1. Mais uma história da Spinolândia (*): desta vez não envolve diretamente a figura do gen Spínola, mas sim um dos seus próximos colaboradores, o "Coronel Onze", e um futuro capitão de Abril, o capitão inf Vasco Lourenço, cmdt da
CCAÇ 2549/BCAÇ 2879 (Cuntima e Farim, 1969/71).
CCAÇ 2549/BCAÇ 2879 (Cuntima e Farim, 1969/71).
Foi já aqui oportunamente contada pelo Fernando Valente (Magro) (**) que, aos 33 anos, casado e pai de um filho menor, foi mobilizado para o CTIG, como cap mil art, BENG 447,Bissau, 1970/72, e que publicou em 2005 um livrinho com as suas memórias da Guiné, de 86 pp. (reproduzidas no nosso blogue, na série "Memórias da Guiné, por Fernando Valente (Magro)".
Há dias recebi, pelo correio, uma cópia do livro, via Hélder Sousa (que faz parte parte dos corpos sociais da ANET - Associação Nacional dos Engenheiros Técnicos, tal como o Fernando Magro; aliás, a edição do livro teve o apoio da ANET, e havia por lá sobras do livrinho: obrigado, Hélder, pela encomendinha que chegou a boas mãos pelo correio).
Capa do livro de Vasco Lourenço do Interior da Revolução, entrevista de Maria Manuela Cruzeiro, Lisboa, Âncora, 2009, 608 pp.
"Vasco Correia Lourenço nasceu em 19 de junho de 1942, em Lousa, Castelo Branco. Integrando desde o início o Movimento dos Capitães, coordenou a organização da sua primeira reunião em 9 de setembro de 1973, vindo a pertencer à sua Comissão Coordenadora e à sua Direção. Único oficial que pertenceu sempre aos órgãos de cúpula do Movimento dos Capitães (CC e Dir.) e do MFA (CCPMFA, CE, C20 e CR). Das várias condecorações que possui, destacam-se a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Presidente da Direção da Associação 25 de Abril, desde a sua fundação em outubro de 1982. Coronel na Reforma". Fonte: Wook
A melena, pouco "regulamentar",
do cap inf Vasco Lourenço
(...) Instalado no Clube de Oficiais, em Santa Luzia, próximo do Quartel-General, iniciei a 21 de Abril de 1970 a minha actividade nos Serviços de Reordenamentos Populacionais no Comando Chefe (Amura).
Durante a minha estadia nesse clube tive contacto com vários oficiais do quadro permanente e do quadro de complemento (milicianos) que também lá se encontravam instalados ou que, estando sediados fora de Bissau, por lá passaram para tratar assuntos relativos às companhias que comandavam.
Em finais de Abril o General Spínola reuniu numa grande sala do Palácio praticamente todos o capitães em serviço na Guiné. Eu, praticamente acabado de chegar, também estive presente nessa reunião.
O General traçou novos rumos no que dizia respeito à luta contra a subversão. Deu a entender que se estavam estabelecendo negociações com os chefes terroristas no sentido da resolução política do diferendo. Ordenou que as Companhias Operacionais não mais tomassem atitudes ofensivas, mas simplesmente defensivas. Mandou que se procedesse sem ódio nem brutalidade contra os prisioneiros de guerra e as populações afectas ao inimigo, de modo a que se possibilitasse a sua apresentação às autoridades e se pudesse caminhar para a pacificação.
(...) Na referida reunião dos capitães com o General Spínola, fui surpreendido pela forma descontraída, directa e muito incisiva, como o Capitão Vasco Lourenço procurou saber do General mais pormenores sobre o modo como actuar futuramente face às novas directivas. Directivas que passados alguns dias foram canceladas, dado que foram mortos três majores e um alferes que, desarmados, procuravam o contacto com chefes terroristas de que havia indicação de se quererem entregar.
Um dos majores (Pereira da Silva) conhecia-o muito bem, pois havia privado com ele no GACA 3 tendo ele, na altura, o posto de Tenente.
A minha vida ia correndo sem grandes sobressaltos entre o Comando-Chefe e o Clube de Oficiais. Aqui no Clube, havia uma piscina e à noite por vezes havia cinema e outros espectáculos ao ar livre. Lembro-me de ter visto espectáculos de música, de ilusionismo e uma vez de hipnotismo. Neste último um soldado, depois de hipnotizado, foi convencido que estava uma noite gélida (ao contrário do que acontecia, pois tratava-se de uma cálida noite africana) e recordo-me como ele tremeu de frio e se agasalhou o mais que pôde com as roupas que tinha por perto.
Estando à beira da piscina, no dia 19 de Maio de 1970, ouvi pela primeira vez a artilharia dos independentistas em acção. Eram cerca de 23 horas quando foi desencadeado um ataque com artilharia ao Quartel de Tite. Os rebentamenros era perfeitamente audíveis em Bissau. O poder de fogo era grande, tendo havido lançamento, por parte das forças inimigas, de cinco mísseis.
No Clube de Oficiais fazia a minha vida depois de findo o meu serviço no Comando-Chefe. Era a minha casa. Lá tinha tudo: alimentação, dormida e até barbearia. Foi justamente na barbearia onde certo dia fui cortar o cabelo que se deu este episódio com o Capitão Vasco Lourenço que vou passar a contar.
Encontrando-me uma vez sentado numa das cadeiras da barbearia do Clube de Oficiais de Bissau, acomodou-se a meu lado o Capitão Lourenço. Imediatamente solicitou que lhe cortassem o cabelo. Este pedido surpreendeu o soldado da barbearia que, tartamudeando, se aprontou para o atender.
– Mas... meu capitão, ainda nem há uma hora lhe cortei o cabelo!
– Pois é. Mas vais cortar-mo de novo.
O rapaz não replicou, mas muito em surdina, ainda conseguiu pronunciar duas palavras que só eu pude entender, embora com dificuldade.
– Está "apanhado".
Também fiquei intrigado com o que se passava, pelo que procurei esclarecer o assunto mais tarde. Quando ambos abandonamos o Clube de Oficiais, o Capitão Lourenço satisfez a minha
Durante a minha estadia nesse clube tive contacto com vários oficiais do quadro permanente e do quadro de complemento (milicianos) que também lá se encontravam instalados ou que, estando sediados fora de Bissau, por lá passaram para tratar assuntos relativos às companhias que comandavam.
Em finais de Abril o General Spínola reuniu numa grande sala do Palácio praticamente todos o capitães em serviço na Guiné. Eu, praticamente acabado de chegar, também estive presente nessa reunião.
O General traçou novos rumos no que dizia respeito à luta contra a subversão. Deu a entender que se estavam estabelecendo negociações com os chefes terroristas no sentido da resolução política do diferendo. Ordenou que as Companhias Operacionais não mais tomassem atitudes ofensivas, mas simplesmente defensivas. Mandou que se procedesse sem ódio nem brutalidade contra os prisioneiros de guerra e as populações afectas ao inimigo, de modo a que se possibilitasse a sua apresentação às autoridades e se pudesse caminhar para a pacificação.
(...) Na referida reunião dos capitães com o General Spínola, fui surpreendido pela forma descontraída, directa e muito incisiva, como o Capitão Vasco Lourenço procurou saber do General mais pormenores sobre o modo como actuar futuramente face às novas directivas. Directivas que passados alguns dias foram canceladas, dado que foram mortos três majores e um alferes que, desarmados, procuravam o contacto com chefes terroristas de que havia indicação de se quererem entregar.
Um dos majores (Pereira da Silva) conhecia-o muito bem, pois havia privado com ele no GACA 3 tendo ele, na altura, o posto de Tenente.
A minha vida ia correndo sem grandes sobressaltos entre o Comando-Chefe e o Clube de Oficiais. Aqui no Clube, havia uma piscina e à noite por vezes havia cinema e outros espectáculos ao ar livre. Lembro-me de ter visto espectáculos de música, de ilusionismo e uma vez de hipnotismo. Neste último um soldado, depois de hipnotizado, foi convencido que estava uma noite gélida (ao contrário do que acontecia, pois tratava-se de uma cálida noite africana) e recordo-me como ele tremeu de frio e se agasalhou o mais que pôde com as roupas que tinha por perto.
Estando à beira da piscina, no dia 19 de Maio de 1970, ouvi pela primeira vez a artilharia dos independentistas em acção. Eram cerca de 23 horas quando foi desencadeado um ataque com artilharia ao Quartel de Tite. Os rebentamenros era perfeitamente audíveis em Bissau. O poder de fogo era grande, tendo havido lançamento, por parte das forças inimigas, de cinco mísseis.
No Clube de Oficiais fazia a minha vida depois de findo o meu serviço no Comando-Chefe. Era a minha casa. Lá tinha tudo: alimentação, dormida e até barbearia. Foi justamente na barbearia onde certo dia fui cortar o cabelo que se deu este episódio com o Capitão Vasco Lourenço que vou passar a contar.
Encontrando-me uma vez sentado numa das cadeiras da barbearia do Clube de Oficiais de Bissau, acomodou-se a meu lado o Capitão Lourenço. Imediatamente solicitou que lhe cortassem o cabelo. Este pedido surpreendeu o soldado da barbearia que, tartamudeando, se aprontou para o atender.
– Mas... meu capitão, ainda nem há uma hora lhe cortei o cabelo!
– Pois é. Mas vais cortar-mo de novo.
O rapaz não replicou, mas muito em surdina, ainda conseguiu pronunciar duas palavras que só eu pude entender, embora com dificuldade.
– Está "apanhado".
Também fiquei intrigado com o que se passava, pelo que procurei esclarecer o assunto mais tarde. Quando ambos abandonamos o Clube de Oficiais, o Capitão Lourenço satisfez a minha
curiosidade.
Segundo me explicou, havia-se cruzado, após o primeiro corte de cabelo, com um dos chefes militares de Bissau. O Coronel Onze, como era conhecido e não me perguntem porquê, era muito rigoroso com o atavio e o porte dos seus subordinados, principalmente com os oficiais. Quando se cruzou com o Capitão Lourenço te-lo-á interpelado com severidade, chamando-o à atenção para o facto de o seu corte de cabelo não ser o regulamentar.
– O Senhor Capitão é miliciano?
– Não, não, meu Coronel. Eu pertenço ao quadro permanente.
– Mas isso é indisculpável. Faça o favor de ir cortar o cabelo imediatamente. Essa melena na testa é uma vergonha. Depois apresente-se no meu gabinete.
Seguidamente a este relato, que tentei aproximar tanto quanto me foi possível da realidade, o Capitão Lourenço teceu várias considerações e deu curso à sua revolta interior.
Explicada a razão pela qual o Capitão Lourenço teve necessidade de cortar o cabelo, pela segunda vez no mesmo dia, o referido oficial encaminhou-se para o gabinete do Coronel Onze. (...)
Fonte: Excertos de Fernando Magreo - Memórias da Guiné. Lisboa: Edições Polvo, 2005, pp. 37
[Fixação / revisão de texto / título do poste: LG]
2. Comentário do nosso editor LG:
Será que se trataria do cor cav Fernando Rodrigues de Sousa Costa, um dos comandantes do COMBIS (Bissau), não ?!
O Carlos Pinheiro acrescentou (**): "Gostei desta memória e acima de tudo de ouvir falar do tal "coronel 11" que era mais que famoso na cidade de Bissau. A maior parte dos militares nem o chegou a conhecer, mas histórias acerca dele toda a gente conhecia."
Veja-se este episódio do "anedotário da Spinolândia" também como uma homenagem ao sentido do humor do nosso veterano Fernando Magro (um dos seis membros da família Magro que fizeram a "guerra do Ultramar") e sobretudo ao capitão de Abril , Vasco Lourenço, uma figura que, como diz o Carlos Silva (**), já pertence à história deste país, tal como o gen Spínola, e que, como tal, merece o nosso respeito. (Felizmente ainda está vivo e vai fazer em breve 80 anos.)
__________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 21 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23185: Humor de caserna (52): O anedotário da Spinolândia (II): "Não, não quero falar com o teu comandante, quero falar contigo!" (Tino Neves, ex-1º cabo escriturário Tino Neves, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71)
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 21 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23185: Humor de caserna (52): O anedotário da Spinolândia (II): "Não, não quero falar com o teu comandante, quero falar contigo!" (Tino Neves, ex-1º cabo escriturário Tino Neves, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71)
(**) Vd. poste de 11 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12028: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (8): O Clube de Oficiais
21 comentários:
Já agora, por curiosidade, quem seria este "famigerado Coronel Onze" de que se contavam tantas histórias em Bissau ? Foi pena o Fernando Magro não o ter identificado, quando escreveu o seu livro de memórias em 2005...
Será que esse tal "Coronel Onze" foi o mesmo que me mandou cortar o cabelo e a barba, aquando de uma visita de Spínola ao destacamento da ponte do rio Udunduma, em 3 de fevereiro de 1971 ?
Excertos do "Diário de um Tuga":
Ponte do Rio Udunduma, 3 de Fevereiro de 1971:
De visita aos trabalhos da estrada Bambadinca-Xime, esteve aqui de passagem, com uma matilha de Cães Grandes atrás, Sexa General António de Spínola, Governador-Geral e Comandante-Chefe (vulgo, o Homem Grande). Eu gosto mais de chamar-lhe Herr Spínola, tout court. De monóculo, luvas pretas e pingalim, dá-me sempre a impressão de ser um fantasma da II Guerra Mundial, um sobrevivmente da Wermacht nazi.
Mas o que é que faz correr este velho soldado, como ele próprio gosta de se chamar ? É difícil adivinhar-lhe a sua paixão secreta, o seu móbil, sob a sua impassibilidade de samurai (ou de figura de cera?): a mitomania, o culto da personalidade ou, hélàs!, a presidência da república ...
Há qualquer coisa de sinistro na sua voz de ventríloquo, no seu olhar vidrado ou no seu sorriso sardónico: talvez seja a superioridade olímpica do guerreiro.
Cumprimentou-me mecanicamente. Eu devia ter um aspecto miserável. Eu e os meus nharros, vivendo como bichos em valas protegidas por bidões de areia e chapa de zinco. O coronel (?) que vinha atrás do General chamou-me depois à parte e ordenou-me que, no regresso a Bambadinca, cortasse o cabelo e a barba…
A visita-surpresa do Deus-Todo-Poderoso foi o meu único monumento de glória em toda esta guerra… Ao fim de vinte meses!... Só quero regressar, são e salvo, a casa, daqui a um mês e, se possível, levar comigo a barba que deixei crescer… na Guiné, longe do Vietname.
30 DE SETEMBRO DE 2006
Guiné 63/74 - P1132: Spínola e os seus 'Cães Grandes' na ponte do Rio Udunduma (Luís Graça)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2006/09/guin-6374-p1132-spnola-e-os-seus-ces.html
Olá Camaradas
Se formos consultar a lista dos Cmdt do COMBIS (depois AgrBis) lá encontraremos o cor cav Fernando Rodrigues de Sousa Costa.
Ao que se diz não era muito afável...
Um Ab. e desejos de que celebrem o 01MAI22 correctamente. Tábem?
António J. P. Costa
É provável que o coronel 11 seja o coronel de cavalaria Fernando Rodrigues de Sousa Costa, um dos primeiros comandantes do COMBIS:
Fichas de unidades> Comando de Agrupamento de Bissau (COMBIS)
Identificação: COMBIS
Cmdt:
Cor Inf José Martiniano Moreno Gonçalves
TCor Art Aristides Américo de Araújo Pinheiro
Cor Cav Fernando Rodrigues de Sousa Costa
Cor Art Gaspar Pinto de Carvalho Freitas do Amaral
Cor Inf António Mendes Baptista
Cor Inf João Afonso Teixeira Henriques
Cor Inf António da Anunciação Marques Lopes
CEM:
TCor Inf José Bonito Perfeito
TCor Cav António Maria Rebelo
TCor Art Aristides Américo de Araújo Pinheiro
TCor Inf Carlos Frederico Lopes da Rocha Peixoto
TCor Inf João Polidoro Monteiro
Maj Inf Arménio Soares da Cruz Sampaio Nunes
Maj Cav João Luís Moreira Arriscado Nunes
TCor Inf João Salavessa Moura
TCor Inf João Afonso Teixeira Henriques
TCor Art Altinino Fernandes Gonçalves
TCor Art João Augusto Fernandes Bastos
Divisa: -
Início: 8Jan69 | Extinção: 20Set74
Síntese da Actividade Operacional
Este comando foi constituído a partir do Comando de Agrupamento n.º 2952, sendo o seu pessoal nomeado por rendição individual.
O Agrupamento tinha a missão de garantir a defesa da ilha de Bissau, de assegurar a manutenção da ordem pública e de controlar as vias de comunicação, as populações e os
abastecimentos, utilizando meios e pessoal dos três ramos das Forças Armadas
e das forças militarizadas sediadas em Bissau.
Em 8Jan69, substituindo o CmdAgr 2952, assumiu a responsabilidade da referida zona de acção, com a sede em Bissau e integrando as forças instaladas no respectivo sector, o qual englobava os subsectores de Brá (Bissau), Nhacra e Quinhámel.
Em 6Ag070, este comando passou a ter integrado na sua orgânica o BArt 2866 e depois o BCaç 2929, incluindo as respectivas CCS, cujo pessoal passou a desempenhar funções no COMBIS.
Em 1Set72, foi constituída e organizada a Formação do COMBIS, a qual substituíu a CCS do BCaç 2929 nas respectivas funções.
Em 18Nov71, por criação do COP 8, a sua zona de responsabilidade foi reduzida do subsector de Nhacra tendo, a partir de lJu173, o sector de Bissau sido articulado nos subsectores de Brá, Bor, Sa fim, Quinhámel e Prábis, este, apenas de nível pelotão.
Comandou e coordenou a actividades das forças atribuídas, em acções de patrulhamento e reconhecimentos, a par do controlo e fiscalização das populações e das acções de polícia militar e da segurança e protecção das instalações e pontos sensíveis da respectiva zona de acção.
Após ter voltado a integrar a zona de acção do COP 8, extinto em 12Set74, e depois da organização e montagem do dispositivo final das tropas portuguesas em Bissau, foi extinto em 20Set74, passando os subcomandos então definidos a assumir a responsabilidade das respectivas áreas, sob a dependência directa do Comando-Chefe.
Observações - Não tem História da Unidade.
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pp. 597/598
Esse 11 era famoso no meu tempo mas nunca o conheci. Havia tantas histórias....
Coronel de cavalaria Fernando Rodrigues de Sousa Costa, foi comandante do Regimento de Cavalaria 7 (1969/1970), antes de seguir para a Guiné...
https://regimentolanceiros2.forumeiros.com/t286-fiel-depositario-dos-regimentos-de-cavalaria-127-e-cipe
Foi agraciado com Cruz de Guerra de 2ª classe, na sequência da sua comissão de serviço em Angola, onde comandou, como tenente-coronel, o BCAV 1863 (1965/67).
Tenho a "intuição" de que seria este militar, ainda por cima de cavalaria, o célebre "Coronel Onze"...
Olá Luís
Sim, tudo indica que a tua "intuição" esteja certa.
Mas não será porventura muito "positivo" mexer e remexer na estória da história.
Quando fiz a recruta, ou seja, o 1º Ciclo do CSM em Santarém, em Julho de 1969, já por lá se contava a estória.... só não tenho a certeza se ele estava por lá também na EPC ou se só se contavam "coisas". E essas coisas acho que não se devem voltar a falar (ou escrever), mesmo passados estes anos todos, até porque envolveriam alegadas infidelidades conjugais (daí o "onze", numa alusão ao n.º 11, que os ribatejanos, e não só, costumam associar aos "enfeites" que correntemente se atribuem aos "enganados".
Alegadamente.... o caso teria ocorrido em Angola.
Não mexam nisso.
Hélder Sousa
Não confundir com o general Fernando Santos Costa (1899-1982), um íntimos colaboradores de Salazar.
http://old.sitiodolivro.pt/pt/autor/general-santos-costa/30595/
Se assim é, Hélder, o José Câmara deve ter trocado o nome: chamou-lhe Santos Costa, quando o militar se chamava Sousa Costa...
Quando tu estavas na EPC em 1969, o coronel Sousa Costa comandava o RC 7, na Ajuda (a única força que fez frente ao Salgueiro Maia, no Terreiro do Paço).
Não confundir, pois, com o general Fernando dos Santos Costa (1899-1982), um íntimos colaboradores de Salazar.
http://old.sitiodolivro.pt/pt/autor/general-santos-costa/30595/
Quando estive na Guiné só ouvi falar desta "alcunha" sempre que se falava desta "personagem" sem nunca ter ouvido o seu nome. E, também corria o significado da alcunha,que o faria ser tão "chateador" do pessoal. Significado que muitos devem conhecer, que não sei se era real,mas que não quero aqui mencionar. Mas uma cena eu conto: quando um nosso camarada estava a subir uma escada metálica no cais novo, vindo de uma embarcação, trazia a boina na mão para que o vento não a fizesse cair ao mar. Nesse momento passou a viatura desse oficial que parou, e por ordem do oficial,pediu a identificação do referido camarada por estar sem boina.Julgo que posteriormente não houve nenhuma porrada, mas a história é verídica.
Santa ingenuidade, a minha!... Hélder, confesso que não me ocorreu à mente o possível significado da alcunha desse militar... "Onze", para mim, era mais um número... De resto, era frequente na tropa o uso de alcunhas, algumas bem cruéis e altamente depreciativas, aplicadas tanto a superiores hierárquicos como a camaradas... Como as havia no nosso tempo de miúdos, e de escola. Recordo-me de amigos e vizinhos cujas algumas ficaram para a vida, como tatuagens na pele: o "mata-pintos", o "sapo verde", etc.
Embora os homens não se meçam aos palmos, havia na tropa (e na guerra) alcunhas associadas à estatura: o "meia-leca", o "meia-foda", o "metro e oito" (alcunha do ten cor Manuel Agostinho Ferreira, cmdt do BCAÇ 2879, 1969/71)... As mais frequentes eram a origem geográfica ou ligadas à profissão ou ocupação: o Mouraria, o Peniche, o Setúbal, o Padeiro... E ainda outras, associadas a um episódio de vida, de que já não me recordo...
Mas já aqui abordámos esse tema no blogue... O descritor, marcador ou "tag" "Alcunhas" tem mais de dezena e meia de referências.
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/alcunhas
Estória da História ? Eu acho que tu querias dizer "escória"...
O nosso camarada Domingos Robalo acaba de publicar, na página do Facebook da Tabanca Grande, o seguinte comentário a este poste P23214:
https://www.facebook.com/people/Tabanca-Grande-Lu%C3%ADs-Gra%C3%A7a/100001808348667
Como já tenho referido, fiz a minha comissão no CTIG, na BAC1/GA7, unidade da artilharia sediada em Bissau, mas com cerca de 27 PELARTS, distribuídos pelo TO.
O Coronel VL, foi meu comandante de companhia, a 5a , quando da minha recruta no CSM, nas Caldas, no 1° turno de 68, era ele Tenente. Deu- me 5 dias de detenção por "ser bom rapaz", segundo palavras do comandante de pelotão, o tenente "Zéquinha" assim chamado e do qual já não sei o nome.
Na sequência do pedido de esclarecimento do capitão VL, na tal reunião com o Spínola, este não terá ficado satisfeito, pelo que, ao que se constou à época, terá valido de imediato, ao Capitão VL, o comando da sua companhia. Veio para Bissau, onde era visita assídua na minha unidade, BAC1.
Episódio com o "Onze". Em 1970, o Sporting de Braga foi a Bissau jogar para a taça de Portugal, com o UDIB de Bissau. Estádio cheio; as elites militares estavam presentes, incluindo, Spínola e o "Onze" e eu, que também sou gente.
Creio que ao intervalo, aparece no "relvado", sem relva, um soldado que de forma exuberante e feliz por ter o clube da sua terra a jogar em Bissau. Os saltos, o esbracejar de contentamento, estavam a incomodar as "elites". Casualmente, reparo que o PM em campo, com gesto corporal, se vira para alguém na bancada, por detrás de mim, como que a perguntar: o que faço? Virei-me para trás para ver a quem se dirigia a pergunta. Vejo o "Onze" com gesto de cabeça: levem-no.
De imediato, a PM ladeia o feliz soldado e saem de cena. Ainda houve uns minutos para ouvir o Nelson Ned cantar: "O que você vai fazer domingo à tarde".
Abraço
História(s) deliciosa(s), Domingos...Mas já agora vê se te lembras deste oficial superior, qual era o nome e a função...
O Helder Valério relata fielmente o que eu repetidamente ouvi sobre o Cor.Sousa Castro. Quando a C.Caç 2753 chegou à Guiné em Agosto de 70 ficou a pertencer ao Combis, até Novembro do mesmo ano.
O Comandante era o dito oficial,que na minha opinião era alguém intratável. Estar de oficial de dia no Combis em dia de revista pelo Comandante às instalações, era sempre diabólico. Um episódio que me recordo passou-se na parada do quartel onde o Cor, um dia se imobilizou durante algum tempo, até que um militar que se deslocava nas proximidades foi por ele chamado ao qual deu a seguinte ordem "tira aquele tronco" apontando para uma beata n chão, para eu poder continuar a caminhar.
Abraço.
José Carvalho
O nome do Coronel é Sousa Costa e não Castro.
J. Carvalho
Há, neste como noutros casos, linhas "vermelhas" (ou "pretas", tanto faz a cor), e que são a reserva de intimidade, a vida pessoal e familiar dos antigos combatentes da Guiné...
Como me veio, oportunamente,lembrar, o nosso provedor do leitor, o Hélder Sousa, em mensagem reservada, "haverá certamente familiares (do militar visado) e não será justo trazer, agora, novamente, para a praça pública, as situações que estiveram na origem da alcunha".
Tal não significa, naturalmente, passar uma esponja por atitudes e comportamentos do referido oficial, no TO da Guiné, que para alguns de nós foram entendidos ou percebidos como "arbitrários", "excessos de militarismos", etc., resultantes da "paranoia do RDM" e do "uso e abuso da sua autoridade" como nosso superior hierárquico...
Afinal, não é por acaso que algumas das cenas já aqui relatadas ficaram gravadas na memória dos antigos combatentes da Guiné, ao fim destes anos todos...
Constou-se,a determinada altura que o "onze",que nunca vi,nem sabia o nome,passara a "oito".
Diziam que,após o ataque a Bissau com foguetões,o Spínola calçou-lhe os patins para a Metrópole,como comandante do COMBIS fora ineficaz.
Santiago
Amigos e companheiros,
Lamento e peço desculpa por ter-vos induzido em erro na identificação do coronel Sousa Costa ao chamar-lhe Santos Costa. Certamente falta de cuidado da minha parte!
Entre outras situações, num dia em que estive de Sargento de Dia à CCaç 3327/BII17, por coincidência dia de revista às instalações, aquele coronel puniu um Furriel porque na "formatura das viaturas" uma delas estava um pouco desalinhada. Como se isso não fosse o suficiente, aquele coronel pisou um pequeno pedaço de lenha enterrado no pó da parada e, sem qualquer pejo, disparatou sobre um capitão.
Dos comandantes acima referidos, para além do Coronel Sousa Costa no AGBIS, conheci o Sr. Coronel Freitas do Amaral no CAOP1, em Teixeira Pinto, e o ainda Sr. TenCor Mendes Baptista comandava o CISMI, em Tavira, quando ali fiz a recruta e a especialidade (Janeiro/Junho de 1970).
Abraço transatlântico.
José Câmara
Seria mau reduzir ao anedótico o nosso quotidiano dessa maldita guerra (e a gente hoje pergunta-se como foi possível Portugal, como seu ditador à frente da nau, ter-se deixado afundar nesse "atoleiro", que foi a guerra colonial... infelizmente o mesmo aconteceu com a França, que era uma democracia, em guerras ainda muito mais brutais como a da Indochina e da Argélia...).
Ninguém poderá esquecer ignorar ou escamotear o sofrimento que essa guerra, longa, e em três frentes, representou para todos nós, praças, sargentos e oficiais. E eu aqui tenho que lembrar os militares do quadro permanente que fizeram duas, três ou quatro comissões... Mass também os capitães milicianos... As suas famílias, as suas esposas, os seus filhos sofreram também, em silêncio, essas prolongadas ausências.
Recorde-se um anterior comentário ao poste P23185:
JOSÉ NASCIMENTO disse...
Tiveram sorte em não ser o "Coronel Onze". Quando visitava os quartéis ou destacamentos na zona do Agrupamento de Bissau, era para ver se haviam folhas de árvore caídas no chão, ou se as armas tinham vestígios de pólvora queimada, o que era o suficiente para aplicar uma "porrada" ao respectivo comandante.
José Nascimento
21 de abril de 2022 às 18:38
_________________
Anónimo disse...
Em mensagem que acabo de receber na caixa do correio, com data de hoje, 06h30, o José Câmara acrescentou algo mais sobre a história do Coronel Sousa Costa, que não vou aqui reproduzir, a não ser este excerto:
(...) "No comentário que fiz referi a situação de um capitão com o tal pedaço de lenha enterrado na parada. Aconteceu na minha frente e o capitão era o da minha companhia que se abaixou, pegou no dito bocadinho de madeira uns 10 centímetros, se tanto, e foi levá-lo à cozinha. Regressou ao grupo e a revista continjuou.
E mais,
Nos dois meses que estivemos no AGRBIS ele puniu três furriés e alguns praças da minha companhia, sobrecarregada com trabalho. Era sair de um trabalho e entrar noutro. O nosso comandangte comprou ferros de passar roupa para os praças poderem lavar e enxugar os uniformes para se poderem apresentar com alguma decência no render das paradas, sobretudo os que faziam serviço ao Palácio, Capela (Morgue) do Hospital, Amura, Posto de Rádio, Laboratório, Guarda de Honra no Cemitério, patrulhas nos arredores de Bissau, etc.
Sair de Bissau e ir para o mato foi um alívio". (...)
Abraço transatlântico e tudo de bom.
José Câmara
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