sábado, 14 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22456: Os nossos seres, saberes e lazeres (464): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (11) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Julho de 2021:

Queridos amigos,
Havendo aqui tantos tesouros botânicos, belíssimos recantos, alguns deles de atmosfera tropical, dragoeiros majestosos, fósseis, troncos ressequidos que podem ser percepcionados como esculturas contemporâneas, palmeiras e afins por todos os lugares do jardim, não resisti a esticar a visita ao Jardim Botânico de Lisboa em dois momentos, talvez para estimular os indecisos a não esperar mais para usufruir de tão espetacular visita. Grandioso e sereno, jardim cheio de pergaminhos, que começam com o Colégio dos Jesuítas na Cotovia, no século XVII, espaço de importância indeclinável a partir do momento em que o ensino liberal quis cuidar de fazer convergir para Lisboa espécies de todo o mundo, e todos os elogios se devem tecer em quem organizou como espaço cénico os patamares, os lagos românticos, havendo sempre aquela envolvente dos edifícios da Rua da Escola Politécnica, o Observatório Astronómico, as construções que aguardam restauro, aquele portão fechado que noutros tempos permitia subir da Avenida da Liberdade até ao Jardim, e não foi por acaso que começamos esta última itinerância que a pandemia fadou por um banco de jardim onde dá para contemplar o que de sereno apetece sentir face à monumentalidade arbórea, concebida como instituição científica e ponto alto de fruição que a Natureza dá. Há visitas guiadas e visitas grátis aos domingos de manhã. Para quem ainda conserva a energia do caminheiro, é possível acoplar no bilhete a visita ao Jardim Botânico e ao Museu de História Natural e da Ciência, tudo somado excede os 20 valores.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (11)

Mário Beja Santos

O que chamamos hoje Jardim Botânico de Lisboa foi no passado recente Jardim Botânico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Recorde-se que um incêndio devastador incinerou uma parte importantíssima da faculdade e do Museu, a Faculdade mudou-se para o Campo Grande, deu-se uma centralização de patrimónios, incluindo os laboratórios e as salas de aula da Faculdade de Ciências oriundas do século XIX. Recomenda-se vivamente que esta visita inclua o Museu de História Natural e da Ciência e o Jardim Botânico de Lisboa.

Qualquer adjetivo que se use para empolgar a riqueza patrimonial do Jardim Botânico fica sempre aquém da palpitante experiência de quem o visita. As palmeiras, vindas de todo o mundo, os catos e dragoeiros, o arvoredo, os arbustos, a possibilidade de percorrermos um espaço com reminiscências tropicais mas onde podemos encontrar avencas, boninas, buxos, carrasco, o carvalho português, o cedro do himalaia, o cerquinho, a conteira, a erva-cavalinha, a lucerna, a murta, a purgueira… Estima-se de 1300 a 1500 espécies para deslumbrar o visitante.



Encontrei na Internet alguns elementos úteis acerca deste paraíso natural que tem mais de 140 anos e que já antes da sua fundação era utilizado para o estudo da Botânica. É uma curiosidade, mas o estudo da Botânica começou no Colégio Jesuíta da Cotovia, que ali existiu entre os anos de 1609 e 1759. Mas há mais alguns aspetos curiosos sobre este monumento nacional.

São cerca de 4 hectares de área verde, bem no centro da capital, divididos pela Classe e pelo Arboreto. A primeira, atualmente encerrada ao público, acolhe a biblioteca, o herbário e o Lago de Cima. Já o Arboreto, na parte inferior do jardim, recebe as árvores de grande porte e outras plantas.

A temperatura entre as partes de cima e de baixo do Arboreto pode variar dois ou três graus centígrados. É por isso que nas zonas superiores foram plantadas as espécies que gostam de climas quentes e secos, como as carnudas, enquanto em baixo estão as que precisam de mais humidade.

Junto à escadaria que liga as duas zonas do Arboreto existe um busto de Bernardino António Gomes, médico e farmacologista que teve um papel importante no estudo do paludismo, imagem que publicámos no texto anterior. Este busto está perfurado por uma bala, o que deverá ter acontecido durante o golpe de fevereiro de 1927, que ali colocou frente a frente as tropas revolucionárias e governamentais.

Os investigadores acreditam que o jardim tem um efeito dissuasor na poluição da Avenida da Liberdade, a mais poluída da cidade e uma das mais poluídas da Europa. Há um aspeto pitoresco que veio referido no texto da Internet, uma advertência que eu não recebi na entrada: Cuidado com as pinhas da Bunia-bunia, uma árvore de grande porte australiana. Com cerca de 10 quilos cada, podem magoar seriamente quem levar com uma na cabeça. O jardim tem uma imponente árvore-do-imperador que, segundo dizem, foi oferecida ao conde de Ficalho pelo Imperador Pedro II do Brasil. Só há seis jardins no mundo que albergam um exemplar vivo da árvore-do-imperador. O Botânico de Lisboa é um deles. Muitas árvores do jardim são autênticos fósseis vivos, oriundos de floras antigas, muitas delas já extintas.



É do senso-comum, mas vale a pena insistir que quem se vem deslumbrar com o Jardim Botânico de Lisboa tem um museu valiosíssimo de paredes meias. O Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC), cujo acervo conta com quase um milhão de exemplares. Este inclui importantes coleções de história natural (como botânica, mineralogia, paleontologia, zoologia e antropologia) e é complementado com várias exposições temporárias.


Põe-se aqui termo a um conjunto de itinerâncias que a pandemia veio facultar, visitas aqui e acolá. Claro que vamos prosseguir, com ou sem pandemia. Por exemplo, acicatado pela curiosidade, voltei ao Parque dos Poetas em Oeiras, houve alterações, e de vulto, cuidei de as registar. Um grupo de amigos dos jardins de Lisboa anunciou que era possível visitar os jardins da Residência Oficial do Primeiro Ministro. Mais um ponto de curiosidade, nunca lá tinha posto os pés, via-os à distância todas as semanas, quando passava as sextas-feiras a trabalhar num órgão constitucional, na Assembleia da República. Não esperei por segundo anúncio, prantei-me ali à porta, cumpridos os requisitos de segurança, percorri com satisfação o que era possível visitar. E com essa mesma satisfação vos darei conta da visita.


O Jardim Botânico está aberto todos os dias (exceto nos feriados de Natal e de 1 de janeiro), desde as 9h às 17h ou 20h (ver horário em baixo). O Jardim Botânico fica na Rua da Escola Politécnica, 54, no Príncipe Real. O bilhete custa 3€, mas aos domingos de manhã a entrada é gratuita.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22440: Os nossos seres, saberes e lazeres (463): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (3) (Mário Beja Santos)

Sem comentários: