O Capitão-Tenente dos Submarinos
por Jorge Cabral
Qual Guiné? São tantas. Cada um cria a sua ou inventa... E quem diz Guiné, diz Guerra.
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Nota do editor:
Vd.os úlltimos postes da série >
12 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11707: Estórias cabralianas (78): A Justiça da Velha Mandinga (Jorge Cabral)
18 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11586: Estórias cabralianas (77): As bagas da Dona Binta e os seus efeitos... secundários (Jorge Cabral)
(...) Não sei porque razão os Guineenses escolheram o Largo de S. Domingos, para se reunirem todos os dias. Logo de manhã, chegam, conversam, discutem, compram e vendem. É um lugar recheado de História. Foi de lá que partiram os quarenta conjurados para, em 1640, restaurarem a Independência, mas foi também ali que se iniciou a grande matança de Judeus em 1506. Deixo porém para outros a História séria, pois este velho Alfero conta é estórias (...)
(...) Não sei se foi por distracção ou por preguiça, mas esqueci-me de morrer. Claro que tenho pago escrupulosamente o Imposto de Sobrevivência, mas agora resolvi aceder ao apelo governamental “ todos os velhos devem comparecer na Central de Abate,o que constitui um dever patriótico”. Comuniquei a decisão à família, que ficou muito contente, principalmente a minha bisneta Carol, que foi logo requerer mais um filho nos Serviços de Programação Genética. Um rapagão que nasça já crescido para não dar trabalho (...).
Qual Guiné? São tantas. Cada um cria a sua ou inventa... E quem diz Guiné, diz Guerra.
Por mim conheço muitas... Mas como esta, que mora no Beco do Cotovelo, à beira da Mouraria, não deve haver mais nenhuma. É na tasca da Conceição, onde às vezes abanco com três ex-combatentes da Guiné. Todos eles lá estiveram, em lugares e tempos diferentes e todos davam pelo nome de Mouraria.
Agora, trocada a G-3 pela garrafa, são aqui residentes e contam estórias... Já há meses que lá vou e sou muito bem recebido. A Conceição, uma jeitosa quarentona, trata-me por tio, os outros bebedores por senhor Engenheiro e sei, que desde que lá levei duas protegidas africanas, sou conhecido pelo velhote das pretas.
Agora, trocada a G-3 pela garrafa, são aqui residentes e contam estórias... Já há meses que lá vou e sou muito bem recebido. A Conceição, uma jeitosa quarentona, trata-me por tio, os outros bebedores por senhor Engenheiro e sei, que desde que lá levei duas protegidas africanas, sou conhecido pelo velhote das pretas.
Na semana passada, talvez devido à época, os Mourarias capricharam. Emboscadas de gorilas... golfinhos no Geba... e até, calculem, uma raça “ de mulheres com três mamas"... Confirmei, confirmei, confirmei, mas não podia ficar atrás. Assim quando o Mouraria II, me perguntou, se eu costumava viajar nos barcos da mancarra, respondi muito sério:
– Não, eu ía sempre de submarino!
Alguma coisa devem ter acrescentado os Mourarias, porque há dois dias, quando por lá passei, toda a gente me chamou, Senhor Capitão-Tenente
Jorge Cabral
Alguma coisa devem ter acrescentado os Mourarias, porque há dois dias, quando por lá passei, toda a gente me chamou, Senhor Capitão-Tenente
Jorge Cabral
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Vd.os úlltimos postes da série >
12 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11707: Estórias cabralianas (78): A Justiça da Velha Mandinga (Jorge Cabral)
(...) Em Agosto de 1969, nasceu a minha sobrinha Maria João e logo fui nomeado padrinho, tendo sido marcado o baptizado para Janeiro de 1970, nas minhas férias. Numa sortida a Batatá, comprei um boneco, coisa fina, talvez de origem francesa, para levar como prenda. Parecia mesmo um bébé, de bochechas rosadas, com fralda e biberon. Guardei-o na mesa de cabeceira, mas às vezes mostrava-o às meninas da Tabanca, que frequentavam a escola. (...)
15 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10943: Estórias cabralianas (76): Não sei se por distracção ou por preguiça, mas esqueci-me de morrer... (Jorge Cabral)
6 comentários:
Meu caro alfero, estou a imaginar o teu submarino encalhar, em seco, na maré baixo frente à Ponta Varela ou ao Mato Cão...E esperar o macaréu para retomar viagem até Fá Mandinga... A existir o céu, no nosso tempo, só poderia ser em Fá Mandinga, terra de bajudas lindas, mandingas, claro (, sem menosprezar as balantas de Bissaque...).
Mantenhas, alfero
Nem mais.
Capitão-tenente e se submarino.
Em que cais de bolanha aportavas?
Acho muito bem, já que "major" te ficaria no mínimo, mal.
Gostei, como sempre.
Passei por aqui, meu caro Alfero Cabral, e li por aí abaixo.
Porra meu Capitão - Tenente ri com o inesperado final...e vi-te,no intervalo da minha boa disposição, a "tomares" acento junto do Capitão Nemo no ancoradouro, logo ali perto de Fá, da Tabanca balanta que, se bem me lembro ficava entre o quartel eo rio...
Boas viagens eum abração do, T.
Caro "Alfero" Cabral
Talvez fosse melhor dizer "Senhor Capitão-Tenente", que parece ser mais recente....
Já será recorrente 'dizer que se gosta' mas a verdade é que, para mim, a 'arte do conto', que é o que tu fases, é a que mais aprecio. E ainda para mais repassada deste 'non-sense', que a torna deliciosa e 'maliciosa'.
Mas gostei daquela 'identificação' de "velhote das pretas"... "touché"!
Abraço
Hélder
A magia de dizer muito com poucas palavras.O que é muito difícil.Simplesmente brilhante. Estive em Binta(no Rio Cacheu)e constou que uma vez, de noite,tinha sido avistado um submarino com 3 periscópios...
Abraço de Alcobaça, JERO
Isto é demais
OHHH nosso alfero..não bastava ser "pai" de todos os "filhos do vento"..agora capitão-tenente comandante de submarino..estava longe de imaginar..agora é que me lembro do que se dizia lá para o sul..tudo o que entrasse no "rio" cacine e que fosse navio de grande porte era logo "torpedeado"..aqueles sons que se ouviam durante a noite não eram mais do que a explosão dos torpedos lançados pelo submarino superiormente comandado pelo Sr. comandante cap.ten.
Obrigadinho nosso "alfero"
C.Martins
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