sábado, 18 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11591: Notas de leitura (482): Soronda - Revista de Estudos Guineenses - Dezembro de 2000 (1) (Francisco Henriques da Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, Mansabá e Olossato, 1968/70), ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999, com data de 14 de Maio de 2013:

Meus caros amigos e ex-camaradas de armas,
Apesar do pouco tempo transcorrido desde o termo da guerra civil de 1998-1999, é muito interessante a coletânea de textos que foi publicada pela “Soronda”, revista de Estudos Guineenses, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné-Bissau em finais de 2000, num número especial dedicado ao conflito.
Muito embora os textos não sejam todos de igual valia e alguns primarem mesmo, pela especulação pura, vale a pena dedicar alguma atenção ao que escreveu, por exemplo, Fafali Koudawo ou Tcherno Djaló.
Os diferentes artigos traçam-nos uma panorâmica do que pensava (e, presumivelmente, ainda pensa) a elite culta bissau-guineense e alguns especialistas estrangeiros sobre aquele devastador conflito armado.

Com os meus cumprimentos cordiais e amigos
Francisco Henriques da Silva
(ex-Alf Mil de Infª.
CCaç 2402,
ex-embaixador de Portugal em Bissau 1997-1999)


Soronda – um exercício a várias vozes sobre a guerra civil

Em Dezembro de 2000, a revista “Soronda”, revista de estudos guineenses do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa de Bissau, publicou na sua nova série, um número especial totalmente dedicado à guerra civil de 1998-1999 (Soronda, 7 de Junho. Revista de Estudos Guineenses. Bissau: INEP, Nova Série, n° 2, dezembro 2000).

Trata-se do que podemos designar por um exercício a várias vozes, nem sempre concordantes entre si e de qualidade variável. Todavia, há que se louvar o esforço, pois trata-se do único documento – ou, se se quiser da única colectânea de documentos que se conhece - em que de uma forma séria e minimamente rigorosa se pretendem abordar as grandes questões suscitadas pela guerra civil. Há a acrescentar que, na altura da publicação, o tempo transcorrido, desde o termo do conflito ainda era muito curto e os diferentes participantes no exercício amiúde não escondem as suas simpatias por uma ou outra das fações beligerantes.

Como é bem sublinhado logo na introdução, o INEP, a cerca de um quilómetro da linha da frente, foi ocupado pela soldadesca durante 9 meses e aí estiveram aquartelados militares senegaleses que, como se soube na época, saquearam o edifício e serviram-se dos livros e de outro material como combustível para a confeção das suas refeições. O INEP foi milagrosamente reabilitado em pouco tempo, logo após a cessação de hostilidades, muito embora se tenha perdido uma parte importante do seu espólio.

A guerra é abordada em 3 grandes capítulos: (a) as origens remotas e imediatas do conflito; (b) os ângulos internos e externos do desenrolar das hostilidades ao longo de 11 meses de campanha; (c) o impacto do conflito em distintos aspectos da vida bissau-guineense.

No artigo “A crise no PAIGC: um prelúdio à guerra”, Caterina Gomes Viegas e Fafali Koudawo analisam a crise interna do partido então no Poder, designadamente entre as fações encabeçadas, por um lado, por “Nino” Vieira e pelos seus acólitos e, por outro, por Saturnino Costa/Malan Bacai Sanhá, com reflexos tribalistas e racistas (opondo-se os últimos, que se consideravam pretus nok – ou seja, guineenses puros - aos burmedjus – mestiços – que integravam as hostes ninistas). Estas rivalidades entre antigos companheiros de luta não prenunciavam nada de bom. As lutas internas que datavam do tempo da luta de libertação, mas que se agudizaram nos anos 80 e 90, os sucessivos adiamentos do congresso do PAIGC e o impasse que se gerou quando este teve lugar com a aparente, mas, como se veio a saber, pirrónica vitória de “Nino” conferiam à situação uma gravidade que não podia ser escamoteada. Por outro lado, o PAIGC – e o Congresso era disso prova cabal – ignorava, deliberadamente, os grandes problemas com que o país e a sociedade se debatiam: o tráfico de armas para Casamansa, a instabilidade nas Forças Armadas e a respetiva reforma, a situação dos antigos combatentes, etc. Para os autores, o impasse do VI Congresso do PAIGC constituiu o prelúdio para guerra.

Tcherno Djaló, em “Lições e legitimidade nos conflitos políticos na Guiné-Bissau”, considera que a “a história contemporânea da Guiné-Bissau tem sido uma sucessão de actos de violência política e institucional”(p. 25). Faz a análise dos processos de legitimação dos constantes atos de violência na Guiné-Bissau, desde o movimento de independência que é pela sua própria natureza violento, mas legítimo, ao 14 de novembro de 1980 e ao levantamento de 7 de junho de 1998, cuja legitimidade é menos clara, mas que se reclamam sempre, quer num caso, quer noutro, da herança de Cabral. O agravamento da situação económica e o crescente divórcio entre a classe dirigente e o povo, agravado por um forte sistema repressivo estarão na origem do 14 de novembro. Fatores étnicos que vinham de trás terão contribuído para o desfecho. Todavia, há que sublinhá-lo, os fatores pessoais também pesaram, com a supressão do cargo de Primeiro-ministro que “Nino” detinha e a sua consequente despromoção. Tratou-se, pois, de transformar uma racionalidade individual numa ação coletiva. Quanto ao 7 de Junho, Tcherno Djaló descarta os fatores etno-tribais como estando na origem do levantamento, encontra fundamentos pessoais, nas posições de Ansumane Mané e a primeira razão da sua legitimidade consiste na intervenção estrangeira: “a chegada do corpo expedicionário das tropas da Guiné-Conakri e do Senegal desencadeou de imediato uma onda de nacionalismo e patriotismo que há muito não se via na Guiné” (p. 31). A gestão “empresarial” dos negócios do Estado em proveito próprio e da “clique” de “Nino” Vieira terão contribuído para a imagem negativa do regime junto da opinião pública. A legitimidade do Chefe de Estado contrastava com a ilegalidade da intervenção militar estrangeira. Em termos de consequências, o 7 de Junho representa, em primeiro lugar, o fim do regime de “Nino” Vieira, em segundo lugar, a implosão do PAIGC, em terceiro, a reabilitação das Forças Armadas e dos antigos combatentes. Todavia – e este aspeto, na nossa opinião, é da maior relevância - , “doravante, conscientes da força que representam no seio da sociedade, os militares passam não a reivindicar, mas a exigir os seus direitos”. Do ponto de vista político, as regras do jogo são invertidas, permitindo o acesso ao poder de uma formação política maioritariamente balanta, em detrimento da elite luso-cristianizada e mestiço-crioula que havia desde sempre dominado o país. Outras consequências são, igualmente, analisadas, quer económicas, quer a nível da sub-região, quer ainda em termos da credibilidade externa da própria Guiné-Bissau. O autor conclui, repisando a mesma argumentação utilizada para o 14 de Novembro, a ação política violenta é motivada por uma dinâmica pessoal que “transforma a racionalidade individual numa ação coletiva.”

Roy van der Drift apresenta um relato de caráter quase jornalístico sobre o conlfito, intitulado “Democracy: Legitimate warfare in Guinea-Bissau”, em que entremeia descrições meramente factuais com muita especulação e algumas frases bombásticas da sua lavra. Entre estas últimas, destaca-se, por exemplo, o não ter havido qualquer guerra civil na Guiné-Bissau, o que é um contra senso, quando não uma inverdade, e que se está perante uma relação inter-étnica harmoniosa, o que contraria frontalmente o que nos diz a história e a antropologia. Para o autor, os diferentes episódios de beligerância, ao longo de 11 meses são uma espécie de escaramuças intermitentes (!). No que respeita às especulações, Van der Drift, alega que a França e o Senegal estariam por detrás da destituição do brigadeiro Ansumane Mané, o que nos parece descabido; que a rápida chegada do corpo expedicionário senegalês já estaria planeada desde há muito, uma vez que o primeiro contingente avançou para Bissau logo a 7 de Junho (aqui, a questão levantada afigura-se-nos pertinente); que os franceses terão posto à disposição de “Nino” Vieira e dos seus aliados, na fase final da guerra, canhões de 155 mm e que, segundo um padre italiano, cerca de 100 “conselheiros militares” franceses teriam estado envolvidos na ofensiva de Janeiro-Fevereiro de 1999, asserções que carecem totalmente de provas. O autor dá claramente a entender que a Guiné-Bissau sob “Nino” Vieira se integrava gradualmente na francofonia, o que, em nosso entender, é uma presunção, esta, sim, com algum fundamento, mas não era ainda um dado adquirido. Em suma, há que ler-se com algum distanciamento e as devidas cautelas este relato.

Fodé Abulai Mané apresenta-nos um artigo intitulado “O Conflito Político-militar de 7 de Junho de 1998: a Crise de Legitimação”. O autor começa por analisar a posição da Comunidade Internacional quando o pleito se iniciou para em seguida passar à análise jurídica da argumentação invocada pelas partes e pelos demais actores no decurso do conflito para fundamentar as diferentes posições. Tem como base de partida os documentos assinados antes da guerra – designadamente com o Senegal e com a Guiné-Conacri - e depois enumera e analisa os textos negociados durante o período de hostilidades. Vamos apenas aflorar os acordos subscritos com os países vizinhos, remetendo o leitor para o texto quanto aos demais documentos. Relativamente aos instrumentos internacionais subscritos com o Senegal, Abulai Mané refere-se ao Acordo em matéria de Segurança e Defesa de 1990 e ao respetivo Protocolo adicional, que precisa aquele, ambos invocados invariavelmente pela parte afeta a “Nino” Vieira para justificar a intervenção senegalesa. Para o autor, “no citado protocolo, não se encontrou disposição alguma que permitisse a entrada das forças armadas de um país no outro para resolução de um conflito interno” (p. 75). A. Mané conclui: “ Se o recurso à violência por parte dos próprios militares para a resolução de uma situação interna é ilegítimo, a resposta adoptada pelas autoridades também não foi a permitida pelo direito interno.” (p. 76). Quanto ao Tratado de Amizade e Cooperação com a Guiné-Conacri de 1994, trata-se de um texto mais político do que jurídico, com o emprego de expressões e frases vagas, abrindo porém a porta para outros textos mais precisos, que não terão chegado a ver a luz do dia. Mané refere: “percorrendo todas as disposições do Tratado, não se destaca nenhuma norma jurídica capaz de limitar o comportamento de um Estado na sua cooperação com o outro, o que nos leva a alinhar com os tratadistas internacionais que consideram textos desta natureza de menor importância jurídica.” (p. 77). Dada a amizade entre Lansana Conte, o presidente da Guiné-Conacri e “Nino” Vieira, bastou que este, num acto voluntarista, pedisse a intervenção do exército da Guiné-Conacri para que aquele anuísse, “sem a cobertura de qualquer suporte jurídico” (p.78).

Carlos Cardoso assina um texto intitulado “Compreendendo a crise de 7 de junho na Guiné-Bissau”. Sem descartar outras hipóteses, Cardoso “vê na crise de Estado a razão principal do levantamento popular conduzido por Ansumane Mané” (p. 89). São pelo menos curiosas as designações empregues relativamente à guerra civil, para além de conflito, fala em crise (o que é no mínimo vago), para depois mencionar “rebelião armada”. Parece que em inúmeros casos – este não é, como sabemos, único - há como que um medo irracional de chamar os bois pelos nomes. Ao procurar as causas remotas do conflito encontra duas ordens de fatores, por um lado, sociais – o descontentamento nas Forças Armadas e nas camadas mais desprotegidas da sociedade – e, por outro, políticos – a rejeição de um regime anti-popular centrado no Presidente da República, com a concomitante “erosão do Estado”, em que os dirigentes do PAIGC gravitavam em torno de interesses económicos próprios e do tráfico de influências. Carlos Cardoso fala também na “ausência de Estado”, com excepção do aparelho repressivo que se mantinha plenamente operacional. Menciona ainda a clivagem verificada nas Forças Armadas entre os antigos combatentes e os oficiais mais jovens. No seu entender regista-se um desvio em relação às linhas orientadoras do pensamento de Amílcar Cabral. Adianta ainda que o processo de democratização de 1991 nunca foi plenamente assumido em que se regista um desrespeito pelo princípio da separação de poderes. De certo modo, afasta as motivações pessoais que terão contribuído para Ansumane Mané pegar em armas contra o Chefe de Estado. A este respeito, refere: “ a sublevação militar levada a cabo por Ansumane Mané parece ter motivações pessoais, mas as razões que levaram à adesão esmagadora e à revolta da população prendem-se com a ausência de orgânica de Estado, em que os interesses do pais eram relegados para um plano inferior, onde as instituições funcionavam com muita debilidade, ou praticamente não existiam, porque tudo dependia do PAIGC e do seu presidente.” (p. 97).

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11581: Notas de leitura (481): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11590: Blogpoesia (339): À custa duns "largos jarros" / e pastilhas LM, / cerveja, whisky e cigarros, / paludismo não se teme... (Manuel Maia)

1. Em mensagem do dia 16 de Maio de 2013, o nosso camarada Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum NagaCafal Balanta e Cafine, 1972/74) enviou-nos estas quadras alusivas ao paludismo de que se livrou:

Do paludismo nem cheiro,
"capei" mosquitas da zona,
já o mosquito era porreiro,
não me deu cabo da mona...

Malária ou paludismo,
foi maleita que não tive,
por ter um bom organismo,
sempre o "plasmodium" contive...

À custa duns "largos jarros"
e pastilhas LM,
cerveja, whisky e cigarros,
paludismo não se teme...

Milhões de vezes picado
nos "resorts" conhecidos,
avisei-os por recado
- Se me infectais estais perdidos !!!

No Cantanhez foi a sorte,
a livrar-me do descambo,
que à mosquitada deu morte,
herói AB, nosso Rambo...

Como Caio, o "mata sete",
ganhara fama por lá...
mosquitos do jet set
não picavam nos de cá...

Assim graças ao acordo,
e a uns copos bem regados,
as picadas que recordo,
não trouxeram mais cuidados...

Por outro lado também,
proibida era a doença,
por lá médico "cá tem",
e só na guerra se pensa...

Maleita é mais na cidade
com hospital logo à mão
mosquito é da urbanidade,
que lhe dá mais atenção...

Sobre a doença hei dito,
acreditem que a verdade,
a relação com mosquito,
quase digo que é saudade...
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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11585: Blogpoesia (338): O Sol e os Livros (Felismina Costa)

Guiné 63/74 - P11589: Convívios (523): "P'ra Cá do Marão", Encontro de ex-Combatentes do Ultramar, dia 15 de Junho de 2013 em Justes - Vila Real (Fernando Súcio)

"P'ra Cá do Marão", Convívio de ex-Combatentes do Ultramar, no Restaurante "O Gonçalo" em Justes (Vila Real), a levar a efeito no dia 15 de Junho de 2013.

As inscrições devem ser encaminhadas até ao próximo dia 10 de Junho para o nosso camarada Fernando Súcio, 
- endereço: dinisma@hotmail.fr 
- telemóvel 935 421 947

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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11571: Convívios (522): XXVIII CART 3494 – FELGUEIRAS -, DIA 15JUN2013 (Sousa de Castro)

Guiné 63/74 - P11588: Humor de caserna (34): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (7): Era bom que fôssemos todos vivos passados que são 50 anos

1. Em mensagem do dia 26 de Abril de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos mais este pensamento voador... "Era bom que estivessem vivos, passado 50 anos!".





Seguindo o ditado que diz:
- Vale mais uma boa foto, do que mil palavras!

Hoje não vai haver nenhuma desculpa antecipadamente às digníssimas leitoras, que sempre têm a amabilidade de abriram a página do Luís Graça & Camaradas da Guiné, ao Luís Graça, Carlos Vinhal e demais editores, que por certo estão a ficar “mais que irritados” com todas estas conversas de caserna. Hoje o Cifra vai dirigir-se aos amigos antigos combatentes, com todo o respeito, pelos seus companheiros, em especial pelos que consigo conviveram em Mansoa e vai lembrá-los uma vez mais, na esperança de que estejam vivos e leiam estes escritos, por sinal muito mal escritos. Portanto vamos primeiro “falar a tal mentira”, que é todo aquele blá, blá, blá, onde diz que, para os que vivem no mundo onde se fala inglês, vão dizer, com toda a certeza:
- It was good that they were alive, past 50 years!

No mundo onde se fala francês, dizem:
- Il est bon qu’ils étaient vivants, ces 50 dernières années!

Onde se fala germânico, friamente dizem:
- Es war gut, dass sie lebending letzten 50 Jahren waren!

No mundo que se fala espanhol, entre dois ou três “zzz”, dizem:
- Fue bueno que estaban vivos, hace 50 años!

Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a comer, e depois dizem:


Perceberam? Não?
Deixem lá, pois o Cifra também não percebeu, porque tem alguma dificuldade em pronunciar os pontos e as vírgulas.

E nós portugueses, dizemos:
- Era bom que estivessem vivos, passado 50 anos!

Sim é verdade, o Cifra também pensa assim, e usando um pouco de imaginação, que não é mais do que uma homenagem aos seus companheiros de armas, vai supor que todos andavam numa boa vida, com saúde, e se encontravam de novo, já com idade avançada, começavam a falar do passado, como fazem todos os antigos combatentes quando se juntam, e o Cifra não tendo fotografia desse encontro imaginário, fez este arranjo da “TRIBO FURRIEL MILICIANO”, que era como chamava ao seu grupo de amigos, portanto admirem essa foto imaginária, passado quase 50 anos.


E pelas contas do Cifra, vejam agora o que estes terríveis combatentes teriam comido, bebido e fumado se estivessem vivos, alegres e com saúde, oxalá que sim, que estejam todos vivos e vejam esta homenagem do amigo Cifra, após estes quase 50 anos!

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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11376: Humor de caserna (33): Estou a deixar voar o meu pensamento (Tony Borié) (6): Fado ou balada?

Guiné 63/74 - P11587: Agenda cultural (273): Lançamento de dois livros sobre Angola e um CD de coros africanos, dia 21 de Maio, na Verney

1. Convite que nos foi enviado por Manuel Júlio Matias Barão da Cunha (hoje Coronel reformado, CMDT da CCAV 704/BCAV 705, 1964/66): 

Caríssimos, esperando que estejais bem e após a mui interessante última sessão do 1.º ciclo no Porto, anexo informação sobre o encerramento do 9.º ciclo «Fim do Império», em Oeiras e Lisboa. 

No dia 21, na Verney, será «4 em 1»: lançamento de dois livros sobre Angola e um CD de coros africanos, pelo preço de um livro normal da nossa colecção, 12€, em articulação com inauguração de exposição de pintura dos dois autores do livro, a luso-angolana Helena Pinto Magalhães e o coronel Castro de Figueiredo. 

Quem puder ir será bem-vindo e também agradecemos divulgação. 

Fiquem bem, com saúde e serenidade, 

Manuel B. Cunha 


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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 63/74 - P11586: Estórias cabralianas (77): As bagas da Dona Binta e os seus efeitos... secundários (Jorge Cabral)



Lisboa > 11 de setembro de 2011 > Largo de São Domingos e Palácio da Independência. Memorial às vitimas judaicas de 1506. Este é também um local de encontro dos guineenses em Lisboa.

Foto: © Luís Graça  (2011). Todos os direitos reservados.

1. Através de uma sua querida ex-aluna, Anabela Martins, chegou-nos agora mesmo um "telegrama" do Jorge Cabral,  criador dessa personagem inimitável que é o "alfero Cabral":

Amigos!

Em 14 de Dezembro de 2006, publicaram aí a minha estória “As bagas afrodisiacas do Sambaro....”, não adivinhando que quase sete anos depois, eu as voltava a encontrar através de D. Binta, no Largo de S. Domingos, à beira do Rossio.

Abraços.

P.S – ainda não arranjei boleia para o Encontro, mas estou obrigado a comparecer. 
JC


2. Estórias cabrialianas > As bagas de Bonta e os seus efeitos... secundários

por Jorge Cabral

Não sei porque razão os Guineenses escolheram o Largo de S. Domingos, para se reunirem todos os dias. Logo de manhã, chegam, conversam, discutem, compram e vendem. É um lugar recheado de História. Foi de lá que partiram os quarenta conjurados para, em 1640, restaurarem a Independência, mas foi também ali que se iniciou a grande matança de Judeus em 1506.

Deixo porém para outros a História séria, pois este velho Alfero conta é estórias...

Últimamente tornei-me um assiduo frequentador desta pequena Guiné, até porque o Beja Santos me informou que por lá parava o meu Primeiro Cabo Africano Negado Costa. A verdade é que apesar de toda a gente o conhecer, ainda não o encontrei. Pois era de Bafatá, dizem, mas agora é de Odivelas...Vou continuar a procurá-lo... e entretanto converso com quase todos. Fico a saber que há uma Discoteca em Missirá e vai ser inaugurada outra no Mato Cão, chamada “Beira Rio”.
No Mato Cão?

Num destes dias a D. Binta, que foi lavadeira da tropa e que agora,  abrigada do sol, debaixo de uma árvore, mesmo em frente da Ordem dos Advogados, vende tudo... desde cola a peixe seco, ofereceu-me umas bagas que dão grande poder e o gesto que fez, identificou o poder de que falava...

Ingénuo perguntei:
- E tem efeitos secundários?
- Até mais! - respondeu, e reparando no meu ar espantado, acrescentou:
- Mas pelo menos a segunda, é garantida!

À noite ouvindo as péssimas notícias, penso que nem com quatro milhões de conjurados restauraremos a independência e que com tantos cortes, vou ficar em regime de meia pensão. Pois é, tenho que voltar a trabalhar. E porque não na Guiné? Gerente da Discoteca no Mato Cão, claro. Escrevo ao senhor Sanhá, o dono e espero ser admitido.

Melhor velhice é difícil imaginar. E com efeitos secundários...

Jorge Cabral
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10943: Estórias cabralianas (76): Não sei se por distracção ou por preguiça, mas esqueci-me de morrer... (Jorge Cabral)

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11585: Blogpoesia (338): O Sol e os Livros (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Felismina Costa, com data de 11 de Maio de 2013:

Caríssimo Amigo Carlos Vinhal
O Poema que ora lhe envio, é uma criação recentíssima, a que o meu amigo Reis Costa emprestou mais uma vez, a sua bela voz. 

Se achar que merece publicação no Blogue... é seu e de todos que o queiram ler.

Abraço fraterno e grato da amiga de sempre.
Felismina mealha


"O Sol e os Livros"

Subtil, o Sol entrou na minha sala
e sorrindo, beijou um a um os livros na estante!
E os meus olhos foram-se abrindo e sorrindo…
Pensei no Sol e nos livros…
Pensei e comparei essas estrelas desmesuradas e…
Continuei sorrindo!
Divino, o Sol oferecia-me a luz da vida.
Calados, os livros gritavam-me:
Estou aqui! Folheia-me! Descobre-me!
Passeia comigo pelo mundo inteiro!
Conheço os Cinco Continentes!
O íntimo das gentes.
As entranhas da terra.
O fundo do mar.
As estrelas!
A arte de bem falar!
O pobre.
O rico.
O mendigo sem -abrigo.
O crime e o castigo
A maldade.
A impunidade.
Sei como transformar
a miséria em riqueza.
Acabar com a inveja.
A doentia covardia.
Sei de nobreza!
Não de nobreza roubada
Mas de nobreza ganhada
nos gestos de cada dia!
Sei de honra e de vergonha.
Sei de ronha e de vileza
que se esconde destapada
porque a roupa que veste
Há muito que se conhece
e está muito mais que usada.
Sei de luas e de sóis que dão vida!
Sei que a lida dos que trabalham a terra
não tem era!

É!
É ela, a própria que sustenta, que alimenta
os que não sabem nem sonham
como à mesa chega quente o pão que comem.
Sei, como se gerem finanças e vinganças.
Como o mundo inteiro dança.
E sei de Homens de bem,
Que trabalham toda a vida a ciência que convêm.
Que se esforçam, que não dormem, que correm
atrás de uma ideia iluminada, na descoberta precisa para salvar uma vida.
Para salvar tantas vidas!
Sei de heróis e heroísmos!
Sei de fogos de artifícios.
Fogos-fátuos.
Malabarismos.
Sei de Reis que não reinaram.
E de outros que se mataram reinando.
Sei de fado e de fandango.
Sei de Tango!...
E os livros não se calavam…
Sei de amor - gritava-me um!
E outro, mais…e eu sorria enlouquecida!
Um, no lado esquerdo da estante, provocante
Numa letra dourada, arredondada,
Pretendia generoso, convencer-me, que o lesse:
Seduzida, puxei-o então… levemente, e, pouco a pouco,
ouvi, Pessoa dizer-me assim:
(…Quanto mais diferente de mim alguém é, mais real me parece, porque menos depende da minha subjectividade…)

E de cabeça inclinada para o livro…”Ressuscito-o”!
Pessoa estava ali, na sua cadeira de bronze à porta da Brasileira,
banhado pelo Sol, que já tinha dado uma volta, e ia agora a caminho do
Largo do Calhariz.
Quis dizer-lhe adeus, mas, Camões, carregado de pombos e turistas com cristas, acenou-me e pediu-me que rasgasse a sua velha epopeia.
Quis dizer-lhe que não era justo,
Que ficaria de luto, mas eis que aparece o Eça, vindo da rua do Alecrim e disse-me assim:
Rasga sim!
Quando tudo se esquece…é o fim!

"O Sol e os Livros"
(Felismina Mealha)
(Voz: Fernando Reis Costa)

Nota: Para ouvir a declamação deste poema aceder ao Portal AVPSE
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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11580: Blogpoesia (337): Meu testament (J. L. Mendes Gomes)

Guiné 63/74 - P11584: Agenda cultural (272): 18 de Maio – Dia internacional dos Museus | Noite dos Museus: de norte a sul, cerca de 100 museus aderem à iniciativa e as entradas são gratuitas


1. Reproduzimos aqui«, com a devida vénia,  a notícia de hoje da página do IMC - Instituto dos Museus e da Conservação, sobre o dia Internacional dos Museus (, incluindo o cartaz comemorativo do evento)

18 de Maio – Dia internacional dos Museus | Noite dos Museus

 Sob o tema Museus (Memória + Criatividade)= Mudança Social celebra-se no dia 18 de maio o Dia Internacional dos Museus. 

Coincidindo no mesmo dia, a celebração do Dia Internacional dos Museus e da Noite dos Museus é uma oportunidade para cerca de 100 museus, através mais de 450 de actividades, se mostrarem como espaços de memória e celebrarem a criatividade e a inovação em estreito convívio com os seus públicos. 

Inaugurações de exposições, Visitas encenadas, peças de teatro, dança e cinema, concertos, ateliês para os mais novos, mostras de artesanato, festivais de gastronomia, são algumas das atividades organizadas pelos museus de todo o País, no Dia e Noite dos Museus 2013. 
No dia 18 de maio, as entradas são gratuitas nos museus e monumentos da DGPC, com exceção do PNAjuda.

- Despacho de gratuitidade - 18 de maio


A riqueza e diversidade das colecções, estudadas, preservadas e expostas nos museus, em articulação com a vitalidade e criatividade que têm caracterizado o sector dos museus nos últimos anos, constituem os principais activos deste sector. Reconciliar a conservação dos acervos, missão tradicional dos museus, com a criatividade necessária para divulgação de espaços e colecções, e captação e fidelização de públicos – este é o caminho que os museus estão a percorrer, seguros que a sua presença e actividade podem constituir-se como um importante elemento de transformação da sociedade num sentido construtivo.

O tema do Dia Internacional dos Museus 2013 está imbuído de optimismo, conciliando de forma dinâmica diversos pilares definidores dos museus contemporâneos, chamando a atenção para a natureza universal das instituições museológicas e para o seu impacto positivo nas comunidades. Esta conjugação de conceitos sintetiza a complexidade da missão e objectivos dos museus, sinalizando que estes estão destinados a contribuir para o desenvolvimento social.

Procurando contribuir para que cada museu organize e desenvolva um programa de actividades em sintonia com o tema do Dia Internacional dos Museus, o ICOM sugere cinco abordagens:

(i) Estruturas de educação informal – os museus educam de uma forma recreativa; eles constituem espaços de iniciação, recorrendo a meios e actividades que não estão normalmente disponíveis nos espaços de educação formal.

(ii)  Espaços enraizados num contexto social e territorial – os museus desempenham um papel não negligenciável no dinamismo dos territórios, conservando e valorizando os patrimónios e memórias, mas projectando-os no futuro dos territórios e comunidades.

(iii) Ligações inter-geracionais – os museus mantêm e dinamizam as ligações entre a comunidade e a sua história e são, por definição, espaços de encontro e diálogo entre gerações.

(iv) Valorização do património de forma sempre renovada – os museus são instituições em permanente renovação e que souberam ultrapassar paradigmas ultrapassados tirando partido de contextos e ferramentas tecnológicas para actualizar as suas formas de comunicação.

(v) Preservação dos bens patrimoniais com recurso a métodos de conservação inovadores – os museus têm vindo a adoptar os mais modernos métodos e técnicas de conservação das colecções, tornando-se em verdadeiros centros de inovação técnica e científica.

2. Amigos e camaradas: Há inúmeras sugestões para amanhã, com entradas à borla, em museus nacionais e particulares, com acesso a exposições temporárias, visitas guiadas,  etc. De Norte a sul do país, e ainda regiões autónomas. A dificuldade é escolher. Deixo aqui algumas sugestões que chegaram à nossa caixa de correio ou que fazemos nós mesmos... Que tal, por exemplo, atravessar a pé o aqueduto das águas livres (Museu da Água) ou visitar a exposição de fotografia do Eduardo Gageiro no Museu de Cerâmica de Sacavém ? Ou ainda o Museu da Lourinhã (mais conhecido por Museu dos Dinossauros)... Ou o Museu da Marinha... O Museu de Etnologia... Há pequenas e grandes museus a descobrir, perto da casa de cada um... Por exemplo, o Museu da Guerra Colonial, em Vila Nova de Famaliicão...

Saiam à rua, divirtam-se... e aprendam a amar os museus, que são sinónimo de Memória + Criatividade = Mudança Social... (LG/CV)

PS - Infelizmente não tive tempo de fazer mais seleções de museus, nomeadamente no norte e centro... Não há hoje uma terra que não tenha um um museu ou núcleo museológico... Mas vejam aqui a lista do IMC... E já agora acrescenta, em comentário, sugestões vossas... Aprendemos uns com os outros... Obrigados. 






















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Nota do editor:

Último poste da série> 16 de maio de 2013 >
Guiné 63/74 - P11576: Agenda cultural (271): No dia 8 de Maio foi apresentada no Porto a edição fac-similada do livro "Tarrafo"de Armor Pires Mota (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P11583: Foi cancelado o Seminário: "A Polícia Militar e o Direito Penal Militar no Estado de Excepção e de Guerra", por Sua Ex.ª o MDN [, Ministro da Defesa Nacional,] o considerar inoportuno (Coutinho e Lima / José Costa)

1. Mensagem do dia 15 de Maio de 2013 do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel na situação de Reforma (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné, 1968/70 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73):

Lamento informar que o Seminário sobre os 40 anos da Retirada de Guileje, que estava previsto para ser realizado na Academia Militar (Amadora), no dia 22 MAI 2013, fica sem efeito.

Fui informado pelo Director da PJM que cancelou o referido Seminário, porque o Ministro da Defesa Nacional não considera oportuno tal evento.
Nestas condições, solicito que seja publicado no nosso blogue a informação da não realização deste acontecimento.

Como é evidente, não tenho nenhuma responsabilidade do que aconteceu; de qualquer maneira, as minhas desculpas, porque fui eu que pedi a divulgação, no pressuposto que tudo estava a ser tratado convenientemente.

Um abraço
Coutinho e Lima


2. No dia 16 de Maio, recebemos a seguinte mensagem do SAj José Carlos Teixeira da Costa (PJM - Tesouraria):

Em virtude de não ter sido considerado oportuno, por parte de SUA EXA. O MDN, a realização do Seminário da PJM planeado para o próximo dia 22 de maio, informa-se que fica sem efeito o mesmo.

Luís Augusto Vieira
Cor AM “Cmd”
Director-Geral
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 12 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11558: Agenda cultural (270): Seminário: A Polícia Militar e o Direito Penal Militar no Estado de Excepção e de Guerra, dia 22 de Maio de 2013, pelas 09H00, na Academia Militar - Amadora (Coutinho e Lima / José Costa)

Guiné 63/74 - P11582: Em busca de ... (222): Quem confirma a ida de Brigitte Bardot às praias de Ponta Varela no início dos anos 60? (José Belo)

Praias de Ponta Varela na actualidade


1. Mensagem do nosso camarada José Belo (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, IngoréBuba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70), actualmente Cap Inf Ref a viver na Suécia:

Caríssimo Amigo.
Em 1969, na Guiné, ouvi pela primeira vez referências a que Brigitte Bardot terá tomado bom banho de mar em Ponta Varela, (nos inícios dos anos sessenta e antes da guerra se ter iniciado).
Terá aproveitado estadia em Dakar para se deslocar até esta praia guineense.

Agora, em Key West 2013, foi-me de novo referida esta "história", contada agora por turista francês de passagem, e a propósito de conversa sobre a Guiné.

Algum dos Camaradas saberá detalhes, ou dados mais concretos sobre este "banho de mar" tão especial?

Junto segue foto actual de Varela com um grande abraço.
José Belo

(PS: Se estiverem interessados numa lufada de ar árctico o blog da Lapónia tem agora nova morada "Floridiana" que é: laplandinkeywest.blogspot.com/)

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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11378: Em busca de ... (221): Camaradas do ex-1.º Cabo Pedro José Gonçalves da 1.ª Secção/3.ª Esquadra do Pelotão de Canhões S/R 1154 (José Martins)

Guiné 63/74 - P11581: Notas de leitura (481): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Janeiro de 2013:

Queridos amigos,
Creio não me exceder ao tratar este livro de António Carreira como uma obra ímpar no panorama das historiografia da Guiné.
É uma síntese muito bem elaborada destes séculos de presença portuguesa. Carreira desmistifica e chama os bois pelos nomes.
Deixa bem claro que se precisou de esperar pelo acordo luso-francês de 1886 para encontrar as potencialidades económicas da Guiné, a partir do novo quadro de fronteiras começa o comércio das sementes destinadas a óleos e sabões, que tanto interessarão a CUF, um pouco mais tarde. E as alianças dos portugueses com os Fulas serão estabelecidas nas operações de pacificação.
Para ler e para não perder.

Um abraço do
Mário


Os portugueses nos rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (2)

Beja Santos

Na recensão anterior, destacou-se a importância deste título fundamental de António Carreira, é uma investigação tão pertinente e rigorosa que merecia, com a maior urgência, e na falta de manuais históricos acessíveis, a sua republicação. Carreira destaca algumas das causas do fracasso da ocupação dos rios da Guiné, enumera as pontas, presídios e praças de tratos e resgates, faz uma súmula da situação até finais de 1600.

Temos agora o período que vai de 1700 até meados de 1800, caraterizado pela desorganização das trocas comerciais, avolumam-se as queixas, é um tempo de semiabandono, como alguém escreveu “As praças da Guiné viram-se na primeira parte do século XVII abandonadas de quase todos os brancos, que dantes ali mantinham considerável comércio, muito dele transportado para o Brasil”. Em Junho de 1707, o capitão-mor Paulo Gomes de Abreu de Lima informava Lisboa “Que em Cacheu não havia em pé um baluarte, nem restavam vestígios de fortificações; chamavam fortalezas a uma casa que de forte só tinha o nome”. Todos os depoimentos coevos apontam para a ruína das fortificações, insuficiências de guarnições militares, um estado de recessão comercial, ausência de navios de longo curso, falta de rendimentos para as mais elementares despesas. A despeito desta situação crítica, a documentação relativa ao período de 1788 a 1794 mostra que saíram de Cacheu e Bissau mais de 6 mil escravos encaminhados para o Maranhão e Pará.

Quando se chega a meados do século XIX, as praças existentes são: Bissau, Geba, Fá, Cacheu, Farim, Ziguinchor, Bolor, Bolama e Ilhéu do Rei. É neste período que se dão importantes lutas étnicas que levarão a novas arrumações da população. Segundo Carreira, é indispensável analisar o que era então o povoamento das regiões a partir do baixo Casamansa até ao rio Corubal e a sul deste até ao rio Cacine. A área que se designa por Grande Cabú era ocupada (crê-se) desde os séculos XIII/XIV por Mandingas do ramo Soninqué que se espraiavam para ocidente, até Farim e o Oio. O alto e o baixo Geba estavam ocupados por Beafadas e a oeste destes o território tinha predominantemente Balantas.

Por Bolola era conhecido todo o território compreendido até sul do Corubal até entestar com o rio Cacine, este a sul ocupado por Nalus e Landemãs, até então designados por Cocolis. No segundo quartel do século XVIII os Fulas penetraram no Cabú, os Mandingas deram o seu assentimento à fixação deles, a população Fula foi crescendo acentuadamente no tempo seguinte. Um ramo destes Fulas, os Fulas-Pretos, para escapar à escravização iniciou, em meados do século, o seu êxodo para o sul, atravessaram o Corubal, no território de Bolola. É um período de grandes batalhas em que o poder no Cabú fica na mão dos Fulas-Forros. Os Fulas-Pretos, mal chegados ao chão dos Beafadas quiseram, instalar-se, houve novas lutas étnicas. Entretanto, cerca de 1863-1864, Mussá Moló, invade o Cabú vindo de Casamansa. Anos depois o régulo suserano do Cabú decretou a anexação do território de Bolola (já então designado por Forriá). A luta transformou-se numa autêntica guerra santa e os derrotados foram submetidos pelos grupos islamizados dominantes: os Fulas-Forros e os Futa-Fulas. Sem se entender o papel conciliador das autoridades portuguesas com estes dominadores Fulas não se percebe a aliança que os Fulas irão estabelecer com as autoridades portuguesas até à independência da Guiné-Bissau.

No norte, fruto de uma total negligência das autoridades portuguesas, foi crescendo a influência francesa, como Carreira observa: “Com a ocupação pela França, em 1827, da barra do Casamansa, seguida da de Selho, em 1838, a assinatura do acordo de 1886 ratificou o poder francês na costa ocidental, designadamente no Futa-Djaló”. As autoridades portuguesas e francesas entenderam-se e foram cerceando o poder dos régulos. Os conflitos, com o novo traçado das fronteiras, não pararam. Carreira deplora o facto: “O traçado das fronteiras foi feito arbitrariamente, alheando-se das realidades, sem nenhum respeito pela posição dos grupos étnicos nem obediência a limites naturais do terreno”.

Findo o tráfico de escravos, as potências coloniais lançaram-se num novo quadro económico, vai ser o período da conquista de sementes para a produção de óleos comestíveis e para o fabrico de sabões. Carreira estudará aprofundadamente esta matéria na sua obra “Os documentos para a história das ilhas de Cabo Verde e rios da Guiné”. Como se compreenderá, a mancarra, o óleo de palma e coconote só se poderiam obter quando as populações abandonassem as guerras. É esse o móbil principal para as operações da pacificação e para lógica das alianças que as autoridades portuguesas irão estabelecer na Guiné.

António Carreira resume assim a situação entre 1700 e meados do século XIX: em pouco mais de século e meio, os portugueses tinham esgotado toda a capacidade de iniciativa, expulsos lentamente das várias zonas da costa, para depois se emprenharem no tráfico de escravos, já então como meros intermediários ou agentes de estrangeiros. A partir de 1886, ficaram encurralados num espaço geográfico cuja posse lhe veio a ser reconhecida internacionalmente e que na realidade se mostrava mais proporcionado com a sua efetiva capacidade realizadora.

O comércio na Guiné mudara radicalmente. As guerras e razias fizeram cessar em definitivo as caravanas que a Geba e a Buba vinham vender marfim, cera, bandas de algodão, couros, e a adquirir sal e bens de consumo corrente. Sem esse fluxo de negócios, urgia estimular novos processos agrícolas, data desse tempo uma série de iniciativas para potenciar a agricultura da Guiné. A título exemplificativo, recorda-se o famoso documento que o general Dias de Carvalho escreveu depois da sua prolongada estadia na Guiné e onde alvitrava uma série de culturas que se dariam bem com os solos guineenses. Essa tónica presidirá a um conjunto de tentativas que se estenderão até ao século XX, é o caso da tentativa de cultura açucareira no rio Gambiel, que será retomada ainda que sem êxito, no tempo de Luís Cabral.

O trabalho de António Carreira prossegue com a análise da situação de 1850 até ao dealbar do novo século. Regista que nesse período existia uma praça, quatro presídios, uma ponta ou um posto e a ilha de Bolama. E avança com dados retirados de vários relatórios, alguns deles com números desencontrados mas que surpreendem. Geba teria cerca de 3 mil habitantes, um forte núcleo cristão e uma guarnição de 6 praças. Em Fá havia uma casa comercial e um destacamento com 3 praças, o que mereceu a observação de Honório Pereira Barreto “pequeno e ridículo posto”. Cacheu era uma sombra do passado, mas mesmo assim tinha 150 habitantes brancos ou mestiços e uma guarnição de 41 praças. E à volta de Bissau a tensão era permanente, os régulos de Intim e Bandim não davam descanso à guarnição e aos comerciantes que viviam dentro da fortaleza.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11562: Notas de leitura (480): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11580: Blogpoesia (337): Meu testament (J. L. Mendes Gomes)



Meu testamento

por J. L. Mendes Gomes



[ex-alf mil, CCAÇ 728,
Cachil, Catió e Bissau, 
1964/66]



Se Deus um dia 
Quisesse fazer de mim uma árvore,
Só Lhe pediria para nascer 
Em Trás-os Montes.
Ao pé das pedras,
No meio das urzes.

Daria sombra e paz,
Respeitaria o sol
E bebia das fontes.
Cobriria meus ramos
Com muitos ninhos.
Beijaria as estrelas.
Todas as noites.
Passaria toda a minha vida,
De braços abertos,
Orando a Deus
Pelos meus vizinhos. 
Eternamente.
Oferecia minhas folhas mortas,
Para encher as camas
Daquela gente. 


E quando, um dia,
De velho, eu morresse,
Far-me-ia de lenha seca em brasa,
Para aquecer os lares
No rigor do frio.
E semear ao vento,
Em nuvens de fumo,
Minha alma acesa
De amor ardente.

Ouvindo canções dos Andes
Ovar, 16 de Maio de 2013
20h6m
Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes

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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11529: Blogpoesia (336): Suadê, nome de mãe (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P11579: Parabéns a você (576): António Pinto, ex-Alf Mil dos BCAÇ 506 e 512 (Guiné, 1963/65)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11570: Parabéns a você (575): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493 (Guiné, 1972/74)

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11578: In Memoriam (150): Henrique Rosa (1946-2013), ex-fur mil inf, Op Esp., CCAÇ 2614 / BCAÇ 2892 (Nhala e Qubeo, 1969/71), e ex-presidente da República da Guiné-Bissau, interino (2003/05) (Francisco Barroqueiro / Manuel Amaro)


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCAÇ 2614 (1969/71) > O fur mil ifn, op esp, Henrique Rosa, na margem esquerda  do Rio Corubal, nas proximidades de Aldeia Formosa.



Um homem, um empresário, um cidadão, um político que deixa saudades na Guiné-Bissau


Fotos: © Francisco Barroqueiro (2013). Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de 15 de maio, do nosso leitor (e camarada) Francisco Barroqueiro, amigo do Facebook. vivendo em Castelo de Vide:


Henrique Pereira Rosa 1946-2013

Natural de Bafatá;
Residente em Bissau:
Cidadão Luso-Guineense:
Falecido hoje na cidade do Porto após doença prolongada.
Ex-fur mil,  CCa. 2614 / BCaç 2892, Guiné 1969-1971
Ex Presidente da República da Guiné Bissau.


Caro Luís,

De facto, assim foi, estivemos na Guiné, eu, tu e o Henrique Rosa que foi a pessoa mais marcante que conheci naquelas andanças.

A ideia é mesmo publicar a notícia no blogue. Poucos o conhecem mas é justo que a notícia chegue a alguns mais. Haveria muito a dizer, mas por manifesta incapacidade tenho que deixar isso para outros mais capazes. Se o Manuel Amaro aqui estivesse, daria uma ajuda. É só uma notícia pequena, para memória, num sítio digno e relevante como é "nosso" blogue.
Creio que a legenda da foto (um sítio lindo) e o texto marcado são suficientes para a edição. O restante texto é pessoal.

Um abraço.
Francisco Barroqueiro


2. Mensagem do nosso tabanqueiro Manuel Amaro (ex-fur mil enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971), em resposta a um pedido de esclarecimento meu, sobre o Henrique Rosa:

Meu Caro Luís Graça:

O Henrique Rosa, falecido no dia 15 de maio de 2013, no Hospital de S. João, no Porto, era um cidadão guineense, de origem portuguesa.

Foi Furriel Miliciano de Infantaria, com a especialidade de Operações Especiais,  da CCAÇ 2614 / BCAÇ 2892 (Nhala e Quebo, 1969/71).

Conheci-o em Évora, antes do embarque [do batalhão]. E aí começamos a construir uma relação de amizade, que se manteve ao longo de toda a comissão de serviço.

Era um jovem desportista, com uma cultura política e social muito acima da média, no nosso escalão etário. Gerador de consensos, coisa tão necessária, naquele tempo, tal como hoje.

Nas minhas memórias da “Tropa”, anotei os nomes de alguns cidadãos de excecional qualidade humana: Henrique Rosa, Zé Teixeira e José F. Boita, são os primeiros.

Terminado o serviço militar, o Henrique Rosa regressou à sua vida familiar e empresarial, na Guiné. Em 2003 os autores do golpe de Estado que derrubou Kumba Ialá, convidaram-no e ele aceitou, a desempenhar o cargo de Presidente da República, interino, no período de transição até às eleições de 2005.

Desempenhou esta missão, como todas as outras, ao longo da sua vida, com grande competência e dedicação. Em 2009 e 2012, contra a sua vontade, acedeu à vontade dos amigos e candidatou-se, mas não foi eleito.

Um problema grave de saúde, que tratava em Portugal, há vários meses, levou-lhe a vida, no dia 15 de maio de 2013. Um dia destes, o corpo de Henrique Rosa fará a última viagem entre Portugal e a Guiné Bissau.

Um Abraço

3. Comentário do editor:

O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné apresenta à sua família, em Portugal e na Guiné-Bissau,   bem como aos seus antigos camaradas de batalhão sentidas condolência pela perda do homem bom, cidadão de referência e saudoso camarada que foi  o Henrique Rosa.

Infelizmente não temos ninguém, aqui na Tabanca Grande, a representar a CCAÇ 2614. Temos o Manuel Amaro, da CCAÇ 2615, que foi seu amigo, tendo esatdo juntos em Évora e depois em Aldeia Formosa. E podemos vir a ter o Francisco Barroqueiro se ele aceitar o nosso convite para formalizar a sua entrada nesta grande família bloguística que se reúne à sombra de um velho, mágico, frondoso, fraterno, solidário e protetor poilão, o da camaradagem criada e cimentada na Guiné, nos idos tempos de 1961 a 1974. (**)

A CCAÇ 2614 pertencia ao BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71), partiu para a Guiné em 22/10/1969 e regressou em 6/9/1971. Esteve em Nhala e Aldeia Formosa. Foi seu comandante o cap mil inf José Manuel Baptista Rosa Pinto.

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 8 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11542: In Memoriam (149): Maio de 1973 - Guidaje - Campo da morte para os: 1.º Cabo Mil Bernardo Moreira Castro Neves e Soldado António Júlio Carvalho Redondo do BCAÇ 4512; Fur Mil Arnaldo Marques Bento e Soldado Lassana Calissa da CCAÇ 14 (Manuel Marinho)

(**) Em 12/8/2011, o Francisco Barroqueiro mandou-nos a seguinte mensagem:
"Caro Amigo: Só há minutos descobri o blogue. Incrível! Trabalho fantástico. Lá está o camarada Manuel Amaro,  da 2615. Bons tempos! Maus momentos. Ou nem tanto. Tenho uma encomenda para ele, será possível obter o contacto do professor? Um Abraço."

Guiné 63/74 - P11577: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (49): Respostas (nºs 105/106/107): João Ruivo Fernandes (CART 3494, Xime, dez 1972 / jan 1973; e depois, Nova Lamego, 1973/74), Juvenal Candeias (CCAÇ 3520, Cacine, Cameconde, Guileje, 1971/74); e José Figueiral (CCÇ 6, Bedanda, 1970/72)


Resposta nº 105; João Ruivo Fernandes  [ex-fur mil, de rendição individual, CART 3494, Xime, dez
1972 / jan 1973; e depois, Nova Lamego, 1973/74]

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Em Fevereiro de 2013.

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

 Através da Internet.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

Desde 12 de Fevereiro de 2013

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Semanalmente.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Sim, vou enviar brevemente.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

 Sim, conheço.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Vou mais vezes ao Blogue.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

 As histórias que falam dos locais que me são familiares.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Não gosto nada de menos em especial.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

Representa o manter viva a memória dos locais e tempos que passei na Guiné.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Ainda não participei em nenhum.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Já pensei nisso mas não conheço camaradas que estivessem comigo no Xime ou Nova Lamego.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Penso que sim, mas eu sou um novato.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Devemos continuar a alimentar o Blogue.

Resposta nº 106 >  Juvenal Candeias
[ex-alf mil,  CCAÇ 3520, Estrelas do Sul, Cacine, Cameconde, Guileje, 1971/74]

Olá,  Luís!
Espero que estejas bem! Vamos lá vencer esta vergonhosa preguicite e, finalmente (já que não desistes!), responder ao teu questionário!



1) Descobri o blogue há cerca de 6 anos!

2) Uma cunhada terá ouvido falar da existência do blogue e, sabendo-me entusiasta das coisas e das gentes da Guiné, anotou e transmitiu-me o endereço.

3) Sou, há precisamente quatro anos, porque coincidiu com o meu 60º aniversário. [, desde 6 de maio de 2009]

4) Varia muito! Por vezes, várias vezes ao dia, outras vezes passo alguns dias, não muitos, sem por lá passar.

5) Tenho mandado alguma coisa, embora nos últimos tempos ande um pouco preguiçoso.

6) Claro que sim, e muitas vezes passo dela para o blogue.

7) Actualmente talvez.

8) Posso passar um dia no blogue a explorar sempre o mesmo tema! O facebook tem a vantagem de ires lá para qualquer outro assunto e acabares sempre na nossa página!

9) No blogue... gosto de tudo! Então? Não é um grande blogue? Verdade! O trabalho e esforço de todos que ali colaboram é demasiado bom para que me permita notar coisas menos boas! Quanto ao fb, ele não te dá para aprofundares os temas!

10) não tenho sentido essa dificuldade [, de acesso ao blogue].

11) O blogue permitiu-me, ao fim de muitos anos, escrever sobre coisas que ao longo dos anos tinha vindo a falar sobretudo com antigos camaradas e com os meus filhos, e sobre algumas de que nunca tinha falado e que estavam camufladas cá bem no fundo! Permitiu-me ainda recuperar antigas amizades e fazer outras com camaradas com quem nunca tinha falado! Enfim, permitiu-me viver e reviver Guiné! A página do facebook é, para mim, essencialmente uma via para o blogue!

12) Participei o ano passado.

13) Estive inscrito, mas a mudança de data caiu em cima de outro evento combinado há muito! Estou ainda a ver se consigo dar a volta para estar presente... e levar mais alguns!

14) Enquanto houver um ex-combatente da Guiné vivo... vai haver blogue!


Grande abraço Luís e vou ver se ainda consigo que nos encontremos no dia 8.
Enviado via iPad


Resposta nº 107 > José Figueiral [, ex-alf mil da CCÇ 6, Bedanda, 1970/72]


1) Suponho que em 2010.

2) Através de um camarada amigo.

3) Sim, desde 2010. [, membro da TG desde 8 de fevereiro de 2011]

4) Inicialmente,todos os dias. Agora, de tempos a tempos.

5) Os meus fracos conhecimentos de informática impedem-me de participar mais.

6) Sim e visito-a diariamente [, a nossa página no Facebook].

7) Ao facebook, diariamente e essa é a razão pela qual vou menos vezes ao Blogue.

8) O Blogue vale pelo imenso conteúdo nele existente.O Facebook é mais fácil de consultar, porque aparece diariamente.

9) Nada tenho a apontar.

10) Efectivamente, considero o acesso lento [, ao blogue].

11) O Blogue continuará a ser o livro aberto ou a Bíblia da Guiné. O Facebook é o jornal diário.
12) Não.

13) Não,mas participei e participarei sempre no Encontro Anual dos camaradas de Bedanda.

14) Continuar, sempre. Acabar,nunca. «Tudo vale a pena,se a alma não é pequena». Um abraço e o meu reconhecimento pelo vosso trabalho e dedicação.

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Guiné 63/74 - P11576: Agenda cultural (271): No dia 8 de Maio foi apresentada no Porto a edição fac-similada do livro "Tarrafo" de Armor Pires Mota (Carlos Vinhal)

No passado dia 8 de Maio foi apresentado no Porto o "Tarrafo", na versão fac-similada, talvez o mais famoso livro do grande escritor e primeiro repórter da guerra do ultramar, que dá pelo nome de Armor Pires Mota.

Fui encontrá-lo, ainda antes do início da sessão de apresentação do seu livro, no hall de entrada do edifício da Messe dos Oficiais do Porto, rodeado de alguns camaradas e amigos que lhe solicitavam o seu autógrafo nos livros que iam entretanto adquirindo.

Momento em que Armor Pires Mota dedicava o seu livro a um camarada de Unidade, tendo já em fila de espera os nossos tertulianos Marques Lopes (à esquerda), António Tavares (de costas) e o editor deste Blogue que estava por detrás da objectiva.

Abertas as portas do salão onde iria decorrer a sessão de apresentação, os lugares disponíveis foram ocupados na totalidade.

Deu início aos trabalhos o Coronel Manuel Barão da Cunha que fez uma retrospectiva das tertúlias sobre o "Fim do Império" que decorreram também fora da grande Lisboa. Na sequência desta iniciativa foram publicados vários livros, que o Coronel Barão da Cunha aproveitou para exibir aos presentes, que estão já no mercado livreiro à disposição de quem os quiser comprar.

Face ao êxito alcançado, estas tertúlias vão-se manter, com a expectativa de que a participação, principalmente a dos ex-combatentes, aumente de forma significativa. Vem a propósito deixar aqui a notícia de que nesta sessão de apresentação do livro do nosso camarada Armor Pires Mota foi batido o recorde de presenças no Porto, exactamente 50 pessoas.

Entretanto foi dada a palavra ao Dr. Barroso da Fonte, amigo pessoal de Armor Pires Mota, que iria fazer a apresentação de Tarrafo. Na nossa modesta opinião, não foi bem sucedido, talvez por estar um pouco adoentado e não ter preparado convenientemente a sua intervenção.

O Dr. Barroso da Fonte falando do autor do Tarrafo, seu amigo de longa data, realçando as suas qualidades de escritor e repórter de guerra. De destacar a presença, na Mesa, do Presidente da Liga dos Combatentes, General Chito Rodrigues, que se posicionou junto a Pires Mota.

No extremidade direita da Mesa, o Coronel Manuel Barão da Cunha, o grande impulsionador das tertúlias sobre o "Fim do Império".

Armor Pires Mota, autor das crónicas publicadas no Tarrafo, descreve a situação em que escrevia, as mesmas e como as mandava para a sua terra natal para serem publicadas no Jornal local.

A intervenção de Pires Mota foi de certa forma dramática, apesar dos anos volvidos, porque lembrou os momentos terríveis que as suas crónicas descrevem e as condições em que as escrevia. A terrível operação Tridente e outras situações, são narradas a quente, sem exageros ou disfarces e enviadas para a Metrópole para serem publicadas no Jornal da Bairrada. Estávamos em 1964. Mais tarde foram transformadas em livro que rapidamente foi retirado dos escaparates porque o regime não queria que os pormenores da guerra fossem do conhecimento público.
Ele, a sua família e os seus amigos, foram perseguidos pela PIDE até terem sido aprendidos todos os exemplares existentes. Armor confessa que deu todos os que tinha em seu poder, tal o medo de que foi apossado. Não queria que a família e os amigos pagassem a factura que iria ser pesada para todos. Milagrosamente escaparam alguns livros, graças a um amigo que os escondeu numa arca de cereais.

O General Chito Rodrigues fala de Armor Pires Mota, do "Tarrafo", da Guerra do Ultramar, da condição militar, dos ex-combatentes (afinal combatentes até aos fim dos seus dias) e do respeito que lhes é devido. O ponto mais alto da sessão.

Grande surpresa, quando o General Chito Rodrigues, tomando a palavra, fez aquilo que poderemos considerar a verdadeira apresentação de "Tarrafo". Exibindo um exemplar, "vítima" da censura, que retirou da Biblioteca da Liga, comparou-o com esta versão fac-similada, integral. Na sua opinião os dois livros devem serem lidos e comparados para se ter a verdadeira percepção da censura e da adulteração da obra original. Segundo Chito Rodrigues, além dos cortes, foram acrescentados ou alterados alguns parágrafos.

Leu partes do livro, nomeadamente as páginas 12 e 13, quando o Alf Mil Pires Mota tinha ainda pouco tempo de Guiné e mal entendia os naturais.

Para terminar, o General Chito Rodrigues dissertou sobre a condição militar, a guerra do ultramar e a condição de ex-combatente. Palavras apaixonadas e inflamadas que agradaram aos presentes, militares do QP e civis que temporariamente empunharam as armas ao serviço da Nação e agora estão botados ao esquecimento.

Deu por terminada a sessão o Coronel Barão da Cunha, que se despediu com um até breve. O Fim do Império há-de voltar ao Porto.

Já no hall de entrada, neste caso de saída, o editor do blogue trocou algumas palavras com o Coronel Barão da Cunha.

(Texto e fotos: Carlos Vinhal)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11558: Agenda cultural (270): Seminário: A Polícia Militar e o Direito Penal Militar no Estado de Excepção e de Guerra, dia 22 de Maio de 2013, pelas 09H00, na Academia Militar - Amadora (Coutinho e Lima / José Costa)

Guiné 63/74 - P11575: Op Lança Afiada (Setor L1, Bambadinca, 8 a 19 de Março de 1969): I Parte: Cerca de 1300 efetivos: 36 oficiais, 71 sargentos, 699 praças, 106 milícias e 379 carregadores

Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Ilustração de António Levezinho para a capa da História da CCAÇ 12 (1969/71).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2005)

Foto nº 41 >



 Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 45 >  Reabastecimento de um heli, provavelmente por ocasião da Op Lança Afiada (8 a 19 de março de 1969). Durante semana e meia, Bambadinca foi um correpio de helis, T6 e DO-27.



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 42 >   A presença do ainda brig António de Spínola, que acompanhou pessoalmente a Op Lança Afiada.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 45 >  Invólucros de granadas de canhão s/r 82, usados pelo PAIGC na noite de 28 de maio de 1969, no ataque de 40 minutos a Bambadinca, menos de dois meses e meio depois da Op Lança Afiada. O PAIGC utilizou dois brugrupos e 3 canhões s/r, aém de morteiros, RPG, metralhadores ligeiras e pesadas, e armas automáticas de assalto. Fotos do álbum do José Carlos Lopes, fur mil reabast, CCS/BCAÇ 2852 (1968/70).


Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)
A. Iniciada em 8 de Março de 1969 com a duração de 11 dias, a Op Lança Afiada foi uma das grandes operações que se realizaram na época, ainda no início do consulado do brigadeiro António Spínola (1968-73), um mês depois da trágica retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios).

A Op Lança Afiada envolveu cerca de 1300 homens, entre militares, milícias e carregadores: 36 oficiais; 71 sargentos; 699 praças; 106 milícias; 379 carregadores Houve cerca de duas dúzias e meia de flagelações das NT por parte dos guerrilheiros, os quais no entanto se furtaram ao contacto direto.

As populações sob controlo do IN (balanats e beafadas) passaram, com alguma segurança, para o lado do rio Corubal, margem esquerda. Os fuzileiros não puderam ou quiseram participar nesta operação, que também não envolveu outras tropas especiais (comandos e páras). Foi, pois, uma operação só com tropa macaca, embora a nível de comando de agrupamento (nº 2957), sendo comandada pelo cor inf Hélio Felgas [1920-2008]. Quase um terço dos efectivos eram carregadores.

Pensava-se que em Mina, junto ao Rio Corubal, na margem  estaria sedeado o Comando do Sector 2, da estrutura político-militar do PAIGC. Pensava-se também que havia, na mata do Fiofioli, um grande hospital, com médicos e enfermeiras... cubanos!

Do ponto de vista militar, a operação foi, senão propriamente um fiasco, uma frustração para as NT. Em contrapartida, houve inúmeras evacuações (n=110) dos nossos combatentes, devido a problemas de desidratação, desnutrição, esgotamento físico e stresse psicológico... É interessante a análise do autor do relatório sobre os sucessos e os insucessos desta megaoperação de...limpeza.

Damos hoje início à publicação do relatório da Op Lança Afiada (Na I Série do nosso blogue já publicámos alguns excertos substanciaos). Tratando-se de uma fotocópia de um documento dactilografado e  policopiado a stencil, com data de 1970, há erros e omissões que eu procurei colmatar ou corrigir, sempre que possível. Também substituímos algumas abreviaturas para tornar o texto mais legível para os nossos leitores, os  paisanos ou os que não fizeram tropa nem estiveram na Guiné.

É importante esta operação no seu contexto. Estava-se então em plena época seca: o capinzal já não resiste às granadas incendiárias e as clareiras, abertas pelas queimadas na savana arbustiva, deixam entrever a imensa mole de vegetação tropical para além da qual fica tabanca di bandido, em florestas sombrias onde coabitam dginé & najoré, e que na algaraviada dos meus queridos fulas  (da CCAÇ 12) queria  dizer irãs, diabos, diabretes, duendes e toda a espécie de espíritos (bons e maus)…

O objectivo da operação é, como sempre, aniquilar, capturar ou, no mínimo, expulsar o IN, destruir todos os seus meios de vida e recuperar a população sob o seu controlo... (À força, se a dita população não quiser voltar a viver sob a nossa bandeira e a nossa soberania).

A ideia de manobra é simples: da Ponta do Inglês (antigo destacamento da CART 1746, evacaudo em 7/8 de outubro de 1968) à mata do Fiofioli, da estrada Mansambo-Xitole à Ponta Luís Dias (outrora um florescente entreposto comercial à beira rio) um enorme cilindro compressor irá empurrando tudo o que for balanta, beafada e bicho do mato para o Rio Corubal onde os esperam os pássaros de fogo dos tugas, os hipopótamos, os jacarés, as formigas carnívoras, os jagudis...

Oficialmente o dispositivo do IN na área compreendida entre a linha geral Xime-Xitole e a margem direita do Rio Gorubal foi desarticulado — um eufemismo, de resto, muito utilizado nos nossos relatórios militares para justificar resultados mais morais e psicológicos do que materiais em operações desta envergadura, e que quando muito só se realizam de dois em dois anos (Na verdade, não era todos os dias que nós podíamos, no TO da Guiné,  dar ao luxo de mobilizar o equivalente a um agrupamento, ou seja, 8 companhias, fora os carregadores civis).

Na prática, os roncos não foram espectaculares: para além de algumas toneladas de arroz destruídas e de umas tantas casas de mato ou cubatas queimadas, enfim, para além de alguns contactos com o IN, sempre à distância, “o que contou sobretudo foi termos penetrado em santuários do IN tão míticos como a mata do Fiofioli” (dizia-me um furriel da velhice com quem gostava de conversar do passado recente, em Contuboel, em junho de 1969).

B. Em Contuboel, verdinho que nem um periquito, fiquei a saber que o Fiofioli era um sítio tão temível para os tugas da Zona Leste como, noutros sectores, o Boé, o Cantanhez, o Morès, o Choquemone, o Caresse ou a ilha do Como.
— Afinal, nem hospital nem enfermeiras cubanas nem sequer o fantasma do Nino vestido à cowboy — comentava, entre irónico e desapontado, à mesa da lerpa, um outro furriel da velhice de Contuboel — Foi só por dizer que estivemos na mata do Fiofioli… Nem sequer fiz o gosto ao dedo!

O que eu na altura, pira,  pude concluir destas conversas entre velhinhos de barba rija, no meio de rodadas de cerveja e de uísque, é que depois do inferno de Madina do Boé (em 6 de fevereiro de 1969), a Lança Afiada teve um certo sabor a vitória para as NT.

0 que se passara, entretanto, é que, na impossibilidade de resistir abertamente à contrapenetração das NT, a guerrilha ensaiara algumas manobras de diversão pelo fogo, enquanto as populações sob o seu controlo, previamente alertadas, se metiam na arca de Noé (quiçá com alguma a bicharada do mato, os porcos, as galinhas, que puderam salvar), cambando o Rio Corubal e pondo-se a salvo na outra margem... Em suma a velha táctica do conhecido mestre escola chinês, Mao Tsé Tung: “dispersar quando o inimigo ataca, reagrupar quando o inimigo retira”…

Um mês depois, e quando os tugas voltavam a dormir de cu para o ar, preparando-se para hibernar nos seus campos fortificados durante a estação das chuvas, os diabos negros da floresta desencadeavam uma série de acções que culminariam no ataque em força, inesperado e espectacular, a Bambadinca, a sede do comando do setor L1 até então inviolável...

Foi a 28 de Maio de 1969, à noite, estávamos nós a chegar a Bissau. Quando passámos por Bambadinca, oito dias depois, a caminho de Contuboel, não se falava de outra coisa…
— Podíamos ter sido todos mortos ou apanhados à unha, tal era a bandalheira em que estava o quartel  — confidenciava-me o meu conterrâneo e amigo, o Agnelo Ferreira, 1º cabo telegraf inf da CCS.

Ao que parece, a tranquilidade era tanta que se faziam quartos de sentinela... sem armas! Era o que se dizia, nunca apurei a verdade... Ao que soube mais tarde (e confirmei na história da unidade), o comandante do batalhão (ten cor inf Pimentel Bastos), o major de op e inf  Viriato Amílcar Pires da Silva, o comdante da CCS (cap inf Eugénio Batista Neves)   e o comandante da CCAÇ 2405 (cap mil inf António Dias Lopes) serão, pouco tempo depois,  transferidos por ordem do Com-Chefe, "por motivos disciplinares". Era o tempo em que o ainda brigadeiro António de Spínola se tornou o terror dos comandos de batalhão. (LG)

Op Lança Afiada (8 a 19 de Março de 1969) - I parte

1. Situação: Inimigo



1.1. Desde há anos que a região da margem direita do Rio Corubal até à linha Xime-Xitole, é considerada uma zona de refúgio e preparação do IN [inimigo]. A profundidade continental da região, a sua espessa arborização (excepto na franja marginal do Rio), a falta de trilhos e caminhos, a grande distância a que ficam os aquartelamentos mais próximos (Xime, Mansambo e Xitole), tudo isto são características que convidam o IN a permanecer na Zona, em relativa tranquilidade.

O IN sabe que detecta facilmente qualquer tentativa de aproximação das nossas Forças Terrestres. Se a aproximação terrestre é difícil, a actuação das FN [Forças Navais] parece facilitada pela existência do Rio Corubal. E a tal ponto que, em estudo realizado por este Comando, a área da margem direita do Rio Corubal, desde a Ponta do Inglês a Cã Júlio, foi considerado uma área que devia ser batida pelas NT [Nossas Tropas] em operação conjunta de meios navais e helitransportados.

A deficiência destes meios contribuiu para o quase completo sossego em que o IN tem vivido na área, controlando uma população de balantas e beafadas que o alimenta e que se reputa numerosa. E determinou a realização da Op Lança Afiada com o emprego exclusivo de forças terrestres.


1.2. O reconhecimento aéreo e as poucas operações realizadas não dão uma ideia muito clara acerca do IN na região considerada. Admite-se no entanto que existam na região pelo menos 5 bigrupos e um grupo de artilharia.

As acções ofensivas do IN tem sido relativamente espaçadas e dirigidas contra o Xime, Mansambo e Xitole, além de emboscadas nas estradas Xime-Bambadinca e Mansambo-Xitole e de penetrações contra tabancas fiéis na direcção do [regulado do] Cossé e na área entre o Xitole e Saltinho.

Embora apresentando bom potencial de fogo (canhão s/r, mort 82 e 60, LGFog, etc.), o IN continua a mostrar uma execução deficiente. As reacções à actividade das NT não têm sido muito fortes. Mas os poucos trilhos de acesso estão normalmente armadilhados. O IN embosca por vezes as NT quando regressam a quartéis. Além disso tem tiro de Mort 82 preparados sobre os seus próprios acampamentos, executando-os quando as NT os ocupam. E as arrecadações de material e armamento encontram-se em geral afastados dos acampamentos.

De uma maneira geral podem considerar-se as seguintes áreas principais de concentração IN:

1 – Poindon;
2 - Baio-Buruntoni;
3 - Gã Garnes (Ponta do Inglês);
4 - Ponta Luís Dias (Calága) – Gã João;
5 - Mangai -Tubacuta;
6 - Madina Tenhegi;
7 - Fiofioli;
8 - Cancodeas;
9 – Mina – Gã Júlio;
10 – Galo Corubal – Satecuta;
11- Galoiel.


1.3 [Vd. cartas do Xime, Fulacunda e Xitole]

a) Área de Poindon:

Localização aproximada – (1500 1155 B2). RVIS efectuado em Novembro de 1968 revelou que toda a área se encontrava muito povoada tendo sido referenciadas mais de 15 casas de mato,  distribuídas por 2 núcleos. As bolanhas estavam cultivadas.

b) Área de Baio-Buruntoni:

Baio – Localização aproximada: (1500 1150 G7); deve ser uns dois a três km a Oeste. Chefe: Mário Mendes. Efectivo aproximado: 1 bigrupo dividido com Varela.

Burontoni – Localização aproximada: (1500 1150 G7) e (1455 1150 A 7). Efectivo aproximado: 100 homens: Armamento: MP, Mort 82 e 650, LGRFog.





c) Área de Gã Garnes (Ponta do Inglês):

Localização aproximada – (1500 11540 B5-5) com trilhos de acesso a Baio e à Ponta João da Silva. O itinerário a seguir quando se vem da Ponta do Inglês atravessa o Rio Buruntoni em (1500 1150 A2 -82). Efectivos e armamento: mais de 15 homens com Mort, LGFog, etc.




d) Área de Ponta Luís Dias – Gã João:

Ponta Luís Dias – Localização: (1505 11?3 F3 ou G2 G0-44). O itinerário mais fácil parece ser pela margem do Rio Corubal mas na época seca pode ir-se partindo de Gã Garnes. Efectivos: Cerca de 25 (?) elementos, armados de MP, ML, Mort 82 e 60, LGFog., etc. Consta talvez (?) 1 Canhão s/r em Ponta Luís Dias, apontando para o Corubal.

Gã João - Localização: (1505 1150 H5 ou I6 ou 13-55).Acessos idênticos ao acampamento de Ponta Luís Dias. Pode ficar à direita da picada Ponta Luís Dias – Ponta do Inglês sobre um trilho que parte desta. Foi localizado um grupo de casa em 1505 1150 G9-2.





e) Área de Mangai – Tubacuta:

Mangai – Localização: (1505 1145 G8). O acesso é mais fácil pela margem do Corubal. Por terra o acesso mais fácil parece ser por Madina Tenhegi (1500 1150 E2). Efectivos: 1 Gr Artilharia, parte em Tubacuta.

Tubacuta – Localização: (1500 1145 B9 B6 ? ), entre a tabanca e a Casa Gouveia, ao pé da bolanha. O acesso é mais fácil pela margem do Rio Corubal ou partir de Madina Tenhegi. Efectivos: mais de 100 homens com cubanos.

f) Área de Madina Tenhegi:

Não há referências sobre acampamentos IN.

g) Área de Fiofioli:

Localização: (1500 1145 E4 ou D5). Não são conhecidos os acessos à área. A mata do Fiofioli é muito [ densa ? ] e está praticamente cercada por bolanhas que o IN provavelmente baterá. Efectivos: talvez 1 bigrupo. Consta existir um hospital, com médicos cubanos.

h) Área de Cancodeas:

Cancodea Balanta – Localização: (1500 1145 E3). Efectivos: 50 homens armados.

Cancodea Beafada – Localização: (1500 1145 G2)




i) Área de Mina – Gã Júlio:

Mina – Localização: Em (1500 1145 h6 ou I6), na mata próxima da tabanca, dividida em dois núcleos, afastados cerca de 400 metros. Um núcleo é formado pelas instalações de pessoal e pelo posto de rádio. Parece ser aqui o comando do Sector 2 do IN. Consta haver uma enfermaria com cubanos. Há quem diga existir 200 elementos IN. Mas há quem diga serem poucos. A reacção à operação dos páras em 16 de Dezembro de 1968 foi nula. Em Novembro de 1968 foi indicada a existência de canhão s/r, 10 LGFog, 5 metralhadoras Degtyarev, 1 morteiro 60, etc.

Gã Júlio – Localização: (1500 1145 D4 ou E4). Não há outras indicações.


j) Área de Galo Corubal – Satecuta:

Galo Corubal – Localização (1455 1145 D4 ou E4), no fundo do palmar e a cerca de 300 m do Rio Corubal. O acesso tem sido feito pelo Norte do Rio Pulon desde a estrada Xitole-Mansambo, mas as NT têm-se perdido por vezes. O acesso, através do Rio Pulon, próximo da foz, por Seco Braima, pode ser efito na época seca. Efectivos e armamento: Considerados poucos, mas com MP, ML, Mort LGRFog.

Satecuta – Localização (1455 1145 D2 ou E2 ou F2), a oeste de Seco Braima. Acesso idêntic o ao de Galo Corubal. Em meados de 67, apresentava grande actividade IN. O acampamento foi detsruído em Maio de 68, baixando a actividade IN. Efectivos: ignoram-se mas parecem dispor de MP, ML, Mort LGRFog.



l) Área de Galoiel:

Localização (1455 1150 F1) próximo de Galoiel. Ataque das NT em 28 de Novembro de 1968 repelido pelo IN. Novo ataque em 23 de Dezembro não tendo o IN oferecido quase resistência. Efectivos entre 20 a 30 elementos, armados com LGRFog, Mort 82, ML, etc.


Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas).



1.4. Admite-se que, sendo a Op Lança Afiada, uma operação demorada, o IN tenha possibilidade de reforçar os seus bigrupos, exercendo um esforço sobre este ou aquele dos nossos destacamentos. Admite-se também que quer as populações civis sob controlo In quer o próprio IN atravessem de noite o Rio Corubal, furtando-se assim ao contacto com as NT.


2. Missão:

- Atacar e destruir ou capturar o IN em toda a região da margem direita do Rio Corubal, entre este rio e a linha Xime-Xitole;

- Nomadizar na região procurando trilhos que serão imediatamente explorados;

- Capturar a população civil;

- Destruir todos os meios de vida encontrados e que não possam ser oportunamente transportados.


Carregadores do PAIGC. Fonte: Regiões Libertadas da Guiné (Bissau). Pequim: Edições em Línguas Estrangeiras. Agência de Notícias Xinhua. 1972.© Agência de Notícias Xinhua (1972).


3. Força executante

a. Comandante: Coronel Hélio Felgas.

b. Comandantes das sub-unidades:

[Vd. Caixa a seguir]



[Observações: O ten cor inf Pimentel Bastos era o cmdt do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70; Dest A: CART 2338: Não temos ninguém que a represente no blogue: é contemporânea da CART 2339, passou por Fá Mandinga, Nova Lamego, Buruntuma e Pirada, 1968/69; Dest B: CART 1746, Xime; Dest C: CART 1743, passou por Tite, Bissássema, Jabadá, Nova Sintra, Bissau, 1967/69; Dest D: CCAÇ 2403, passou por Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga,  Olossato, Mansabá, Bissau, 1968/70; era comandada pelo cap inf Hilário Peixeiro, nosso tabanqueiro] (LG)





[Observações: Agrupamento tático sul: Ten Cor Jaime Tavares Banazol; Dest F &gt: CART 2339 (Mansambo): um  dos oficiais listados é o nosso camarada Torcato Mendonça;  Dest G: CCAÇ 2405 (Galomaro): os dois alf mil referidos são membros da nossa Tabanca Grande: Paulo Raposo e Victor David.:Dest H: CART 2413 (Xitole); Dest I: CCAÇ 2406 (Saltinho).] (LG)



c. Meios



d. Organização

Foram constituídos 2 agrupamentps táticos, o do Norte e o do Sul, cada qual com 4 Dest. O Dest E reforçou sucessivamente os 2 Agerupamentos Táticos,

e. Alterações feitas à organização regulamentar

(1) Pessoal - [Omisso]
(2) Armamentio - Nada
(3) Equipamentp - Nada
(4) Munições - Nada
(5) Material especial distribuído - Potes fumo, redes mosquiteiras e pomada repelente, tudo contra ataques de abelhas. Sacos de linhagem para o arroz capturado.
(6) Material de transmissões - Utilizados  postos ANPRC (Ar-Terra), DHS (Terra-Terra e Ar-Terra), AVF ou AVP. OS postos ANGRC-9 com que se inicvou a Operação  froam recolhidos ao segundo u terceiro dia por inúteis.

(continua)


Fonte: Extratos de: Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Cap II. 48-54. Classificação: Reservado  [Agradeço ao Humberto Reis ter-me também facultado uma cópia deste documento em formato.pdf e em papel]

______________

Nota do editor:

(*) I Série > poste de 15 de outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli