domingo, 21 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21929: E os nossos assobios vão para... (3): O moderador e os intervenientes do debate da TVI sobre o Marcelino da Mata... (Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM)

1. Mensagem do nosso camarada  Belarmino Sardinha  (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74), com data de 18 de Fevereiro de 2021, com um artigo onde expõe o seu ponto de vista ao modo como foi tratada, na TVI, a memória do TCor Marcelino da Mata, recentemente falecido. Recorde-se que o Belarmino Sardinha, membro de longa data da Tabanca Grande, conviveu com muitas personalidades da nossa vida literária e cultural, por ter trabalhado uma vida inteira na Sociedade Portuguesa de Autores,


Sobre Marcelino da Mata e
outros que entretanto vieram a público


Tenho acompanhado minimamente todo o desenrolar do processo sobre a morte de Marcelino da Mata e lamentavelmente tenho lido ou ouvido algumas barbaridades iguais às que se diz terem sido feitas por ele.

Conheci pessoalmente Marcelino da Mata só depois do ano 2000, mas reconheci neste camarada de armas um homem vertical, directo e afável sem fantasmas ou queixumes como não vejo ser o caso dos seus detractores.

Estive na Guiné, na Arma de Transmissões do STM entre 15 de Junho de 1972 e 20 de Julho de 1974. Andei por Mansoa, Aldeia Formosa (Quebo), Bolama e Bissau e inevitavelmente ouvi falar e contar muitas histórias de Marcelino da Mata.

Lembro-me de alguns dos operacionais dizerem “hoje podemos dormir descansados, o Marcelino anda por aqui”, curiosamente não me lembro de nenhum referir que o Marcelino era um assassino ou que era um traidor, como me parece haver alguns depois do 25 de Abril de 1974, por opções e/ou oportunidades políticas.

Sempre foi falado o facto das tropas africanas, em especial os Comandos Africanos terem uma actuação mais radical por onde passavam, é um facto, em especial com as bajudas, mas isso tinha muito que ver com a idade… Não ficaram também lá filhos de militares brancos do continente?

O porquê da gota de água que faz transbordar o copo?

Assisti a uma conversa, não chamo debate e muito menos esclarecimento sobre Marcelino da Mata, na TVI 24 pelas 23H00 do dia 16 do corrente. Reconheço à TVI o papel de ter sido a única que, ao que se me deu saber, lembrar que tinha havido o funeral do militar mais condecorado do Exército Português, logo um militar ao serviço de Portugal. 

Não foi feliz a escolha dos intervenientes, um, honestamente, confessou algum desconhecimento sobre a figura que iam debater, enquanto o outro assumiu-se como um verdadeiro conhecedor da matéria.

Considero o que vi lamentável. Não posso deixar de manifestar aqui a minha opinião sincera e desinteressada sobre os protagonistas.

Conheci Fernando Rosas, sem que com ele privasse, mas conheci-o e tinha por ele, enquanto historiador, alguma admiração e até simpatia, já enquanto político parece-me medíocre. Filiado num partido que lhe proporcionou ser figura pública, parece-me tê-lo levado a voos para os quais não está preparado e ao esgrimir argumentos sem conhecimento e de forma politicamente tendenciosa, torna-se incompetente e suspeito nas suas análises históricas.

Não sei se Fernando Rosas fez o serviço militar, e se o fez, quando e onde. Como político desviou sempre a conversa dizendo que estavam a falar de Marcelino da Mata e dos seus crimes. Como o fazem os políticos, aproveitou-se de uma publicação, no Facebook, feita por um outro camarada que prestou serviço no gabinete jurídico militar em Bissau, Mário Barbot Costa, que na qualidade de escritor assina como Mário Cláudio, para dizer que tinha havido vários processos contra Marcelino da Mata, mas que todos tinham sido arquivados por ordem não se sabe de quem. É estranho não se saber de quem, mas enfim, isso serve para outro tema. Contudo mostrou total desconhecimento e ignorância sobre Marcelino da Mata, aproveitou-se e recorreu a outros para fazer o seu papel político e desenfrear um ataque torpe e mesquinho a quem nunca conheceu.

Sem qualquer pedido ou necessidade de defesa, uma vez mais e em minha opinião, conheci e privei por mais que uma vez com Mário Cláudio por questões profissionais e já fora da instituição militar, não digo que o conheça de forma a poder afirmar o que pensa, mas estou em crer que apenas disse o que disse para não endeusarem Marcelino da Mata, tanto assim que, segundo Fernando Rosas, começou por escrever que respeitava o combatente Marcelino da Mata, referindo depois ter havido processos arquivados. Não li o que escreveu Mário Cláudio.

Na qualidade de historiador e político, de forma séria, competia-lhe fazer um enquadramento histórico sobre as etnias guineenses e o seu relacionamento para depois falar da actuação de Marcelino da Mata. Talvez então pudesse falar sobre o ataque de que foram alvo e barbaramente assassinados três majores e um alferes, quando desarmados se deslocaram ao que seria um encontro com tropas do PAIGC, combinado secretamente e que visava o início de um cessar fogo…

Ribeiro e Castro ainda lembrou o que fizeram a Marcelino da Mata, depois de 25 de Abril de 1974 os esbirros políticos ligados a alguns partidos ditos de esquerda ou extrema esquerda e que em nada eram e foram diferentes dos seus antecessores da PIDE/DGS, mas não obeve qualquer reacção do seu interlocutor nem do moderador que, à deriva e sem mostrar conhecimento dos factos,  deixou navegar sem norte. Nada é comparável? Falamos depois de 25 de Abril de 1974. Talvez só não o tenham morto por receio, pois acredito não lhes faltar vontade e muito menos prazer.

Não quero deixar transparecer que Marcelino da Mata não fez ou não possa ter feito coisas execráveis e não merecesse até punição dentro da instituição que representava. Até para clarificação da posição de Portugal, mas tal como muitos outros processos foram, mesmo hoje em dia, arquivados.

Depois, não podemos e não devemos estar hoje a julgar procedimentos com 40 e muitos anos e fora do seu enquadramento. É verdade que um crime é sempre um crime, mas, como em todos os processos, algumas razões podem ter servido como atenuantes e, neste caso em concreto, a guerra, as etnias, a adrenalina ou calor vivido no momento, mas isso só quem os viveu realmente pode falar, para todos os outros não passa de filme.

Quando 'Nino' Vieira foi assassinado, num passado recente, talvez por ter chegado a presidente da Guiné, correu por aqui muita tinta a lembrar que tinha sido assassinado e falando sobre como ele tinha sido como aguerrido guerrilheiro que lutou pela sua terra e pelo seu povo etc. etc. etc. Ninguém se lhe referiu como assassino e ninguém falou sobre a bárbara forma como ficou retalhado. Isto só para comparação com Marcelino da Mata…

Também, quando Jonas Savimbi foi assassinado e nos foi apresentado como morto fez igualmente correr muita tinta nos nossos jornais, mas o politicamente correcto impede que isso se faça com Marcelino da Mata.

Estas duas notas servem para lembrar que se podia e devia falar sobre história e sobre as formas brutais e bárbaras como lutam entre etnias e até aproveitar para falar sobre temas como a mutilação genital feminina e outras práticas e tradições do povo africano no seu estado puro.

Há quem defenda que os anos passam por nós e nos tornam mais sábios e tolerantes, que os impulsos da juventude são corrigidos pelo passar dos anos etc. etc. etc. Não sei se será o que acontece com todos, a necessidade dos holofotes sobre si, a vaidade, ou outras razões de necessidade levam muitos a não conseguirem estar tranquilos e a obrigarem os outros a deixarem de estar.

Eu, e estou crente que muitos outros que passaram pela Guiné no período da Guerra, estão agradecidos à TVI por lembrar e falar sobre a morte de Marcelino da Mata, só lamento que não tenha sabido escolher melhor os elementos do painel e melhor preparado o moderador. Poderiam ter escolhido melhor as figuras do painel, mantendo as que quisessem, mas procurando outra ou outras figuras com conhecimento da operacionalidade de Marcelino da Mata, como, por exemplo, o Coronel Matos Gomes, igualmente figura pública com obra publicada, operacional em acções conjuntas, conhecedor e por certo, muito mais isento e assertivo nas palavras.

Resta-me desejar que Marcelino da Mata, finalmente, descanse em paz.

Um abraço,
Belarmino Sardinha

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20461: E os nossos assobios vão para... (2): A Liga dos Combatentes... O nome do infortunado ex-alf mil pilav Francisco Lopes Manso (1944-1970) ainda não consta do sítio da Liga dos Combatentes... Morreu em 25/7/1970, quando o heli AL III se despenhou nas águas do Rio Mansoa, transportando 4 deputados e um oficial do exército. O seu corpo nunca apareceu (António Martins de Matos / Luís Graça)

25 comentários:

Anónimo disse...

Caro Belarmino

Não sei se será preciso acrescentar algo mais. Pode-se sempre dizer mais alguma coisa, mas o que disseste é claro e traz o assunto para uma reflexão séria e desapaixonada.

Obrigado

Um abraço.

Carvalho de Mampatá

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Os meus assobios também vão para o debate muito pobre que se realizou na TVI que não assisti em directo, mas vi o video que uma alma caridosa postou no FB. Só queria dizer que o Sr. Fernando Rosas não é um historiador, mas um político panfletário que fala do que não sabe.

Pensava que conhecia um pouco os portugueses, mas a reacção da sociedade portuguesa com a morte do Comandante Marcelino da Mata, deixou-me perplexo, incluindo algumas opiniões vindas de ex-combatentes.

De uma coisa estou convencido: Se os inimigos e detractores do Marcelino da Mata conseguirem os seus intentos de o transformar num detestável vilão e criminoso de guerra com alegações rebuscadas e infundadas, então nenhum ex-combatente poderá estar livre do mesmo tipo de acusações, é só uma questão de tempo e poderá vir a acontecer quando já n8nguém se poderá defender o que quer que seja. Se o Marcelino cair, todos poderão cairão atrás dele.

Eu não sei o que o Marcelino da Mata fez de errado como combatente durante a guerra, mas também sabe para além dos boatos e dos mitos criados a sua volta, o que sei é que era alguém que metia respeito e isso nós sentiamos sempre que passava pela nossa zona pela confiança que a sua presença incutia na cabeça de todos.

Estranha-me a forma como Portugal no seu todo está a lidar com a sua história. E são os portugueses que mais falam enquanto o PAIGC, o adversário de ontem está calado, como sempre, porque não terão moral para condenar o Marcel8no da Mata, porque terão cometido crimes bem piores antes, durante e depois daquela maldita guerra que deu cabo das nossas esperanças.

Ao Belarmino gostaria de dizer que as etnias não têm nada a ver nem com a guerra nem com possíveis excessos de alguns de seus protagonistas, pois não era uma guerra de etnias e o Marcelino estava, em grande medida a lutar, no outro lado, com comandantes da etnia Pepel a que o próprio pertencia.As etnias não são e nunca foram o apanágio da violência gratuita.

Com um abraço amigo

Cherno Baldé



Anónimo disse...

PS: Para terminar, queria ainda questionar as afirmações unânimes que tenho ouvido em como o Marcelino da Mata teria nascido português, eu digo que não, porque em 1940, a data do seu assento de nascimento, ainda vigorava a lei do indígena to que teria sido revogada só em 1961. Portanto, acho que ele nasceu como indígena da Guiné e não português como se pretende. A verdade deve ser dita, mesmo se depois de 1961 todos passamos, de jure, para a cidadania portuguesa da qual fomos, de forma unilateral e abusivamente retirados pelo PAIGC com ajuda do MFA português.

Cherno AB

Antº Rosinha disse...

Havia muitos milhares de "Marcelinos", repito-me e não me canso de o dizer, que estes homens que lutavam ao lado da política portuguesa da altura, não era exactamente porque se sentissem portugueses em toda o sentido da palavra, mas porque simplesmente não acreditavam naquilo que ia ser um embuste a independência nas mãos daqueles movimentos.

Esses "Marcelinos" sentiam a razão do seu lado, o que no caso de Angola se provou com o povo a sofrer a maior guerra até hoje em África, mais de 30 anos, com os maiores horrores entre partidos, e dentro dos próprios partidos, e o povo completamente desrespeitado.

No caso da Guiné, o povo talvez hoje possa acreditar que são independentes, mas os primeiros 6 anos nunca se consideraram independentes, tanto que nunca colaboraram com o governo de Luis Cabral.

E se fosse com Amilcar, o irmão assassinado, tinha acontecido a mesma coisa.

Alguém duvida? Os únicos que colaboravam com o maior empenho eram os jovens a estudar "ferozmente"para com bolsa ou sem bolsa de estudos poderem fugir daquele inferno

Infelizmente aqui em Portugal, por comodismo uns, por ignorância outros, e por anti-salazarismo outros, escreve-se uma história "politicamente incorreta", e absolutamente incompleta.

Eu já escrevi que se a geração de Marcelino da Mata que ainda esteja viva, em Bissau,que já serão poucos devido à um tanto curta longevidade, guardariam mais respeito à morte deste heroi, do que aqui em Portugal.

Mas isto da politica ultramarina, está difícil de entender, não só em Portugal mas em toda a Europa.

É que a luta continua.

Anónimo disse...

Opiniões, mitos e outras coisas que tais...

Concordo inteiramente com o que disse o BELARMINO e o CHERNO sempre assertivo.
Como este blog não é para discussão política, resolvi não fazer qualquer comentário sobre o SR. T.CORONEL MARCELINO DA MATA, mas não resisti...

Conheci-O pessoalmente na Guiné, e a opinião com que fiquei na altura foi de que não correspondia a fama com o mito, porque vi uma pessoa afável e respeitadora, e nada parecida com o mito de "guerreiro indomável".

MARCELINO DA MATA ficará na história de Portugal, enquanto outro pseudo-historiador e comentador de TV, intelectualmente desonesto sobre este tema e muitos outros, espera-o o caixote do lixo do tempo.

AB
C.Martins

Unknown disse...

Caro Rosinha,

Ou será que estamos a assistir a um simples e ordinário acto de inveja com condimentos de racismo colectivo contra um preto que contra todas as probabilidades ao serviço de um regime "fascista" conseguiu simplesmente ser um dos mais distintos e o mais condecirado ???

Se sim, então não seria o primeiro caso e sou obrigado a reconhecer que o Abdul Indjai que foi uma peça muito importante na campanha do Cap. Teixeira Pinto, tinha razão ao insurgir-se contra o regime português de então e exigir uma reparação que nunca aconteceu.

Mas, antes de condenarem definitivamente o operacional Marcelino da Mata, deviam julgar e condenar o Gen. Spinola, seus antecessores assim como todos os membros dos seus estados maiores que eram os verdadeiros mandantes e estrategas da guerra. Só assim poderemos aceitar que a força que os anima advém da firme vontade de fazer justiça e não a de limpar Portugal do escolho e da nódoa da história que foi a guerra colonial na qual, quase todos, estavam de acordo.

Abraços,

Cherno AB

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno:

Não sei se leste, na altura, que escrevemos há um ano atrás sobre o "puto" Umaru Baldé, o nosso Umaru Baldé, que eu, o Valdemar e outros conhecemos em 1969/71... Vou reproduzir um excerto, vem a propósito do drama de todos os nossos antigos camaradas guineenses, incluindo o Marcelino da Mata:


11 DE MARÇO DE 2020
Guiné 61/74 - P20724: (De)Caras (122): Carta pungente do Umaru Baldé (c. 1953-2004), um dos meninos-soldados que passaram pelo CIM de Contuboel, entre março e julho de 1969... Era dirigida ao seu antigo instrutor militar, Valdemar Queiroz.

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2020/03/guine-6174-p20724-decaras-122-carta.html


(...) Umaru Baldé é outro exemplo paradigmático da desgraça que aconteceu a todos aqueles guineenses, fulas e não só, que acreditaram no sonho de uma Pátria Portuguesa onde todos podiam caber, e que combateram nas nossas fileiras... Spínola foi o arauto desse sonho mas também o seu coveiro... A História nos julgará a todos!

Spínola já não está cá para se defender... E os spinolistas, se é que existem, não vão ter a maçada de nos ler e muito menos responder... Mas eu acrescentaria que, além de Spínola, todos nós, e fomos muitos, deixámos correr o marfim: "militarizámos" o chão fula, defendemos o chão fula, morremos na defesa do chão fula, os fulas combateram e morreram na defesa do projeto spinolista, recrutámos jovens fulas (alguns eram crianças, "filhos de sua mãe" como o Umaré Baldé e outros putos com quem fizemos a guerra), formámos unidades de elite com jovens guineenses, formámos companhias de milícias, formámos companhias africanas, algumas totalmente africanas (como as CCAÇ 21 e 22), obrigámo-los a "invadir" um país vizinho, como a Guiné-Conacri, onde fica o Futa Djalon... e nunca sequer pusemos a hipótese de as coisas correrem mal para o nosso lado...

Qual era a alternativa ? Embarcar todos os "putos" Umaru Baldé e suas famílias, tão portugueses como eu, e instalá-los em Portugal, no Algarve ou no Alentejo ?

A maior deceção que teve o Umaru Baldé, quando chegou a Portugal, ao fim de um longo exílio de 24 anos, foi contatar que afinal Portugal e as autoridades portuguesas o consideravam um "estrangeiro"... Julgo que esse choque apressou a sua decisão (temerária) de voltar à terra natal... E apressou a sua morte... Portugal era a sua "terra prometida"!... Sofrendo de uma grave doença crónica (julgo que a tuverculose, associada ao HIV/SIDA) e esgotado "stock" de medicação que levou consigo, só lhe restou voltar a Portugal, para aqui morrer...

É uma história cruel, mas é também a história de vida (trágica) de muitos guineenses que escolheram ficar do lado dos "tugas"... É uma história amarga para alguns camaradas como eu que também enquadrei e comandei homens como o Umaru Baldé, o Abibo Jau, o Zé Carlos Suleimane Baldé, o Sori- (...)

Anónimo disse...

Caro Rosinha,

A narração desta história trágica do soldado Umarú Balde que o Luis Graça retirou do baú de vidas e memórias do Blogue, na esteira de muitas outras, deve estar na origem do dito que muitas vezes ouviste da boca dos guineenses, lamentando o facto de terem sido colonizados por Portugal e não por França ou Inglaterra.

Há um provérbio africano que diz o seguinte: Se durante a caminhada precisares de sombra para o teu descanso, então escolha a sombra do Poilão ou da Mandjanja e não te arrependerás, porque são grandes largos e frondosos.

A história de vida do soldado Umarú é a história de todos que, por alguma razão, estiveram ao lado de Portugal.

Um abraço,

Cherno AB

Antº Rosinha disse...

Cherno ou Tcherno?, bem, o teu ponto de vista (inveja, racismo) talvez de alguma minoria branca, pode ser sim, mas não do caso de Rosas que disseste que viste o vídeo.

Neste caso, o professor Rosas, apenas aproveitou o suporte do protuguês/senegalês Ba, que chamou criminoso ao Marcelino da Mata, ao serviço do fascista Salazar, Salazar que é a razão de Rosas existir, sem Salazar não podia ser anti-salazarista e aí seria um professor muito infeliz. Portanto Rosas estava a atacar Marcelino sim, mas para indiretamente ir a Salazar.

Pois bem Cherno, só e apenas para ti, vou-te contar o que os teus pais e a geração deles, sentiu quando os militares se vieram embora para a "terrinha" no 25 de Abril, e abandonar as colónias.

Eles, os vossos velhos que já devem ter morrido a maioria, viam que tal como aos Comandos, os militares estavam a abandoná-los como algo imprestável, e até sim, devem ter sentido algum racismo na cara desses militares, no gesto do abandono.

E agora explico-te o sentimento dos militares (de esquerda)que maltrataram Marcelino da Mata quando este fugiu para Portugal.

Podes ter a certeza que o sentimento desses militares ao bater Marcelino, era simplesmente que os comandos africanos deviam ser todos liquidados e estavam a dar o exemplo como eles viam todos os africanos ao lado dos portugueses colonialistas.

Estou a falar de certos militares que era facil de identificar naquele tempo.

Foi tambem isso que vi em Angola em tipo de militares bem conhecidos dos portugueses.

No caso de Angola eram abrangidos também nesses seres desprezíveis, os brancos que viviam em Angola.

Como trabalhei vários anos na Guiné, pelo que vi, penso que o próprio PAIGC nunca se identificou nem se irmanou nem agradeceu do coração a esses militares portugueses tão "amantes" da independência das colónias.

Antes pelo contrário, o PAIGC até acham que esses militares portugueses (independentistas) até foram e são os maiores ingratos, pois que nunca lhe agradeceram ao PAIGC, terem sido os verdadeiros padrinhos do 25 de Abril que festejam e nem uma palavra de agradecimento ao PAIGC.

E sobre o racismo, este caso do falecimento de Marcelino da Mata, tudo à volta de Lisboa, contraditoriamente, se incendiou, como se ele estivesse ao lado dos racistas e colonialistas, quando ele esteve apenas contra o PAIGC, o que nunca ninguem entende, nem preto nem branco.

Atenção que esses que estão contra o heroi Marcelino já condenaram Spínola há muito tempo, este, tal como o Marcelino também teve que refugiar-se um dia em Espanha.

Esses tais portugueses não só condenam a guerra colonial como condenam todos os 500 anos
que Portugal "perdeu" por todo esse mundo afora, ora matando ora morrendo, ora escravisando, ora cristianizando.

Mas na realidade não é com pena dos escravos que eles gritam, gritam com pena da "cera gasta com tão ruim defunto", só que embrulham o discurso a gosto do ouvinte, mas que no fundo esse discurso é sempre no sentido final de deitar abaixo apenas e só o Estado Novo de Salazar.

O racismo, em Portugal e na Europa tem muitos matizes, só que é pena que tantos milhões de jovens africanos se venham sujeitar a esse racismo, simplesmente por não terem a menor condição de vida na maior parte dos seus países.

P.S. Já tinha escrito tudo isto, quando li a história de Umaro Baldé, não retiro nada do que falei sobre o sentimento de certos militares como aqueles que deram uma bruta tareia ao Marcelino da Mata.

Já te disse aquilo que os teus velhos viam na cara dos militares que abandonavam a Guiné, aconteceu o mesmo a Umaro Baldé.

Repito-te, não eram todos os militares, porque o próprio Spínola teve que se refugiar.

Cumprimentos


Valdemar Silva disse...

Ó Luis, é do caraças. Esta merda da guerra da Guiné vai nos ficar na carne até ao fim dos nossos dias.
Não nos venham desenterrar, neste caso foi enterrar, lembranças de heróis medalhados na puta da guerra para manter os territórios ultramarinos sob juridição portuguesa, para dar a ideia, colónias tinham deixado de ser há uns tempos por causa da ONU.
E os outros? Os de cá? Ah! estavam a defender a Pátria. A Pátria de quem? A Pátria é a terra onde nasceram os nossos avós. Os outros, os saloios, os alfacinhas e tripeiros, os minhotos e os transmontanos, os beirões das serras e do mar, os ribatejanos, os ratinhos e os sadinos, os alentejanos e algarvios, até os madeirense e açorianos foram prá guerra obrigados defender uma Pátria que não era a terra dos seus avós.
Ah! para dar a ideia. Então até se arranjam algumas figuras de negros de lá, alguns ainda dentro do sistema do indigenato, calhando grandes futebolistas, cançonetistas e tinha de haver um grande herói da guerra 'que nos foi imposta nas nossas províncias ultramarinas'.
Pois, os outros! Aqueles que por cá vão morrendo com as medalhas e as contas da puta vida, e ainda se lembram alguns de nos dizer: sabes quem morreu? Foi o Silva matarruano que esteve connosco no Xime, coitado, qualquer dia é um de nós.
E quanto ao resto, julgo que não chegaremos a nenhuma totó ideia tipo reconquista afonsinha das terras de visigodos. Uff!!
Abracelos e cuidado com bicho
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Caro Rosinha,

Obrigado pela lucidez da tua narrativa. Os velhos que se foram não tinham ilusões sobre a euforia da nossa independência.

O meu nome ficou "Cherno" a portuguesa, porque fui registado em 1972. Se fosse hoje seria "Tcherno". Muitas vezes, entre os mais novos, há quem queira corrigir colocando o "T" mas eu digo-lhes que não se corrige um nome já registado e ficam boquiabertos. A brincar acrescento que eu já fui português no séc. XX e não me apetece mudar para o alfabeto que veio do Boé.

Um forte abraço.

Cherno AB

Anónimo disse...

Cherno não é o Portugal no seu todo nem a sociedade portuguesa que está a julgar o Marcelino da Mata.O ruído gerado nas televisões e restante (in/comunicação) não tem nada a ver com a maioria dos portugueses.Acontece é que eles gritam muito para parecerem muitos e assim falarem em nome da maioria. É pena também que alguns combatentes alinhem nisso.

Direi apenas que quem assistiu à despedida do Marcelino da Mata lhe prestou com o devido respeito a homenagem possível.Lá estavam representados os Fuzileiros, paraquedistas e os seus irmãos comandos-E até o presidente da República (que às vezes se escapa como as enguias).Mas portou-se bem.Só tinha que o fazer como comandante supremo das forças Armadas.

Lá estavam também muitos galões e estrelas, um capelão das forças armadas e Roberto Durão, coronel comando, irmão do coronel Rafael Durão que foi paraquedista e de Ricardo Durão, estes também estiveram na Guiné.Portanto só lá estavam os que faziam falta, o resto não interessa.Claro que esta cerimónia não foi transmitida pelas televisões nem pelos jornais ao serviço da propaganda nacional habitual.

Para terminar há muitos camaradas militares que lhe estão gratos entre eles o Major Aviador António Lobato que ao fim de sete anos de cativeiro numa das piores prisões de conacry foi libertado por um grupo liderado pelo Marcelino.Portanto digam o que disserem os seus detratores, não conta.

António Rosinha subscrevo humildemente o que escreves.


Abraço
Carlos Gaspar



abraço

Valdemar Silva disse...

Não sei quem será Cherno ou Tcherno AB, mas quero lhe dizer que conheci muito bem o Umaru Baldé, primeiro como soldado recruta na Guiné e por cá várias vezes me encontrei com ele na Amadora e o visitei no Hospital Dr. Fernando Amado em Torres Vedras.

Valdemar Queiroz

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Dirijo-me, em primeiro lugar, ao veterano Belarmino Manuel Falagueira Sardinha, felicitando-o pela assertividade das justas considerações e opiniões que expôs em 'post' deste blog.
Em segundo lugar, por último e apenas no intuito de prestar esclarecimento, relacionado com a afirmação «libertado por um grupo liderado pelo Marcelino», expressa pelo veterano Carlos Gaspar, no penúltimo parágrafo do seu comentário: note-se que os 26 militares e 1 civil, portugueses, enclausurados pelo PAIGC na prisão 'La Montaigne', não foram "libertados por um grupo liderado" por Marcelino da Mata, sim pela equipa de resgate constituída por 44 elementos do DFE21 comandados pelo 1Tn FZE Raul Dias da Cunha e Silva; quanto ao 2Sg CMD Marcelino da Mata, coube a missão - eficazmente desempenhada -, de assumir a chefia da equipa 'Oscar' (18 comandos da 1ªCCmdsAfr) e tomar de assalto o quartel da 'Guarda Nacional' de Sekou Touré, onde foram libertados das respectivas masmorras, cerca de quatro centenas e presos políticos daquele regime.

Anónimo disse...

... corrigenda > onde se lê «centenas e presos», leia-se «centenas de presos».
(JCAS)

Anónimo disse...

Ok. João Carlos Abreu dos Santos, eu disse que o grupo foi "liderado" e o liderado é da "minha lavra" passe o termo.Porque a informação que eu tenho é que foi dada ao Marcelino da Mata a missão de ir à prisão resgatar os presos portugueses.Acontece que outros presos (sem serem os portugueses) beneficiaram desta missão.
Um abraço
Carlos Gaspar

João Carlos Abreu dos Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Carlos Abreu dos Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Carlos Abreu dos Santos disse...

Carlos Gaspar, o meu reparo não incidiu nem incide sobre o verbo "liderar", tão somente quanto a factos ocorridos na Op Mar Verde: e quanto a factos, relacionados com o resgate de 26 militares e 1 civil enclausurados na prisão 'La Montaigne', são precisamente aqueles e apenas os que indiquei.
No seu contraditório, fará favor de mencionar a(s) sua(s) fonte(s) de informação.
Obg.
Cpts

Anónimo disse...

José Carlos Abreu, foi o próprio Lobato que o mencionou.Pode ter sido traído pela memória ou baseado em algum relato do Marecelino, isso não sei precisar.
Carlos Gaspar

Anónimo disse...

João Carlos Abreu dos Santos, as minhas desculpas por ter escrito José em vez de João.
Aproveito para dizer que da minha parte não se trata de contraditório algum.Se e quando estiver noutro 10 de Junho, irei tentar clarificar esta minha informação-
Entretanto obrigado pela sua.
Cumprimentos
Carlos Gaspar

João Carlos Abreu dos Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Carlos Abreu dos Santos disse...

Carlos Gaspar,
Face à sua insistência em me não conceder crédito de tudo quanto antes afirmei, força-me a uma clarificação, final, necessária:
Aquela sua 'fonte' jornalística, está, digamos, inquinada.
A jovem jornalista Joana Ludovice de Andrade, ao serviço do jornal 'Nascer do Sol', na pág.7 da edição impressa nº 756, (20Fev2021) e disponível 'online' -, reproduziu, de uma parte do depoimento verbal do entrevistado maj pilav (ref) António Lourenço de Sousa Lobato, o seguinte ('verbatum'):
- «Foi [Marcelino da Mata] o último a chegar, depois de ter executado talvez a missão mais difícil da Operação Mar Verde. É que ele tinha sido incumbido de entrar na prisão que se dizia ser a mais tenebrosa de Conakry, onde se torturavam e matavam os que eram vistos como traidores de Sékou Touré».
Fim de citação.
E a direcção do jornal - como mandam as boas (ie, más) regras do modernaço jornalixo -, tresleu e logo tratou de subverter a verdade histórica, factual, levando leitores ao engano com uma falsa parangona de 1ª página:
- «Salvou-me da prisão mais tenebrosa».
Não.
O heróico 2Sg pilav António Lobato, não foi «traído pela memória ou baseado em algum relato do Marcelino.»
O heróico 2Sg pilav António Lobato, foi traído pelo 'marketing' do jornalixo.
O heróico 2Sg pilav António Lobato, sabe bem quem foram os militares portugueses que o resgataram, e aos demais cativos, de 'La Montaigne'; tal como, ao mencionar a "prisão mais tenebrosa", se referia unicamente a 'Camp Boiro', prisão da 'Guarda Nacional' de Sekou Touré, «onde se torturavam e matavam os que eram vistos como traidores de Sékou Touré», sanguinário ditador guinéu; ora, a quem foi incumbida a missão sobre 'Camp Boiro', foi à equipa 'Oscar'.
Tudo isso e muito mais, sobre a Op Mar Verde, desde há muito se encontra qb investigado e divulgado.
Mas estas "coisas" são como de costume: "quem não sabe é como quem não vê"; ou seja, entregam-se trabalhos de "reportagem-do-momento" a estagiári@s; e depois, quem conta um conto, etc, etc.
A responsabilidade daquela trapalhice, que infectou alguns supostos historiógrafos, cabe, apenas, ao experiente arquitecto/jornalista JAS...

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Para saber-tudo-&-+-alguma coisa, sobre a Op Mar Verde, pf leiam este m/doc (escrito em 09Abr2007 e disponível 'online') >

http://ultramar.terraweb.biz/Conackry22Nov1970/Resgatar_26.pdf

Anónimo disse...

João Carlos Abreu, aceitei perfeitamente o que escreveu e não manifestei em relação ao mesmo qualquer "falta de crédito" penso eu.Até agradeci, peço-lhe o favor de ler outra vez.
Quanto ao Sol é coisa que não leio, bem como outros. Lei o Expresso nem sempre e mesmo assim sabe Deus.Porque por vezes tem muito que se lhe diga.Bastas vezes tem de se retratar por notícias não verdadeiras.
Carlos Gaspar

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Carlos Gaspar,
Houvesse aceite a minha intervenção inicial, me parece que não teria replicado sem indicar qual a sua fonte de informação, a qual, aliás, continua a não revelar.
Cpts