Foto (e legenda): © António G. Carvalho (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Assunto . Pontos de vista
Lá, onde deixámos o coração a alma e dois dos nossos melhores anos de meninos e moços, opinávamos, comentávamos e praticávamos a partilha do pensamento , mesmo que contraditório
Tudo ao momento e sem medos. Esses, os medos, advinham do não saber nem adivinhar o instante seguinte.
Vivia-se na e/ou para a ocasião. O futuro era o agora. O presente e o passado a fonte onde merulhávamos a esperança.
És o português que encenou e teve a coragem de iniciar os contos da verdade e se assim não tivesse sido e porque a memória é curta, tudo seria adulterado em prol de interesses obscuros.
Mal, fomos executores duma adulterada palermice em nome de equívocos.
Será que o guião pode voltar a ser mudado, Luís?
2. Data - 30/04/2025, 04:01
Ambos sabemos!... Glória aos homens que vindos da academia militar souberam racionalmente dar o impulso final ao estertor lento dum regime caduco. Mas... e a história nunca nos fará menção desse facto, vai ignorar que fomos nós, os milicianos , filhos do povo denominado mais profundo, aqueles que produziam a riqueza que os poderosos gastavam em orgias capazes de alimentar condignamente uma sociedade empobrecida e explorada, que a pouco e pouco fomos minando o dique da hipocrisia e da alarvice.
O amor pelo país não se rege por questões de finança, nem de estrato político, intelectual, moral e ou social.
Acima de tudo a decência e o decoro.
Caminhamos alegres e convictos para a meta. A mesma alegria que tinhamos quando na " nossa " querida e adorada Guiné, cantávamos, Zeca, Fanhais, Adriano, Ary, Alegre , Aleixo e toda a legião de mensageiros da mudança enquanto a metralha caía.

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O meu grupo de combate esteve integrado na sua companhia no final da minha comissão , depois de termos estado juntos, em unidades militares diferentes em Cuntima
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Um abraço forte fraterno e amigo ao coronel Vasco Lourenço. Eu sei que muitos não se reveem na figura e na postura dum dos homens que me deu no dia 25 de Abril de 1974 a alegria de começar a pensar que as naus do império nunca mais iam transportar nos seus porões carne para canhão.
Mas nós, os milicianos, fomos a mecha lenta que projectou a mudança.
Grande abraço, Luís
Assunto . Imaginação relembrada
São 21,47 do dia 29 de março de 2025. Tenho na minha frente uma televisão desligada, uma estante com livros, um armário cheio de memórias e recordações alicerçadas em fotografias .
Lá, tínhamos a entrega, o compartilhar de emoções , a confissão de desgostos e a procura da amizade do amor e do carinho que todos os seres vivos necessitam.
Somos filhos duma época cheia de contradições e onde o respeito pelos outros era meta de somenos importância.
Mas soubemos, no infortúnio de quem nos lançou na alienação intelectual e humana. construir pontes.
E a pouco e pouco o filho de puta do Caronte vai arrebanhando os filhos do sonho.
O teu projecto Luís, permite a possibilidade de continuarmos a acreditar no Homem. Bem hajas
Eduardo
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(*) Vd. poste de 29 de fevereiro de 2012 Guiné 63/74 - P9548: Tabanca Grande (322): Eduardo Estrela, ex-Fur Mil da CCAÇ 14 (Cuntima, 1969/71)
(...) Sou o ex-Fur Mil Eduardo Estrela e enquadrei o início da CCaç 14, originalmente CCaç 2592.
Embarcámos para a Guiné em 24 de maio de 1969 e, depois de termos dado instrução aos militares africanos que compunham a Companhia (dado e recebido, pois muitos deles já tinham experiência de combate), partimos em 3 de novembro de 1969 para a zona operacional que nos tinha sido destinada, Cuntima, junto à linha de fronteira do Senegal.
Ainda em Bolama, onde a instrução foi dada e recebida e depois de uma operação mal programada para a zona de S. João, onde as CCaç 13 e CCaç 14 podiam ter sofrido sério revés, face ao local de desembarque escolhido, extremamente lodoso e onde vi camaradas atolados até à cintura, ainda em Bolama dizia, sofremos, à hora da saída da LDG, um ataque onde o PAIGC utilizou pela primeira vez foguetões terra-terra. Ninguém sabia que tipo de armamento o PAIGC utilizara e só em Bissau, no dia seguinte, nos foi comunicado o tipo de arma.
Em Cuntima, a actividade operacional era intensa pois estavam no mato permanentemente 2 ou mais grupos de combate, por períodos de 48 horas. A guarnição de Cuntima normalmente composta por 2 Companhias operacionais, Pelotão de Obuses e Pelotão de Milícias, para além das interdições ao corredor de Sitató, fazia picagens à estrada, escolta às colunas para Farim, segurança próxima e afastada ao aquartelamento e as operações militares que obrigavam a utilização de maiores meios.
(..) Aquando do reordenamento de Cuntima, as colunas a Farim eram diárias e o desgaste físico e psíquico muito grande, pois volta não volta o PAIGC aparecia. O meu grupo de combate foi o primeiro a transitar para Farim, no início de dezembro de 1970 (...) e durante um mês estivemos a reforçar a CCaç 2549 estacionada em Nema, a qual tinha estado anteriormente connosco em Cuntima.
Em Farim fazíamos interdição ao corredor de Lamel, numa época em que o PAIGC estava muito activo. De tal modo activo que entre o início de dezembro de 1970 e meados de janeiro de 1971, a guarnição do Batalhão 2879 sofreu na zona de Lamel 14 mortos, uns em combate e outros por acidente resultante de actividade operacional. Para além dos camaradas falecidos, também houve muitos feridos.
No final de 1970, o meu grupo de combate regressou a Cuntima e só no início de fevereiro de 1971 a CCAÇ 14 foi para Farim, tendo o meu grupo ficado em Cuntima para dar sobreposição à Cart 3331, até ao fim de fevereiro.
Mas a "actividade operacional" que mais me agradava, eram os "golpes de mão" que fazíamos à messe ou ao bar e onde através duma "emboscada" bem montada, agarrávamos a amizade a fraternidade e a comunhão de alegrias e tristezas, partilhadas por irmãos que fomos e que sei, continuamos a ser. (...)