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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11916: Manuscrito(s) (Luís Graça) (6): No Chá de Caxinde, em Luanda, a lusofonia para além da nossa circunstância: recente homenagem ao poeta angolano Viriato da Cruz (1928-1973)

1. Em visita de trabalho, a Angola, tive oportunidade de assistir, em Luanda, no passado dia 18 de julho, Dia Internacional Nelson Mandela, ao lançamento do livro Poemas, de Viriato da Cruz, na associação cultural Chá de Caxinde, criada em 1989, e agora com instalações renovadas, sitas em plena baixa luandense (Rua do 1º Congresso do MPLA). A edição é da editora Nósssomos, com sede em Vila Nova de Cerveira, e associada ao nome do escritor José Luandino Vieira.

Mais uma vez a sugestão e o desafio para sair da minha dupla insularidade (, hospedado como habitualmente estou na Clínica da Sagrada Esperança,  na Ilha de Luanda) vieram do meu amigo Raul Feio, angolano, médico formado na Faculdade de Medicina de Lisboa, antes  do 25 de abril, e conceituado especialista em saúde pública, além de histórico militante do MPLA, um dos 26 médicos que ficou em Angola, sua terra, aquando  da independência, enfim, um homem cultíssimo que me apresentou a diversas personalidades do meio cultural, intelectual e jornalístico de Luanda, presentes no evento, no Chá de Caxinde.  

Confesso que não conhecia a obra, a não ser uma ou outra coisa avulsa,  de Viriato da Cruz, um homem de quem se diz que o político cedo matou o poeta, autor de um único livro de poesia publicado em vida (Poemas, 1961) mas considerado como um referência maior da moderna poesia angolana, injustamente esquecido por muitos angolanos, e nomeadamente pelo partido no poder. No Chá de Caxinde, assisti, eu e o Raúl, a um bonita homenagem ao poeta, na presença da sua viúva, Maria Eugénia (de 85 anos de idade) e netas. Nessa homenagem foram ditos (e cantados) alguns dos seus poemas, incluindo que o que reproduzimos a seguir, o conhecidíssimo Namoro (nem sempre associado ao nome do seu autor).

Recorde-se que foi o cantor português Fausto Bordalo Dias quem nusicou este poema, tendo-o interpretado e incluído no álbum "A preto e branco" (1988). Este tema jdo Fausto já tinha sido incluído no disco do Sérgio Godinho, "De pequenino se torce o destino" (1976).

È, quanto a mim, um dos mais belos poemas de amor da língua portuguesa.


2. VIRIATO DA CRUZ (Porto Amboim, Angola, 1928
- Pequim, China, 1973)

De seu nome completo, Viriato Francisco Clemente da Cruz nasceu em Kikuvo, Porto Amboim em 1928. Fez os estudos liceais em Luanda.

Considerado o primeiro teórico e membro ativo do chamado Movimento dos Novos Intelectuais de Angola (1948) e mentor da revista Mensagem (1951/52),  Em 1955, esteve também ligado à criação do Partido Comunista Angolano. Foi membro fundador do MPLA, e seu primeiro secretário-geral (1960/62). É-lhe atribuída a autoria do seu Manifesto.

Colaborou em diversas revistas literárias (Cultura I e II, Mensagem) bem como na imprensa escrita (Jornal de Angola, Diário de Luanda). Temendo pela sua segurança, parte em 1957 para Paris, onde se junta Mário Pinto de Andrade, com quem participa nos eventos culturais e políticos, mais importantes, na época, relacionados com África. Acabou por romper com a direcção do MPLA (donde será formalmente expluso em 1963), viveu exilado em vários países (incluindo Portugal) e acabou por se ficar na China, onde morreu precocemente, aos 45 anos, em 13/7/1973, em condições miseráveis e indignas, vítima de revolução cultural chinesa, no tempo do maoísmo. Pagou em vida um preço elevado pela sua rebeldia, independêdncia de espírito, firmeza de convicções e angolanidade.

É considerado como um dos principais precursores (ou representantes) da moderna poesia angolana, a par de Agostinho Neto, Aires de Almeida Santos de António Jacinto. Foi amigo íntimo de Mário Pinto de Andrade. Figura em diversas antologias de poesia angolana, nomeadamente estrangeiras.

Fontes consultadas:

Lusofonia: o teu espaço da poesia lusófona, de Manuel C. Amor > Viriato da Cruz 
Wikipédia > Viriato da Cruz

Sobre Viriato da Cruz

(...) Considerado um dos mais importantes nomes da geração de poetas pré-angolanos. Viriato da Cruz procurou assuas raízes africanas, sem, no entanto, perder as referências culturais portuguesas. Através do uso da língua portuguesa, se bem que polvilhada de palavras dialetais e adaptando a escrita à fala crioula, buscou incessantementeos símbolos da civilização africana perdida, como elementos regeneradores de todo um povo em busca da sua identidade. Essa ideia está bem expressa no poema Namoro, onde o apaixonado só consegue conquistar a sua amada quando se liberta das símbolos europeus e dança com ela uma rumba bem africana. (...)

(...) Em 1948, Viriato da Cruz lançou o mote: «Vamos descobrir Angola». A frase tornou-se lema para os intelectuais angolanos que, dois anos depois, fundaram o Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, com Viriato da Cruz como um dos elementos mais ativos. Esse movimento foi responsável pela publicação da revista Mensagem, onde o grupo exprimiu o seu entusiasmo pela redescoberta da História e arte popular africanas, como contraponto a uma colonização que, fruto do endurecer da repressão por parte do regime ditatorial de Salazar, estava a sofrer uma contestação cada vez mais exacerbada. Nessa revista foram publicados alguns dos mais conhecidos poemas de Viriato da Cruz, tais como Makèzú ou Mamã Negra. (...) (Fonte: Infopédia)



Obra Poética:

Poemas, 1961, Lisboa:  Casa dos Estudantes do Império.
Poemas, 2013. Vila Nova de Cerveira e Luanda: Nóssomos.



NAMORO

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com a letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas.
Sua pele macia ─ era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
Sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce ─ como o maboque...
Seu seios laranjas ─ laranjas do Loge
seus dentes... ─ marfim...

   Mandei-lhe uma carta
   e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o Maninjo tipografou:
"Por ti sofre o meu coração".
Num canto  
─ SIM, noutro canto ─ NÃO.
    E ela o canto do NÃO dobrou.

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro...
    E ela disse que não.

Levei à avó Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
   E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, à porta da fábrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficámos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.

Andei barbado, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
" ─ Não viu...(ai, não viu...?) Não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

E para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba ─ dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim!"
Olhei-a nos olhos ─ sorriu para mim
pedi-lhe um beijo ─ e ela disse que sim.

In: Viriatro da Cruz: Poemas. Vila Nova da Cerveira e Luanda: Nóssomos, 2013, pp. 45-46. (Reproduzido com a devida vénia)

______________


Nota do editor:

Último poste da série > 3 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11794: Manuscrito(s) (Luís Graça) (5): fumo, logo existo

terça-feira, 26 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10074: Em bom português nos entendemos (8): O angolês, termos angolanos que podem dar jeito integrar no nosso léxico (Luís Graça, com bué de jindandu para o Raul Feio e os demais kambas kalus)



Página da AAAPFFEUL - Associação dos Antigos Alunos, Professores e Funcionários da Faculdade de Economia da Universidade de Luanda, alojada no Sapo, donde constava um pequeno Dicionário de Dialectos Angolanos [.infelizmente desaparecido porque entretanto o Serviço de Alojamento Gratuito de Páginas Pessoais do SAPO foi descontinuado, em dezembro de 2015] (LG).


Nessa página podia ler-se:


"Esta é uma página para todos recordarmos, partilharmos e aprendermos. Aqui divulgaremos os termos dos linguajares da terra angolana, apelando à participação de todos os associados e amigos, residentes em Portugal, em Angola ou em qualquer outro lugar do planeta Terra. Enviem as 'mukandas' com os vossos contributos para aaapffeul@gmail.com ".



A página tinha, em rodapé, o seguinte convite:


"Colabora connosco na recolha, registo, partilha e ensino de termos dos vários dialectos falados em Angola. Manda-nos a tua mukanda e diz-nos como se falava com os nossos cambas e com os nossos candengues, sem armar maka!"...







Angola > Luanda > 20 de junho de 2012 > A cidade, vista da Ilha de Luanda... cada vez mais cosmopolita, internacional, igual a tantas outras grandes cidades, cosmopolitas, internacionais, da nossa aldeia global... Foto de L.G.



1. Infelizmente desta vez fiz poucas fotos no exterior. Tirei mais fotos em sala de aula, na Clínica da Sagrada Esperança. Também não tive oportunidade de passear. Trabalhou-se de sol a sol... A única excepção foi uma visita, muita rápida (de 2 horas), à baixa de Luanda, de jipe e a pé... A partir das 16h, o trânsito complica-se.

Os kaluandas (ou "caluandas", ,julgo que o termo, da época colonial, está em desuso,) gastam muito tempo e energia em transportes... Por outro lado, em véspera de eleições gerais, legislativas (a 31 de agosto), Luanda e as capitais provinciais são um imenso estaleiro... Pela televisão e os jornais, percebe-se que o governo e a oposição já estão em pré-campanha eleitoral.


Do lado do regime, dá-se início a um vasto programa de inaugurações: hospitais, escolas, estradas... Aqui não é diferente dos outros Estados. Todo o poder gosta de mostrar obra feita, ao "povão"... 

Por outro lado, em 2004, ainda apanhei um pouco, por tabela, a paranóia securitária da polícia local... e andei fugido de jipe, com um polícia atrás de nós, armado de kalash... Só porque eu estava com um máquina fotográfica digital (ingenuidade a minha!), na mão, no "lugar do morto", ao lado do condutor, num jipe do ministério da saúde, na confusão do trânsito, a caminho do Futungo de Belas... Desobedecemos à ordem de parar, o jipe não levou nenhuma rajada, mas apanhámos um susto... Claro que o diligente "pobre polícia" queria apenmas ganhar uns trocos para o "mata-bicho"...

Julgo que as coisas melhoraram, pelo menos a esse nível... Mas não andei mais, confesso, armado em turista, tanto em Luanda com na ilha de Luanda... Pelo menos nessa sermana... Fintei os tiros de kalash na Guiné, em 1969/71, não tinha piada nenhuma ir apanhá-los em Luanda, em 2012, para mais em missão de paz e cooperação...



2. Para os muitos portugueses (tugas, pulas, em angolês) que hoje vivem e trabalham em Angola (ninguém sabe ao certo quantos, 100 mil ?, 200 mil ?, os aviões da TAP e da TAAG andam sempre cheios, para cá e para lá...), mas também para aqueles como eu que lá têm amigos (kambas) entre os kaluandas, e que lá vão de tempos a tempos em missões públicas ou de interesse público (cooperação, formação, investigação, etc.), é útil a consulta desta página, inserida no sítio da AAAPFFEUL.


A língua portuguesa não é mais do que o fruto (delicioso, gostoso, viçoso, saboroso, multicolorido, riquíssimo...) do linguajar das mais desvairadas mas boas gentes que a têm como língua materna ou língua oficial...  

A(s) influência(s) é (são) mútua(s), desde há muitos anos, o tempo em que convivemos. Falamos aqui de saudáveis interdependências, simbólicas, linguísticas, culturais, afetivas: o português de Portugal é também ele devedor do angolês, o português de Angola... (Claro que os mais "radicais", os indefectíveis antitudo... anticolonialistas, anti-imperiaçlistas, anticapitalistas, antissumpramacistas..., o portuguès é a língua do !"poder",l do "colon", do "tuga"...).

Estive recentemente na Ilha de Luanda, com uma curta passagem por Luanda (uma tarde). É a minha terceira ida a Angola, desde 2003. Sempre breve (uma semana, quinze dias). E todas as vezes que lá vou fico fascinado pelo português, doce, musical, pausado, bem soletrado, que se fala naquela terra. Para mim, são eles, os angolanos, que falam o melhor português da "lusofonia"... Não consigo entender como é que Angola esteve envolvida em 40 anos (!) de guerra, desde 1961 a 2002. Por que é um povo pacífico e intrinsecamente bom, hospitaleiro, amante da paz, que gosta de música, poesia, boa vida...


Em Angola não há o crioulo. A língua oficial é o português. O quimbundu (eles gistam de escrever kimbundo, com o tal K que aidna não faz parte do alfabeto português, não sei porquê...) é o maior grupo etnolinguístico de Angola (c. 25% da população na costa oeste e no norte), a seguir ao ovimbundu (c. 37%, a sul), mas à frente do bacongo (13%). Estes são os três principais grupos etnolinguísticos de Angola, todas eles pertencentes ao povo bantu.


quatro línguas nacionais: o côkwe (leia-se, tchocué), o kikongo (ou quicongo), o kimbundu (ou quimbundu) e o umbundu, a língua do grupo ovimbundu, a mais falada a seguir ao português (sem esquecer outras línguas africanas e inúmeros "dialetos")... O terreno é minado e as questões etnolinguísticas desencadeiam paixões...


À lista de vocábulos do angolês que encontrei neste sítio, da AAAPFFEUL - Associação dos Antigos Alunos, Professores e Funcionários da Faculdade de Economia da Universidade de Luanda, acrescentei uma série de outros vocábulos (e expressões) que aparecem no livro do meu colega sociólogo angolano, Paulo de Carvalho (n. Luanda, 1960), doutorado pelo ISCTE - Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, a minha escola-mãe, bem como no livro do Ondjaki, Os da minha rua: estórias.




Angola > Luanda < Ilha de Luanda > 20 de junho de 2012 > Luís Graça e Raul Feio (à direita), juntos numa acção de formação para pessoal de gestão de uma clínica local, a Clínica da Sagrada Esperança, do Grupo Endiama. uma unidade de saúde de referência não só em Angola como em África... Foto de L.G.


3. Esta pequena recolha, feita em cima do joelho, dedico-a ao mô kamba Raul Feio, Raul Jorge Lopes Feio, de seu nome completo, angolano do Huambo, filho de pais angolanos (com ADN português do lado do pai ou avô...), médico desde janeiro de 1974, (inscrito na Ordem dos Médicos com o nº 19,) e que pagou, com a liberdade, o amor que tem à sua terra. 

Enquanto estudante de medicina da Faculdade de Medicina de Lisboa, foi preso e condenado, em tribunal plenário, por motivos políticos, tendo passado 18 meses em Caxias (1971/72). Diplomou-se, também em Portugal, em saúde pública e medicina tropical, antes de regressar ao seu país natal na véspera da independência.  Como todos os médicos angolanos dessa época, foi militar e conheceu os horrores da guerra ("a guerra da segunda independência" ou "dipanda").

Foi ele, o Raul Feio, quem me levou pelo circuito, pedestre, das livarias da baixa luandense (Chá de Caxinde, Lello, ABC) no passado dia 21 do corrente. Comparativamente a setembro/outubro de 2004 (data da minha última visita), há hoje mais produção literária angolana, nos escaparates das livrarias angolanas, incluindo não apenas ficção mas também livros científicos e técnicos nas mais diversas áreas (da saúde à antropologia, do direito à gestão, da história à política, da arquitectura à literatura de viagens). 

Obrigado, Raul, pelo passeio e pelos livros. Para o melhor e para o pior, Luanda está irreconhecível.

Um afetuoso kandandu, daqui de Lisboa, ainda cheia do azul dos jacarandás e do cheiro dos manjericos dos santos populares... Até ao próximo outubro ou novembro. LG.



Termos do angolês: dialetos, gíria e calão


[Foto à esquerda: N'bondo ou imbondeiro, trabalho artístico em arame, s/d, s/n,  Angola, Ilha de Luanda, Condomínio da Clínica da Sagrada Esperança, 22 de junho de 2012. Foto de L.G.]

A / B


Abuamada. Espantada, atordoada pelo pasmo.


Aká (**). AK47, a espingarda automática russa.


Alembamento. Quimbundo. Pagamento feito aos pais da noiva.


Ambi (*). Diminuitivo de ambicioso. Pessoa gananciosa ou que só se preocupa consigo própria.

Antílope. Animal africano, espécie de veado.

Arimo. Umbundo. Lavra, terra de lavoura.

Avilo, avila (*). Amigo, amiga.


Bagre (*). Peixe de água doce.


Banga (**). Estilo, vaidade.


Bassula. Rasteira, derrubar outro usando sobretudo as pernas.

Batuque. Quimbundo. Tambor.

Bazar (*). Fugir, ir embora.

Bigue (**). Grande. Corruptela do inglês big.


Bina (*). Bicicleta.

Bitacaia. Também chamada bicho-do-pé ou pulga penetrante; pequeno insecto que se fixava na zona das unhas dos pés, por baixo da pele; era removido, por norma, com um alfinete, abrindo a pele e retirando-o sem rebentar o seu minúsculo saco de pus.

Boelo. Ridículo, fora de moda, ultrapassado.

Bôer, bure ou africânder. Comunidade de origem holandesa que ocupou vastas regiões da África do Sul, donde foi expulsa pelos ingleses, acabando por se fixar e definir novos territórios, como os estados do Orange e do Transval, bem como no sul de Angola.

Bombo. Mandioca.

Bondar (**). Matar, atingir (alguém).

Bué (*). Muito, em grande quantidade.

Braga. Homem branco (pejorativo); o mesmo que pula.

Bumbar. Trabalhar.


C (e/ou K)


Ca-barriga (*). Barriga pequena. 

Ca-dinheiro (*). Dinheirinho.


Ca-sorte (*). Um pouco de sorte. (O prefixo ka-, diminuitivo em quimbundu, agrega-se à palavra portuguesa para dar o sentido de "pequena sorte").


Cabra do mato. Espécie de bambi africano.

Cabiri. Rafeiro.

Cachico (*). Criado (Pejorativo).

Cacimba. Ifiote, Quimbundo. Poço de água, pequena lagoa.

Cacimbo. Ifiote, Quimbundo. Época das chuvas, nevoeiro.

Caíngas. Polícias de turno.

Caluanda ou kaluanda. Quimbundo. Habitante de Luanda. Vulgarmente, usa-se o termo kalú, diminuitivo.

Calulú. Prato típico da costa, com peixe seco, íresco, quiabos, folhas de batata doce ou outras ramas e cozinhado com óleo de palma. Acompanha o funje ou pirão.

Camanga ou kamanga. Tráfico ilícito de diamantes.

Camanguista ou kamanguista. Indivíduo que se dedica à camanga.

Camba ou kamba (**). Quimbundo. Amigo, camarada.


Cambaia (**). De pernas arqueadas.

Cambulador(es), Calão luandense. Vem de cambular, enganar. ludibriar, aldrabar

Candengue ou kandengue (**). Quimbundu. Criança, miúdo.

Cangulo. Carro de mão para transportar mercadorias.

Cangando. Homem branco (pejorativo).

Canhangulo. Espingarda.

Capim. Erva alta, colmo.

Capota. Nhaneca. Espécie de galinha selvagem.

Cassule, cassula (*). Mais novo, mais nova.

Cassumbular. Quimbundu. Tirar violentamente o que outrem leva nas mãos.

Cará. Nhaneca. Espécie de babata-doce da região sul.

Catanhó. Homem cabo-verdiano (pejorativo).

Catinga (**). Mau cheiro do suor.


Catorzinha (*). Adolescente luandense (em geral, tem sentido pejorativo:  prostituta muito jovem).

Caxexe. Às escondidas, disfarçadamente.

Caxico. Lacaio (depreciativo).

Caxinde. Folhas de que se faz uma infusão muito aromática. (Chá de Caxinde é o nome de uma conhecida associação e livraria de Luanda; foi fundada em 1989).

Cazucuta. Uma dança, originalmente; acabou por ganhar o sentido de contusão, ban­dalheira.

Cazumbi. Espírito, fantasma.

Chana. Planície típica do Leste de Angola, de capim pouco alto.

Chefe (*). Tratamento dado a pessoa de status social mais elevado.

Chimba. Tribo do sul de angola.

Chuinga (**). Pastilha elástica; corruptela do inglês chewing gum.

Cochito. Um pouco, um pedacito.

Comba ou Komba. Velório na casa do morto, em que se come, bebe e dança.

Cota ou Kota (**). Pessoa mais velha.

Cotótó. Pessoa avarenta.

Cuamato. Tribo do sul de angola.

Cuancala. Tribo do sul de angola.

Cuanhama. Tribo do sul de angola.

Cubar. Dormir.

Cubico (*). Quarto de dormir, casa, cubículo.

Cuduro (ou Kuduro). Dança popular dos bairros pobres de Luanda, surgida após a independência.

Cumbú (ou Kumbú) (*). Dinheiro.

Curibota (ou Kuribota/Kuributice). Mexericos (calão urbano).


D/ E / F / G


Dibinga (**). Fezes.


Ditumbate (*). Erva usada para prevenir e curar o paludismo (ou malária).


Esculú (**). Muito bom.


Esquebra (**). Excedente.


Esquindivar. Evitar, esquivar.


Esquindiva (**). Fuga.


Estigar (**). Ridicularizar o outro através de jocoso jogo de palavras.


Fantasma (*). Falso, que não existe (Falsos nomes que figuram em listas administrativas - combatentes, professores...).


Fezada (*). Sorte.

Fuba ou fubá. Farinha de milho.

Fugar (**). Faltar às aulas.

Funje ou funji (*). Quimbundo. Massa de fuba de mandioca, de batata ou de milho, dissolvida em água a ferver; o mesmo que pirão no sul.

Ganguela. Quimbundo. Tribo que habita a região do Bié.

Ganza. Estado em que se fica quando se usa drogas.

Garina. Moça ou mulher.

Gasosa. Dinheiro dado para corromper uma autoridade; hoje pode significar também gorjeta.

Gindungo (ou Jindungo) (**). Fruto picante, usado em tempêros, na alimentação.

Ginguba. Amendoím, mancarra (na Guiné-Bissau).

Goiaba. Fruta tropical.

Gombelador. Violador, tradicionalmente; hoje significa homem exageradamente assediador.

Grogue. Aguardente de Cabo Verde.




Angola >  Luanda > Ilha de Luanda > Condomínio da Clínica da Sagrada Esperança > 22 de junho de 2012 > A baía de Luanda > Luís Graça e Raul Feio (à direita),  em contraluz...  Foto de L.G. 


H / I / J / K / L


Haka. Umbundo. Reclamação de admiração.

Humbe. Tribo do sul de angola.

Ilha das Cabras. Antiga designação da ilha de Luanda.

Imbambas. Haveres pessoais.

Imbumbável. Pessoa que se recusa terminantemente a trabalhar.

Jiboiar (**). Estar ocioso, sonolento.

Jindungo. Quimbundo jin+dungo. [Dungo significa baga; jin é prefixo do plural]

Kabuenbas (*). Peixe pequeno; em sentido figurado, coisa pouca, negócio pequeno.

Kaluanda. Quimbundu. Antigo habitante de Luanda; diminuitivo: Kalu.

Kandandu. Quimbundu. Abraço (Plural: Jindandu).

Kandonga (*). Negócio, comércio informal.

Kandongueiro (*). Motorista de táxi ou de carrinha de transporte de passageiros.

Kafeluka (*). Copos ('Vou beber os meus kafeluka').

Kapurroto (diminuitivo Kapuka) (*). Aguardente caseira, feita a partir de cana de açucar, açúcar ou milho.

Kimbombo (*). Bebida fermentada, feita a partir de cereais.

Kissangua (*). Refresco feito a partir de cereais ou frutas.

Kitaba (**). Espécie de pasta feita com amendoim torrado.

Liamba (*). Cannabis.

M

Maboque. Fruta tropical.

Maca (ou maka). Quimbundo. Conversa, conflito, discussão, problema, cena.

Machimbombo. Quimbundo. Autocarro urbano.

Macuta. Antiga moeda colonial feita de cobre.

Maianga. Bairro de Luanda onde se situa o Hospital Josina Machel / Maria Pia

Malaico (ou malaiko) (**). Ordinário, grosseiro, que não é bom

Malaiko (*). À toa, abandalhado

Malembe. Ifiote. Devagar, calma.

Mamão. Fruta tropical, semelhante à papaia.

Mambos (*). Assuntos, casos, problemas, cenas.

Manauto. Amante.

Manga. Fruta tropical.

Maqueiro. Quimbundo. Indivíduo conflituoso, que arma macas.

Maruvu (ou maluvu) (*). Bebida fermentada, feita a partir da seiva da palmeira

Massambala. Sorgo; cereal de grão redondo e redondo, que também servia para fazer uma cerveja local. 

Matabicho (*). Pequeno almoço.

Mato (*). Interior, meio rural.

Matumbo. Pessoa do mato, considerada pelos citadinos como ignorante.

Micate. Doce frito, espécie de sonho.

Milongo ou bilombo. Remédio; substância, normalmente de origem vegetal, a que se atribui poder curativo.

Mirangolo. Fruta tropical, do tamanho duma cereja.

Missanga. Contas coloridas, em plástico, usadas para fabrico de adornos (colares, pulseiras).

Mô (**). Meu

Mona. Filho; usa-se carinhosamente para rapaz.

Monangamba. Termo depreciativo para trabalhadores forçados no tempo colonial. 

Muadiê (**). Senhor ou patrão, na terminologia colonial; pessoa, tipo/a.

Muata. Chefe tradicional, hoje usa-se para qualquer responsável.

Mucanda ou mukanda. Quimbundo. Carta, bilhete. Fig. Recado.

Múcua. Quimbundo. Fruto do Imbondeiro.

Mucubal. Tribo que habita a parte sul da região entre Moçâmedes e a serra da Chela.

Muíla. Membro da tribo nhaneca.

Mujimbeiro (**). Fofoqueiro.

Mujimbo (**). Tchokue. Notícia; ultimamente ganhou a conotação de boato, fofoca.

Mulemba. Quimbundo. Figueira africana.

Mundombe. Tribo que habita a parte norte da região entre Moçâmedes e a serra da Chela.

Mungué. Quimbundo. Até à amanhã.

Musseque. Quimbundo. Originalmente a areia vermelha; mais tarde, os bairros periféricos (e pobres) de Luanda, com construções precárias feitas de chapa, adobe e colmo.

Mutamba (*). Parte central da baixa de Luanda.


Mutiati. Nhaneka. Espécie de árvore muito comum no sul de Angola.

Muxima. Quimbundo. Coração. Plural, Mixima.


N


N´bondo. Imbondeiro.

Naite (*). Cigarro.


Naka. Umbundo. Horta à beira de um rio.


Ndengue. Quimbundu. Miúdo.


Ngonguenha (**). Mistura de água com farinha de pau (farinha fina feita a partir da mandioca) + açúcar.

Nhaneca. Tribo que habita a região da Huíla, no sul de Angola.

Njango. Umbundu. Construção circular, aberta, onde se realizam reuniões.

Nocha. Fruta tropical.

Nona. Fruta tropical.

Nunca ningi (*). Nunca mais.


Nunce. Umbundu. Espécie de antílope com 50 kg e 75 cm de altura em média; também chamado sembo no sul.





Angola >  Luanda > Ilha de Luanda > Condomínio da Clínica da Sagrada Esperança (CSE) > 19 de junho de 2012 > A hora da bica... numa dos sítios mais bonitos e tranquilos da ilha, com vista para o porto de Luanda > Da esquerda para a direita: José Vasconcelos (ENSP/UNL), Jorge Lima (CSE e FMUAN - Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto), Conceição Araújo (a nossa anfitriã, CSE) e Luís Graça (ENSP/UNL)...  Foto de L.G. 


O / P / Q


Ocipama. Umbundu. Aula, lição.

Onkhako. Nhaneca. Sandálias

Olongo (**). Umbundu. Espécie de antílope com 300 kg e 1,5m de altura em média. Também chamado ungiri no sul.

Pacaça. Animal africano; espécie de búfalo vermelho africano.

Pai (*). Tratamento de deferência ou de respeito, dado a pessoa mais velha ou de status social mais elevado.

Palanca. Animal africano; espécie de veado.

Papaia. Fruta tropical, semelhante ao mamão, mas mais doce.

Paracuca (**). Amendoím torrado, envolto em açúcar,  vendido na rua em canudos de papel.


Parar (*). Morrer.

Pato. Gíria. Pessoa que entra numa festa sem ser convidada.

Pirão. Umbundo. Farinha de mandioca ou de milho cozida; o mesmo que funje (ou funji) no norte.

Pitanga. Fruta tropical.

Pitar (*). Comer.

Pito. Pessoa bonita, desejável.

Porrinho. Moca.

Poster (**). Estilo.


Pré-cabunga (**). Última classe do ensino pré-escolar.


Primo como irmão (*). Filho da tia (nos sistemas de parentesco matrilineares), ou filho do tio (nos sistemas patrilineares).


Protecção (*). Protecção física, guarda, segurança.

Pula. Pessoa branca (pejorativo). O mesmo que braga, cangando, tuga.

Quedes (**). Sapato desportivo, em lona e borracha


Quijila ou kijila. Interdito, proibição de usar ou comer alguma coisa por razões religiosas.

Quilapi ou kilapi. Dívida, calote.

Quimbanda ou kimbanda. Quimbundo. Curandeiro, adivinho.

Quimbo ou kimbo. Quimbundo. Aldeia, pequeno povoado.

Quimbundo ou kimbundu. Língua das tribos do centro-norte de Angola, nomeadamente da região de Luanda.

Quinguila ou kinguila. Mulher que troca divisas (dólares por kwanzas) na rua.

Quinhunga ou kinhunga. Pénis.

Quionga ou quionga. Cadeia, prisão.

Quisaka ou kisaka. Esparregado de folhas de mandioca cozidas em óleo de palma.

Quissama. Nome do parque nacional situado a 75 km de Luanda, e delimitada pelo Oceano Atlântico e os rios Cuanza e Longa, uma da área de grande variedade de fauna e flora protegida desde 1957.

Quissange. Instrumento musical.

Quitata ou kitata. Prostituta.

Quiteta (**). Espécie de molusco, comestível.

Quitute. Doce, presumidamente de origem brasileira.


R / S / T / U / V / X / Z


Roboteiro. Pessoa que faz transporte de cargas, ou com cangulo ou às costas.

Ruça. Carro.

Rusga (*). Alistamento compulsivo de jovens em idade militar; por extensão, recolha de pessoas, em casa, na rua, na escola, no local de trabalho,  que tenham cometido uma infracção ás leis do país.

Saio. Trabalho.

Salalé. Formiga branca e carnívora, da família das térmitas.

Sembo. O mesmo que Nunce.

Soba. Chefe tradicional, autoridade máxima numa tribo ou aldeia.

Sobeta. Chefe tradicional, adjunto de um soba.

Sukuama. Exclamação de admiração ou raiva.

Tciriquata. Umbundo. Pequeno pássaro comum no planalto central.

Tipóia ou machila. Umbundo. Rede usada no transporte de pessoas ou bens.

Tissagem. Acréscimos de cabelo, muitas vezes de cores diferentes do próprio.

Tremunos. Jogos de futebol, na rua ou em terrenos vagos.

Tuga (*). Português do tempo colonial.


Tunda, tunda! (*). Desaparece, vai-te embora.

Umbundo. Língua falada no centro-sul de Angola.

Ungiri. O mesmo que Olongo.

Xambeta. Coxo.

Ximbeco. Habitação mal feita, de materiais precários.

Zongola. Bisbilhoteiro.

Zunga (*). Venda de comida ou bebida nas ruas.


Zungueira (*). Mulher que pratica a zunga.

Fonte: Adapt. de AAAPFFEUL. "Muitos dos termos e definições deste dicionário foram recolhidas em obras do escritor Pepetela [ n. Benguela, 1941], cujo contributo aqui agradecemos e rendemos a nossa homenagem". 


Vd. também vocábulos e expressões recolhidos por nós, em 2004, em Luanda (re)visitada



(*) Referido ou também referido por Paulo de Carvalho [, foto à esquerda, cortesia da Wikipédia]- 'Até você já não és nada!...' Luanda: Kilombelombe. 2007.342 pp. (Colecção Ciências Humanas e Sociais, Série Sociologia e Antropologia, 4).

(**) Referido ou também referido por Ondjaki [, pseudónimo do escritor angolano Ndalu de Almeida, n. Luanda, 1977 ] - Os da minha rua: estórias. Lisboa: Caminho. 2007, 125 pp.  (Colecção Outras Margens, autores estrangeiros de língua portuguesa,63).

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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de março de 2010 > Guiné 63/74 - P6015: Em bom português nos entendemos (7): O kapuxinho vermelho, contado aos nosso netos, de Lisboa a Dili, de Bissau a S. Paulo (Nelson Herbert / Luís Graça)