domingo, 21 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21927: Blogpoesia (720): "A gratidão"; "Senhor Guilherme - latoeiro" e "Casa do brasileiro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


A gratidão

Aquela força anímica que tudo transforma e aproxima.
Um gesto simples e apropriado que une faz justiça.
Ninguém consegue tudo por si.
Todos fomos ajudados a aprender a andar a e a falar.
Estes instrumentos que não são de corda.
Vêm do coração.
Como o fogo que arde e aquece.
São nosso cunho e sinete.
A prova de que reconhecemos a quem nos faz bem.
Até os animais a sentem e a demonstram sempre, sem regatear.
Com risco da própria vida,
Se for necessário.
O mar que banha os corações e os incendeia.


Ouvindo Sherazade
Berlim, 19 de Fevereiro de 2021
17h54m
Jlmg


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Senhor Guilherme - latoeiro

Ali na Forca, um lugar de Varziela,
Ele tinha a oficina.

Maçaricos e folhas de Flandres,
Eram tudo que enchia as estantes.
Seu balcão, voltado para a estrada,
Permitiam-lhe que nada lhe escapasse
Do que se passava na estrada.
A Mikinhas era a mulher do Sr. Guilherme.
Pai do Francisco, Zeca, Esmeralda e do António.
As pessoas que iam para a Feira na vila
Davam-lhe os bons-dias.
Ele respondia sempre prazenteiro.
- Já passou a mulher da nota?
- Não. Ainda não.
- Safada! Passou lá na minha casa e nada!

- Meu pai precisava duns botões.
- Assim, tenho de ir eu à vila!...


Berlim, 19h34m
Jlmg


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Casa do brasileiro

Estou a vê-lo. Estatura baixa. Meia idade.
De bengala. A passar na estrada.
Tirando chapéu a quem o saudava.
Emigrou para o Brasil, naquela época.
Toda a gente enriquecia.
Princípios do século vinte.
O casal vinha cá uma vez por ano.
Até que um dia, o palacete, de azulejo grená,
Começou a emergir do chão.
Em pouco tempo, ficou como está.
À face da estrada. Apenas um jardim à frente.
Sobranceiro a umas vistas largas sobre a Serrinha e o Marão,
Lá longe.
Eu era bem miúdo.
Não me lembro de que alguma vez,
Nos falássemos.
Tinha dois filhos rapazes.
Conduziam um Skoda.
Um dia, o casal morreu de acidente.
A casa ficou em estado de abandono.
Só há pouco tempo, começaram a vender o recheio.
Para minha casa vieram uma cama de solteiro larga
E duas mesas de cabeceira.
Um casal que não fazia, nem bem nem mal.


Berlim, 14 de Fevereiro de 2021
17h19m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21897: Blogpoesia (719): "A fome"; "Casa da Tripa" e "O silêncio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

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