Mostrar mensagens com a etiqueta Internet Archive. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Internet Archive. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25683: Timor-Leste, passado e presente (9): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte I






Mapa de Timor em 1940. In: José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, pág. 11. (Com a devida vénia).



1. José dos Santos Carvalho foi médico de saúde pública, no território português de Timor, ao tempo da ocupação estrangeira da ilha (primeiro da parte dos australianos e holandeses, e depois dos japoneses). Médico de 2ª classe, exerceu as funções de chefe interino da Repartição Técnica de Saúde e Higiene, em Lahane.

O nosso amigo e camarada, membro da Tabanca Grande,  cor art ref Morais da Silva, descobriu, na Internet Archive, uma cópia, em formato digital, do  livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial". originalmente reproduzida  em;

https://archive.org/stream/VidaEMorteEmTimorDuranteASegundaGuerraMundial/VidaMorteTimor_djvu.txt 

O livro foi digitalizado e carregado, em 2010, no Archive.org,  por um sobrinho do autor ("Fernando in Lisbon"). Na dedicatória  lê-se:

 "Ao Fernando, com um abraço, muito amigo, do tio, José. Lisboa, 2/v/72".

A obra está disponível no Archive.org em vários formatos e  é apresentada como sendo do "domínio público". 

(Imagem à direita: Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972,  208 pp. , il... Livro raro, só possível de encontrar em alfarrabistas, ou então no Internet Archive, em formato digital; está registado na Porbase - Base Nacional de Dados Bibliográficos, podendo ser enconttrado na Biblioteca Nacional de Portugal e no Instituto Científico d
de Investigação Tropical.)

 
Sinopse:

(...) Testemunho de um médico que se encontrava a prestar serviço em Timor quando se deu a invasão japonesa durante a segunda guerra mundial. Além de ser uma descrição emocionada das atrocidades alí­ cometidas, este livro é também uma homenagem a todos aqueles, Portugueses e Timorenses, que resistiram à ocupação, muitas vezes com o sacrifí­cio da própria vida, unidos numa causa comum - a libertação de Timor. Como médico, o autor incluiu também as suas notas sobre a situação sanitária no território, durante e após a invasão.

Outros livros deste autor que podem ser encontrados no archive.org: 

  • "A Santa Bárbara de Cimbres (1959)"; 
  • "Iconografia e Simbólica do Polí­ptico de São Vicente de Fora (1965)"; 
  • "Os Painéis da Confraria de São Roque Expostos no Museu de São Roque em Lisboa (1974)"; 
  • "O Retábulo da Conceição (Benção Nupcial a D. Manuel e D. Leonor) Exposto no Museu de São Roque em Lisboa"; 
  • "O Tríptico da Santa Casa da Misericórdia do Funchal - A Tapeçaria do Templo de Latona do Museu de Lamego"; 
  • "Quatro Painéis da Confraria do Salvador Provenientes do Mosteiro de São Bento Expostos no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa". (...)
É escassa a informação, na Net, sobre este português que teve o azar de estar em Timor, em 1942... Julgamos que ele fosse beirão (talvez de Lamego, distrito de Viseu), devendo ter nascido no início da República. 

Outros trabalhos do autor (que descobri na PorBase):

  • O políptico de S. Vicente de Fora e a Iconografia Médica Portuguesa do século XV / por José dos Santos Carvalho. Lisboa : [s.n., 1968.
  • A Sé Catedral de Lamego / José dos Santos Carvalho. Lamego : Paroquial da Sé : Gráf. de Lamego, 1966.

O livro que escreveu sobre Timor,  baseia-se nas suas recordaçõe e registos  pessoais bem como nas memórias de outros portugueses, seus companheiros de infortúnio.

Em anexo, o autor publica também os relatórios anuais do serviço de saúde (pp. 142-194), que têm igualmente interesse documental para  a historiografia da presença portuguesa em Timor, relatórios esses que ele nunca deixou de fazer, anualmente, apesar das dramáticas circunstâncias em que teve de exercer as suas funções de médico de 2ª classe, chefe interino da Repartição Técnica de Saúde e Higiene.

O livro, de 208 pp.,  ilustrado com algumas fotografias, foi escrito, em 1970, quando passavam  já 25 anos sobre o fim da ocupação japonesa do território de Timor e a libertação dos prisioneiros portugueses, timorenses e outros. Foi composto e impresso na Gráfica Lamego e publicado pela Livraria Portugal, 1972, editora que já não existe. 




2. Vamos publicando notas de leitura e excertos do livro, de modo a permitir conhecer melhor este período da história de Portugal, em que Timor foi o único pedaço do Império que foi invadido e esteve ocupado por forças estrangeiras, na altura da II Guerra Mundial (entre dezembro de 1942 e setembro de 1945).


(...) Explicação Prévia (pp. 3-9)

 Todos os portugueses que então aí viviam, fossem eles timorenses, metropolitanos, goeses, madeirenses, africanos ou macaenses, estiveram sujeitos a prolongado e pertinaz suplício que estóica e patrioticamente suportaram, apesar de terem sido despojados de qualquer meio de comunicação com o mundo e de defesa contra a doença e, os que foram obrigados a reunir-se numa zona de concentração, submetidos a privações extremas de alimentos, medicamentos, artigos de vestuário, de higienee de conforto ,etc, numa palavra, de quase todo o essencial a uma via saudável e decente.


O autor esclarece que não foi apenas uma invasão estrangeira mas duas, as que vieram perturbar "a perfeita ordem e a serena paz" (sic)  em que até então ali se vivia:

(...) Duas invasões por tropas estrangeiras vieram destruir a perfeita ordem e serena paz que em Timor desfrutavam portugueses de diversas naturalidades e crenças, mas unidos fraternalmente num mesmo ideal patriótico e de amor pela fascinante terra em que haviam nascido ou trabalhavam.

Deram o exemplo de desprezo pela soberania de Portugal as forças australiano-holandesas que desembarcaram em Díli a 11 de Dezembro de 1941, não obstante a firme e decidida oposição do governador Ferreira de Carvalho, esse português de ouro do mais puro quilate, que, sem possibilidade de se impor pelas armas, energicamente protestou contra tão aleivosa afronta a um país neutral, aliado de Inglaterra, ainda mais!

Mas, não ficou por aí o atropelo à autoridade portuguesa. Já instalado em Díli, o tenente-coronel holandês Van Stratten, comandante das forças aliadas, impôs ao Governador a deslocação para longe da cidade do aquartelamento da Companhia de Caçadores de Timor, única força válida de que os portugueses dispunham, com a ameaça de a mandar desarmar, se assim não fosse, dando como motivo de tão vexatória decisão, o ter recebido informação de que a companhia se preparava para as atacar! (...)

Apesar de tudo, o comportamento das duas tropas invasoras não são comparáveis, sendo o autor muito mais  crítico do projeto imperalista e totalitário dos japoneses, ao mesmo tempo que não perde a oportunidade de exaltar o portuguesismo das gentes de Timor e marcar o seu alinhamento pela política de "neutralidade" do país face ao conflito mundial. De qualquer modo, a ocupação japonesa, vai-se prolongar por 3 anos e meio (fev 42 / set 45).


(...) Não teve esta invasão efeitos maléficos de monta sobre a vida material da população, porém, da levada a efeito pelos japoneses resultaram inúmeras e variadas consequências funestas pois certamente se aperceberam de que o desenvolvimento em Timor da ideia da Grande Ásia Oriental (eufemismo com que encobriam o seu desígnio de se tornarem senhores de toda ela) somente poderia realizar-se na condição de serem profundamente abaladas a fé patriótica, assim como a amizade e a confiança dos naturais timorenses nos seus irmãos de álém-mar.

Para atingirem esse objectivo dedicaram-se os nipões a vexar duramente estes últimos e a procurar desprestigiá-los perante os nativos da ilha, servindo-se dos meios mais desleais e hipócritas.

A propaganda contra Portugal era prática sistemática dos segundos invasores que não escondiam o desprezo do «Império Imperial do Grande Japão» pelos europeus que tão fácil e surpreendentemente até então haviam conseguido derrotar e quase aniquilar.


 (...) Sabiam bem que os soldados australianos e holandeses refugiados no interior da ilha e que seriamente os molestavam e dizimavam quando saíam de Díli, somente podiam aguentar-se na guerrilha que faziam por serem fornecidos de alimentos e ajudados por todos os meios não só pelos timorenses como por todos os nativos doutras terras, havendo somente a diferença de que a maior parte o faziacom as devidas cautelas, aparentando neutralidade, ao passo que alguns outros tomavam atitudes tão abertamente parciais que nos comprometiam, sem necessidade, perante os japoneses. (...)

 
A estratégia dos japoneses  era claramente a de segregar e separar timorenses e não-timorenses, se não a bem, a mal, pelo terror.  

Sabe-se, por outro lado, que a guarnição militar de Timor tinha um efetivo total de três oficiais, sete sargentos e cerca de 3 dezenas de  cabos metropolitanos, mestiços e nativos;  e não mais de 3 centenas de soldados do recrutamento local, mal treinados e pior equipados.

(...) Continuando na sua obra demolidora, recrutaram no Timor Holandês centenas de indígenas com os quais, enquadrados por árabes e chineses, constituíram as famigeradas "colunas negras". Ora, esses timorenses da parte ocidental da ilha odiavam francamente os europeus, avaliados pelo padrão holandês que nunca conseguira, nem provavelmente pretendera, captar a sua amizade, o que bem fácil seria, a exemplo da parte portuguesa, se os considerassem, em tudo, como seres humanos seus iguaise não como espécimes duma raça inferior.

Lançadas as "colunas negras" pelo interior da ilha, sempre veladamente amparadas pela tropa nipónica que punha todo o cuidado em não se misturar com elas, por toda a parte se registaram assassinatos de pessoas indefesas, violências e depredações de toda a espécie.

As autoridades portuguesas prontamente reagiram, seguindo para as regiões afectadas expedições constituídas por militares e por voluntários civis, com o fim de castigar os culpados e restabelecer a ordem. Heroicamente se comportaram esses valentes e destemidos homens, tendo morrido em combate o cabo Paulo Moreira, o soldado Abel Soares dos Santos e o civil, António Fernão Magalhães, porém a sua missão foi integralmente cumprida. (...)

E aqui se conta como uma dessas "colunas negras", oriunda de Atambua,  atacou à traição o aquartelamento da Companhia de Caçadores de Timor, em 1 de outubro de 1942, provocando aquilo a ques e chamou a "chacina de Aileu" (Aileu ficava a sul de Dili, vd. mapa):

 (...) Uma "coluna negra" formada por timorenses da cidade de Atambua, na parte holandesa, assaltou o aquartelamento da Companhia de Caçadores de Timor, então situado em Aileu. Ataque traiçoeiro, a coberto do escuro da noite, não permitiu uma defesa eficaz, morrendo, combatendo, os cabos Evaristo Madeira e Júlio António da Costa, os soldados Álvaro Henrique Maher e João Florindo e vários soldados timorenses.

O comandante da companhia, capitão Freire da Costa, que com sua esposa, o médico dr. Arriarte Pedroso, o secretário de circunscrição Gouveia Leite e o chefe de posto auxiliar António Afonso, se encontravam reunidos na residência do comandante, suicidaram-se para não caírem nas mãos dos selvagens que atacavam a casa e lançavam fogo às suas dependências, os quais, certamente, os torturariam e sujeitariam aos piores vexames. (...) 


O antigo palácio dos governadores, em Lahane
datando de 1933, em estilo art déco, colonial. 
Restaurado.
Foto: cortesia de Wikimedia Commons

Na impossibilidade comunicar com  
o  Governo central (cuja política , de resto, era a da "estrita neutralidade" 
e de não-confrontação  com as tropas nipónicas de modo a garantir a "manutenção da soberania portuguesa", a todo o custo), enfim, com a certeza de que nunca viriam  reforços de Lisboa (via Moçambique ou de Macau), e face ao número crescente de acções hostis contra os portugueses e a população autóctone,  o Governador, o capitão Manuel Abreu Ferreira de Carvalho (1940- 1945) não teve outra solução se não aceitar a vontade do ocupante, que era a de separar e concentrar os não-timorenses nas povoações de Lahane  (na encosta sobranceira a Dili),  Liquiçá  e Maubara (a oeste de Dili) (vd. mapa). 

(...)  Foi nestes campos de detenção que "se passaram três infindáveis anos de permanente terror, fome e extrema miséria em que nos tornámos 'esqueléticos, quase irreconhecíveis à primeira vista', tal como nos encontrou o Dr. Cal Brandão, no fim da guerra, voltando da Austrália." (...)

 Mas foram esses esqueletos ambulantes, verdadeiros fantasmas de si próprios, que seguiram impavidamente para o interior da ilha onde, desde há anos, os nipões faziam, certamente, propaganda assassina contra eles! (...)

Refira-se que o dr. Carlos Cal Brandão (1906-1973) era um advogado do Porto, deportado para Timor em 1931, por razões políticas, e que se irá mais tarde juntar aos australianos na resistência ao ocupante japonês.

Na hora da libertação, três anos e meio depois, "as bandeiras verde-rubras logo surgiram por toda a parte, retiradas dos esconderijos onde ciosamente haviam sido resguardadas pelos timorenses":

(...) No dia 19 de setembro de 1945, data a todos os títulos memorável na nossa história, a bandeira da Pátria desfraldava-se orgulhosamente em todas as localidades importantes eem muitas povoações timorenses enfim libertadas da opressão estrangeira.

Três dias depois amarou na baía de Díli um hidroavião australiano transportando um representante do brigadeiro Dyke que em Koepang já havia recebido a rendição das tropas japonesas. (..:)

(...) A 27 de setembro ancoraram na baía de Díu os avisos Bartolomeu Dias e Gonçalves Zarco, com tropas vindas de Lourenço Marques. (..)

O autor, nesta síntese dos anos que passou em Timor, faz o balanço das vítimas (o número está subestimado em relação aos timorenses):

(... ) Contaram-se muitas centenas de timorenses assassinados, mortos em combate ou falecidos na prisão e, entre os não-nativos de Timor, pelo menos, trinta e sete assassinados, dez mortos em combate, seis mortos por suicídio, vinte falecidos ao abandono no interior da ilha onde andavam foragidos e oito que miseravelmente acabaram os seus dias no cárcere japonês, vítimas de violências e, sobretudo, da privação de alimentos e da falta de condições higiénicas e de qualquer espécie de assistência na doença. (...)

Sendo um dos dois sobreviventes dos quatro médicos que estavam ao serviço da administração colonial (dois morreram de morte violenta), o dr. José dos Santos Carvalho vai começar a sua narrativa com a sua história de vida, quando em meados de 1940 é colocado em Timor como médico de 2ª classe, do "quadro comum colonial". 

Muito resumidamente, descreve-se aqui a verdadeira odisseia que era, para um funcionário colonial,  em plena II Guerra Mundial, chegar, a partir de Lisboa, a um território tão longínquo como Timor, no Sudoeste Asiático:

(i)  o autor não pôde, obviamente,  fazer  a viagem pelo canal de Suez, mas seguir peçla rota o Cabo (cerca de 19,5 mil km até Dili);

(ii) viajou até Lourenço Marques, transportado no vapor "Niassa".

 (iii) na capital de Moçambique teve de  aguardar dois meses (!) até poder embarcar,  num vapor holandês, o "Tasmam",  com destino a Singapura;

(iv) a bordo encontrou outros compatriotas que iam para Timor: o coronel de aeronáutica Jorge Castilho, e o engenheiro Canto Resende, chefe e adjunto da Missão Geográfica de Timor, respetivamente; o dr. Tarroso Gomes, funcionário do serviço da Fazenda;  os funcionários administrativos Botelho Torresão e Silva Marques e o sargento da marinha Luís de Sousa, auxiliar da referida missão geográfica.

 (v) passados dias , embarcaram num "grande e luxuoso navio", o "Op Tèn Noort" que os transportou a Malaca, a Batávia (atual Jacarta) e a Soerabaja:

 (...) Pelas Índias Holandesas notava-se um ambiente febril de preparação guerreira, sendo frequente o encontro de campos de treino onde militares holandeses exercitavam recrutas javaneses. De facto, sentia-se evidente e iminente a ameaça nipónica a Singapura, à Insulíndia e à Austrália, pois os japoneses que há três anos se encontravam em guerra com a China, haviam aproveitado o facto de a França se encontrar manietada pelos alemães e conseguido dos governadores militares da Indochina a sua ocupação militar e levado, logo depois, as suas tropas, de setembro a novembro de 1940, à Indochina do Sul, à Tailândia e ao Cambodja.(...).

 Em Soerabaja estiveram três dias...

(vi) embarcando depois  num pequeno navio, o "Valentijn", que tocou em vários portos das pequenas ilhas de Sonda entre as quais a capital de Bali;

 (vii) em  21 de dezembro de 1940 chegam a Koepang, capital da parte holandesa da ilha de Timor;

 (viii) na noite de 29 fundeavam, finalmente, na baía de Díli; 

(ix) em Timor o autor iria ter apenas um ano de paz.

 (Continua)

(Excertos, revisão / fixação de texto, itálicos e negritos: MS/LG)

 ____________

Nota do editor:

Último poste da série > 19 de junho de  2024 > Guiné 61/74 - P25661: Timor Leste: passado e presente (8): Os últimos soldados do império que estiveram prisioneiros do IN, na Indonésia (de setembro de 1975 a julho de 1976): tiramos o quico, o chapéu, a boina, o barrete, o boné... à Ephemera - Biblioteca e Arquivo do José Pacheco Pereira

terça-feira, 18 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25655: Timor-Leste, o passado e o presente (7): Vida e morte em Timor Durante a Segunda Mundial, de José dos Santos Carvalho (Lisboa, 1972, 208 pp.)

Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972,  208 pp. (Livro raro, só possível de encontrar em alfarrabistas, ou então no Internet Archive, em formato digital)


1. Mensagem do cor art ref Morais Silva, nosso grão-tabanqueiro nº 784:

Data - 17/06/2024, 20:05 
Assunto - Ai, Timor...

Caro Luís

Estou “assustado" com o quão pouco sei sobre Timor ao tempo da 2ª Grande Guerra.

Leio em:

https://archive.org/stream/VidaEMorteEmTimorDuranteASegundaGuerraMundial/VidaMorteTimor_djvu.txt 

(...) Uma 'coluna negra' formada por timorenses da cidade de Atambua, na parte holandesa, assaltou o aquartelamento da Companhia de Caçadores de Timor, então situado em Aileu.

Ataque traiçoeiro, a coberto do escuro da noite, não permitiu uma defesa eficaz, morrendo, combatendo, os cabos Evaristo Madeira e Júlio António da Costa, os soldados Álvaro Henrique Maher e João Florindo e vários soldados timorenses.

O comandante da companhia, capitão Freire da Costa, que com sua esposa, o médico Dr. Arriarte Pedroso, o secretário de circunscrição Gouveia Leite e o chefe de posto auxiliar António Afonso,  se encontravam reunidos na residência do comandante, suicidaram-se para não caírem nas mãos dos selvagens que atacavam a casa e lançavam fogo às suas dependências, os quais, certamente, os torturariam e sujeitariam aos piores vexames. (...)


2. O Cap António Maria Freire da Costa, será este ex-aluno da Escola de Guerra,  incorporado em 1917 para Infantaria, e natural de Lisboa: 



3. Vou ter que ler este livro “Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial” de José dos Santos Carvalho , médico que se encontrava a prestar serviço em Timor quando se deu a invasão japonesa durante a segunda guerra mundial. 


Além de ser uma descrição emocionada das atrocidades ali­ cometidas, este livro é também uma homenagem a todos aqueles, Portugueses e Timorenses, que resistiram à ocupação, muitas vezes com o sacrifí­cio da própria vida, unidos numa causa comum - a libertação de Timor. 

Como médico, o autor incluiu também as suas notas sobre a situação sanitária no território, durante e após a invasão.

Ab, MS

P.S. Estou a editar o texto que enviarei quando pronto


4. Comentário de LG:

Obrigado, amigo e companheiro destas lides...

Há que aprender e cultivar a nossa memória até ao fim...Eu, que fui para a rua, a favor do direito dos timorenses à autodeterminação, também não sabia nada (ou quase nada) sobre a história deste povo e do seu amor à liberdade e a Portugal...

Tenho um amigo, beirão, da Malcata, Sabugal, o Rui Chamusco (agora também ele membro da Tabanca Grande) que lá vai desde 2016, e que tem um projeto solidário nas montanhas de Liquiçá. Foi ele que me despertou para esta gesta de dor, sofrimento, luta, morte e resistência, nomeadamente na II GG (com a ocupação japonea) e sobretudo depois a partir de 1975 (com a ocupação imndonésia)...

Mas ele também não sabia nada dos bravos portugueses, timorenses e australianos, que resistiram nas montanhas entre 1942 e 1945...

E depois temos, os 23 militares portugueses que estiveram presos dos indonésios, mais recentemente, em 1975/76, incluindo o seu camarada de armas, o cor inf 'cmd' António Ivo do Nascimento Viçoso, já falecido em 2008, e que em 1999, "23 anos depois", lá "abriu o livro", dando uma entrevista ao "Público"...

https://www.publico.pt/1999/10/04/jornal/comandante-militar-em-dili-foi-carcereiro-de-portugueses-124568

Vamos partilhando informação. Se nós sabemos pouco de Timor, o que diremos dos nossos filhos e netos ?

Um abraço, Luis
______________

Nota do editor:

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25400: S(C)em Comentários (33): "500 anos depois"... eram os "cubanos" que ensinavam, em 2008, as mulheres de Iemberém a aprender o português


 
Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: Mulheres alfabetizadas pelo método ALFA-TV | Data de Publicação: 22 de junho de 2008 | Palavras-chave: Ensino 

Legenda:

"Concluiu-se agora em Iemberém, no sul do país, o primeiro módulo de alfabetização pelo método cubano conhecido por ALFA-TV  e que tão bons resultados tem obtido.

Usando um sistema de 36 aulas através de vídeo-cassetes emitidas por televisão, consegue-se que os alfabetizandos aprendam em 5 meses a escrever e a falar rudimentarmente o português.

Mariama Galissa é uma das 72 mulheres que aprenderam a escrever e que manifesta o seu entusiasmo às suas amigas e companheiras que mantêm algumas reservas em iniciarem-se nesta aprendizagem."


Fonte: Internet Achive > AD BIssau (com  devida vénia...) 

(O sítio original foi descontinuado: http://www.adbissau.org/adbissau/fotodasemana/2008.06.22.htm ) (*)

 
2. Comentário do editor LG:

Escrevi há 14 atrás (**):

"Uma ternura de imagem !... E ao mesmo tempo uma imagem que me deixa cheio de raiva e de furor. Não tanto por serem os cubanos a fazer a alfabetização, em português, do povo gentil de Iemberém, das etnias nalu,  tanda, sosso, etc., que eu tive o privilégio de conhecer, em 1, 2 e 3 de Março de 2008, mas por em 2008, em pleno séc XXI, a Mariama Galissa e tantas outras Mariamas da Guiné-Bissau, e de toda a África, não dominarem ainda uma tecnologia que é tão importante para o desenvolvimento pessoal, intelectual, cultural e sócio-económico e para o exercício da cidadania como é a língua oficial, escrita e falada, do seu país...

"Não me interessa se é o português, o espanhol, o francês ou o inglês, não me interesssam os méritos e os desméritos do método ALFA-TV: o que importa é que as mulheres africanas (mas também os homens...) possam dominar um dos principais idiomas do mundo globalizado, e com isso marcar pontos no seu duro processo de emancipação, de conquista da autonomia, de afirmação da sua singularidade e da sua dignidade como pessoas, como cidadãs, como mulheres, como africanas... 

"Eu sei que não basta apenas saber ler, escrever e contar...Eu sei que é apenas um passo, mas é decididamente um passo de gigante. Uma mulher alfabetizada, em África, tenderá a ser mais saudável, mais activa, mais produtiva, mais empreendedora, mais participativa, mais empenhada, mais reivindicativa, mais consciente dos seus direitos e deveres, mais promotora da paz, mais apta para agarrar novas oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento, mais competente para ajudar a família, a comunidade e o país a sair do círculo vicioso da pobreza"... 

___________


(**) Vd. poste de 30 de junho de  2008 > Guiné 63/74 - P3006: Ser solidário (12): Método cubano de alfabetização... em português

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25375: Fotos à procura de... uma legenda (180): Metaforicamente falando, está aqui a Guiné, a vossa Guiné, a nossa Guiné, a aprender a andar, a cair e a pôr-se de pé, como jovem nação que ainda é...


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 27 de abril de 2008 > Sem título: "Esta foto será legendada muito em breve. Aos nossos visitantes pedimos desculpas pelo atraso."


1. O Pepito desta vez falhou... Deve ter ficado tão felicíssimo com o "flagrante", que nem sequer  conseguiu,  de imediato,  legendar a imagem... Deve ter pensado: "Palavras, para quê ?!"... Ou então, "uma imagem vale por mil palavras"...

Mas não,  falta "texto e contexto"... A foto é seguramente daquela época, abril de 2008. Mas não sabemos onde foi tirada, em  que sítio da Guiné-Bissau

A jovem (com ar de bajuda, fula, não, Cherno Bakdé ?!) ) que tenta montar a bicicleta (que é  de homem), com toda aquela farpela de uma só peça, da cabeça aos pés, e de chinelas de plástico , está deliciada com a pequena aventura... Mesdmo deperfil, vê-se que sorri... Ora, não era vulgar na época (nem ainda ainda hoje...) ver mulheres a andar de bicicleta na Guiné-Bissau...

Provavelmente a nossa desconhecida bajuda deu um trambolhão, sem consequências... (Por menor curioso: a bicicleta ainda também algumas partes com o plástico de proteção...)

E podemos especular: será que aprendeu mesmo a andar de bicicleta ?... Fazemos força para que isso tenha sido verdade... Mas o Pepito já não está cá para nos contar a história ou o resto da história...

Talvez os nossos leitores queiram (e possam) dar uma ajuda... Uns meses passados, no 35º anversário da República da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 2008, eu ainda tentei alinhavar uma legenda... E escrevi, dirigindo-me a ele, Pepito, aos nossos amigos e irmãos da AD e da Guiné-Bissau (*):

(...) "Metaforicamente falando, está aqui a tua Guiné, a vossa Guiné, a nossa Guiné, a aprender a andar, a cair e a pôr-se de pé, como jovem nação que é... É a minha leitura, ou sugestão de leitura, se mo permitem: sem cinismos, sem paternalismos, com a com + paixão com que eu, à distância de milhares de quilómetros, vos vejo, e às vossas boas obras... 

"Força, amiga, força, irmã!... Que o caminho se faz caminhando, parafraseando o grande poeta espanhol António Machado ("Caminante no hay camino, se hace camino al andar", poema popularizado pelo cantor catalão Joan Manel Serrat)" (...)

2. Curiosamemente, também ninguém estava inspirado nesse dia... E não houve quaisquer comentários dos leitores do blogue. Pode ser que agora a foto tenha mais sorte, passados 16 anos... e encontre finalmente uma legenda... Para poder ficar, finalmente, no arquivo morto... (**).

Convirá esclarecer que a  foto, essa, perdeu-se inicialmente na voragem da Web. O antigo sítio da AD (http://www.adbissau.org/ ) foi descontinuado por  volta de 2020/2021. Fomos agora recuperá-la graças aos robôts do Internet Archive. Talvez algum colaborador mais próximo do Pepito ainda se lembre desta história ou da história desta foto.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25370: Blogues da nossa blogosfera (193): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte VI: a arte e o engenho das mulheres do Cantanhez


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana >  Título da foto: A imaginação na Luta pela Independência | Data de Publicação: 1 de Junho de 2008 | Palavras-chave: História

Legenda:


Fatumata Camará explica aos participantes do Simpósio Internacional de Guiledje como é que nos acampamentos de guerrilheiros do PAIGC em Cantanhez, as mulheres procediam para descascar o arroz sem que se ouvisse barulho e, desta forma, não fossem detectadas.

O pilão era quase totalmente enterrado, pelo que as vibrações e ruído eram absorvidos pelo solo que impedia a sua propagação. Para a preparação das refeições também aperfeiçoaram um sistema que impedia que o fumo subisse para além da copa das árvores e assim a sua presença não era percebida.

Se ontem a inteligência e capacidade das mulheres ajudou a encontrar soluções inovadoras e imaginativas para os problemas com que se foram deparando, também hoje elas procuram novos caminhos para resolver as dificuldades dos seus trabalhos agrícolas.

Fonte: Internet Archive > ADBissau  (com a devida vénia...)


2. Comentário do editor LG:

Temos andado à procura das "fotos da semana" que o nosso saudoso  amigo guineense, o Pepito (Bissau, 1949 - Lisboa, 2014), membro da nossa Tabanca Grande, foi publicando no sítio da ONGD AD - Acção para o Desenvolvmento, de que ele foi cofundador (em 1991) e  diretor executio (até à data da sua morte, prematura, em 18 de fevereiro de 2014).

Algumas foram publicadas no nosso blogue. Outras, perderam-se irremediavelmente. Através do Arquivo.pt e do Internet Archive é possível recuperar algumas, nomeadamente do período que vai de 2005 a 2011.

antiga página da AD - Acção Para o Desenvolvimento (http://www.adbissau.org/ )   foi reformulada e descontinuada (por  volta de  2020/2021). 

Com sorte e paciência, lá vamos recuperando alguma "foto da semana", como esta que reproduzimos acima, tirada nas matas do Cantanhez, por altura do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008).

A maior parte das fotos da série eram da autoria do Pepito, que incansavelmente percorria a Guiné onde quer  que estivessem em curso,  ou em estudo,   projetos da AD...  Cada foto tinha um título, uma data, uma palavra-chave ou "descritor", e uma legenda, resumo analítico ou sinopse.

A ONG AD - Ação para o Desenvolvimento passou, a partir de maio de 2011, a ter outro endereço, mas  a URL é ligeiramente diferente da do sítio antigo.  Estranhamente, não tem sido capturada pelo Arquivo.pt: https://ad-bissau.org/ . Já sugerimos que o façam.

 ____________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:

10 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25363: Blogues da nossa blogosfera (192): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte V, foto da semana, 11 de maio de 2009: lutando contra a fome, em Bolol, chão felupe



8 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25355: Blogues da nossa blogosfera (189): recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte II: foto da semana, 16 de janeiro de 2011 (Tambores de Bolol na festa do fanado felupe)

8 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25354: Blogues da nossa blogosfera (188): recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte I: foto da semana, 5 de julho de 2009 (Produção de Flor-de -Sal)

domingo, 7 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25044: O nosso blogue em números (88): 690 mil páginas visualizadas em 2023, o que dá uma média de 1890 por dia... Total acumulado: 14,6 milhões,


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)

1. C
ontinuamos a publicar alguns números sobre a nossa atividade bloguística em 2023 (*). 

O nosso blogue atingiu, no final do último ano, cerca de 14,6 milhões de visualizações de páginas (grosso modo, de "visitas", o que não é exatamente igual a "visitantes"...) (Gráfico n.º 3). 

Esta contagem é apurada da seguinte maneira:   

(i) 1,8 milhões desde o início do blogue, em 23/4/2004 até final de maio de 2010 (de acordo com o nosso primeiro contador);

e (ii) c. 12,8  milhões, desde então até 31/12/2023 (segundo o contador do Blogger).

Importa recordar que, no início do blogue, no período de abril de 2004 a maio de 2010, tínhamos um outro contador (o Bravenet); o saldo acumulado de visualizações de páginas não transitou automaticamente, a partir de 1 de junho de 2010. Quando o Blogger disponibilizou um contador, começou a contagem no zero...

Em 2023 tivemos 690 mil visualizações (da parte de 4,64 mil visitantes). Houve um aumento  de  cerca de 10 % relativamente ao ano anterior, relativamente à vizualização de páginas (**). 

O número de "visitas de página" foi ligeiramente maior no  2.º semestre (n=360 mil visualizações) do que no 1º (n=330 mil visualizações). 

Em média, tivemos 1890 visualizações por dia (mais 190 do que no ano anterior).


Gráfico nº 4 - Evolução das visualizações de página ao longo do ano de 2023
Fonte: Blogger (2024)


2. Achamos que não vale a pena desagregar este número pelos meses do ano. Mas sabemos, de acordo com a experiência passado, que o movimento é variável conforme os meses, as semanas e os dias:  por exemplo, houve vários picos, em 2023, com valores acima das 12,5 mil  visualizações diárias:
  • 14,8 mil (em 20 de janeiro);
  • 13,7 mil (em 21 de novembro);
  • 13,0 mil (em 8 de dezembro)
  • 12,6 mil em 30 de janeiro).
Mas estes  picos não têm qualquer significado estatístico (são "outliers"): em geral estão associados à atividade de robôs que fazem capturas de página. O nosso blogue é seguido, regularmente, por exemplo, pelo Arquivo.pt (que em 2023 fez 4 capturas de páginas, em janeiro, fevereiro e março).  

Como é sabido, "o Arquivo.pt  é uma infraestrutura de investigação que permite pesquisar e aceder a páginas da web arquivadas desde 1996. O principal objetivo é a preservação da informação publicada na Web para fins de investigação".

Também o Internet Archive, desde 11 de junho de 2007 e 3 de dezembro de 2023 fez 194 "capturas" do nosso blogue. (É o maior da Web, já guardou 855 mil milhões de páginas; temos lá recuperado páginas, em português, que desapareceram).

Por outro lado, o nosso servidor, o Blogger, faz hoje mais controlo, do que no passado, sobre o SPAM e outras visitas indesejáveis na caixa de comentários.
________

Nota do editor LG:

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25037: E as nossas palmas vão para... (24): Nuno Rubim (1938-2023), autor do Diorama de Guileje, uma pequena obra-prima, que levou dois anos de trabalho, paixão, rigor... Foi oferecido, em 2008, ao Núcleo Museológico Memória de Guiledje





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Planta do quartel em 1966. Reconstituição de Nuno Rubim, coronel de artilharia, na reforma; realização plástica de Carlos Guedes, ex-fur mil. Um e outro fizeram parte da CCAÇ 726 (Guileje, 1964/66), o primeiro como comandante.

Foto ( e legenda): © Pepito / Acção para o Desenvolvimento (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008 >  Diorama do quartel (à data de 1996):  dois anos de trabalho... do Nuno Rubim  (1) e de um pequeno "grupo de combate" de gente valorosa e solidária, guineenses e portugueses (2), com destaque naturalmente para o Pepito e a sua esquipa da ONGD  AD - Acçãio Para o Desenvolvimento


Guiné-Bissau  > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008 > Diorama: planta
 
O Nuno Rubim a trabalhar no diorama, em casa (Seixal, Portugal) 

Fotos (e legendas) : © Nuno Rubim / Pepito / Acção para o Desenvolvimento (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Um encontro inesperado: o nosso coeditor Virgínio Briote com o Teco e o Guedes... Estes dois últimos estiveram em Guileje, na CCAÇ 726 (Outubro de 1974 / junho de 1966), sob o comando do cap art Nuno Rubim... Voltaram agora a colaborar juntos no projecto Guileje (3)... Além de colaboradores, o Nuno Rubim tem neles dois grandes amigos. O Teco, que é natural de Angola, tem um fabuloso arquivo fotográfico desse tempo (mais de 500 fotos); o Guedes saiu da CCAÇ 726 para se oferecer, como voluntário, para os Comandos do CTIG, onde foi camarada do Briote... 


O saudoso cap José Neto (1929-2007), à esquerda, com o Pepito, foi um dos primeiros grandes entusiastas da Iniciativa de Guiledje... Eles e outros camaradas que passaram por Guileje e outros aquartelamentos do sul, na região de Tombali, contribuiram em muito para enriquecer o espólio documental da AD - Acção para o Desenvolvimento. Teria muito orgulho se fosse vivo, em "voltar a ver e a visitar o seu quartel e a sua tabanca", à escala de 1/72... 
   
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição:: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
  


Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008) > O cor art ref Nuno Rubim, entre o cor cav ref Carlos Matos Gomes e o "Gringo de Guileje", o ex-fur mil Zé Carioca, da CCAÇ 3477 (Guileje, Nov 1971/Dez 1972), explicando pormenores da sua obra-prima que foi o diorama de Guileje...

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008) > Dia 5 de Março de 2008 > Painel 3 >" O pós-Guiledje: efeitos, consequências e implicações político-militares do assalto ao aquartelamento". Moderador: Mamadú Djau (Director do INEP) > Comunicação de Nuno Rubim, português, cor art ef > 17h30 – 18h00 > "A batalha de Guiledje: uma tentativa de reconstituição histórica em dioramas"

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição:: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Organização > Núcleo Museológico > Diorama  de Guileje

Adaptado da página oficial do Simpósio Internacional de Guiledje  (páginaa dcscontinuada, mas em parte disponível aqui: 

Desde 2006, o Nuno Rubim (que faleceu em 25 de dezembro de 2023)  pôs, apaixonadamente, voluntariamente, sem qualquer contrapartida, o melhor de si, a sua reconhecida competência, a sua visão histórica, o seu rigor de investigador, e o seu gosto pela bricolage, na concepção do Núcleo Museológico de Guiledje e, em especial, do diorama do quartel de Guiledje, uma obra ímpar que ele ofereceu à Guiné-Bissau, na pessoa do Pepito, Carlos Schwarz da Silva (Bissau, 1949 - Lisboa, 2012), engº agrónomo, cofundador e diretor da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, e "alma-mater" do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7  de março de 2008).

É algo "que nos enche de orgulho, a todos quantos se abalançaram a esta iniciativa", disse na altura o Pepito. As fotografias que permitiram a feitura do diorama foram cedidas, na sua grande maioria, por Teco (Alberto Pires), ex-fur mil da CCAÇ 726, o qual foi incansável na sua pesquisa. Outras foram enviadas por Carlos Guedes, também da mesma Companhia (mais tarde, Comando). (O Carlos Guedes é membro da nossa Tabanca Grande; o Teco ainda não, por lapso nosso: será o primeiro do ano de  2024.

Ambos também forneceram informações preciosas sobre vários aspectos importantes da configuração do quartel. Foram também aproveitadas várias fotografias do saudoso cap SGE  José Afonso da Silva Neto, da CART 1613 (Junho de 1967/maio de 1968) (Na altura, 2.º sargento, sendo o comandante o cap Eurico Corvacho).

Foi igualmente importante a colaboração de vários membros do nosso blogue, que forneceram informação relevante ao autor do diorama. Muitos colaboradores, guineenses e portugueses, contribuiram para este resultado, que também deve muito ao entusiasmo e energia do Pepito e da sua equipa de gente magnífica.

Seria injusto, por exemplo, não mencionar aqui a importância que teve, para a conceção do diorama, o levantamento topográfico efectuado em Guileje em 2005, por Fidel Midana Sambú, colaborador da AD- Acção para o Desenvolvimento.

2. A título meramente exemplificativo apresentamos aqui uma seleção de algumas miniaturas que compõem o diorama do quartel de Guileje. Os nossos parabéns ao autor da obra, que vai ficar no Núcleo Museológico Memória de Guiledje (sic), com muito orgulho (e uma pontinha de inveja) dos... tugas.
 

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Posto de transmissões (miniatura)
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Edifício dos oficiais e comando (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Posto de primeiros socorros, centro cripto e cantina (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Caserna do Pelotão de milícias da Companhia de Milícias n.º 12 (miniatura)
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Cozinha e refeitório das praças (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Outro pormenor da cozinha (miniatura)
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Um abrigo (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008>Uma palhota (miniatura)
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Uma viatura Daimler (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008>Uma vaitura GMC (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Um jipe (ou jeep) (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008>Uma vitura White (miniatura)
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Uma avioneta DO 27 (miniatura) 
 
Fotos (e legendas) : © Nuno Rubim / Pepito / Acção para o Desenvolvimento (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Concepção do Diorama 

(i) A povoação de Guileje  (lê-se: Guiledje)  teve ali instalada unidades militares portuguesas desde fevereiro de 1964 até 22 de maio de 1973, altuar em que foi abandonada e ocupada, momentaneamente, três dias depois, pelo PAIGC. 

(ii) Assumida a decisão de ser feito um diorama, foi necessário determinar a data que o mesmo iria representar, dado que ali estiveram instaladas 11 Companhias, além de outras unidades menores (Pelotões de cavalaria, de artilharia, de caçadores nativos, de mílicias...) 

No decurso desse período e sobretudo a partir de 1969, o aquartelamento sofreu alterações significativas (por exemplo, contrução de abrigos pela Engenharia Militar). 

  • CCAÇ 495 (Fev 1964/jan 1965) 
  • CCAÇ 726 (Out 1964/jul 1966) (contactos: Teco e Nuno Rubim) 
  • CCAÇ 1424 (Jan 1966/dez 1966) (contacto: Nuno Rubim ) 
  • CAÇ 1477 (Dez 1966/jul 1967) (contacto: cap Rino) 
  • CART 1613 (Jun 1967/mai 1968) (contacto: cap Neto) [infelizmente já desaparecio, José Neto, 1929-2007] 
  • CCAÇ 2316 (Mai 1968/jun 1969) (contacto: cap Vasconcelos) 
  • CART 2410 (Jun 1969/mar 1970) (contacto: Armindo Batata) 
  • CCAÇ 2617 (Mar 1970/fev 1971) > Os Magriços (contacto: Abílio Pimentel) 
  • CCAÇ 3325 (Jan 1971/dez 1971) (contacto:cap  Jorge Parracho); 
  • CCAÇ 3477 (Nov 1971 /dez 1972) > Os Gringos de Guileje (contacto: Amaro Munhoz Samúdio); 
  • CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) > Os Piratas de Guileje (contacto: José Casimiro Carvalho ) 

(iii) Foi decidido escolher a data de 1965-66 pela seguinte razão: foi nessa altura que aí esteve sediada a unidade que ali permaneceu mais tempo, a CCAÇ 726 que, com a unidade que se lhe seguiu, a CCAÇ 1424, foi também a Companhia que efectuou mais operações no sector e sofreu mais baixas em combate.

(iv) O Diorama, ou maqueta, pretende pois representar o aquartelamento e a tabanca nesse período. 

(v) A escala escolhida foi a de 1/72, pois isso permitiria adaptar modelos em miniatura comercializados. 

(vi) Após aturado trabalho de estudo, e da recolha e análise de fotografias e declarações de ex-militares que ali estiveram no período em causa, foi possível desenhar um plano à escala para aí serem inseridas as localizações de edifícios, cubatas, abrigos e outros detalhes.

(vii) Estes, depois de também serem desenhados à escala, foram construídos utilizando plástico, madeira, metal e resina, e depois pintados de forma a representá-los tão exactamente quanto possível. 

(viii) No diorama poderão ser pois observados, além das infraestruturas, modelos de viaturas (GMC, Fox, Daimler, White...), depósitos, diversos utensílios etc…

(ix) E também um DO-27, a aeronave que proporcionava talvez o único momento de alegria para as tropas, pois era quem trazia e levava o correio e alguns frescos...

As nossas palmas vão para o nosso saudoso Nuno Rubim (1938-2023) (4)
____________ 

Notas do editor L.G.: 


(...) "Comandei em Guileje, sucessivamente (de castigo !..., eu qualquer dia conto esta estória) as CCAÇ 726 e 1424, depois de ter também comandado a CART 644 em Mansabá e a CCmds em Brá. O que foi a minha vivência em Guileje, fazem os amigos ideia... Foram de facto perto de 10 meses infernais, com mortos, feridos, estropiados, de ambos os lados, enfim o triste rosário de uma guerra que Portugal nunca devia ter travado. Tinha também um Grupo de Combate em Mejo, de que pouco tenho ouvido falar. Quando terá sido desactivado esse pequeno aquartelamento ? E ainda voltei à Guiné em 1972-74, mas isso é outra história..., que meteu o início da conspiração que levou ao 25 de Abril, entre outras coisas" (...).

Vd. ainda o poste de 18 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2554: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (21): Chegou o Nuno Rubim, em Mejo o Capitão Fula (Pepito)

(2) Vd. postes de:



10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLV: Projecto Guileje (7): recuperação do quartel














(4) Último poste da série > 30 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24269: E as nossas palmas vão para ... (23): Inês Allen, hoje nossa tabanqueira nº 875: Devolveu a Empada, em fevereiro de 2023, a efígie de "Os Metralhas", divisa da CCAÇ 3566 (1972/74), e nome do clube de futebol local, dando cumprimento à última vontade do pai, Xico Allen (1950-2022)