Pombal > 28 de Abril de 2007 > II Encontro Nacional da Tabancva Grande > Dois representantes da CCAÇ 2402/ BCAÇ 2851 (1968/70), o Raul Albino (1945-2020) (assinalado com um círculo a amarelo) e o Maurício Esparteiro (a verde)... (Na foto, há outros camaradas que já nos deixaram, além do Raul Albino: Jorge Cabral, Carlos Santos, Fernando Franco, Victor Barata... Mas outros, felizmente ainda estão vivos!)
Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O Raul Albino com a ajuda do fotógrafo Maurício Esparteiro (vd. foto acima) concebeu e realizou uma ideia original: um livro da CCAÇ 2402 onde todos e cada e um são gente... Do capitão ao soldado básico, toda a gente teve lá a sua foto, o seu espaço (*)...
Além disso, cada um dos camaradas da CCAÇ 2402 podia ter uma versão única e original do livro, com registos exclusivos sobre a sua pessoa... Com uma pontinha de orgulho, o Raul e o Maurício mostraram-me, no encontro em Pombal, em 2007, um exemplar do seu livro: cada exemplar saíu da tipografia a 8 euros, sendo vendido a 10 euros, para cobrir as quebras e as borlas ...
No II Volume, que continuou a ter a coordenação fotográfica do Maurício Esparteiro, o Raul contou ainda com a participação especial do ex-cmdt da companhia, Vargas Cardoso, e do ex-fur mil SAM, João Bonifácio.
Hoje publicamos mais dois pequenos textos do Mário Vargas Cardoso (1935-2023), ex-cor inf ref, que há dias nos deixou, e que ilustram bem o sentido da divisa dos "Lynces de Có": "Se é impossível, há de fazer-se" (**)...
No nosso blogue, o Raul Albino também já havia publicado, no devido tempo, 18 postes com episódios da história da CCAÇ 2402 (***).
Mário Vargas Cardoso (1935-2023)
Ao chegarmos a Có, os indígenas começaram a aparecer com tomates do tamanho de batatas novas, pois não sabiam plantar tal fruto.
Então a Companhia com as sementes que levávamos, começou por fazer os viveiros em caixotes e o Moreira e o Ferreira, salvo erro, encarregavam-se de chamar as indígenas (as mulheres é que trabalhavam na lavoura) e ensiná-las a fazer o viveiro, até as plantas terem determinada altura.
Depois era preparar o chão e transpalntar essas plantas de forma ordenada e com espaços entre os pés dos tomateiros; regar quando preciso; encanar as plantas quando começavam a precisar de apoio; continuar a regar; e colher quando estivessem em condições de o fruto ser apanhado...
Como se devem recordar, algumas semanas depois, naquela bolanha para o rio, em Cõ já se produziam mais de 50 kg de tomate por dia...
... que chegámos a trocar, com outros produtos locais (camarão e ostras), com o restaurante "Solar dos 10", de Bissau
Uma das dificuldades com que nos deparámos na Guiné, todos se lembram, era no respeitante à possibilidade de obter produtos frescos...
Todos se recordam que, desde o início da comissão, exceto no período que estivemos em Mansabá, sempre tivemos uma horta cavada e tratada pelos nossos militares.
Mas no respeitante a carne, a situação era muito difíciil. As populações não produziam gado para vender aos militares. Para eles o gado era uma riqueza pessoal.
A Manutenção Militar tinha dificuldade em enviar carne fresca, para as unidades instaladas no mato, e estas tinham de se "desenrascar".
Mas os "Lynces de Có", que às vezes se viam obrigadas a "requisitar" alguma vaca aos africanos, pagando ao preço estipulado pelo Governo da Pronvíncia, também utilizaram outros processos legais.
Lembro-me que, por duas vezes, se a memória não me falha, conseguimos carne vinda de Bissau, de forma expedita mas arcaica.
Então o processo foi este: através do Bonifácio [ o fur vagomestre, nosso tabanqueiro, a viver hoje no Canadá ] encomendámos às indígenas que nos trouxessem ostras, camarão e tomate. Entretanto,, via rádio, para o delegado do nosso batalhão em Bissau, de acordo com código que estabeleci com ele, pedia-lhe para obter junto do sr. proprietário do restaurante "Solar dos 10", peças de carne e levá-las em dia combinado, até João Landim, local onde se fazia a cambança do rio Mansoa, na jangada ali existente,
Por sua vez, a Companhia organizava uma coluna que, saindo de Có, levava tudo o que se fosse necessário mandar para Bissau, mais os produtos que os indígenas nos vendiam: 20 kg de camarão; 1 pipo de vinho cheio de ostras, e 80 kg de tomate.
Para a troca trazíamos para Có cvrne que o deleghado pedira ao "Solar dos 10", que por sua vez nos ficava com os produtos que referi. E assim sempre se podia comer "os atacadores da PM [leia-se: esparguete...] com estilhaços"...
Vargas Cardoso, ex-cmdt, CCAÇ 2402 (Cõ,. Mansabá er Olossato, 1968/70)
[Seleção / Revisão e fixação de texto / Subtítulo / Negritos ( Parèntses retos: LG]
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Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1105: Como escrever um livro de memórias de guerra 'à la carte' (Raul Albino, CCAÇ 2402)
4 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1246: O meu livro Memórias de Campanha da CCAÇ 2402 (Raul Albino)(**) Último poste da série > 5 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24368: História da CCAÇ 2402 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70) (Coordenação: Raul Albino, 1945-2020) - Textos avulsos - Parte I: Tempo(s) de Homofobia(s) (Mário Vargas Cardoso, 1935-2023)
(***) Vd. último poste da série > 19 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7010: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (18): Terceiro ataque ao Olossato