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segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24618: Notas de leitura (1612): Guiné, Operação Irã (maio de 1965) e Operação Hermínia (março de 1966), no fascículo 2 de "As Grandes Operações da Guerra Colonial", textos de Manuel Catarino; edição Presselivre, Imprensa Livre S.A. (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Outubro de 2021:

Queridos amigos,
É meritório, há que o reconhecer, a divulgação em fascículos, com acesso ao grande público, e numa linguagem acessível, de acontecimentos relevantes como foram grandes operações da guerra colonial. Quando me atirei à tarefa de estudar com um pouco de minúcia os acontecimentos que antecederam a chamada luta armada e depois a luta armada propriamente dita, entre 1963 e 1965, isto num projeto editorial que teve como base a história do BCAV  490 feita por um poeta popular, e assim chegámos os dois à feitura do livro "Nunca Digas Adeus às Armas", Húmus Edições, 2020, detetei que a generalidade da historiografia sobre a guerra da Guiné passa como gato pelas brasas pelos aspetos fulcrais tanto da atividade operacional desenvolvida no período como no contexto dessa luta armada, os dois comandantes-chefes, e nomeadamente Arnaldo Schulz, lançaram as bases da ação psicológica, da formação de milícias e companhias de Caçadores, projetos de desenvolvimento e algo mais que merecia o respeito e consideração por quem estuda a guerra.

Mas o mantra é muito superior à realidade e quem escreve que a guerra se agravou entre 1963 e 1968 e mais adiante dirá que a partir de 1970 a guerra nunca mais deixou de se agravar não dá pelas injustiças que profere, uma delas até é cometida com tiros no pé, como esta "Operação Irã", de maio de 1965, e esta "Operação Hermínia", de março de 1966, que desdizem cabalmente de que não se respondia taco a taco, enfrentando o inimigo. Bem curiosamente, há agora quem escreva que mesmo no período da governação Spínola a tropa dos aquartelamentos limitava-se a andar ali à volta, quem verdadeiramente tinha atividade operacional eram as tropas especiais, outro mantra, falando por mim, não me ofende quem quer, na chamada zona libertada do Cuor eu percorria quatro quintos a qualquer hora do dia e se a mais não me afoitava era por não dispor de recursos, com aquelas operações de tabancas em autodefesa fui sendo sangrado de várias secções de pelotões de milícia, em vão protestei. Mas isso é uma história que a historiografia nem se preocupa em estudar, a precariedade dos meios.

Um abraço do
Mário



Guiné, Operação Irã (maio de 1965) e Operação Hermínia (março de 1966)

Mário Beja Santos

A série "As Grandes Operações da Guerra Colonial", surgida na década de 2010, vendia-se nas papelarias e quiosques sob a forma de fascículos, os textos pertencem a Manuel Catarino, edição Presselivre, Imprensa Livre S.A. Este fascículo 2 é uma reedição, é uma miscelânea onde para além destas duas operações a que nos iremos referir juntar-se-ão outras informações, acrescendo a descrição da Operação Tridente, acontecimentos que envolveram paraquedistas em Guilege ou que viveram dificuldades no decurso de uma operação em Cassebeche. O valor do texto é muito discutível. Dizer que a Operação Irã é uma investida das tropas portuguesas no Morés onde nunca elas se tinham aventurado é desconhecer inteiramente de operações no Morés em 1963 e 1964. Sim, o Morés era uma região de mata densa, aí se sediavam pequenas bases móveis, improvisadas infraestruturas, importantes depósitos de material. E o texto lança logo o mantra de que tudo foi agravamento do conflito desde janeiro de 1963 até 1968, é o velho e estafado refrão de que os Altos Comandos anteriores a Spínola andaram aos bonés e revelaram-se incapazes de travar a progressão da guerrilha.

Quem lê a resenha das campanhas de África, no que tange à Guiné, e é este período, ficará seguramente atónito com o texto das diretivas de comando e as ordens de batalha dos dois comandantes-chefes anteriores a Spínola, e sobretudo ao conjunto de operações efetuadas, ao seu desenlace, e à sinceridade posta nos quadros de situação, é uma linguagem que não deixa margem a equívocos de que era inteiramente possível fazer melhor com os meios disponíveis. O autor dá uma no cravo e outra na ferradura, sempre que pode deslustra quer Louro de Sousa quer Schulz e chega a dizer enormidades como:
“Schulz era um militar clássico e, como seria de esperar, respondeu classicamente à manobra do PAIGC”. O que desdiz completamente o que Schulz escreveu para os chefes de Estado-Maior General das Forças Armadas, o mesmo é dizer que chegou ao conhecimento do governo. Louro de Sousa apanhou a fase da implantação do PAIGC, tinha efetivos humildes, o sistema de informações era mais do que precário, a operação de investida no Sul tinha sido estrategicamente calculada, revelou-se fulminante, passou-se para o outro lado do Corubal, foi-se consolidando na região do Morés. Havia que prontamente responder apoiando as populações que se revelavam afetas à soberania portuguesa e à atividade operacional que foi contínua, apareceram as milícias, as tabancas em autodefesa, as tropas especiais.

A Operação Irã ocorreu em maio de 1965, foi um golpe de mão à base do PAIGC de Iracunda. Lê-se no relatório: “A CART nº 730 saiu de Bissorã em 2 de maio e no dia seguinte montou uma rede de emboscadas em proteção à CART nº 566 que executou o ataque à base central do Morés. Pelas 5h50 de 3 de maio vinte elementos vindos do Morés caíram na zona de morte, interrogado um prisioneiro deu informações sobre a base de Iracunda para onde a CART n.º 730 logo seguiu. Esta unidade seguiu prontamente para Iracunda e capturaram material, havia aqui uma escola, a CART n.º 730 sofreu duas fortes ações de fogo sem consequências”. Depois o autor escreve outro êxito, o do BCAÇ 2879, em agosto de 1969, segue-se um texto sobre os Diabólicos, o grupo de Comandos que executou a primeira ação helitransportada na Guiné, a Operação Hermínia, que ocorreu em março de 1966. O objetivo era tomar de assalto uma base de guerrilha em Jabadá. Nesta altura havia melhores meios, já tinham chegado os helicópteros Alouette III, já existiam quatro grupos de Comandos, os Diabólicos (comandados pelo alferes Virgínio Briote), os Vampiros (comandados pelo alferes António Pereira Vilaça), os Centuriões (comandados pelo alferes Luís Almeida Rainha) e os Apaches (comandados pelo alferes António Neves da Silva).
Narra o autor que a operação se iniciou à uma da tarde de 6 de março de 1966, seis helicópteros descolaram de Bissalanca em direção ao objetivo, não mais de 20 minutos de voo, a formação de seis helicópteros dividiu-se, três largaram os atacantes nas moranças a norte, enquanto os outros três foram lançados nas moranças mais a Sul. A operação durou cerca de três horas e meia, perdeu a vida o soldado António Alves Maria da Silva. O PAIGC teve baixas, fizeram-se oito prisioneiros, foram destruídos meios de abastecimento. Seguidamente Manuel Catarino descreve o aparecimento dos Comandos na Guiné, dá-nos uma tábua cronológica do país e a guerra do ano 1962, e entra-se na reedição da Operação Tridente, minuciosamente descrita, é mencionada a Operação Grifo, que decorreu em 28 de abril de 1966 e em que foi morto o capitão Tinoco de Faria que ia à frente de um pelotão de paraquedistas que saiu do aquartelamento de Mejo com a missão de montar emboscadas no corredor de Guilege. Haverá depois a descrição da Operação Ciclone II, que aconteceu no dia 25 de fevereiro de 1968, o Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12 executou uma ação no Cantanhez.

Em vagas sucessivas de helicópteros, os paraquedistas foram lançados nas bolanhas de Cafal e Cafine, e tomaram de assalto as bases do PAIGC depois de combates encarniçados. Os paraquedistas sofreram cinco feridos, três com gravidade, aniquilaram um bi-grupo e aprisionaram 19 homens. O texto sobre a Operação Ciclone II é igualmente detalhado, segue-se depois um texto sobre Spínola na Guiné, os seus primeiros textos enviados para Lisboa dizendo que as tropas portuguesas estavam à beira da derrota, o autor menciona as alterações estratégicas e termina o texto com uma frase mirabolante, contrariando tudo o que disse anteriormente: “A partir de 1970, a situação militar nunca mais deixou de piorar”.

Voltamos agora a uma área específica, o Quitafine, onde o PAIGC implantara metralhadoras antiaéreas de quatro canos – as ZPU-4. Foi num voo de reconhecimento sobre este ponto do Cantanhez que se descobriu este potencial antiaéreo e logo foi dada a missão ao Batalhão de Caçadores Paraquedistas 12 para destruir o ninho de metralhadoras antiaéreas – a Operação Vulcano. Tudo começou na tarde de 7 de março de 1969, duas companhias de paraquedistas prepararam-se para atacar as posições do PAIGC em Cassebeche. Os grupos do PAIGC deram resistência e forçaram à retirada dos paras, estes tiveram que abandonar o local, depois de combater denodadamente. Mais tarde, a Força Aérea Portuguesa pulverizou estes ninhos de metralhadoras antiaéreas.

No termo deste n.º 2 de "As Grandes Operações da Guerra Colonial", faz-se uma síntese dos acontecimentos da guerra na Guiné, o desempenho de Spínola, é referida a máquina de propaganda que o cercava, fala-se na tentativa de reviravolta logo em 1968, o esforço de Spínola para negociar com Senghor e a recusa de Caetano e o papel desempenhado pelo livro que abalou o regime, "Portugal e o Futuro".

Militares num dos rios da Guiné no decurso de uma operação. Imagem extraída do blogue Capeia Arraiana, com a devida vénia
Lanchas de fiscalização "Daneb" e "Canópus" em proteção ao desembarque na ilha de Como. Imagem do livro AFONSO, Aniceto; GOMES, Carlos de Matos Gomes. Guerra Colonial. Edição: Editorial Notícias, abril de 2000
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Nota do editor

Último post da série de 1 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24608: Notas de leitura (1611): "Cabo Verde, Abolição da Escravatura, Subsídios Para o Estudo", por João Lopes Filho; Spleen Edições, 2006 (Mário Beja Santos)

sábado, 21 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20165: Controvérsias (139): louvor, em ordem de serviço, do comando do BART 733 (Farim, 1964/66), aos seus militares, pelo pronto, abnegado e eficiente socorro prestado às vítimas do atentado terrorista de 1 de novembro de 1965 (João Parreira, ex-fur mil op esp, CART 730 / BART 733, Bissorã, 1964/65; ex-fur mil cmd, CTIG, Brá, 1965/66)

1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro João Parreira ( ex-fur mil op esp, CART 730 / BART 733, Bissorã, 1964/65; ex-fur mil cmd, CTIG, Brá, 1965/66):

Data:  sexta, 20/09/2019 à(s) 19:40
Assunto: o incidente em Farim, em 1/11/1965

Boa tarde Luís Graça,

Não me esqueci do que falámos no almoço da Magnífica Tabanca da Linha [, no passado dia 19,]  e fui procurar saber se, além do que publicaste no P20130 do passado dia 7 (*),  tinha mais elementos sobre o incidente em Farim em Novembro 1965.

Assim, para o caso de ter interesse, transcrevo uma ordem de serviço do comando do BART 733 (Farim, 1964/66) (**):



Após o incidente ocorrido na Vila de Farim em que perderam a vida alguns nativos (mulheres e crianças) e outros ficaram feridos, é dever deste Comando pôr em destaque o trabalho do pessoal militar em serviço nesta Sede que desde o momento do acontecimento até ao dia seguinte trabalhou afanosamente durante toda a noite socorrendo os feridos, transportando-os aos postos de socorros e enfermarias, iluminando o campo de aviação para que o avião de socorro pudesse vir em auxílio dos feridos, o que se realizou de maneira impecável na opinião dos pilotos, acorrendo ainda a diversos pontos da Vila onde a sua presença se tornava necessária, recolhendo alguns cadáveres, ajudando o pessoal especializado em número muito reduzido, nos tratamentos, ministrando até injecções, colocando pensos e realizando outros trabalhos para os quais não estavam preparados, tudo executado com o máximo de desembaraço, rapidez e sobretudo boa vontade inexcedível, compenetração e espírito de abnegação e de bem servir, contribuindo assim com a sua acção para socorros mais rápidos e evitando perda de maior número de vidas, factos que foram reconhecidos pela população que de certo modo nos manifestou o seu agradecimento e nos retribuiu a solidariedade demonstrada. 

 Por todos estes motivos, a acção das NT aquarteladas na Sede deste Batalhão, merece ser posta em realce, pelos altos serviços prestados nesta situação de emergência, tudo decorrendo com tal método, ordem, disciplina e sem pânico que mais parecia um serviço previamente planeado e determinado.

Um abraço. João Parreira

domingo, 15 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20149: Controvérsias (138): Ainda o atentado terrorista de 1 de Novembro 1965, em Morcunda ou Morocunda, Farim: "pessoal bandido não gostava de fulas e mandingas", era o que se ouvia dizer na época... Vi a "cara amassada" do Júlio Pereira... Infelizmente queimaram-me, em Bissau, o rolo de fotografias que tirei, onde estavam os suspeitos, detidos num campo vedado a arame farpado (António Bastos, testemunha dos acontecimentos)


Guiné- Bissau > Região de Oio > Farim > Março de 2008 > Cádi ou Cati, uma sobrevivente dos trágicos acontecimentos de 1 de novembro de 1965. O António Paulo Bastos conheceu-a,  na Missão Católica, na altura da sua 3ª viagem à Guiné-Bissau.

Foto (e legenda): © António Paulo Bastos (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso camarada António [Paulo] Bastos (ex-1.º cabo, nº 371/64, do Pel Caç Ind 953, Cacheu, Bissau, Farim, Canjambari e Jumbembem, 1964/66; esteve adido ao BCAV 790 e ao BART 733):

Data: sábado, 14/09/2019 à(s) 12:04
Assunto: 1 de Novembro 1965.

Bom dia, Luís e camaradas da Tabanca Grande:

Luís, mais uma vez vou falar sobre esse dia pois eu estava em Farim  [, nesse fatídico dia 1 de novembro de 1965, pelas 21:30, estava eu de passagem por Farim esperando transporte para Canjambari], quando se deu o rebentamento... Não estava na Morcunda [ou Morocunda] mas estava à porta da caserna do Pelotão de Morteiros, claro peguei logo na arma e esperei o pior (um ataque de  morteiros do Oio).(*)

Logo no outro dia,  fui a Morcunda ver onde rebentou a granada, ainda se via sangue e muitas coisas pessoais pelo chão.

Também ouvia os familíares [das vítima] dizerem que "pessoal bandido não gostava de Fulas e Mandingas".

Também em 2008, quando estive novamente em Farim, ao falar com o Gibril Candé e com a Kati, onde lhe tirei as fotos, foram unânime em dizer que foi o Júlio [Pereira] da Ultramarina [, o responsável pelo atentado]. (**)

Também fui à1ª Companhia [, a CART 730, que estava em Nema, Farim], a   ver os presos que já lá estavam onde vi o Júlio [Pereira] com a cara toda amassada e outros mais.

Tenho pena de,  em Bissau,   me terem queimado as fotos que eu tirei onde estavam os presos no campo vedado a arame [farpado]

Também li há dias o que o jornal 'O Democrata' dizia e não estou de acordo que tivesse sido a PIDE (***), que mandou lançar a granada, se bem que eles muito competentes de fazer isso e muito mais. 


Um abraço

A. Paulo do Pelotão Caçadores 953. (***)
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


1 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7205: Efemérides (54): O fatídico dia 1 de Novembro de 1965 (António Bastos)

(**) Último poste da série > 12 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20144: Controvérsias (137): Craveiro Lopes em Bolama, em visita de Estado... Era presidente da câmara municipal o Júlio [Lopes] Pereira, que passa, em dez anos, de cidadão respeitável a proscrito social... (Recorte de imprensa: "Diário Popular", Lisboa, 6 de maio de 1955)

Vd. também postes anteriores:

11 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20142: Controvérsias (136): Não consta que o Amílcar Cabral, o "pai da Pátria", tenha reivindicado a autoria (moral e política) do "atentado terrorista" de 1 de novembro de 1965, em Morocunda, Farim, e muito menos denunciado ou condenado esse ato monstruoso... Pelo contrário, até lhe convinha, para memória futura, que as criancinhas de Farim continuassem a repetir, em coro, estes anos todos, na escola, que esse ato foi obra maquiavélica e tenebrosa dos "colonialistas portugueses"...

10 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20140: Controvérsias (135): as duas noites de terror, em Farim, as de 1 e 2 de novembro de 1965, para as vítímas (mais de uma centena) do atentado terrorista, e para os indivíduos (mais de sessenta, o grosso da elite económica local) detidos e interrogados pela tropa pela PIDE, por "suspeita de cumplicidade"...

9 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20135: Controvérsias (134): os trágicos acontecimentos de Morocunda, Farim, em 1 de novembro de 1965: a memória das vítimas e o risco de falsificação da história... Excertos de reportagem do jornal "O Democrata", Bissau, 13/11/2014

7 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20130: Controvérsias (133): Os trágicos acontecimentos de Morocunda, Farim, de 1 de novembro de 1965, um brutal ato de terrorismo, cuja responsabilidade material e moral nunca foi apurada por entidade independente: causou sobretudo vítímas civis, que estavam num batuque: 27 mortos e 70 feridos graves
(***) Vd. poste de 18 de agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2060: Bibliografia de uma guerra (14) : o testemunho de Pedro Pinto Pereira. "Memórias do Colonialismo e da Guerra", de Dalila Cabrita Mateus (Virgínio Briote)

(...) Que assistira ao fabrico de uma bomba. Quando eles (PIDE) é que tinham deitado uma bomba em Farim, onde mataram muita gente,

(...) (quem lançou a bomba?) Foi a PIDE que mandou, tenho a certeza disso. Lançou a bomba para depois dizer que nós até matávamos africanos. Ali não havia quartéis, só havia casas comerciais, onde era fácil lançar bombas e fugir. Porque é que não lançavam as bombas nos quiosques, frequentados pelos militares portugueses? E iam deitar onde só estava a população? Queriam arranjar pretexto para fazer prisões. Havia, então, uma festa numa tabanca e morreram mais de cem pessoas. Isto passou-se no dia 1 de Novembro de 1965. (...)

(...) Nota da historiadora Dalila Cabrita Mateus: 


Confirmado o incidente, a PIDE, em mensagem por rádio existente nos arquivos de Salazar [, Arquivo Oliveira Salazar, 1908-1974, Torre do Tombo],  afirma que, no dia 1 de Novembro de 1965, cerca das 20 horas, fora lançado um engenho explosivo para o meio dos africanos que se encontravam num batuque em Farim. A explosão teria provocado 63 mortos e feridos, na sua maioria mulheres e crianças.

Foi detida meia centena de pessoas. Confissões obtidas levaram à detenção de um tal Issufo Mané, que declarou pretender atingir militares (?). Para o fazer, teria recebido 14 contos de Júlio Lopes Pereira, o qual, por seu lado, actuara por indicação do chefe da Alfândega de Farim, Nelson Lima Miranda. E este teria vindo a declarar que a bomba fora lançada a mando da direcção do PAIGC.

(AOS/CO/UL- 50-A, Informações da PIDE, 1965-1966, 86 subdivisões, pasta 2, fls. 636, 637, 638, 641 e 642).

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16693: Carta aberta a... (14): ...ao Comandante Supremo das Forças Armadas Portuguesas, Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

Portugal > Presidência da República > Havana, 26/10/2016 > O Presidente da República encontrou-se com Fidel Castro

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa reuniu-se, em Havana, com o antigo Presidente cubano, Fidel Castro, um encontro que durou cerca de uma hora.

Foto (e legenda): Presidência da República (com a devida vénia)


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, BissauCufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 5 de Novembro de 2016, trazendo, para publicar, uma carta aberta ao Comandante Supremo das Forças Armadas Portuguesas, Presidente da Rerpública Marcelo Rebelo de Sousa.

[ Foto à direita: Manuel Luís Lomba, residente em Barcelos,  autor do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu".  Barcelos: Terras de Faria, 2012, 340 pp. (Email: terrafaria@iol.pt)].


CARTA ABERTA - 14

Espécie de carta aberta ao nosso compatriota Marcelo Rebelo de Sousa:

Excelência:

Como Presidente da República e Comandante Supremo das FA Portuguesas, prescindiu do meu respeito!

Como é de boa prática, faço uma declaração de interesses. Não votei no jurista e mediático comentador Marcelo, por o considerar uma flor da estufa social de Lisboa-Cascais; votei no engenheiro e trabalhador Henrique Neto, por o considerar uma espécie de esteva no resto da paisagem.

A minha geração deu em escrutinar o currículo militar aos “valores emergentes” do 25 de Abril. Em 1974, Marcelo, filho de ministro, tinha 26 anos e sem assentar praça, quando o povo comum se tornava magala aos 21 anos! Terá sido um dos honrosos refractários de facto, mas não de direito, obviamente…

A curiosidade pela vida militar dos que se promovem ou são promovidos ao topo político não revela tendência militarista. O nosso orgulho de ex-combatentes não é de actores nos palcos da Guerra do Ultramar, mas de camaradas de D. Afonso Henriques, o primeiro soldado de Portugal, 800 anos depois de ele ter fundado a nacionalidade portuguesa e dado à luz a nossa independência política. E sem inibições em manifestar o nosso respeito aos que, movidos por idêntica aspiração, nos deram combate nessa guerra.

Como Presidente da República de plena legitimidade, como o meu ADN é lusitano passei a dedicar o devido respeito e a tributar a minha lealdade a S. Ex.ª, com unhas (os dentes já não são capazes). A romagem de S. Ex.ª a Fátima e a Roma poderá entender-se um acto positivo. É que enquanto Portugal e os Portugueses dedicaram os seus afectos e devoção a Nossa Senhora, de Oliveira, da Conceição ou de Fátima, tornou-se independente, construiu-se, expandiu-se ao Mundo – e foi Império durante 500 anos! Decretada a sua orfandade, os “portuguesinhos” venderam o país e a sua alma, Portugal perdeu tudo – sobretudo a vergonha! – para se tornar um protectorado da União Europeia, dependente e venerador da Troika e da Senhora Merkl…

Que S. Ex.ª vá a Cuba em visita de Estado, são atribuições do seu cargo, e compreensíveis são os sorrisos amistosos e os cumprimentos mediáticos que dispensou ao seu chefe, por maior tratante que tenha sido para com os Portugueses e continue a ser para os cubanos. Ossos do ofício. Mas que vá prestar menagem e veneração ao fossilizado Fidel Castro – e espere um dia para ser recebido por ele – é inadmissível! Porquê? O Presidente da República de Portugal tem obrigação de saber, o dever de sentir e de ter a coragem moral de tomar as dores das ofensas militares ao seu país!

“Quem não se sente, não é filho de boa gente” – sabedoria popular portuguesa.

Reconhecidamente paciente desse complexo de superioridade de revolucionário, o cubano Fidel Castro tornou-se agente da morte, sofrimento e privações do povo cubano, impondo-lhe o culto da sua personalidade e a ditadura ideológica e social, feroz e oligárquica, que o oprime há quase 60 anos! E a estruturação do seu pensamento revolucionário começara por colocar a Humanidade à beira do apocalipse nuclear USA-URSS e a passar 14 anos a matar Portugueses, pelas ofensas militares ao nosso país, por assuntos que não lhe diziam respeito.

No tempo em que andei em perigos e guerras esforçados ao longo da fronteira Leste e Sul da Guiné, com os corajosos e eficientes guerrilheiros do PAIGC, como o seu chefe Amílcar Cabral apregoava já controlar dois terços do território, Fidel Castro tentou convencer o presidente da República da Guiné a ceder o seu país como plataforma da invasão pelo exército cubano. Sekou Touré era verdadeiro inimigo de Portugal, mas ditou:
- Como o Cabral já controla dois terços do território, tens muito por onde lançar a invasão, entre o Geba e o Cacheu…

Enquanto os outros patrocinadores, desde a Europa do Norte, passando pela URSS e satélites, à China e aos Estados Unidos, cooperavam com a guerrilha, mas não autorizavam os seus nacionais a pisar território português, Fidel Castro enviava oficiais e especialistas do exército regular de Cuba, para planear e supervisionar as operações para matar soldados portugueses nas fronteiras da Guiné.

Excelência:

Para atalhar o tema, atente em dois factos, anda bem frescos na memória de milhões de Portugueses e que ainda amarguram os corações de centenas de milhares, imputáveis ao “el comandante en jefe” cubano da sua devoção.

Os ataques massivos contra as tabancas fronteiriças de Guileje, Gadamael, Guidaje, Canquelifá, etc, planeados, supervisionados e desencadeados por elementos do exército regular de Cuba, durante o primeiro semestre de 1973, provocaram cerca de 2000 vítimas portuguesas, entre os nativos residentes e os nativos atacantes, incluindo cerca de 200 soldados portugueses metropolitanos.

É ao exército cubano que os Portugueses e os Angolanos devem, infelizmente com a cumplicidade do MFA português, a materialização da inveja e da sanha internacionalista, que visava a desconstrução da realidade física e social, atingida pelo Estado de Angola, como subempreiteiro por conta dos interesses dos imperialismos – Rússia, Estados Unidos e China. Nos 13 anos da guerra sustentada por Portugal, o progresso económico e social de Angola foi exponencial; nos 16 anos da guerra alimentada pelos cubanos, a destruição económica e o retrocesso civilizacional de Angola bateram no fundo.

E lembramos a sua responsabilidade na desnatação dos quadros, que alavancavam o progresso angolano e das suas vidas - os 800 000 refugiados, que Portugal recebeu sob o eufemismo de “retornados” – como vítimas do maior roubo da História, apenas superado pelo confisco nazi aos Judeus.

Excelência: É devoto de Fidel Castro? Aquela rapaziada do Governo que foi ver os jogos do Campeonato da Europa à borla, também era devota – e da Selecção Nacional! E já fez a sua autocrítica.

Faça como eles…
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16310: Carta aberta a... (13): ...ao Senhor Presidente da Republica Portuguesa e Comandante Supremo das Forças Armadas (José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5)

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15082: Tabanca Grande (473): José Vargues, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BART 733 (Bissau e Farim, 1964/66), tertuliano 702

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano, José Vargues (ex-1.º Cabo Escriturário da CCS do BART 733, Bissau e Farim, 1964/66), com data de 3 de Agosto de 2015:

Estive em na Guiné de 1964/1966 como 1.º Cabo Escriturário do Comando da CCS.
Estive na Granja, depois em Brá e passado algum tempo fui para Farim num Dakota, com mais alguns camaradas.
Na secretaria estava a chefiar o Alferes Martins, o 1.º Sargento Guimarães e os 1.ºs Cabos Sancho, apelidado de "Almada" e o Alfredo, apelidado de "Andorinha".

Durante o tempo que estive em Farim, estive com mais 3 camaradas num quarto perto do aquartelamento.

Quero aqui relatar um caso que aconteceu comigo.
Uma noite que estava de Cabo da Guarda na guarita junto ao arame farpado, bastante longe do aquartelamento.
Levei comigo dois soldados nativos e escolhi fazer o 1.º turno.
Adormeci e acordei sobressaltado com os disparos feitos pelo Alferes Lopes da Tesouraria, para o mato através da vigia.
Ele levou as três armas e no outro dia estavam na Tesouraria. Ele nada referiu.

Aqui ficam os meus agradecimentos, mais uma vez.

Um abraço
José Vargues


 Parada em Farim. José Vargues assinalado pela seta


2. Comentário do editor:

Caro camarada Vargues, bem-aparecido na tertúlia onde hoje és recebido formalmente.
Como o mês de Agosto coincide com alguma acalmia no Blogue, deixei para agora a tua apresentação.
Não estranhes o tratamento informal por tu, uso entre nós, independentemente das nossas idades e de outras "diferenças".

Quanto à história que nos contas, o teu oficial andou muito mal porque não se deve em circunstância alguma tirar a arma a ninguém, muito menos a quem está de serviço. Há muitas maneiras de chamar a atenção e "castigar" o prevaricador se e quando necessário.

Embora, julgo eu, tenhas feito uma guerra mais calma, se tiveres algumas histórias, que não precisam ser de guerra, para nos contar, manda para as darmos a conhecer à tertúlia. Se mandares fotos, peço-te que o faças com mais resolução, já que a que nos mandaste, e eu publiquei, vinha só com 32KB. O tamanho ideal para uma boa edição é acima dos 100KB.

Em relação ao teu Batalhão, temos 17 entradas, clica aqui para acederes aos postes.
Há na tertúlia 4 camaradas que pertenceram ao BART 733:
Artur Conceição e João Parreira da CART 730;
António Bastos do Pel Caç Ind 953 e
Luís Camolas, que como tu fez parte da CCS.
Clica nos nomes para acederes às suas postagens.

Julgo que está dito o essencial pelo que te endereço um abraço de boas vindas em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15080: Tabanca Grande (472): José Matos, investigador independente em história militar, filho do nosso falecido camarada José Matos, fur mil da CCAV 677 (Fulacunda, São João e TIte, 1964/66)... Novo grã-tabanqueiro nº 701

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13969: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (91): Foto do ferryboat BOR que levou a CART 730, de Bissau para Bolama, um dia depois de desembaracar do T/T Niassa (João Parreira, ex-fur mil op esp e cmd, CART 730 / BART 733, Bissorã, 1964/65; Gr Cmds Fantasmas, CTIG, Brá, 1965/66)


Guiné > s/l [Possivelmente, Bissau] > s/d  > O ferryboat Bor que, em 1964, levou, de Bissau a Bolama,  o pessoal da CART 730, acabado de desembarcar do T/T Niassa.

Foto: © João Parreira (2014).Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Mensagem, com data de ontem, do João Parreira [ex-fur mil op esp, CART 730 / BART 733, Bissorã, 1964/65; ex-fur mil comando, Gr Cmds Fantasmas, CTIG, Brá, 1965/66]


 Caro Luís Graça,


Aqui vai uma fotografia do "BOR" que levou a minha companhia para Bolama, um dia depois do Niassa atracar em Bissau com o batalhão.

Nessa viagem o "BOR" encalhou pois a maré vazou mais do que o habitual, julgo eu, o então o "mestre" desviou-se um pouco da rota, e aí ficámos várias horas.

Um abraço amigo.

João Parreira

2. Comentário posterior de Manuel Amante e de LG:

Luis, esta foto do "BOR" é de alguns anos após a Independência da Guiné. Início possível do seu desmantelamento. Uma sombra triste e desolada de uma embarcação que, sob qualquer tempo ou contingência, muito navegou pelos rios e canais da Guiné. Manuel Amante.

Já pedimos ao João Pareira para, se possível, nos elucidar sobre onde, quando e por quem foi tirada esta foto, rara, do "BOR".

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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13729: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (89): Revivendo, 48 anos anos depois, a tragédia de Jumbembem, a morte do cap mil inf Rui Romero, da CCAÇ 1565, em 10/7/1966 (Ana Romero / Artur Conceição)


Guiné > Região do Oio >  Jumbembem > CART 730 e CCAÇ 1565 (1966/68) >  Em primeiro plano, de costas, e quico na mão, o 1.º cabo operador cripto Florival Fernandes Pires, natural de Portalegre, que foi, com o Artur Conceição, sold trms, uma das primeiras testemunhas das circunstâncias trágicas em que morreu o cap mil inf Rui Anónio Nuno Romero, comandante da CCAÇ 1565, de 32 anos, casado, pai de 2 filhas (a Isabel, com 7; a Ana, com 1), natural de Portalegre, residente em Lisboa, filho de pai militar,  desenhador de construção civil a frequentar o curso de arquitetura quando foi chamado para o curso de capitães.

O Artur Conceição estava a 2 metros do local da tragédia. Embora já cadáver, o corpo do malogrado oficial foi levado de helicóptero para o Hospital Militar de Bissau (presume-se), e o funeral realizou-se um mês e tal depois em Lisboa, no cemitério do Alto de São João. A enfermeira na foto parece ser a Rosa Exposto, do curso de 1964, segundo apurámos junto do nosso camarada Miguel Pessoa e das nossas camaradas enfermeiras paraquedistas Giselda Pessoa e Maria Arminda.

A CCAÇ 1565 foi mobilizada pelo RI 1, partiu para o TO da Guiné em 20/4/1966, e regressou a 22/1/1968. Esteve em Bissau, Jumbembem, Canjambari e Bissau. Comandantes, além do cap mil inf Rui António Nuno Romero:  cap inf  José Lopes e cap mil inf José Alberto de Sá Barros e Silva, que vive atualmente em Lisboa.

Por sua vez, a CART 730 / BART 733, foi mobilizada pelo RAL 1, partiu para o TO da Guiné em 8/10/1964, e regressou a 14/8/1966.  Pasou por Bironque, Biossorã, Jumbembem e Farim, Foi seu comandante o cap art  Amaro Rodrigues Garcia. O BART 733 esteve em Bissau e Farim.

Foto: © Artur Conceição (2007). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]


1. Mensagem da nossa leitora Ana Paula T. Romero, com data de 8 do corrente:

Olá! Peço desculpa por estar a incomodar, mas talvez me possa fornecer algumas respostas que ainda não encontrei.

O meu nome é Ana Paula Teixeira Romero Serranito, tenho 49 anos e sou a filha mais nova do Capitão Rui António Nuno Romero, falecido na Guiné (Farim), a 10/07/1966.

Na altura eu tinha 1 ano, 5 meses e 9 dias, a minha irmã mais velha, Isabel, tinha acabado de fazer 7 anos (a 04/07) e a nossa mãe,Rosária, tinha 31 anos.

Acabei de ler a informação sobre a morte do meu pai (*)  e a curiosidade voltou.

A minha mãe felizmente ainda se encontra viva, mantem-se viúva, a minha irmã também se encontra viva, divorciada, com uma filha (35 anos) e com um neto (9 anos), e eu, casada e com uma filha de 19 anos. Os avós paternos já faleceram (avó em 1989 e avô em 2005), mas o avô, que também era militar (Sargento Ajudante), nunca comentou a morte do meu pai.

A minha mãe, pela tristeza ou pela minha tenra idade na altura do acontecido, também nunca comentou e eu confesso que cresci sempre a pensar o que tinha sucedido ao meu pai, mas também evitei perguntar pormenores à minha mãe, pois não queria colocar “o dedo na ferida”.

Se me puder dar alguns detalhes, contatos de colegas que tenham sido próximos do meu pai, agradeço.

Deixo os meus contatos [...]

Até breve e obrigada por ter criado o blog. (**)


2. Novo mail enviado no dia seguinte, 9 do corrente:

Caros Camaradas Luís Graça, Carlos Vinhal e Eduardo Ribeiro,

Peço desculpa por vos incomodar com este assunto, por tomar a liberdade de vos tratar, com todo o respeito, por Camaradas, mas gostaria de pedir a vossa ajuda.

Tal como informei ontem no mail que enviei ao Camarada Luis Graçam o meu nome é Ana Paula, e sou a filha mais nova do capitão miliciano Rui Romero, falecido na Guiné, a 10/07/1966.

Depois de ter enviado ontem o email, estive a ler com mais atenção o texto escrito pelo Artur Conceição (Era domingo, dia 10 de Julho de 1966, um dia como tantos outros por Artur Conceição)(*)  em que o Artur menciona; “…A distribuição do correio ocorria na parada quando, subitamente, se ouviu um disparo. Eu estava de serviço no posto de rádio e, a dois metros do local do disparo, que havia acontecido no gabinete mesmo ao lado” e pelo seu [, de Luís Graça,]comentário, que transcrevo abaixo, e confesso que fiquei confusa…chocada, pois nunca tive consciência que o meu pai pudesse ter cometido suicídio.

(...) “Foste corajoso ao trazer, até nós, este trágico episódio da morte do capitão Romero... Mas sejamos francos, vamos chamar as coisas pelos seus nomes: o Cap Mil Romero cometeu suicídio, em plena parada, na hora da distribuição do correio... É isso que eu leio nas entrelinhas... Por pudor, por razões culturais, para poupar a família e os amigos, nunca falamos de sucídio... A p+alavra é tabu. Por outro lado, como se o suicídio fosse desonroso, hipocriticamente o exército atribuiu a morte do Cap Mil Romero a um acidente com arma de fogo... O exército (colonial) nunca quis assumir que alguns de nós, militares, milicianos, do quadro ou do contingente geral, puseram (ou tentaram pôr) termo à vida, ou se automutilaram, por que a guerra, aquela guerra, os perturbou intensamente... Sabemos que em muitos casos houve erros de 'casting': os oficiais milicianos ou do QP eram mal seleccionados, mail treinados e formados, não estavam preparados para comandar homens no TO da Guiné... Para muitos foi uma aprendizagem dolorosa. Por outro lado, o exército não tinha especialistas para dar apoio a militares em sofrimento psíquico" (...) (*)

Afinal ocorreu na parada ou no gabinete ao lado? Foi mesmo suicídio?

Gostava tanto de saber um pouco mais daquilo que nada sei…

Um grande bem haja a todos,
Ana Romero

3.  No dia 10, o Artur Conceição, contactado por mim,  mandou-me a seguinte mensagem e texto anexo:

[, foto á esquerda, o Artur Conceição, ex-Sold Trms Inf e Cond Auto, CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembém, 1964/66; por lapso, o nome deste camarada aparece sistematicamente no nosso blogue como sendo de 1965/67,,,]

 Meu caro  caro Luís Graça

(...) Escrevi mais um pequeno texto que junto em anexo, que penso possa clarificar alguns pontos, e que se achares por bem poderás enviar à Ana Paula. Podes também corrigir algo que esteja menos explicito se assim o entenderes, bem como eliminar aspectos que aches que não são relevantes .

O Capitão Rui Romero não estava na parada mas sim nos aposentos que lhe estavam reservados, e estava sozinho. Quem estava na parada eram apenas os Cabos e os Soldados. A correspondência de Oficiais e Sargentos era retirada e entregue antes da distribuição geral.

Estou ao inteiro dispor para mais esclarecimentos.

Um grande abraço
Artur António da Conceição
Damaia / Amadora



Guiné > Região do Oio > Farim > Jumbembem > 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512 (Jumbembem, 1973/74) > 1974 >  Parada do quartel e chegada de um helicóptero com o correio.

Foto: © Fernando Araújo  (2010). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]


MEMÓRIA, por Artur Conceição

Para quem conhece o local dos acontecimentos [, Jembembem,] entende mais facilmente o que em tempos [escrevi] (*). Para quem não conhece torna-se um pouco mais difícil, pelo que assim sendo importa fazer mais alguns esclarecimentos.

Quando se sai da estrada que vai para Cuntima para se entrar no destacamento de Jumbembem,   depara-se um espaço a que vulgarmente se chamava de parada.

Ao fundo desse espaço existia uma casa com apenas rés do chão, que tinha uma pequena escada de madeira que dava acesso a uma varanda que dava entrada do lado direito para a secretaria e para o lado esquerdo ao posto de enfermagem.

Do lado oposto e por detrás do posto de enfermagem ficava o espaço reservado aos aposentos do Comandante da Companhia, servia de escritório, gabinete e quarto de dormir. Mesmo ao lado e por detrás da secretaria ficava o posto de rádio.

As praças da CCAC 1565 [, a que o cap mil inf Rui Romero pertencia,] estavam a receber o seu correio, que estava a ser distribuído de um dos degraus da escada que já foi referida.

O espaço reservado para dormitório do Comandante da CART 730 estava a ser partilhado com o Senhor Capitão Rui Romero que dormia com a cabeceira para o lado do posto de rádio, enquanto o Comandante da CART 730 dormia com a cabeceira para o lado contrário.

O senhor Capitão Rui Romero estaria sentado na sua cama a ler a sua correspondência, quando ocorreu a triste tentação.

Ao ouvir um disparo ali tão perto, acorri de imediato à porta, (ou melhor dizendo, ao espaço para entrada naquela área, porque porta propriamente dita não existia), deparei com o senhor Capitão Rui Romero caído no chão,   com algumas fotos de duas meninas bastante jovens, espalhadas em seu redor e algumas cartas em cima da cama. A arma também estava no chão.

Naquele espaço não havia mais ninguém, atendendo a que se estava próximo da hora de almoço.

Nesta foto [, vd. acima,] pode ver-se em primeiro plano com o quico na mão direita o 1º Cabo Operador Cripto Florival Fernandes Pires, natural de Portalegre,  e que como pode ver-se também assistiu a uma parte do acontecimento.

[Artur Conceição, Damaia, Amadora, 10/10/2014]

4.  No mesmo dia deu conhecimento À Ana Romero deste último texto do Artur Conceição:

 Ana: Aqui ten os contactos do Artur Conceição e um pequeno texto com uma versão mais recente sobre as circunstãncias da morte do seu pai... No meu comentário [ao poste P2335, de 8/12/2007] (*), por lapso meu, fiz referência despropositada à "parada"... Não, tudo se passou à hora da distribuição do correio, e no seu quarto e gabinete... A Ana pode tentar juntar as pontas e perguntar: porquê ?... Quando se tem acesso (fácil) a armas, há mais risco de ocorrerem tragédias destas... Oficialmente, foi um acidente com arma de fogo...

Disponha sempre. Mandei-lhe esta manhã um outro mail, do meu endereço profissional.
Bom fim de semana.
Luís Graça

5. Mail enviado por L.G., na manhã de 10 do corrente, à Ana Romero [, foto à esquerda, da sua página do Facebook]:

Querida: Lamento muito que só agora saiba das circunstâncias trágicas em que morreu o pai. Mas o nosso blogue tem esse dever (doloroso) também de falar dos nossos queridos camaradas mortos, em combate, por doença, acidente ou outros motivos. Nalguns casos, temos ajudado as famílias a fazer o lutto (até agora patológico). O exército (e o Estado) tratou mal estes bravos que deram tudo pela Pátria.

Posso pô-la em conctacto com o Artur Conceição, soldado de transmissões que estava a 2 metros do gabinete onde tudo ocorreu... Ele vive aqui perto na Amadora. Mas a Ana pode primeiro falar comigo. Tem aqui o meu telemóvel (...). Ou se preferir,  eu ligo-lhe, se me mandar o seu nº de telemóvel.

Eu não conheci o seu pai. Sou mais novo na Guiné (1969/71). Mas sou o fundador deste blogue coletivo (que vai a caminho dos 700 membros e dos 7 milhões de visualizações). Como costumamos dizer, os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são. Convido-a inclusive a integrar a nossa Tabanca Grande (comunidade virtual, à volta do blogue, que tem mais de 10 anos), honrando desse modo a memória do seu pai.

Se quiser. mande-nos uma foto dele e outra sua. E escreva-nos duas linhas. Ou autorize-nos a publicar a sua mensagem anterior, ou parte dela. Sente-se à sombra retemperadora e fraterna do nosso mágico poillão, a árvore sagrada da Guiné. Somos uma espécie em vias de extinção, mas partilhamos memórias e afetos.

Um beijo com ternura.
Luís Graça

6. Feedback imediato da Ana Romero:

Olá, Luís!

Foi com enorme alegria que recebi o seu mail, bem como aquele que encaminhou para o Artur.

Já enviei o pedido de amizade para a Tabanca Grande Luís Graça [, página do Facebook,] e também aderi ao blog Luís Graça & Camaradas da Guiné.

É claro que autorizo a publicação da minha mensagem.

Esta noite vou arranjar a foto do pai e enviá-la-ei, juntamente com uma minha.

Muito obrigada pelo seu feedback.

Bjo. Ana [telemóvel...]

terça-feira, 18 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11722: Os nossos médicos (49): O BART 733 tinha 4 médicos (Artur Conceição, 1965/67)


Guiné > Região do Oio > CART 730 (1965/67) > Jumbembem > Missa celebrada no refeitório de Jumbembem. Nela podemos ver o (i) Senhor Capitão Amaro Rodrigues Garcia, cmdt da 730; (ii) o Senhor Enfermeiro Fernando Teixeira Picão, do seu lado esquerdo também em calção, e de mãos cruzadas; (iii) o médico [, ten mil  Jaime Heitor Afonso,] também está presente mas já não o identifico.

Foto (e legenda): © Artur Conceição (2013). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada Artur Conceição, ex-sold trms,  CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembem (1965/67):


Data: 17 de Junho de 2013 às 19:39

Assunto: Serviço de saúde em tempo de guerra (Era bastante bom)

Caríssimos... Este é o meu contributo.

O Batalhão de Artilharia 733.

Médico da CCS/733 - Tenente, Fernando Henrique de Lemos [, que se formou em Coimbra];

Médico da Cart 730 - Tenente, Jaime Heitor Afonso

Médico da Cart 731 - Alferes, António Augusto Galvão Coelho

Médico da Cart 732 - Alferes, Manuel Guimarães da Rocha [, hoje médico ortopedista, nascido em São Pedro do Sul, em 1936; era presidente do Centro Hospitalar de Lisboa, em 2004]


Como se pode verificar, havia um médico para cada uma das quatro Companhias do Batalhão.

Havia para o Batalhão um só Capelão. Alferes, Felisberto Moreira Maia, e que era mais conhecido por Senhor Padre Maia. Penso que era natural do Distrito de Braga ou Viana do Castelo.

A seguir uma foto de uma missa realizada no refeitório de Jumbembem. Nela podemos ver o Senhor Capitão Amaro Rodrigues Garcia, cmdt da 730, o Senhor Enfermeiro Fernando Teixeira Picão, do seu lado esquerdo também em calção, e de mãos cruzadas. O médico também está presente mas já não o identifico.


Respondendo agora às questões que são colocadas (**):


(i) Quantos médicos seguiam com o vosso Batalhão no Barco?

Não posso responder a esta questão uma vez que eu só cheguei ao Batalhão em Fevereiro de 1965 e o Batalhão tinha embarcado em Outubro de 1964. Sei apenas que o Dr Afonso,  da Cart 730,  também não seguiu com o Batalhão.

Para resposta às questões  (ii) e (iii) também não tenho elementos nem me recordo de nada.


(iv)  Precisaram alguma vez de alguma consulta médica?

Por ordem do cmdt da Cart 730, face ao meu estado emocional após o ataque a Bissorã, ocorrido em 2 de Março de 1965, fui a uma consulta do Médico da Unidade que me enviou para Bissau em
consulta externa no HM 241.

Nessa consulta externa fui atendido pelo médico de Neuropsiquiatria, Dr Pimenta. O Dr Pimenta era de Coimbra e era um excelente médico dentro da sua especialidade.

Após aproximadamente dois meses, com consulta semanal, e depois me ter encontrado a dar sangue numa transfusão directa terá pensado que eu já estaria bom e deu-me alta.

Vi recentemente um documento publicado no blogue onde estava a sua assinatura.

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

Nunca estive internado em nenhuma enfermaria do aquartelamento. Não existia mas pela minha parte também nunca foi necessária.

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241?

A cerca de 2 meses antes do regresso, e por alturas do Natal de 1966, estava nessa altura no QG. Um dia a meio da tarde,  depois de sair debaixo do chuveiro, tive um ataque de comichão na sola dos pés, que fui esfregando até onde aguentei. Quando já não aguentava mais comecei a esfregar na gravilha do chão até ficar a sangrar. Fui levado por colegas para a enfermaria e daí para o Hospital.

No hospital fizeram-me o tratamento adequado, ligaram-me os pés e mandaram-me regressar à meia noite e meia hora para fazer análises ao sangue, análises essas que só poderiam ser feitas depois da meia noite que era quando o bicharoco actuava.

O que aconteceu, quando cerca meia noite fui ter com o Senhor Oficial de Dia para lhe pedir que mandasse uma viatura levar-me ao Hospital para fazer uma análise ao sangue fica para outra ocasião. Só quando o Senhor Oficial de Dia recebeu um telefonema do Hospital dizendo que estavam à minha espera é que ficou convencido, porque até aí a minha doença era outra.

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

Evacuado nunca fui. Foram 24 meses sem intervalo.

(viii) Tiveram algum problema de saúde que o médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação ?

Eu não queria chamar a este episódio um problema de saúde, embora tenha havido intervenção do enfermeiro e depois do médico, mas não houve evacuação.

Eu tinha por hábito não encher o meu cantil para levar para perto da cama, no caso de haver sede durante a noite. Uma noite acordei cheio de sede, espreitei em volta e vi uma garrafa branca que tinha dentro um liquido transparente.

Pensando que era água, bebi até ficar satisfeito, só no fim me apercebi que tinha bebido petróleo. O petróleo enviado para a Guiné não tinha corante. Fiquei aflito e fui de imediato acordar o enfermeiro que sem saber o que fazer foi chamar o médico. Eu estava aflito mas nem sequer estava mal disposto, pelo que decidiram que ia tudo dormir, se ficasse mal disposto voltava a acordá-los e pela manhã logo se fazia o ponto da situação. Tudo passou em bem mas o cabelo continuou em
queda.

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população civil?

Fazia parte da [acção] psicossocial.

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

A população em Jumbembem deveria rondar entre 100 a 150 pessoas, salvo melhor opinião, e a afluência ao posto clínico era bastante. Recordo-me de uma mocinha que ensinada pelos enfermeiros fazia umas quantas tarefas mais relacionadas com a higiene intima das mulheres.

Finalmente quero deixar uma palavra de louvor para os nossos camaradas da saúde, em especial para os da Cart 730. O Pessoal da saúde na 730 era um grupo liderado por um "oficial", que era o 1º Cabo Enfermeiro Picão. Cabeleireiro de profissão na vida civil e enfermeiro militar, não se limitava a distribuir comprimidos para o paludismo e outras mazelas, mas andava atento para não haver fugas. Sempre disponível para pedir à Metrópole produtos que não sendo de primeira necessidade nos davam algum conforto.

Mesmo não havendo enfermaria não quer dizer que não havia doentes, a que o pessoal da saúde estava sempre atento para dar um conforto, e em muitas situações alguma alimentação.

Um grande abraço

Artur António da Conceição
Damaia / Amadora

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Notas do editor:

Último poste da série > 15 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11706: Os nossos médicos (48): O BCAÇ 1887 (1966/68) tinham três médicos, mas a minha CCAÇ 1546 não chegou a ter nenhum em permanência... Um deles era o dr.João Gomes Pedro, mais tarde ilustre pediatra no Hospital de Santa Maria e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (Domingos Gonçalves)

Poste anterior:

14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11704: Os nossos médicos (47): Qual era a dotação médica de um batalhão ? Três médicos por batalhão, diz-nos o ex-alf mil méd J. Pardete Ferreira (CAOP1, Teixeira Pinto; HM 241, Bissau, 1969/71)

(...) Questões:

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?

(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11540: In Memoriam (148): Cândido Perna Tavares, o "República" (1943-2013), CART 730, Bissorã, e Grupo Vampiros, dos Comandos do CTIG, Brá, 1964/66 (João Parreira)

1. Mensagem, de 6 do corrente, do João Parreira [, foto atual à direita] 


Caros Camaradas e Amigos Editor, e co-editores, Luís Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro,


Durante o almoço anual do Batalhão de Artilharia 733, Guiné 1964/66, que se realizou ontem em Santiago do Cacém,  ao procurar por um camarada e amigo que pertenceu à minha secção,  na CArt 730 , e que optou por sair da Companhia para frequentar o 2º. curso de Comandos, findo o qual foi integrado no Grupo "Vampiros", foi com tristeza que tomei conhecimento do seu falecimento.

Amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando,,,

E assim, o nosso camarada Cândido Perna Tavares, nascido em 1943, mais conhecido pelo "República",  faleceu durante o sono no passado dia 3 de Janeiro. [, Foto à direita]

Um abraço 
do João Parreira

[ex-Fur Mil Op Esp, CART 730 / BART 733, Bissorã / Comando, Grupo de Comandos “Fantasmas”, Brá,  1964/66]
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11337: In Memoriam (147): Luís Fernandes Gonçalves Moreira (1948-2013), natural de Viana do Castelo, ex-fur mil trms, CCAÇ 2789 / BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72)

sábado, 9 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11224: (Ex)citações (214): Na Operação Irã, realizada nos dias 2 e 3 de Maio de 1965, participaram as CART 566 e CART 730 (João Parreira)

1. Mensagem do nosso camarada João Parreira, ex-Fur Mil Op Esp / COMANDO da CART 730 / BART 733 e do Grupo de Comandos “Fantasmas”, Bissorã e Brá, 1964/66, com data de 4 de Março de 2013:


Guiné 63/74 - P11157: Memória dos lugares (219): Olossato, anos 60, no princípio era assim (5) (José Augusto Ribeiro)

Com agradecimento pela partilha daquele conjunto das cinco fotografias (?) que retrata o bom resultado de uma operação que foi feita em Morés em 1964 com a Companhia do Olossato e a 730 (?), provavelmente referem-se a uma 'op' realizada nos finais daquele ano, Novembro(?) Dezembro(?).

Ajudas-de-memória:

Camarada e Amigo Carlos Vinhal,
Estive recentemente a ver em Memória de Lugares, o P11157 de 26 de Fevereiro enviado pelo nosso camarada José Augusto Ribeiro, da CArt 566.

Contactei alguns camaradas da CArt 730 sobre esta operação que foi mencionada ter sido efectuada em Nov/Dez 64(?) e da qual eu não me recordava.

O meu amigo Zaupa da Silva, furriel mil. enfermeiro da 730 respondeu-me dizendo:

A data da operação a Mores foi em 2 de Maio de 1965 foi uma operação em que foi o médico e o capelão. Tu estavas nos Comandos, nessa operação sofremos uma grande emboscada numa casa de mato. Estivemos mais de uma hora debaixo de fogo mas por sorte não tivemos nem um ferido. Do pessoal que aparece nas fotos é da "566" ainda vagamente me lembro de algumas caras. 
Um abraço Zaupa

A Companhia (730) à qual pertenci, e que esteve envolvida nesta operação foi para Bissorã em 8 de Dezembro de 1964.



Foto 166 > Material capturado ao IN

Foto: © José Augusto Ribeiro (2013). Direitos reservados



Fui rever o que tinha em meu poder e assim junto envio um Relatório abreviado da Operação “Irã” efectuado pela CArt 730.

02 e 03MAI65 – A CArt 730 participou na operação “Irã” que proporcionou o maior sucesso das NT na Província e talvez mesmo em todas as outras até àquela data.

Capturou-se a maior quantidade de material de sempre, cerca de 1 tonelada, por parte da CArt 566, que executou a acção no objectivo tendo a "730" montado a segurança

A CArt 730 saíu de Bissorã em 021515, desembarcou em movimento pelas 17h30 e irradiou para outra localização onde montou estacionamento. Depois seguiu para outro local, onde montou uma rede de emboscadas em protecção à CArt 566 que executou o ataque à Base Central do Morés.

Pelas 05h50 após a execução do golpe de mão pela CArt 566 à Base Central Morés cerca de 20 elementos fugindo do objectivo caíram na zona de morte, na qual foi feito um prisioneiro que interrogado imediatamente localizou a Base de Iracunda para onde a CArt 730 seguiu para a execução do golpe de mão.

A Companhia sofreu 2 fortes acções de de fogo de várias armas sem consequências. Foram destruídas a cozinha e as casas de mato da Base que, pela constituição encontrada, denunciavam sem dúvida a presença de um numeroso grupo In.

A CArt 566 arrancou com cinco helicópteros carregados de mateiral In, além do transporte pelo pessoal e já não falando no que o incómodo e peso obrigaram a abandonar durante a marcha de regresso.

Com um abraço amigo.
João Parreira
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 21 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11129: (Ex)citações (213): Cameconde, hoje seria um lugar de absurdo, de pesadelo e de loucura... (Alexandre Margarido, ex-cap mil, CCAÇ 3520, Cacine e Cameconde, 1972/74)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10909: Blogpoesia (315): Em louvor da CART 566 (Bissau, Bissorã, Olossato e Bissorã, jul 64/ out 65) (Viçoso Caetano)






Guiné > Região do Oio > Morés > 3 de maio de 1965 > Armamento capturado ao PAIGC no decurso da Op Irã. Esta operação foi realizada pelo BART 733 (Bissau e Farim, out 64/ago 66), e envolveu as subunidades orgâncias CART 730 (Bironque, Bissorã, Jumbembem, Farim, out 64/ ago 66) e CART 732 (Saliquinhedim, Mansoa, Cuntima, Bissau, out 64/ ago 66) e bem como a independente  CART 566 (Bissau, Bissorã, Olossato, Bissorã, jul 64/ ou 65).

Nesta operação, foram encontradas arrecadações de material com metralhadoras Borsig,  Bren e M52, minas A/C TM-46, granadas de RPG e granadas de mão. O Morés era um dos santuários do PAIGC. Um  dos nossos helis foi atingido pelo fogo do IN, ao descolar com parte do material capturado. (Fonte: Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os anos da guerra colonial, vol. 6: 1965 - Continuar a guerra. Matosinhos: QuidNovi, 2009, p. 32)

Fotos: © António Bastos (2013). Todos os direitos reservados. (Editada e legendada por L.G.)


1. Com a devida vénia, e a competente autorização do "patrão" do blogue Do Mirante, A. João Soares, reproduz-se aqui uns versos, da autoria de Viçoso Caetano, sobre a CART 566 (1964/65).

Nota do editor sobre a CART 566:

(i) Foi mobilizada pelo RAP 2, 
(ii) partiu para o TO da Guiné em 28/7/1964 e regressou a 27/10/1965;
(iii) esteve em Bissau, Bissorã, Olossato, Bissorã;
(iv) Comandante: Cap Art Adriano Albuquerque Nogueira.


CART 566-RAP 2, por Viçoso Caetano

[foto à esquerda, gentileza do blogue de A. João Soares, Do Miradouro]


Dado que fui convidado
Pelo vosso Capitão,
Aqui estou muito honrado
Com tão grande distinção
Que agradeço, penhorado,
Com uma ponta de emoção.

Sou só mais um entre vós
P´ra vos dizer viva voz
Aquilo que bem sabeis
 
–P´ra que sempre recordeis –
Pois que tudo mereceis.

Militares do meu País
 
 (Porque o destino assim quis) –
Vós fostes dele a raiz.
Quando olho e vos contemplo,
Eu vejo em vós o exemplo
Da coragem e valentia
Que no vosso peito ardia
Da 566, Companhia
Da Arma d´Artilharia,
Lá da Serra do Pilar
 
 (Onde se formou um dia) –
Para depois embarcar
Cabo Verde, Ilha do Sal,
E aí se fixar.

Depois outra ordem veio
E lá fostes mar acima
 
 (Contratorpedeiro Lima) –
Arrostando a tempestade
Que vos bateu forte e feio

 – (Mesmo sem dó nem piedade) –
Mas não vos quebrou a Fé
Nem vos esmoreceu a vontade.
 
 (Só angústia de permeio) –
P´ra aportardes finalmente
Sãos e salvos na Guiné.

E aqui foi o Olossato
Onde nunca entrara gente,
Só havia Céu e mato.

“Bravos e Sempre Leais”,
Destes tudo e muito mais
Do que a Pátria vos pedia,
Em actos de heroicidade.
Grandes na simplicidade
Que a qualquer ufanaria,
Mereceis toda a honraria!

Deus sabe que isto é verdade
E na sua majestade
Vos há-de pagar um dia.

P´ra terminar faço um voto
 
 (Que me sai do coração) –
Eivado de nostalgia:
Que Deus guarde o Capitão,
Que Deus guarde a Companhia,
Como eu vou guardar p´ra sempre
A lembrança deste dia.



NOTA [, de A. João Soares]: 

Aqui fica o último poema desta remessa que o Adry me entregou. Espero mais! 

Caro Vic, ao ler estas palavras sentidas de um convidado pelo comandante, senti-me soldado desta Companhia a recordar com os companheiros e suas famílias os melhores momentos de camaradagem e bom convívio. Sim, só esses, porque os momentos de dor e sofrimento próprios dos riscos e perigos que correram,  não são para reviver na memória.

Embora não tenha sido soldado da Cart 566,  agradeço os teus belos contributos para dares brilho a este espaço humilde e discreto.

Fonte: Blogue Do Mirante > 3  de março de 2009 > CART 566-RAP 2, por Viçoso Caetano

Fundador e editor: A. João Soares . (Uma pessoa preocupada com o mal do Mundo que procura melhorar com as suas intervenções pela escrita e por contactos pessoais"). É autor de 12 blogues.

Nota de L. G.: O Viçoso Caetano, poeta de Fornos de Algodres, tem vários poemas publicados no blogue Do Mirante. Foi alf mil em Moçambique.

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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10901: Blogpoesia (314): "Caserna", poema inédito de Armor Pires Mota

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10630: Fotos à procura de... uma legenda (20): Fotos de uma operação ao Morés em 1964 em que intervieram a CART 730 e a Companhia sediada no Olossato (António Bastos)

1. Mensagem do nosso camarada António Bastos (ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66), com data de 2 de Novembro de 2012:

Companheiro Carlos e toda a Tabanca Grande boa noite.
Companheiro Carlos,  na Quarta-Feira, mandei um email para o Luís Graça com umas fotos mas foi-me devolvidas, talvez erro no endereço. Vou tentar mandar novamente para o teu endereço.

As fotos foram-me dadas em 1965 em Jumbembem por companheiros da CArt 730, e disseram-me que eram de uma operação que foi feita em Morés em 1964 com a Companhia do Olossato e a 730. Será que haverá alguém da nossa Tabanca que estivesse na dita operação, ou até,  quem sabe, esteja nas fotos?

Carlos,  se entenderes que deves publicar,  podes avançar. Também tenho mais umas quantas fotos que depois te enviarei, também não sei bem do que se trata.

António Paulo S. Bastos,
ex-1º Cabo do Pelotão Caçadores 953
Cacheu, Bissau, Farim,Canjambari e Jumbembem



Foto 1


Foto 2

Foto 3


Foto 4


Foto 5
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9590: Fotos à procura de uma legenda (19): Imagem enviada pelo José Saúde (ex-Fur Mil Op Esp, CCS / BART 6523, Nova Lamego, 1973/74)