BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO - XVI
O “ MAU AGOIRO “ ; O CADÁVER ADIADO ; ENCONTRO COM A MÁ FORTUNA; A REGRA OU A EXCEPÇÃO?
Confesso que não lera o P10786*, mas ao receber um comentário do fundador deste nosso Blogue, eivado de tristeza e de desconforto, deu-se-me um aperto no coração, pois se há algo com que não pactuo é com a leveza com que se classifica o trabalho das outras pessoas e, neste caso particular, a forma imerecida, indevida e injusta como se passa a “certidão de óbito” a um espaço vivo, repositório de enorme saber, consultado por “tudo que é gente” com um número enorme de leitores, onde a liberdade de expressão é um direito, onde tantos de nós conseguiram ultrapassar o silêncio que a nós se colara durante tantos e tantos anos e aqui, pela primeira vez, como foi o meu caso, conseguiram começar a falar da guerra da Guiné e onde receberam palmadas amigas nas costas e afectos tão importantes que nos ajudaram a deitar cá para fora o que tanto nos incomodava.
Que fique claro, esse espaço chama-se LUÍS GRAÇA % CAMARADAS DA GUINÉ a quem presto homenagem na pessoa do seu fundador o Camarada Luís Graça! Quer isto dizer que estou em total acordo com tudo o que é publicado? Não senhores, não estou e manifestei-o há tempos quando Camaradas meus foram insultados pela publicação de um texto vindo de um qualquer blogue e, que fique bem claro, não tenho nada contra a publicação da história de qualquer Companhia, mas apenas contra os insultos à laia de apresentação que caíram sobre camaradas meus na Guiné que comeram o pão que o diabo amassou.
Adianto até que, ao contrário do que pensava, não mereci da parte do Luís Graça uma qualquer resposta à minha intervenção, ele que havia sido o editor de tal publicação!
Quer isto dizer que nunca me aborreci com ninguém? Não, sofri pelo menos uma desilusão de quem apregoa amplas liberdades, mas que, quando alguém emite opinião diferente da sua, corta relações pessoais!
Mas que culpa tem o Blogue? Nenhuma! E se, Luís Graça, não viste nenhuma coruja pousar sobre a nossa Tabanca à meia noite, o Blogue não morrerá em breve, segundo S. Cipriano, para desanuviar!
O meu Camarada Alberto Branquinho que sempre leio com gosto e atenção, refere que a expressão “cadáver adiado que procria” é usada pelo poeta algarvio António Ramos Rosa para nos ensinar que todos nós somos falíveis, fugazes, efémeros mas o HOMEM, tal como o BLOGUE LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ, continuará a andar por aí.
Sem me querer armar aos cágados dizer que esta expressão é retirada de um poema de Fernando Pessoa, intitulado:
D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou o meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
Lidos os comentários fui então ao Poste Má Fortuna do meu camarada e amigo José Dinis! O cenário deste episódio é em tudo idêntico a outros já relatados pelo autor; os actores principais são os mesmos, o Cap. Trapinhos e os dois primeiros sargentos e a conclusão também a mesma: roubaram à tripa forra.
Alguns camaradas dizem ter sido esta a regra, outros que este tipo de comportamento terá sido excepção. Deixo o assunto para quem apresente provas… e há tantos estudiosos!
Não sei se houve da parte do Zé Dinis coragem para lhes ter dito na cara o que agora escreve e, se sim, a minha admiração! Não, não me venham com essa dos galões pois quando há razão e provas… venha quem vier!
Curiosamente, após os quatro meses que fiz de estágio em Angola e no retorno a Mafra, onde pouco ou nada aprendi, havia da nossa parte, os então tenentes de proveta, uma conversa recorrente: como será o primeiro sargento? Se forem assim estamos feitos, se forem assado estamos safos!
Era o medo da entrega da Companhia no final da comissão que nos preocupava, emprenhados que estávamos com histórias e histórias que se contavam de sargentos que se ofereciam para fazer comissão atrás de comissão! Mas se lá, no Ultramar, ganham não sei quantas vezes mais… diziam uns.
Não é só o que ganham de ordenado é também o que ganham por fora, contavam outros e havia sempre um camarada que ouvira dizer que fulano ou beltrano ou sicrano enriquecera num instante, enfim à boa maneira portuguesa.
Eu que vivi no mato com os meus homens, tinha a secretaria em Aldeia Formosa, onde diariamente nos deslocávamos para ir buscar os géneros e só muito mais tarde, creio que em finais de 1973 vieram para o Cumbijã, já com outras condições de habitabilidade! O primeiro sargento da minha CCav 8351 chamava-se António Joaquim Redondeiro, já falecido, em quem sempre acreditei, que sempre, sem titubiezas, me apresentava o que eu pedia, pois ser economista tem algumas vantagens, que me abraçou a chorar quando tivemos a saga de Nhacobá, que sempre soube ter o pré no primeiro dia de cada mês, que nunca atrasou um mapa e que era respeitado por todos nós!
Aqui deixo a sua fotografia a modos de homenagem
Foste a regra ou foste a excepção?
Um bom Natal para toda a malta da Tabanca Grande!
Vasco Augusto Rodrigues da Gama
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 11 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10786: História da CCAÇ 2679 (57): Encontro com a má fortuna (José Manuel M. Dinis)
Vd. último poste da série de 19 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10279: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (XV): Que a ânsia de números e o bater de recordes não maltrate as pessoas