Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da Semana > 27 de Abril de 2008 > "Esta foto será legendada muito em breve. Aos nossos visitantes pedimos desculpas pelo atraso"...
Querido Pepito, queridos amigos da AD e da Guiné-Bissau, irmãos e irmãs: para quê mais palavras, se esta imagem vale por mil palavras ? Metaforicamente falando, está aqui a tua Guiné, a vossa Guiné, a nossa Guiné, a aprender a andar, a cair e a pôr-se de pé, como jovem nação que é...
É a minha leitura, ou sugestão de leitura, se mo permitem: sem cinismos, sem paternalismos, com a com + paixão com que eu, à distância de milhares de quilómetros, vos vejo, e às vossas boas obras...
Força, amiga, força, irmã!... Que o caminho se faz caminhando, parafraseando o grande poeta espanhol António Machado ("Caminante no hay camino, se hace camino al andar", poema popularizado pelo cantor catalão Joan Manel Serrat)
Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento. Direitos reservados (Com a devida vénia...)
35 anos de Guiné-Bissau:
A minha contribuição
para a tua festa, meu irmão, minha irmã (Luís Graça) (*)
Dedicatória:
A todos os que morreram na guerra colonial,
guerra do ultramar
ou luta de libertação,
na Guiné...
Para que o sacrifício das suas vidas
não tenha sido gratuito
nem em vão.
E para que nós próprios possamos,
no nosso dia, na nossa hora,
morrer finalmente em paz...
Há quem diga, cinicamente,
que a única coisa que os guineenses ganharam,
com a independência,
foi um hino,
uma bandeira
e uma pátria…
O que já não era pouco,
não é pouco.
Mas eu acho que ganharam muito mais:
ganharam também o direito de serem homens,
citando o Amílcar Cabral,
meu inimigo, meu irmão.
Ganharam o direito de serem eles mesmos.
De escolherem o caminho,
a picada,
a estrada,
o trilho do futuro.
O direito de escolher
e, por conseguinte,
o direito também de errar.
A independência não se conquista,
constrói-se.
Portugal, que é uma velha nação da Europa,
com uma identidade já milenar,
é um bom exemplo disso.
Convenhamos
que o balanço destes 35 anos,
de independência,
da tua independência,
podia ter sido mais exaltante…
Onde está o homem novo,
onde estão os amanhãs que cantam,
as palavras de ordem da cartilha marxista-leninista
que te ensinaram ?
Mas 35 anos é um lapso de tempo
que não é nada na história de um povo,
na história dos teus povos
na história da tua África,
na história da nossa humanidade…
E muito menos na cronologia da vida na terra…
Não nos compete, a nós, velhos tugas,
fazer esse balanço
substituindo-nos aos nossos amigos guineenses
que hoje comemoram,
sem pompa
nem circunstância,
os 35 anos em que o PAIGC,
sem pedir autorização a ninguém,
e muito menos ao Governo português de então,
declarou unilateralmente a independência,
nas matas do Boé…
Fizemos as pazes,
reconhecendo formalmente,
um ano depois,
a independência do novo país lusófono.
Só tenho pena que Amílcar Cabral,
o preto mais português de África,
já não fosse vivo.
É que não foi só um hino,
uma bandeira
e uma pátria
que os guineenses ganharam.
Ganharam também uma língua que os une,
do Cacheu ao Tombali…
E essa não é mais a língua dos estrangeiros
e dos colonizadores…
É a língua, viva, de uma comunidade de irmãos,
crescidos,
que foram à vida,
que estão espalhados pelos vários continentes,
mas que mantêm entre si uma rede
de afectos,
de interesses,
de valores,
de códigos,
de signos,
de idiossincrasias,
de cumplicidades,
de memórias,
de sabores,
de cheiros,
de encontros
e de desencontros,
de velhos ódios
e de novos amores...
Não, não vou chorar por ti, Guiné-Bissau (***).
Estamos também aqui para festejar o teu dia,
o teu parto…
Violento, doloroso, distócico ?
Meu irmão, minha irmã:
o nosso não o foi menos…
Agora vamos lá aumentar a tua esperança de vida
e melhorar, pouco a pouco,
a tua qualidade de vida…
Guiné, o teu povo,
valente, afável e valoroso,
hospitaleiro e generoso,
bem o merece.
O melhor do teu povo,
as tuas crianças,
bem o merecem.
Faz isso por ti,
por elas,
por todos nós.
Luís Graça
Portugal, 24 de Setembro de 2008
________
Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série > 11 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3193: Blogpoesia (25): Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra (Luís Graça)
(**) Vd. poste anterior > 24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3236: Efemérides (10): 35.º Aniversário da declaração unilateral da Independência da República da Guiné-Bissau (V. Briote)
(***) 31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2704: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (12): Que o Nhinte-Camatchol te proteja, Guiné-Bissau
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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