segunda-feira, 17 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11720: Estórias cabralianas (79): O Capitão-Tenente dos Submarinos (Jorge Cabral)

1. Mais um estória cabraliana, desconcertante, como sempre são as estórias do alfeero Cabral... Chegou-nos pela mão (ou melhor, pelo email) da Anabela Martins.

O Capitão-Tenente dos Submarinos

por Jorge Cabral

Qual Guiné? São tantas. Cada um cria a sua ou inventa... E quem diz Guiné, diz Guerra.

Por mim conheço muitas... Mas como esta, que mora no Beco do Cotovelo, à beira da Mouraria, não deve haver mais nenhuma. É na tasca da Conceição, onde às vezes abanco com três ex-combatentes da Guiné. Todos eles lá estiveram, em lugares e tempos diferentes e todos davam pelo nome de Mouraria.

Agora, trocada a G-3 pela garrafa, são aqui residentes e contam estórias... Já há meses que lá vou e sou muito bem recebido. A Conceição, uma jeitosa quarentona, trata-me por tio, os outros bebedores por senhor Engenheiro e sei, que desde que lá levei duas protegidas africanas, sou conhecido pelo velhote das pretas.

Na semana passada, talvez devido à época, os Mourarias capricharam. Emboscadas de gorilas... golfinhos no Geba... e até, calculem, uma raça “ de mulheres com três mamas"... Confirmei, confirmei, confirmei, mas não podia ficar atrás. Assim quando o Mouraria II, me perguntou, se eu costumava viajar nos barcos da mancarra, respondi muito sério:
 – Não, eu ía sempre de submarino!

Alguma coisa devem ter acrescentado os Mourarias, porque há dois dias, quando por lá passei, toda a gente me chamou, Senhor Capitão-Tenente

Jorge Cabral

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Nota do editor:

Vd.os úlltimos postes da série >

12 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11707: Estórias cabralianas (78): A Justiça da Velha Mandinga (Jorge Cabral)

(...) Em Agosto de 1969, nasceu a minha sobrinha Maria João e logo fui nomeado padrinho, tendo sido marcado o baptizado para Janeiro de 1970, nas minhas férias. Numa sortida a Batatá, comprei um boneco, coisa fina, talvez de origem francesa, para levar como prenda. Parecia mesmo um bébé, de bochechas rosadas, com fralda e biberon. Guardei-o na mesa de cabeceira, mas às vezes mostrava-o às meninas da Tabanca, que frequentavam a escola. (...)

18 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11586: Estórias cabralianas (77): As bagas da Dona Binta e os seus efeitos... secundários (Jorge Cabral)

(...) Não sei porque razão os Guineenses escolheram o Largo de S. Domingos, para se reunirem todos os dias. Logo de manhã, chegam, conversam, discutem, compram e vendem. É um lugar recheado de História. Foi de lá que partiram os quarenta conjurados para, em 1640, restaurarem a Independência, mas foi também ali que se iniciou a grande matança de Judeus em 1506. Deixo porém para outros a História séria, pois este velho Alfero conta é estórias (...)


(...) Não sei se foi por distracção ou por preguiça, mas esqueci-me de morrer. Claro que tenho pago escrupulosamente o Imposto de Sobrevivência, mas agora resolvi aceder ao apelo governamental “ todos os velhos devem comparecer na Central de Abate,o que constitui um dever patriótico”. Comuniquei a decisão à família, que ficou muito contente, principalmente a minha bisneta Carol, que foi logo requerer mais um filho nos Serviços de Programação Genética. Um rapagão que nasça já crescido para não dar trabalho (...).

6 comentários:

Luís Graça disse...

Meu caro alfero, estou a imaginar o teu submarino encalhar, em seco, na maré baixo frente à Ponta Varela ou ao Mato Cão...E esperar o macaréu para retomar viagem até Fá Mandinga... A existir o céu, no nosso tempo, só poderia ser em Fá Mandinga, terra de bajudas lindas, mandingas, claro (, sem menosprezar as balantas de Bissaque...).

Mantenhas, alfero

José Marcelino Martins disse...

Nem mais.
Capitão-tenente e se submarino.
Em que cais de bolanha aportavas?
Acho muito bem, já que "major" te ficaria no mínimo, mal.
Gostei, como sempre.

Torcato Mendonca disse...

Passei por aqui, meu caro Alfero Cabral, e li por aí abaixo.

Porra meu Capitão - Tenente ri com o inesperado final...e vi-te,no intervalo da minha boa disposição, a "tomares" acento junto do Capitão Nemo no ancoradouro, logo ali perto de Fá, da Tabanca balanta que, se bem me lembro ficava entre o quartel eo rio...

Boas viagens eum abração do, T.




Hélder Valério disse...

Caro "Alfero" Cabral

Talvez fosse melhor dizer "Senhor Capitão-Tenente", que parece ser mais recente....

Já será recorrente 'dizer que se gosta' mas a verdade é que, para mim, a 'arte do conto', que é o que tu fases, é a que mais aprecio. E ainda para mais repassada deste 'non-sense', que a torna deliciosa e 'maliciosa'.

Mas gostei daquela 'identificação' de "velhote das pretas"... "touché"!

Abraço
Hélder

Anónimo disse...

A magia de dizer muito com poucas palavras.O que é muito difícil.Simplesmente brilhante. Estive em Binta(no Rio Cacheu)e constou que uma vez, de noite,tinha sido avistado um submarino com 3 periscópios...
Abraço de Alcobaça, JERO

Anónimo disse...

Isto é demais

OHHH nosso alfero..não bastava ser "pai" de todos os "filhos do vento"..agora capitão-tenente comandante de submarino..estava longe de imaginar..agora é que me lembro do que se dizia lá para o sul..tudo o que entrasse no "rio" cacine e que fosse navio de grande porte era logo "torpedeado"..aqueles sons que se ouviam durante a noite não eram mais do que a explosão dos torpedos lançados pelo submarino superiormente comandado pelo Sr. comandante cap.ten.

Obrigadinho nosso "alfero"

C.Martins