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quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26415: Efemérides (448): o ataque a Tite, em 23 de janeiro de 1963, há 62 anos, na versão do Arafan Mané (1945-2004), um "cabra-macho" de 17 anos que, com outros ainda mais novos (Malan Sanhá, 1947-1978), deu o primeiro tiro simbólico de um guerra estúpida e inútil (Luís Graça / José Teixeira)


Arafan Mané  (1945-2004), com uma "costureirinha", s/d.
Morreu num hospital em Madrid.
Foto do Arquivo Amílcar Cabral / Casa Counm.
Com a devida vénia......



Malan Sanhá (1945-c.1978), s/d. Com uma Kalash.
Terá sido executado no tempo do Luís Cabral.
Foto do Arquivo  Amílcar Canral
/ Casa Comum

Com a devida vénia...

 


1. É sabido que a guerra na Guiné não começou nesta data, 23 de janeiro de 1963...Mas o Amílcar Cabral e sua máquina de propaganda aproveitaram a boleia, tal como já tinham "capturado", indevidamente, outra data "histórica", o 3 de agost0 de 1959 (o "massacre do Pidjiguiti").  

Não sei o que os "hagiógrafos" de Amílcar Cabral (cujo centenário passou em 2024) dizem sobre usto:  de qualquer modo, à revelia dos órgãos do "poder político" do PAIGC (e portanto do próprio Amílcar Cabral), dois "putos", biafadas, Arafan Mané, de 17 anos,  e Malan Sanhá, de 15 anos,  lançaram um ataque aventureiro e suicida ao quartel de Tite... 

Nesta ação, em que arrastaram também elementos civis das imediações (estamos em pleno "chão biafada", pelo que eles jogavam em casa...), terão morrido 8 dos atacantes e 1 militar das NT.  

Acrescente-se que foi um precedente gravíssimo num partido que sempre fez questão, durante a "guerra de libertação",   de dizer aos quatro ventos, nos areópagos internacionais,  que  subordinava o "poder militar" ao "poder político"... Mas uma coisa é a teoria (e a propaganda), outra a "praxis" (e a dura realidade dos factos)...

A partir daqui estavam lançados os dados: Amílcar Cabral  acabou, infelizmente para ele,  e para os nossos dois povos, o  português e o guineense,  por escolher o caminho das armas (logo da violência e do terror, "revolucionários") e traçar o seu próprio  trágico destino... Ele justificava-se, argumentado que Salazar não lhe deixou outra alternativa.


2. Já aqui falámos, "ad nauseam", desta data. Inclusive há as versões de um lado (o PAIGC) (*) e do outro (as NT) (**), sobre os acontecimentos em Tite, em 23 de janeiro de 1963.

É justo lembrar hoje e aqui o magnífico trabalho que teve, há 8 anos atrás,  o nosso amigo e camarada José Teixeira (foto à direita), cofundador e régul0 da Tabanca de Matosinhos (e testemunha do absurdo da guerra na região de Forrerá, em 1968/70...), ao disponibilizar em quatro postes, publicados em finais de 2016,  um documento raro, que na altura estava "on line" (e que infelizmente já não está), contendo a "entrevista histórica", de 2001,  do homem (aliás, um miúdo de 17 anos) que deu  "o primeiro tiro" na guerra...justamente em 23 de janeiro de 1963, às 01h45 (*). 

Tiro simbólico... Já se tinham dado outros, que não ficam na História... E uns meses antes, em meados de 1962, o Amílcar Cabral iria perder o primeiro dos seus comandantes, formados na China, o Vitorino Costa, cuja cabeça será levada como troféu e instrumento de terror para Tite, pelo cap inf José  Curto, cmdt da CCAÇ 153 (Fulacunda, 1961/63).

Vale a pena reproduzir um excerto do preâmbulo que o Zé Teixeira escreveu na altura (Poste P16794), sobre "o texto e o contexto" desta entrevista de 2001, dada ao jornal "O Defensor – Orgão de Informação Geral do Estado Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau", e reproduzida em 2015 no sítio das "FARP – Forças Armadas Revolucionárias do Povo", por iniciativa do major Ussumane Conaté, diretor da publicação.
 
(...) Neste caso concreto, estamos a tomar conhecimento de um testemunho de alguém que vivenciou o ataque a Tite. Foi o seu comandante, mas do outro lado da barricada, logo, o relato dos acontecimentos que viveu e a visão global do ataque são à partida diferentes (e tão "respeitáveis", como os nossos relatos). São estes conjuntos de pontos de vista, diferentes entre si, e muitas vezes contraditórios, dos acontecimentos que vão permitir escrever a História.

É comum afirmar-se que a guerra colonial na ex-província da Guiné teve o seu início com um ataque a Tite na célebre noite de 22 para 23 de janeiro de 1963, Aliás, o próprio Amílcar Cabral afirmou-o uns dias depois.

Na realidade, este ataque, pela sua dimensão e resultados, com mortos e feridos de ambas as partes em contenda, assinala simbolicamente a abertura das hostilidades.

E, no entanto, foi um acontecimento fortuito, desorganizado, sem comando definido e sobretudo à revelia dos órgãos do PAICG. Assim o afirmou, em 2001, o coordenador do ataque, o então coronel Arafan Mané.

Segundo ele, a guerrilha, à data, já era um facto no Norte, no Centro Sul e Sul desde 1961. Tite já terá sido atacada em 1962. As regiões do Tombali e Quínara estavam a fervilhar numa luta surda entre as forças portuguesas e o PAIGC, com muitas mortes (assassínios) na população, da responsabilidade de ambos os intervenientes. 

Esses primeiros tempos foram de terror e contraterror, subversão e contraversão... Uma época muito mal conhecida (e pior estudada)... 

Revivo com saudade o meu amigo Samba, de Mampatá Foreá, infelizmente já falecido há muitos anos. Sargento da milícia, imã da comunidade muçulmana local (Fula). Homem culto, excelente cozinheiro, que deixou Bissau para regressar à sua terra, o Regulado Foreá, e defender o seu povo. Muitos serões passámos em amena conversa, onde a religião e o drama da Guiné eram assunto.

Recordo, apesar da poeira do tempo, uma conversa sobre a forma como o inimigo procurava conquistar aderentes à força, no início da luta. 

Eles, dizia-me, o PAIGCV, entravam, armados, pelas tabancas dentro, e tentavam convencer o chefe da tabanca a entregar os jovens para as forças da guerrilha. Se não o fizesse, era morto ali mesmo, e os homens válidos eram convidados a segui-los ou em caso de resistência eram forçados, com muitas mortes pelo meio.

Não foi por acaso que o Amílcar Cabral convocou o Congresso em Cassacá, em 1964. Um dos objetivos deste Congresso, foi acabar com as barbaridades, as arbitrariedades e os abusos de poder, praticadas por alguns chefes de guerrilha, sem qualquer preparação política, de modo a que o povo voltasse a ganhar a confiança no Partido, nos seus dirigentes e no destino da luta de libertação nacional.

Muitos anos mais tarde, em 2008 no Simpósio Internacional de Guileje, tive oportunidade de conhecer e conversar com um ex-combatente das FARP da Guiné-Bissau que me tinha atacado várias vezes em Mampatá e na estrada de Gandembel, em 1968. É dele esta frase, que recordo com emoção:

“Guerra é guerra, meu 'ermon', quando passa não deixa saudades, mas, muitas amizades, neste mundo perdido. Os antigos inimigos se procuram, para saldar as contas com um abraço sentido.” 

Dizia-me ele: "Desculpa. Eu fui apanhado na minha tabanca, tinha quinze anos."

Mas não pensemos que as autoridades portuguesas ofereciam mel e pão aos guineenses para os conquistar para a sua causa. Os factos narrados nesse Simpósip, por vítimas guineenses, que fugiram para o mato, creio que por medo (alguns) e posteriormente integraram a guerrilha, são de fazer arrepiar o mais “durão”.

Era o tempo do “chapa ou fogo” na versão mais agressiva do temido e odiado capitão José Curto por parte dos guineenses afetos ao PAIGC (*).

E, nas minhas idas à Guiné-Bissau, tenho conversado com ex-combatentes do PAIGC, onde relembram os tempos de terror imposto pelos "tugas" nas tabancas do interior, que os levou a fugirem para o mato e entrarem na luta.

Mas voltemos ao ataque a Tite para rever os acontecimentos através de relatos insuspeitos de terceiros e presenciais:

"...Em Janeiro de 1963, foi a sede do Batalhão atacada com armas automáticas e de repetição e granadas de mão. Deste ataque resultou 1 morto e 1 ferido das NT e 8 mortos confirmados e vários feridos graves IN. Depois deste ataque foram intensificados os patrulhamentos de que resultou a morte do Papa Leite, elemento IN que actuava na área e que facultou a recolha de valiosíssimos elementos da Ordem de Batalha IN..."

In, Carta de 7-07-1981 do ten cor Manuel José Morgado, enviada ao director do Arquivo Histórico Militar, em resposta ao assunto " História das Unidades ".

Resumo da Actividade do BCac nº 237/BCaç nº 599 - Maio de 1963 a Maio de 1965, Caixa nº 123 - 2ª Div/4ª Sec., do AHM


O historiador José de Matos fala em quinze a vinte elementos do PAIGC, que mantêm o quartel sob fogo intenso, durante cerca de meia hora, provocando um morto e dois feridos às nossas tropas e deixando três mortos no terreno.(vd. poste P15795).

O nosso investigador de serviço ao blogue, o incansável José Martins, convidado pelo Luís Graça a investigar o ataque a Tite, concluiu:

“Arafan Mané (nome de guerra, 'Ndjamba'), militante do PAIGC, destacado Combatente da Liberdade da Pátria, é considerado o 'responsável' pelo inicio das hostilidades na Guiné, ao ter disparado a primeira rajada de metralhadora e comandado a ofensiva. Teria menos de 20 anos. Veio a falecer em 2004, em Espanha, de doença". (P10990)

Estranhamente pouco ou nada se escreveu oficialmente sobre este acontecimento tão marcante (seria?) para o desenvolvimento da guerra na Guiné.

Há o testemunho do Gabriel Moura, (vide P3294; P3298 e P3308 de 11/11/2008; 12/10/2008 e 13/10/2008 respetivamente) (**).

Foi este soldado português de Gondomar que estava de sentinela ao quartel de Tite, naquela fatídica noite, que entrou no Blogue pela mão do Carlos Silva, (seu conterrâneo e amigo) já depois do seu falecimento para contar a história que vivenciou.

 Foi o primeiro militar português, quando se encontrava de guarda ao aquartelamento, a responder ao fogo da força que atacou as instalações de Tite.

Na reação ao fogo de que foi alvo, consumiu todas as munições de que dispunha, provavelmente três carregadores, assim como utilizou as duas granadas que lhe estavam distribuídas para o serviço. Faleceu em 2004, dois anos após ter editado as suas impressões sobre o acontecimento, e por coincidência no mesmo ano da morte de Arafan Mané.

Temos agora a oportunidade de tomar conhecimento do testemunho do Arafan Mané, ou seja, a versão de quem comandava o outro lado da barricada, numa entrevista publicada em 2001 no jornal O Defensor – Orgão de Informação Geral do Estado Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau. Reproduzida em 2015 no sítio das FARP – Forças Armadas Revolucionárias do Povo, por iniciativa do major Ussumane Conaté, diretor da publicação. (...)

(Revisão / fixação de texto: LG)
_______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

3 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16794: O inicio da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) - Parte I (José Teixeira)

8 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16812: O inicio da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) - Parte II (José Teixeira)

11 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16823: O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) - Parte III (José Teixeira)

19 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16851: O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) – Parte Final (José Teixeira): os frutos (amargos) da aventura...

(**) Vd. postes de;


(***) Últiimo poste da série > 14 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26389: Efemérides (448): Homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar da União de Freguesias de Freigil e Miomães do Concelho de Resende (Fátima's)


segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26224: Recortes de imprensa (141): Morreu aos 80 anos o comandante do PAIGC, Júlio de Carvalho ("Julinho"), e também primeiro cmdt das Forças Armadas de Cabo Verde ("A Semana", de 26nov2024)


Júlio de Carvalho (1943 - 2024).
Foto. Cortesia de ACOLP / A Semana,
 26nov2024

1. Recorte de imprensa que nos chega através do nosso amigo e camarada Zeca Macedo
 (ex-2º tenente fuzileiro especial, RN, DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74; nasceu na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951; vive nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008):


Data . terça, 26/11, 14:06


Luis, junto te envio anoticia publicada hoje, dia 26 de Novembro, sobre o falecimento do Comandante Júlio Carvalho, um dos heróis da Luta pela Independência de Cabo Verde (e da Guiné)

 Ab, Ze Macedo

2. Recortes de imprensa  > Óbito: Faleceu Júlio de Carvalho o primeiro comandante das Forças Armadas de Cabo Verde

A Semana, 26 nov 2024


Faleceu na madrugada de hoje, na cidade da Praia, o primeiro comandante das Forças Armadas de Cabo Verde, Júlio de Carvalho, também combatente da liberdade da Pátria, comunicou a Associação dos Combatentes da liberdade da Pátria (ACOLP).

Julinho Carvalho, como era conhecido, de acordo com a ACOLP, nasceu no Mindelo a 27 de Janeiro de 1943, estudou no Liceu Gil Eanes, onde se destacou pela sua “participação apaixonada” pelas atividades desportivas, tendo inclusive integrado a seleção de voleibol do referido liceu.

Nessa altura, refere um comunicado da ACOLP, com Abílio Duarte, toma conhecimento dos ideais da luta pela independência de Cabo Verde desenvolvida pelo PAIGC, com as quais ele logo se simpatizou, tendo em 1961 viajado para Portugal onde se inscreve como estudante de Engenharia Química,  juntamente com Amaro da Luz, Tito Ramos, e outros estudantes nacionalistas.

“Decidido a exercer um papel activo na luta encabeçada pelo PAIGC, nos finais de 1964, Julinho foge para Paris onde se junta a Manecas Santos, Manuel Delgado, Joaquim Pedro Silva e Olívio Pires. Sob a orientação de Pedro Pires, ele participa na mobilização de um grupo de cabo-verdianos emigrantes na região de Moselle, na França”, lê-se no comunicado da ACOLP.

Júlio de Carvalho, segundo explica ACOLP, integrou a luta armada em Kandjafara, como comandante de artilharia da Frente Sul e, em Maio de 1973, participou na operação que culminou com a tomada do quartel fortificado de Guiledge, prenunciando o fim da ocupação portuguesa na Guiné.

Após o 25 de Abril de 1974, participou nas primeiras negociações com militares portugueses realizados a 15 de Julho, em Cantanhez, no sul da Guiné, visando o estabelecimento de um cessar fogo na Guiné, tendo em fins de 1974, depois da Independência da Guiné, permanecido em Bissau onde, durante cinco anos, exerceu as funções de comissário político das Forças Armadas.

Depois do golpe de Estado de 1980,  estabeleceu-se em Cabo Verde onde exerceu funções de ministro do Interior, primeiro e, de seguida, ministro da Defesa e Segurança, no último mandato de Pedro Pires como primeiro-ministro.

Com a derrota eleitoral do PAICV, fixou residência no Sal onde viveu nos últimos tempos como empresário.

Júlio de Carvalho foi membro da Comissão Política do PAICV e durante toda a sua vida de luta evidenciou, conforme a ACOLP, um “grande patriotismo” como “um elevado espírito de sacrifício e dedicação” em prol de Cabo Verde.
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segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23609: (D)o outro lado do combate (68): os "Armazéns do Povo", mito ou realidade ?


Guiné ou Guiné-Conacri > Possivelmente numa base do PAIGC, no sul, na região fronteiriça ou mais provavelmente já em teritório da Guiné-Conacri > Visita de uma delegação escandinava às "áreas libertadas" > Novembro de 1970 > Transporte de sacos de arroz em viaturas soviéticas. Segundo a inteligência militar portuguesa, o PAIGC dispunha, na Guiné- Conacri, de cerca de 40 camiões russos (havia dois modelos, o Gaz e o Gil) , que faziam o transporte dos abastecimentos de Conacri até a Kandiafara e, depois de retirada de Guileje, por parte das NT, em 22 de Maio de 1973, até mesmo para lá da fronteira, utilizando o corredor de Guileje... 

O "grande celeiro do sul" abastecia de arroz as populações sob controlo do PAIGC; os excedentes eram exportados, nomeadamente para a região norte. Havia uma rede de "Armazéns do Povo" que ia de Conacri até ao interior das "áreas libertadas" (o seu número não ultrapassaria as escassas duas dezenas, desde 1964 a 1974). Essa rede, mal ou bem, funcionava e terá permitido o desenvolvimento de uma "economia de guerra"  de que muitos de nós, antigos combatentes portugueses, não fazia a mínima ideia...

Até ao fim da guerra, e pelos dados disponíveis (*), provenientes do próprio rgime, não haveria mais do que duas dezenas de "armazéns do povo" nas "áreas libertadas" (desconhece-se a sua locaização), para por volta de 1978 atingirem já um total de  de 129...


Fonte: Nordic Africa Institute (NAI)  / Foto: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a competente autorização do NAI) (As fotografias, em formato jpg,  tem numeração, esta é a nº 28, mas não trazem legenda. Legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


1. No livro de memórias do ex-cap inf Aurélio Manuel Trindade, ex-cmdt da 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, jul 65 / jul 67)  ("Panteras à Solta", de Manuel Andrezo, ed. autor, 2010, 339 pp), a palavra "arroz" aparece, obsessivamente, ao longo dos cerca de 70 capítulos ou histórias. 

Em Bedanda, em 1965/67, a população, maioritariamente fula, refugiada da guerra,  não cultivava arroz e passava fome, segundo o cap Cristo. O  arroz que se lá se consumia, vinha de barco,  de Bissau, ou então era o que era lavrado nas bolanhas em redor pela "população do mato" (maioritariamente balanta) controlada pelo PAIGC ou sob duplo controlo, e comprado pelos comerciantes locais às "mulheres do mato" que vinham à "povoação comercial" vender o que lhes sobrava (arroz, mandioca, mancarra, óleo)  e comprar o que lhes faltava (cana, tabaco, panos). Isto queria dizer que pelo menos no setor S3 (Bedanda), não havia "Armazéns do Povo" ou, se existiam, funcionava muito mal. Realidade ou mito,  os "armazéns do povo" foram um elemento importante da propaganda do PAIGC, nomeadamente para consumo externo. 

Em termos de segurança alimentar, e nomeadamente, no pós-guerra, no tempo do Luís Cabral, a continuação da experiência dos "armazéns do povo" terá sido mais um dos "elefantes brancos" da economia planificada. A tal ponto que acabaram por ser "privatizados" (em 1992) e hoje definitivamente extintos (segundo notícia da agência Lusa, de 1 de abfril de 2022)...

Do lado das NT ("nossas tropas"), na época, ao tempo dp governador e comandante-chefe  gen Arnaldo Schulz, a missão era (e iria continuaria  a ser no início do consulado de Spínola) "aniquilar, capturar ou, no mínimo, expulsar o IN, destruir todos os seus meios de vida e recuperar a população sob o seu controlo". O arroz, muito em especial, era destruído: era a base da alimentação da guerrilha e da população sob o seu controlo. O mesmo se passava com o gado e demais animais domésticos: às vezes salvavam-se as vacas, desde que fosse possível transportá-las para o aquartelamento mais próximo. (Spínola percebeu, tardiamente, que o terror não se combatia com o contra-terror...).

Leia-se estes excertos, retirados do livro acima citado, de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do hoje ten gen ref Aurélio Manuel Trindade):

(...) Logo os pelotões do Carvalho e do Oliveira dispersaram e se espalharam pela bolanha. Alguém tinha fósforos, fizeram-se tochas e com um rapidez incrível os homens iam de monte em monte e destruíam o arroz. A bolanha ficou em chamas. Os homens libertavam-se da tensão com que estiveram toda a noite e manhã. O arroz era a principal fonte de rendimento. Destruir o arroz era como destruir as fábricas no tempo da segunda grande guerra mundial. A companhia destruía sempre todo o arroz que encontrava na sua passagem. O capitão dizia que era mais importante destruir o arroz do que as casas. Estas podiam ser facilmente reconstruídas, mas o arroz representava o trabalho perdido de um ano e era preciso esperar pela nova colheita (...) (pág. 144) (Negritos nossos).

(...) "Muito preto e pouco branco, é tropa de Bedanda e é preciso ter cuidado. Muito branco e pouco preto é outra tropa. Outra tropa não mete tanto medo à população do mato nem aos guerrilheiros (...) (pág. 146) (Negritos nossos).

(...) O Capitão Cristo nem teve tempo de dizer mais nada. O Cordeiro e os seus homens
já iam a meio da bolanha, em direcção às LDM, com as vacas. Foi debaixo de fogo que
a tropa teve que embarcar, mas os guerrilheiros tiveram que assistir à coragem da tropa
de Bedanda que, nas suas barbas, lhes surripiou 14 vacas

A Marinha, depois de muita insistência, lá embarcou as vacas, ficando onze para a companhia de Bedanda e três para os marinheiros. Tudo negócio feito pelo Cordeiro. Iriam ter carne para alguns dias. 

A nossa vacaria ficava na área controlada pelos guerrilheiros, mas nós íamo-nos
abastecendo desta forma pouco ortodoxa, não tínhamos alternativa. Ou vacas
roubadas ou nada. Chegados à Companhia, cansados física e psicologicamente, o mais
difícil de acalmar era o capitão Cristo que dizia mal da companhia de Cufar e do
Comando do Batalhão. (...) (pág. 56).

Curiosamente, não aparece, nas 4 centenas do livro, qualquer referência aos famosos "armazéns do povo" de que o PAIGC se gabava de ter, em funcionamento,   nas "áreas libertadas",e em particular no sul do território... Se eles existiam, o cap Cristo e os seus homens da 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 nunca os viram ou lhe prestaram a mais pequena atenção...

Vale a pena reproduzir aqui um excerto do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971 (**), documento classificado na época como reservado, e de que nos foi facultada uma cópia,   pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, cor inf DFA, na situação de reforma. 

O documento teve ampla divulgação no blogue, sob a série " PAIGC: Instrução, táctica e logística: Supintrep, nº 32, Junho de 1971".

Na altura, e por causa de alguns melindres de alguns dos nossos camaradas,  fizemos questão de sublinhar que a divulgação deste e doutros documentos sobre a organização e o funcionamento do PAIGC era meramente informativa, não implicando, da nossa parte, qualquer juízo de valor. 

Por outro lado, tivemos o cuidado de lembrar que  não se tratava  de um documento de PAIGC, mas sim das NT,  embora utilizasse fontes escritas e orais ligadas à guerrilha contra a qual  então combatíamos. A sua origem era o próprio Com-Chefe da então província portuguesa da Guiné. Tratava-se de um subintrep distribuído aos comandos das unidades do CTIG em junho de 1971 (Supintrep: Do inglês, Supplementary Intelligence Report, ou seja, Relatório de Informação Suplementar).

No Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum / Fundação Mário Soares, há diversa documentação fotográfica sobre os "armazéns do povo". 


2. Subintrep nº 32, junho de 1971 > AGRICULTURA, PECUÁRIA E INSTALAÇÕES COMERCIAIS (*)

(1) Produção agrícola e pecuária nas “áreas libertadas”

Em todas as “áreas libertadas” do sul da província a produção das culturas alimentares tem registado elevado crescimento, tanto como resultado do aumento das superfícies cultiváveis com ainda em consequência de melhores cuidados atribuídos a essas culturas.

Efectivamente, apesar da redução do tempo útil de trabalho motivado pela crescente actividade das NT, muitas bolanhas têm sido aproveitadas, o que se traduz num aumento de produção de arroz em percentagens que chegam a atingir de ano para ano os 20%. 

As “áreas libertadas” do sul são mesmo já autosuficientes para satisfação das suas necessidades alimentares, sendo os excedentes da sua produção de arroz enviadas para o exterior, para distribuição a outros locais onde a produção não atinge os níveis necessários.

O mesmo não acontece no norte da província. Aqui a população, tradicionalmente mais ligada a outras culturas, não produz arroz em quantidades suficientes para se abastecer, pelo que são enviadas regularmente colunas à fronteira para transporte desse produto para o interior.

Outras culturas alimentícias, tais como mandioca, batata doce, milho e legumes, subsidiárias na ração alimentar da população, têm tido também apreciáveis aumentos de produção. O desenvolvimento da cultura de féculas e legumes abre novas perspectivas para a utilização de um sistema alimentar novo, reduzindo o uso do arroz, quer na frequência quer na proporção.

Ainda nas “áreas libertadas” do sul, nomeadamente nas regiões de Catió e Cacine, as populações têm-se dedicado ainda ao desenvolvimento das culturas frutíferas, tendo os cuidados prodigalizados no tratamento permitido a obtenção de uma abundante produção de anazes, bananas, papaias, laranjas, etc.

Igualmente se refere, dada a importância de que se reveste, a especial atenção que tem sido dada ao tratamento de gado e animais de criação.

Como factores decisivos no desenvolvimento da produção agrícola e pecuária que se verifica especialmente nas “áreas libertadas” do sul, refere-se, por um lado, a existência de agrónomos especializados na Rússia e Cuba e, por outro, o intenso trabalho político levado a efeito no seio das massas rurais, convencendo-as da importância que representa o desenvolvimento agrícola das “áreas libertadas”.

A fim de recompensar os que mais se esforçam no trabalho dos campos, o Partido institui prémios para os melhores produtores.


(2) Empresa de comércio geral (Armazéns do Povo)

Em fins de 1965 afirmava Amilcar Cabral:

“Na Guiné, em dois anos e meio de luta armada, libertámos cerca de metade do país. Nas regiões libertadas estamos a construir uma vida nova, temos várias dezenas de escolas, instalámos comércio para abastecer as populações em artigos de primeira necessidade através dos Armazéns do Povo, criámos serviços de assistência sanitária e vários outros organismos que definem o novo Estado em formação”.

O objectivo do PAIGC, ao levar a cabo estas iniciativas, foi o de criar condições que estabelecessem bases de uma sociedade nova. No que diz respeito aos Armazéns do Povo teve-se em vista a sua criação satisfazer as necessidades de abastecimento das populações, fornecendo-lhes artigos de uso corrente para seu consumo em troca de produtos agrícolas que, por sua vez, são trazidos para o exterior onde são vendidos, revertendo os lucros dessas transacções para os cofres do Partido.

Verifica-se, assim, que os Armazéns do Povo permitiram a valorização do trabalho do povo, na medida em que trouxeram uma solução ao problema da comercialização, da agricultura e artesanato, já que, como se referiu, os produtos agrícolas (arroz) e, provavelmente, os artigos de artesanato funcionam como moeda de troca.

Estes Armazéns não são contudo, em princípio, destinados a auferir lucros. Dando para já uma experiência útil na futura organização do comércio, os Armazéns do Povo têm como objectivo, na hora actual, servir como elo e ligação com as massas, representando por si só uma arma poderosa ao serviço dos interesse do povo e do Partido, não só do ponto de vista económico mas também, e especialmente, do ponto de vista político.

Através deles, na medida em que evita as transacções comerciais nos nossos estabelecimentos, o PAIGC procura o nosso "isolamento" ao mesmo tempo que garante a segurança das suas "áreas libertadas"

Dum modo sumário e face aos elementos disponíveis, é a seguinte organização e funcionamento da Empresa de Comércio Geral do PAIGC, a qual depende, para efeitos de organização do Departamento da Organização e Questões Internas e para efeitos da prestação de contas do Departamento de Economia e Finanças.

Esta tem em Conacri o órgão de abastecimento central – os Armazéns Centrais – e “antenas” em todas as “regiões libertadas” – Armazéns do Povo -, designados também por Depósitos, os quais são numerados, encontrando-se à frente deles um responsável, possuidor de conhecimentos genéricos de contabilidade.

Como se referiu, os Armazéns Centrais abastecem estes Depósitos com artigos de consumo corrente nomeadamente açúcar, sal, conservas, roupas e calçado, enviando à data da expedição dos artigos uma "factura" na qual constam discriminadas as quantidades e valor da mercadoria.

Muito embora seja utilizado o dinheiro, o mais vulgar é o sistema de permuta em que os podutos agrícolas, especialmente o arroz, ou mesmo o gado, funciona como "moeda" de troca, sendo os produtos obtidos na troca enviados aos Aramazéns Centrais com nota de remessa, local onde essa distribuição é devidamente escriturada em mapas dos quais se junta o Mapa de Distribuição de arroz.

Admite-se, para facilidade de transporte, que parte desses produtos sejam enviados directamente às bases logísticas sem passar pelos Armazéns Centrais, embora estes movimentos em mapa sejam sempre feitos nestes armazéns creditando-se às Bases que directamente receberam os produtos.

Todos estes movimentos são contabilizados, sendo feitas periodicamente inspecções tendentes a verificar a “situação” em que se encontram os depósitos.

Nestes, diariamente, é elaborado um mapa relativo às receitas diárias, no qual são escrituradas as mercadorias saídas e a entrada de produtos.

Ainda se conhece, nos movimentos dos Depósitos, um documento nota de crédito. (...)

[Seleção / revisão / fixação de texto / negritos: LG] (***)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca > Rio Udunduma, afluente do rio Geba Estreito  > 1970 >  A  economia guineense dependia também da produção pecuária que por sua vez estava dependente da prática da transumância, prática essa que a guerra veio limitar ou inviar... 

As manadas de gado dos fulas, povo originalmente de pastores nómadas, eram um sinal exterior de riqueza e de status social do seu dono. Por essa razão, os fulas tinham tradicionalmente relutância em alienar esse património... Por morte do dono, os animais eram abatidos para alimentar o choro, uma festa que se prolongava por vários dias, dependendo da posição hierárquica do defunto na sociedade fula... 

Com a guerra, a entrada de dinheiro nas tabancas fulas fazia-se fundamentalmente por duas vias: (i) o pré dos soldados africanos e das milícias (a par do dinheiro que as lavadeiras recebiam); e (ii)  e as vendas de gado vacum aos militares portuguesas, compensando a quebra da produção da mancarra, devido à guerra... 

O porco era criado pelos povos animistas e ribeirinhos: balantas, manjacos, papéis... Havia por vezes conflitos com a população local, devido a abusos dos militares (que roubavam ou matavam vacas, porcos, cabritos ou galinhas)... Durante a Operação Lança Afiada (8 a 18 de Março de 1969), as populações sob controlo do PAIGC, no triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, sofreram grandes perdas de gado, para além da destruição de toneladas de arroz... Muitos animais foram abatidos a tiro, nalguns casos foram, inclusive, levados até ao aquartelamento do Xitole onde foram abatidos e consumidos.

Também não há referências, no relatório da Op Lança Afiada, a "armazéns do povo" no Sector L1,  nas áreas controladas pela guerrilha. A existirem, deveriam estar muito bem escondidos ou camuflados, em zonas de floresta-galeria, de difícil observação tanto aérea como terrestre.

Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 
15 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16390: Notas de leitura (870): "Guiné-Bissau, Reconstrução Nacional", fotografias de Michel Renaudeau, Éditions Delroisse, Paris, 1978 (Mário Beja Santos)

(...) Falando do comércio interno, são referenciados os Armazéns do Povo, assim apresentados: “Nas zonas libertadas do país foram criados em 1964 os Armazéns do Povo, entidade comercial cujo objetivo era manter o abastecimento dos bens essenciais nas referidas zonas. Ao mesmo tempo, os Armazéns do Povo absorviam parte da produção gerada pelo setor agrícola. Após a libertação, os Armazéns do Povo, passaram a constituir a principal empresa do país, estendendo a sua atividade a todo o território nacional. De 20 postos comerciais em 1974, os Armazéns do Povo passaram atualmente a 129”. (...)

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22452: (D)o outro lado do combate (67): Empresas capitalistas estrangeiras (portuguesas e não portuguesas) com interesses na Guiné e Cabo Verde: documento do PAIGC, de setembro de 1966: só há referência a 3 empresas madeireiras


BNU - Banco Nacional Ultramarino, um dos grupos económicos com maior peso na econmia da Guiné antes da independência, com destaque para a Sociedade Comercial Ultramarina, concorrente da Casa Gouveia, do grupo CUF. O BNU era, além disso, o emissor do "patacão"...














Citação:

(1966), "PAIGC - Os interesses capitalistas estrangeiros (portugueses e não portugueses) na Guiné e Cabo Verde", Fundação Mário Soares / Arquivo Mário Pinto de Andrade, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_84092 (2021-8-12) (Reprodução das páginas de 1 a 5, Com a devida vénia...)

Portal: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares | Pasta: 04340.003.011

Título: PAIGC - Os interesses capitalistas estrangeiros (portugueses e não portugueses) na Guiné e Cabo Verde. Assunto: PAIGC - Os interesses capitalistas estrangeiros (portugueses e não portugueses) na Guiné e Cabo Verde. Documentação económica. Principais empresas na Guiné:  (...) . Ligações empresas na Guiné a trusts internacionais. Principais empresas estrangeiras - portuguesas e não portuguesas - exercendo a sua actividade em Cabo Verde. Desenvolvimento da luta armada na Guiné cria situação nova, do ponto de vista económico. | 

Data: Setembro de 1966 | Observações: Última página deste documento tem SET.1965 e não SET.1966, como figura na primeira. | 
Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade (...)


1. Este documento, dactilografado, de 16 páginas (capa incluida), tem a chancela do PAIGC, e destinava-se a dar a conhecer (e a combater) "os interesses capitalistas estrangeiros (portugueses e não portugueses) na Guiné e Cabo Verde" (sic). (*)

No final, na página 16, faz-se um balanço, a título meramente exemplificativo, dos resultados da luta armada, afectando directa ou indirectamente esses interesses das grandes empresas e de alguns comerciantes importantes: destruição de armazéns do Pinho Brandão na ilha do Como; apreensão de barcos de carga e respectivas mercadorias, pertencentes à CUF (Casa Gouveia) e à Sociedade Comercial Ultramarina (ligada ao BNU); encerramento de diversas lojas de comerciantes e empresas, etc.

No ponto XII, há referências aos "madeireiros", mas as empresas são apenas três, e nenhuma delas nossa conhecida... Omite-se, por outro lado, a referência ao madeireiro Fausto da Silva Teixeira, considerado "simpatisante" da causa nacionalista, bem como ao outro madeireiro, Manuel Ribeiro de Carvalho, que seria, em meados da década de 1950,  o maior exportador de madeira da Guiné (publicidade à parte). (**)
 
Em relação à fonte da informação documental, no essencial, e tendo em conta o detalhe dos dados, parece-nos ser de origem portuguesa, fornecida pelos meios oposicionistas que então combatiam o regime de Salazar. 

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Notas dos editor:

(*) Último poste da série > 17 de maio de  2021 > Guiné 61/74 - P22208: (D)o outro lado do combate (66): As sabotagens do PAIGC, em Bissau, no início de 1974 (Jorge Araújo)

(**) Vd. poste de 12 de agosto de 2021  > Guiné 61/74 - P22451: Casos: a verdade sobre... (26): os "madeireiros" de ontem e de hoje: a desflorestação da Guiné-Bissau

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22208: (D)o outro lado do combate (66): As sabotagens do PAIGC, em Bissau, no início de 1974 (Jorge Araújo)


Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG / CTIG > Foto da Piscina da messe de Oficiais, com o ecrã de cinema ao fundo. Foi aí que aconteceu o episódio muito bem descrito no Blog pelo camarada Abílio Magro com o titulo – "Bomba" no Clube de Oficiais do CTIG”.

Foto (e legenda): © Carlos Filipe Gonçalves (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo.


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

- AS SABOTAGENS DO PAIGC EM BISSAU NO INÍCIO DE 1974 -  

► ADENDA AO P22202 (15.05.21) (*)




1.   - INTRODUÇÃO


A elaboração da presente adenda ao poste P22202 (15.05.21) pretende ser um contributo para clarificar algumas das dúvidas que teimosamente persistem na historiografia dos "factos" ocorridos durante a "guerra" no CTIG. Estão neste caso os episódios relacionados com os "atentados" ou as "sabotagens" verificados (as) em 21 de Janeiro e em 22 de Fevereiro de 1974, em Bissau, e que "continuam a suscitar grande confusão", segundo a narrativa do camarada Abílio Magro, autor do poste sobredito.

Esta iniciativa é, também, a minha resposta ao "desafio" sugerido pelo camarada Valdemar Queiroz em comentário ao mesmo poste.

Com efeito, de acordo com a "curta" investigação efectuada ao espólio disponível na CasaComum, Fundação Mário Soares, em particular nos arquivos de Mário Pinto de Andrade, recuperámos ("do outro lado") informação relevante em dois comunicados elaborados pelos «Serviços de Informação e Propaganda do PAIGC», escritos na língua francesa, e que abaixo reproduzimos, acompanhados da respectiva tradução da nossa responsabilidade.



◙ O "CASO" OCORRIDO EM 21 DE JANEIRO DE 1974 (2.ª FEIRA)


A descrição deste episódio foi publicada em Comunicado do PAIGC, datado de 09 de Fevereiro de 1974, dezoito dias após a sua ocorrência, com a seguinte justificação:

"No coração da capital, os nossos militantes da cidade de Bissau assinalaram o primeiro aniversário do cobarde assassinato do camarada Amílcar Cabral [1924-1973], fundador, Secretário-Geral e activista n.º 1 do nosso Partido, por acções directas contra a presença de tropas de agressão portuguesas no nosso país.

Assim, no dia 21 de Janeiro [de 1974, 2.ª feira], pelas 20h45, junto ao Clube dos Sargentos do Exército colonialista, na rua Sá Carneiro [actual rua Eduardo Mondlane], dois autocarros Mercedes da Força Aérea Portuguesa foram totalmente destruídos pela explosão de engenhos colocados pelos militantes do nosso Partido. Na mesma noite, um carro da Polícia Política Portuguesa (PIDE/DGS) foi também destruído pela explosão de outro engenho, em frente à residência de um dos seus agentes, na avenida Gago Coutinho. Este carro tinha o número de matrícula - BI 7598 - e os dois autocarros os números AM-19-03 e AM-19-30."

  


Citação: (1974), "Communiqué (PAIGC)", Fundação Mário Soares / Arquivo Mário Pinto de Andrade,  Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_83995, com a devida vénia.


◙ O "CASO" OCORRIDO EM 22 DE FEVEREIRO DE 1974 (6.ª FEIRA)


A descrição deste episódio foi publicada em Comunicado do PAIGC, datado de 27 de Fevereiro de 1974, cinco dias após a sua ocorrência, com a seguinte justificação:

"Os militantes do nosso Partido, cumprindo estritamente a "palavra de ordem" da Direcção Superior do PAIGC de intensificar a nossa acção directa nos centros urbanos e em particular na cidade de Bissau, contra as tropas de agressão portuguesas, voltaram a atacar o inimigo com força:

No dia 22 de Fevereiro [de 1974, 6.ª feira], por volta das 19 horas, explosivos instalados pelos nossos combatentes explodiram dentro do edifício principal do Quartel-General da tropa de agressão portuguesa, em Bissau. As instalações e arquivos deste edifício, que albergava o Estado-Maior, o comando operacional e uma secção de justiça militar, sofreram enormes prejuízos.

As acções dos nossos combatentes nos centros urbanos são realizadas principalmente contra a infraestrutura militar do inimigo e contra os criminosos de guerra. Temos uma preocupação óbvia em salvar vidas humanas e direccionar sempre a nossa luta de libertação contra o principal inimigo: os colonialistas portugueses e as suas tropas de ocupação.

Esta acção de sabotagem contra o centro vital da agressão portuguesa na Guiné, a poucas centenas de metros do Palácio do Governador e Comandante-em-Chefe das forças colonialistas, aumenta a desmoralização que há muito se apodera dos soldados portugueses nas camadas dominantes do regime colonial na sua desastrosa aventura no nosso país."

 



Citação:
(1974), "Communiqué (PAIGC)", Fundação Mário Soares / Arquivo Mário Pinto de Andrade, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_83995, com a devida vénia.

 

● QUESTÃO DE PARTIDA:

   – CONFLITO DE DATAS APRESENTADAS PELO ABÍLIO MAGRO:


Citando Abílio Magro: (…) "O certo é que eu estava no cinema UDIB [no dia 22Fev74?] e o meu irmão Álvaro estava lá por perto, mas em 26/02/1974 já não estava na Guiné…" Então a data não pode ser outra – a de 22Fev74. Será assim?

► Fontes consultadas:

Ø (1) Instituição: Fundação Mário Soares. Pasta: 04315.002.026. Título: Communiqué (PAIGC). Assunto: Comunicado do PAIGC. Comemoração pelos militantes do PAIGC no coração de Bissau do 1.º Aniversário do assassinato de Amílcar Cabral, fundador, Secretário-Geral e militante n.º 1 do PAIGC, com acções directas contra a presença de tropas portuguesas, nomeadamente destruição de dois autocarros Mercedes da Força Aérea e um carro da Pide/DGS. Acções noutras zonas da Guiné. Data: Sábado, 9 de Fevereiro de 1974. Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade. Tipo Documental:

Documentos.

Ø (2) Instituição: Fundação Mário Soares. Pasta: 04315.002.028. Título: Communiqué (PAIGC). Assunto: Comunicado do PAIGC. Palavra de Ordem da Direcção Superior do PAIGC de intensificação da acção directa nos centros urbanos, nomeadamente na cidade de Bissau, contra as tropas portuguesas de agressão, continua a ser posta em prática. Alvo: infraestruturas militares do inimigo e criminosos de guerra. Ataque, 22 FEV1974, ao quartel-general em Bissau. Data: Quarta, 27 de Fevereiro de 1974. Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade. Tipo Documental: Documentos.

Com um forte abraço de amizade e votos de boa saúde.

Jorge Araújo.

16Mai2021
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Nota do editor:

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22177: In Memoriam (393): Carlos Domingos Gomes, "Cadogo Pai" (Bolama 1929 - Coimbra, 2021), membro da nossa Tabanca Grande desde 2010

 

Carlos Domingos Gomes (Cadogo Pai) (1929-2021). 

Foto:cortesia de ANG - Agência de Noticias da Guiné


Cópia do texto, de 26 páginas,  que foi me entregue em 7 de março de 2008, em Bissau, pelo próprio autor, no final do Simposium Internacional de Guildje (Bissau, 1-7 de março de 2008). Está dividido em duas partes, com numeração autónoma: 1ª parte (9 pp.): Memórias de Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai, Galardoado com a Medalha de Combatente da Liberdade da Pátria: Registos da História da Luta de Libertação Nacional. Guiledje, Simpósium Internacional, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008; a II parte (17 pp): Simpósium Internacional, História da Mobilização da Luta da Libertação Nacional: Memórias de Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai.



1. Acabamos de saber, pelas redes sociais e agências notíciosas, da morte de Carlos Domingos Gomes (Cadogo Pai), ocorrida anteontem por volta das 23 horas, em Coimbra, vitima de doença prolongada.

Era pai de Carlos Gomes Júnior (Cadogo Júnior), talvez o mais conhecido dos empresários guineenses e antigo 1º primeiro-ministro, bem como presidente  do PAIGC, ao tempo de 'Nino' Vieira.

Reproduz-se aqui a notícia da ANG:

Bissau,06 Mai 21(ANG) - O empresário Carlos Domingos Gomes (Cadogo Pai), faleceu quarta-feira por volta das 23 horas, em Coimbra(Portugal), vitima de doença prolongada.

Cadogo Pai como é vulgarmente conhecido, é pai do antigo 1º Ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, também conhecido por Cadogo Júnior, nascido em Bolama em 1929.

Segundo os dados fornecidos à ANG pela família, Carlos Domingos Gomes começou a  actividade empresarial como Paquete no escritório da família Barbosa, junto ao Grande Hotel. Com ambições e desejoso de ter outro futuro, foi trabalhar na SCOA (proprietária do edifício onde está instalada a Pensão Central), foi depois transferido para Bolama e mais tarde regressou à Bissau como chefe de loja, antes de voltar para Bolama em 1951.

Em 1967,Carlos Domingos Gomes, sofre a prisão e tortura pela PIDE e foi libertado no tempo de Spínola em 1968, tendo depois se refugiado em Portugal, em 1973 e regressado ao país depois do 25 de Abril de 1974.

Depois da independência do país, Cadogo Pai continuou a sua actividade empresarial tendo criado a Loja Abelha Mestra, que dedicava ao comercio geral e venda de vinhos em divisas.

Posteriormente veio a criar nova empresa denominada de Carlos Gomes & Filhos que igualmente dedicava ao comércio geral import e export.

Carlos Domingos Gomes foi acionista do Banco Internacional da Guiné-Bissau(BIGB), e um dos accionistas fundador do Banco de África Ocidental (BAO), e também accionista do Banco Panafricano (Ecobank).

No domínio político, o malogrado foi candidato as eleições presidenciais de 1994, onde tinha como adversários João Bernardo Vieira (Nino) e Kumba Yalá.

Em 1999 foi nomeado Ministro de Justiça e Poder Local, no governo de Unidade Nacional liderado pelo Francisco José Fadul ,depois do conflito político militar de 7 de junho de 1998.

Durante o período de conflito político militar de 7 de junho que durou 11 meses, o falecido empresário Carlos Domingos Gomes juntamente com o Bispo Don Setímio Artur Farazeta, se destacaram como ativista que trabalharam afincadamente na busca da paz e reconciliação entre as partes envolvidas no conflito. (...)


2. Era membro da nossa Tabanca Grande, desde 16 de agosto de 2010, com cerca de dezena e meia de referências no nosso blogue.  Conheci-o em Bissau, no decurso do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008).

Estava ainda no poder o ‘Nino’ Veira. Era presidente do PAIGC o seu filho Carlos Gomes Júnior (também conhecido na sua terra como Cadogo Júnior), e que chegou a ser considerado como delfim do próprio ‘Nino’ Vieira até ao conflito de 1998. Dez meses depois do Simpósio, o filho de Carlos Domingos Gomes, no final desse ano, seria indigitado para o cargo de Primeiro-Ministro,

Tal como o pai, o Carlos Gomes Júnior nasceu em Bolama em 1949. Sabemos que, antes de entrar na política, e chegar a dirigente máximo do PAIGC, foi um empresário e gestor de sucesso. Não participou na luta armada como combatente.

Já o pai, o Cadogo Pai, em contrapartida, reclamava-se da condição de Combatente da Liberdade da Pátria, sem todavia nunca ter pertencido ao PAIGC, e muito menos combatido na guerrilha. 

Considerava-se um  nacionalista, embora tenha colaborado com o poder colonial, como autarca (em Bolama e depois em Bissau), o que lhe trouxe alguns alguns amargos de boca nos primeiros tempos, após a independência. Dizia-se amigo de Aristides Pereira. Em contrapartida, teve problemas com Luís Cabral que “tentou impedir a minha candidatura às primeiras eleições legislativas realizadas em Bissau, após a Independência” (1ª Parte, p. 2).

Publiquei aqui, em 2010,  a sua  história de vida, a partir de um texto autobiográfico, policopiado, de que ele me ofereceu uma cópia autografada (*). Conheci-o por acaso, na sala de conferências do hotel onde estava a realizar-se o Simpósio. Na mesma altura conheci o Joseph Turpin, o sobrinho do Élisee Turpin, esse sim um histórico do PAIGC.
.
O Simpósio Internacional de Guiledje  terá sido um bom pretexto para o Cadogo Pai escrever, eventualmente retocar e sobretudo divulgar as suas memórias, quer como cidadão quer como empresário, balizadas entre os anos de 1946 e 1974. Mas nem toda a gente o levava muito a sério, em 2008, em Bissau.
 
3. Recordemos aqui alguns marcos da sua história, de acordo com a sua narrativa autobiográfica (*):

(i) em 1946, aos 17 anos (nasceu portanto em 1929), o autor era “paquete de escritório da família Barbosa, junto do Grande Hotel”; ganhava 120 escudos de salário mensal, essa família Barbosa incluía Antoninho Barbosa e César Barbosa, tios do Caló Capé.

(ii) achando que não era lugar de (ou com) futuro, candidatou-se a (e ganhou) o lugar de auxiliar de escriturário numa firma francesa, a SCOA – Sociedade Comercial do Oeste Africano,  com várias lojas espalhadas pela Guiné de então (Bissau, Bolama, Bissorã…);

(iii) está-se em agosto de 1946, a escrituração das receitas da loja era feita em francês, língua que ele não dominava, mas iria contar com a ajuda (inesperada) do empregado que fora substituir, nada menos que o José Costa, colega de escola, entretanto transferido para Bissorã;

(iv) ele próprio, Cadogo,  será transferido, meses depois, a 24 de dezembro de 1946, para Bolama; em Bissau ganhava 250 escudos. wm Bolama, passou a ganhar 300, “quantia exígua para tomar conta da minha vida” (1ª Parte, p. 3);

(v) fica em Bolama três anos; em 26 de Dezembro de 1949 é convidado “para vir ocupar o posto de chefia da loja nº 2 em Bissau”, enquanto o José Costa, regressado de Bissorã, chefia a loja nº 1;

(vi) tinha 20 anos, “ainda era menor”, só fazendo os 21 em Maio de 1950; é  em Bolama que nasce o seu filho, futuro 1º ministro, em 19 de Dezembro de 1949;

(vi) volta a Bolama, em Março de 1951, como chefe operacional da mesma empresa, a Sociedade Comercial Oeste Africana (onde trabalhou como contabilista, de 1942 a 1956, Elisée Turpin, um dos fundadores do PAIGC).

(vii) foi e  Bolama que conheceu "o camarada Aristides Pereira",  pessoa que ele descreve como "muito reservada"; tem uma tertúlia de que fazem parte, a
lém de Artistides Pereira, Alcebíades Tolentino, Barcelos de Lima, Adelino Gomes e Afredo Fortes; falava-se de tudo, “mas sobre a política africana nada"  (1ª Parte, p. 4);

(viii) é em Bolama que passa a ter "consciência política",  e se torna   um nacionalista, próximo do PAIGC;

 (ix) sera através do  Elisée Turpin, seu colega em Bissau, que lhe chegavam a Bolama as notícias das primeiras “movimentações”, de “cariz político”, que surgiam em Bissau. 

(x) é por essa altura, na 1ª metade da década de 1950, que a SCOA e as outras empresas francesas, NOSOCO e CFAO, começam a sentir restrições na sua atividade comercial, dada a posição monopolista da Casa Gouveia: tendo vocação exportadora, eram "obrigadas a vender os seus produtos à Gouveia" (sic); naa realidade, a CUF (, através da Casa Gouveia, ) detinha o monopólio da exportação do amendoim da Guiné, até à independência da Guiné-Bissau;

(xi) é também  nessa altura que o Cadogo Pai  começa a ponderar a hipótese da demissão e começar a trabalhar por conta própria. o  seu chefe, francês, não apoiou logo a ideia; em contrapartida, ter-lhe-á proposto "uma transferência para Paris, dada a confiança que ganh[ara] em toda a organização, a exemplo de muitos colegas que foram transferidos na altura para Ziguinchor, Dakar, etc."; e, mais: tê-lo-á avisado que "o vento da independência iniciada nos países vizinhos (Conakry, Senegal, etc.) chegaria à Guiné-Bissau", pelo que , se ficasse na Guiné, iria passar mal, como veio a acontecer...

(xii) estabelece-se por conta própria em 5 de setembro de 1955;

(xiii)  casa-se em 1956 e em 1957 é eleito vereador da Câmara Municipal de Bolama, "palco dos meus primeiros confrontos com o poder colonial, que marcaram bem a minha vida de luta e experiência";

(xiv) diz que  não completou o mandato, "porque começou a repressão colonial, após a fundação do PAIGC a 19/9/1956 e os acontecimentos de 3 de Agosto de 1959 no Cais do Pinjiguiti", obrigando-a refugiar-se por uns tempos  em  Portugal  entre junho e novembro de de 1960;

(xv) instala-se em Bissau e  é vereador da Câmara Municipal de Bissau, "com o velho companheiro Benjamim Correia, Dr. Armando Pereira e Lauride Bela"; era presidente o major Matos Guerra;

(xvi) é preso,pela primeira vez pela PIDE em 17 de janeiro de 1967, ao tempo do governador Arnaldo Schulz; depois de libertado no tempo de Spínola em 1968, refugia-se em Portugal em 1973 e só regressa ao  país depois do 25 de Abril de 1974. (*)

Sem ter sido uma figura de primeiro plano na história recente da Guiné-Bissau, "Cadogo Pai" deverá ser lembrado, em todo o caso,  como um nacionalista, um cidadão e um empresário cuja experiência, saber e exemplo devem inspirar as gerações mais novas. (**)

Ao filho, Carlos Gomes Júnior  (que conheci, se não erro,  no funeral da mãe do Pepito,  a dra. Clara Schwarz, em 2016) e demais  família e amigos mais próximos, em nome pessoal e em nome da Tabanca Grande, apresento sentido pêsames. 

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6856: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (Fim): Prisão e tortura pela PIDE em 1967, libertação no tempo de Spínola em 1968, refúgio em Portugal em 1973 e regresso ao país depois do 25 de Abril de 1974

 (**) 29 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22152: In Memoriam (392): Claúdio Ferreira (1950-2021), ex-fur mil art, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74)... Passa a integrar, a título póstumo, a Tabanca Grande, sob o nº 840 (Jorge Araújo)