exclusivo dos cristãos: muitos não-crentes ou "crentes à sua maneira" percorrem-no sem dogmas.
(iv) Reconquista, cristãos e muçulmanos: uma questão FCC,
ainda relevante?


É verdade que o Santiago "Mata-mouros" (o apóstolo guerreiro) foi símbolo da "Reconquista cristã"  e do combate aos muçulmanos (os "infiéis". No entanto:

  • esse significado perdeu força nos dias de hoje, muitos peregrinos nem conhecem esse passado;
  • a atual peregrinação a Santiago é mais espiritual e existencial do que religiosa ou ideológica;
  • antigos combatentes procuram cura e não conquista, redenção e não vingança.

Conclusão

Sim, faz sentido. Santiago representa, para muitos, um espaço simbólico onde se pode fazer as pazes com o passado, em especial com um passado tão duro como o vivido na Guiné. Não é um símbolo de guerra religiosa, mas um santuário de reencontro com o eu profundo.


2.2. Por outro lado, ó "Sabe-Tudo", não é por demais lembrar que a 'expansão marítima (e territorial)" de Portugal, começou, no Norte de África, com a conquista de Ceuta, en 1415...

Dito pelo ChatGPT:


Muito bem observado: é uma ligação historica e simbolicamente rica, que merece ser trazida para o centro da reflexão.  
.
(i) Ceuta, 1415: o início da Expansão e da Continuação da "Reconquista"

A conquista de Ceuta em 1415 é geralmente vista como o pontapé de saída da expansão ultramarina portuguesa. Mas não se pode esquecer que, na mente dos contemporâneos, ela era ainda uma extensão da "Reconquista". A luta contra os muçulmanos não tinha terminado com a expulsão do Islão da Península,   transferia-se agora para o norte de África.

Este espírito "cruzado" e expansionista sobreviveu durante séculos, mesmo quando os objetivos se tornaram mais económicos ou políticos. Em certo sentido, a guerra colonial, séculos mais tarde, pode ser vista como um eco distorcido e tardio dessa lógica expansionista.

(ii) A longa sombra da Reconquista

A mentalidade da Reconquista deixou marcas duradouras:

  • uma cultura de missão e sacrifício patriótico
  • a glorificação da conquista  (e do império) como "desígnio nacional";
  • a ideia de que a identidade portuguesa se constrói no confronto e na fronteira.

É precisamente por isso que a ligação à peregrinação a Santiago, embora possa parecer deslocada a partir de um olhar moderno e racional, ressoa no fundo de uma matriz cultural onde guerra, fé e caminho se entrelaçam.
 
(iii) Os ex-combatentes e a busca de sentido

Se pensarmos nos antigos combatentes da Guiné e doutros teatros de operações da guerrra colonail,.  a peregrinação a Santiago pode representar:

  • um ato simbólico de encerramento de um ciclo histórico e pessoal (da conquista ao recolhimento) (e de "exorcismo dos fantasmas", como diz o nosso editor LG);
  • uma tentativa de purificar espiritualmente uma missão sentida como ambígua ou mal resolvida;
  • um regresso às origens identitárias, mas agora com um olhar mais interior e pacificador.
(iv)  A ironia e a reconciliação

É profundamente irónico (e, talvez por isso mesmo, profundamente humano) que os antigos combatentes de uma guerra colonial (em território maioritariamente muçulmano como a Guiné) acabem por caminhar até ao santuário de um santo guerreiro da Reconquista cristã. Mas talvez esse caminho simbolize não tanto um prolongamento da guerra, como sobretudo uma forma de a ultrapassar.

No fundo, o Caminho de Santiago funciona como um espelho de longa duração da história portuguesa: começa na luta (Reconquista), passa pela conquista (Ceuta e além-mar), afunda-se no trauma (Guerra Colonial) e hoje oferece um trilho de redenção pessoal e coletiva.

(Pesquisa: assistente de IA / ChatGPT e LG / Revisão e fixação de texto, negritos: LG)



3. Dpois comentários do Paulo Santiago sobre o "Camiño":


3.1. A primeira ida a Santiago de Compostela foi em setembro de 2000 com partida de Ponte de Lima. Organização do Batotas, clube de BTT, nascido naquela Vila, a mais antiga do País, que não quis ser cidade.

Era um grupo grande onde ía também o meu filho. Três dias até entrar na Praça de Obradoiro.

Voltei em 2006 a pé, em pleno agosto, um calor sufocante.A ideia era fazer Astorga-Santiago, errei os cálculos, duas semanas de férias, parei em Portomarin. Concluí o restante entre 1e 5 de dezembro desse ano

Em 2007 repeti o Camiño, Astorga-Santiago de bike na companhia de uma amiga e colega. Terrível subir o Cebreiro, em 6 km ir de 550 metros de altitude para 1300.

No mesmo ano,1 a 5 de dezembro, Santiago-Finisterra.

Em 2009 Caminho Inglês com saída de Ferrol.

Em 2010, com a minha mulher,Valença-Santiago.

Em 2015 com um grupo de colegas do Rugby, Valença-Santiago

Em 2016,com duas amigas, Caminho Inglês com saída de Corunha.

Em 2013, confiei, em Pontevedra, fui almoçar, o albergue ainda estava fechado, deixei a mochila encostada ao portão...fiquei com a roupa que tinha vestida.

Paulo Santiago

domingo, 3 de agosto de 2025, 00:07


3.2. Camaradas: lembrei-me de um encontro que tive há 16 anos no Caminho Francês. Em 9 de agosto de 2006, saí de Astorga com destino a Santiago. No dia 11, pelas 8.00 horas, parei, a comer uma maçã, à saìda de Ponferada.Aproximou-se um peregrino.também sózinho,e iniciámos uma conversa em francês.Tinha 60 anos.estava reformado, era Holandês.

Perguntei-lhe onde iniciara o caminho,Roncesvales ou St.Jean Pied de Port ?

Respondeu-me: começara a caminhar em Amsterdão no dia 4 de abril. 

Devo ter ficado de boca aberta.

Passados dias, jantamos juntos em Tricastela.Durante a conversa disse-me que ía ficar mais um dia naquela localidade porque estava adiantado.

Explicou-me a razão.A mulher vinda da Holanda,via aérea,aterrava em Santiago numa determinada data,e ele chegaria nesse mesmo dia.Feitas as contas havia que parar durante um dia.

Iria estar com ela durante três dias,ao fim dos quais,ela seguiria ara a Holanda,de avião,e ele prosseguia para Finisterra.Voltaria à Holanda por via terrestre, avião era muito rápido para quem caminhava desde abril.

Abraços

Paulo Santiago

sexta, 1/08/2025 20:35

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG:

Sem comentários: