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sábado, 30 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23213: Os nossos seres, saberes e lazeres (502): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (48): A surpresa de uma pérola tropical ali ao pé do Palácio de Belém (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Janeiro de 2022:

Queridos amigos,
O património botânico, paisagístico e cultural de Lisboa é impressionante, logo pelos seus quatro jardins botânicos, os jardins, que vão da Alameda D. Afonso Henriques aos do Palácio Pimenta, sito no Museu da Cidade, temos as praças ajardinadas e floridas que podemos encontrar desde o Jardim Alfredo Keil, ali para a Praça da Alegria, ao Jardim da Praça do Império; e pode haver arvoredo e ajardinamentos nos miradouros, caso do Jardim do Torel ou Miradouro do Alto de Santa Catarina, e há a extensão dos parques, desde o Vale do Silêncio a Monsanto; e também não faltam quintas de recreio como a Tapada das Necessidades ou a Quinta das Conchas e dos Lílases. Fez-se uma visita breve ao Jardim Botânico Tropical que partilha uma centralidade que inclui outros importantes espaços culturais da capital, tais como a Praça do Império, o Museu Nacional dos Coches, o Centro Cultural de Belém, o Museu da Marinha, o Museu Nacional de Arqueologia, o Planetário Calouste Gulbenkian e a Igreja da Memória. Já teve como função principal o estudo e o cultivo de plantas, quer as oriundas das antigas colónias portuguesas, quer as que se destinavam ao desenvolvimento agrícola daqueles territórios. Hoje, é um lugar de desfrute, mas não se deixa de questionar se não devia ser um lugar privilegiado para a cooperação científica com essas mesmas antigas colónias portuguesas.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (48):
A surpresa de uma pérola tropical ali ao pé do Palácio de Belém

Mário Beja Santos

Recorde-se de que estamos em pleno Jardim Botânico Tropical, já foi Jardim Colonial e não se pode perder a referência de Jardim-Museu Agrícola Tropical. Entra-se e tem se uma alameda principal ladeada por grandes palmeiras. Para quem entra desprevenido, é um percurso aberto à surpresa: um lago com uma ilha, há canais de água, árvores de todos os continentes, um jardim de buxo e até um jardim oriental. O imaginário até fervilha, a atmosfera é particular, dá para contemplar, é permanente o jogo de luz e sombras. Já se contou aqui a sua história, que foi criado em 1906, esteve destinado ao ensino agronómico colonial tem passado por várias tutelas, presentemente está ligado ao Museu Nacional de História Natural e da Ciência. Faz parte dos Jardins Botânicos existentes em Lisboa, temos o da Ajuda, o vizinho do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, portanto na antiga Escola Politécnica, este Jardim Botânico Tropical e o Parque Botânico da Tapada da Ajuda, que já foi Tapada Real de Alcântara. O visitante tem aqui ao seu dispor centenas de espécies de plantas em jardim e nas estufas, a maioria de origem tropical e subtropical. É uma autêntica curiosidade não perder, o Jardim Oriental, que se assinala por o seu portal na entrada em forma de arco (réplica da entrada do pagode mais antigo de Macau, foi construída para ocasião da Exposição do Mundo Português). O cimo de todo este cenário botânico é enquadrado pela fachada do Palácio dos Condes da Calheta (séculos XVII e XVIII) e pelo seu geométrico jardim de buxo. Havia todos os sinais de obras de requalificação, não se podia entrar nesta área. Estamos agora na Rua das Palmeiras.
Estamos a ver palmeiras da Califórnia e palmeiras do México, e vamos observando de um lado e de outro o ginkgo, o pinheiro do Chile, já perto do lago, depois de passarmos pinheiros e cedros, temos a cica, originária do sul do Japão
No interior do parque há umas construções que logo nos prendem a atenção, sobretudo pela azulejaria, é claro que viemos à procura de figueiras tropicais, sicómoros, mas fomos visitar por fora um parque ajardinado, deve haver falta de dinheiro para pôr tudo isto em ordem e assegurar ao visitante o desfrute de tão belos azulejos. Ora vejam.
Um belo relevo escultórico a pedir uma urgente intervenção.
Um outro ângulo do jardim que revela a sua imensa beleza e também a necessidade de proceder a restauros.
A magnificência dos catos do Jardim Botânico Tropical.
Outro edifício a pedir intervenção.

O Jardim Oriental recria o ambiente dos jardins orientais, nele vamos encontrar o hibisco-chinês, o bambu. Data de 1949 a construção deste jardim, que se assinala com o Arco de Macau. Ocupa uma área de meio hectare, proporciona um local onde se realçam símbolos da cultura chinesa. Também tem a sua atmosfera especial, encontram-se desníveis e trilhos sinuosos, pontes curvilíneas e pequenos cursos de água. No final do século XX, quando se encerrou a Exposição Internacional de Lisboa de 1998, algumas das estruturas que pertenciam ao Pavilhão de Portugal foram aqui colocadas, como o pedestal e busto de Luís de Camões, posteriormente completado com uma réplica da Gruta dos Amores, o Pavilhão de Jardim e a vedação em ferro forjado a ladear o lago. Recorde-se que para a Exposição do Mundo Português, e além do já mencionado Arco de Macau, foram edificadas construções, umas provisórias e já demolidas e outras que ainda permanecem no Jardim, há que ser franco, carecem algumas delas de uma rápida intervenção, aqui se mostram imagens comprovativas.
O Arco de Macau

Há diversa estatuária distribuída pelo Jardim, de artistas como Giuseppe Mazzuoli, Ludovici e saída da oficina de Machado Castro, isto para já não falar dos 14 bustos que representam povos das antigas colónias portuguesas em África e na Ásia, todos eles da autoria de Manuel de Oliveira.
E aqui se dá por finda a visita a esta pérola tropical que integra uma importante coleção de plantas do maior interesse económico. O Jardim Botânico Tropical foi classificado em 2007 como Monumento Nacional. Em 2019 o Jardim foi alvo de um importante projeto de requalificação pelo atelier de arquitetura paisagista TOPIARIS.

Pormenor do Palácio dos Condes da Calheta, tendo à frente o Jardim do Buxo

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23191: Os nossos seres, saberes e lazeres (502): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (47): De Jardim Colonial a Jardim Botânico Tropical (Mário Beja Santos)

sábado, 23 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23191: Os nossos seres, saberes e lazeres (502): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (47): De Jardim Colonial a Jardim Botânico Tropical (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Janeiro de 2022:

Queridos amigos,
Nesta cerca do Palácio de Belém houve zona de caça, herbário real suburbano, Jardim Colonial multifuncional, lugar de mostra da Exposição do Mundo Português, foi uma das mais importantes zonas de estudo das plantas do Império, nestes hectares podem ser vistas espécies tropicais e exóticas das mais fascinantes. Recordo que em 1976 a Fundação Gulbenkian promoveu um colóquio que teve à frente Teixeira da Mota e Orlando Ribeiro com a finalidade de no pós-Império todo este imenso acervo científico ser posto à disposição da cooperação com os novos Estados independentes. Bem curioso seria fazer-se hoje o ponto da situação desta nova passada riqueza de alta perícia tropical estar, ou não, ao serviço da cooperação portuguesa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (47):
De Jardim Colonial a Jardim Botânico Tropical

Mário Beja Santos

O segundo volume do Guia de Portugal Artístico, dedicado aos jardins, parques e tapadas de Lisboa, coordenado por Robélia de Sousa Lobo Ramalho, da Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1935, é uma verdade preciosidade de quem hoje pretende estudar e até comparar o que efetivamente existe e o passado com o Jardim Botânico da Ajuda, o antigo Jardim Botânico da Faculdade de Ciências (de quem há já uma itinerância), o Jardim Guerra Junqueiro (atual Jardim da Estrela), o Jardim da Praça Rio de Janeiro (atual Jardim do Príncipe Real), uma série de pequenos jardins, caso do Jardim Alfredo Keil, na Praça da Alegria, o Jardim das Amoreiras, o Jardim Braamcamp Freire, no Campo dos Mártires da Pátria, o Jardim Cesário Verde, o Parque do Campo Grande, o Parque Eduardo VII, o Parque Silva Porto, a Tapada da Ajuda (de quem já se fez também uma itinerância), a Tapada das Necessidades (outra itinerância efetuada) e dá-se o devido relevo ao que então se denominava Jardim Colonial. Oiça-se a descrição: “Ocupando a maior parte da antiga Cerca do Palácio de Belém e situado entre o majestoso Templo dos Jerónimos e o Museu Nacional dos Coches, tem o Jardim Colonial a sua principal entrada ao fundo da Calçada do Galvão. Criado em 1906, como dependência do antigo Instituto de Agronomia e Veterinária, instalou-se, no ano seguinte, no Jardim Zoológico, onde passou ocupar as antigas estufas do Conde de Farrobo. Em 1912 resolveu o governo transferi-lo para a Cerca do Palácio de Belém que nessa altura se encontrava devoluta e semiabandonada”. Nascia assim o Jardim Colonial, com objetivos multifuncionais: demonstrações experimentais do ensino, há reprodução, multiplicação, seleção e cruzamento de plantas úteis a fornecer às colónias, ao estudo de culturas e doenças dos vegetais tropicais e ao tirocínio dos funcionários agronómicos que desejem servir o ultramar; fornecer plantas e sementes às colónias portuguesas e promover a introdução de novas culturas nas referidas colónias.

Um antigo ministro da agricultura e prestigiado professor catedrático de agronomia, Mário de Azevedo Gomes, escrevia numa revista em 1928, a propósito deste jardim que é hoje monumento nacional: “A sua curta vida tem sido agitada; uma crise de pobre e má vontade orçamental por pouco lhe não liquidava, há tempos, custosas coleções e plantas raras; hoje, porém, e depois que as colónias interessam pelo custeio das despesas, convencidos da utilidade da instituição, os ventos sopram fagueiros e aqueles que visitam o Jardim, mesmo os mais exigentes, encontrarão nele motivos de íntima satisfação ao verificar a obra feita”.

A visita foi efetuada em época natalícia, havia no interior do Jardim Botânico Tropical um espetáculo dedicado a Alice no País das Maravilhas, razão pela qual o leitor encontrará imagens que induzem uma viagem de som e luz com as figuras prodigiosas imaginadas por Lewis Carroll.


Acompanhou a criação do Jardim Colonial um conjunto de estufas, prendia-se com as variedades de café e até o ananás açoriano. Este conjunto de hectares que constituem um dos mais fabulosos herbários tropicais em Portugal tem uma história anterior ao século XX. Aqui houve um hospício de frades arrábidos, depois D. João V criou a Casa e Quinta do Pátio das Vacas, era um horto real suburbano. Arrasado o Palácio dos Duques de Aveiro e salgado o chão, foi a cerca ampliada com os terraços do Jardim de Aveiro. O Infante D. Fernando, irmão de D. João V aqui andou a correr corças entre ulmeiros, loureiros, choupos e olaias. Na década de 1940, o Jardim acolheu motivos coloniais graças à Exposição do Mundo Português, de que resta hoje um espaço em forma de estufa e um apreciável conjunto de esculturas de etnias do Império Português, entre África e Ásia, uma série delas já recuperadas.
Na parte rústica do Jardim o visitante pode contemplar estatuas de fino mármore de Carrara, reproduções de modelos clássicos de museus italianos, a última imagem que aqui se mostra intitula-se a Caridade Romana, simbolizada numa rapariga amamentado o seu próprio pai, é de Bernardo Ludovici. Durante uma parte da vida do Jardim Colonial, ele funcionou como dependência pedagógica do Instituto Superior de Agronomia. O Jardim teve sempre a sua vida ligada a passantes que ali procuraram sombras nas tardes amenas, dilui-se, é certo, o ar balsâmico dos cervos, dos eucaliptos e das casuarinas, e lê-se no Guia de Portugal Artístico que naquela época dos anos de 1930 ali apareciam alguns oficiais do ultramar reformados, o Jardim mitigava-lhes as saudades nostálgicas dos meios coloniais. Mas não há dúvida nenhuma, depois das alterações institucionais mais recentes, o Jardim mantém-se como local de aprazimento, de remanso, palmeiras e araucárias, buxos e cortinas flores são elementos de sedução que o ajardinamento oferece aos visitantes.
Amostra do conjunto de bustos alusivos aos povos coloniais

Até 1944, o Jardim Colonial exerceu as funções que acima se refiram, incluindo o suporte pedagógico ao Instituto Superior de Agronomia. Nessa data o Jardim Colonial fundiu-se com o Museu Agrícola Colonial e deu origem ao Jardim e Museu Agrícola Colonial, deixou de estar da dependência pedagógica do Instituto Superior de Agronomia. Anos depois, em 1951, a nomenclatura evoluiu para Jardim e Museu Agrícola do Ultramar e com o 25 de Abril o Museu com a Junta de Investigações do Ultramar passou a designar-se Instituto de Investigação Científica Tropical, com sede no Palácio Calheta, que ainda está em restauro. Mas vamos prosseguir viagem.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23174: Os nossos seres, saberes e lazeres (501): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (46): Trancoso é muito mais do que o seu núcleo histórico (Mário Beja Santos)

sábado, 14 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22456: Os nossos seres, saberes e lazeres (464): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (11) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Julho de 2021:

Queridos amigos,
Havendo aqui tantos tesouros botânicos, belíssimos recantos, alguns deles de atmosfera tropical, dragoeiros majestosos, fósseis, troncos ressequidos que podem ser percepcionados como esculturas contemporâneas, palmeiras e afins por todos os lugares do jardim, não resisti a esticar a visita ao Jardim Botânico de Lisboa em dois momentos, talvez para estimular os indecisos a não esperar mais para usufruir de tão espetacular visita. Grandioso e sereno, jardim cheio de pergaminhos, que começam com o Colégio dos Jesuítas na Cotovia, no século XVII, espaço de importância indeclinável a partir do momento em que o ensino liberal quis cuidar de fazer convergir para Lisboa espécies de todo o mundo, e todos os elogios se devem tecer em quem organizou como espaço cénico os patamares, os lagos românticos, havendo sempre aquela envolvente dos edifícios da Rua da Escola Politécnica, o Observatório Astronómico, as construções que aguardam restauro, aquele portão fechado que noutros tempos permitia subir da Avenida da Liberdade até ao Jardim, e não foi por acaso que começamos esta última itinerância que a pandemia fadou por um banco de jardim onde dá para contemplar o que de sereno apetece sentir face à monumentalidade arbórea, concebida como instituição científica e ponto alto de fruição que a Natureza dá. Há visitas guiadas e visitas grátis aos domingos de manhã. Para quem ainda conserva a energia do caminheiro, é possível acoplar no bilhete a visita ao Jardim Botânico e ao Museu de História Natural e da Ciência, tudo somado excede os 20 valores.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (11)

Mário Beja Santos

O que chamamos hoje Jardim Botânico de Lisboa foi no passado recente Jardim Botânico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Recorde-se que um incêndio devastador incinerou uma parte importantíssima da faculdade e do Museu, a Faculdade mudou-se para o Campo Grande, deu-se uma centralização de patrimónios, incluindo os laboratórios e as salas de aula da Faculdade de Ciências oriundas do século XIX. Recomenda-se vivamente que esta visita inclua o Museu de História Natural e da Ciência e o Jardim Botânico de Lisboa.

Qualquer adjetivo que se use para empolgar a riqueza patrimonial do Jardim Botânico fica sempre aquém da palpitante experiência de quem o visita. As palmeiras, vindas de todo o mundo, os catos e dragoeiros, o arvoredo, os arbustos, a possibilidade de percorrermos um espaço com reminiscências tropicais mas onde podemos encontrar avencas, boninas, buxos, carrasco, o carvalho português, o cedro do himalaia, o cerquinho, a conteira, a erva-cavalinha, a lucerna, a murta, a purgueira… Estima-se de 1300 a 1500 espécies para deslumbrar o visitante.



Encontrei na Internet alguns elementos úteis acerca deste paraíso natural que tem mais de 140 anos e que já antes da sua fundação era utilizado para o estudo da Botânica. É uma curiosidade, mas o estudo da Botânica começou no Colégio Jesuíta da Cotovia, que ali existiu entre os anos de 1609 e 1759. Mas há mais alguns aspetos curiosos sobre este monumento nacional.

São cerca de 4 hectares de área verde, bem no centro da capital, divididos pela Classe e pelo Arboreto. A primeira, atualmente encerrada ao público, acolhe a biblioteca, o herbário e o Lago de Cima. Já o Arboreto, na parte inferior do jardim, recebe as árvores de grande porte e outras plantas.

A temperatura entre as partes de cima e de baixo do Arboreto pode variar dois ou três graus centígrados. É por isso que nas zonas superiores foram plantadas as espécies que gostam de climas quentes e secos, como as carnudas, enquanto em baixo estão as que precisam de mais humidade.

Junto à escadaria que liga as duas zonas do Arboreto existe um busto de Bernardino António Gomes, médico e farmacologista que teve um papel importante no estudo do paludismo, imagem que publicámos no texto anterior. Este busto está perfurado por uma bala, o que deverá ter acontecido durante o golpe de fevereiro de 1927, que ali colocou frente a frente as tropas revolucionárias e governamentais.

Os investigadores acreditam que o jardim tem um efeito dissuasor na poluição da Avenida da Liberdade, a mais poluída da cidade e uma das mais poluídas da Europa. Há um aspeto pitoresco que veio referido no texto da Internet, uma advertência que eu não recebi na entrada: Cuidado com as pinhas da Bunia-bunia, uma árvore de grande porte australiana. Com cerca de 10 quilos cada, podem magoar seriamente quem levar com uma na cabeça. O jardim tem uma imponente árvore-do-imperador que, segundo dizem, foi oferecida ao conde de Ficalho pelo Imperador Pedro II do Brasil. Só há seis jardins no mundo que albergam um exemplar vivo da árvore-do-imperador. O Botânico de Lisboa é um deles. Muitas árvores do jardim são autênticos fósseis vivos, oriundos de floras antigas, muitas delas já extintas.



É do senso-comum, mas vale a pena insistir que quem se vem deslumbrar com o Jardim Botânico de Lisboa tem um museu valiosíssimo de paredes meias. O Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC), cujo acervo conta com quase um milhão de exemplares. Este inclui importantes coleções de história natural (como botânica, mineralogia, paleontologia, zoologia e antropologia) e é complementado com várias exposições temporárias.


Põe-se aqui termo a um conjunto de itinerâncias que a pandemia veio facultar, visitas aqui e acolá. Claro que vamos prosseguir, com ou sem pandemia. Por exemplo, acicatado pela curiosidade, voltei ao Parque dos Poetas em Oeiras, houve alterações, e de vulto, cuidei de as registar. Um grupo de amigos dos jardins de Lisboa anunciou que era possível visitar os jardins da Residência Oficial do Primeiro Ministro. Mais um ponto de curiosidade, nunca lá tinha posto os pés, via-os à distância todas as semanas, quando passava as sextas-feiras a trabalhar num órgão constitucional, na Assembleia da República. Não esperei por segundo anúncio, prantei-me ali à porta, cumpridos os requisitos de segurança, percorri com satisfação o que era possível visitar. E com essa mesma satisfação vos darei conta da visita.


O Jardim Botânico está aberto todos os dias (exceto nos feriados de Natal e de 1 de janeiro), desde as 9h às 17h ou 20h (ver horário em baixo). O Jardim Botânico fica na Rua da Escola Politécnica, 54, no Príncipe Real. O bilhete custa 3€, mas aos domingos de manhã a entrada é gratuita.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22440: Os nossos seres, saberes e lazeres (463): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (3) (Mário Beja Santos)

sábado, 7 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22440: Os nossos seres, saberes e lazeres (463): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (10) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Julho de 2021:

Queridos amigos,
Eu sou do tempo em que o Jardim Botânico pertencia à Faculdade de Ciências de Lisboa, ainda não sabia que o local se chamava Monte Olivete num espaço denominado Cotovia. Espaço de ensino de grandes tradições, aqui houve ensino jesuítico e Colégio dos Nobres, depois Escola Politécnica, foram atraídos jardineiros estrangeiros, para aqui convergiram coleções raras, grandes investigadores que deram renome a este jardim através da escola, houve um sério apoio político e científico, basta pensar em Andrade Corvo e no Conde de Ficalho. Dado o tesouro que representa o seu património está classificado como Monumento Nacional desde 2010. Não deixa de assombrar como espaço bem encenado, já não se entra pelo portão esquerdo, mas pelo portão direito do que é hoje o Museu de História Natural e da Ciência, parece que vamos a uma representação teatral no Teatro da Politécnica, hoje espaço reabilitado da velha Associação dos Alunos da Faculdade de Ciências, estamos num patamar superior, dragoeiros e cactos soberbos não faltam, há bancos para mirar à volta, em determinados ângulos temos mesmo as fachadas de prédios da Rua da Escola Politécnica, ali a menos de uma centena de metros viveram durante dezenas de anos o historiador José-Augusto França e o poeta Alexandre O'Neill, é um dos troços da chamada Sétima Colina que vai do Cais do Sodré ao Largo do Rato. Jardim com uma beleza imensa, por isso mesmo vamos ainda juntar mais algumas imagens e comentários na próxima semana.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (10)

Mário Beja Santos

O Jardim Botânico, hoje adstrito ao Museu Nacional de História e da Ciência, monumento nacional desde 2010, tem uma longa história na pesquisa científica, na medida em que estes jardins botânicos nasceram fundamentalmente para ensinar e investigar. Ao tempo da Escola Politécnica, que sucedeu ao Colégio dos Nobres e ao ensino jesuítico, o jardim integrava a Faculdade de Ciências. É longo o historial da formação de coleções de grande valor com espécies trazidas de todo o mundo, árvores e plantas vão sendo dispostas em diferentes patamares e daí o visitante encontrar sensíveis diferenças de temperatura enquanto sobe ou desce este esplêndido Jardim Botânico, concebido como horto com papel insubstituível na investigação botânica pura e aplicada, e como tal não é de estranhar possuir campos destinados à experimentação, estufas, entremeados de lagos, caminhos de pura fruição…

No início do ano de 1837 foi instituída a Escola Politécnica e a Lei determinava a existência de um Jardim Botânico. Foram encarregues da sua execução vários peritos credenciados, vieram jardineiros estrangeiros, ao tempo era estreita a ligação com o Jardim Botânico da Ajuda, este hoje dependente do Instituto Superior de Agronomia. Os peritos foram juntando coleções, foram feitas aquisições, houve doações de vulto de cidadãos nacionais e estrangeiros para fazer obras no jardim. Grandes políticos e estudiosos como Andrade Corvo ou Conde de Ficalho ficaram ligados a esta fase de instalação. Aqui e ali iam surgindo problemas novos, foi o que aconteceu em 1887 com a abertura do túnel da linha dos caminhos-de-ferro, o Túnel do Rossio, que intercetava a parte inferior do jardim. Há hoje obras que contam todo este histórico, é uma leitura que permite entender o valor incalculável que aqui se exibe a estudiosos e ao público.

O leitor mais curioso encontra no Google informação pertinente sobre a vastidão deste património. A diversidade de espécies é imensa (entre 1300 e 1500), a organização do espaço ajardinado é fascinante nos seus recantos e declives, o olhar passa rapidamente de aves monumentais e de grande porte para arbustos exóticos, e as palmeiras estão praticamente omnipresentes, vindas de todos os continentes, e daí a sensação que experimentamos de termos ingressado num mundo tropical.

As cicadáceas são um dos ex-libris do Jardim. Autênticos fósseis vivos, representam floras antigas, que na maioria se extinguiram e que só em jardins botânicos se conservam. O Jardim é particularmente rico em espécies tropicais originárias da Nova Zelândia, Austrália, China, Japão e América do Sul, o que atesta as peculiaridades dos diferentes microclimas criados neste Jardim pela implantação topográfica em que se insere. Na classificação como Monumento Nacional em 2010, integra-se todo o património artístico (esculturas) e edificado que nele se encontra: Observatório Astronómico da Escola Politécnica, Edifício dos Herbários, Estufas, Palmário, e antiga estufa em madeira.

Mas porquê colocar o Jardim Botânico neste local? Este lugar era conhecido no passado como Monte Olivete, tinha já mais de dois séculos de tradição no estudo da Botânica, iniciado com o colégio jesuíta da Cotovia, aqui sedeado entre 1609 e 1759. Aqui se escreve no que vem nos textos divulgativos que encontramos na internet.

A enorme diversidade de plantas recolhidas pelos seus primeiros jardineiros, o alemão E. Goeze e o francês J. Daveau, provenientes dos quatro cantos do mundo em que havia territórios sob soberania portuguesa, patenteava a importância da potência colonial que Portugal então representava, mas que na Europa não passava de uma nação pequena e marginal. Edmund Goeze, o primeiro jardineiro-chefe, delineou a “Classe” e Jules Daveau foi o responsável pelo “Arboreto”.

A elevada qualidade do projeto, bem ajustado ao sítio e ao ameno clima de Lisboa, cedo foi comprovada. Mal acabadas de plantar, segundo o caprichoso desenho das veredas, canteiros e socalcos, interligados por lagos e cascatas, as jovens plantas rapidamente prosperavam, ocupando todo o espaço e deixando logo adivinhar como, com o tempo, a cidade viria a ganhar o seu mais aprazível espaço verde e o de maior interesse cénico e botânico. Em pleno coração de Lisboa e em forte contraste com o seu bulício, as cores e as sombras, os cheiros e os sons do Jardim da Politécnica dão recolhimento e deleite.

A maior intervenção na área do Jardim ocorreu no final dos anos 30 e princípios dos anos 40 do séc. XX, por influência do então diretor Ruy Telles Palhinha: a primitiva ordenação sistemática do plano superior do Jardim foi substituída pelo agrupamento das espécies em conjuntos ecológicos.

As coleções sistemáticas servem vários ramos da investigação botânica, demonstram junto do público e das escolas a grande diversidade de formas vegetais e múltiplos processos ecológicos, ao mesmo tempo que representam um meio importante e efetivo na conservação de plantas ameaçadas de extinção.

Autênticos fósseis vivos, representam floras antigas, que na maioria se extinguiram. Hoje, são todas de grande raridade, havendo certas espécies que só em jardins botânicos se conservam. O Jardim é particularmente rico em espécies tropicais originárias da Nova Zelândia, Austrália, China, Japão e América do Sul, o que atesta a amenidade do clima de Lisboa e as peculiaridades dos microclimas criados neste Jardim.

Na esteira do que acontece na generalidade dos jardins botânicos, também este Jardim, em estreita colaboração com os restantes departamentos do Museu desenvolve, em permanência, ativos programas de educação ambiental, para os diferentes níveis etários da população estudantil e oferece visitas temáticas guiadas.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22419: Os nossos seres, saberes e lazeres (462): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (2) (Mário Beja Santos)