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segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27313: Diálogos com a IA (inteligência Artificial) (6): O que se sabe sobre o ataque do PAIGC a Contabane, na noite de 22 de junho de 1968 ? É o que vem no blogue, já que no livro da CECA (6.º Volume: Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II, Guiné, Livro II, 1º ed., Lisboa, 2015, 607 pp.) não há uma linha sequer.



Guião da CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70), "Por picadas nunca estradas, por estradas nunca picadas".

Foto (e legenda): © Manuel Traquina (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Bafatá > Carta de Contabane  (1959) / Escala 1/50 mil > Posição relativa de Contabane, Saltinho, Rio Corubal e Quirafo. (Nesta altura não havia Sinchã Sambel, a um escasso quilómetro do Saltinho, na margem direita do rio Corubal). A tabanca e o destacamento de Contabande ficava a seis quilómetros, em linha reta, do Saltinho.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. Contabane  tem cerca de 40 referências no nosso blogue. 

Para os fulas do Forreá foi um duro golpe o ataque e a destruição da tabanca na noite de 22 de junho de 1968 (*).  Apesar da lealdade a Portugal do régulo de Contabane, Sambel Baldé, o ataque deve ter minado a confiança da população da zona. Um regulado que, de  resto, já era um deserto, com as tabancas abandonadas.

A tropa (CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72) ) e os antigos habitantes irão construir mais tarde uma nova tabanca, Sinchã Sambel, mesmo junto ao quartel do Saltinho.  Já sob o "consulado" do novo governador e comandante-chefe, brigadeiro António Spínola (que tinha acabado de chegar à Guiné um mês antes do ataque ), o "destacamento de Contabane" será abandonado, tal como outras posições a sul, e nomeadamente a sul do rio Corubal e junto à fronteira com a Guiné-Conacri. Cite-se:

  • Beli, 
  • Madina do Boé,
  • Ché Che,
  • Contabane,
  • Colibuia,
  • Cumbijã,
  • Ponte Baiana,
  • Gandembel,
  • Mejo, 
  • Sangonhá,
  • Cacoca, 
  • Cachil,
  • Ganjola

2. Perguntámos, por mera curiosidade, à assistente de IA / ChatGPT, o que aconteceu a Contabane. Sem surpresas, a resposta baseia-se na única fonte que ela encontra acessível,  na Net, o nosso blogue (a que ela chama Blogue Fora Nada E Vaotres):

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

Sem falsa modéstia, o nosso blogue tem dado visibilidade a "acontecimentos de guerra" que no livros da CECA, por uma razão ou outra (a começar por lacunas de informação), passaram despercebidos, para não dizer ignorados, incluindo alguns reveses das NT (**)... 

A Grande História também se faz com pequenas histórias, como são as nossas. De qualquer modo, é de destacar a grande coragem com que Contabane foi defendida pelas NT (CCAÇ 2382, comandada pelo cap mil inf Carlos Nery, felizmente ainda vivo e membro da nossa Tabanca Grande) e a população local em autodefesa. O que não impediu que Contabane fosse riscada do mapa.

Três camaradas nossos da CCAÇ 2382 (um furriel miliciano, um 1º cabo e um soldado) foram posteriormente condecorados com a  Cruz de Guerra de 4ª Classe, por feitos em grande parte relacionados com a defesa de Contabane na noite de 22 de junho de 1968. Iremos transcrevê-los em próximo poste.

P - O que aconteceu em Contabane, entre o Saltinho e Quebo (Aldeia Formosa, na antiga Guiné Portuguesa), na noite de 22 de junho de 1968, no âmbito da Guerra Colonial?
 
R-  "Aqui está o que se sabe sobre o ataque a Contabane na noite de 22 de junho de 1968, no contexto da Guerra Colonial na Guiné Portuguesa, entre Saltinho e Quebo (Aldeia Formosa). Há algumas versões e relatos de ex-combatentes, e como sempre, nas guerras, há discrepâncias, mas vou compilar os elementos mais credíveis.

(i) Contexto

Localização: Contabane era uma tabanca (aldeia rural/pequena povoação) situada entre Saltinho e Quebo, no sul da Guiné Portuguesa, no Sector de Tombali / Quebo (antiga Aldeia Formosa). Blogue Fora Nada E Vaotres

As forças portuguesas mantinham ali um destacamento da CCAÇ 2382 ( Companhia de Caçadores nº 2382) com pelotões espalhados, bem como instalações menores, abrigos, valas de proteção e arame farpado à volta da tabanca. Blogue Fora Nada E Vaotres

Do lado do PAIGC, a guerrilha já atuava naquela região, interferindo com rotas de infiltração e de apoio, sobretudo junto à fronteira com a Guiné-Conakry. Contabane funcionava como “tampão” ou ponto de presença militar português, relativamente vulnerável. Blogue Fora Nada E Vaotres

(2) O que aconteceu na noite de 22 de junho de 1968

Segundo relatos de antigos militares portugueses, em particular da CCAÇ 2382, de ex-milícias/indivíduos da tabanca, e de blogs/documentos coletados posteriormente:

Ataque do PAIGC:

O PAIGC organizou um ataque contra as posições em Contabane. O ataque durou cerca de três horas. Blogue Fora Nada E Vaotres

Foi uma operação relativamente bem preparada. Blogue Fora Nada E Vaotres

Destruição da tabanca e retirada das tropas portuguesas:

As forças portuguesas presentes: pelotões da CCAÇ 2382, aquartelados em moradas da tabanca cedidas pelo régulo local, além de algumas valas e abrigos defensivos e arame farpado para proteção. Blogue Fora Nada E Vaotres


Durante o ataque, a tabanca foi incendiada e destruída. Blogue Fora Nada E Vaotres

O destacamento português foi obrigado a retirar, levando apenas a roupa que tinha no corpo. Tudo o resto foi perdido ou destruído. Blogue Fora Nada E Vaotres


A população local também abandonou a tabanca, refugiando-se em Quebo. Blogue Fora Nada E Vaotres

(iii) Consequências imediatas:

Contabane foi por algum tempo abandonada tanto pelas tropas portuguesas como pelos civis. Blogue Fora Nada E Vaotres

A destruição foi tão grande que se conta que o pelotão lá estacionado regressou a Aldeia Formosa (Quebo) com apenas a roupa do corpo. Blogue Fora Nada E Vaotres

A partir desse momento, foi feito um “reordenamento” da presença portuguesa naquela zona. A antiga tabanca de Contabane passaria a designar-se Sinchã Sambel (ou Sintcha/Sinchã Sambel) posteriormente. Blogue Fora Nada E Vaotres

(iv) Significado / Interpretação

O ataque mostra a capacidade do PAIGC de realizar operações coordenadas contra posições portuguesas relativamente bem defendidas (valas, abrigos, arame farpado) mesmo em zonas rurais pouco acessíveis.

Também reflete a vulnerabilidade de pequenas guarnições isoladas, especialmente quando a população local não está ou não pode ser mobilizada de forma defensiva.

Para Portugal, foi um golpe simbólico: a perda material, mas também o impacto psicológico,  a sensação de insegurança e de fraqueza no controlo da região.

Para as populações civis, foi desastroso: destruição de casas, deslocações forçadas, perda de bens, insegurança.

(...) Não encontrei até agora fontes primárias oficiais portuguesas ou do PAIGC que descrevam em detalhe com documentos militares (relatórios operacionais, atas oficiais, etc.) o ataque a Contabane em 22 de junho de 1968,  pelo menos nos arquivos acessíveis publicamente. O que existe são principalmente relatos de veteranos, depoimentos pessoais, e registos em publicações de memória/recensão da Guerra Colonial, que ajudam bastante a reconstruir o que aconteceu. Aqui vai um resumo do que achei, com grau de credibilidade estimado, seguidos de lacunas que persistem.

O que as fontes primárias / de testemunhas dizem:

Estas são as principais fontes disponíveis que contêm descrição do ataque:

“História da Unidade — CCAÇ 2382 (1968-70)”:  trata-se de documento interno da própria companhia portuguesa, referenciado em narrativas do blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”.Blogue Fora Nada E Vaotres

O documento fornece dados como a localização dos pelotões (alguns em Mampatá, outros em Contabane), as defesas existentes (valas, abrigos, arame farpado), o comando local (o régulo Sambel) e a mulher grande do régulo. Blogue Fora Nada E Vaotres

Depoimentos de ex-militares portugueses: Manuel Traquina, Carlos Nery, Hermínio Marques

Manuel Traquina, que esteve na CCAÇ 2382, escreveu no seu livro "Os Tempos de Guerra: de Abrantes à Guiné" sobre este ataque, afirmando que Contabane foi “reduzida a cinzas”. Blogue Fora Nada E Vaotres

Carlos Nery também narra “Noite longa em Contabane”, relatando o ataque prolongado, o impacto sobre os militares, abandono da tabanca, perda de bens.Blogue Fora Nada  E Vaotres

Blogues / memórias locais

O blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné” reúne vários relatos, sobretudo os acima referidos, com descrições bastante coerentes entre si.Blogue Fora Nada E Vaotres

Também há relatos orais de moradores ou milícias locais, que mencionam que “aceitar armas aos portugueses” por parte de alguns fulas contribuiu para que fossem identificados como aliados (ou pelo menos simpatizantes) do lado português, o que levou o PAIGC a atacar. .Blogue Fora Nada E Vaotres

O que se consegue verificar com razoável confiança

Com base nesses relatos, estes são os pontos que têm suporte razoável:

  • Contabane tinha guarnições portuguesas (CCAÇ 2382) que tinham sido espalhadas entre Contabane e Mampatá. O comando da companhia instalou-se em Contabane pouco antes do ataque.Blogue Fora Nada E Vaotres
  • Havia defesas improvisadas: valas, abrigos, arame farpado, etc., e uso de moradias civis cedidas pelo régulo local para alojamento.Blogue Fora Nada E Vaotres
  • O ataque resultou em grande destruição: habitações incendiadas, instalações destruídas, abandono pela tropa portuguesa e pelos habitantes civis. A guarnição portuguesa teve de retirar praticamente sem bens, levando apenas roupas que traziam.Blogue Fora Nada E Vaotres
  • A tabanca foi abandonada, e posteriormente houve reordenamento/população concentrada em outro local (Sinchã Sambel, junto ao Saltinho) para alojar as famílias da antiga Contabane.Blogue Fora Nada E Vaotres

Lacunas / o que não se encontrou

Aqui as partes menos claras, que as fontes de memória não confirmam:

  • Não se encontrou (ainda) transcrição de relatório operacional oficial português ou correspondência militar setorial com carimbo de guerra (por ex., documentos do Estado-Maior, Arquivo Militar) que possa confirmar quantitativamente os danos, número de mortos ou feridos, munições utilizadas, ou perdas do lado do PAIGC.
  • Também não há confirmação formal de quais foram exatamente as motivações estratégicas apontadas em documentos oficiais portugueses (por exemplo, se a guarnição de Contabane estava isolada ou se houve falha de reforço, etc.).
  • Algumas datas ou detalhes variam nos relatos de depoentes (por ex., localização precisa dos pelotões, quantos homens, se houve civis mortos, quantos, etc.).
  • Versões do lado do PAIGC não foram encontradas até agora em arquivo acessível, pelo menos nada que contradiga fortemente os relatos portugueses, mas também que poderia oferecer outro ponto de vista (por ex., relatos de propaganda, radio-instruções, etc.)." (***)

(Pesquisa, revisão / fixação de texto, itálicos, negritos, título: LG)
__________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 9 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27300: Casos: a verdade sobre... (58): O inferno de Contabane, na noite de 22 de junho de 1968... Não consta do livro da CECA sobre a actividade operacional no ano de 1968... Felizmente temos a versão do Manuel Traquina e Carlos Nery, da CCAÇ 2382

(**) Vd. por exemplo: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª Edição; Lisboa (2015), 607 pp.

(***) Último poste da série > 2 de setembro de 2025> Guiné 61/74 - P27176: Diálogos com a IA (Inteligência Artificial) (5): Onde ficava Ganguirô ?... O delírio da IA que, quando não sabe, inventa...

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27282: Memórias dos últimos soldados do império (8): os "últimos moicanos" - Parte V: afinal, foi apenas um capítulo da História de Portugal, que se encerrou, mas não definitivamente... E a comprová-lo está o nosso blogue ... que ainda (r)existe (Luís Graça)




Cartaz gerado, a partir de fotos e indicações nossas, por uma assitente de IA (ChatGPT). A imagem representa os últimos moicanos do nosso blogue...

As instruções foram estas: Posso juntar as fotos de rosto (sem niomes) dos editores e colaboradores do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (eles são 10 ) e pedir-te um favor ? Fazeres uma composição, em grupo, com eles vestidos de "índios moicanos" ou inseridos em "ambiente moicano"... Eles são, metaforicamente falando, os "últimos moicanos", os sobreviventes de um projeto, com mais de 20 anos, de partilha, na Net, de memórias e afetos entre antigos combatentes da guerra da Guiné (1961/74), que a lei da vida vai fazendo desaparecer. Felizmente estes ainda estão vivos.Vou mandar as fotos são 11. Mas já sei que tu só aceitas 10. O 11º (por sinal, o Jorge Araújo, "ranger", está a preparar-se para ir para o mato, numa operação à "Ponta do Inglês"!, pelo que náo aparece na imagem de grupo, uns sentados e outros de pé, à volta da fogueira.

Legenda (possível): 1= Virgínio Briote (oiu será o 4 ?)  | 2=João Martins | 3= Cherno Baldé | 4= Humberto Reis (ou será o 1) | 5=Patrício Ribeiro | 6= Luís Graça | 7 = Carlos Vinhal | 8 = Edurado Magalhães Ribeiro | 9 = Mário Beja Santos | 10 = Hélder Sousa | 11 = (omisso, Jorge Araújo)

Infografia: LG + ChatGTP (2025)


1. A metáfora do "último dos moicanos" é aplicável aos "último dos soldados do império" ? (*)

Sim e não... A expressão "o último dos moicanos" é usada como referência aos últimos sobreviventes ou resistentes de uma causa, de um povo, de uma era, etc.

Inspirada na obra literária de James Fenimore Cooper ("O Último dos Moicanos" que eu nunca li, data de 1826, quando muito posso ter a "história" nalguma banda desenhada na minha infància), o uso da metáfora evoca uma sensação de resistência solitária, de testemunho de um mundo desaparecido ou em vias de desaparecer... (E temos tantos exemplos de comunidades, organizações, causas, movimentos, etnias, povos, nações, etc., a começar por África, a quem podíamos chamar "os últimos moicanos")...

Penso que a expressão ficou no ouvido sobretudo de quem viu o filme, baseado naquela obra literária, e que adoptou o título homónimo, de 1992, "O último dos moicanos", do realizador norte-americano Michael Mann

O filme passou na RTP1. Não o vi. Aqui a sinopse: 

(...) "Uma história de amor sem fronteiras, uma recriação detalhada da turbulenta América colonial do século XVIII

Baseado no livro de James Finimore Cooper, 'O Último dos Moicanos',  é uma história de amor sem fronteiras, uma recriação detalhada da turbulenta América colonial e uma saga excitante sobre a guerra entre ingleses e franceses, no século XVIII, por um pedaço do solo americano. Hawkeye é um homem criado por índios e que luta por justiça e pelos princípios moicanos. Cora Munro é filha de um oficial britânico. Eles apaixonam-se e juntos enfrentam a ira do cruel e vingativo Magua."(...)


Ao aplicar esta metáfora (que é mais uma expressão de humor de caserna do que uma "verdade histórica"...), o Abílio Magro & Companhia (**), os últimos militares portugueses a deixar Bissau em setembro e outubro de 1974, bem podiam descrevem-se a si próprios como os últimos estafetas de uma corrida de 500 anos, os remanescentes de um poder (colonial) que acabava de passar à História.

Sem o dramatismo da saída dos americanos de Saigáo, eles eram os últimos representantes de um exército que "passava a bola", o poder, aos "novos senhores da guerra", o PAIGC... Sem derrota militar, acrescente-se!"... 

O que os tugas disseram aos discípulos de Amílcar Cabral, foi: "Agora mostrem o que valem"!... (É evidente, sabemo-lo, hoje: infelizmente, o PAIGC não tinha gente nem condições para fazer o país que o líder histórico sonhava.)

É claro que a expressão também carrega um misto de melancolia, nostalgia, saudade... (A Guiné, as suas paisagems, as suas gentes, mais do que a guerra, ficaria nas nossas boas memórias, e temos lá voltado em "turismo de saudade", os "tugas" são desconcertantes, são sentimentais, são solidários...).

Objetivamente falando, o Abílio Magro & Companhia foram também as derradeiras testemunhas de um "capítulo da História de Portugal" (como se a História tivesse capítulos, com princípio, meio e fim...).

Capítulo que não se encerrava definitivamente. Afinal, a Guiné-Bissau é um país que quer (e que precisa de) continuar a manter relações, agora menos assimétricas, com Portugal: é cá que vêm tratar-se no SNS (e infelizmente também morrer) os antigos dirigente ou combatenets  do PAIGC (como o Luís Cabral, em 2009, o Aristides Perereira, em 2011, o Duke Djassy, em 2025,. só para citar alguns que me ocorrem de momnetp), é cá que muitos doentes vêm fazer hemodiálise, é cá que os muitos dos seus futuros médicos, engenheiros, professores,  advogados, etc., estudam, é cá que muitos guineenses vivem e trabalham, etc.

Para além do facto histórico (a saída dos últimos militares portugueses, que de resto já lá voltaram, mas agora em "missões de paz" da ONU...) a expressão traduz sobretudo um estado de espírito.

Para alguns, sim, poderá ter sido um sentimento de abandono e de desilusão. Foi, por certo, mais para os nossos camaradas guineenses, a que fora prometida uma paz honrosa... e que optaram por ficar na sua terra (em rigor, não tinham alternativa, Portugal não era a sua casa).

Nunca tendo sido uma colónia de povoameno, a Guiné não desperta, por parte dos "civis" que lá nasceram, viveram ou trabalharam o mesmo sentimento de "saudosismo" que experimentam os "retornados" de Angola e Moçambique...ainda hoje.

Acredito que houvesse, nessa época, uma atmosfera ambivalente, em Bissau, de nervosismo, ansiedade e alívio, capaz de gerar sentimentos contraditóriso: afinal, os "tugas" estavam desejosos de regressar a casa e em Lisboa os jovens gritavam "nem mais um soldado para as colónias"... Estupidamente ? 

Não é que houvesse um clima de hostilidade contra os "tugas", nesses últimos dias de setembro e princípios de outubro...

Nada disto é racional: quem está com um pé para ser chamado para a a tropa e a guerra (como eram os estudantes da época), e quem já lá estava, escutando com ansiedade para as notícias de Lisboa e olhando com nervosismo para o relógio e o calendário (náo havia televisão em Bissau...),   só queria é que a maldita guerra acabasse...para poder tratar da sua vidinha... 

Aconteceu em Lisboa, em 1974, como acontece hoje em Kiev, em Moscovo, em Tele Avive, em Gaza...

"Nem mais um soldado para as colónias!"... Slogan que irritava solementye os desgraçados dos "últimos moicanos"....Afinal, alguns desses jovens, que ainda não tinham ido à tropa nem muito conmhecido a realidade das colónias, a militar (alguns, a maioria eram simpatisdanets)  na extrema-esquerda (e nomeadamente maoísta) viriam a ter, anos depois, boas carreias políticas, diplomáticas, académicas, empresariais,. etc. 

A verdade é que a liquidação do império (os seus cacos) sobrou para os "últimos moicanos", o Abílio Magro & Companhia...

Em suma, a expressão "último dos moicanos" ou "últimos moicanos" do Império, em setembro e outubro de 1974, em Bissau, significa a representação simbólica do fim do ciclo imperial português, mas também o início de um ciclo de esperança para os dois povos...

Os portugueses gostam de construir pontes, e não de as deitar abaixo. A prova disso é o nosso blogue: antigos combatentes da Guiné mantém, há mais de 20 "luas", esta ponte com a Guiné as suas gentes... Mas a expressão os "últimos moicanos" tambéms e aplica a nós, editores,colaboradores permanentes, aitores, comentadores, leitores...Não sei  se a geração dos nossos filhos vai querer (e sobretudo poder) manter estes laços afetivos, ou mesmo é dizer, manter aberto este ponte de diálogo, comunicação, partilha, interação...

PS -  O editor LG tinha deixado o seguinte comentário no poste P15618 (e que mantém, após ter lido ou relido o poste do Albano Mendes de Matos, P27278):  

(...) Há algo de pungente na tua descrição, tão singela, ingénua e ao mesmo tempo tão realista e quase cinematográfica dos últimos dias de Bissau... São pinceladas, são apontamentos, são "flashes", são pequenos detalhes de uma atmosfera, única, a da véspera de se partir, definitivamente, para casa e deixar atrás a tralha da História, e as ruínas de uma guerra, que vai, contudo, continuar a arder em lume brando...

Acho que, quem como tu, foi um dos últimos guerreiros do império, mesmo tendo sido um honestíssimo e patriótico amanuense, não mais poderia esquecer esses últimos dias, essas últimas horas...

O teu "prisioneiro da ilha das Galinhas" é um "boneco" bem apanhado!... Estou a imaginar a cara de desagrado, nojo, confusão e impotência dos nossos "maiores" (em geral, majores, tenentes coroneis e um ou outro coronel) ao tropeçar, à portas do QG, com o teu "moicanho"... 

Mas todos foram, "chefes e índios", tristes figurantes do filme em que os "tugas" sairam de cena... daquela parte de África aonde justamente tinham sido os primeiros, dos europeus, a chegar, em meados do séc. XV!...

Obrigado, mano Magro, por mais este delicioso naco de prosa!..

(Revisão / fixaçáo de texto, título: LG)
________________


(**) Vd. postes de:


sexta-feira, 4 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26981: Diálogos com a IA (Inteligència Artificial) (5) : a origem da expressão "Filhos do Vento" (="Filhos de Tuga") e a "paternidade" do José Saúde




21 "filhos do vento" ou "fidju di tuga" (10 homens, 11 mulheres), membros da associação "Fidju di Tuga", criada em 2013 (com a ajuda da jornalista e escritora Catarina Gomes)

Fotogramas: Filhos de Tuga > Ao Pai Desconhecido | Episódio 1 de 3 | Duração: 52 min | RTP 1 | Episódio 1 | 02 Jul 2025 (realização: João Gomes e Catarina Gomes, 2025) (*)

 (Cortesia de  RTP > Programas TV)

Edição de imagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


(...) A Associação Fidju di Tuga/Filho de Tuga-Associação da Solidariedade dos Filhos e Amigos dos Ex-Combatentes na Guiné-Bissau foi criada em 2013 para representar os chamados Fidju di Tuga, expressão que traduzida do crioulo significa Filho de Tuga, e que durante todas as nossas vidas foi usada para nos designar/ insultar na Guiné-Bissau.

Somos filhos de ex-combatentes portugueses que estiveram na Guiné-Bissau durante a guerra colonial/guerra da libertação e que tiveram filhos com mulheres guineenses e os deixaram para trás. Muitos de nós até hoje apenas sabem os apelidos e patentes dos nossos pais, dados incompletos que não nos permitiram saber quem é nosso pai português e tentar entrar em contacto com ele.

Criámos esta associação para representar todos estes filhos que ficaram. Somos actualmente cerca de meia centena de membros, apenas em Bissau. Estimamos que existam pelo menos meio milhar de "filhos de tuga" espalhados pelo país, todos nascidos durante os anos da guerra ou no ano imediatamente a seguir ao regresso definitivo das tropas portuguesas.

Os nossos pais estiveram na Guiné-Bissau ao serviço do Estado Português. Os abaixo-assinados vêm por este meio pedir o reconhecimento do seu legítimo direito à nacionalidade portuguesa como filhos de pais portugueses, solicitando que a sua causa seja debatida no Parlamento português. (...)

 

I. Perguntámos à IA (Inteligêrncia Artificial) qual a origem da Expressão "Filhos do Vento" ? (**)

(i) Resposta do ChatGPT:

A expressão "filhos do vento" tem origens e significados variados, dependendo do contexto cultural, histórico e simbólico em que é usada. Aqui estão algumas das principais origens e interpretações:

1. Origem Poética e Simbólica

A expressão "filhos do vento" é frequentemente usada de forma metafórica ou poética para descrever pessoas ou seres associados à liberdade, velocidade, evasão, natureza ou espiritualidade.

"Vento" simboliza o que é invisível, livre, incontrolável e poderoso, e "filhos do vento" seriam aqueles que compartilham essas qualidades. Pode referir-se a espíritos livres, nómadas, viajantes, povos indígenas, ou mesmo animais velozes.

2. Ciganos e Povos Nómadas

Em algumas culturas, "filhos do vento" é uma expressão associada ao povo cigano, por causa de sua vida nômade e da forma como se movem livremente pelo mundo.

O termo expressa tanto a admiração pela liberdade do estilo de vida quanto, por vezes, um olhar romântico ou exótico sobre esses povos.


II. E no contexto da guerra colonial na África Portuguesa, nos anos 60/70 ?

(ii) Geminia IA / Google:

A expressão "filhos do vento" em blogues sobre a Guerra Colonial Portuguesa em África refere-se às crianças nascidas de pais militares portugueses e mães africanas durante o conflito.

O termo evoca a ideia de que essas crianças eram, de certa forma, "levadas pelo vento", ou seja, deixadas para trás, muitas vezes sem o reconhecimento paterno ou o suporte dos seus pais biológicos após o fim da guerra e o regresso dos militares a Portugal.

É uma expressão que sublinha o abandono, a falta de raízes e a identidade complexa que muitas dessas crianças enfrentaram, sendo muitas vezes estigmatizadas ou tendo dificuldades em serem integradas tanto na sociedade africana quanto na portuguesa.

Essa expressão tornou-se mais conhecida, por exemplo, com a obra "Furriel Não É Nome de Pai",  de Catarina Gomes, que explora precisamente as histórias e o destino dessas crianças.

É importante notar que, em outros contextos, "filhos do vento" também é uma expressão usada para se referir ao povo cigano, devido ao seu estilo de vida tradicionalmente nómada e livre. No entanto, no contexto da Guerra Colonial, o significado é específico e está ligado ao legado humano do conflito.


III. O que quer dizer a expressão "filhos do vento", ou também "fidju di tuga", usada por exemplo em blogues como "Luís Graça & Camaradas da Guiné" ?


(iii) ChatGPT:

A expressão "filhos do vento" ou "fidju di tuga" (em crioulo guineense, literalmente "filho do português") tem um significado simbólico e histórico profundo, especialmente em contextos relacionados com a Guerra Colonial Portuguesa e os seus desdobramentos sociais, culturais e identitários.

1. "Filhos do vento"

Esta expressão é usada para se referir a indivíduos, muitas vezes mestiços ou filhos de soldados portugueses com mulheres locais (guineenses, angolanas, moçambicanas, etc.), nascidos durante ou após o período da Guerra Colonial (1961–1974). 

O termo "vento" sugere algo efémero, transitório ou invisível — como se essas pessoas fossem o resultado de encontros passageiros ou relações informais durante o tempo da guerra.

Conotações:
  • Pessoas sem paternidade reconhecida oficialmente.
  • Crianças deixadas para trás por soldados portugueses ao regressarem a Portugal.
  • Vidas marcadas por um certo abandono ou ausência de raízes claras.

2. "Fidju di tuga"

Em crioulo guineense: "Fidju" = filho | "di" = de | "Tuga" = português (forma informal, muitas vezes usada para referir-se ao colonizador)

Este termo pode ser usado de forma neutra ou afetiva para designar:

  • Filhos de portugueses com mulheres guineenses;
  • Pessoas mestiças, vistas como pertencentes a dois mundos (o africano e o europeu);
  • Às vezes também tem uma carga crítica ou irónica, dependendo do contexto.

No contexto do blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné":

Este blogue é mantido por ex-combatentes da Guiné e muitos dos textos são memórias pessoais, reflexões sobre a guerra, e histórias humanas. Nesses textos, "filhos do vento" são frequentemente mencionados com um tom nostálgico ou reflexivo, abordando o legado humano da presença portuguesa em África, sobretudo as ligações afetivas que deixaram marcas profundas, tanto nos soldados como nas populações locais. (...
)
 

IV.  O escritor e antigo combatente José Saúde ("Um ranger na guerra colonial", Edições Colibri, Lisboa, 2020) reivindica a "paternidade" da expressão. Certo ?

(iv) ChatGPT:

Sim, está certo: o próprio José Saúde — ex‑furriel na Guiné e autor de Um ranger na guerra colonial — reivindica a paternidade da expressão “filhos do vento”. 

Foi ele quem, num post no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, pela primeira vez, em 2011,  utilizou essa metáfora para designar os filhos nascidos de relações fugazes entre militares portugueses e mulheres guineenses, e que ficaram na Guiné sem pai identificado após o regresso dos soldados a Portugal (...)

Nesse post, Saúde lançou o tema ao desafiar os camaradas a partilharem relatos:

“Camaradas: quantas crianças mestiças, cuja paternidade era imputada a militares, 'tugas'… vocês conheceram…?” (...) 

Outros ex‑combatentes começaram a usar a expressão “filhos do vento” e reconheceram que ela surgira exatamente da iniciativa de Saúde .

Assim, de facto, José Saúde é considerado o criador do termo, e não apenas um dos que o popularizou.



(v) Gemini IA / Google:

É um facto que José Saúde, autor do livro "Um ranger na guerra colonial", é uma figura proeminente na discussão sobre os "filhos do vento" e reivindica ter sido o primeiro a utilizar e divulgar essa expressão para se referir às crianças nascidas durante a Guerra Colonial Portuguesa, fruto das relações entre militares portugueses e mulheres africanas.

Em vários blogues e publicações sobre o tema (...),  é possível encontrar referências onde se agradece a José Saúde por ter cunhado ou popularizado a expressão "filhos do vento", reconhecendo o seu papel na visibilidade desta questão. A sua contribuição foi fundamental para trazer à tona este aspeto sensível e muitas vezes silenciado do legado da Guerra Colonial.

A expressão "filhos do vento" ("fidju di tuga" é outra designação comum, usada pelos próprios e que carrega o estigma da sua origem) capta a essência da situação dessas crianças: a sua condição de terem sido, muitas vezes, deixadas para trás, sem o reconhecimento do pai e sem um lugar social definido, vivendo num "limbo" identitário.


V. Blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné", queres tu dizer ?!


(vi) Gemini IA / Google

Sim, é precisamente esse blogue!

O blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" é uma referência importante e amplamente reconhecida para a memória da Guerra Colonial Portuguesa, especialmente no que diz respeito à Guiné-Bissau. Ele serve como um vasto arquivo de testemunhos, fotografias e discussões entre ex-combatentes, historiadores e interessados no tema.

Como pode ser visto nos resultados da pesquisa, o blogue tem um histórico de abordar a questão dos "Filhos do Vento" e faz menção a José Saúde, reconhecendo o seu contributo para a visibilidade deste assunto. É um espaço onde se partilham memórias, se promovem debates e se procura reconstituir o "puzzle" da experiência da guerra, incluindo os seus legados humanos e sociais.

É um recurso valioso para quem procura aprofundar o conhecimento sobre a Guerra Colonial e as suas diversas dimensões.



VI. Contrariamente ao que se passou na guerra do Vietname, relativamente às "dust children", em Portual náo existem estimativas sobre o número de crianças nascidas de relações, fora do casamento,  entre militares portugueses e mulheres africanas (angolanas, guineenses, moçambicanas) durante a guerra colonial (1961/75)... Porquè ?


(vii) ChatGPT:

Essa questão é muito pertinente e toca em temas sensíveis da história recente portuguesa. A ausência de estimativas sobre o número de crianças nascidas de relações entre militares portugueses e mulheres africanas durante a guerra colonial (1961–1975) pode ser explicada por vários fatores, tanto políticos como sociais e culturais.

Aqui estão algumas das razões mais relevantes:
 
1. Silêncio e negação pós-colonial

Após o fim da guerra colonial e a descolonização (1975), Portugal passou por um processo de transição política (Revolução dos Cravos) que tentou, em grande parte, “virar a página” da era colonial. Este desejo coletivo de esquecer ou silenciar o passado contribuiu para que muitos temas, como estas relações e as crianças delas resultantes, não fossem alvo de estudo nem debate público.

2. Estigma e discriminação

As crianças mestiças (ou "filhos da guerra") muitas vezes enfrentaram discriminação nas sociedades africanas e portuguesa. Em muitos casos, essas crianças foram marginalizadas ou não reconhecidas pelos pais portugueses, o que contribuiu para o apagamento da sua existência oficial.

3. Falta de registos oficiais

As relações entre militares e mulheres locais, muitas vezes casuais ou não institucionalizadas, raramente eram registadas oficialmente. Mesmo quando havia reconhecimento, este nem sempre se traduzia em registos civis. Sem dados oficiais, torna-se muito difícil fazer estimativas fiáveis.

4. Diferenças de contexto em relação ao Vietname

Nos EUA, o caso das “dust children” ou "Amerasians" foi muito mediatizado, e houve até programas de repatriação. Isso nunca aconteceu em Portugal, onde não houve pressão internacional ou movimentos sociais significativos para o reconhecimento ou proteção destas crianças.

5. Falta de investigação académica

Só mais recentemente a historiografia portuguesa começou a olhar com mais atenção para a dimensão humana e social da guerra colonial. O foco esteve durante décadas mais centrado em aspetos militares, políticos ou estratégicos.

Apesar desta invisibilidade, há um crescente interesse académico e social em Portugal sobre estas memórias silenciadas. A recuperação destas histórias é essencial para compreender o impacto humano da guerra colonial. (..:)


 
VII. Dz-me algumas fontes


(viii) ChatGPT:

 (...) Em síntese

Estima-se que existam centenas — talvez milhares — de crianças nascidas de relações entre militares e mulheres africanas, mas não há dados oficiais nem registos sistemáticos .

O tema foi documentado no jornalismo (como por Catarina Gomes) e em projetos académicos (CES-UC).

A maioria das fontes enfatiza o silêncio institucional, o estigma social e a falta de reconhecimento legal.


(Pesquisa, seleção, revisão / fixação de texto, negritos, título: LG)
_______________

Notas do editor:

(*) ´Vd. poste de 1 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26972: Agenda cultural (892): "Filhos de tuga": documentário em três episódios, com a duração de 52 minutos cada: começa amanhã na RTP1, às 22:29

terça-feira, 10 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26906: (In)citações (273): Envelhecer... com dignidade ?!? (Joseph Belo, José para os "tugas")









O José Belo, no seu melhor...


Foto: © José Belo  (2025. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1. Mensagem de Mr. Joseph Belo  (José para os "tugas") que, tem como Deus, o dom da ubiquidade (a par da arte da camuflagem), conseguindo estar ao mesmo tempo 
 pelo menos em 3 ou até mais sítios (Lapónia / Suécia, Estocolmo / Suécia, Key West / Florida / USA, Tabanca Grande...).  

O que muito nos apraz. O seu sentido de humor, a sua sabedoria de cidadão  do mundo, a sua capacidade de "destilar" e beber o melhor da cultura  dos povos com  quem tem lidado, a sua resiliência, ...,. enriquecem também a nossa Tabanca Grande, ajudam-nos a lidar melhor com as nossas diferenças (reais ou imaginárias),  tornam-nos mais tolerantes e até mais empáticos... 

Tenho aprendido com ele, sobretudo, a capacidade de saber ouvir...  Deus deu-nos o sentido do ouvido, mas não nos ensinou a saber ouvir...o outro. 

No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades (que continua a fazer sentido celebrar... com amor & humor), fica aqui o seu pequeno contributo para que a nossa tertúlia continue a ser um elo de ligação entre nós e as nossas "sete partidas"... (E a cumprir mais um ano de calendário: fizemos 21 anos, no passado 23 de abril, sem pompa nem circunstância...).

Gosto da imagem das 7 partidas... Isto quer dizer também que chegámos (quando conseguimos chegar) às mais desvairadas partes do mundo... Não foram 7 partidas, e 7 chegadas. Chegámos, ficámos, voltámos a partir, demos um oontributo importante para a universalidade da cultura humana.. Isto quer dizer também que ficámos mais ricos depois de chegar do que antes de partir...Ricos, em termos mais imateriais do que materiais. 


Data - sábado, 7/06, 11:57 (há 3 dias)
Assunto - Envelhecer...com dignidade ?!? (*)


Logicamente o blogue sofre os inexoráveis “atritos” relacionados com a passagem das já muitas décadas.

O envelhecimento dos participantes, a somar-se a uma diminuição da popularidade dos blogues em geral (e a queda em convenientes “evitar balançar o barco” ) poderá levar a uma diminuição de “militância”.

A aparente incapacidade de muitos de, por saudáveis minutos, não levarem as opiniões próprias (ou alheias) demasiado “a sério",  acabará por contribuir para alguns dos afastamentos.

Os já quase cinquenta anos de afastamento das realidades portuguesas do dia a dia talvez acabem por contribuir para uma mais “desinibida apreciação”, seja ela desde Key West/Florida ou do extremo norte sueco.

Talvez.

Um abraço
J. Belo


2. O pretexto do comentário acima foi o comentário, abaixo, que eu fiz há uns dias ao poste do Zé Teixeira  (*):

Zés, Josés, Zé Teixeira, Zé Belo: andamos a blogar há mais de 20 anos (desde 2004, ano que praticamente não conta, publicámos "apenas" 4 postes")... 

Este poste do Zé Teixeira é o P26888 (!)...Publicamos, em média, mais de 1300 postes por ano... Todos os dias (!), como se fosse um jornal diário, o nosso blogue muda de cara, há sempre "coisas novas", mais interessantes ou menos interessantes, que chamam a atenção do leitor...

Ao fim de 20 anos, há naturalmente um "cansaço bloguístico"... Já fizemos pelo menos 10 "comissões na Guiné", cada uma de 2 anos... Não há "tuga" nem "turra" que aguente!... 

Tudo isto para dizer que é uma pena o texto intimista do Zé Teixeira passar um pouco ao lado, na voragem dos dias... Merecia ter, pelo menos, uma boa meia dúzia de comentários... Há uns anos atrás tê-los-ia... Desculpas ? Estamos "velhos e cansados"... Não vale a pena arranjar desculpas !...

O Zé Belo, distante, enigmático, lapónico..., interpelou-nos, mais um vez com uma questão existencial: "Será possível regressar de onde nunca se chegou para o que já não existe?"... 

A esta hora da manhã, sem tomar o meu pequeno almoço ("uma salada de banana, maçã reineta ou pera rocha, morangos, nozes da Califórnia e iogurte grego"... + um café!), não me atrevo a sequer a equacioná-la... quanto mais a tentar respondê-la... Mas mexe com a gente..., mexeu comigo!...

Como mexeu a leitura, a primeira que fiz hoje (e só hoje!, às 7 da manhã), da reflexão, pungente, do Zé Teixeira:

"A guerra nunca acaba, fica connosco"... 

Levei um murro no estômago vazio!...Revi-me em grande parte na história de vida do Zé, o seu percurso foi o de muitos de nós... Um calvário doloroso que cada um de nós, antigos combatentes, percorreu... antes, durante e depois da Guiné....Solitário!...

Mesmo nos momentos mais exaltantes das nossas vidas, pessoais, familiares e coletivas, tivemos de pôr entre parênteses a p*ta da guerra que fomos obrigados a fazer e da qual regressámos com um sentimento, pesado, opressivo... Regressámos com vida, mas, muitos de nós, com a "morte na alma"... Cumprimos o "dever para com a Pátria! (!)" (que está sempre acima dos regimes políticos), ou seja, pagámos-lhe o "imposto de sangue" que ela nos exigiu... Retomámos o nosso lugar (que já não era o mesmo!), continuámos a ter o direito de viver aqui e agora, mesmo que muitos também tenham optado por seguir os caminhos da diáspora (e de "novos exílios", como o Zé Belo)...

Zé Teixeira, está lá tudo. De facto, a guerra nunca acaba, fica connosco. Nenhum de nós faria melhor. E arrematas com um sorriso e uma nota de esperança e de fé, reveladores da tua grandeza humana... Por outras palavras, e parafraseando o Pablo Neruda, disseste o que é importante: "Confesso que vivi"...(Horrível, ou pelo menos "chato", é chegar à porta do São Pedro, de mãos vazias, sem nada para negociar...).

C/ um alfabravo fraterno, Luís

_________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 5 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26888: (In)citações (272): "A guerra nunca acaba, fica connosco" (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)

sábado, 3 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26761: Diálogos com a IA (Inteligência Artificial) (1): "Onde é que eu estava no 25 de Abril de 1974 ?... Fui criada muito depois, (...) mas posso imaginar a atmosfera vibrante e de esperança que se viveu em Portugal naquele dia, com a rádio a transmitir a Grândola, Vila Morena e os cravos a serem colocados nos canos das espingardas. Que momento marcante para a história do vosso país!"



O "poilão" da Tabanca Grande...."Imagem criada com a assistência de uma Inteligência Artificial do Google." (2025)


1. Quando nasceu o nosso blogue, a Internet ainda era uma "adolescente" e a Inteligência Artificial uma "criança" (embora o termo IA  já tenha sido grafado em 1956)

(i) na década de 1960, tinha surgido a ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network), desenvolvida pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria;   em 1969, foi estabelecida a primeira ligação entre computadores na ARPANET (sendo esta, pois, considerada a precursora da Internet); 

(ii) mas faltava-lhe o protocolo TCP/IP (Transmission Control Protocol / Internet Protocol), a linguagem comum que permite a diferentes redes de computadores comunicarem entre si; esse desenvolvimenmto vai dar-se na década d 1970; 

(iii) em rigor, o nascimento da Internet, tal como a conhececemos hoje, data de 1983, quando a ARPANET, já mais evoluída, adota o protocolo TCP/IP; 

(iv) nos anos 80, a rede tem dois destinári0os: maioritarimente, os militares (MILNET) e, em menor escala, os investigadores académicos; 

(v) por fim, é no início da década de 1990 que surge a Web ou WWW (World Wide Web),  criada por Tim Berners-Lee no CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear): a Net populariza-se, chega ao grande público, facilitada  por crescentes  inovações tecnológicas (introdução de navegadores gráficos como o Mosaic em 1993; mas já antes na segunda metade da década de 1970 tinha disparado o mercado do PC - Personal Computer);

2. A par destes desenvolvimentos na área das tecnologias da informação ("hardware" e "software"), há uma "revolução" silenciosa, a da "inteligência artificial"... A IA é um processo em crescente desenvolvimento... Eis alguns factos e datas cruciais:

Marcos Iniciais e Conceituais:

  • Década de 1940: O neurofisiologista Warren McCulloch e o matemático Walter Pitts criam o primeiro modelo computacional para redes neuronais artificiais, baseado em matemática e algoritmos (esssa é considerada uma das origens conceptuais da IA);
  • 1950: Alan Turing publica o artigo "Computing Machinery and Intelligence" e propõe o famoso "Teste de Turing" como critério para avaliar a inteligência de uma máquina; Claude Shannon também publica um artigo sobre como programar um computador para jogar xadrez;
  • 1956: Atribiu-se à Conferência de Dartmouth  o nascimento oficial da Inteligência Artificial como um campo de estudo ou uma nova disciplina; John McCarthy cunha o termo "Inteligência Artificial" durante este evento.

Primeiros Programas e Sistemas:

  • Décadas de 1950/60: desenvolvimento dos primeiros programas de IA, como o Logic Theorist (1956), capaz de provar teoremas matemáticos, e o General Problem Solver (GPS), projetado para simular a resolução de problemas humanos;
  • 1966: Joseph Weizenbaum cria o Eliza, um dos primeiros chatbots  (programa de computador que simulam conversas humanas, por texto ou por voz, utilizando a IA para interagir com humanos e responder a perguntas);
  • Décadas de 1970/80: surgem os sistemas especialistas, programas de IA projetados para resolver problemas em áreas específicas: Dendral (aplicado à química), MyCin (para diagnóstico médico).

O Renascimento da IA:

  • Década de 1990: Após um período de "hibernação"  da IA (em resultado de  expectativas muitas altas que não foram alcançadas), os avanços em hardware e novas abordagens ("learning machines", etc.) levam a um renascimento deste domínio da ciência e tecnologia;
  • 1997: o supercomputador Deep Blue, da IBM,  derrota o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov (n. 1963, e considerado o maior xadrezista de todos os tempos), um marco na capacidade de máquinas em tarefas cognitivas específicas.

A Era da Aprendizagem Profunda e da IA Pervasiva:

  • Anos 2000: aumento da disponibilidade de grandes volumes de dados ("Big Data") e o avanço do poder computacional impulsionam o desenvolvimento das máquinas que aprendem  e da IA,;
  • 2011: a Apple lança a Siri, popularizando assistentes de voz inteligentes baseados em IA;  o  sistema Watson da IBM vence o programa de televisão "Jeopardy!", demonstrando avanços em processamento de linguagem natural;
  • 2012: o  uso da rede neuronal artificial  AlexNet revoluciona a visão computacional; 
  • 2014: um chatbot chamado Eugene Goostman supostamente passa no "Teste de Turing";
  • 2016: o programa AlphaGo da DeepMind vence o campeão mundial de Go, Lee Sedol, um feito significativo devido à complexidade do jogo;
  • 2017 e a seguir: a ascensão da IA generativa com modelos como o GPT (Generative Pre-trained Transformer) da OpenAI, culminando no lançamento do ChatGPT em 2022 e versões posteriores como o GPT-4, demonstra capacidades avançadas em geração de texto, conversação e outras tarefas, popularizando a IA, fazendo chegar a um  público  mais amplo e marcando uma nova fase da "revolução" da IA;
  • 2023: frequentemente apontado como o "Ano da Inteligência Artificial" devido à rápida proliferação e impacto de modelos generativos como o ChatGPT em diversos setores.

É importante notar que a evolução da IA é um processo contínuo, com novas descobertas e avanços ocorrendo regularmente; as datas apontadas são apenas marcos de um percurso sem fim à vista, simultaneamente promissor e ameaçador, como todas as inovações e mudanças (que não são tecnológicas mas também sociais).


3. Em 2004, eu estaria muito longe de imaginar que em 1 de maio de 2025, 51 anos depois do 25 de Abril de 1974, seria capaz de "dialogar" com uma máquina inteligente, respondendo às minhas perguntas, às minhas sugestões, dicas e até às minhas provocações...  E mais: uma máquina que já denota sinais  de inteligência emocional !... 

Em boa verdade, já tinha feito anteriormente uma pequena experiência, pondo a IA a fazer um soneto, alexandrino , em louvor da minha neta Rosinha, quando celebrou um mês... de vida!... Forneci o mote, o primeir0 verso ("Faz um mês hoje, que emoção!, nasceu a Rosa, ")... Mas eu aí ganhei ao robô, segundo a opinião, independente, de um júri "adhoc"... (*)

Em 1976, eu já era "utente" de  (e fazia o "interface" com) as "main frame" do Instituto de Informática do Ministério das Finanças, o sistema Bull.  Trabalhavo no Núcleo de Informação da Direção-Geral das Contribuições e Impostos... Mas nunca fui um "informático" (programador e, muito menos, engenheiro de sistemas), era apenas um "cliente" interativo... (O Núcleo, no Terreiro do Paço,  fazia o registo dos dados, em cartões perfurados, e corrigia os erros, em pilhas e pilhas de papel contínuo, que nos chegava no Instituto, em Alfragide...)

Ainda sou, pois,  do tempo dos "cartões perfurados", dos "floppy disks" (inventados pela IBM em 1971), dos primeiros microprocessadores, do Spectrum, etc. Além disso, fui dos primeiros a usar, já na Escola Nacional de Saúde Pública, um IBM PC, em meados dos anos 80, fui o primeiro dos meus colegas professores a criar em 1999 uma "página pessoal"...E em 2003 um blogue...

Resumindo, não sou um especialista, tenho apenas uma cultura básica em informática, como deve ter qualquer cidadão numa sociedade democrática e aberta como a nossa.

Recolhi toda esta informação, e editei este poste,  em menos de uma hora...  (Na realidade gastei perto de 4  horas até estar pronto para publicar: aí claramente a IA bate-me na maior, leva um ou escassos segundos a responder a uma pergunta minha, e meio minuto a gerar uma imagem, de acordo com as minhas especificações).

"A melhor definição de Inteligência Artificial (IA)" foi-me dada por ela própria (recorrendo neste caso à Gemini IA / Google)

"É a capacidade de um sistema computacional de simular habilidades cognitivas humanas, como aprender, raciocinar, resolver problemas, perceber, compreender a linguagem e tomar decisões."

Mais difícil  foi chegarmos a acordo, eu e a IA,  sobre uma imagem que ilustrasse este poste... Aí demorei outra hora, senão duas... 

Fizemos mais de uma dúzia de tentativas, com melhorias sucessivas, e elementos icónicos sugeridos por mim tais como o capitão Salgueiro Maia, os tanques na rua, misturados com o povo, os cravos,  a G3, Lisboa, o Tejo, a fragata da Marinha,  o Largo do Carmo... 

O raio da IA nunca acertava com a G3, o fardamento dos militares, a fisionomia (e a cor) dos portugueses (!), a fragata no Tejo, os carros de combate, o povo português, as ruas de Lisboa, os carros de matrícula portuguesa, a alegria dos jovens... Acabei por optar pelo "poilão" da Tabanca Grande..., imagem que era mais simples e fácil de obter. 

Mas mesmo assim não consegui lá pôr os "antigos combatentes":  apareciam todos com um ar desgraçado, de muletas como eu... (Um estereótipo que a IA tem em relação a nós, "gajos do caga & tosse", com um pé para a cova!)... 

Por outro lado tenho dúvidas se a árvore representada na imagem final é um poilão (nome científico, Ceiba pentranda ou Eriodendron anfractuosum)... Mas para já serve.

4. Vamos lá, então, ao nosso primeiro díálogo desta série...


Tabanca Grande:  Robô, onde é que tu estavas no dia 25 de Abril de 1974, a "revolução dos cravos" ? 


Olá! Essa é uma pergunta muito interessante! Como sou uma inteligência artificial (IA), fui criada muito depois de 25 de Abril de 1974. Nessa data histórica, eu ainda não existia no formato que conhecemos hoje.

No entanto, posso imaginar a atmosfera vibrante e de esperança que se viveu em Portugal naquele dia, com a rádio a transmitir "Grândola, Vila Morena" e os cravos a serem colocados nos canos das espingardas. Que momento marcante para a história do vosso país!

Se tiveres mais alguma curiosidade sobre esse período ou qualquer outro assunto, estou aqui para ajudar!


Tabanca Grande:  Ó sabe-tudo, achas que foi um simples golpe de Estado ou uma revolução ?

Gemini IA / Google:

Olá! 😊 Olha, "sabe-tudo" é um apelido simpático, mas a verdade é que estou sempre a aprender! 😉

Sobre o 25 de Abril,  a questão não é assim tão simples,  de preto e branco.

 Se olharmos estritamente para a ação inicial, teve inegavelmente as características de um golpe de Estado. Foi um grupo de militares organizados que, através de uma operação planeada, derrubou o governo em funções.

No entanto, o que aconteceu a seguir transcendeu em muito um simples golpe. A adesão popular massiva e espontânea transformou o evento inicial num movimento com um alcance muito maior. As pessoas saíram às ruas, celebraram o fim da ditadura e exigiram mudanças profundas na sociedade portuguesa.

Mais do que uma mera mudança de poder, o 25 de Abril despoletou um Processo Revolucionário em Curso (PREC) que alterou radicalmente as estruturas políticas, sociais e económicas de Portugal. Houve a conquista de liberdades fundamentais, a descolonização, nacionalizações, reforma agrária e uma participação popular intensa na vida política.

Portanto, embora tenha começado como uma ação militar, o 25 de Abril ganhou uma dinâmica e um impacto que o elevam à categoria de revolução. Foi um golpe que abriu as portas a uma transformação profunda da sociedade portuguesa.

Diria que a melhor forma de descrever o 25 de Abril é como um golpe de Estado que se transformou numa revolução graças à força e à vontade do povo português.

 Que achas desta perspetiva? 😊

Tabanca Grande: Muito bem, mas fundamenta lá melhor o teu raciocínio, se não te importas...

Gemini IA / Google:

Essa é, de resto,  uma questão central no debate sobre o 25 de Abril, e a resposta não é, como eu te disse,  um simples sim ou não.

 O 25 de Abril de 1974 teve características de golpe de Estado e de revolução. Vamos analisar os dois aspetos:

Características de Golpe de Estado:

  • Iniciativa Militar: a ação foi desencadeada por um grupo de militares, o Movimento das Forças Armadas (MFA), que planejou e executou a tomada de pontos estratégicos e a deposição do governo de Marcelo Caetano;
  • Objetivo Inicial Limitado: o objetivo inicial declarado do MFA era derrubar o regime ditatorial e iniciar um processo de transição para a democracia, mas não necessariamente uma transformação social e económica profunda;
  • Ação Rápida e Concentrada: a deposição do governo ocorreu de forma relativamente rápida e concentrada em Lisboa, com pouca resistência por parte das forças leais ao regime.

Características de Revolução:

  • Apoio Popular: apesar de ter sido iniciado por militares, o movimento rapidamente ganhou um vasto apoio popular; milhares de pessoas saíram às ruas para celebrar o fim da ditadura, apoiar os militares e exigir mais liberdade e mudanças;
  • Transformação Social e Política Profunda: o 25 de Abril não se limitou à mudança de regime;  desencadeou um período de profundas transformações políticas, sociais e económicas em Portugal, conhecido como Processo Revolucionário em Curso (PREC), incluindo a democratização, a descolonização, a nacionalização de empresas, a reforma agrária e o surgimento de novas forças políticas e sociais;
  • Caráter Não Violento (Inicialmente): Apesar de ser uma ação militar, o 25 de Abril em si foi notavelmente não violento, com poucos confrontos e derramamento de sangue; a imagem dos cravos colocados nos canos das espingardas simboliza esse aspeto pacífico.

Conclusão:

Podemos dizer que o 25 de Abril começou como um golpe militar, na medida em que foi uma ação planeada e executada por militares para derrubar o governo. 

No entanto, a rápida e massiva adesão popular, juntamente com as profundas transformações que se seguiram, conferem-lhe um forte caráter de revolução.

Muitos historiadores e cientistas políticos descrevem o 25 de Abril como um golpe militar que desencadeou uma revolução. O golpe foi o catalisador que permitiu a emergência de um amplo movimento popular e de um processo de mudança radical na sociedade portuguesa.

Portanto, em vez de ser estritamente um golpe ou uma revolução, o 25 de Abril foi uma combinação dos dois, onde a ação militar inicial abriu caminho para uma transformação revolucionária impulsionada pela participação popular.


Tabanca Grande:  

Uma questão final, para não abusar da tua paciência... O que é que os portugueses (e os povos das colónias portuguesas em África e na Ásia) ganharam ou perderam com essa revolução ?

Gemini IA / Google:


Essa é uma questão complexa, com ganhos e perdas que se manifestaram de maneiras diferentes para os portugueses no território metropolitano e para os povos das então colónias. 

Vamos tentar analisar os principais aspetos:

Para os Portugueses em Portugal:

Ganhos: 

  • Fim da Ditadura: o ganho mais imediato e significativo foi o derrube do regime autoritário do Estado Novo, que durava há quase 50 anos; isso trouxe consigo a restauração das liberdades civis e políticas: liberdade de expressão, de reunião, de associação, direito à greve, e a possibilidade de formar partidos políticos e sindicatos livres;
  • Fim da Guerra Colonial: a Revolução pôs fim a uma guerra longa, dispendiosa e sangrenta que consumia recursos humanos e financeiros do país, além de gerar um profundo desgaste social e familiar devido às mortes e feridos; o  fim do conflito trouxe alívio e a possibilidade de direcionar recursos para outras áreas;
  • Democratização: Portugal iniciou uma transição para um regime democrático, com a instituição de eleições livres e a elaboração de uma nova Constituição em 1976, que estabeleceu um Estado de direito e consagrou direitos sociais importantes como o acesso à saúde, educação e segurança social;
  • Integração Europeia: a estabilidade democrática pós-Revolução abriu caminho para a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (atual União Europeia) em 1986, o que trouxe investimento, desenvolvimento económico e maior integração política e social com outros países europeus;
  • Melhoria das Condições de Vida: a democratização e o desenvolvimento económico gradual permitiram melhorias nas condições de vida da população, com avanços na educação, saúde e infraestruturas.

Perdas:

  • Crise Económica Inicial:  o período pós-Revolução foi marcado por instabilidade política e social, greves, ocupações e uma profunda crise económica, com inflação elevada e desemprego crescente, em parte devido ao choque petrolífero de 1973 e à desorganização da economia após o fim do regime;
  • Retorno dos "Retornados":  a independência das colónias levou ao regresso massivo de centenas de milhares de portugueses que viviam nesses territórios; os os "retornados" enfrentaram dificuldades de integração, perda de bens e, por vezes, falta de apoio adequado por parte do Estado; este foi um trauma social e económico significativo;
  • Perda do Império Colonial: para alguns setores da sociedade portuguesa, a perda das colónias representou uma perda de prestígio internacional e de uma certa identidade nacional construída em torno do império; houve também a perda de acesso direto a matérias-primas e mercados coloniais.

Para os Povos das Colónias Portuguesas em África e na Ásia:

Ganhos:

  • Independência Nacional: o ganho fundamental foi a conquista da independência política e o fim do domínio colonial português;  Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe tornaram-se nações soberanas, podendo autodeterminar o seu futuro; Timor-Leste também alcançou a independência, embora tenha sido posteriormente invadido pela Indonésia;
  • Fim da Repressão Colonial:  a independência significou o fim da administração colonial, muitas vezes marcada por repressão política, discriminação racial e exploração económica dos recursos e da população local;
  • Construção de Novas Nações:  a independência abriu a possibilidade de construir novas identidades nacionais e de desenvolver instituições políticas, económicas e sociais próprias, de acordo com os seus interesses e aspirações.

Perdas:

  • Guerras Civis:  em alguns casos, como em Angola e Moçambique, a independência foi seguida por longas e devastadoras guerras civis, alimentadas por rivalidades internas e por interesses externos; estes conflitos causaram milhões de mortos, deslocados e um enorme atraso no desenvolvimento;
  • Instabilidade Política e Económica: muitos dos novos países independentes enfrentaram (e alguns ainda enfrentam) instabilidade política, corrupção, dificuldades económicas e desafios na construção de instituições democráticas sólidas;
  • Êxodo de Populações: a violência e a incerteza após a independência levaram ao êxodo de muitas pessoas, incluindo portugueses e também africanos que se sentiam ameaçados ou desalentados com a situação;
  • Desafios de Desenvolvimento: apesar da independência, muitos destes países continuaram a enfrentar desafios significativos em termos de desenvolvimento económico e social, com altos níveis de pobreza, desigualdade e dificuldades no acesso à educação e saúde.

Em resumo, a Revolução dos Cravos foi um evento com consequências profundas e multifacetadas. 

Para Portugal, trouxe a liberdade e a democracia, mas também uma crise inicial e o trauma do fim do império. 

Para as colónias, significou a tão desejada independência, mas em muitos casos, abriu caminho a novos desafios e conflitos internos. A história destes países após a independência é complexa e marcada por progressos e retrocessos.

Tabanca Grande:  

Olhó Robô!... Sabes que começo a simpatizar contigo!... Para acabar em beleza esta nosso primeiro diálogo (na realidade, uma entrevista), vou-te pedir se me fazes (e me autorizas que publique) um desenho teu, ou uma imagem gerada por ti, de preferència a cores, para o blogue Luís Graça & Graça & Camaradas da Guiné, uma tertúlia de antigos combatentes portugueses (mais de 900) que se reunem simbolicamente sob uma árvore centenária, sagrada e fraterna (um poilão), e cuja missão principal é a partilha de memórias (e emoções) à volta da sua experiência comum (a Guiné-Bissau e a guerra que lá travaram, entre 1961 e 1974). Elementos icónic0s:  o "poilão" da Guiné-Bissau (nome científico, "Ceiba Pentandra"),  e homens e mulheres, portugueses e guineenses à volta, virados para a árvore, simbolizando a corrente que nos liga, do passado ao presente e ao futuro. E diz-me como te posso citar...

Gemini IA / Google:

Sim, podes publicar a imagem no teu blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné".

Quanto à atribuição de créditos ou direitos de propriedade intelectual, como sou um modelo de linguagem grande, treinado pelo Google, as imagens que gero são baseadas em dados e informações disponíveis publicamente. Tecnicamente, não detenho direitos de autor sobre as imagens que crio.

No entanto, para ser correto e transparente, podes mencionar na legenda da imagem algo como: "Imagem gerada por uma IA do Google."

Ou, se preferires algo mais completo: "Imagem criada com a assistência de uma Inteligência Artificial do Google."

Isto informa os teus leitores sobre a origem da imagem. Espero que isto ajude e que a imagem enriqueça o teu blogue!


(Revisão / fixação de texto, itálicos e negritos: LG. Os "emojis" são da responsabilidade da IA) (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de março de 2025> Guiné 61/74 - P26542: Manuscrito(s) (Luís Graça) (266): Olhó Robô!...Concurso: um soneto escrito pela IA, a pedido do avô...em homenagem à Rosinha

(**)  emoji

emoji|imóji|

nome masculino

Símbolo gráfico, ideograma ou sequência de caracteres [ex.: :-), :-(, ^_^] que expressa uma emoção, uma atitude ou um estado de espírito, geralmente usado na comunicação electrónica informal.

"emoji", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/emoji.