Carlos Domingos Gomes (Cadogo Pai) (1929-2021).
Foto:cortesia de ANG - Agência de Noticias da Guiné
Era pai de Carlos Gomes Júnior (Cadogo Júnior), talvez o mais conhecido dos empresários guineenses e antigo 1º primeiro-ministro, bem como presidente do PAIGC, ao tempo de 'Nino' Vieira.
Cadogo Pai como é vulgarmente conhecido, é pai do antigo 1º Ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, também conhecido por Cadogo Júnior, nascido em Bolama em 1929.
Segundo os dados fornecidos à ANG pela família, Carlos Domingos Gomes começou a actividade empresarial como Paquete no escritório da família Barbosa, junto ao Grande Hotel. Com ambições e desejoso de ter outro futuro, foi trabalhar na SCOA (proprietária do edifício onde está instalada a Pensão Central), foi depois transferido para Bolama e mais tarde regressou à Bissau como chefe de loja, antes de voltar para Bolama em 1951.
Em 1967,Carlos Domingos Gomes, sofre a prisão e tortura pela PIDE e foi libertado no tempo de Spínola em 1968, tendo depois se refugiado em Portugal, em 1973 e regressado ao país depois do 25 de Abril de 1974.
Depois da independência do país, Cadogo Pai continuou a sua actividade empresarial tendo criado a Loja Abelha Mestra, que dedicava ao comercio geral e venda de vinhos em divisas.
Posteriormente veio a criar nova empresa denominada de Carlos Gomes & Filhos que igualmente dedicava ao comércio geral import e export.
Carlos Domingos Gomes foi acionista do Banco Internacional da Guiné-Bissau(BIGB), e um dos accionistas fundador do Banco de África Ocidental (BAO), e também accionista do Banco Panafricano (Ecobank).
No domínio político, o malogrado foi candidato as eleições presidenciais de 1994, onde tinha como adversários João Bernardo Vieira (Nino) e Kumba Yalá.
Em 1999 foi nomeado Ministro de Justiça e Poder Local, no governo de Unidade Nacional liderado pelo Francisco José Fadul ,depois do conflito político militar de 7 de junho de 1998.
Durante o período de conflito político militar de 7 de junho que durou 11 meses, o falecido empresário Carlos Domingos Gomes juntamente com o Bispo Don Setímio Artur Farazeta, se destacaram como ativista que trabalharam afincadamente na busca da paz e reconciliação entre as partes envolvidas no conflito. (...)
2. Era membro da nossa Tabanca Grande, desde 16 de agosto de 2010, com cerca de dezena e meia de referências no nosso blogue. Conheci-o em Bissau, no decurso do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008).
Estava ainda no poder o ‘Nino’ Veira. Era presidente do PAIGC o seu filho Carlos Gomes Júnior (também conhecido na sua terra como Cadogo Júnior), e que chegou a ser considerado como delfim do próprio ‘Nino’ Vieira até ao conflito de 1998. Dez meses depois do Simpósio, o filho de Carlos Domingos Gomes, no final desse ano, seria indigitado para o cargo de Primeiro-Ministro,
Tal como o pai, o Carlos Gomes Júnior nasceu em Bolama em 1949. Sabemos que, antes de entrar na política, e chegar a dirigente máximo do PAIGC, foi um empresário e gestor de sucesso. Não participou na luta armada como combatente.
Já o pai, o Cadogo Pai, em contrapartida, reclamava-se da condição de Combatente da Liberdade da Pátria, sem todavia nunca ter pertencido ao PAIGC, e muito menos combatido na guerrilha.
Considerava-se um nacionalista, embora tenha colaborado com o poder colonial, como autarca (em Bolama e depois em Bissau), o que lhe trouxe alguns alguns amargos de boca nos primeiros tempos, após a independência. Dizia-se amigo de Aristides Pereira. Em contrapartida, teve problemas com Luís Cabral que “tentou impedir a minha candidatura às primeiras eleições legislativas realizadas em Bissau, após a Independência” (1ª Parte, p. 2).
(iii) está-se em agosto de 1946, a escrituração das receitas da loja era feita em francês, língua que ele não dominava, mas iria contar com a ajuda (inesperada) do empregado que fora substituir, nada menos que o José Costa, colega de escola, entretanto transferido para Bissorã;
(v) fica em Bolama três anos; em 26 de Dezembro de 1949 é convidado “para vir ocupar o posto de chefia da loja nº 2 em Bissau”, enquanto o José Costa, regressado de Bissorã, chefia a loja nº 1;
(vi) volta a Bolama, em Março de 1951, como chefe operacional da mesma empresa, a Sociedade Comercial Oeste Africana (onde trabalhou como contabilista, de 1942 a 1956, Elisée Turpin, um dos fundadores do PAIGC).
(vii) foi e Bolama que conheceu "o camarada Aristides Pereira", pessoa que ele descreve como "muito reservada"; tem uma tertúlia de que fazem parte, além de Artistides Pereira, Alcebíades Tolentino, Barcelos de Lima, Adelino Gomes e Afredo Fortes; falava-se de tudo, “mas sobre a política africana nada" (1ª Parte, p. 4);
(viii) é em Bolama que passa a ter "consciência política", e se torna um nacionalista, próximo do PAIGC;
(ix) sera através do Elisée Turpin, seu colega em Bissau, que lhe chegavam a Bolama as notícias das primeiras “movimentações”, de “cariz político”, que surgiam em Bissau.
(x) é por essa altura, na 1ª metade da década de 1950, que a SCOA e as outras empresas francesas, NOSOCO e CFAO, começam a sentir restrições na sua atividade comercial, dada a posição monopolista da Casa Gouveia: tendo vocação exportadora, eram "obrigadas a vender os seus produtos à Gouveia" (sic); naa realidade, a CUF (, através da Casa Gouveia, ) detinha o monopólio da exportação do amendoim da Guiné, até à independência da Guiné-Bissau;
(xi) é também nessa altura que o Cadogo Pai começa a ponderar a hipótese da demissão e começar a trabalhar por conta própria. o seu chefe, francês, não apoiou logo a ideia; em contrapartida, ter-lhe-á proposto "uma transferência para Paris, dada a confiança que ganh[ara] em toda a organização, a exemplo de muitos colegas que foram transferidos na altura para Ziguinchor, Dakar, etc."; e, mais: tê-lo-á avisado que "o vento da independência iniciada nos países vizinhos (Conakry, Senegal, etc.) chegaria à Guiné-Bissau", pelo que , se ficasse na Guiné, iria passar mal, como veio a acontecer...
(xii) estabelece-se por conta própria em 5 de setembro de 1955;
(xiii) casa-se em 1956 e em 1957 é eleito vereador da Câmara Municipal de Bolama, "palco dos meus primeiros confrontos com o poder colonial, que marcaram bem a minha vida de luta e experiência";
(xiv) diz que não completou o mandato, "porque começou a repressão colonial, após a fundação do PAIGC a 19/9/1956 e os acontecimentos de 3 de Agosto de 1959 no Cais do Pinjiguiti", obrigando-a refugiar-se por uns tempos em Portugal entre junho e novembro de de 1960;_______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 16 de agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6856: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (Fim): Prisão e tortura pela PIDE em 1967, libertação no tempo de Spínola em 1968, refúgio em Portugal em 1973 e regresso ao país depois do 25 de Abril de 1974(**) 29 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22152: In Memoriam (392): Claúdio Ferreira (1950-2021), ex-fur mil art, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74)... Passa a integrar, a título póstumo, a Tabanca Grande, sob o nº 840 (Jorge Araújo)
5 comentários:
Não mais vi (nem falei com), depois de 7 de março de 2008, o Carlos Domingos Gomes. Naturalmente, respeito a sua memória. Morre,de resto, com uma bela idade, iria fazer 92 anos como o meu pai, Luís Henriques (mais velho 9 anos).
E morreu, segundo creio, num hospital do nosso Serviço Nacional de Saúde, em Coimbra. Seundo os jornais, Portugal tratou 8.344 doentes oriundos dos PALOP em quatro anos, entre 2016 e 2019, a maioria da Guiné-Bissau. ( O título é do "Observador", 27 set 2020.)
Ainda há dias, no IPO-Lisboa, estava ao meu lado, em tratamento, o Jol, um manjaco de sessenta e tal anos, oriundo da região de Canchungo: tinha um cancro na boca, estava a fazer radioterapia... Ainda bem que há acordos de cooperação na área da saúde entre Portugal e outros PALOP. Isso significa, em muitos casos, a diferença entre a vida e a morte.
Valdemar, no caso das nossas lavadeiras, à luz da legislação do trabalho de hoje, ainda arrotavas com a acusação de "exploração do trabalho infantil"... Boa parte das lavadeiras eram menores... Imagina o que é dares à manivela da máquina da História, pô-la a correr para trás... Se fôssemos julgados por estes e outros crimes do "colonialisnmo português", não nos chegavam sete vidas....
As gerações de Carlos Gomes, pai e filho, que tenham feito parte de familiares de políticos e/ou governantes guineenses, a maioria tinham passaporte e BI de portugueses tal como qualquer lisboeta ou algarvio, com acesso natural ao serviço do SNS.
A maioria tem residência em Portugal sem deixarem de residir na Guiné.
Não precisam do apoio da cooperação, da cooperação apenas precisa o povinho.
Há mais cidadãos portugueses espalhados pelo mundo do que aqueles que aparecemos no dia a dia.
Ainda recentemente as autoridades no aeroporto (jornais) tratavam um cidadão português como se fosse moçambicano.
Tens razão, Rosinha, a elite dos PALOP movimenta-se aqui com toda a à-vontade, tem cá casas, parentes, etc. E não me refiro só à elite política, mas também profissional (empresários, médicos, advogados, professores universitários, etc.).
Sendo que no caso de certos guineenses e de casamance (senegal) aproveitam para usar também a nacionalidade francesa simultaneamente, e «a gosto».
A Europa em geral e a França em particular vai ser diluída, vai ser uma sinfonia, vai ser «aquilo-que-deus-quiser», porque o original vai ficar em minoria e pouco ficará como dantes.
Do original o que ficará? que fique o melhor.
A Inglaterra bem tenta afastar-se da Europa!
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