Guiné > Região do Oio > CART 730 (1965/67) > Jumbembem > Missa celebrada no refeitório de Jumbembem. Nela podemos ver o (i) Senhor Capitão Amaro Rodrigues Garcia, cmdt da 730; (ii) o Senhor Enfermeiro Fernando Teixeira Picão, do seu lado esquerdo também em calção, e de mãos cruzadas; (iii) o médico [, ten mil Jaime Heitor Afonso,] também está presente mas já não o identifico.
Foto (e legenda): © Artur Conceição (2013). Direitos reservados.
1. Mensagem do nosso camarada Artur Conceição, ex-sold trms, CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembem (1965/67):
Data: 17 de Junho de 2013 às 19:39
Assunto: Serviço de saúde em tempo de guerra (Era bastante bom)
Caríssimos... Este é o meu contributo.
O Batalhão de Artilharia 733.
Médico da CCS/733 - Tenente, Fernando Henrique de Lemos [, que se formou em Coimbra];
Médico da Cart 730 - Tenente, Jaime Heitor Afonso
Médico da Cart 731 - Alferes, António Augusto Galvão Coelho
Médico da Cart 732 - Alferes, Manuel Guimarães da Rocha [, hoje médico ortopedista, nascido em São Pedro do Sul, em 1936; era presidente do Centro Hospitalar de Lisboa, em 2004]
Como se pode verificar, havia um médico para cada uma das quatro Companhias do Batalhão.
Havia para o Batalhão um só Capelão. Alferes, Felisberto Moreira Maia, e que era mais conhecido por Senhor Padre Maia. Penso que era natural do Distrito de Braga ou Viana do Castelo.
A seguir uma foto de uma missa realizada no refeitório de Jumbembem. Nela podemos ver o Senhor Capitão Amaro Rodrigues Garcia, cmdt da 730, o Senhor Enfermeiro Fernando Teixeira Picão, do seu lado esquerdo também em calção, e de mãos cruzadas. O médico também está presente mas já não o identifico.
Respondendo agora às questões que são colocadas (**):
(i) Quantos médicos seguiam com o vosso Batalhão no Barco?
Não posso responder a esta questão uma vez que eu só cheguei ao Batalhão em Fevereiro de 1965 e o Batalhão tinha embarcado em Outubro de 1964. Sei apenas que o Dr Afonso, da Cart 730, também não seguiu com o Batalhão.
Para resposta às questões (ii) e (iii) também não tenho elementos nem me recordo de nada.
(iv) Precisaram alguma vez de alguma consulta médica?
Por ordem do cmdt da Cart 730, face ao meu estado emocional após o ataque a Bissorã, ocorrido em 2 de Março de 1965, fui a uma consulta do Médico da Unidade que me enviou para Bissau em
consulta externa no HM 241.
Nessa consulta externa fui atendido pelo médico de Neuropsiquiatria, Dr Pimenta. O Dr Pimenta era de Coimbra e era um excelente médico dentro da sua especialidade.
Após aproximadamente dois meses, com consulta semanal, e depois me ter encontrado a dar sangue numa transfusão directa terá pensado que eu já estaria bom e deu-me alta.
Vi recentemente um documento publicado no blogue onde estava a sua assinatura.
(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?
Nunca estive internado em nenhuma enfermaria do aquartelamento. Não existia mas pela minha parte também nunca foi necessária.
(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241?
A cerca de 2 meses antes do regresso, e por alturas do Natal de 1966, estava nessa altura no QG. Um dia a meio da tarde, depois de sair debaixo do chuveiro, tive um ataque de comichão na sola dos pés, que fui esfregando até onde aguentei. Quando já não aguentava mais comecei a esfregar na gravilha do chão até ficar a sangrar. Fui levado por colegas para a enfermaria e daí para o Hospital.
No hospital fizeram-me o tratamento adequado, ligaram-me os pés e mandaram-me regressar à meia noite e meia hora para fazer análises ao sangue, análises essas que só poderiam ser feitas depois da meia noite que era quando o bicharoco actuava.
O que aconteceu, quando cerca meia noite fui ter com o Senhor Oficial de Dia para lhe pedir que mandasse uma viatura levar-me ao Hospital para fazer uma análise ao sangue fica para outra ocasião. Só quando o Senhor Oficial de Dia recebeu um telefonema do Hospital dizendo que estavam à minha espera é que ficou convencido, porque até aí a minha doença era outra.
(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?
Evacuado nunca fui. Foram 24 meses sem intervalo.
(viii) Tiveram algum problema de saúde que o médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação ?
Eu não queria chamar a este episódio um problema de saúde, embora tenha havido intervenção do enfermeiro e depois do médico, mas não houve evacuação.
Eu tinha por hábito não encher o meu cantil para levar para perto da cama, no caso de haver sede durante a noite. Uma noite acordei cheio de sede, espreitei em volta e vi uma garrafa branca que tinha dentro um liquido transparente.
Pensando que era água, bebi até ficar satisfeito, só no fim me apercebi que tinha bebido petróleo. O petróleo enviado para a Guiné não tinha corante. Fiquei aflito e fui de imediato acordar o enfermeiro que sem saber o que fazer foi chamar o médico. Eu estava aflito mas nem sequer estava mal disposto, pelo que decidiram que ia tudo dormir, se ficasse mal disposto voltava a acordá-los e pela manhã logo se fazia o ponto da situação. Tudo passou em bem mas o cabelo continuou em
queda.
(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população civil?
Fazia parte da [acção] psicossocial.
(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...
A população em Jumbembem deveria rondar entre 100 a 150 pessoas, salvo melhor opinião, e a afluência ao posto clínico era bastante. Recordo-me de uma mocinha que ensinada pelos enfermeiros fazia umas quantas tarefas mais relacionadas com a higiene intima das mulheres.
Finalmente quero deixar uma palavra de louvor para os nossos camaradas da saúde, em especial para os da Cart 730. O Pessoal da saúde na 730 era um grupo liderado por um "oficial", que era o 1º Cabo Enfermeiro Picão. Cabeleireiro de profissão na vida civil e enfermeiro militar, não se limitava a distribuir comprimidos para o paludismo e outras mazelas, mas andava atento para não haver fugas. Sempre disponível para pedir à Metrópole produtos que não sendo de primeira necessidade nos davam algum conforto.
Mesmo não havendo enfermaria não quer dizer que não havia doentes, a que o pessoal da saúde estava sempre atento para dar um conforto, e em muitas situações alguma alimentação.
Um grande abraço
Artur António da Conceição
Damaia / Amadora
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Notas do editor:
Último poste da série > 15 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11706: Os nossos médicos (48): O BCAÇ 1887 (1966/68) tinham três médicos, mas a minha CCAÇ 1546 não chegou a ter nenhum em permanência... Um deles era o dr.João Gomes Pedro, mais tarde ilustre pediatra no Hospital de Santa Maria e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (Domingos Gonçalves)
Poste anterior:
14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11704: Os nossos médicos (47): Qual era a dotação médica de um batalhão ? Três médicos por batalhão, diz-nos o ex-alf mil méd J. Pardete Ferreira (CAOP1, Teixeira Pinto; HM 241, Bissau, 1969/71)
(...) Questões:
(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?
(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?
(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?
(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?
(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?
(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?
(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?
(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?
(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?
(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...
(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?
(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?
(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?
(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?
(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?
(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?
(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?
(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?
(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?
(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...
2 comentários:
J. Pardete Ferreira
13:02
É natural que no início da Guerra houvesse um Médico por Companhia mas os recursos em médicos foram-se esgotando. Assim, no meu tempo, iam três por Batalhão e já se recorria aos "reinspeccionados".
Os médicos chegaram a ser mobilizados com 53 anos de idade (!), como o falecido Dr. Rui de Brito, Cardiologista no Porto, e o Dr. Botelho e Melo, Oftalmologista em Ponta Delgada.
É verdade, igualmente, que, não existindo especialistas em número suficiente, fossem chamados para o desempenho destas, médicos com grau mais avançado na carreira médica ou até por conhecimento ou prémio no final da comissão.
Naturalmente estes factos implicavam rotação e distribuição pois havia a pretensão de não existirem zonas muito desprotegidas. O Antero da Palma Nunes, Oftalmologista em Faro, por exemplo, foi Médico de Batalhão, foi Médico da equipa itenerante de Estomatologia e Oftalmologista do HM241.
Alfa Bravo
José Pardete Ferreira
Amigos & Camaradas
O que o nosso camarada J Pardete Ferreira diz vem de encontro em parte ao que referi/refiro no meu texto P11722 que o Luís não tinha publicado na íntegra, pois teve uma visão redutora do mesmo e publicou em amalgama com este post do Artur.
Ainda bem que corrigiu e autonomizou os 2 post.
Um abraço
Carlos Silva
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