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quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22882: Manuscrito(s) (Luís Graça) (208): "Janeiro, gear; Fevereiro, chover; Março, encanar; Abril, espigar; Maio, engrandecer; Junho, aceifar; Julho, debulhar; Agosto, engravelar; Setembro, vindimar; Outubro, revolver; Novembro, semear; Dezembro, nasceu Deus para nos salvar".

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Lourinhã > Natal de 2021 > Um dos 60 presépios de rua > Hall da igreja paroquial da Lourinhã... A minha neta, Clarinha, também se quis associar à "festinha do menino Jesus", deixando, com a maior das inocências, junto às ovelhinhas,  a boneca de trapos, "Clara", e o "João Ratão"... O Natal, se ainda tem magia, é para as crianças...Nós, há muito que perdemos a "inocência", espero bem que não tenhamos perdido de todo a capacidade de "maravilhamento"... (por exemplo, quando "revisitamos" a nossa infância).


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2022). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O Natal de há 70 anos quando o Pai Natal 
ainda não tinha morto o Menino Jesus...


(...) 33. E no Natal ?!... Lembras-te do Natal, quando ainda o Pai Natal não tinha morto o Menino Jesus ?! E ainda não havia luzinhas, “made in China”, a não ser as das velas ou do candeeiro a petróleo ?!…

Não, não havia o stress de Natal que há hoje, na cidade grande... Não havia nada disso na aldeia onde tu nasceste há mais de 7 décadas. Ainda o Pai Natal não existia, pelo menos o Pai Natal da Televisão e dos centros comerciais. Não havia televisão, nem eletricidade nem centros comerciais. Muito menos corrida às compras, com medo que o mundo acabasse, o bacalhau desaparecesse, e as estantes do hipermercado ficassem vazias...

Ia-se à missa do Galo, à meia noite em ponto, na igreja do Castelo, tumular, tudo escuro como breu, e só depois, a tiritar de frio, de regresso a casa, logo ali, na Rua dos Valados ou do Castelo,  a 200 metros, é que se bebia o cacau quente e se comiam os coscorões, o arroz doce e as filhós de sangue de galinha!...

Só não gostavas era dessa parte do sacristão passar imagem do Menino Jesus ao longo dos bancos corridos e dar a beijar, aos fiéis, o seu pezinho, lambuzado… (Não dizias, mas já então achavas que era uma santa… porcaria!)

Mas nem por isso o Natal deixava de ter magia. Punha-se o sapatinho, limpo, engraxado, na chaminé, para no dia seguinte, de manhã cedo, ir recolher a(s) prenda(s) do Menino Jesus.

E só de manhã, cedo, é que te levantavas, em alvoroço, para saber a prenda que o Menino Jesus te deixara, no sapatinho, na chaminé, por detrás do fogão a petróleo, de marca Hipólito: um lenço, umas peúgas, um chupa-chupa, um brinquedo de chocolate, embrulhado em tosco papel de prata! ... 

O Menino Jesus “que era tão pobre como nós”, dizia a tua catequista, mas a verdade é que ele já tinha uma fábrica de chocolates e de chupa-chupas, além de outra de fazer meias, o que fazia confusão aos putos naquele tempo. Como é que ele podia distribuir tantas guloseimas e tantas outras prendinhas, por tantas chaminés e por tantas ruas da tua aldeia ?

Parca prenda para quem fora todo o ano um menino bem comportado, temente a Deus, cumpridor dos seus deveres, amigo dos seus pais e manas, diligente, obediente e inteligente!...

Os meninos ricos tinham sempre muito mais prendas, mesmo que dessem muitos erros de ortografia e muito menos soubessem, como devia ser, a tabuada e o catecismo.

(...) 20. Havia o ouro, o incenso e a mirra, os três reis magos, mais os seus camelos, e um deles era o “pretinho da Guiné” (. Sabias lá tu onde era a terra dele!...O teu pai dizia que era lá longe, para lá de Cabo Verde… Mas devia ser também longe, da Guiné até Belém. Ainda não havia, naquele tempo, o globo terrestre azul Frost, com luzinha lá dentro para o teu pai apontar com o dedo a minúscula ilha de São Vicente.)

Havia o presépio, havia a água benta. Como tu gostavas de fazer o sinal da cruz na tua testa com a água benta que estava à entrada da igreja, numa pia de pedra cheia de musgo ou verdete, aonde mal chegavas. Havia quem molhasse com ela a ponta da língua: sabia a água choca, e a limo, diziam-te os outros meninos da catequese. Nunca a provaste, como medo de apanhar uma doença. (Mas como é que te podia fazer mal se era água santa ?!, inquietava-te o “caixa d’óculos” que ajudava à missa, alternando contigo, só para pôr à prova a tua fé inabalável.)

Ah!, o incenso, ligeiramente enjoativo das missas, mas pior ainda era o cheiro das velas a arder. E pior ainda a pregação do pregador franciscano que nunca mais acabava, em dia de sermão e missa cantada, e o povo a bocejar de tédio, e a fazer as contas à vida, à décima a pagar nas finanças, e à côngrua para o senhor vigário, e ao sulfato para sulfatar a vinha do Senhor, ao medo que guardava a vinha, e à roupa na barrela que era preciso estender ao sol… Ou a pedir a graça do Santo Antonino para proteger o porquinho. Ou à Nossa Senhora de Fátima para livrar o rapaz que estava lá em casa de, depois das sortes e da tropa, ir parar à India e, mais tarde, a Angola, Guiné ou Moçambique.

E, se calhar, havia também quem tivesse maus pensamentos, como o Frasco do Veneno. Sim, tinha maus pensamentos, confessava-te ele, só não dizia asneiras, dentro da igreja, com medo de ser fulminado por um raio do Espírito Santo, em dia de trovoada, ou por uma língua de fogo ao pôr-do-sol, atravessando uma das janelas com vitrais.

Ah!, e a seca do terço mariano no mês de maio (que te perdoe a Nossa Senhora de Fátima, por invocares o seu nome em vão!, acrescentaria a tua mãe, se te ouvisse)…

Havia, enfim, o sagrado e o pagão, a lavoura, os lavores, masculinos e femininos, o solstício do inverno e o solstício do verão, e tudo a isto, ou só a isto, se resumia o acanhado palco do teatro da vida que te coubera em sorte. Sorte pequena, nunca te calhará a grande. A grande, essa, só poderia ser o céu, no fim da vida, se até então vivesses na graça de Deus, afiançava o padre vigário. E tu acreditavas, porque tinhas fé. E mal de ti quando a perderes, ameaçava-te o confessor. E tu estremecias de terror, só de ouvir as suas maldições.

E era a tua mãe quem, numa velha máquina de costura, Singer, te fazia os lençóis, os lenços, as camisas, os calções e as cuecas e o resto da roupa, incluindo a domingueira, a de ir à missa. A tua e a das tuas manas.

Eram poucos os prazeres da vida. E muitas as canseiras. O teu pai sabias-as de cor, mesmo não sendo lavrador como os seus fregueses ou o ti’Dolfo. Comprava todos os anos o “Borda d’Água” e lá ia soletrando contigo…"Janeiro, gear; Fevereiro, chover; Março, encanar; Abril, espigar; Maio, engrandecer; Junho, aceifar; Julho, debulhar; Agosto, engravelar; Setembro, vindimar; Outubro, revolver; Novembro, semear; Dezembro, nasceu Deus para nos salvar". (...)


Luís Graça 

(Excertos de um manuscrito com memórias poéticas da infância, que este ano pode dar livro...se arranjar editor!)
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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22862: O meu sapatinho de Natal (25): Três Natais passados em Brá, no BENG 447 (1968, 1969 e 1970) (João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais)


Foto nº 2 > Guiné, Bissau, Brá, BENG 447 > Natal de 1969 > Aspeto da assistência



Foto nº 1 >  Guiné, Bissau, Brá, BENG 447 > Natal de 1969 > Preparando o  palco: o João Rodrigues Lobo  é o alf mil da ponta direita


Foto nº 3 >  Guiné, Bissau, Brá, BENG 447 >  Natal de 1969 >  Descansando nas rachas de cibe (que seguiam para os reordenamentos...): o João Rodrigues Lobo é o da pomnta esquerda


Foto nº 4 > Guiné, Bissau, Brá, BENG 447 >  O campo de jogos onde se realizavam as  festas de Natal   


Foto nº 5  > Guiné, Bissau, Brá, BENG 447 >  Aspeto do  campo de jogos onde se realizavam as festas de Natal


Fotos (e legendas): © João Rodrigues Lobo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João Rodrigues Lobo 

[ (i) ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971);

(ii) fez o 1º COM, no último trimestre de 1967, em Angola, na EAMA, Nova Lisboa, Angola, onde viveu na sua juventude;

(iii) natural de Óbidos, vive em Torres Vedras onde trabalhou durante mais de 3 décadas como chefe dos serviços de aprovisionamento do respetivo hospital distrital;

e (iv) é membro nº 841 da Tabanca Grande.]


Data - terça, 21/12, 16:10 (há 10 dias)
Assunto - O Natal na Guiné



 

Boa tarde,

Bem posso dizer Os Natais na Guiné, pois passei lá três: 1968,1969 e 1970.

Para os que estavam no BENG 447 havia um espectáculo, com os "artistas" do Batalhão que nos distraía um pouco para tentarmos não ter saudades dos nossos que estavam longe.

Os artistas eram variados e as actuações também. Como não havia dois "Géneros" os artistas convidados do "género" masculino também interpretavam o "género" feminino.

O palco e as actuações eram no campo de jogos atrás da messe.

Em anexo reenvio a foto de festa de 1969, com assistência de muita "Malta" e também das mulheres de alguns oficiais que os acompanhavam nalguns períodos e residiam em Bissau (Foto nº 1). E também do campo onde as mesmas se realizavam.(Foto nºs 4 e 5). Ajudei a preparar o palco para a festa de Natal de 1969 (Fotos nºs 1 e 3).

De mencionar que em uma das festas, não me recordo em que ano, um rapaz "marado", que tinha acabado de chegar de zona de combate, resolveu detonar uma granada ofensiva no exterior do recinto. Não houve vitimas diretas, além do grande susto. Mas em resultado do pequeno pânico que se gerou e, alguns tentando sair ao mesmo tempo pelas mesmas saídas do recinto, houve umas ligeiras esfoladelas.

Como era Natal tudo acabou em bem.
Bom Natal para todos e suas familias.

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22860: O meu sapatinho de Natal (24): "Uma Santa Bênção" - Mensagem natalícia de João António Bento Soares, Maj-General Ref

Guiné 61/74 - P22860: O meu sapatinho de Natal (24): "Uma Santa Bênção" - Mensagem natalícia de João Afonso Bento Soares, Maj-General Ref

Mensagem de João Afonso Bento Soares, ex-Capitão Eng TRMS, STM/QG/CTIG (1968/70), hoje Maj-Gen Ref:

Caríssimo Luís Graça:
Agradecendo os votos constantes do habitual envio de mails (por parte das lides da Tabanca), quero desejar a todos os tabanqueiros a continuação de um Santo Natal, augurando um Feliz Ano Novo de 2022.

Junto uns dizeres alusivos à quadra que atravessamos:


UMA SANTA BÊNÇÃO

Vivendo o NATAL em alegria
Sentindo, viva em nós, a compaixão
É como ser Natal em qualquer dia
É ver sempre no outro um nosso irmão.

O luzeiro que a todos alumia
Entra na alma, adoça o coração,
Trazendo à vida amor e acalmia
Na vivência da graça e do perdão.

Porque tudo é devido ao Deus-Menino
Lhe vamos confiar nosso destino
Partilhando com Ele a Consoada.

Em redor da Mesa, a Família unida
Se sente deste modo enriquecida
Com a Santa Bênção que, do Alto, é dada.


João Afonso – DEZ2021
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22856: O meu sapatinho de Natal (23): Boas festas para o coletivo da Tabanca Grande, desde as "Arábias"...e ainda em tempo de pandemia de Covid-19: recordando os 50 anos da partida do BART 3873 para o CTIG, em 22/12/1971 (Jorge Araújo)

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22856: O meu sapatinho de Natal (23): Boas festas para o coletivo da Tabanca Grande, desde as "Arábias"...e ainda em tempo de pandemia de Covid-19: recordando os 50 anos da partida do BART 3873 para o CTIG, em 22/12/1971 (Jorge Araújo)

 


Foto 1 > Cais da Rocha > Lisboa > 22 de Dezembro de 1971, 4.ª feira > N/M Niassa zarpando rumo ao cais do Pidjiguiti (Bissau; Guiné) com mais um contingente de cerca de mil e quinhentos jovens milicianos entre os quais os do contingente da CART 3494 do BART 3873. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.




Jorge Araújo: (i) ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); (ii) um homem das Arábias,  doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; (iii) professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; (iv)  vive entre entre Almada e Abu Dhabi; (v) autor, entre outras, da série "(D)o outro lado do combate"; (vii) nosso coeditor, tem 300 referências no nosso blogue.

Voltou às "Arábias" em agosto de 2021, depois de passar uma parte da pandemia na terrinha natal...Está de momento com menos disponibilidade para o nosso blogue devido a afazares acedémicos, mas não se esqueceu de nos mandar, ele e a Maria João, as Boas Festas ao coletivo da Tabanca Grande...

BOAS FESTAS

Ainda em tempo de pandemia “COVID-19”

Recordando a data da partida para o CTIG, em 22dez1971 - uma efeméride com 50 anos (1971/2021) 



► CAMARADAS,

Nesta Quadra Natalícia de 2021, que pelo segundo ano consecutivo continua a ser vivida num contexto atípico devido à pandemia «Covid-19», agora sob o efeito da variante «ómicron», recupero uma outra, que na fita do tempo atingiu meio século, como foi a consoada de 1971, a primeira do contingente da Companhia de Artilharia 3494, comemorada em Alto Mar, ao terceiro dia de uma viagem de seis, a bordo do N/M Niassa, rumo ao Cais do Pidjiguiti, em Bissau.

Com efeito, para recordar essa efeméride com cinquenta anos (1971-2021), recorri a uma imagem que, entre muitas outras já aqui publicadas, acabou por mudar o rumo das nossas vivas, no caso dos milicianos da geração de “50” (1950) que, maioritariamente no ano de 1971, ingressaram nas Forças Armadas do País, ramo Exército, para cumprirem o serviço militar, em defesa da Pátria e do seu Império Colonial, no qual se incluia o conceito de “Missão Ultramarina”, a decorrer num tempo mínimo de vinte e quatro meses.


> A MOBILIZAÇÃO PARA O CTIGUINÉ EM 1971

Mobilizada pelo Regimento de Artilharia Pesada [RAP 2], da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, a Companhia de Artilharia 3494 [CART 3494], a terceira Unidade de Quadrícula do Batalhão de Artilharia 3873 [BART 3873], do TCor António Tiago Martins [1919-1992], embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, a 22 de Dezembro de 1971, 4.ª feira, a bordo do N/M Niassa, rumo ao TO do Comando Territorial Independente da Guiné [CTIG], numa altura em que o conflito armado contabilizava já nove anos.

A sua chegada ao Cais do Pidjiguiti, em Bissau, ocorreu a 29 de Dezembro de 1971.


Foto 2 > Cais do Pidjiguiti > Bissau > 29 de Dezembro de 1971, 4.ª feira > N/M Niassa. Desembarque do contingente metropolitano da foto 1. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.


► Termino esta pequena evocação histórica natalícia, datada de há cinquenta anos, enviando a todos os camaradas tertulianos da nossa TABANCA GRANDE, e aos leitores assíduos do nosso blogue, os meus votos de BOAS FESTAS, ainda que o cenário de pandemia provocada pelo «coronavírus» continue a suscitar muitas preocupações - individuais e colectivas - e daí impor algumas restrições, em particular muita segurança e bom senso… em nome da VIDA.



Foto 3 > Abu Dhabi > Dezembro de 2021 > Interior do Centro Comercial “Galleria Mall” com ornamentações de Natal (com a devida vénia). 


► Desde os Emirados Árabes Unidos, país onde actualmente resido, e que, por coincidência, comemorou também, este mês, uma efeméride com 50 anos (1971-2021), esta respeitante à aprovação da constituição da União dos Sete Emirados [EAU], escrita em 2 de Dezembro de 1971 pelos mandantes de Abu Dhabi e Dubai que, naquela ocasião, eram Emirados independentes, desejo um    



BOM NATAL E UM MELHOR 2022

Muitas Felicidades e muita saúde.



Foto 4 > Abu Dhabi > Dezembro de 2021 > Uma das entradas do Centro Comercial “Galleria Mall” com ornamentações de Natal (com a devida vénia). 

Com um forte abraço de amizade,

Jorge Araújo.

20Dez2021.

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Guiné 61/74 - P22855: O meu sapatinho de Natal (22): "E...o tempo passa!" (José Belo, Key West, Florida, EUA)... Ou o tempo devora-nos, Zé ?! ... Como devorou os castrejos do Zambujal... (Luís Graça)




1. "E...o tempo passa!", diz o José Belo, que nos manda este "cartanito"  com a paisagem 
fantasmagórica fixada pela objetiva de um fotógrafo presumivelmente lá da sua terra de adoção, Lapónia, Suécia... 

Mas ele agora está na terra do Tio Sam, com a família. E não se esqueceu de nós nas suas "orações" natalícias:

"Para todos os Amigos e Camaradas os Votos de um Bom Novo Ano!

Um abraço do J.Belo"....


2. E eu respondi-lhe, em meu nome, mas também da Tabanca Grande:


"Bolas, José!.. Já estamos em 2022!...O tempo devora-nos. Espero que tenhas tido uma festa de Natal "quentinha", rodeado daqueles que amas e que te amam, filhos, netos, amigos... Obrigado pelo teu "cartanito" de Key West...

Depois de um 'annus horribilis' de 2021, recebi uma bela 'prenda de Natal': estou na lista para ser operado, talvez já em janeiro... Com uma prótese no joelho, espero poder livrar-me (?) das 'canadianas' e ter mais autonomia para andar, passear e viajar... Vamos ver. Estou moderadamente otimista. (...)


E acrescentei mais o seguinte:

"Entretanto, há umas semanas atrás. a 3 de dezembro, em visita com uns amigos ao Museu Municipal de Torres Vedras, deparei-mec om uma grande foto do teu avô, Aurélio Ricardo Belo e o merecido (e devido) destaque ao seu papel pioneiro, juntamente com Leonel Trindade, na identificação e primeiras escavações do Castro do Zambujal. É ele que propõe, em 1944, a sua classificação como monumento nacional. Em 1993 foi ele que descobriu o povoado calcolítico do Penedo. Não resisto a enviar-te algumas fotos que fiz, mesmo penosamente, com canadianas...

Vai dando notícias. Tudo de bom para ti e família. Luis

PS - Penso que também já te enviei em tempos esta referência, uma nota biográfica do teu avô, Aurélio Ricardo Belo (Fundão, 1877- Lisboa, 1961)  cuja memória é bem recordada em Torres Vedras, e que tu ainda conheceste na tua adolescência.





Torres Vedras > Museu Municipal Leonel Trindade > 3 de dezembro de 2021 > Exposição em permanência > "Histórias do Zambujal: 50 anos do Instituto Arqeuológico Alemão em Torres Vedras". Foto de L.G. (2021)

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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22850: O meu sapatinho de Natal (21): Merry Christmas! (João Crisóstomo, Nova Iorque)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22850: O meu sapatinho de Natal (21): Merry Christmas! (João Crisóstomo, Nova Iorque)


Nova Iorque, 25 de Dezembro de 2021 > O João e os filhos


Nova Iorque, 25 de dezembro de 2021 > Em primeiro plano, a Vilma, 
os três netos do João e a nora (americana); ao fundo, o João e os filhos


Nova Iorque, 25 de dezembro de 2021 > O João e o neto Caton, 
em primeiro plano (, sendo menor,  escondemos-lhe o rosto,  


Nova Iorque, Queens, 25 de dezembro de 2021 >  O Natal português 
do João Crisóstomo, passado em sua casa, 
com os seus filhos, genro, nora, e os três netos 
e, pela primeira vez, a sua Vilma, eslovena


Fotos (e legenda): © João Crisóstomo (2021) Todos os direitos reservados. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67) (a viver em Nova Iorque desde 1975, depois de ter passado por Inglaterra e Brasil)

Data - domingo, 26/12, 18:57
Assunto - Merry Christmas! 

Caro Luís Graça


Estava para deixar passar este Natal sem grande alvoroço da minha parte. Mas este teu email veio pôr tudo no seu devido lugar!

Fico satisfeito que tenhas achado a carta de Quebá Soncó, enviada da Alemanha, como relevante (*). Uma vez que foi nesse hospital que muitos dos nossos camaradas, vítimas da guerra, receberam membros artificiais. Talvez esta carta sirva como inspiração e ocasião para outros partilharem sua experiência.

E antes que me esqueça: quando estive em tua casa o nosso comum querido camarada e amigo Joaquim Pinto Carvalho deu-me o seu livro "A 'Chama' que nos chamou". Quis depois telefonar -lhe directamente, e pedi-te o número dele; mas não sei porque razão a máquina de respostas diz que não é possível o contacto. Quando puderes liga para ele e diz-lhe o que eu tencionava dizer-lhe : Levou-me tempo a arranjar ocasião para o ler . Mas quando lhe peguei sucedeu-me o que me acontece com livros que apaixonam: li-o da primeira página à última, sem conseguir parar. E sei que mais cedo ou mais tarde vou lê-lo outra vez.

E outros a quem tentei falar também não consegui fazê-lo. E continuo a fazê-lo, quando posso, quer estejam nos USA, Canadá, Holanda ou em qualquer “Cochinchina" mundo fora. Porque sou teimoso, geralmente mais cedo ou mais tarde acabo por chegar. Mas nem sempre. Oxalá de alguma maneira muitos tenham conhecimento do conteúdo deste email.
 
Se não achares inconveniente (sei que há razões hoje em dia que podem tornar coisas bem simples em grandes problemas… e por isso , quem sabe?, pode não ser coisa aconselhável a fazer; mas por mim não vejo inconveniente) podes partilhar o meu e mail e o meu telefone: 

 telefone + 1. 718 899 7776; e email : crisostomo.joao2@gmail.com

E agora ao fim primeiro deste: mas que maravilhoso Natal este  que 
acabou por ser para tantos de nós. Desde dia primeiro de Dezembro eu tenho vindo a seguir no nosso blogue , a série "O nosso sapatinho de Natal” começado por uma “reflexão" do nosso camarada Francisco Baptista (poste P22774): logo seguido por um conto do José Teixeira. 

Reparei que os dois primeiros apareceram como sendo "O nosso sapatinho de Natal" mas com António Martins de Matos, em vez de “O nosso sapatinho” começou a ser "O meu sapatinho de Natal" (poste  P22778). E assim tem sido até hoje, em que apareces tu mesmo, "cantando as janeiras" (poste  no P22841). Mas, “meu sapatinho" ou "nosso sapatinho”..., o importante é que muitos dos nossos camaradas tiveram oportunidade de partilhar no presente, ou num passado mais ou menos distante, as suas experiências e memórias de Natal.

Eu estava a seguir tudo isto, e alegrava-me com o que se passava, mas não me sentia com forças para dar o meu contributo, pois ultimamente as coisas, em vários campos, tinham estado a ser um pouco "menos fáceis" para mim. E, com pena o digo, eu não tenho a mesma coragem que tu tens que consegues "cantar janeiras”,  mesmo no meio da adversidade. Por isso me limitava a fazer alguns telefonemas a alguns camaradas. Mas as coisas mudaram.

Que bom foi receber este teu email, de 25 do corrente, em que dizias: 

"João: estou no Porto, e tenho boas notícias, vou ser operado em janeiro ou por aí (se os exames estiverem todos bem...). Foi a melhor prenda de Natal que recebi, logo no dia 22 (consulta com o meu ortopedista)...

"E tu, antes de ires a 28, para o hospital, lê aqui mais um poste das tuas memórias (**)... Foi bom teres reproduzido a carta do Quebá Soncó, datada de 6/8/1967, temos poucas referências ao Hospital de Hamburgo ...Beijinhos para a Vilma, grande abraço fraterno para ti. Vai correr tudo bem.. Mano Luís"

E mais ainda porque chegou mesmo no dia de Natal! Eu e a Vilma pulamos de contentes: compreendemos bem as tuas palavras: “ Tenho boas notícias, vou ser operado em janeiro ou por aí (se os exames estiverem todos bem...)  Foi a melhor prenda de Natal que recebi”.

 Para nós também foi um belo presente: compreendemos bem ( e sentimos) o que tu e a Alice sentes neste momento. E podes crer que muitos dos que têm seguido as tuas notícias desde que começaste com problemas de locomoção sentem o mesmo! == não foramos nós todos irmãos agora, uma irmandade criada pelas mesmas experiências na Guiné, que tu em tão boa hora decidiste lembrar, fazendo destas passadas experiências um edifício monumental em que todos nos refugiamos e até onde nos foi possível amadurecer ainda melhor, se tal é possível dizer.

No meu caso devo dizer que tenho razões duplas, pois até são semelhantes às tuas!

Como sabes no ano passado quando ainda lutava com uma lombalgia,  tive um ataque de ciática que se prolongou bem mais do que eu esperava. Quando estive aí em Portugal , um primo meu que também havia “feito a Guiné", falou-me dum tal Peixeira ( não Teixeira, como alguns o chamam por engano) que havia sido seu comandante de secção em Tite "que se mantinha ainda em contacto com toda a gente”.

 Curioso e interessado, e logo na mira de o convidar para entrar para a nossa Tabanca, no caso de ele não saber dela, contactei-o. Foi quando partilhávamos as nossas experiências na Guiné, que ele me disse ter sofrido duma lombalgia de que havia sido curado por um fisioterapista. E este era um "doutor ucraniano” já reformado mas que ainda ajudava quem o procurasse , especialmente se tivesse sido recomendado por antigos pacientes. Não só me recomendou, como se fez de guia na primeira vez que lá fui para eu não me perder.

Valeu bem a pena,  pois este não só endireitou a minha coluna com resultados surpreendentes e quase instantâneos, como me elucidou que algumas das dores que eu sentia e que eu atribuía a efeitos colaterais da ciática, eram antes provocadas por uma hérnia ( que eu desconhecia ter) que era coisa a que ele não podia ajudar mas para a qual,  ao voltar a Nova Iorque,  eu tinha de consultar o meu médico.

Assim fiz; mas se já não estava tranquilo por ter descuidado esta hérnia tanto tempo, que me obrigava a uma inação enervante, mais preocupado fiquei. Foi-me dito que só em 2022, na melhor das hipóteses em fins de Janeiro, pois devido à situação criada pela Covid poderia ser mesmo "lá para Março” em que eu poderia ser operado. 

 Valeu-me o que muitos  me creditam como perseverança, e que eu sei bem ser apenas obstinação e teimosia minha; depois de vários telefonemas e de ter sido posto em "listas de espera",   recebi um telefonema de que, devido a um inesperado cancelamento,  a minha cirurgia podia ser ainda este mês, no dia 28. 

 E tudo mudou. Porque não tencionava fazer mais "árvores de Natal” dentro de casa, com intenção de me limitar agora ao simples e mais tradicional presépio, eu tinha-me já desfeito de tudo o que com ela era relacionado e, para grande gáudio e excitação dos miúdos das redondezas, tínhamos feito uma espécie de “garage sale” (feira de garagem, como se diz aí)  oferecendo todos os ornamentos que cada um quis levar.

Quando porém fui informado da boa nova e dela participei aos meus filhos,  eles, em vez de sermos nós a ir a casa de um deles passar o Natal, concordaram em virem os dois (e seus respectivos filhos, meus netos) a virem passar o Natal deste ano a nossa casa. 

Que melhor Natal do que isto?

Foi uma revolução aqui: no mesmo dia fomos comprar uma árvore de Natal (não podia ser muito grande, pois para evitar problemas com os cães que o meu filho pediu para trazer com eles nesse dia , a árvore tinha de ser posta e ficar em lugar elevado)...  E depois foi comprar luzes e ornamentos para substituir aqueles de que nos havíamos desfeito … 

Para que não faltasse música e distrações, fomos comprar um “Alexa” (um sistema simples que permite pedir por voz as canções, músicas e informações que acharmos bem pedir); e logo a seguir eu “actualizava" uma pequena mesa de "pool"  ( bilhar, penso eu que se chama em português) que eu há anos havia feito para o meu netinho mais novo,  mesa que ainda hoje serve de passatempo quando ele vem a minha casa.

E logo a seguir com o meu neto Caton e minha filha Cristina, entusiasta nestas coisas de celebrar tradições portuguesas, deslocámo-nos-nos a Newark para fazer as compras de Natal : bacalhau, chouriço, castanhas, bolos-rei (sete deles pois serviriam de presentes para alguns dos meus vizinhos),  azeitonas e tremoços, broas e azeite português, e os necessários condimentos para fazer o arroz doce e rabanadas… 

Que os meus filhos fizeram questão que fosse um jantar (consoada) português, apesar da mãe duns ser americana e o mesmo se dizer do pai do Caton que nasceu em Cuba mas foi feito americano logo aos dois anos de idade. Uma idéia que a Vilma, apesar de ser eslovena, abraçou com todo o entusiasmo: ao fim e ao cabo nos seus tempos de meninice sob um regime de orientação comunista o Natal não contava nada. 

Mas que gosto era ver a genica dela, preocupando-se talvez mais do que eu que nada faltasse, custasse o que quer que fosse. Eu até estava preocupado pois ela tinha sobrevivido ainda há bem pouco (a segunda vez que isso lhe acontece comigo) a uma forte reaçção à vacina da Covid 19. Em ambos as vezes,  passadas cerca de 24 horas, começou a ter frio e acabou por desfalecer e me cair nos braços com um ataque de “hipotermia”. Chegou para susto. Felizmente que logo que a deitei no chão, e chamava já a ambulância, ela começou a recuperar e a instruir-me para não o fazer, que tal não era preciso.

Imagino pois a alegria da Alice e dos teus ao saberem dessa tua prenda de Natal que recebeste, logo no dia 22!... É com a mesma alegria que te enviamos o nosso grande abraço e nos associamos à Alice e os teus queridos e todos os que se felicitam pela boa notícia.

Aproveito agora este para me associar também a todos os meus/nossos camaradas que duma maneira ou outra estão celebrando esta época festiva. Obrigado aos que já me fizeram chegar os seus bons desejos, que retribuo de coração também.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22845: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XV: Dezembro de 1966: a Op Harpa em que é ferido com gravidade o Quebá Soncó, que depois irá para o hospital de reabilitação de Hamburgo, na Alemanha

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22841: O meu sapatinho de Natal (20): Cantando as janeiras: "Muita saúde nos traga / O ano que aí vem,/ E oxalá que também / Se vá de vez esta praga. / (Luís Graça, Alfragide, Lourinhã, Madalena, Candoz e Funchal...)

 
Madalena, V. N. Gaia > 23 de dezembro de 2021 > As rabanadas da tia Nitas...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Há um stress de Natal. No Norte, diz-se "freima". Há dias estava sentado a tomar um café a observar o "formigueiro humano" a entrar e  a sair de um dos "templos" da "nova religião" que é o consumismo... Tudo em passo apressado, como se participassem numa corrida em contra-relógio. Bolas, o Natal era só no dia 24/25 de dezembro, e a gente ainda estava na manhã de 19... 

É verdade que eu próprio ainda fui à FNAC com a minha lista de livros para fazer as últimas compras... Já estavam escolhidos, ao menos... Era só pegar, pagar e andar, embora de canadianas... Pela primeira vez na vida, senti-me discriminado pela positiva... Encaminharam-me logo (, um simpático e despachado funcionário com ar de gerente da loja)  para o guichê dos pagamentos, passando um bicha que dava duas voltas... Não dá grande jeito andar de canadianas nos centros comerciais na quadra natalícia, com cesto de livros, e muito menos é aconselhável.

Já fiz o meu Natalito, em 19 passado, em Alfragide, com o número máximo, recomendável, de pessoas à mesa para o tamanho da sala e da mesa: oito com a netinha, que tem dois anos e um mês... E tudo autotestado... Das cinco da tarde até às nove da noite de domingo, que o dia seguinte era de trabalho...

O Natal em stress é na cidade grande... Não havia nada disso na vilória onde eu nasci há mais de 7 décadas. Ainda o Pai Natal  não existia, pelo menos o Pai Natal da Televisão e dos centros comerciais. Não havia televisão, nem eletricidade nem centros comerciais. Muito menos corrida às compras, com medo que o mundo acabasse, o bacalhau desaparecesse, e as estantes do hipermercado ficassem vazias...

Mas nem por isso o Natal deixava de ter magia. Punha-se o sapatinho, limpo, engraxado,  na chaminé, para no dia seguinte, de manhã cedo, ir recolher a(s) prenda(s) do Menino Jesus... Que era tão pobre como nós, diziam  as nossas mães, mas a verdade é que ele já tinha uma fábrica de chocolates e de chupa-chupas, além de outra de fazer meias, o que fazia confusão aos putos naquele tempo. Como é que ele podia distribuir tantas guloseimas e outras prendinhas ?

Hoje andamos todos a correr, porque os membros das  famílias já se não se podem juntar todos na Consoada: os filhos vão para as sogras... Quem tiver o azar de só ter filhos machos passa o Natal sozinho em casa... E depois temos que viajar para nos reunirmo-nos com a família alargada: há 45 anos que eu passo o Natal no Norte... E o meu filho  vai para a Madeira (via Porto)... Foi hoje.  

São as circunstâncias da vida atual. Não vale a pena chorar no molhado nem fazer comparações. Felizmente, que já não levamos um saco com cem prendas, gastando a guita do 13º mês... Agora no Norte cada um dá só uma prenda: os nomes são tirados à sorte... O A dá ao B, o B dá ao Cê, e por aí fora...Quando entrámos na CCE, em 1986, deslumbrámo-nos e achámos que estávamos ricos... Pobre ilusão!...

O mais importante do Natal, para além do "rancho melhorado", é a partilha de afetos (, e claro também a agradável surpresa das prendinhas,  sobretudo para as crianças...). Para mim, é o estar à mesa e depois à volta da lareira ou do recuperador de calor, beber um copo, repescar memórias, contar histórias, tocar e cantar, sem esquecer as janeiras... 

Não é preciso sair de casa, cantam-se as janeiras, logo na noite da Consoada... É preciso é que haja uma quadra para cada conviva...Faço isso há anos, e gosto de manter a "tradição"...Há sempre uma pontinha de humor, de verve, de ironia, de picardia em cada quadra, e sobretudo muita ternura, amor e amizade. 

Costumo ser eu a encarregar-me das "escritas", que às vezes levam um tarde ou uma manhã inteiras, se não falhar a inspiração. Outros/as tratam dos comes & bebes e de toda a logística natalícia: o bacalhau "lascudo" ou "lascoso" (dois adjetivos que não vêm no dicionário...) "com todos" (e as insubstituíveis "pencas de Candoz", mais os "grelhos"), servindo os generosos restos para fazer a "roupa velha" do dia seguinte, 25... E claro um bom vinho... E há discussões de grande profundidade enológica e organolética sobre se o vinho deve ser um branco ou um tinto... Com o molho em azeite e alho que aqui fazem (, com muito alho!), é difícil (se não inpossível) ao palato mais exigente saborear um bom tinto. Há quem prefira um branco com mais corpo e alma...

Nas nossas idades, o Natal (e em especial este Natal de 2021) tem restrições, contratempos, alegrias, tristezas, dúvidas, perplexidades: nos casais, nem todos estão bem de saúde, há sempre um mais frágil do que o outro, com uma doença, em geral, crónica, de evolução prolongada, degenerativa ou não... Ou acamado.. Ou já instucionalziado (nos cuidados continuados, no lar de idosos...). Há quem já esteja viúvo. Ou separadado. Ou divorciado, vivendo só...  

Enfim, há quem esteja só. Há quem esteja longe, ou com os filhos longe, no estrangeiro...E depois é o segundo Natal que passamos na pandemia provocada pela SARS-CoV2. Vai fazer oficialmemnte dois anos em meados de março de 2022. Equivalente a uma comissão na Guiné. 

Foi duro para todos nós, os meses e meses de confinamento e de restrições, e pior ainda para quem apanhou a Covid-19... Houve amigos e camaradas nossos que morreram. A mortalidade vai já em cerca de 5,4 milhões em todo o mundo, e o nº de casos de infetados está acaminho dos 280 milhões (em Portugal, 18,4 mil  mortos e 1,25 milhões de casos;  no nosso caso, quase o dobro dos mortos na guerra colonial, 10 mil em 13 anos.)

Dito isto (e o preâmbulo já vai extenso demais, para esta noite tão especial), só posso desejar aqui o melhor Natal possível a todos os amigos e camaradas que pertencem à nossa Tabanca Grande e a todos os que nos leem. E que são muitos: este ano, e até ao dia de hoje,  já tivemos mais de 900 mil visualizações de páginas, e publicámos 1115 postes....

E quero deixar aqui, no sapatinho de Natal, a minha prendinha, um excerto dos versinhos das "janeiras"... Descontando as particularidades do meu contexto familiar, pode ser que o exemplo inspire alguém que queira também fazer ainda umas quadras para ler na Noite da Consoada, que costuma ser longa e cheia de emoções...

Como é sabuido, as quadras populares são constituídas por quatro estrofes (linhas), cada uma com versos de sete sílabas poéticas,  e uma esquema de rimas tipo ABAB ou ABBA: o 1º verso rima com o 3º e o 2º com o 4º (ABAB) ou então o 1º rima com o 4º e o 2º com o 3º (ABBA)...

Este ano os versinhos sairam todos com o esquema ABBA. O meu robô é quem manda... Segue uma amostra das cerca de meia centena de quadras que fiz este ano, para duas ocasiões (o Natalito de Alfragide, em 19; e a "Consoada dos Primos", Madalena, V. N. Gaia, ontem,  23; amanhã fazemos, além da tradicional "roupa velha",  o peru à moda da "chef" Alice, só pernas, assadas no forno, e bem regadas com o bagaço do alambique: os "primos" ficaram fãs, desde há muito, deste prato do Sul).

Chicorações, para todos/as. Luís (e Alice)


As janeiras de Alfragide e da Madalena


"Não ao stress de Natal,
Não ao passo apressado,
Se não, fico bem tramado
E não chego ao Funchal.”

“Vou ao Porto consoar,
Com o bacalhau e os mimos
De tantos tios e primos,
É o meu Natal a dobrar.”

 Vem reclamar a Clarinha,
Do bacalhau lascudo,
“O papá já comeu tudo,
‘Inda come mais um nadinha”.

A carne de vinha d’alhos
É a receita da Madeira,
Diz a nossa cozinheira:
“Tudo tem os seus trabalhos”.

Mais o famoso bolo preto,
Para honrar a tradição,
Faço das tripas coração,
Já não sei onde tanto meto.

Eu, por mim, é penca ou troncha,
Cada terra com seu uso,
“Mas, se não for muito abuso,
Eu cá preferia a poncha.”

É o Stephen que assim fala,
Tem costela d’ irlandês,
… “No resto, sou português,
E gosto bué desta chavala”!

No Brasil com pai e mãe,
Não tem que ser convidada,
E à mesa já esta sentada
À nossa Urchi, também.

Anda sempre numa fona,
A correr para as filmagens,
Mas queixa-se das sacanagens
E do tempo não é dona.

Muito sofre p’los seus canitos,
E um deles se chama Alfredo,
Se ela tarda, têm medo,
Ficam logo muito aflitos""

(...) “O meu avô, esse, coitado,
Já não pode com as muletas,
Por estar farto de tantas tretas,
Queria ser operado.”

(...) “Não gosto da brincadeira,
Não quero apanhar a peste,
Tenho que fazer o autoteste,
Antes de embarcar p’ra Madeira.”

“E o avô prometeu-me um conto,
Daqueles ‘Era uma vez…’,
Estou p’ra ver se no fim do mês,
Esse tal conto está pronto.”

 (...) “Parabéns, querida avó Chita,
Tenho muito que a aprender,
Contigo, a ver e a fazer,
Na cozinha és perita.”

“Obrigadinha p’las prendas,´
Os casaquinhos de lã,
‘Made in’ Lourinhã,
E outras coisas estupendas.”

Está na hora de ir dormir,
Já chega de lengalenga,
Diz a avó: “Se não, fico trenga,
Tenho mais p’ra onde ir.”

“P’ró Norte toca a marchar
Ajudar a mana Nitas,
Não é co’ as tuas escritas
Que ponho o peru a assar.”

Foi um Natal domingueiro,
Esteve cá a Joaninha,
Muito brincou co’a Clarinha,
E o jantar estava porreiro.

A Catarina ajudou
A fazer a nossa ponte,
C’o Funchal no horizonte,
A festa não acabou.

E imagino a netinha,
No fogo de fim de ano,
A pensar que era engano
O céu com tanta estrelinha.

(...) Muita saúde nos traga
O ano que aí vem,
E oxalá que também
Se vá de vez esta praga.

Foi o segundo Natal
Deste século com pandemia,
Não venha agora a anarquia
P’ra nos agravar o mal.

Cantadas estão as janeiras,
P’ra espantar os nossos males,
Seguem por montes e vales,
Acabam-se as brincadeiras…

(...) “Temos Natal a dobrar,
Com nossos filhos e noras,
Valem ouro estas horas”,
Diz a Nitas, a chorar.

Na Madalena há magia,
Na Consoada dos primos,
Mais que prendas, querem mimos,
E que acabe a pandemia.

(...) Estão bem cheias as baterias,
Que a vida é p’ra se viver,
Mesmo que tenha de ser
Com tristezas e alegrias.

“P’ra a semana se verá,
Quem mandam são as plaquetas,
Já estou farta de tantas tretas,
Mas ainda ando por cá.

“Três anos de tratamento,
Muitas horas no hospital,
Hoje esqueço, é Natal,
É o meu contentamento.

“E p’ró ano com novas pernas
Virá muito mais animado,
O Luís, nosso cunhado,
Com as suas rimas fraternas.”
 
Apontem na vossa agenda,
Que a vinte e cinco é rainha
A mãe da nossa Clarinha,
Com direito a uma prenda.

Faz aninhos no Funchal,
E a festa é a dobrar,
Parabéns lhe vamos dar,
No seu dia de Natal.

Já está longa a versalhada,
Boa noite, chicoração,
Amanhã há avião
E uma nova… Consoada!... (...)

Alfragide, 19, e Madalena, 23/12/2021

Guiné 61/74 - P22839: O meu sapatinho de Natal (19): Em 1971 o MNF (Movimento Nacional Feminino) visitou algumas unidades no Ultramar e ofertou discos musicais pelas tropas (José Câmara, ex-Fur Mil Inf)

1. Mensagem do nosso camarada José Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, BráBachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 23 de Dezembro de 2021:

Mano Carlos, amigos e companheiros,
A nossa história, enquanto combatentes da Guerra do Ultramar, está recheada de peripécias e acontecimentos, um autêntico livro de memórias e recordações, que a neblina da memória não consegue apagar.
Em 1971 o MNF (Movimento Nacional Feminino) visitou algumas unidades no Ultramar e ofertou discos musicais pelas tropas. A minha companhia, na altura em Bissássema, foi uma delas. Porque eu já tinha rumado às tropas africanas não tenho essa relíquia como recordação.
Porque neste mundo há sempre alguém que guarda, após o meu pedido, vários elementos da CCaç 3327 e outros responderam à minha solicitação, fotos das ofertas recebidas. O Furriel Miliciano Enfermeiro da CCaç 3327, o Rui Esteves, foi muito mais longe do que eu esperava e presenteou-me com um bocadinho da história que ficou daquele Natal de 1971.
Que o vosso sapatinho familiar de Natal seja recheado com muita saúde. Haja Festas Felizes e Bons Anos.

Um abraço transatlântico do
José Câmara


Convosco o MNF e o Natal de 1971 (Clicar na hiperligação e levar o cursor para o princípio):
https://www.youtube.com/watch?v=QOp5IgM5r5M&t=1345s

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22837: O meu sapatinho de Natal (18): Boas festas 2022: Patrício Ribeiro (Grupo de Bijagós com as suas tradições, Bubaque); Hélder Valério de Sousa; Tibério Borges

Guiné 61/74 - P22837: O meu sapatinho de Natal (18): Boas festas 2022: Patrício Ribeiro (Grupo de Bijagós com as suas tradições, Bubaque); Hélder Valério de Sousa; Tibério Borges; José Barros Rocha


Grupo de Bijagós, com as suas tradições, na Casa do Ambiente de Bubaque.

Cartão de boas festas enviado em 23/12/2021, 16:45.

Patrício Ribeiro
Impar Lda, Bissau

Há mais de 30 anos na Guiné-Bissau
impar_bissau@hotmail.com
https://www.imparenergia.com/

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Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72:

Meus caros e estimados Amigosbr > Desta vez não vos vou incomodar com as minhas evocações de recordações menos boas.
Escrevo, apenas e só, para formular os desejos de que, na medida do possível, tenham umas "Festas Felizes" e que o Novo Ano, que se avizinha, nos possa trazer a esperança de que se consiga viver estes tempos de vida que nos restam (sim, cada dia que passa estamos mais próximos da "partida") com a alegria dos nossos convívios, pois através deles revivemos e vivemos os tempos de juventude e que ajudaram a cimentar as nossas amizades.
Como uma "família", que também somos, temos os nossos períodos de harmonia, as nossas zangas, tal como nas famílias de sangue, mas temos o dever de valorizar o que é bom e ultrapassar o que pode ser incómodo, sempre, mas sempre, no respeito pelas opiniões e pontos de vista "dos outros".

Assim nos saibamos comportar.
Boas Festas

Abraços
Hélder Sousa


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Mensagem deixada no Formulário de Contacto do Blogger pelo nosso camarada Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726, Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72:

A toda a equipa deste Blogue, votos de Boas Festas de Feliz Natal e para que o ano que se aproxima venha com muita saúde.

Um abraço para todos
Cumprimentos,
Tibério Borges


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Mensagem deixada no Formulário de Contacto do Blogger pelo nosso camarada José Barros Rocha, ex-Alf Mil da CART 2410 - Os Dráculas, Guileje e Gadamael, 1968/70:

Aos Caríssimos Editores do Blogue (Luís Graça, Carlos Vinhal, Magalhães Ribeiro e Jorge Araújo), bem como a todos os Membros da Tabanca GRANDE:
Votos de um Feliz Natal - com muita saúde ! - e que o próximo ano nos permita o Reencontro.

A todos um grande Abraço de camaradagem e Amizade!
Cumprimentos,
José Rocha

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Nota do editor

Último poste da série > 23 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22834: O meu sapatinho de Natal (17): O meu Natal no mato em 1966 (José António Viegas, ex-Fur Mil)

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22834: O meu sapatinho de Natal (17): O meu Natal no mato em 1966 (José António Viegas, ex-Fur Mil)

1. Mensagem do nosso camarada José António Viegas, (ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68), com data de 22 de Dezembro de 2021:

Caro Luís:

Recordando os Natais no mato.

Faz esta noite 55 anos que fomos atacados em Missirá, com grande destruição do destacamento, ainda me lembro dos pessoal de Bambadinca dizer que parecia Roma a arder. Alguns de nós ficaram com a roupa que levaram para o abrigo, o resto ardeu tudo.

Como não chegavam, nem do Enxalé nem de Bambadinca, mantimentos, o meu cabo Ananias disponibilizou-se para tentar caçar alguma peça de caça.

Na véspera de Natal o repasto seria cabrito, que ele confeccionou e muito bem com arroz de chabéu e de sobremesa pudim que tinha escapado, uma lata de pó.
Depois do repasto o Ananias apresentou a cabeça de cabrito que era não só a de macaco cão, tirando o Furriel Costa, que depois de elogiar o repasto, ficou mal disposto, o resto da malta ficou de repetir. Essa caveira guardada como amuleto seguiu-me para todo o lado levando sumiço quando regressei da África do Sul.

Termino desejando um Santo Natal à malta do blogue e que este maldito inimigo termine de vez.

Um abraço
Zé Viegas


Nesta foto o Alferes Marchã do Pel Caç Nat 54 junto ao depósito de géneros destruído
A palhota onde dormiam os três furriéis
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22829: O meu sapatinho de Natal (16): Mensagens natalícias dos nossos camaradas e/ou amigos: Luís Fonseca; José Carlos Mussá Biai, Valdemar Queiros; Coronel Tirocinado Carlos Cação Silva; Associação Afectos com Letras, ONGD; José Teixeira; casal Giselda e Miguel Pessoa; Joaquim Fernandes Alves