quinta-feira, 16 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11576: Agenda cultural (271): No dia 8 de Maio foi apresentada no Porto a edição fac-similada do livro "Tarrafo" de Armor Pires Mota (Carlos Vinhal)

No passado dia 8 de Maio foi apresentado no Porto o "Tarrafo", na versão fac-similada, talvez o mais famoso livro do grande escritor e primeiro repórter da guerra do ultramar, que dá pelo nome de Armor Pires Mota.

Fui encontrá-lo, ainda antes do início da sessão de apresentação do seu livro, no hall de entrada do edifício da Messe dos Oficiais do Porto, rodeado de alguns camaradas e amigos que lhe solicitavam o seu autógrafo nos livros que iam entretanto adquirindo.

Momento em que Armor Pires Mota dedicava o seu livro a um camarada de Unidade, tendo já em fila de espera os nossos tertulianos Marques Lopes (à esquerda), António Tavares (de costas) e o editor deste Blogue que estava por detrás da objectiva.

Abertas as portas do salão onde iria decorrer a sessão de apresentação, os lugares disponíveis foram ocupados na totalidade.

Deu início aos trabalhos o Coronel Manuel Barão da Cunha que fez uma retrospectiva das tertúlias sobre o "Fim do Império" que decorreram também fora da grande Lisboa. Na sequência desta iniciativa foram publicados vários livros, que o Coronel Barão da Cunha aproveitou para exibir aos presentes, que estão já no mercado livreiro à disposição de quem os quiser comprar.

Face ao êxito alcançado, estas tertúlias vão-se manter, com a expectativa de que a participação, principalmente a dos ex-combatentes, aumente de forma significativa. Vem a propósito deixar aqui a notícia de que nesta sessão de apresentação do livro do nosso camarada Armor Pires Mota foi batido o recorde de presenças no Porto, exactamente 50 pessoas.

Entretanto foi dada a palavra ao Dr. Barroso da Fonte, amigo pessoal de Armor Pires Mota, que iria fazer a apresentação de Tarrafo. Na nossa modesta opinião, não foi bem sucedido, talvez por estar um pouco adoentado e não ter preparado convenientemente a sua intervenção.

O Dr. Barroso da Fonte falando do autor do Tarrafo, seu amigo de longa data, realçando as suas qualidades de escritor e repórter de guerra. De destacar a presença, na Mesa, do Presidente da Liga dos Combatentes, General Chito Rodrigues, que se posicionou junto a Pires Mota.

No extremidade direita da Mesa, o Coronel Manuel Barão da Cunha, o grande impulsionador das tertúlias sobre o "Fim do Império".

Armor Pires Mota, autor das crónicas publicadas no Tarrafo, descreve a situação em que escrevia, as mesmas e como as mandava para a sua terra natal para serem publicadas no Jornal local.

A intervenção de Pires Mota foi de certa forma dramática, apesar dos anos volvidos, porque lembrou os momentos terríveis que as suas crónicas descrevem e as condições em que as escrevia. A terrível operação Tridente e outras situações, são narradas a quente, sem exageros ou disfarces e enviadas para a Metrópole para serem publicadas no Jornal da Bairrada. Estávamos em 1964. Mais tarde foram transformadas em livro que rapidamente foi retirado dos escaparates porque o regime não queria que os pormenores da guerra fossem do conhecimento público.
Ele, a sua família e os seus amigos, foram perseguidos pela PIDE até terem sido aprendidos todos os exemplares existentes. Armor confessa que deu todos os que tinha em seu poder, tal o medo de que foi apossado. Não queria que a família e os amigos pagassem a factura que iria ser pesada para todos. Milagrosamente escaparam alguns livros, graças a um amigo que os escondeu numa arca de cereais.

O General Chito Rodrigues fala de Armor Pires Mota, do "Tarrafo", da Guerra do Ultramar, da condição militar, dos ex-combatentes (afinal combatentes até aos fim dos seus dias) e do respeito que lhes é devido. O ponto mais alto da sessão.

Grande surpresa, quando o General Chito Rodrigues, tomando a palavra, fez aquilo que poderemos considerar a verdadeira apresentação de "Tarrafo". Exibindo um exemplar, "vítima" da censura, que retirou da Biblioteca da Liga, comparou-o com esta versão fac-similada, integral. Na sua opinião os dois livros devem serem lidos e comparados para se ter a verdadeira percepção da censura e da adulteração da obra original. Segundo Chito Rodrigues, além dos cortes, foram acrescentados ou alterados alguns parágrafos.

Leu partes do livro, nomeadamente as páginas 12 e 13, quando o Alf Mil Pires Mota tinha ainda pouco tempo de Guiné e mal entendia os naturais.

Para terminar, o General Chito Rodrigues dissertou sobre a condição militar, a guerra do ultramar e a condição de ex-combatente. Palavras apaixonadas e inflamadas que agradaram aos presentes, militares do QP e civis que temporariamente empunharam as armas ao serviço da Nação e agora estão botados ao esquecimento.

Deu por terminada a sessão o Coronel Barão da Cunha, que se despediu com um até breve. O Fim do Império há-de voltar ao Porto.

Já no hall de entrada, neste caso de saída, o editor do blogue trocou algumas palavras com o Coronel Barão da Cunha.

(Texto e fotos: Carlos Vinhal)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 12 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11558: Agenda cultural (270): Seminário: A Polícia Militar e o Direito Penal Militar no Estado de Excepção e de Guerra, dia 22 de Maio de 2013, pelas 09H00, na Academia Militar - Amadora (Coutinho e Lima / José Costa)

5 comentários:

Anónimo disse...

Já há data para a apresentação na zona da Grande Lisboa?

Luís Graça disse...

Saúdo o Armor Pires Mota e felicito-o por esta edição facsimilado do seu "Tarrafo". Agradeço ao nosso editor Carlos Vinhal por ter feito a cobertura do acontecimento, para o nosso blogue.

Há ano e meio atrás publicámos aqui vários postes, reproduzindo diversas páginas censuradas do "Tarrafo" (cotejando as edições de 1965 e 1970).

Hoje é fácil indignarmo-nos contra a censura da época e invetivarmos a toda poderosa polícia política... Ainda bem: censura e política política, de que Deus nos livre, meus amigos e camaradas! Ou nunca mais! Sei de que o Armor Pires Mota fala porque nessa altura eu era jornalista, e também conheci os maus humores e as diatribes dos censores...

Na altura, em setembro de 2011, eu escrvi:

(...) o livro foi imediatamente retirado do mercado, por iniciativa direta da polícia política de então ou, possivelmente, alertada por algum censor mais sensível ao efeito 'dissolvente' (como então se dizia…) e 'desmoralizante' que a leitura do livro poderia ter nos mais incautos e jovens leitores portugueses (bem como nos seus pais, preocupados pela mobilização crescente dos seus filhos para os longínquos teatros de operações de África: Angola, Guiné e Moçambique), face à realidade nua e crua da guerra da Guiné, tal como era descrita, pela primeira vez, na primeira pessoa do singular, e para mais com o inegável talento de um jovem e promissor escritor, nascido e criado na região da Bairrada"…

De algum modo esquecido e injustiçado, no imediato pós-25 de abril, O Armor Pires Mota figura hoje entre os nossos escritores da guerra colonial, de primeiríssima água (se considerarmos a sua obra decisiva, o romance "Estranha Noiva de Guerra" (1995), como já o sublinhou o nosso crítico literário Beja Santos.

Reparte-se que o seu nome não consta sequer da pioneira antologia, editada pelo Círculo de Leitores, em 1988, sob a direção literária de João de Melo: "Os anos da guerra"... O escritor açoriano e ele próprio ex-combatente, em Angola, deveria considerar na época o Armor Pires Mota como um mero cronista 'patriótico'...

Acho que é também um bom serviço à nossa "causa comum" (a de não deixar esquecer e branquear a guerra da Guiné, 1963/74) esta nova edição do "Tarrafo".

_________________

28 DE SETEMBRO DE 2011

Guiné 63/74 - P8830: Notas de leitura (278): Tarrafo, de Armor Pires Mota: censura e autocensura, em tempo de guerra. Cotejando as edições de 1965 e 1970 (Parte I) (Luís Graça)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/09/guine-6374-p8830-notas-de-leitura-278.html

JOSÉ NUNES disse...

Tenho a Edição de 1970.
Já muito corcomida pela traça pois andava perdida no meio de revistas antigas,reli com muit a emoção recentemente.
José Nunes
BENG 447
Brá 68/70

Anónimo disse...

Guardo com especial carinho esta obra literária sobre a guerra colonial.

A proveito também para dizer que na mesa de honra se encontrava o Sr.Coronel "comando" José Manuel da Glória Belchior,presidente da liga dos combatentes da delegação do Porto, que faz o favor de ser meu amigo.

C.Martins

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Não tenho o livro mas tenho curiosidade em o ler. Irei procurar.
Aproveito para salientar os dotes de repórter do nosso co-editor Carlos V.

Abraço
Hélder S.