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domingo, 21 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21929: E os nossos assobios vão para... (3): O moderador e os intervenientes do debate da TVI sobre o Marcelino da Mata... (Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM)

1. Mensagem do nosso camarada  Belarmino Sardinha  (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74), com data de 18 de Fevereiro de 2021, com um artigo onde expõe o seu ponto de vista ao modo como foi tratada, na TVI, a memória do TCor Marcelino da Mata, recentemente falecido. Recorde-se que o Belarmino Sardinha, membro de longa data da Tabanca Grande, conviveu com muitas personalidades da nossa vida literária e cultural, por ter trabalhado uma vida inteira na Sociedade Portuguesa de Autores,


Sobre Marcelino da Mata e
outros que entretanto vieram a público


Tenho acompanhado minimamente todo o desenrolar do processo sobre a morte de Marcelino da Mata e lamentavelmente tenho lido ou ouvido algumas barbaridades iguais às que se diz terem sido feitas por ele.

Conheci pessoalmente Marcelino da Mata só depois do ano 2000, mas reconheci neste camarada de armas um homem vertical, directo e afável sem fantasmas ou queixumes como não vejo ser o caso dos seus detractores.

Estive na Guiné, na Arma de Transmissões do STM entre 15 de Junho de 1972 e 20 de Julho de 1974. Andei por Mansoa, Aldeia Formosa (Quebo), Bolama e Bissau e inevitavelmente ouvi falar e contar muitas histórias de Marcelino da Mata.

Lembro-me de alguns dos operacionais dizerem “hoje podemos dormir descansados, o Marcelino anda por aqui”, curiosamente não me lembro de nenhum referir que o Marcelino era um assassino ou que era um traidor, como me parece haver alguns depois do 25 de Abril de 1974, por opções e/ou oportunidades políticas.

Sempre foi falado o facto das tropas africanas, em especial os Comandos Africanos terem uma actuação mais radical por onde passavam, é um facto, em especial com as bajudas, mas isso tinha muito que ver com a idade… Não ficaram também lá filhos de militares brancos do continente?

O porquê da gota de água que faz transbordar o copo?

Assisti a uma conversa, não chamo debate e muito menos esclarecimento sobre Marcelino da Mata, na TVI 24 pelas 23H00 do dia 16 do corrente. Reconheço à TVI o papel de ter sido a única que, ao que se me deu saber, lembrar que tinha havido o funeral do militar mais condecorado do Exército Português, logo um militar ao serviço de Portugal. 

Não foi feliz a escolha dos intervenientes, um, honestamente, confessou algum desconhecimento sobre a figura que iam debater, enquanto o outro assumiu-se como um verdadeiro conhecedor da matéria.

Considero o que vi lamentável. Não posso deixar de manifestar aqui a minha opinião sincera e desinteressada sobre os protagonistas.

Conheci Fernando Rosas, sem que com ele privasse, mas conheci-o e tinha por ele, enquanto historiador, alguma admiração e até simpatia, já enquanto político parece-me medíocre. Filiado num partido que lhe proporcionou ser figura pública, parece-me tê-lo levado a voos para os quais não está preparado e ao esgrimir argumentos sem conhecimento e de forma politicamente tendenciosa, torna-se incompetente e suspeito nas suas análises históricas.

Não sei se Fernando Rosas fez o serviço militar, e se o fez, quando e onde. Como político desviou sempre a conversa dizendo que estavam a falar de Marcelino da Mata e dos seus crimes. Como o fazem os políticos, aproveitou-se de uma publicação, no Facebook, feita por um outro camarada que prestou serviço no gabinete jurídico militar em Bissau, Mário Barbot Costa, que na qualidade de escritor assina como Mário Cláudio, para dizer que tinha havido vários processos contra Marcelino da Mata, mas que todos tinham sido arquivados por ordem não se sabe de quem. É estranho não se saber de quem, mas enfim, isso serve para outro tema. Contudo mostrou total desconhecimento e ignorância sobre Marcelino da Mata, aproveitou-se e recorreu a outros para fazer o seu papel político e desenfrear um ataque torpe e mesquinho a quem nunca conheceu.

Sem qualquer pedido ou necessidade de defesa, uma vez mais e em minha opinião, conheci e privei por mais que uma vez com Mário Cláudio por questões profissionais e já fora da instituição militar, não digo que o conheça de forma a poder afirmar o que pensa, mas estou em crer que apenas disse o que disse para não endeusarem Marcelino da Mata, tanto assim que, segundo Fernando Rosas, começou por escrever que respeitava o combatente Marcelino da Mata, referindo depois ter havido processos arquivados. Não li o que escreveu Mário Cláudio.

Na qualidade de historiador e político, de forma séria, competia-lhe fazer um enquadramento histórico sobre as etnias guineenses e o seu relacionamento para depois falar da actuação de Marcelino da Mata. Talvez então pudesse falar sobre o ataque de que foram alvo e barbaramente assassinados três majores e um alferes, quando desarmados se deslocaram ao que seria um encontro com tropas do PAIGC, combinado secretamente e que visava o início de um cessar fogo…

Ribeiro e Castro ainda lembrou o que fizeram a Marcelino da Mata, depois de 25 de Abril de 1974 os esbirros políticos ligados a alguns partidos ditos de esquerda ou extrema esquerda e que em nada eram e foram diferentes dos seus antecessores da PIDE/DGS, mas não obeve qualquer reacção do seu interlocutor nem do moderador que, à deriva e sem mostrar conhecimento dos factos,  deixou navegar sem norte. Nada é comparável? Falamos depois de 25 de Abril de 1974. Talvez só não o tenham morto por receio, pois acredito não lhes faltar vontade e muito menos prazer.

Não quero deixar transparecer que Marcelino da Mata não fez ou não possa ter feito coisas execráveis e não merecesse até punição dentro da instituição que representava. Até para clarificação da posição de Portugal, mas tal como muitos outros processos foram, mesmo hoje em dia, arquivados.

Depois, não podemos e não devemos estar hoje a julgar procedimentos com 40 e muitos anos e fora do seu enquadramento. É verdade que um crime é sempre um crime, mas, como em todos os processos, algumas razões podem ter servido como atenuantes e, neste caso em concreto, a guerra, as etnias, a adrenalina ou calor vivido no momento, mas isso só quem os viveu realmente pode falar, para todos os outros não passa de filme.

Quando 'Nino' Vieira foi assassinado, num passado recente, talvez por ter chegado a presidente da Guiné, correu por aqui muita tinta a lembrar que tinha sido assassinado e falando sobre como ele tinha sido como aguerrido guerrilheiro que lutou pela sua terra e pelo seu povo etc. etc. etc. Ninguém se lhe referiu como assassino e ninguém falou sobre a bárbara forma como ficou retalhado. Isto só para comparação com Marcelino da Mata…

Também, quando Jonas Savimbi foi assassinado e nos foi apresentado como morto fez igualmente correr muita tinta nos nossos jornais, mas o politicamente correcto impede que isso se faça com Marcelino da Mata.

Estas duas notas servem para lembrar que se podia e devia falar sobre história e sobre as formas brutais e bárbaras como lutam entre etnias e até aproveitar para falar sobre temas como a mutilação genital feminina e outras práticas e tradições do povo africano no seu estado puro.

Há quem defenda que os anos passam por nós e nos tornam mais sábios e tolerantes, que os impulsos da juventude são corrigidos pelo passar dos anos etc. etc. etc. Não sei se será o que acontece com todos, a necessidade dos holofotes sobre si, a vaidade, ou outras razões de necessidade levam muitos a não conseguirem estar tranquilos e a obrigarem os outros a deixarem de estar.

Eu, e estou crente que muitos outros que passaram pela Guiné no período da Guerra, estão agradecidos à TVI por lembrar e falar sobre a morte de Marcelino da Mata, só lamento que não tenha sabido escolher melhor os elementos do painel e melhor preparado o moderador. Poderiam ter escolhido melhor as figuras do painel, mantendo as que quisessem, mas procurando outra ou outras figuras com conhecimento da operacionalidade de Marcelino da Mata, como, por exemplo, o Coronel Matos Gomes, igualmente figura pública com obra publicada, operacional em acções conjuntas, conhecedor e por certo, muito mais isento e assertivo nas palavras.

Resta-me desejar que Marcelino da Mata, finalmente, descanse em paz.

Um abraço,
Belarmino Sardinha

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20461: E os nossos assobios vão para... (2): A Liga dos Combatentes... O nome do infortunado ex-alf mil pilav Francisco Lopes Manso (1944-1970) ainda não consta do sítio da Liga dos Combatentes... Morreu em 25/7/1970, quando o heli AL III se despenhou nas águas do Rio Mansoa, transportando 4 deputados e um oficial do exército. O seu corpo nunca apareceu (António Martins de Matos / Luís Graça)

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20461: E os nossos assobios vão para... (2): A Liga dos Combatentes... O nome do infortunado ex-alf mil pilav Francisco Lopes Manso (1944-1970) ainda não consta do sítio da Liga dos Combatentes... Morreu em 25/7/1970, quando o heli AL III se despenhou nas águas do Rio Mansoa, transportando 4 deputados e um oficial do exército. O seu corpo nunca apareceu (António Martins de Matos / Luís Graça)



Pesquisa no sítio da Liga dos Combatentes > Mortos do Ultramar > Aparece o nome do infortunado cap cav José Carvalho de Andrade, mas não a do alf mil pil Francisco Lopes Manso, ambos mortos no acidente do helicóptero AL III que se despenhou no rio Mansoa, em 25/1970, quando regressava, de Teixeira Pinto para Bissau, com 4 deputados da Assembleia Nacional, em  digressão pela província da Guiné. Morrem todos os 6 ocupantes da aeronave. O corpo do nosso camarada Francisco Lopes Manso nunca foi encontrado.


1. Comentário de António Martins de Matos [, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74; ten gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande (desde 2008, com cerca de uma centena  de referências no nosso blogue), autor do livro de memórias "Voando sobre um Ninho de Strelas" (Lisboa: BooksFactory, 2018, 375.pp.)]  [, foto atual à esquerda] (*)

Francisco Lopes Manso [1944-1970] foi um Camarada do meu Curso da Academia Militar, fazendo parte do Tirocínio de Piloto Aviador em Sintra (1968-69).

Por motivos de ordem pessoal resolveu desistir do Curso, acabando mais tarde, e já como Oficial Miliciano, a ser brevetado em helicópteros (Brevet Militar nº 1309).

Mobilizado para a Guiné, aí se manteve até ao fatídico acidente de 25-07-70.

Passados que foram 35 anos depois da sua morte na Guiné, o seu nome continuava a estar ausente na 
parede do Monumento em Belém, que referia:

" À MEMÓRIA DE TODOS OS SOLDADOS QUE MORRERAM AO SERVIÇO DE PORTUGAL”.

A esse propósito escrevi no meu livro “Voando sobre um Ninho de Strelas” [Lisboa: BooksFactory, 2018], a páginas 263:
Eu sei que é um trabalho complexo e moroso, mas também, que diacho, já se passaram mais de vinte anos desde a sua inauguração…

… E certamente não compete às famílias dos militares o andarem a alertar as autoridades para as respectivas falhas e a solicitarem a inclusão deste ou daquele nome!!!

Não sei se já lhe aconteceu, pela minha parte já passei pela vergonha de ser confrontado pela viúva de um camarada do meu curso que morreu na Guiné em 25Jul70, aos comandos de um AL-III. A senhora foi visitar o Monumento, o nome do seu marido não constava. Ui, de quem foi a falha????
…. ficou-me a dúvida se teria sido do Gago Coutinho ou do Sacadura Cabral.

O caso até tinha vindo nos jornais, 4 deputados em visita à Guiné tinham falecido num acidente de helicóptero.

Consultado o site da Liga dos Combatentes… também nada constava, ainda hoje o nome do piloto e o do eventual mecânico do AL-III continuam ausentes.

Safou-se um capitão de cavalaria, oficial de ligação e que acompanhava os Deputados, tem lá o nome, devia ser ele que ia a pilotar…

No final desta história, e depois de algumas lutas com várias entidades, finalmente lá chamaram um pedreiro e acrescentaram uma adenda ao Monumento.

A viúva já pode sorrir, o seu Francisco já tem o nome inscrito lá na parede de mármore. Mas, aqui que ninguém nos ouve, oxalá se dê por satisfeita e não queira ir consultar o site da Liga dos Combatentes.

A terminar:

A parede do Monumento já foi corrigida, mas, na Liga dos Combatentes, hoje, 15Dez19, continuam sem saber quem foi o meu amigo Manso.

Cumprimentos
AMM

2. Não gostamos de "assobios" (*), e muito menos de "pateadas", ou seja, de manifestações ruidosas dos nossos desagrados a relação a instituições, castrenses ou outras, que, em princípio, merecem o nosso respeito e apreço como é o caso da Liga dos Combatentes. Mas,  desta vez, parece que não temos alternativa... A Liga vai apanhar uma "assobiadela" (**)...

De facto, comprovámos, hoje mesmo,  o que o nosso camarada António Martins de Matos diz acima: o nome do saudoso alf mil pil Francisco Lopes Manso (que já consta, finalmente, no memorial, em Belém, aos mortos da Guerra do Ultramar), ainda não figura no sítio da Liga dos Combatentes... Admitamos que é um mero lapso técnico... Mas, bolas!,  é um lapso que,   ao fim destes anos, quase meio século do trágico acidente no rio Mansoa, ainda está por corrigir...

É verdade que o seu corpo nunca apareceu, contrariamente aos corpos dos 4 deputados e do oficial do exército que os acompanhava.  Mas o seu nome sempre constou na lista dos falecidos da Força Aérea no Arquivo Histórico da FAP. (***(

PS - Já aqui explicámos que o Jorge Caiano, mecânico do alf pilav Manso trocou de lugar, à última hora, com o cap cav Andrade, que acompanhava os deputados. Essa troca salvou-lhe a vida.  Ele vive (ou vivia, há 10 anos atrás, ) em Toronto, Canadá (***)
_____________

Notas do editor:

(*) 15 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20458: Recortes de imprensa (108): A morte dos quatro deputados à Assembleia Nacional, em visita ao CTIG, no acidente de helicóptero, em 25/7/1970 ("Diário de Lisboa", 26/7/1970)

(**) Último poste da série > 18 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2958: E os nossos assobios vão para... (1): Um embaixador que não honra Portugal... (Luís Graça / Pepito)

(***) Vd. poste de 10 de fevereiro  de 2009 > Guiné 63/74 - P3866: FAP (7): Troca de lugar no ALL III salvou-me a vida, em 25 de Julho de 1970 (Jorge Caiano, mecânico do Alf Pilav Manso)

(...) Por decisão do comandante da esquadrilha, o Cap Pilav Cubas, e aparentemente por uma questão de peso, o Caiano seguiu com ele e não com o Alf Manso, na viagem de regresso a Bissau... (Em princípio, era aos mecânicos que competia avaliar o peso dos helis. Mas neste caso, o Jorge teve que seguir as ordens do seu comandante.)

Ia o Manso à esquerda, o Cubas ao meio, o Coelho, à direita. Os três helis voavam em formação quando foram apanhados por uma tempestade tropical. Havia muito pouca visibilidade. Mas deu para ele, Jorge Canao, se aperceber de uma pequena explosão ("uma chama") no interior do heli do Manso. Segundo a sua teoria, o passageiro ao lado do piloto (um dos deputados ? o oficial do Exército ?) deve ter accionado a alavanca do gás (sic). Por inadvertência ou pânico...

O Manso, que era "periquito" (tinha chegado há dois meses), deve ter perdido o controlo da situação...

O Jorge Caiano foi testemunha deste caso em tribunal militar. E lembra que, a partir daí, a FAP proibiu que os passageiros viajassem, nos helis, ao lado do piloto, no lugar do mecânico. Os oficiais do Exército (e sobretudo os oficiais superiores) gostavam muito desse lugar por que tinha uma vista panorâmica. Via-se muito melhor a paisagem....

O heli do Manso despenhou-se no Rio Mansoa, "por volta das 15 horas", do dia 25 de Julho de 1970 (não parece ter dúvidas sobre a data), tendo morrido ou desaparecido 4 deputados da Nação (incluindo o Dr. Pinto Leite, chefe da chamada ala liberal da então Assembleia Nacional), além do Manso e de um oficial do exército do QG. Um dos deputados era o guineense Pinto Bull, que também tinha um filho, mecânico da FAP, a cumprir o serviço militar na Guiné (Bissalanca, BA12). Por sua vez, a mulher do piloto era pressuposto chegar de Lisboa, no dia seguinte.

O Jorge confessa que deve a vida ao destino, à troca de lugar, imposta pelo Cap Pilav Cubas. Essa foi a razão por que ainda hoje está vivo, diz ele, do outro lado do telefone... E acredita que o destino marca a hora. Este acidente de guerra marcou-o para toda a vida. (...)


Vd. também, entre outros, o poste de 11 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3875: FAP (8): O meu saudoso amigo e camarada Francisco Lopes Manso (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2958: E os nossos assobios vão para... (1): Um embaixador que não honra Portugal... (Luís Graça / Pepito)



Vídeo (0' 32''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes




Vídeo (1' 07''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes

Dois pequenos excertos do discurso do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal, Prof Doutor João Gomes Cravinho, na sessão de encerramento do Simpósio Internacional de Guileje, Bissau, Hotel Palace, 7 de Março de 2008. A atitude do embaixador português em Bissau - entrou mudo e saiu calado - contrastou com a jovialidade e a simpatia do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, o Prof Doutor João Gomes Cravinho.

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Sessão de encerramento > Na mesa, o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Prof Doutor João Gomes Cravinho, e o Prof Doutor Luís Moita.

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Sessão de encerramento > Isabel Miranda, presidente da Comissão Organizadora do Simpósio.

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Visita de homenagem aos túmulos de Amílcar Cabral e de outros dirigentes históricos do PAIGC > O Pepito e a Alice.


Guiné-Bissau > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Visita ao Cantanhez > Travessia do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > O nosso camarada Carlos Silva, à esquerda, e o Dr. Frederico Silva, conselheiro da Embaixada Portuguesa em Bissau, o nº 2 da hierarquia.

Fotos: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Ediçãoe legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Há notícias que de vez em quando nos deixam tristes. Em especial aquelas que dizem respeito ao nosso país e à Guiné-Bissau, aos portugueses, aos nossos amigos guineenses... No dia 11 de Junho transacto, recebi uma dessas, de um amigo, que muito prezo e respeito,o Carlos Schwarz, mais conhecido por Pepito, fundador e director executivo da mais respeitada e seguramente a maior ONG guineense, a AD - Acção para o Desenvolvimento, que vai já a caminho dos 17 anos de existência. 

A AD é uma ONG com uma presença insubstituível e marcante na vida económica, social e cultural da Guiné-Bissau. E que, além do mais, tem uma conduta ética e socialmente responsável. Recentemente foi apresentado e aprovado e divulgado o seu relatório de actividades de 2007, cuja leitura recomendo.

O Pepito é, desde Dezembro de 2005, membro da nossa tertúlia, e um grande entusiasta da amizade Portugal/Guiné-Bissau, do reforço da nossa cooperação, da preservação da memória da guerra colonial/luta de libertação, da lusofonia... Para quem não o conhece, acrescentarei que é, profissionalmente, engenheiro agrónomo, formado em Portugal pela mesma prestigiada escola que formou o Amílcar Cabral, quase trinta anos antes, o ISA/UTL - Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, onde conta, de resto, inúmeros amigos e condiscípulos. A sua mãe, ainda viva e leitora assídua do nosso blogue, com noventa e tal anos, vive em Portugal. O seu pai, Artur Augusto Silva (1913-1912), nascido em Cabo Verde, foi um advogado notável, um cidadão corajoso, um escritor talentoso, e um lusoguineense de alma e coração.

Tratando-se de uma mensagem privada, não a vou transcrever. Mas é importante saber, no mínimo, quais são as más notícias que ele me mandou de Bissau. No essencial, o Pepito relatou-me, compreensivelmente indignado, as circunstâncias em que a sua filha mais velha, Pepa, de nacionalidade portuguesa, filha de mãe portuguesa (Isabel Levy Ribeiro), foi (mal) tratada na Embaixada de Portugal em Bissau, no próprio dia de Portugal, de Camões e das Comunidades . Por ordens expressas do embaixador, um segurança barrou-lhe o caminho, impedindo-a de se juntar aos restantes compatriotas em dia de festa...

Segundo o Pepito, a razão (absurda) para tal atitude, inédita nos anais da história recente, de 33 anos, da Embaixada Portuguesa (1), terá sido o facto de a Pepa não ter alegadamente cumprimentado o senhor embaixador. Este ter-lhe-á gritado, com modos muito pouco ou nada próprios de um embaixador, de um cavalheiro, de um homem e de um português o seguinte:

- A senhora não me cumprimentou, ponha-se na rua!
E agora passo a citar o comentário do Pepito, pai naturalmente indignado por uma atitude tão grosseira como aparentemente inexplicável do representante máximo de Portugal na nossa irmã Guiné-Bissau:

"Nada de especial se isso não tivesse a ver com o nosso Simpósio de Guiledje. É que a sua organização e financiamento passou-lhe [, ao Embaixador,] completamente ao lado. Não porque nós, da organização, assim o quisessemos, mas porque ele, na modorra da sua vida diplomática, nunca tivesse feito algo para se envolver na organização do Guiledje. Bem que nós insistimos e aí estão as cartas para o provar.

"Como o Simpósio foi um sucesso (até hoje não houve uma única voz contra) e está sempre a ser citado (ainda no Parlamento guineense, há 2 dias atrás), ele sentiu-se desprestigiado, para não dizer outra coisa".


A Pepa, que é uma mulher casada, mãe, profundamente empenhada, como profissional e como cidadã estrangeira, no estudo e na preservação do património natural da Guiné-Bissau (e em especial da sua fauna), terá sido apenas vítima de um acesso momentâneo de mau humor do nosso embaixador ? Parece que não, segundo o nosso amigo Pepito que alega que o embaixador, não podendo vingar-se no pai, humilhou a filha, o elo mais fraco da cadeia...

Não seria um acto isolado e insólito, mas antes deliberado, de discriminação dos dirigentes da AD, nas pessoas do Pepito (director executivo) e da Isabel Miranda (que foi a presidente da Comissão Organizadora do Simpósio).

De facto , foi a primeira vez, em 33 anos, que o Pepito e a Isabel Miranda não foram convidados para a festa do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades...

E termina o Pepito:

"Apenas levo ao teu conhecimento este facto, em primeiro lugar pela nossa amizade e depois porque afinal fazes parte da história... Todos os participantes portugueses se recordarão do desinteresse completo como o Embaixador de Portugal os (não) recebeu em Bissau"

2. Na qualidade de fundador e principal editor deste blogue, mas também amigo do Pepito, da sua família, da AD, dos seus colaboradores e sobretudo do povo da Guiné-Bissau, tenho a obrigação de publicitar aqui a minha solidaridade com a Pepa, o Pepito e a Isabel Miranda:

Meu querido amigo Pepito:

Fiquei mesmo colado, literalmente, à cadeira, quando acabei de ler a tua mensagem. Como português, sinto-me envergonhadoo e revoltado com o que vos aconteceu: em primeiro lugar à tua filha, Pepa, que é cidadã portuguesa como eu; e depois a ti e à Isabel Miranda, que não são apenas simples cidadãos guineenses, são grandes amigos de Portugal e dos portugueses, e são duas pessoas, de grande nível, cívico, moral, intelectual e humano, que representam o melhor que a Guiné-Bissau tem, e a quem se deve muito do sucesso do Simpósio Internacional de Guileje, em que eu tive a honra de participar, com mais amigos e camaradas da Guiné, que fazem parte do nosso blogue.

Pepito: O que está feito, mal feito, não tem reparação, e ainda para mais sendo imputado â pessoa de um representante institucional de Portugal, do Estado Português, logo feito em nome de Portugal e dos portugueses. E desgraçadamente por alguém que,sendo embaixador, faz uma interpretação abusiva do seu papel e do seu cargo, confundido a nossa embaixada com a sua casa (memo que ele viva, fisicamente, no mesmo espaço).

Pepito: A única consolação é que tens (e podes contar sempre com) a nossa solidariedade e a certeza de que, aqueles de nós que te conhecem, como fundador e director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, independentemente de serem ou não teus amigos, estão contigo, com a Pepa e com a Isabel Miranda, e irão levar, ao conhecimento do Governo Portugués e do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, os seus veementes protestos por este incompreensível, insólito, deselegantíssimo, reprovável comportamento de um diplomata português, que humilha, em público, uma jovem cidadã portuguesa, querendo aparentemente vingar-se do pai, que é uma figura pública, um homem grande, da Guiné-Bissau, e de uma das suas mais próximas colaboradoras, a Isabel Miranda, presidente da AD.

Pepito: Não conheço senão a tua versão dos acontecimentos. Todos os conflitos têm o verso e o reverso. Não creio, todavia, que tenham sido dadas quaisquer explicações (muito menos apresentadas desculpas) pelo senhor embaixador ou pela embaixada, relativamente a este incidente... Mas, conhecendo-te como te conheço, como homem honrado,  acredito na tua palavra e na tua versão dos factos. Herdaste do teu pai a verticalidade, a coragem e a honestidade intelectual. Não irias seguramente fazer deste incidente um caso público, a não ser por razões de dignidade.

Tratando-se de um acto público, praticado em território português (que é, simbólica e legalmente, uma embaixada), por um representante do Estado Português, eu não só posso como devo relacioná-lo com outros actos públicos que, no passado, envolveram o mesmo representante diplomático de Portugal em Bissau.

Quero com isto dizer que não estou a infringir as próprias normas bloguísticas, que criei, e que me impedem de me imiscuir nos assuntos, políticos, internos, da actual República da Guiné-Bissau. Isto é um assunto que envolve também cidadãos guineenses, mas que diz respeito sobretudo aos portugueses. Ora o mínimo que posso escrever, é que o senhor embaixador envergonha-me, a mim, como português e como amigo da Guiné-Bissau. Lamento-o dizer, mas ele não honra Portugal nem os portugueses.

Não o conheço pessoalmente, embora estivessemos juntos, a escassos metros, em três ocasiões, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje, na primeira semana de Março de 2008:

(i) Estivemos juntos, eu e um grupo numeroso de portugueses, e o embaixador, no Palace Hotel de Bissau, na sessão de inauguração e na sessão de encerramento do Simpósio Internacional de Guileje; o represenante português ignorou, pura e simplesmente, a presença dos antigos combatentes portugueses, e de outros convidados, conferencistas, tanto portugueses como estrangeiros, incluindo figuras intelectualmente prestigiadas como o Prof Luís Moita, vice-reitor da UAL- Universidade Autónoma de Lisboa, ou o Prof Patrick Chabal, de nacionalidade francesa, mas vivendo em Inglaterra, e que é considerado o melhor biógrafo de Amílcar Cabral. A sua atitude - entrou mudo e saiu calado - contrastou com a jovialidade, a elegância, a competência, o fair play e a simpatia do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, o Prof Doutor João Gomes Cravinho, de cujo discurso publicamos acima um pequeno excerto.

Cruzámo-nos ainda com o embaixador, eu e mais uma numerosa delegação portuguesa, na sede do Governo da Guiné-Bissau, tendo o primeiro ministro feito questão nos receber, amavelmente, de resto, juntamente com a senhora Ministra dos Antigos Combatentes da Liberdade da Pátria. (O mesmo aconteceria, a seguir, com o Chefe de Estado, 'Nino' Vieira)... Nesse dia, 6 de Março de 2008, o embaixador acompanhava o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, na audiência que, julgo, terá antecedido a nossa.

Em nenhuma destas três ocasiões, numa só semana, o senhor embaixador se dignou cumprimentar um único dos muitos portugueses que participaram neste evento e que andaram por Bissau...Nem um mísero Olá, viva, estão bons!? ...

Muitos de nós ficaram chocados e surpresos... Eu e mais alguns amigos e camaradas acabámos por, na altura, não dar excessiva importância ao caso... Acabei por aceitar a explicação do Dr. Frederico Silva, conselheiro da Embaixada, que procurou desculpar o comportamento do nosso embaixador, que alegadamente andaria muito cansado com a preparação da visita, nessa semana, do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação... (O Dr. Frederico Silva acompanhou-nos na visita ao sul da Guiné, nos dias 1 a 3 de Março de 2008, e teve um relacionamento correcto connosco, um pouco distante, mas correcto)...

Hoje compreendo finalmente o que se passou connosco, com a Pepa, com o Pepito e com a Isabel Miranda: este homem (cujo nome nem sequer menciono, porque eu não falo do indivíduo, mas sim da figura institucional que é pressuposto representar o povo português na Guiné-Bissau e que é um funcionário do corpo diplomático, pago pelos contribuintes portugueses) , este homem, repito, não honra, de facto, Portugal nem os portugueses. Não pode, decididamente, honrar Portugal, ignorando, desprezando ou maltratando os portugueses e os guineenses, amigos de Portugal...

Espero, ao menos, que ele seja uma excepção entre as muitas centenas de funcionários do corpo diplomático e consular, portugueses, espalhados pelo mundo fora, alguns dos quais representados, de resto, no nosso blogue. É por isso que vão para ele os nossos assobios, a nossa maneira cívica, bloguística, metafórica, virtual mas não menos veemente, de mostrar-lhe, a ele e ao Estado Português que ele é pressuposto representar, a nossa indignação como amigos e camaradas da Guiné que somos...

Mas, como tu dizes, Pepito, noutra mensagem posterior, Portugal felizmente "representa-se por pessoas de bem, civilizadas, cultas, como, por exemplo, todos aqueles que vieram participar no Simpósio Internacional de Guiledje e que trouxeram um abraço solidário, mostraram o seu elevado nível de sentimentos, de conhecimento histórico e cultural e que deixaram a todos nós uma imagem do Portugal moderno e civilizado que muito nos calou no coração"...

É essa imagem, Pepito, que eu e todos nós queremos que tu (e a tua família, e os teus amigos, e os teus colaboradores, e o teu povo) guardes de Portugal e dos portugueses até ao resto dos teus dias. Essa imagem leva muitos anos a construir, e não tem preço. Seguramente vai sobreviver a este episódio, infeliz e triste, que nos envergonha e revolta. O somatório da mesquinhez de alguns portugueses (e guineenses) não chega para destruir a nobreza dos nossos dois povos, o português e o guineense.

Luís Graça

PS - Amigos e camaradas:

(i) O email da embaixada de Portugal na Guiné-Bissau é o seguinte:
emb.port.bissau@sol.gtelecom.gw [não tenho a certeza de estar actualizado, pode ter havido mudança de operador]

(ii) O contacto do Governo Português é o seguinte:

http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Geral/Contactos

(iii) O email institucional do Pepito e da AD é o seguinte:

ad@orange-bissau.com

Estou a fazer uma sugestão, não um apelo: escrevam duas linhas, se assim o entenderem dever fazer, a mostrar a vossa indignação e a vossa solidariedade de amigos e camaradas da Guiné.

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Nota do editor:

(1) E por falar de embaixadores de Portugal na Guiné-Bissau, leia-se o poste de 25 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1113: Dez razões para ler 'Em tempos de inocência', diário do Embaixador A. Pinto da França (Beja Santos)