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quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24531: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (2): CIOE / Rangers - Especialidade em Lamego (Parte 2)

Guiné > Olossato > Secretaria > Abril de 1970 > João Moreira


"A MINHA IDA À GUERRA"

2 - CIOE / RANGERS - ESPECIALIDADE (Parte 2)

João Moreira


Como não acabei a especialidade, e só estive lá durante 3 ou 4 semanas, não sou a pessoa mais qualificada para descrever a vida dum "Ranger" durante a especialidade.
A distância de 55 anos também não ajuda. Portanto, peço já desculpa e a vossa compreensão para qualquer descrição que não corresponda à realidade de então.

Continuando, direi que o dia "normal" começava pela alvorada.
Vestidos, passávamos pela cozinha/refeitório, onde os cozinheiros nos davam um ladrilho de marmelada, ou um bocado de queijo, ou meia tablete de chocolate para o estômago não estar vazio na hora seguinte, porque teríamos um crosse ou aplicação militar ministrada pelo diretor do curso, que era o capitão Fonseca.

Na parada exterior, formavam os 4 pelotões - 1 do COM e 3 do CSM, - com os respetivos comandantes de pelotão, que os apresentavam ao comandante de companhia, que era o capitão Rino. Este, por sua vez apresentava a companhia ao diretor do curso que estava num estrado à frente dos pelotões - Os 2 capitães tinham feito o curso de "rangers" nos Estados Unidos da América.

E começava a sessão. Não eram emitidas ordens. Como num jogo de sombras, todos repetiam o que diretor do curso fazia.
O comandante de companhia tirava a roupa do tronco e colocava-a no chão. E todos os outros militares repetiam.

Começava a sessão com os exercícios que o capitão Fonseca executava e que o resto do pessoal repetia, independentemente do chão em terra batida estar seco, molhado, com lama ou com neve ou com qualquer outra situação menos agradável.
Terminada a sessão íamos tomar banho, cortar a barba e vestir a farda que estava indicada.
Corretamente fardados, formávamos e seguíamos para o refeitório tomar o pequeno almoço.

Em mesas para "?" pessoas, e acolitados por soldados de casaco branco, tomávamos o pequeno almoço que era constituído por café ou cevada, leite, manteiga e pão à descrição. Também havia Ovomaltine, que já não me lembro se pertencia à dieta diária ou se só era servido de vez em quando, como os ovos estrelados.

Seguia-se o descanso dos guerreiros com 1 ou 2 horas de teoria, ou armamento e voltava-se ao exercício fisico.

O almoço e o jantar eram muito bem servidos, do género arroz, bife com ovo a cavalo, batatas fritas, pão, vinho e fruta. "Só faltava o café e o whisky"!!!

Numa ocasião o comandante da unidade disse-nos que a dotação para a alimentação era o dobro do normal, ou seja 22$50x2=45$00 e que ainda acrescentavam dotações suplementares do CIOE, porque para poderem fazer aquele esforço físico tinham que nos dar condições.

Depois do jantar podíamos sair até às 22(?) horas, sem qualquer documento e no regresso podíamos ir descansar ou tínhamos sessão de cinema, com filmes de guerra. Tenho ideia que estes filmes eram comentados pelos oficiais da unidade.

Numa ida à Carreira de Tiro, em Penude, saímos depois de almoço com cerca de 10 cunhetes para G3. (Penso que eram mais de 10 cunhetes, mas não tenho a certeza).
Como cada cunhete tinha 1.000 balas, levamos 10.000 balas, que divididas por 33 instruendos ficava a média de 333 por instruendo.
Após fazermos os exercícios de tiro previstos, sobraram alguns cunhetes e o nosso comandante de pelotão propôs gastar as balas que sobravam para não termos que voltar a Lamego carregados.

Então as balas que sobravam foram gastas por atiradores "voluntários".
Com muita organização e segurança, ia 1 militar de cada vez fazer tiro no estilo que quisesse - em pé, sentado, de joelhos - e também escolhia a cadência: tiro a tiro ou rajada.
Para garantir a segurança o "atirador" só ia para a pista à ordem do comandante de pelotão.

Fiz várias centenas de tiros nas mais diversas posições e nas 2 cadências. No final até já conseguia fazer tiro a tiro, com a patilha em rajada. Resumindo, numa sessão de tiro em Lamego, fiz mais tiros que durante toda a recruta nas Caldas da Rainha.

Também tinha o lado negativo para nós.
Ao fim de 3 ou 4 semanas, quando fui para o Hospital Militar, ninguém tinha saído do quartel.
Não tinha havido fim de semana para ninguém.

"ERA JÁ A PREPARAÇÃO MENTAL PARA UMA IDA PARA O ULTRAMAR".


(continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 27 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24507: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (1): CIOE / Rangers - Especialidade em Lamego (Parte 1)

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24507: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (1): CIOE / Rangers - Especialidade em Lamego (Parte 1)

João Moreira, instruendo do 1.º pelotão da 1.ª Companhia, no RI 5.
O Comandante de Pelotão era o Ten Sidónio Ribeiro da Silva e o Comandante de Companhia era o Ten Carvalho.
Foram os dois mobilizados para a Guiné


"A MINHA IDA À GUERRA"

1 - CIOE / RANGERS - ESPECIALIDADE (Parte 1)

João Moreira[1]


Em Abril, após a recruta no RI 5, fui para o CIOE, em Lamego, para tirar a especialidade de operações especiais, mais conhecida por "rangers".

Para quem não passou pelo CIOE não terá a noção da dureza da especialidade. Por isso vou contar algumas situações que "só acontecem lá".
RI 5 - Caldas da Rainha - Da esquerda para a nossa direita: João Moreira, Castro, Seco e Jorge. Os outros três não me lembro o nome deles mas também eram do 1.º Pelotão.

Aproveitávamos o sol, para estudar para os testes e para engraxar as botas, para não haver castigos. Como podem ver,  tive um par de botas novas e um par de botas antigas, que apertavam com fivelas. Os 3 primeiros (eu, Castro e Seco) fomos para Lamego. Eu fui para o hospital militar e perdi a especialidade. Eles completaram a especialidade e depois foram para os "comandos". Seguidamente foram mobilizados para Moçambique, donde regressaram sem problemas.

Quando chegámos a Lamego fomos instalados numa camarata que ficava ao cimo de uma escadaria com cerca de 30 a 40 degraus, que tinha de ser subida e/ou descida sempre que tínhamos que lá ir fazer qualquer coisa. 

 Para além do fardamento que nos estava distribuído, desde que assentamos praça, deram-nos farda camuflada, farda azul, do género da usada pelos especialistas das viaturas de combate usadas em cavalaria.

Como isso fosse pouco, ofereceram-nos 1 G3, 1 Mauser e 1 canhangulo, mais botas de lona como as usadas na Guiné e botas que apertavam com fivelas.

Para nossa distração e sanidade mental a caserna estava equipada com aparelhagem sonora, e para nos "divertir" tocava 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Para facilitar a memorização da letra dessa música, era sempre a mesma que tocava (desde o primeiro ao último dia da especialidade).

Como não queriam aborrecer-nos, de vez em quando paravam a música e proclamavam os "mandamentos do ranger" que eram 10, tal como na religião Católica Apostólica Romana.

Para não cairmos na "monotonia", de vez em quando - no meio da música privada e durante a noite - surgia uma voz que dizia qualquer coisa deste género:

"RANGER TENS 3 MINUTOS PARA FORMAR NA PARADA EXTERIOR COM A FARDA X, A ARMA Y E AS BOTAS Z", etc.

E os rangers, que estavam cansados dos "trabalhos diários", tinham que dormir com um ouvido alerta, para poderem levantar-se e cumprir as ordens enviadas por altifalante.

Depois de nos prepararmos, tínhamos que fechar os armários com os aloquetes, descer a tal escadaria de 30 ou 40 degraus, atravessar a parada exterior em passo de corrida - não se podia andar a passo na parada - e apresentar-se ao comandante do pelotão que estava à nossa espera.
De acordo com o atraso éramos "premiados" com 30, 40 ou mais "completas" - ainda se lembram quais os exercícios que as compunham e quantas eram de cada exercício?

Como os instruendos se queixavam que era pouco tempo, os comandantes diziam que era o tempo mais que suficiente, porque ainda dava para fumar um cigarro.

Deu-nos algumas dicas de como proceder para chegar à parada dentro do tempo previsto e ainda poderem fumar o tal cigarro:

  • Dormir com os armários abertos. O receio do roubo foi esconjurado com a pena que estava destinada a quem tentasse roubar. E realmente nunca ouvi ninguém queixar-se de ter sido roubado.
  • Nos 3 ganchos do armário colocar uma das 3 fardas, exceto a nº 2.
  • Nos cantos dos armários colocar 1 das 3 armas.
  •  Calçar as meias.
  • Vestir as calças e prendê-las com o cinto igual ao que usávamos na Guiné para enfiar os carregadores.
  • Enfiar o quico.
  • Pegar na arma e na camisa.

Durante o trajeto até ao local da formatura vestia e apertava a camisa e as calças. Chegados ao local da formatura,  acendia o cigarro, apertava as botas e esperava que o tempo se esgotasse enquanto acabava de fumar.

Ao fim de 3 ou 4 semanas, fui ao médico, porque já não suportava as dores na coluna e perdia a acção muscular.

Eu queria dizer ao médico o nome da minha anomalia mas não me ocorria o nome, porque naquele tempo dizia-se em latim (spina bífida). O médico do CIOE era ortopedista, e pelos sintomas disse que era uma espinha bífida congénita, e aí já pude confirmar o nome. Pediu-me a radiografia e o relatório, porque com aquele problema eu não tinha condições para ser militar, muito menos "ranger".

Quando viu a radiografia e o relatório, disse que me ia mandar para o hospital militar regional, do Porto, porque ele não podia fazer nada.

Chegado ao Porto, e ao hospital militar na Boavista,  fizeram-me os exames e confirmaram a minha deficiência, mas, em vez de mandarem para o hospital principal em Lisboa,  deram-me alta. Regressei a Lamego, e mandaram-me para casa porque tinha perdido a especialidade por faltas

Em Julho voltei ao CIOE, em Lamego. Fui logo falar com o médico, para tentar resolver a situação sem ter que perder a especialidade.

Em resultado do que se tinha passado no hospital, no Porto, o médico optou por pedir a minha reclassificação por não ter condições físicas para a especialidade.

Mas, como eu não tinha "cunha",  atribuíram-me a especialidade de atirador de cavalaria e lá segui eu para a Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, onde se repetiu o meu martírio.


(continua)
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Nota do editor

[1] - Vd. poste de 20 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24490: Tabanca Grande (550): João de Jesus Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), que se vai sentar no lugar 878 do nosso poilão

terça-feira, 21 de março de 2023

Guiné 61/74 – P24158: Efemérides (383): 50.º Aniversário de instruendos e cadetes que passaram por Penude, Lamego (José Saúde)


Entrega dos livros de José Saúde e de José Casimiro Carvalho onde relatam as nossas presenças na Guiné, ao Comandante do CTOE, Coronel Sousa Rodrigues


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

50º Aniversário de instruendos e cadetes que passaram por Penude, Lamego


      Num recanto, já anichado em “poeira”, guardam-se memórias de um serviço militar obrigatório que nos levou a conhecer a guerra colonial e as suas óbvias consequências.

Gratidão a Lamego


Camaradas,

Fomos instruendos do 1.º Curso de Operações Especiais (Ranger) do ano de 1973 em Penude, Lamego. No contexto de infindáveis memórias, bem como numa combinação de prazeres conjunturais onde a saudade inevitavelmente prolifera, estivemos no passado dia 18 de março de 2023, sábado, em Lamego para recordar, e sobretudo comemorar, os 50 anos do período em que por lá andámos.

Registe-se que este grupo de camaradas, alguns acompanhados pelos seus familiares, se reúne, anualmente, uma ou duas vezes em vários locais deste soberano solo português. A razão fundamental destes encontros, onde comandante Alberto Grácio, um alferes miliciano que conheceu a guerra da Guiné, junta as tropas, afina o clarinete e toca a reunir os camaradas, sendo o emaranhado das conversas processadas ao redor de uma mesa sempre infindáveis.

Presentemente, todos já septuagenários e naturalmente aposentados, desfrutamos do prazer de uma velha camaradagem, de uma amizade que perdura e de um laço eficaz de união que nos fez mais fortes numa especialidade na qual um camarada que, por motivos vários, não acompanhava o andamento dos outros, jamais ficaria para trás, prevalecendo no íntimo de cada um de nós, então instruendos, o sentimento de solidariedade entre jovens que diariamente se deparavam com as mais díspares adversidades militares.

Deste grupo, que por força de uma razão maior ainda se vão juntando, subsistem camaradas que pisaram os três palcos da guerra colonial – Angola, Moçambique e Guiné -, sendo o meu caso, tal como muitos dos outros camaradas, o solo guineense.


Formatura no pátio do CTOE

O CTOE recebeu antigos militares rangers com pompa e circunstância

A escrita é, na sua sucinta forma de expor acontecimentos em público, uma matéria fundamentalmente essencial, onde as panóplias de emoções vagueiam com uma gigantesca atividade humana por interioridades de vidas em que as sinuosidades dos tempos, assim como a sua multiplicidade das ocorrências, deixa antever que recordar é viver. E foi precisamente nessa multiplicidade de factos que eu, tal como muitos dos camaradas do meu curso, partimos um dia de Lamego rumo ao conflito da Guiné.

Lá longe, em África, ou seja, na Guiné, o meu destino reservou-me uma estadia em Nova Lamego, região de Gabu, onde conheci, tal como todos os camaradas, os efeitos cruéis de uma guerra que não dava tréguas às nossas tropas.

É um facto, creio que real, que todos transportamos nos nossos já usados “cabedais” confecionadas ocorrências que fizeram de nós os homens que hoje somos. É certo que alguns dos nossos camaradas já ficaram pelo caminho, partindo para a tal viagem sem regresso, ficando aqui expresso o nosso sincero e sentido pesar: Paz às suas almas!

Lamego recebeu-nos com pompa e circunstância. Eureka! Terá sido o “grito” comum de toda a rapaziada aquando o nosso reencontro pelas terras lamecenses, onde a escadaria do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios nos trouxe à memória as loucas correrias, quer escadas abaixo, quer escadas acima. Para história da cidade, e obviamente para os rangers, ficará sinalizado que aquela majestosa obra se apresenta como um dos ex-libris de uma urbe na qual expelimos muito suor e lágrimas.

A cidade de Lamego é antiquíssima e foi reconquistada aos mouros em 1057 por Fernando Magno de Leão. Narra a história do Condado portugalense que terá sido em Lamego que decorreram as lendárias Cortes de Lamego, Cortes estas que terão proporcionado a aclamação de D. Afonso Henriques como Rei de Portugal e ali se estabelecerem as "Regras de Sucessão ao Trono".

A sua gastronomia é vasta, destacando-se desse élan gastronómico os seus presuntos e o cabrito assado com arroz de forno, de entre outros manjares sobejamente apreciados, a que se junta a produção de vinhos, nomeadamente vinho do Porto, mas, sobretudo, os vinhos espumantes.

Com a afabilidade do Comandante do Centro de Operações Especiais (CTOE), Coronel de Infantaria Jorge Manuel de Sousa Rodrigues,que se disponibilizou para nos receber com a devida honra, sucedendo-se uma visita às instalações da Unidade, onde o Comandante foi exímio em explicar a evolução de uma Unidade marcadamente exemplar, fazendo-o de forma simplesmente distinta e, sobretudo, acessível, e eis-nos a percorrer alguns dos recantos de um quartel, agora remodelado, que nos recebeu há 50 anos atrás.

Por outro lado, o Chefe da Secção de Operações, Informações e Segurança do Centro de Tropas de Operações Especiais, Tenente Coronel de Infantaria Carlos Cordeiro, terá engendrado o programa abaixo exposto com o qual os rangers do 1º Curso de 1973 foram contemplados:

10h00 – Chegada ao Quartel de Stª Cruz
10h30 – Receção e cumprimentos de boas vindas (Cmdt do CTOE)
Apresentação de cumprimentos pela comissão organizadora
10h40 – Início da cerimónia:
Cerimónia de Homenagem aos Mortos (CHM)
Leitura dos Mandamentos Ranger
Descerramento da placa comemorativa
Visita ao espaço visitável do CTOE
Visita à Igreja de Stª Cruz
11h30 – Visita ao Aquartelamento de Penude
Exposição de material
Foto de grupo junto ao monumento “Ranger”
12h30 – Fim da visita.


Homenagem aos mortos da Unidade na guerra Colonial

Houve, depois, uma visita ao Aquartelamento de Penude, onde todos revivemos os tempos que por lá andámos a desbravar o que, para nós, era desconhecido.

Seguiu-se um almoço no Restaurante Paraíso de Ouro, localizado na Serra das Meadas, com uma visão privilegiada sobre uma paisagem encantadora onde o rio Douro também nos deu as boas-vindas, servido com dignidade, houve abraços, o reviver de memórias de antigos camaradas que “passaram as passinhas do Algarve” para conseguirem ganhar os crachás da dura especialidade, seguindo-se, naturalmente, a despida, mas ficando, entretanto, o nosso profundo reconhecimento pela forma como fomos recebidos. Obrigado!


O camarada ranger Peixoto e o nosso antigo e então capitão Gomes Pereira

Fica aqui também referido, e com toda a nossa maior honorabilidade, a presença neste Encontro do nosso então Capitão José Gomes Pereira, um Ranger que muito nos ensinou e, logicamente, por nós muito “puxou” para reconhecermos capacidades escondidas.

Abraços camaradas e um até breve.

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 

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Nota de M.R.:

Vd. últimos postes desta série em:  

18 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24151: Efemérides (382): Homenagem aos antigos combatentes da guerra do ultramar, do Concelho de Resende, vivos e caídos em campanha, dia 29 de Abril de 2023, que contará com uma represenção do nosso Blogue

terça-feira, 22 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22306: Memória dos lugares (422): CTOE - Centro de Tropas de Operações Especiais, Lamego: reportagem da visita possível, mais de 60 anos depois (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Foto nº 1   > CTOE - Centro de Tropas de Operações Especiais (criado em 1960 c0mo CIOE - Centro de Instrução de Operações Especiais) (vd. o blogue do nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, "Rangers & Coisas do MR")

Por detrás do Virgílio Teixeria, musealizada,  uma metralhadora quádrupla  AA CMK1 20mm m/953



Foto nº 2 > O velho convento de Santa Cruz, onde se instalou em agosto de 1839 o regimento de infantaria nº 9


Foto nº 3 >  Uma relíquia da história  da nossa artilharia, o obus 7.5, de montanha, de origem italiana (segundo o nosso especialista, cor art ref António J. Pereira da Costa, que faz hoje anos...)



Foto nº 4 > Legenda: "RI 9. As sentinelas dos terrenos dos paiois abrirão fogo sobre quem tente escalar os muros, 1948"...



Foto nº 5 > Làpide de homenagem a um dos primeiros comandantes da unidade militar de La,ego, o RI 9, no período de 1849-1862, o Cor José Manuel da Cruz



Foto nº 6 > Interior do quartel, visto da porta de armas...


Foto nº 7 > O Virgílio Teixeira, sessenta anos depois...


Fotos: © Virgílio Teixeira  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de 6 do corrente, enviada pelo Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); economista e gestor, reformado; natural do Porto,vive em Vila do Conde; tem cerca de 170 referências no nosso blogue.

Ontem fiz uma visita de estudo ao CTOE - Quartel dos Ex- Rangers de Lamego.

Eu passei por lá, no ano de 1960, acompanhando 
o meu querido irmão Jorge Teixeira (1941 - 2021, num camião militar, ele ia lá fazer um serviço, e demoramos um dia do Porto até lá, pelas curvas do Marão velhinho. Ainda não se falava da guerra de África.

Para os que lá passaram e para outros, tem interesse ver como hoje está aquilo? Se for de algum interesse posso fazer um pequeno comentário com foto. Bem como a visita a um Hotel Rural, Casa dos Viscondes da Várzea, em Lamego, da Maria Manuel Cyrne, um espectáculo do Douro, ou a rota dos Barcos do Douro, rio acima, rio abaixo, até ao Pinhão, com a passagem da Eclusa de Barragem da Régua; os antigos e actuais comboios até Barca de Alva... ou, as maravilhosas vistas e paisagens na rota do Túnel do Marão e obras de arte, em pleno Alto Douro...

Aguardo Respostas!

Ab, Virgilio Teixeira

2. Resposta do nosso editor, em 7 do corrente:

Virgílio, essa história de 1960 pode e dever ser contada... Como a tua visita de saudade, 60 anos depois... Mete nas legendas das tuas fotos... E podes fazer mais outro poste com a tua viagem pelo Douro: temos uma série, "Os nossos seres, saberes e lazeres", que também podes usar...

Aliás, dou-te os parabéns por te meteres ao caminho com a tua Manuela... Portugal tem muito por descobrir, de Norte a Sul, Leste a Oeste. (...)

Abração, Luis

3. Visita a a Lamego, em 5 de junho de 2021. Tcxto e fotos enviados em 14 do corrente;

Objectivos fotografar e visitar o antigo centro de formação de Rangers, termo americano importado, porque o primeiro curso foi dado por um ranger americano.

Conheci no início da sua formação com 17 anos, em 1960 numa deslocação com o meu falecido irmão Jorge, 2« sargento rádio montador profissional de transmissões. Numa coluna militar saída do Porto, ele ia com a missão de montar o sistema de rádio não existente entre as unidades. 

Eu fui à boleia na caixa do camião coberto de lona, não me lembro a marca, mas era tudo velho e avariavam na subida do Marão. Foi preciso um dia inteiro e passei frio. Dormi no quartel mas não me lembro de pormenores.

Nunca mais visitei o Centro, mas de Lamego o que mais me lembrava era daquela aventura, claro que a boleia não estava autorizada, fui clandestinamente, sem problemas visto que eu já nasci e fui criado quase dentro dos quartéis, como familiar de profissionais.

Regressamos 2 dias depois sem problemas que eu saiba.

Li nos comentários do blogue alguém que esteve nos Rangers, suponho que numa conversa com o João Crisóstomo em que ele sentia uma certa nostalgia desse passado, e como temos cá muitos Rangers, comecei a matutar na ideia, de ir ver o Quartel de Lamego, hoje quartel de Santa Cruz em homenagem a um ten cor, não sei bem se é assim, há uma placa pouco legível que fala no ten cor José Manuel da Cruz, há uma data parece 1846, mas vamos em frente porque não sei inventar.

Já não tendo pedalada para fazer a viagem e conduzir por aquelas estradas, combinei com a minha filha mais nova, e marido, com o pretexto de irmos revisitar a Régua e assim o meu genro nos levar.

É lá fomos, passando pelo túnel do Marão, seguindo os barcos rio Douro acima, a passagem pela eclusa da comporta da barragem da Régua, não sabia bem como funcionava aquilo, fomos ainda à uma bela quinta onde o meu genro tinha estado em grupo pela empresa, com umas vistas fantásticas e falei então que gostava de ir fotografar o Quartel dos Rangers, e assim fomos. Ele também tem um familiar que lá esteve e poderá ver as fotos.

Grande desilusão, passamos lá uma hora a fotografar o que havia à vista, não encontramos viva alma, tudo fechado a 7 chaves, era Sábado e o tasco fechou para fim de semana, penso eu, espreitei lá para dentro e nem um cão de guarda se via.

A ideia que fica é um local isolado como deve ser, mas que encerra ao fim de semana, pois chegamos antes do meio dia.

As fotos que junto não estão legendadas, mas dá para perceber, em especial para quem foi hóspede. As luvas brancas que uso é uma necessidade dermatológica, isto é uma chatice.
 
Lamento desiludir as pessoas, não fazia ideia de estar tudo fechado.

Despeço-me com amizade.
Virgílio Teixeira

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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de junho de  2021 > Guiné 61/74 - P22290: Memória dos lugares (421): quartel do BENG 447, Brá, Bissau, um hotel de cinco estrelas

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22288: Consultório militar do José Martins (67): “Companhias de Caçadores Especiais” - Unidades de Infantaria criadas em 1959, que iriam ter como missão principal, a defesa das Províncias Ultramarinas - Parte I


O nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), em mensagem de 14 de Junho de 2021, enviou-nos mais um dos seus trabalhos de pesquisa histórica, desta vez dedicado às antigas Companhias de Caçadores Especiais, as primeiras Unidades militares a serem enviadas para a Guerra do Ultramar no início dos anos sessenta.


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22284: Consultório militar do José Martins (66): Implementação do Estatuto do Antigo Combatente - Actualizações

terça-feira, 21 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21189: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (121): com a ajuda do José Martins (, o nosso "Sherlock Holmes"), o João Crisóstomo, a partir de Nova Iorque, acaba de reencontrar, mais de 50 anos depois, o seu camarada de Mafra, Lamego e Beja, Luís Filipe Galhardo Lopes Ponte, hoje ten cor ref


Imagem nº 1 > Lamego, CIOE, 1964, turma B


Imagem nº 2 > Lamego, CIOE, 1964, turma A

Lamego, CIOE > 1964 > Turmas A e B do curso de operações especiais: o João CRISÓSTOMO  pertencia à turma B (imagem nº 1); e o Luís Filipe GALHARDO Lopes  Ponte à turma A (imagem nº 2) 


Imagem nº 3

Excerto da carta, de 22/5/2020, do capelão militar do RI 3, Beja, padre João Diamantino, ao João Crisóstomo: (...) "Sei que portaste muito bem em Lamego, pelo Luís Filipe da Ponte que está aqui no RI 3" (...)


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso colaborador permanente José Martins [, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/7o; tem mais de 410 referências no nosso blogue; vive em Odivelas; revisor oficial de contas reformado]

Date: segunda, 20/07/2020 à(s) 18:40
Subject: Mensagem ZULU: Em busca do "Luís Filipe"
Boa tarde

Tive o grato prazer de receber uma chamada do João [Crisóstomo], ontem à tarde.

Estivemos a falar o que foi extremamente agradável. 

Terminada a chamada coloquei o nome de Luís Filipe Galhardo Lopes  Ponte (*) e a pesquisa encaminhou-me para a Federação Portuguesa de  Automóveis e Karts. 

Foi piloto durante anos.

Enviei mensagem solicitando informação se se encontrava ainda ligado  àquela federação e que pedia que me contactasse. Hoje recebi indicação  do seu contacto.

Já lhe telefonei, mas não tem memória, pelo menos de imediato, do João  Crisóstomo. Esteve em Mafra e por lá ficou, continuando a tropa no  Quadro Especial de Oficiais. É tenente coronel reformado. 

O contacto do telemóvel é [...].

Espero que tenhas encontrado o homem.

Abraço, Zé Martins


2. Mensagem de João Crisóstomo [luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes... Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque],  dirigida ao Luís Filipe Galhardo Lopes Ponte, através do e-mail do seu filho Francisco Ponte:

Date: segunda, 20/07/2020 à(s) 20:50

Subject: Hello de Nova Iorque!....

 Meu Caro Luís Filipe,

Permito-me apelidar-te assim, baseado na nossa amizade de há cinquenta anos atrás: Mafra, Beja, Lamego…

Vejo que temos muito em comum, entre elas o de termos esquecido muitas coisas,  o que me sucede mais frequentemente do que eu desejaria… Neste caso porém parece que eu me lembro de mais coisas do que tu, pois nem o meu nome te lembravas já...

Mas eu nunca te esqueci, e muitas vezes me tenho dito: quero encontrar o Luís Filipe,  nunca mais esqueci o abraço (e lágrimas) que me deste (dentro do comboio) em Vila Franca de Xira, quando vinha eu do Porto para Lisboa. Tu,  ao veres-me , ficaste muito espantado e agarraste-te a mim num abraço que jamais esqueci … E que te tinham dito que eu tinha morrido na Guiné…

Bom, vamos com certeza falar mais, para já falamos pelo telefone e oxalá um dia o possamos fazer pessoalmente.

Estou neste momento um pouco apertado (tenho um encontro marcado) mas quero-te enviar aqui estão algumas fotos de que te falei (dentro do contexto duma mensagem que enviei, andando à tua procura…) 

Tu na foto do curso de  Lamego [, de operações especiais,]  estás na turma A, o 3º a contar da esquerda, na última fila, de apelido Galhardo…  A carta do P. Diamantino, que também anexo, menciona o teu nome Luís Filipe Ponte… 

Na outra foto eu estou na turma B, o 3º a contar da esquerda, na última fila...

Um grande abraço e até breve, que eu telefono-te brevemente outra vez!

João


PS - Por favor DIZ AO TEU FILHO PARA FAZER UM "REPLY" ( um simples "OK recebido" é suficiente!), para confirmar o endereço e eu ficar a saber que recebeste...

3. Mensagem do João Crisóstomo, enviada na mesma data e hora ao nosso editor:

Caro Luís Graca,

Depois do post 21079 fiquei a matutar como é que havia de consultar os Arquivos Militares mencionados pelo nosso colega José Martins. Queria dizer-lhe o meu muito, muito obrigado pelo interesse e trabalho de investigacão, mas preferia ( como sempre!) fazê-lo por telefone. Daí a minha chamada de hoje.

Sucede que ao procurar alguns documentos relacionados com a CCaç 1439, vim a descobrir também fotos, cartas, aerogramas, etc.,   que sabia ter guardado como recordações dos meus tempos da Guiné. 

 Mas,  "saído da tropa", levei estas recordações comigo para a Inglaterra, e depois andaram sempre comigo: Paris, Stuttgart, Rio de Janeiro , Nova Iorque … Todavia, com tantas mudanças e endereços,  eu pensava que se tinham já "extraviado".

Que grande satisfação ao reencontrar tanta coisa que já tinha dado por perdido!
Interrompo para te dizer que acabo de falar com o José Martins a quem pude dar pessoalmente o meu grande abraço de gratidão pela sua ajuda. Graças ao "teu/nosso" blogue e a indivíduos como ele,  conseguimos encontrar camaradas há muito tempo perdidos! (**)

Isto é melhor que o Facebook (que também tentei consultar, mas fiquei logo perdido sem chegar a parte nenhuma).

Bom, continuando: Uma das cartas que encontrei, escrita a 22 de Maio de 1965, foi-me enviada pelo P. João Diamantino, na altura capelão militar do RI 3, de Beja por onde passei e onde, saído de Mafra, "preparei" um pelotão. 

Nesta carta ele menciona o Luís Filipe da Ponte, que lhe tinha dado notícias minhas: tínhamos estado juntos e feito o "curso de Rangers" em Lamego; mas a minha memória de gato já não se lembrava disso. 

E encontrei então uma foto desse curso , onde vem um indivíduo ( na turma A, o 3º a contar da esquerda, na última fila) que até me parecia o Luís Filipe, mas o nome não condizia: era Galhardo..."Que semelhança", pensei eu. 

Mas há tanta gente parecida e já me têm sucedido situações até embaraçosas… Mas se ele fez o curso comigo … E  fui de novo à foto: reparei então que o nome "Galhardo" que identifica o indivíduo que "se parecia" com o Luís Filipe,   é um dos nomes do seu nome completo… 

Tem que ser ele!

Agora fico esperançado de ainda poder encontrar o meu camarada amigo que chorou de comoção por me "encontrar vivo", depois de lhe terem dito que eu tinha morrido na Guiné.

Ao meu "camarada salva-vidas" José Martins, peço mais um favor: mencionaste três arquivos; sabes em qual deles encontraste o Cap Luís Filipe Galhardo Lopes Ponte? 

E a quem quer que me possa ajudar … fico antecipadamente grato por qualquer dica ou ajuda em como encontrar/saber a sua morada, etc.,  etc.,  etc… Oxalá seja possível. 

A minha vida está cheia de momentos destes, de reencontros de amigos a quem a separação ocasionou a perda de contactos. E se o "perder" um amigo é sempre uma experiência traumática para mim, o reencontrá-los é sempre uma experiência exilariante.

Sei bem que isto é uma experiência que muitos de nós temos vivido e, sabe Deus, com quanta emoção também. Portanto sabem bem do que estou a falar.

A todos um grande abraço do

João Crisóstomo, Nova Iorque

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de:

10 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21063: Tabanca da Diáspora Lusófona (11): Procuro, desde 1967, o Luís Filipe, que foi meu camarada, no COM, 1º turno de 1964, 3ª Companhia, 5º pelotão, EPI, Mafra... Encontrei-o na estação de caminho de ferro de Vila Franca de Xira, deu-me um grande abraço, julgava-me morto na Guiné, passámos um fim de semana no Algarve, tenho ideia que era alentejano, de boas famílias... Quem saberá o seu nome completo, e outros dados que me permitam ainda poder encontrá-lo ? (João Crisóstomo, Nova Iorque)

15 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21079: Consultório militar do José Martins (51): Fontes arquivísticas para o João Crisóstomo, que vive em Nova Iorque, procurar o nome (e, eventualmente, o paradeiro) do Luís Filiipe, que foi soldado-cadete, do 1º turno de 1964, COM, EPI, Mafra: Escola Prática de Infantaria, Arquivo Geral do Exército, Arquivo Histórico-Militar, Liga dos Combatentes... Há três capitães milicianos com este nome, Luís Filipe Fernandes Tavares (BART 6524/74, Angola); Luís Filipe Rolim Oliveira (BCAV 8323/74, Angola); e Luís Filipe Galhardo Lopes Ponte (CART 3572, Moçambique)

Último poste da série > 27 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20780: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (118): A COVID-19 não passará!... Felizes reencontros de 3 camaradas, que estão à distância de um clique... mas fisicamente separados e agora confinados... Falamos de: (i) José Joaquim Pestana, gravemente ferido em combate em 9/3/1970, no Xime, quando era fur mil da CART 2520, e que vive em Torre de Moncorvo, sua terra natal; (ii) José Nascimento (em Faro, a 671 km, de carro); e (iii) Paulo Salgado, amigo de infância e vizinho do Pestana, a 400 metros da sua porta...

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20587: Agenda Cultural (724): Palestra sobre a Op Mar Verde (22/11/1970) pelo escritor António José dos Santos Silva: Palacete Viscondes de Balsemão, Pr Carlos Alberto, 71, Porto... Sábado, 1 de fevereiro de 2020, às 14h30

Capa do Livro de Banda Desenhada de A. Vassalo (*)


C O N V I T E

DISSERTAÇÃO SOBRE A OPERAÇÃO "MAR VERDE"


Cartaz oficial do evento


Capa do livro do António José dos Santos Silva, "CIOE: DA GUERRA DO ULTRAMAR AOS DIAS DE HOJE" (Lisboa: Nova Arrancada, 2002 173 pp.)


Caras Amigas e Caros Amigos!

Nos 50 Anos (1970-2020) da Invasão da Guiné-Conacri, pelas Forças Armadas Portuguesas, o GRUPO VIRIATOS e ANTÓNIO JOSÉ DOS SANTOS SILVA têm a honra de os CONVIDAR para a Dissertação em cima anunciada. 

Entrada Livre. 

Como em casos similares,  não existem cadeiras que sejam previamente sujeitas a qualquer tipo de marcação.

Melhores Cumprimentos.

GRUPO VIRIATOS
ANTÓNIO JOSÉ DOS SANTOS SILVA (**)
____________

Notas do editor

(*) O [António M.] Vassalo Miranda, nascido em Vila Franca de Xira, em 1941,  tem seis referências no nosso blogue: foi furriel mil 'comando', participou na Op Tridente, é um veterano da Guiné, c. 1963/65. Passou também por Angola. Como civil, viveu algum tempo em Moçambique, na Rodésia (hoje Zimbábuè) e na República Sul-Africana. É amigo do Virgínio Briote, do João Parreira, do Mário Dias... E é grande criador de banda desenhada  infelizmente com problemas de saúde ocular.  Infelizmente, também, não faz (ainda) parte da  nossa Tabanca Grande.

(**) Último poste da série de 22 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20583: Agenda cultural (723): Exposição de fotografia do nosso camarada Renato Monteiro, "Festas de N. Sra. da Troia", sábado, 25 de janeiro, 16h00, em Setúbal, no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS)

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16125: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (24): Memórias de guerra ou guerra de memórias?

1. Em mensagem do dia 16 de Maio de 2016, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), mais uma das suas "Outras Memórias da Minha Guerra".


Outras memórias  da minha guerra

23 - Memórias de guerra ou guerra de memórias?

Não fora o miserável vencimento de Cabo Miliciano, aquele Verão de 1966 teria sido um dos melhores de sempre.
Estava “hospedado” em Espinho, uma das melhores estâncias de veraneio do País, perto de casa e dos amigos, bem servido pelo serviço hoteleiro do GACA 3 e dispondo das excelentes oportunidades de “desenfianço”; estava eu a viver uma tropa “peluda” sem igual. Aquele meio ano de praia contínua, recheado de oportunidades amorosas e de abundantes convívios, afastou-me da ideia que ainda havia muito tempo de tropa por cumprir.

E quando chegou a mensagem de que deveria ir a Lamego prestar provas para os “Rangers”, ainda restou a esperança de que não ficaria lá, em virtude das más provas que iria prestar. Porém, de nada valeram aquelas simulações de fraqueza, pois o destino estava traçado: ficar em Lamego e obter o melhor aproveitamento, porque seria, inevitavelmente, mobilizado.

Decorriam, ainda, os festejos da Sr.ª da Ajuda, naquele final de Setembro, quando entrei para o comboio, precisamente ali diante do picadeiro, onde tantas vezes nos deleitávamos com o desfilar das maiores belezas da nossa juventude. Naquela viagem até Lamego, agora já para frequentar o curso, em que não me relacionei com ninguém, tive tempo para analisar a nova situação e tomar sérias decisões.

Naquele tempo não era nada fácil sair do CIOE de Lamego, durante os fins-de-semana. As poucas “dispensas-surpresa” e a dificuldade de ligação dos transportes até casa, não davam hipóteses do “tal” gozo de fim-de-semana. Este isolamento veio favorecer a decisão de desligar quaisquer relações amorosas que pudessem evoluir ou manter compromissos.

Assim, todas as folgas seguintes foram aproveitadas para o gozo descontraído em convívios, onde se procurava também afastar a guerra do pensamento. É certo que já pensava na necessidade de correspondência amistosa, mas estava decidido a nem sequer vir a ter “madrinha de guerra”.

Porém, num Domingo em que alterámos o circuito das visitas às jovens do interior de St.ª Maria da Feira, muito simpáticas especialmente nos magustos que nos proporcionavam, rodámos em sentido contrário, seguindo de Canedo para Lever, entrando no leste de Vila Nova de Gaia, e assentámos em Crestuma, junto ao Rio Douro, para petiscar sável e lampreia. Ao sairmos do tasco da Mariazinha, bem comidos e bem bebidos, trazíamos maiores motivações para as habituais investidas “piropeiras”. Por sorte, logo ali de frente, no Largo do Torrão, estava um grupo de belas jovens, que até pareciam estar à nossa espera. Ao fim de poucos minutos, já o grupo de pretensos galãs se dividia em conversas directas, entre fortuitos casais. Foi nessa altura que quando dei por mim, já subia pela estrada da Mouratinha, acompanhado pela “mais bela do grupo”.

Poucos dias depois, ao descer pela primeira vez, por Crestuma abaixo, pude admirar melhor as belezas naturais que a tornam uma das mais belas e mais admiradas. Parar no adro da Igreja Matriz, e olhar o Rio Douro e as suas margens, especialmente para junto da foz do seu afluente Rio Uíma, é uma sensação ímpar, inexplicável e muito emotiva. Em Fiães, uns 12 km a montante, conhecia muito bem o Rio Uíma. Foi nele que aprendi a nadar e a pescar umas trutas. Porém, nunca tinha ido a Crestuma, nem imaginava a sua grandeza intrinsecamente ligada ao rio da minha terra.

Ó terra de lenda,
Paninho de renda
Bordado por mãos de fada!
Tão bela e garrida
És a minha vida
Ó minha terra adorada!
Crestuma formosa,
Meu botão de rosa,
No perfume e no feitio,
Talvez sejas pobre
Mas és a mais nobre
Das terras da beira-rio.

Extracto de poema de Eugénio Paiva Freixo, consagrado poeta Crestumense.

Embora, inicialmente, tudo parecesse normal, o certo é que, desta vez, o espectro da guerra trazia efectivamente preocupações acrescidas. Agora, que pouco tempo faltava para ir para a Guiné, sentia que, afinal, a minha determinação de finais de Setembro fora involuntariamente ultrapassada. Já havia sido atraído por belas raparigas, com destaque para loiras, olhos verdes, mamas salientes, boas pernas, tudo do melhor, em corpos fortes e sorridentes. Porém, de repente, parece que esses predicados foram esquecidos, para valorizar outros encantos que só o coração compreende. Era chegado o amor. Enfim, o costume de quem se apaixona.

Cada vez mais preso a esta relação, procurava então que ela não pudesse provocar as indesejáveis mazelas. Assim, embora o amor estivesse bem presente neste relacionamento, procurou-se evitar compromissos de maior responsabilidade. Ficou, todavia, a ligação permanente, até o que a guerra decidisse.


Crestuma é uma pequena povoação ribeirinha, situada na margem esquerda do Rio Douro, junto à foz do Rio Uíma. O seu nome provem da aglutinação das palavras Castelo (Crastrum) e Rio Uíma (Umia) – Crastumia - Crestuma. No dizer de historiadores e arqueólogos que se têm dedicado ao estudo das origens de Crestuma, o morro do Castelo (Parque Botânico) já foi ocupado na idade do ferro (I milénio a.C.). Aí se terá instalado na elevação, um povoado indígena, similar a tantos outros castros da região.

Na sequencia das guerras púnicas, os romanos aproveitaram a estratégia dos cartagineses que os atacaram pelo norte de Itália e, retaliando, entraram pela Península Ibérica. Atacaram Mérida e chegaram a Lisboa em 218 a.C..

Em 137 a.C, já os romanos dominavam as margens do Douro, controlando e desenvolvendo as actividades mineiras. O filão aurífico que já havia sido bem descoberto, estendia-se desde as proximidades de Póvoa de Varzim, seguindo por Valongo, Melres, Lomba, Arouca, até Castro Daire.

Estudos recentes levaram à descoberta de um Cais Romano em Crestuma, de onde partiam valiosas cargas para Roma. Mais recentemente, constata-se que também já havia ali uma certa tradição na arte de fundição.

Também se apontam os inúmeros moinhos, muito antigos, concentrados no Rio Uíma, como prova de que eram utilizados para moerem também pedras, para se apurarem os minerais mais valiosos.

A.C. da Cunha Morais

Independentemente deste longo período de domínio romano, revemos testemunhos de intensa actividade industrial, especialmente nos sectores da Metalurgia e do Têxtil. Para que se compreenda a força industrial de Crestuma, basta referir que foi ali que se fundaram estes respectivos sindicatos nacionais.

Canhões fabricados em Crestuma

Ali se fabricava armamento de guerra. Hoje ainda são visíveis canhões usados na guerra civil, entre D. Miguel e D. Pedro.

Na primeira metade do século XX, esta pequena povoação possuía cerca de 40% de toda a indústria de Vila Nova de Gaia.

Fundição de Arcos de Ferro e Verguinha, fundada em 1793. Mais tarde (e até hoje) Companhia de Fiação de Crestuma.

As empresas, que gozavam de um certo proteccionismo colonial, exportavam os seus produtos com relativa facilidade. Acontecia, até, que havia produtos, cujo monopólio de produção, se cingia a empresas de Crestuma.
Como reflexo desta actividade, vivia-se em Crestuma em franco ambiente de cidade, onde nem o cinema faltava, quase diariamente. As belezas naturais, de onde se destacava a Quinta da Estrela, faziam atrair grupos de visitantes. Por sua vez, os industriais locais, que gozavam de grande prestígio, recebiam as personalidades mais importantes que visitavam o Porto.


Gago Coutinho visita Crestuma quando da sua homenagem no Porto

Já na Guiné, eu enviava fotos para a namorada, onde se realçavam os panos duros que as indígenas usavam, especialmente quando as mães prendiam crianças nas costas ou em outras cargas. Foi nessa altura que fui esclarecido que esses tecidos que chegavam a todos os cantos da Guiné, eram fabricados em Crestuma.

Mais tarde, em 1975, quando já vivia em Crestuma, em casa dos meus sogros, embora trabalhasse na fábrica de fundição, acompanhava, ao de leve, a actividade da fábrica de tecelagem, onde trabalhava a minha mulher.

Com a independência da Guiné, verificaram-se algumas alterações nesse relacionamento comercial, para onde se exportava mais de 80% da produção. Nada ficaria como antes.

Após várias deslocações do meu cunhado Augusto à Guiné, foi acordada uma parceria, ou apoio, para implantação de uma unidade de tecelagem na ilha de Bolama. Desse acordo resultou a vinda de uma equipa de guineenses, para aprenderem a trabalhar com os teares e outras máquinas, enquanto se ia construindo a fábrica em Bolama (1).

Essa equipa era composta por 5 elementos, onde se destacava um idoso, conhecedor de fabrico em tear manual, mas os outros 3 de tecelagem nada sabiam. Vinham acompanhados por uma senhora, ainda jovem, que parecia exercer funções de Comissária Política. Eles estavam instalados numa casa do senhor. Marques, no Largo do Torrão, junto à foz do Rio Uíma e comiam no Restaurante Marujo, de Fioso. A senhora estava instalada em nossa casa. Todavia, parecia sempre ausente, muito ocupada com os seus contactos de interesse, aparentemente, guineense. Telefonava muito e ausentava-se amiúde. Nos intervalos, lia e fazia relatórios. Ela parecia ocupar lugar de grande importância na governação.

Talvez devido a condicionalismos de ordem financeira, ou, talvez, devido à delicadeza da nova situação económica, eu via o meu sogro bastante apreensivo e muito cauteloso com este relacionamento. Parecia estar sempre disponível para ela.

Apesar da distância que ela parecia querer manter, logo que a conversa se proporcionou, naturalmente, falámos da Guiné.

Tudo bem enquanto falei das belezas dos Bijagós, da estadia no Quartel General de Bissau, dos mergulhos na piscina de Bafatá e dos tempos (de descanso) em Canquelifá. Porém, quando referi que a minha Companhia era de Intervenção, que estivera em vários locais, mas que o Batalhão estivera sempre em Catió, ela aproveitou logo para lembrar e enaltecer os seus bravos camaradas que derrotaram e rechaçaram todas as investidas das tropas coloniais.

Quando lhe disse que estivera no Oio, o local onde mais sofrera e que entráramos em Samba Culo (2), ela contrariou de novo, alegando que as tropas coloniais nunca lá tinham conseguido chegar. Seguidamente enumerou vários combates, alguns deles com a minha Companhia (as datas coincidiam), mas, pelo exagero dos seus heróicos relatos, nem parecia tratar-se dos mesmos.

Tentei amenizar o seu entusiasmo, lembrando que as NT utilizavam as notícias como fonte de propaganda e que, também, exageravam ao darem notícias, o que eu considerava normal em tempo de guerra. Ela retorquiu e reafirmou que os seus relatos eram reais e que o PAIGC não tinha serviço de propaganda mas sim serviço de informação.

Lembrei que eu ouvira na Rádio eles referirem que no ataque a Catió (3), haviam destruído 3 das 4 casernas do quartel. Ela quase nem me deixou acabar, para reafirmar que sim, que tinha sido verdade. Acrescentei que as granadas se dispersaram pela bolanha e que só uma caíra dentro do quartel de Catió, onde eu estava, e nem rebentara. E que uma outra rebentara na povoação Fula, tendo um estilhaço sido tirado de uma nádega, a uma mulher. Porém, mesmo assim, a Senhora Comissária continuou a reafirmar que tinha sido verdade.

Perante tanta convicção e estando eu à mesa com os meus sogros, em sua casa, não me restou outra alternativa que calar-me e aguardar que o assunto fosse esquecido.

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Notas do autor:

1 – Porque as vi embaladas, penso que chegaram a ser enviadas algumas das máquinas para Bolama (Torcedores, Dobadoras, Encartadeiras e Teares de Banda). Porém, após algumas visitas de inspecção ao edifício, humidade e clima, o projecto esfumou-se.

2 - Op. Inquietar II. No dia 6 de Julho de 1967, após cerca de 4 horas sob emboscada IN, a CART 1689 entrou em Samba Culo, onde descobriu um depósito de armas e munições. O êxito desta Operação veio a consagrar a esta unidade com a Flâmula de Honra em Ouro, atribuída pelo CTIG. http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/04/guine-6374-p8078-outras-memorias-da.html

3 – O referido ataque a Catió, foi na noite do dia 6 de Junho de 1968.
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16054: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (23): Religiosos de primeira e pobres (crentes) de segunda (Recordações de infância)