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terça-feira, 25 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26615: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (4): Cantina - Encontros em Bissau e Entretenimento

CCAV 2483 / BCAV 2867 - CAVALEIROS DE NOVA SINTRA
GUINÉ, 1969/70


VIVÊNCIAS EM NOVA SINTRA

POR ANÍBAL JOSÉ DA SILVA


8 - CANTINA
Sala do Soldado

Em setembro de 1969, por determinação do capitão Loureiro passei a assumir a gestão da cantina, acumulando com a do rancho geral.
O capitão ao assumir o comando da companhia, verificou irregularidades, creio eu por desleixo e falta de jeito do, então, gerente. Fiz-lhe ver que era muito trabalho para mim. É que não havia máquinas de calcular. As contas eram todas feitas à mão. Só havia uma máquina de somar com alavanca, obsoleta e que encravava com frequência, dando origem a erros. Soli
citei a colaboração de um ajudante tendo o pedido sido aceite.

Iniciei a recuperação de algum prejuízo verificado nas gestões anteriores e mantive a escrita em boa ordem até final da comissão sala do soldado


9 - ENCONTROS EM BISSAU
Rua do hotel Miramar
22/11/70 dia operação Mar Verde
Comendo as boas ostras da Guiné

Dos conterrâneos e amigos que encontrei em Bissau, para além do Camarinha e do André, recordo o Quim Marques que estava destacado em Farim, o Zé Pimpão e o Forte Rei. 

O Zé fazia parte da companhia de transportes e efetuava colunas de reabastecimentos para o norte da Guiné. Tinha uma casa alugada, próximo do quartel de Santa Luzia, que partilhava com outros furriéis. Nessa altura um deles estava de férias e convidou-me para ocupar a cama dele durante a minha curta estadia, o que aceitei de bom grado, pois assim evitava ir para o quartel de Brá, onde com toda a certeza me punham a fazer serviços da guarda e eu não queria.

O Forte Rei era gerente de messe de sargentos no quartel de Santa Luzia, onde o encontrei. Eu tinha tido alta do hospital militar e aguardava transporte para o mato. Após um forte abraço fitou-me e disse, é pá estás magro como um cão. Contei-lhe o que me tinha acontecido. De imediato levou-me para dentro da messe, no seu modo espalhafatoso. No seu local de trabalho chamou por alguém e ordenou: “Ó pá trata da fome a este gajo”.

Durante os três dias em que lá estive fui tratado como um príncipe.

Não era conterrâneo, mas alferes da minha companhia. Era um “ bon vivant” e cedo se percebeu que não queria estar lá por muito tempo. Engendrou uma úlcera no estômago, tendo sido evacuado para o hospital militar. Numa das minhas idas a Bissau encontrei-o na 5.ª Rep, designação dada a um café/cervejaria situado na avenida principal e da igreja.

Dizia-se até que era um local frequentado por elementos do PAIGC, procurando ouvir conversas dos nossos militares. E não é que vou encontrar o alferes a comer ostras e camarão e a beber umas canecas de cerveja. Perguntei: ”então meu alferes a beber cerveja tendo uma úlcera?“. E ele respondeu: “ó pá está calado, tenho de a alimentar senão ela morre“. 

O certo é que foi evacuado para a Metrópole tendo terminado a comissão.


10 - ENTRETENIMENTO
O Duo Ouro Negro
Fazer a barba com uma catana
O Russo, o Americano e o Português

Para além dos espetáculos que de vez em quando fazíamos entre nós, num palco montado no estrado duma camioneta mercedes, fomos brindados em datas diferentes com a presença do Duo Ouro Negro e do Show de Leónida Mendes.

Os nossos eram abrilhantados com o acordeão do furriel Azevedo. Inventávamos rábulas, sketchs, contavam-se anedotas e é claro as cantorias. Eu era como sou agora, tímido e pouco falador, não alinhando muito naquelas coisas, era só espetador atento. Mas um dia pregaram-me uma partida. O organizador disse que um alferes ou um furriel tinha de ir cantar. Colocaram numa saca quinze papéis, supostamente com o nome de todos, para efetuar um sorteio..E o contemplado fui eu ,pelo simples facto de em todos os papéis estar escrito o meu nome. E assim tive de ir cantar, tendo escolhido “ó rosa arredonda a saia “.

Foi um sucesso !...

No espetáculo do Duo Ouro Negro, improvisamos um palco no estrado de dois unimogs juntos, enfeitados com ramos de palmeira e um pano de fundo com a inscrição de “Olimpia de Nova Sintra”. O pessoal vibrou com todos os temas cantados, sobejamente conhecidos de todos.

Em junho de 1970 recebemos o espetáculo de Leónida Mendes, que se fazia acompanhar do locutor da emissora nacional Fernando Correia, da cançonetista Isabel Amora e duma senhora que tocava orgâo. Estava uma tarde muito ventosa. Os toldos que cobriam o palco estavam presos por uma pedra. Uma rajada de vento mais forte derrubou a pedra que caiu em cima do orgão e a senhora, já com alguma idade, borrou-se toda de medo, pois julgava que estávamos a ser atacados. Passado o susto o espetáculo foi retomado, só com a letra das canções, pois o orgâo foi para a sucata.

Esporadicamente ia lá um foto cine exibir filmes. Duma vez foi o furriel Martins, que estava há pouco tempo na Guiné e era a primeira saída que fazia e estava cheio de medo. O tempo de permanência seria de uma semana, mas acabou por ficar duas por falta de transporte. Então vimos filmes de todas as formas e feitios. O de cowboys foi inicialmente visto da forma normal e depois em reprise foi totalmente exibido de trás para a frente. O pistoleiro e o cavalo primeiro morriam e só depois era disparado o tiro.

“Não sou digno de ti” é o nome do filme romântico que foi exibido. O protagonista era o italiano Gianni Morandi. Nas cenas mais escaldantes, o pessoal exigia que o filme parasse por alguns momentos. A Tombó, nossa prisioneira em liberdade, não tirava os olhos de espanto do ecrã e comentava o filme à sua maneira. Dizia que o Giani Morandi era o juve (rapaz), a namorada a bajuda e a mansão a tabanca. Transportava o que via para a sua realidade e dizia, o juve vai à tabanca da bajuda.

Depois da primeira semana o Martins ambientou-se, estava mais adaptado e calmo.
Apanhou uma bebedeira de tal ordem, que eu estive quase a ser vítima do seu estado de embriaguez. 

Na altura eu tinha um bigode farfalhudo e o dele era muito incipiente. Como éramos naturais de freguesias próximas, alguém lhe disse se não tinha vergonha de ter um bigode tão enfezado relativamente ao meu. O Martins enraivecido andou atrás de mim para mo arrancar pelo por pelo e tive de andar a saltar de abrigo em abrigo fugindo dele. Alguém o agarrou, deitou-o na cama e amarrou-o. Depois de aplicada uma injeção tranquilizante serenou e dormiu que nem um justo toda a noite. 

Na manhã seguinte levantou-se ainda com os vapores do álcool e saiu do abrigo. Viu o capitão Loureiro a fazer a barba, pegou no pincel, meteu-o à boca e disse: “ meu capitão este gelado está bom e é de baunilha! “. 

No fim da segunda semana deixou-nos já com saudades. Nos anos 80 encontrava-me com ele no Porto, ao balcão do banco onde trabalhava e recordávamos os tempos da Guiné e muito nos ríamos e ameaçava: “ não voltes a aparecer aqui com o bigode, porque qualquer dia ficas sem ele “. Soube que estava doente, pelos vistos seriamente, tendo falecido.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série d18 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26595: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (3): A Alimentação

terça-feira, 18 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26595: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (3): A Alimentação

CCAV 2483 / BCAV 2867 - CAVALEIROS DE NOVA SINTRA
GUINÉ, 1969/70


VIVÊNCIAS EM NOVA SINTRA

POR ANÍBAL JOSÉ DA SILVA


7 - A ALIMENTAÇÃO

A cozinha “nova”
Refeitório do 3.º Pelotão
Gazela servida no dia Páscoa de 1969

A alimentação para 160 homens, pela qual eu era responsável, era má. Lá diz o ditado que sem ovos não se pode fazer omeletes, nem transformar pedras em pão. Não podia transformar o chouriço enlatado num bom bife. Todos os géneros alimentares vinham da Manutenção Militar de Bissau. Não havia população civil a quem, eventualmente, pudesse comprar o que quer que fosse. As populações mais próximas estavam em Tite a 20 Km, mas a estrada estava inoperacional tendo sido abandonada. Havia ainda, também a 20 Km, o destacamento de S. João que ficava defronte a Bolama, mas separado pelo largo rio. No inicio da comissão ainda cheguei a comprar galináceos e porcos, quando lá fomos buscar o primeiro reabastecimento, mas foi sol de pouca dura, porque o CIM em Bolama comprava tudo. Para além disso a estrada Nova Sintra a S. João estava normalmente minada e era por ela que as colunas de reabastecimento eram feitas. Lembro que por duas vezes nesta estrada foram acionadas minas que provocaram a morte a quatro camaradas e vários feridos, pelo que fazer uma coluna para ir às compras estava fora de questão.

Durante um mês, em vinte e sete dias eram fornecidas refeições à base de enlatados: chouriço, sardinha e atum de conserva, dobrada liofilizada, que era intragável, e eventualmente fiambre. As refeições de bacalhau eram sempre bem vindas, pena é que a Manutenção em Bissau, só fornecesse metade do que era pedido.

Uma vez por mês eram recebidos géneros frescos, (sardinha ou carapau, frango, ovos e alguns legumes), que tinham de ser consumidos em três dias, dada a precariedade das arcas congeladoras que funcionavam a petróleo e entupiam com facilidade. Luz elétrica só havia à noite. Durante esses três dias e à noite, dois homens faziam vigilância ao bom funcionamento das arcas. Um frango (por homem) podia dar para duas refeições, mas tinha de ser consumido quase de imediato, porque senão estragava-se. O grão-de-bico, o feijão frade e branco, o arroz e o esparguete, eram a base diária das refeições. Depois era só juntar o chouriço. Pela Intendência nunca nos foi fornecida carne de bovino ou de porco.

Era difícil gerir esta situação. Alguns soldados não a compreendiam e pressionavam o comando, mas nunca houve qualquer tentativa de levantamento de rancho. Em dada altura foi feita uma reunião entre os alferes, sargentos e furriéis para debater a questão. Foi decidido que eu fosse a Bissau comprar carne congelada, na Manutenção Militar ou em talho civil. Assim foi feito. Aproveitando a passagem semanal da avioneta de sector, que trazia e levava o correio, desloquei-me a Bissau. Consegui comprar alguma carne de vaca. Transportei-a na bagageira e banco traseiro de um táxi até à base de Bissalanca, onde aluguei uma avioneta civil. Depois carreguei as peças de carne, às costas, desde o táxi até à avioneta. Enviei uma mensagem para Nova Sintra para que as arcas ficassem vazias, diga-se, de Coca-Cola, Fanta e principalmente cerveja, o que constituía outro sacrifício. Chegado ao quartel e dada a temperatura e humidade, já não se podia dizer que a carne estivesse totalmente congelada. Dada a precariedade das arcas, alguma carne estragou-se e a restante teve de ser consumida à pressa. Chamava-lhe eu a tortura da carne. Meses depois repeti a façanha, só que desta vez estragou-se mais carne. Dada a dificuldade de conservação e os custos inviabilizaram novas façanhas.
Furriéis e a caça ao javali
O magarefe Feio a desmanchar javali
Pescadores com os sacos às costas

A caça tornou-se um filão a explorar. Liderada pelo António Soares (já falecido) foi criada uma equipa de caça. Conseguimos abater algumas gazelas, pois não havia animais de maior porte. Mas durou pouco tempo porque as gazelas desapareceram da região.

Em determinado dia uma equipa de caça constituída por furriéis, foi tentar apanhar javalis. Mas nem vê-los ou sinal deles. Os javalis que conseguimos apanhar foram através de armadilhas. Numa zona de mangais, onde à noite eles iam comer o fruto caído, era colocado um arame de tropeçar preso a duas árvores. Ao arame prendiam-se granadas de mão sem cavilha. Na procura de alimento os javalis tocavam no arame e as granadas explodiam provocando-lhes a morte. No quartel que distava mais ou menos dois quilómetros, ouviamos os rebentamentos e dizíamos: “amanhã temos carne fresca”. O Feio, magarefe na vida civil, tratava de os abrir, limpar e esquartejar.

Todas as gazelas e javalis foram para outras paragens. Em toda a comissão foram pouco mais de uma dúzia destes animais que conseguimos caçar.

Restava a pesca. Não havia barcos nem canas mas havia granadas de mão. Aproveitando a maré baixa do rio e as represas que se formavam, eram lançadas granadas e o rebentamento elevava no ar uma espécie de repuxo de água, juntamente com umas dezenas de peixes, que depois ficavam a boiar na água. Depois era só apanhar, meter em sacos de linhagem, amanhar e cozinhar. Esta atividade foi a mais duradoira.

Para além do infortúnio da falta de géneros frescos, havia um outro problema que agravava a situação: a deterioração de alimentos. Um bacalhau com batatas caía sempre bem, tal como batatas fritas e fatias de fiambre. Mas muitas vezes ao abrir um caixote de madeira com 25 quilos de bacalhau ou uma lata grande de fiambre estes produtos estavam totalmente estragados e lá se iam os petiscos.

No que diz respeito à batata, produto também muito fácil de apodrecer, dados os trambolhões que levava no transporte e a humidade, para evitar grandes perdas, dia sim dia não, dois soldados retiravam as podres das prateleiras.

Os ovos que recebíamos mensalmente, em doses razoáveis, também se estragavam muito. Numa das vezes, porque havia algumas dúzias com a probabilidade de deitar ao lixo e coincidindo com o Dia da Cavalaria, o 21 de Julho, também data do meu aniversário, resolvi antecipar o Natal, mandando confecionar rabanadas. E mais um azar aconteceu. Alguns soldados estavam a assistir à fritura das ditas, muito próximos das grandes fritadeiras, lambendo os lábios à guloseima, quando se iniciou uma flagelação ao aquartelamento. O pessoal na ânsia de procurar uma vala onde se proteger ou o seu abrigo, bateu com as pernas nas pegas das fritadeiras virando-as. Após o ataque e refeitos do susto, ainda se aproveitaram algumas que não tiveram contacto com a terra e restou o cheiro para consolar.

O pão. Tivemos dois padeiros. O primeiro foi o Pedroso de Almeida, que habitava no meu abrigo e dormia no primeiro andar do meu beliche. Teve dois azares. Num dia ao acender o forno com gasolina virou-se de costas e a chama queimou-o. Foi evacuado para o Hospital Militar em Bissau. O segundo foi-lhe fatal. Morreu no acidente do rebentamento da mina de 24 de julho de 1969.

O segundo padeiro foi o José Manuel Bicho que exercia a profissão na vida civil. A farinha, dadas as temperaturas e humidade elevadas criava muitos pequenos bichos e na peneira não era fácil tirá-los todos e alguns apareciam no pão. Dizia ele que todo o pão levava a sua assinatura.

Para amenizar o desagrado das ementas, resolvi mandar fazer tabuleiros grandes para ir ao forno do pão, com a chapa dos bidões de azeite. Conseguimos assar bacalhau com batatas, carne de caça e peixe da bolanha.

Aquando da tomada de posse e comando por parte do capitão Loureiro, foi verificada no depósito de géneros uma anomalia. Numa caixa de latas de leite condensado faltavam vinte. Eu não percebia a razão da falta, pois estava convicto que estava tudo correto. Indaguei e conclui que o André, também conhecido pelo metro e oito, fiel do armazém de géneros, de vez em quando retirava uma lata para alimentar a “sarita” uma pequena macaca, que era a nossa mascote. Era cuidada e tratada pelo Lomba que faleceu no dia 17/11/69, uma das vítimas do rebentamento duma mina anti carro. A sarita sentiu a falta do tratador e talvez por isso andava triste, não saltava e passados dias morreu.

Ainda relativamente à questão das arcas, conta-se como verdadeira a seguinte história. Determinada companhia, tal como nós, isolada no mato, tinha ficado sem arcas e frigoríficos e feito vários pedidos para que fossem substituídas. Em resposta a uma mensagem mais agressiva, por parte do capitão que estava no mato, a Intendência em Bissau, respondeu que Teixeira Pinto colonizara a Guiné sem frigoríficos, ao que o capitão retorquiu, solicito envio urgente de Teixeira Pinto.

Um mês antes de deixarmos o inferno de Nova Sintra, num reabastecimento de géneros, para além das rações de combate que havia requisitado, para a atividade operacional expectável e manter o stock, recebi a mais umas boas centenas de rações, com a agravante de algumas já terem excedido o prazo de validade e outras estarem quase. Era impossível consumi-las até à transferência do depósito de géneros à companhia que nos iria render a CCAV 2765, “Os Pica na Burra”. Servi-las em substituição da refeição quente, embora precária, seria estar a assinar a minha sentença de morte, pois o pessoal enforcava-me no embondeiro mais alto. Colocada a questão ao capitão e ao 1.º Sargento, foi decidido colocar as caixas com as rações de combate, viradas para a parede escondendo o prazo de validade.

Fiz a transferência do depósito ao vaguemestre “periquito”, que as “comeu de cebolada” mas tudo o resto estava em conformidade. Só que o 1.º Sargento deles não era burro e como já tinha feito outras comissões, resolveu confirmar a passagem do testemunho e deu com a marosca. Durante duas noites não dormi a pensar num eventual castigo e porque tinha colaborado numa situação que era contra os meus princípios, embora tivesse as costas quentes, pelo aval dado pelo nosso capitão. Os capitães e os 1.ºs sargentos das duas companhias chegaram a um entendimento e eu lá continuei a dormir descansado. Se revoltado estava com tudo por que passara até então, mais fiquei com os filhos da p... da Manutenção de Bissau, que no descanso do ar condicionado, em vez de comerem as rações de combate as enviavam para os escravos que estavam no mato, mas condicionado ao ar.
Ração combate n.º 20
Algum do conteúdo
Ementa n.º 1

(continua)
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Nota do editor

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terça-feira, 11 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26573: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (2): Partida para Nova Sintra - Chegada a Nova Sintra - Em Nova Sintra

CCAV 2483 / BCAV 2867 - CAVALEIROS DE NOVA SINTRA
GUINÉ, 1969/70


VIVÊNCIAS EM NOVA SINTRA

POR ANÍBAL JOSÉ DA SILVA


4 - PARTIDA PARA NOVA SINTRA
Paragem no Enxudé
Cais de Bolama
Desembarque em Lala

A 3 de Março de 1969 a minha companhia foi transportada em duas LDM (lancha dedesembarque média). Fizemos uma primeira escala no Enxudé e depois aportamos a Bolama onde dormimos duas noites. Na manhã do dia 5 retomamos a viagem e depois chegamos finalmente a Lala, onde desembarcamos.

As LDM baixaram as empanadas sobre o tarrafo (arvoredo rasteiro) e ordeiramente fomos saindo. Iniciámos o primeiro trajeto por entre a mata verdejante. Às tantas ouviu-se um tiro. Foi o furriel Barriga, caçador nato, que não resistiu a atirar sobre uma gazela. O comandante do Batalhão, que nos acompanhava, queria aplicar-lhe uma sanção disciplinar (vulgo porrada) mas ficou-se pela advertência e um raspanete. Nova Sintra estava a seis quilómetros de distância



5 - CHEGADA A NOVA SINTRA
Vista aérea do quartel
Entrada em Nova Sintra
A messe de oficiais e secretaria

Finalmente chegamos e tive a primeira desilusão. Ao entrar dentro do arame farpado, parei e perguntei a mim mesmo: é aqui que vou viver durante seis meses? Na verdade, não foram seis, mas vinte. Os únicos edifícios à superfície, se lhes podia chamar assim, eram toscos e mal amanhados. Havia o abrigo dos oficiais, secretaria, cantina, depósito de géneros, transmissões e posto médico. Não havia camaratas mas sim abrigos subterrâneos, cobertos por troncos de palmeira com um metro de terra em cima e placas de zinco a fazer de telhado, tendo duas entradas nas extremidades, em zig-zag, para evitar eventual entrada de granadas. Estavam dispersos ao redor do quartel. 

Não havia refeitório único, pois cada abrigo tinha o seu, o que em termos de segurança era uma boa estratégia. Luz elétrica só havia à noite, fornecida por um gerador. Messe de sargentos também não havia e os furriéis estavam distribuídos pelos diversos abrigos. Quanto à latrina não digo nada, recuso-me. 

A pista de aviação era a descer e com muitos sulcos, principalmente na época das chuvas. As viaturas ficavam estacionadas na “garagem estrela “, a céu aberto. Também a céu aberto era a cozinha, tendo posteriormente arranjado uma solução melhor. A água era obtida numa fonte a dois quilómetros de distância. Enfim, um condomínio fechado, um resort, se quiserem, do tempo pré histórico.


6 - EM NOVA SINTRA
O meu abrigo/dormitório
A cozinha ao ar livre
Cantina/Depósito de géneros/material

A minha companhia foi destacada para Nova Sintra com a promessa de ao fim de seis meses ser feita uma rotação de companhias. Dizia o comando do Batalhão que era a mais bem preparada para enfrentar o primeiro impacto, liderada pelo capitão Bernardo, o mais jovem e mais bem capacitado relativamente aos outros dois capitães, da CCAV 2482 e CCAV 2484, destacadas em Fulacunda e Jabadá, respetivamente. 

Mas o azar bateu-nos à porta. No dia 11 de Julho de 1969, num trilho em direção a um acampamento IN, de madrugada, o capitão Bernardo pisou uma mina que lhe amputou uma perna e provocou ferimentos graves na outra. Foi o primeiro ferido e logo com tamanha gravidade. 

Ficamos sem capitão até Setembro de 1969. Nesse intervalo assumiu o comando o alferes Luís Martinho, dado ser o mais bem classificado entre os alferes. Esta perda ocasionou que ficássemos sem força para reivindicar a prometida rotação. Os outros capitães tudo fizeram para que assim fosse. Numa visita ao nosso aquartelamento, ouvi o capitão Morais, de Fulacunda os (BoinasNegras), onde estava o meu amigo e conterrâneo Fausto, dizer ao seu alferes Sousa e Silva, que o acompanhava, que iria fazer todos os possíveis para não levar os seus homens para aquele fim de mundo. O certo é que conseguiu, pois acabamos por ficar em Nova Sintra vinte meses.

 Depois tivemos mais dois capitães, desta vez, milicianos. Primeiro o capitão Loureiro e depois o capitão Gamado. O capitão Loureiro, natural de Cedofeita, no Porto, dizia que estava ali para ganhar dinheiro para poder terminar o curso de direito. Bom operacional, nas colunas e não só, ia sempre à frente junto dos picadores. As minas detetadas eram levantadas por ele e ainda foram algumas. O capitão Gamado estava descansado em casa, pois já tinha feito o tempo normal de tropa, mas foi mobilizado, dada a falta de oficiais do quadro.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 4 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26551: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (1) Formação do BCAV 2867 - Partida para a Guiné e Chegada a Bissau

terça-feira, 4 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26551: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (1): Formação do BCAV 2867 - Partida para a Guiné e Chegada a Bissau

CCAV 2483 / BCAV 2867 - CAVALEIROS DE NOVA SINTRA
GUINÉ, 1969/70


VIVÊNCIAS EM NOVA SINTRA

POR ANÍBAL JOSÉ DA SILVA


1 - FORMAÇÃO DO BCAV 2867

No início de Dezembro de 1968 apresentei-me no Regimento de Cavalaria n.º 3, em Estremoz, a fim de ser integrado no Batalhão de Cavalaria 2867, destinado a servir na Guiné. A companhia seria a CCAV 2484. Porém, no primeiro dia de permanência em Estremoz, encontrei o alferes Luís Martinho, que trabalhava comigo na Tranquilidade e que iria fazer parte da CCAV 2483. Sugeriu a hipótese de eu solicitar a transferência de companhia, a fim de ficarmos juntos. Contactei o furriel vaguemestre da 2483, o Vasconcelos, que aceitou o pedido, até porque na 2484 também tinha alguém conhecido. Formalizado o pedido aos capitães das duas companhias, concretizou-se a transferência. Fui colocado na CCAV 2483, os futuros CAVALEIROS DE NOVA SINTRA.

Meses depois senti na pele que a troca me saíra cara. Isto porque fomos destacados para o aquartelamento de Nova Sintra, numa região inóspita, de difícil acesso, sem população, num aquartelamento sem condições e de muitos conflitos. Enquanto isso, ao Vasconcelos saiu a sorte grande. Foi para Jabadá, aquartelamento sobranceiro ao rio Geba, com instalações condignas e com menos sobressaltos.
Estremoz > Regimento de Cavalaria n.º 3
Desfile em Estremoz


2 - PARTIDA PARA A GUINÉ

A 23 de Fevereiro de 1969 partimos de Lisboa no navio Uíge. Tive na despedida, no Cais da Rocha de Conde de Óbidos, a presença do conterrâneo e amigo Belmiro Barbosa, que prestava serviço militar em Lisboa. A viagem durou cinco dias e correu bem, salvo o vomitar do primeiro dia. Todas as noites havia uma sessão de cinema e o pessoal empoleirava-se sobre todo o convés.

Navio Uíge
A despedida no Cais
A bordo
Refeição a bordo


3 - CHEGADA A BISSAU
Bissau à vista
O cais de Bissau
Início da avenida principal

Chegamos a Bissau na manhã do dia 1 de Março de 1969. Desembarcados, fomos transportados para o aquartelamento de Brá. No trajeto, na berma da estrada, os miúdos vendo que éramos novatos, estendiam o dedo indicador e diziam “salta periquito, salta “. Periquito é sinónimo de novato.

Chegados a Brá fomos encaminhados para as casernas destinadas à minha companhia. Dada a elevada temperatura e humidade, a que não estávamos habituados, encharcamos a farda de suor. Andava eu e o inseparável amigo Lima, furriel de transmissões à procura dum chuveiro, quando dei de caras com o primeiro Arcozelense. Era o Neca Camarinha, meu colega de carteira na escola primária. Ele já estava na Guiné há alguns meses e destacado em Bambadinca, na Intendência e ocasionalmente em Bissau.

À noite fui ao centro da cidade ter com o André, de Miramar, encontro previamente marcado pelos nossos pais que eram amigos. Ele prestava serviço na Força Aérea, na base de Bissalanca. Num café/cervejaria, próximo ao cais civil, estivemos a comemorar o encontro, comendo ostras e bebendo umas canecas de cerveja. Às tantas comecei a ouvir rebentamentos de granadas, som que se percebia vir do outro lado do larguissímo rio Geba e dizia o André “é para ali que tu vais “. Não foi o melhor cartão de visita, mas deu para entender o que me esperava.

Quartel de Brá
Salta periquito
Estrada de acesso a Brá

(continua)
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Nota do editor

Vd. post de 25 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26526: Tabanca Grande (567): Aníbal José Soares da Silva, grão-tabanqueiro n.º 898, ex-Fur Mil SAM, CCAV 2483/BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26526: Tabanca Grande (567): Aníbal José Soares da Silva, grão-tabanqueiro n.º 898, ex-Fur Mil SAM, CCAV 2483/BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70)

1. Através do Formulário de Contacto do Blogger, recebemos no dia 30 de Junho de 2024, a seguinte mensagem do nosso camarada Aníbal José Soares da Silva:

Viva, camaradas
Sou Aníbal José Soares da Silva, nascido em 21 de Julho (dia da cavalaria) de 1946 e tive a profissão de Profissional de Seguros.
Assentei praça no dia 15 de Janeiro de 1968 nas Caldas da Rainha, no curso de Sargentos Milicianos.
Mobilizado pelo RC3 de Estremoz, embarquei para a Guiné no dia 23/02/1969, como Furriel Vagomestre da CCav 2483/Bcav 2867.
Cumpri a comissão de serviço nos aquartelamentos de Nova Sintra, de 05/03/1969 a 20/09/1970 e depois em Tite, sede do Batalhão, até ao regresso à metrópole que se verificou a 22/12/1970.

Passados 50 anos escrevi um texto, ao qual juntei várias fotografias, a que dei o nome "Vivências em Nova Sintra". Texto que em 2022, por solicitação do ex-alferes Jorge Martins Barbosa e do Sr. Coronel Henrique Morais, ambos da CCav 2482, é parte integrante do livro (54 páginas) " A Guiné Que Conhecemos", que o primeiro coordenou, na sequência do livro "Histórias dos Boinas Negras".
Pergunto se vos posso enviar uma pen com a minha "escrita", para eventual publicação no vosso estimado blogue, da forma que entenderem mais conveniente e do qual sou frequente pesquisador.

Um abraço de muita amizade,
Aníbal Silva


********************

2. No dia 3 de Julho foi enviada ao nosso camarada Aníbal Silva a seguinte mensagem:

Caro camarada Aníbal Silva
Muito obrigado pelo teu contacto e pela disponibilidade em colaborar nesta feitura de memórias.
Claro que estamos disponíveis para receber o teu trabalho e publicá-lo no nosso blogue.
Também gostaríamos de te apresentar formalmente à tertúlia, da qual farás parte com todo o mérito pois vais ser mais um dos nossos "contribuidores".
Para o efeito, manda-nos por favor uma foto actual e outra do tempo de Guiné, fardado, assim como outros elementos, além dos que já nos franqueaste, para que te possamos conhecer melhor.
A tua correspondência electrónica deverá ser enviada simultaneamente para estes dois endereços: luis.graca.prof@gmail.com e carlos.vinhal@gmail.com
Por indicação do nosso editor Luís Graça, para enviares a tua pen ou outro suporte físico, utiliza por favor a minha morada:
[...]
Ficamos ao dispor para desfazer qualquer dúvida ou prestar outros esclarecimentos.
Em nome dos editores e da tertúlia em geral,
Um abraço
Carlos Vinhal
Coeditor


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3. No dia 20 de Fevereiro de 2025, recebemos, via CTT, uma encomenda do nosso camarada e novo amigo tertuliano, Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Alimentação da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70):

Estimado camarada Carlos Vinhal
Agradeço ter sido aceite como "contribuidor" em publicações no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, blogue que desde há alguns anos vou consultando e de que muito gosto.

Para além do que já referi, no que di respeito ao meu "curriculum", acrescento mais o seguinte. Não fui operacional do gatilho, mas sim o Vagomestre da Companhia, aquela especialidade, muitas vezes "mal vista" pela tropa. Porque participava em fodas as colunas de reabastecimentos de géneros, onde os eiscos derivados das minas eram uma constante e que na minha Companhia resultou em cinco mortos e vários feridos, um dos quais eu próprio, em jeito de brincadeira com os operacionais, eu costumava dizer que era o "vagomestre mais operacional da Guiné".


Anexo a minha história "Vivenças em Nova Sintra" em caderno e em pen, bom como um pequeno texto escrito pela minha filha com o título " O Sangue dos Homens", com o qual concorreu a um concurso do jornal Público, há muitos anos e que reflete bem a amizade nascida e cimentada entre os "Camaradas".

Espero que a minha colaboração seja útil.
Com um forte abraço
Aníbal Silva


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4. Em 21 de Fevereiro enviámos esta mensagem ao camarada Aníbal Silva

Caríssimo camarada e amigo Aníbal Silva
Em primeiro lugar quero apresentar-te as minhas desculpas por só hoje, e a esta hora, estar a dar conta da recepção do material que gentilmente me enviaste pelo correio físico, chegado ontem à tarde, e ao qual vou dar o meu melhor para que possa ficar a fazer parte do espólio do nosso Blogue.
Tivemos estes dias "uma avaria" no blogue que me tem dado água pelas (virtuais) barbas. Parece estar já tudo normalizado mas ainda há muito trabalho para se ir fazendo.
Foi boa ideia tirares trabalho cá ao velhote, enviando o texto numa pen.
O meu plano será apresentar-te primeiro e depois começar a publicar semanalmente as tuas memórias. Tenho a terça-feira livre pelo que foi este o dia que te reservei.
Aquando da tua apresentação publicarei o texto da tua filha Helena Sofia, que em poucas palavras diz imenso.
Fico receptivo às tuas sugestões sobre o modo como vamos apresentar o teu trabalho.

Com os votos de bom fim de semana, deixo-te o meu abraço fraterno
Carlos


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5. Culminando esta troca de mensagens, recebemos onte, dia 24 a mensagem que se segue:

Bom dia, estimado camarada Carlos Vinhal
Estou sensibilizado com a tua informação de que amanhã vai ser publicado, nesse extraordinário blogue, o texto escrito pela minha filha. O amigo em causa é o que a fotografia, que envio em anexo, documenta e caso seja possível agradeço que seja anexada ao texto. Trata-se do grande amigo João Jardim, que foi furriel de minas e armadilhas do 4º. pelotão da CCav 2483. É angolano e um empresário de sucesso, não só na sua Angola, como em Portugal. Sempre que vem ao Porto em viagens de negócios, não deixa de nos reunirmos (eu e mais dois cavaleiros) num almoço na tua terra, Leça da Palmeira.
Relativamente a publicações futuras e como não sei quais são os vossos critérios, deixo isso à vossa consideração. No entanto, poderemos dialogar através do meu telemóvel.

Ao terminar, por hoje, quero expressar-vos a minha simpatia pelo extraordinário trabalho de voluntariado que desde há alguns anos têm desenvolvido.

Um forte abraço de amizade
Aníbal Silva


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O SANGUE DOS HOMENS

Por Helena Sofia

Cresci entre centenas de imagens exóticas e distantes, mais ou menos amarelecidas, de uma África estranhamente pacífica. Via os soldados juntos, a rir, os braços sobre os ombros uns dos outros, os pés pousados sobre armas "inofensivas". Entre eles, o meu pai.
Nunca soube acrescentar o sangue àquelas imagens, nem avaliar o poder que exerceu sobre os homens. A guerra não chegava a ter som, cheiro, profundidade. Dificilmente a conseguia encaixar na vida deste homem.
Até o ver chorar ao reencontrar um grande amigo desse tempo. Nunca tinha visto o meu pai chorar.

Os Furriéis Milicianos João Jardim e Aníbal Silva, amigos para sempre e inspiração para a Helena Sofia

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6. Comentário do editor CV:

Caríssimo amigo amigo Aníbal Silva
Podes entrar e escolher o lugar que achares mais confortável debaixo do nosso "poilão sagrado", esta tertúlia de antigos combatentes da Guiné, onde deixamos as nossas memórias escritas e em fotos.

Comoveu-me muito o texto da tua filha Helena Sofia, que nunca tinha visto o pai chorar, se o fizeste antes, disfarçaste muito bem, até àquela hora em que reencontraste, julgo que o teu camarada João Jardim.

Não há definição possível para a amizade que une os antigos combatentes, principalmente entre aqueles que viveram os mesmos perigos e passaram as mesmas longas horas de angústia lado a lado. 

Pela minha experiência, a Guiné foi um território especial que fortaleceu
 laços entre os antigos combatentes que por lá penaram, talvez por ser muito pequeno em área. Onde se encontrarem dois antigos camaradas, logo se estabelece uma minitertúlia. Não faz mal que nunca se tenham encontrado lá, amigos ficam de certeza a partir daquele momento.

Já li o episódio em que "ficaste cego", caso para dizer, safaste-te por pouco. Quem te mandava a ti, vagomestre, andar por maus caminhos? Na altura deves ter apanhado um grande susto, asim como a tua família. A propósito, se quiseres perder uns minutos, lê este meu poste (P890), já um bocado antigo, que retrata um episódio em que um camarada meu, com quem ainda hoje comunico, estava à hora errada, no local errado.


Quero deixar-te, em nome dos colaboradores deste Blogue e da tertúlia em geral, um abraço de boas-vindas. Estatisticamente ficas com o lugar n.º 898 da tertúlia. Vê aqui a listagem geral.
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Nota do editor

Último post da série de 21 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26409: Tabanca Grande (566): Angelino dos Santos Silva, grão-tabanqueiro nº 897, ex-fur mil OE, 26ª CCmds (Brá, 1970-1972), poeta e escritor, natural de Recarei. Paredes, Vale do Sousa