segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22850: O meu sapatinho de Natal (21): Merry Christmas! (João Crisóstomo, Nova Iorque)


Nova Iorque, 25 de Dezembro de 2021 > O João e os filhos


Nova Iorque, 25 de dezembro de 2021 > Em primeiro plano, a Vilma, 
os três netos do João e a nora (americana); ao fundo, o João e os filhos


Nova Iorque, 25 de dezembro de 2021 > O João e o neto Caton, 
em primeiro plano (, sendo menor,  escondemos-lhe o rosto,  


Nova Iorque, Queens, 25 de dezembro de 2021 >  O Natal português 
do João Crisóstomo, passado em sua casa, 
com os seus filhos, genro, nora, e os três netos 
e, pela primeira vez, a sua Vilma, eslovena


Fotos (e legenda): © João Crisóstomo (2021) Todos os direitos reservados. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67) (a viver em Nova Iorque desde 1975, depois de ter passado por Inglaterra e Brasil)

Data - domingo, 26/12, 18:57
Assunto - Merry Christmas! 

Caro Luís Graça


Estava para deixar passar este Natal sem grande alvoroço da minha parte. Mas este teu email veio pôr tudo no seu devido lugar!

Fico satisfeito que tenhas achado a carta de Quebá Soncó, enviada da Alemanha, como relevante (*). Uma vez que foi nesse hospital que muitos dos nossos camaradas, vítimas da guerra, receberam membros artificiais. Talvez esta carta sirva como inspiração e ocasião para outros partilharem sua experiência.

E antes que me esqueça: quando estive em tua casa o nosso comum querido camarada e amigo Joaquim Pinto Carvalho deu-me o seu livro "A 'Chama' que nos chamou". Quis depois telefonar -lhe directamente, e pedi-te o número dele; mas não sei porque razão a máquina de respostas diz que não é possível o contacto. Quando puderes liga para ele e diz-lhe o que eu tencionava dizer-lhe : Levou-me tempo a arranjar ocasião para o ler . Mas quando lhe peguei sucedeu-me o que me acontece com livros que apaixonam: li-o da primeira página à última, sem conseguir parar. E sei que mais cedo ou mais tarde vou lê-lo outra vez.

E outros a quem tentei falar também não consegui fazê-lo. E continuo a fazê-lo, quando posso, quer estejam nos USA, Canadá, Holanda ou em qualquer “Cochinchina" mundo fora. Porque sou teimoso, geralmente mais cedo ou mais tarde acabo por chegar. Mas nem sempre. Oxalá de alguma maneira muitos tenham conhecimento do conteúdo deste email.
 
Se não achares inconveniente (sei que há razões hoje em dia que podem tornar coisas bem simples em grandes problemas… e por isso , quem sabe?, pode não ser coisa aconselhável a fazer; mas por mim não vejo inconveniente) podes partilhar o meu e mail e o meu telefone: 

 telefone + 1. 718 899 7776; e email : crisostomo.joao2@gmail.com

E agora ao fim primeiro deste: mas que maravilhoso Natal este  que 
acabou por ser para tantos de nós. Desde dia primeiro de Dezembro eu tenho vindo a seguir no nosso blogue , a série "O nosso sapatinho de Natal” começado por uma “reflexão" do nosso camarada Francisco Baptista (poste P22774): logo seguido por um conto do José Teixeira. 

Reparei que os dois primeiros apareceram como sendo "O nosso sapatinho de Natal" mas com António Martins de Matos, em vez de “O nosso sapatinho” começou a ser "O meu sapatinho de Natal" (poste  P22778). E assim tem sido até hoje, em que apareces tu mesmo, "cantando as janeiras" (poste  no P22841). Mas, “meu sapatinho" ou "nosso sapatinho”..., o importante é que muitos dos nossos camaradas tiveram oportunidade de partilhar no presente, ou num passado mais ou menos distante, as suas experiências e memórias de Natal.

Eu estava a seguir tudo isto, e alegrava-me com o que se passava, mas não me sentia com forças para dar o meu contributo, pois ultimamente as coisas, em vários campos, tinham estado a ser um pouco "menos fáceis" para mim. E, com pena o digo, eu não tenho a mesma coragem que tu tens que consegues "cantar janeiras”,  mesmo no meio da adversidade. Por isso me limitava a fazer alguns telefonemas a alguns camaradas. Mas as coisas mudaram.

Que bom foi receber este teu email, de 25 do corrente, em que dizias: 

"João: estou no Porto, e tenho boas notícias, vou ser operado em janeiro ou por aí (se os exames estiverem todos bem...). Foi a melhor prenda de Natal que recebi, logo no dia 22 (consulta com o meu ortopedista)...

"E tu, antes de ires a 28, para o hospital, lê aqui mais um poste das tuas memórias (**)... Foi bom teres reproduzido a carta do Quebá Soncó, datada de 6/8/1967, temos poucas referências ao Hospital de Hamburgo ...Beijinhos para a Vilma, grande abraço fraterno para ti. Vai correr tudo bem.. Mano Luís"

E mais ainda porque chegou mesmo no dia de Natal! Eu e a Vilma pulamos de contentes: compreendemos bem as tuas palavras: “ Tenho boas notícias, vou ser operado em janeiro ou por aí (se os exames estiverem todos bem...)  Foi a melhor prenda de Natal que recebi”.

 Para nós também foi um belo presente: compreendemos bem ( e sentimos) o que tu e a Alice sentes neste momento. E podes crer que muitos dos que têm seguido as tuas notícias desde que começaste com problemas de locomoção sentem o mesmo! == não foramos nós todos irmãos agora, uma irmandade criada pelas mesmas experiências na Guiné, que tu em tão boa hora decidiste lembrar, fazendo destas passadas experiências um edifício monumental em que todos nos refugiamos e até onde nos foi possível amadurecer ainda melhor, se tal é possível dizer.

No meu caso devo dizer que tenho razões duplas, pois até são semelhantes às tuas!

Como sabes no ano passado quando ainda lutava com uma lombalgia,  tive um ataque de ciática que se prolongou bem mais do que eu esperava. Quando estive aí em Portugal , um primo meu que também havia “feito a Guiné", falou-me dum tal Peixeira ( não Teixeira, como alguns o chamam por engano) que havia sido seu comandante de secção em Tite "que se mantinha ainda em contacto com toda a gente”.

 Curioso e interessado, e logo na mira de o convidar para entrar para a nossa Tabanca, no caso de ele não saber dela, contactei-o. Foi quando partilhávamos as nossas experiências na Guiné, que ele me disse ter sofrido duma lombalgia de que havia sido curado por um fisioterapista. E este era um "doutor ucraniano” já reformado mas que ainda ajudava quem o procurasse , especialmente se tivesse sido recomendado por antigos pacientes. Não só me recomendou, como se fez de guia na primeira vez que lá fui para eu não me perder.

Valeu bem a pena,  pois este não só endireitou a minha coluna com resultados surpreendentes e quase instantâneos, como me elucidou que algumas das dores que eu sentia e que eu atribuía a efeitos colaterais da ciática, eram antes provocadas por uma hérnia ( que eu desconhecia ter) que era coisa a que ele não podia ajudar mas para a qual,  ao voltar a Nova Iorque,  eu tinha de consultar o meu médico.

Assim fiz; mas se já não estava tranquilo por ter descuidado esta hérnia tanto tempo, que me obrigava a uma inação enervante, mais preocupado fiquei. Foi-me dito que só em 2022, na melhor das hipóteses em fins de Janeiro, pois devido à situação criada pela Covid poderia ser mesmo "lá para Março” em que eu poderia ser operado. 

 Valeu-me o que muitos  me creditam como perseverança, e que eu sei bem ser apenas obstinação e teimosia minha; depois de vários telefonemas e de ter sido posto em "listas de espera",   recebi um telefonema de que, devido a um inesperado cancelamento,  a minha cirurgia podia ser ainda este mês, no dia 28. 

 E tudo mudou. Porque não tencionava fazer mais "árvores de Natal” dentro de casa, com intenção de me limitar agora ao simples e mais tradicional presépio, eu tinha-me já desfeito de tudo o que com ela era relacionado e, para grande gáudio e excitação dos miúdos das redondezas, tínhamos feito uma espécie de “garage sale” (feira de garagem, como se diz aí)  oferecendo todos os ornamentos que cada um quis levar.

Quando porém fui informado da boa nova e dela participei aos meus filhos,  eles, em vez de sermos nós a ir a casa de um deles passar o Natal, concordaram em virem os dois (e seus respectivos filhos, meus netos) a virem passar o Natal deste ano a nossa casa. 

Que melhor Natal do que isto?

Foi uma revolução aqui: no mesmo dia fomos comprar uma árvore de Natal (não podia ser muito grande, pois para evitar problemas com os cães que o meu filho pediu para trazer com eles nesse dia , a árvore tinha de ser posta e ficar em lugar elevado)...  E depois foi comprar luzes e ornamentos para substituir aqueles de que nos havíamos desfeito … 

Para que não faltasse música e distrações, fomos comprar um “Alexa” (um sistema simples que permite pedir por voz as canções, músicas e informações que acharmos bem pedir); e logo a seguir eu “actualizava" uma pequena mesa de "pool"  ( bilhar, penso eu que se chama em português) que eu há anos havia feito para o meu netinho mais novo,  mesa que ainda hoje serve de passatempo quando ele vem a minha casa.

E logo a seguir com o meu neto Caton e minha filha Cristina, entusiasta nestas coisas de celebrar tradições portuguesas, deslocámo-nos-nos a Newark para fazer as compras de Natal : bacalhau, chouriço, castanhas, bolos-rei (sete deles pois serviriam de presentes para alguns dos meus vizinhos),  azeitonas e tremoços, broas e azeite português, e os necessários condimentos para fazer o arroz doce e rabanadas… 

Que os meus filhos fizeram questão que fosse um jantar (consoada) português, apesar da mãe duns ser americana e o mesmo se dizer do pai do Caton que nasceu em Cuba mas foi feito americano logo aos dois anos de idade. Uma idéia que a Vilma, apesar de ser eslovena, abraçou com todo o entusiasmo: ao fim e ao cabo nos seus tempos de meninice sob um regime de orientação comunista o Natal não contava nada. 

Mas que gosto era ver a genica dela, preocupando-se talvez mais do que eu que nada faltasse, custasse o que quer que fosse. Eu até estava preocupado pois ela tinha sobrevivido ainda há bem pouco (a segunda vez que isso lhe acontece comigo) a uma forte reaçção à vacina da Covid 19. Em ambos as vezes,  passadas cerca de 24 horas, começou a ter frio e acabou por desfalecer e me cair nos braços com um ataque de “hipotermia”. Chegou para susto. Felizmente que logo que a deitei no chão, e chamava já a ambulância, ela começou a recuperar e a instruir-me para não o fazer, que tal não era preciso.

Imagino pois a alegria da Alice e dos teus ao saberem dessa tua prenda de Natal que recebeste, logo no dia 22!... É com a mesma alegria que te enviamos o nosso grande abraço e nos associamos à Alice e os teus queridos e todos os que se felicitam pela boa notícia.

Aproveito agora este para me associar também a todos os meus/nossos camaradas que duma maneira ou outra estão celebrando esta época festiva. Obrigado aos que já me fizeram chegar os seus bons desejos, que retribuo de coração também.

__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22845: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XV: Dezembro de 1966: a Op Harpa em que é ferido com gravidade o Quebá Soncó, que depois irá para o hospital de reabilitação de Hamburgo, na Alemanha

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Amigos e camaradas:

Vejam a alegria deste homem!... E a sua preocupação com os outros!... Não é apenas um bom cristão, é também um bom homem, um grande amigo e camarada.

Obrigado, mano, pelas tuas palavras calorosas. Fico feliz pro saber que ao fim destes anos todos fizeste o Natalinho na tua casa. Foram porreiros os teus filhos, a tua nora, o teu genro. E bom sentir a alegria Vilma, partilhando também ela o vosso Natal português e cristão. O Natal não tem dono. O que importa é a sua mensagem universal e ecuménica.

Amanhã vai correr tudo bem. E ficas como "novo". Rezo por ti e as tuas melhoras. Cuida-te da COVID-19 que ainda não foi vencida...Chicorações para ti e Vilma. Luis (e Alice).

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, em relação à troca do título da série "O meu sapatinho de Natal"... Tens razão, houve alguma "confusão" no princípio, entre o "meu" e o "nosso"... Jà foram devidamente corrigidos os primeiros postes...

Em 2011 também houve uma série com um título similar, mas tinha um subtítulo: "O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho..."

Sabes como é, os editores trabalham "a quente", são "febris", ou demasiado "criativos"... Nem sempre a memória (mais curta) acompanha a imaginação (febril)...Eu já nem me lembrava desta série... de que se publicou o último poste em 1 de janeiro de 2012.

1 DE JANEIRO DE 2012
Guiné 63/74 - P9299: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (13): Mensagens dos nossos camaradas José Manuel Cancela, António Teixeira, Francisco Palma, Carlos Rios, Manuel Reis, Fernando Barata, Manuel Sousa e Manuel Joaquim

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/01/guine-6374-p9299-o-nosso-sapatinho-de.html

Anónimo disse...

Meu caro mano Luís Graça,
Se puderes podes corrigir o meu E Mail no post? Escrevi e saiu gamil. em vez de gmail….<< crisostomo.joao2@gamil.com>> e deve ser <>.

Quanto ao teu generoso comentário: é um caso evidente de ver o mundo que nos rodeia conforme a cor dos óculos que temos na cara… Quem me dera ser assim e ver sempre nos outros os lados positivos… Não me admira em ti que "cantas as janeiras” no meio da adversidade...
João