quarta-feira, 5 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22174: Efemérides (347): Dia Mundial da Língua Portuguesa 2021: celebrou-se hoje, em 44 países, em centenas de comunidades... Língua oficial de 9 países, com 260 milhões de falantes, (que serão o dobro no final do século), é a quarta língua materna mais falada do mundo (depois do mandarin, do inglês e do espanhol)... A nossa Tabanca Grande regojiza-se com a celebração deste dia.



Cartaz do Instituto Camões, alusivo ao Dia Mundial da Língua Portuguesa



Vídeo 1' 26'', disponível no You Tube  / Delegação Permanente de Portugal junto da UNESCO


"Sem encontros, o que aproxima tantos povos? Sem proximidade, o que partilham 9 países e centenas de comunidades pelo mundo?"



1. Proclamado em 2019 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), este é o segundo ano em que se celebra o Dia Mundial da Língua Portuguesa. 

A Tabanca Grande também se quer associar à celebração deste dia, desejando a todos os falantes da língua portuguesa que editam, escrevem, comentam e leem o nosso blogue o reforço dos nossos laços linguísticos e afetivos nos cinco continentes.

Apesar das restrições impostas pela pandemia de Covid-19, um vasto conjunto de atividades foi programado e coordenado pelo Instituto Camões para celebrar a efeméride.

(...) "No presente ano, a comemoração do Dia Mundial da Língua Portuguesa procura constituir um meio de celebração da Língua e da sua dimensão crescentemente global, refletindo e dando voz à multiplicidade de vozes que a compõe e que constitui um dos seus traços fundamentais.

Afirmar a Língua Portuguesa enquanto língua global de ciência, cultura, economia, diplomacia e paz é também objetivo da comemoração deste Dia que, como tal, procura envolver diferentes intervenientes e protagonistas destas múltiplas dimensões da Língua Portuguesa."(...)


2. Dados sobre a Língua Portuguesa, divulhados neste dia pelo Instituto Camões:

(i) é uma língua falada por mais de 260 milhões de pessoas nos cinco continentes;

(ii) em 2050 serão quase 400 milhões e em 2100 serão mais de 500 milhões, segundo estimativas das Nações Unidas;

(iii) as projeções para o final do século apontam que será no continente africano que se registará o maior aumento do número de falantes; estima-se que Angola tenha uma população superior a 170 milhões de pessoas e Moçambique uma população superior a 130 milhões de pessoas;

(iv) é a língua mais falada no hemisfério sul;

(v) 3,7% da população mundial fala português;

(vi) . é a quarta língua mais falada no mundo como língua materna, a seguir ao mandarim, inglês e espanhol;

(vii) é a língua oficial dos 9 países membros da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - e em Macau; as 9 economias da CPLP, em conjunto, valem cerca de 2,7 biliões de euros, o que faria deste grupo a sexta maior economia do mundo, se se tratasse de um país;

(viii) os países de língua portuguesa representam 3,6% da riqueza total do mundo, 5,48% do global das plataformas marítimas, 16,3% de disponibilidade global de reservas de água doce, 10,8 milhões de km2.

(ix) são já cerca de duas dezenas as organizações internacionais em que a Língua Portuguesa é língua oficial e/ou de trabalho, a começar pela União Europeia;

(x) há 47 universidades na República Popular da China que ensinam o português como língua estrangeira e cerca de 5.000 alunos que frequentam esses cursos;

(xi) o português é a quinta língua mais utilizada na internet, teve uma taxa de crescimento de quase 2000 %  entre 2000 e 2017, é a terceira ou a quarta mais utilizada no Facebook;

(xii) na área da ciência, embora o inglês seja a língua dominante, a língua portuguesa tem conseguido criar os seus espaços próprios de comunicação e publicação científica: o Brasil criou a Scientific Eletronic Library Online, amplamente participada por países de língua portuguesa e espanhola; as revistas e cientistas de língua portuguesa também vão tendo presença crescente em outras bases de revistas científicas de alcance global, como a SCOPUS e a Web of Science: há também vários repositórios académicos e portais de conhecimento de acesso aberto online, designadamente no Brasil, Cabo Verde e Portugal.

Fonet: Adapt de Instituto Camões (2021)

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22035: Efemérides (346): No Dia Mundial da Árvore, lembrando o castanheiro do Barriguinho a que cheguei fogo involuntariamente (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Com a devida vénia, reproduzimos o artigo de opinião:

Opinião > O que queremos desta língua?

Margarita Correia | DN - Diário de Notícias, 3 de maio de 2021

https://www.dn.pt/opiniao/o-que-queremos-desta-lingua-13662782.html


Celebra-se esta semana o Dia Mundial da Língua Portuguesa. São muitos os eventos agendados, os discursos e palavras bonitas. Temos muitas razões para celebrar. Nos últimos anos, a língua portuguesa cresceu e percorreu caminhos ainda há pouco inimagináveis. Em Portugal, porém, nem todos partilham deste entusiasmo.

Escolha pressupõe esclarecimento e, por isso, vale a pena descrever três visões contemporâneas sobre a língua portuguesa.

1. Há quem ache que o português é só dos portugueses e apenas Portugal tem autoridade para mandar nele. Nos outros países falam-se línguas "bastardas", "impuras", corrompidas pelo uso e as misturas que foram fazendo os falantes de lá.

Os que professam esta visão acreditam que a língua portuguesa está sempre em perigo e carece de políticas linguísticas unilaterais, nacionalistas, da instauração de espécie de "cerca sanitária linguística". A gestão linguística é exequível, neste contexto, fácil e barata, sem necessidade de negociações e acordos. Os falantes seriam cada vez menos, sim, mas "orgulhosamente sós" e felizes. Talvez até se mantivesse a "pureza" linguística com o devido isolamento do resto mundo - afinal, talvez as línguas dos países que praticam isolacionismo político se mantenham incólumes à conspurcação.

2. Existe quem ache que o português são dois: o que se fala no Brasil (que já nem português é) e a "variedade euro-afro-asiática e oceânica", codificada e regulada por Portugal, cuja norma é acriticamente seguida pelos restantes países, por falta de massa crítica e pensamento linguístico, mas também por apreço pelo "colonialismo fofinho".

Uma variante desta visão é a que "parece colonialista mas não é", pois até reconhece características legítimas da variedade de cada país, desde que reconhecidas a partir de Lisboa e estanques, usadas num espaço geográfico determinado (e muito giras, lá longe).

Os defensores desta visão acreditam que vivem na primeira metade do século XX, daí a crença na sua exequibilidade, e que Portugal tem o dever de defender e proteger a língua, "a solo". A gestão não implicaria negociações, acordos ou partilha (só "abraços fraternos" e paternalismo q. b.), sendo até fácil e barata se...

3. Existe quem compreende que as línguas são como os filhos (parimo-los e criamo-los, mas o seu futuro não nos pertence), que elas pertencem a quem as escolhe e fala.

Os partidários desta visão acreditam numa língua pluricêntrica, que, para se manter una, carece de gestão partilhada, provavelmente supranacional, com negociações e acordos constantes.

Esta visão é de longe a mais difícil de executar, a mais exigente, a que requer maior investimento e de futuro menos previsível. Contudo, o exponencial crescimento de falantes nativos de português, o seu progressivo potencial económico e internacionalização, aliados à descrição e codificação das variedades nacionais do português falado nos vários países, são imparáveis - e. g. Moçambique, além de descrições linguísticas abundantes, produziu o seu Vocabulário Ortográfico Moçambicano da Língua Portuguesa (VOMOLP) em 2017 e está a elaborar o primeiro Dicionário do Português de Moçambique, o DiPoMo.

Felizmente, vivemos num país livre, onde se pode falar destes assuntos, outrora reservados a "iluminados". Como cidadãos, importa ponderar implicações e rácios custo-benefício. Aos políticos, por nós eleitos, compete a escolha do melhor caminho, escolha desejavelmente baseada em conhecimento (e não em mitos ou desejos), visando o bem comum.

Professora e investigadora, coordenadora do Portal da Língua Portuguesa.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Temos muitas razões para celebrar o dia "Mundial da Língua Portuguesa"?. Porquê?

1. "Há quem ache que o português é só dos portugueses e apenas Portugal tem autoridade para mandar nele. Nos outros países falam-se línguas "bastardas", "impuras", corrompidas pelo uso e as misturas que foram fazendo os falantes de lá".
Grandes vaidosos, estes portugueses. Nem sequer têm uma perspectiva da História e se recordam de que o idioma que falam é um dos tais bastardos.

A língua portuguesa está sempre em evolução permanente e não carece de políticas linguísticas unilaterais, nacionalistas, ou de qualquer "cerca sanitária linguística".
Os falantes do idioma português são aqueles que forem à semelhança de outros idiomas que se dispersam, sem complexos de inferioridade ou superioridade, por esse mundo de Deus. Nem quero pensar na frustração de húngaros, dinamarqueses ou suecos por não poderem fazer acordos com outros povos. Julgo mesmo que Portugal deveria fazer um acordo com estes países...
Não se trata de manter a "pureza" linguística e muito menos com o devido isolamento do resto mundo. Não creio que a prática do isolacionismo político possa ou deva ser alimentada pelo isolacionismo linguístico seja um prática positiva.

2. O "português" que se fala no Brasil já não é português. É uma "variedade euro-afro-asiática e oceânica", codificada e regulada por esse país e só por ele. A respectiva norma parece ser acriticamente seguida pelos restantes países, por falta de massa crítica e pensamento linguístico.

Há que reconhecer características legítimas da variedade de cada país. Trata-se de outras entidades sócio-políticas (outra bandeira, outro hino outro sistema político) que não pode estar à espera do reconhecimento de Lisboa.

Os defensores desta visão viveriam na primeira metade do século XX. É uma forma de colonialismo "après la lettre", sem exequibilidade, e que Portugal não pode e não deve defender. Não há gestão. Por isso não existem negociações, acordos ou partilhas (mesmo com "abraços fraternos" e paternalismo q. b.).

3. As línguas são como os filhos (parimo-los e criamo-los, mas o seu futuro não nos pertence), que elas pertencem a quem as escolhe e fala. Como já disse acima o nosso idioma prova-o para quem tenha dúvidas.

Não há gestão partilhada, muito menos supranacional, nem negociações e acordos constantes.
Esta política ´s seguida em relação ao esperanto do Séc. XX (o inglês). Nem mesmo com a commonwelth.

Esta visão é prática e barata e não obriga a qualquer tentativa de controlo neocolonialista.
Contudo, o exponencial(?) crescimento de falantes das diferentes variantes português, o seu progressivo potencial económico e internacionalização, aliados à descrição e codificação das variedades nacionais do português falado nos vários países, são imparáveis - e. g. Moçambique, além de descrições linguísticas abundantes, produziu o seu Vocabulário Ortográfico Moçambicano da Língua Portuguesa (VOMOLP) em 2017 e está a elaborar o primeiro Dicionário do Português de Moçambique, o DiPoMo.
O facto de nos entendermos todos não significa que haja algum (país) de nós que domine e mande os outros em relação ao idioma em que se exprime

Porquê ponderar implicações e rácios custo-benefício nesta área.
É evidente que "aos políticos, por nós eleitos, compete a escolha do melhor caminho, escolha desejavelmente baseada em conhecimento (e não em mitos ou desejos), visando o bem comum.

Ficam já ameaçados de que voltarei à antena sobre esta matéria.
Um Ab.
António J. P. Costa

Valdemar Silva disse...

É verdade que há por cá grandes vaidosos, mas fazem um grande esforço para não serem ridículos
com o seu betacismo: bais ter com o Bitorino a bebe por lá do berde.

Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Volto à antena e, por isso vocês têm de ma aturar.
O Brasil, independente desde 1822, numa sequência de movimentos digna da uma opereta, ficou com a sua língua que terá as características que os brasileiros foram definindo ao longo dos tempos e Portugal pôs-se em bicos de pés para fazer acordos com aquele país. Não era e nunca foi uma questão importante e os brasileiros fizeram e bem o que quiseram fazer.

Depois deu-se a invasão, pela União Indiana, de Goa, Damão e Diu que, a partir desse momento, se tornaram territórios totalmente incluídos na Índia e onde, a pouco e pouco, deixou de se falar português. Não havia, portanto acordo possível. Hoje talvez alguns velhotes ainda se recordem de algumas palavras, mas a adesão a um acordo está fora de questão.

Recuemos agora até ao momento em seis países se tornaram independentes de Portugal. Até então o país era um único - do Minho a Timor - e não havia necessidade de acordo. O governo definia as regras e as populações cumpriam(?).
Trinta anos depois, o nosso país resolveu pôr-se, de novo, em bicos de pés e, através de outro acordo ortográfico, pretendeu uniformizar a fala e escrita do português, isto é, tomou uma atitude neo-colonialista, pretendendo impor a seis ex-colónias e ao Brasil, como deviam falar e escrever.
Esta "atitude" partia de uma base falsa: no Portugal até 1975/76 o idioma português não era uniformemente falado e escrito. Não era verdade e todos sabíamos, menos os "cultos e sapientes" que não era assim.
E agora com seis países independentes não era mesmo possível

Eu já volto
Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

Já cá estou outra vez

Para recordar que assiste aos novos países o direito de fazerem o que quiserem como muito bem quiserem em todos os aspectos da sua vida, principalmente na escolha do idioma falado na vida diária dos seus habitantes/naturais e " língua oficial". Foi assim que um país onde se fala tétum declarou que a sua língua oficial é o português. Era necessário marcar a diferença em relação à Indonésia e esse foi o primeiro passo.
Na Guiné, com ou sem acordo determinado, a percentagem da população falava português minimamente correcto era mínima e vocês sabem do que falo. Hoje, com mais de 30 etnias, algumas com apenas cerca de 5.000 habitantes e sem expressão escrita, o idioma da Guiné (Bissau) é o crioulo e já hoje o português é a terceira língua. O crioulo pode considerar-se derivado do português, mas é a língua em que aquele povo se entende. Há mais de 20 anos, os debates na Assembleia Nacional Popular eram em crioulo e só as conclusões eram (trans)escritas em Português (correcto?). Se a língua oficial é o português, isso deve-se à necessidade de marcar a diferença entre dois países francófonos.
O mesmo poderemos dizer de Cabo Verde ou de S. Tomé. Neste último não tive dificuldade em me entender com a população, mas a língua francesa está em franca expansão, com um canal de TV a emitir 24 sobre 24 horas. O idioma cabo-verdeano está em desenvolvimento e nem outra coisa era de esperar com a sua música e poesia a florescer, como bem sabemos.
Em relação a Moçambique, para além do que já foi dito pela Margarita Correia, só recordo que as entrevistas dadas pelas populações desalojadas são legendadas nas TV.
O mesmo poderemos dizer de Angola que nem se deu ao trabalho de regulamentar o uso da língua popular como fez Moçambique.
E estão todos no seu direito! São países que "tomaram o seu futura nas respectivas mãos".
E do Brasil nem vale a pena falar. O resultado "está à vista e não precisa espelho".
Este acordo além de uma coisa que não fazia falta nenhuma foi uma saloice de que não se pode medir o tamanho.
Aquilo que me desagrada, mas me desagrada mesmo, é que o retorno ao "idioma anterior" é inviável. Estamos perante uma "tuguice" (mais uma) que só poderemos aturar, uma vez que a adopção nas escolas, na documentação oficial do Estado e na imprensa deita a baixo qualquer reversão.
Enfim: mandamezios vir? Agora aturêmazios

Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Esqueci-me de Macau onde, como se sabe, sempre se falou um português verdadeiramente camiliano. Esta colónia foi entregue à China e eu estou à espera que os cultos cá do meu bairro avancem com um acordo "hortográfico" que seja imposto àquela potencia comunista e totalitária e a vigorar só na cidade. Como sabem os traços da passagem dos portugueses no local estão cada vez mais profundamente impressos e, um dia destes, é toda a China que será colonizada pelos portugueses e terá de cumprir o acordo.
Estes cultos e sapientes é que são os verdadeiros "Tugas" (expressão que abomino) que nunca mais aprendem a ter a dimensão que têm.
É necessário avisá-los que o colonialismo já acabou e que a língua que um dado país fala é um elemento aglutinador e que até promove a resistência ao ocupante, como sucedeu na Guiné. É como dizia o outro: "A minha Pátria é a língua portuguesa" e assim é como o brasileiro que é a Pátria dos brasileiros e com o moçambicano, angolano, sãotomense, guineense ou caboverdeano etc., etc. e mais etc.

Um bom dia para todos
António J. P. Costa