segunda-feira, 25 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23198: 18º aniversário do nosso blogue (4): O enviado especial do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues, em julho de 1972, no CTIG: uma "crónica imperfeita" em quatro artigos - Parte I: 28 de agosto de 1972, Bissau, a "guerra camuflada"


Título de caixa alta da edição de segunda feira, 28 de agosto de 1972, do "Diário de Lisboa", nº 18846, ano 52º- O primeira de quatro artigos de reportagem assinados pelo enviado especial à Guiné,  em julho de 1972, o jornalista Avelino Rodrigues. Era então comandante-chefe e governador geral da "província" o general António Spínola, no seu auge da sua popularidade.


Citação:

(1972), "Diário de Lisboa", nº 17846, Ano 52, Segunda, 28 de Agosto de 1972, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5494 (2022-4-24)

Cortesia de  Casa Comum | Fundação Mário Soares | Pasta: 06815.165.26100 | Título: Diário de Lisboa | Número: 17846 | Ano: 52 | Data: Segunda, 28 de Agosto de 1972 | Directores: Director: António Ruella Ramos | Observações: Inclui supl. "Exclusivo".| Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos.


1. Esta peça jornalística merece ser conhecida dos antigos combatentes da guerra da Guiné, de um lado e do outro, não só pela seriedade, honestidade intelectual e qualidade do trabalho do seu autor, Avelino Rodrigues, como pelo grande interesse documental que tem,  para se conhecer melhor os pontos fortes e fracos, bem como os riscos e as oportunidades que representava, em julho de 1972, a política spinolista, "Por uma Guiné Melhor". 

O jornalista esteve no CTIG durante 9 dias, não esconde nem escamoteia as limitações pessoais e contextuais do seu trabalho, representando por outro lado um jornal independente, que não era política e ideologicamente alinhado com o regime do Estado Novo. Mas soube aproveitar, com inteligência, a janela de oportunidade que lhe foi oferecida então pelo regime (e, mais concretamente, por Spínola, o primeiro interessado em que a sua política "Por uma Guiné Melhor" fosse conhecida na metrópole, nos círculos  tanto do regime do Estado Novo, "recauchutado" com Marcelo Caetano,  como da "oposição democrática").

Avelino Rodrigues (lisboeta, nascido em 1936), jornalista profissional desde 1968 (onde começou como redator em "O Século),  era então chefe de reportagem do "Diário de Lisboa" e editor do suplemento “Mesa Redonda” (1971/74).

2. Sobre este conjunto de quatro artigos de reportagem, já aqui escreveu o nosso crítico literário, o Mário Beja Santos, em 2013, o seguinte (*):

(...) Spínola, em meados de 1972, “namora” a imprensa de oposição, estabelece relações formais com Ruella Ramos e Raul Rego, responsáveis respetivamente pelos jornais Diário de Lisboa e República. Avelino Rodrigues é convidado a deslocar-se à Guiné, são lhe dadas garantias de ver o que é preciso ver da região em guerra. (...)

(...) Há pontos surpreendentes nesta reportagem: guerra assumida, sem ambiguidades; a ênfase no desenvolvimento e no reordenamento; a imagem de Spínola como um pacificador, veja-se a captura de Balantas na região de Ponta Varela que serão devolvidos à precedência depois de visitarem o Xime, receberem rádios, roupas e dinheiro; a noção de que a africanização da guerra é uma realidade; o chão Manjaco mostrado como a região modelo de acordo com o projeto de Spínola.

(...) A despedida da reportagem é cabalística, como consta: o pior será quando a guerra acabar. Para juntar a todas as peças que devem fazer parte da História da Guiné. Um abraço do Mário. " (...)

Tomamos a liberdade de republicar, na íntegra, no nosso blogue, este primeiro artigo, sob a forma, literal, de um "recorte de imprensa" (Diário de Lisboa, 28 de agosto de 1972, pp. 1, 12 e 13) no 18º aniversário do nosso blogue. E, também,  simbolicamente, no 48º aniversário do 25 de Abril de que o Avelino Rodrigues foi também um dos grandes "cronistas". (**)



 DL / REPORTAGEM, pp. 12/13

1. GUINÉ: CRÓNICA IMPERFEITA

PARADOXOS DA GUERRA CAMUFLADA











(Com a devida vénia ao autor, Avelino Rodrigues,  
aos herdeirtos do António Ruella Ramos, e à Fundação Mário Soares)


____________



(**) Último poste da série > 25 de abril  de 2022 > Guiné 61/74 - P23197: 18º aniversário do nosso blogue (3): Um blogue que tem querido e sabido incluir-nos a todos (Hélder Sousa, provedor do leitor)

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Avelino Rodrigues, jornalista profissional, competente e honesto, deve ter feito o seu "TPC", o trabalho de casa, antes de partir para a Guiné, a "convite" do Spínola... Naquele tempo não havia Net, nem Wikipedia nem, muito menos, o blogue Luís Graça & Camarada da Guiné... (O seu fundador, Luís Graça, tinha regressado a caso, no T/T "Uíge", em 17 de março de 1971, e durante 10 anos nunca mais quis saber da guerra...).


24 DE JULHO DE 2021
Guiné 61/74 - P22399: Fotos à procura de... uma legenda (153): Uma vez por todas, não havia nem há "jacarés" na Guiné-Bissau, mas "crocodilos" (e outros répteis)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/07/guine-6174-p22399-fotos-procura-de-uma.html

antonio graça de abreu disse...

Eu estava lá nesse Agosto de 1972, Teixeira Pinto, CAOP 1. Com o meu coronel Rafael Ferreira Durão, fiz parte da pequena equipa de oficiais que recebeu o Avelino Rodrigues. Recordo quase tudo, a sua ida a Caió, ao Pelundo, o Durão a mostrar-lhe as maravilhas da pacificação (que até era muito real!) do chão manjaco. Não era mentira, mas não era a verdade toda. Acho que foi isso que disse ao Avelino Rodrigues.

Abraço,

António Graça de Abreu

Valdemar Silva disse...

Não percebo se o houve a habitual censura prévia a este trabalho o jornalista Avelino Rodrigues.
O '....Não entrevistei o Amílcar Cabral nem acompanhei os combatentes do PAIGC....Não pude ouvir falar, desinibidamente, os soldados Portugueses....' é texto para aplicar o lápis azul da censura, mas passou.
Julgo que a questão dos jacarés seria grosso modo, como macacos a todos os símios.
E quanto a crocodilos foi quase um dia inteiro de piroga à procura deles no Geba, de Contuboel até quase à ponte de madeira e volta.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, já não havia "censura" em agosto de 1972, chamava-se agora "exame prévio"... Como já não havia a PIDE, mas sim a DGS... A merda era mesma, tinham mudado as moscas...

A censura à imprensa é um dos instrumentos mais brutais e eficazes de todas as ditaduras...