Agora mesmo acabo de ver que me foi transmitida a história de nossa viagem á Guiné. Foi muito gratificante ler o que o dr. Herculano Prado escreveu, me fazendo relembrar em pormenor a deslocação até Bissau.
Muito obrigados por tudo e por vos ter conhecido também. São pessoas que ficam no coração. Espero vos encontrar em breve.
Beijos e abraços, Xico.
2. O Herculano Prado, hoje advogado, foi fur mil, CAÇ 3550 / BCAÇ 3885 (Zambué, Tete, Moçambique, 1972/74). Não é membro da nossa Tabanca Grande, mas fica desde já convidado para a integrar, não só por esta viagem e a publicação deste texto (em duas partes), como pela ligação (profissional e afetiva) à Guiné (desde pelo menos 2010), e a amizade que criou e manteve com dois dos nossos tabanqueiros, o António Camilo e o Xico Allen (1952-2023).
Agora que o Xico nos deixou (a nós e à Terra da Alegria), julgo que será oportuna a publicação desde "diário" no nosso blogue, partindo do pressuposto que era vontade do Xico que o texto fosse publicado no nosso blogue, com a anuência (pelo menos tácita) do Herculano Prado. Por outro lado, esta é a viagem que alguns de nós já fizeram, e que a maioria gostaria de ter feito em vida, e que por uma razão ou outra (a começar pelos problemas de saúde e segurança) nunca fez ou nunca chegará a fazer.
Tinha na altura pedido ao Xico Allen para nos enviar fotos da expedição. Por esta ou aquela razão, as fotos nunca chegaram. Vamos ter que recorrer, por isso, a fotos de outras expedições. Deixamos aqui a manifestação da nossa gratidão ao Herculano Prado. E damos-lhe os parabéns pela excelència do texto, que ganha em vivacidade, fluência e objetividade (e que por isso seria uma pena ficar na "gaveta"...). Enviamos, entretanto, um alfabravo fratermo ao Camilo (de quem não temos tido notícias) desejando-lhe saúde e longa vida para poder continuar a fazer as suas expedições à Guiné-Bissau onde tem casa (em 2017 era a sua 22ª viagem).
DIÁRIO DA VIAGEM À GUINÉ BISSAU
POR TERRA E POR ELA
© Herculano Prado (2017)
Preâmbulo
O António Joaquim Sousa Camilo, primo da Luzinha, foi um dos primeiros a fazer uma viagem por terra à Guiné Bissau, se não o primeiro, dado não termos conhecimento de viagens anteriores, depois do 25 de Abril, onde tinha cumprido serviço militar.
Na primeira viagem que fez à Guiné, em 1998, o Camilo conheceu o Xico Allen de quem ficou amigo, começando aqui uma amizade que perdura e que os levou a congeminarem uma viagem por terra.
Quando regressaram a Portugal começaram a fazer os preparativos para fazerem a viagem, tendo procurado alguns patrocínios para a custear, com publicidade no jeep, e aceitando donativos para apoio à população, em especial às crianças. Esta iniciativa começou a ganhar projeção, tendo aparecido um novo interessado em os acompanhar, que era um repórter fotográfico, chamado Artur. As pessoas ao tomarem conhecimento ofereceram donativos, os meios de comunicação pegaram no assunto e foram transmitindo informações sobre o decorrer da viagem, que começou em Lagoa, em frente à Fatacil.
À partida estiveram presentes dois canais de televisão, a RDP e as rádios locais, com relevância para Rádio Lagoa, que ia acompanhando a viagem, com uma ligação ao Camilo, por volta das 10 horas, todos os dias. Fizeram-se transportar no jeep do Camilo, que ia a abarrotar, inclusive, levavam malas e sacos no tejadilho. Segundo o Camilo, nem mais uma garrafa de água cabia. A viagem demorou dez dias e foi uma aventura e descoberta constante, como normalmente acontece aquando da primeira vez.
O amor àquela terra e às suas gentes levou-o a, posteriormente, organizar algumas caravanas humanitárias, das quais a Luzinha ia tendo conhecimento, através do Facebook. Entusiasmada com as viagens, referiu-me que, por ela, se eu quisesse, poderíamos um dia acompanhar o Camilo. O Camilo, sabendo o nosso interesse, quando teve uma oportunidade convidou-nos, mas, por impedimentos da nossa parte, só agora podemos aceitar.
A viagem, a nossa primeira, a vigésima segunda do Camilo e a décima segunda do Xico Allen, foi iniciada com dois jeeps, marca Mercedes, sendo um ocupado pelo António Joaquim Sousa Camilo e pelo Francisco Jorge Allen (Xico Allen) e outro por mim, Herculano Afonso Lourenço do Prado e pela Luzinha, Maria da Luz Reis Braz Silva Lourenço do Prado, minha mulher.
O itinerário da viagem seria: Espanha, Marrocos, Sara Ocidental, Mauritânia, Senegal e Guiné Bissau. Na Guiné Bissau ficámos em Bambadinca e não em Saltinho como pensávamos.
O jeep que nos foi destinado ficaria por nossa conta, quer para a condução, quer para todo tipo de despesas com ele relacionadas: combustível, barco, seguros etc.
A ideia do diário surgiu ao fim do primeiro dia de viagem quando, ao estarmos a pernoitar em Marraquexe, enviei um e-mail a alguns amigos, tendo alguns sugerido que fizesse um diário e que lhes fosse dando conhecimento do que se ia passando. Achei a ideia interessante e, por isso, no fim do segundo dia, relatei os factos mais importantes e enviei-os convencido de que teriam chegado aos destinatários. Como não obtive os comentários que seriam expectáveis, enviei o e-mail para o remetente, não tendo chegado, o que me levou a concluir que o mesmo teria acontecido em relação aos outros destinatários e que o mesmo aconteceria com os e-mails seguintes.
Em face desta situação, continuei a fazer o diário, deixando, contudo, de o tentar enviar para os meus amigos, que estavam à espera de noticias. Assim, os e-mails foram transformados neste diário, que, se outro interesse não tiver, servirá para mais tarde os meus filhos e netos recordarem, que um dia os avós, já no crepúsculo da vida, se abalançaram a uma viagem, que, se já não era perigosa, como aconteceu no passado, era e foi muito emocionante e cansativa.
Aproveitámos a viagem para levarmos os jeeps cheios com donativos para as crianças de Bambadinca, que aguardavam transporte.
Infografia: o percuros habitual das expedições terrestres de antigos combatantes, como o António Camilo, desde o Algarve até à Guiné Bissau, atravessano o sul deEspanha e depois ,a partir de Tanger, fazendo a costa atlântica de Marrocos, Mauritània e Senegal .
Infografia: Visão (3 de fevereiro de 2011) (com a devida vénia...)
1º dia, domingo/segunda-feira, 17/18 de setembro de 2017
A viagem começou em Portimão, às nove e meia de domingo, passando pelo porto de Tarifa, onde apanhámos o barco até Tanger. A passagem, por carro e ocupantes, custou € 200,00. Chegámos ao porto de Tarifa por volta das 5,30 horas, aguardando até entrarmos para o barco às oito horas. As burocracias alfandegárias foram fáceis, porque não precisámos de vistos.
Ao sairmos do Porto, não fomos ao centro da cidade de Tânger, contornando-a em direção ao Sul, mas a vista que dela se tem do barco dá para ver a sua grandiosidade.
Para nós, portugueses, quando passamos por sítios, que fazem parte da nossa história e olhamos para o passado, não podemos deixar de nos sentir orgulhosos pelos feitos dos nossos antepassados (esquecendo as atrocidades que cometeram e que eram comuns a todos os beligerantes da época).
A necessidade, porque eramos um pais pobre, com menos de dois milhões de pessoas, o aventureirismo, ambição e visão de alguns, especialmente do Infante D. Henrique e, posteriormente, de D. João II, levaram-nos, inicialmente, para o Norte de Africa, onde ocupámos Tânger, Ceuta e outras praças e, posteriormente, a contornar o continente africano e a chegar à India. O declínio do império começou ali, nos campos de Alcácer-Kibir, quando um rei imaturo e militarmente incompetente não soube comandar um grande exercito, que, com outro comandante, provavelmente, teria vencido.
A viagem até Marraquexe foi feita sempre em autoestrada, não se notando grandes diferenças em relação ao sul de Portugal.
A meio da viagem apanhámos um grande susto, porque entrámos na reserva de combustível e nunca mais aparecia uma bomba para abastecermos. Foi um alívio quando o conseguimos fazer.
Fizemos o nosso primeiro almoço de piquenique, dos abastecimentos de que estávamos providos, até ao fim da viagem e para os dias na Guiné.
No momento em que enviei o primeiro e-mail, estávamos a passar a noite em Marraquexe e na amanhã seguinte continuámos em direção ao Sul, passando por Agadir.
Ao entrarmos em Marrocos perguntaram-nos se trazíamos armas ou drones.
2º dia, terça-feira, 19 de setembro de 2017
No Segundo dia da viagem, saímos de Marraquexe às sete da manha rumo ao Sul, passando por Agadir, Tiznit e outros locais de menor importância.
Atravessámos a cordilheira do Atlas na sua parte mais ocidental e menos elevada, com paisagens agrestes, grandiosas e de grande beleza.
Passámos por Agadir, cidade costeira e moderna, depois de ser reconstruída em consequência do terramoto que a destruiu, em 26 de fevereiro de 1960.
“A intensidade do abalo foi apenas de 5,7 na escala de Richter, mas, por a cidade se situar precisamente sobre a falha geológica e o epicentro do sismo, e por a maioria dos seus edifícios serem velhos e frágeis, a destruição foi quase total. Na Kasbah e nos bairros centrais de Yachech e Founti não ficou nada de pé. Mais de 15 mil pessoas morreram e muitas ficaram feridas e desalojadas. Foi o mais mortífero terramoto da história de Marrocos.”
O porto é muito bonito, como pudemos apreciar de uma das elevações que o rodeiam. Ali, a Luzinha, pela primeira vez, passeou montada num camelo, conjuntamente comigo.
Nesse miradouro, comprámos umas rochas de cristais coloridos.
A viagem até ao meio do dia foi feita por autoestrada, com inúmeras portagens pagas. Porque € 1,00 vale 10,50 dirames, acaba por não ser muito caro. Nestes dois dias já fizemos cerca de 1500 km, sendo mais de mil por autoestrada.
Como fica documentado por fotos, vamos fazendo piqueniques, estando provisionados com o essencial.
Ficámos a pernoitar em Tantan Praia, com a praia ali ao lado, que, tal como em Portugal, já estava em fim da época balnear.
Pernoitamos num hotel baratucho, onde fizemos uma refeição na varanda de um dos nossos quartos. O quarto não tinha água quente, mas estava limpo e nós só pretendíamos dormir, para além de termos acesso à Internet.
A partir de agora as estradas já não são tão boas, mas estão razoáveis, tendo sido mais fácil do que seria expectável. Mais para Sul será mais difícil.
São horas de dormir porque o recomeço da viagem está marcado para as sete e no programa está uma visita ao Bojador.
3º dia, quarta-feira, 20 de setembro de 2017
Iniciámos o terceiro dia saindo de Tantan, às 6,30, ainda de noite,
Fomos visitar o Bojador, que ficou a fazer parte da nossa história, para as descobertas, a partir do momento em que foi dobrado pelo Gil Eanes, em 1434, acabando com o medo que dominava os marinheiros, que acreditavam que o mundo acabava ali.
Aqui, num restaurante que a ASAE fecharia sem remissão, aproveitámos para comer um pargo frito que estava divinal, acompanhado com pão local e vinho tinto de Pias. Quando entramos ouvimos vozes que nos pareceu serem portuguesas. De facto, eram dois portugueses que estavam a trabalhar para uma firma irlandesa, que está a montar grandes pás eólicas, para a produção de energia elétrica.
A partir daqui, durante muitos quilómetros, fizemos a viagem próximo do mar, já dentro do verdadeiro deserto, não ainda como nos é mostrado nos filmes e postais : grandes dunas de areia fina, mas terra árida, com vegetação dispersa e rasteira
Percorremos cerca de setecentos quilómetros e fomos pernoitar no Barbas, que, no geral, tinha boa aparência para o deserto, mas que considero ter sido o pior quarto de hotel aonde já dormi, que fica a oitenta quilómetros da fronteira da Mauritânia.
Aqui o Hi- Fi não tem capacidade para permitir contactos normais.
Assisti à derrota do Real Madrid com o Bétis, golo marcado na última jogada, e conclui que a maioria dos assistente torcia pelo Barcelona, tendo em atenção o regozijo manifestado com o golo marcado.
Aqui, o Xico deu comprimidos ao empregado da bomba de gasolina, que estava com dores de cabeça.
Como o dia seguinte iria começa cedo, cedo tivemos de ir descansar.
4º dia, quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Saímos, por volta das sete horas, para chegarmos cedo à fronteira, aonde nos esperava o Arturo, um marroquino, que fala português, que nos tratou da burocracia nas duas fronteiras.
Estas ajudas acabam sempre por sair caras e por vezes parecem ainda complicar mais: o seguro por cada viatura, que custou € 40,00, ficou em € 80,00.
Apesar desta ajuda, só nos despachámos depois das duas da tarde.
Aqui deu para sentir o clima do deserto, quente e ventoso. Tínhamos que tapar os olhos porque a areia andava por todo o lado. Na viagem íamos vendo camelos e, infelizmente, vimos alguns esqueletos devido a acidentes. Durante este dia percorremos parte do Sara a que estamos habituados a ver nos filmes e fotografias.
Entre as duas fronteiras existe uma zona de ninguém, aonde vimos um carro das UN, que ainda se encontra nesta zona, tendo em atenção o conflito existente entre Marrocos e a Frente Polisário, que mantem a luta contra a anexação do Sara Ocidental. Nesta zona, encontrámos muitos carros abandonados, em consequência da falta de documentação e por outros motivos.
Ao longo da viagem vimos inúmeros quarteis, havendo vários em Layunne, pequena cidade, que seria a capital oficial do Sara Ocidental, se fosse independente.
Quando estávamos na fronteira para sair da Mauritânia encontramos um vizinho do nosso casal, em Vale da Laranja, o Sr. Jorge, que também ia a caminho da Guiné, aonde tem negócios.
Durante a viagem fomos mandados parar por dezenas de barragens que controlam a passagem. Para evitar demoras levamos dezenas de impressos preenchidos com os nossos elementos identificativos, que entregamos no ato da abordagem. Muitas vezes são levantadas complicações com o objetivo de nos sacarem dinheiro.
Por volta das oito horas chegamos a Nouakchott, capital da Mauritânia, onde ficámos num ótimo hotel, o Royal Suites Hotels, muito melhor do que os anteriores, onde encontrámos tudo o que tem um quatro estrelas da Europa. Antes de jantarmos no nosso quarto, utilizando o que trazíamos, tomámos um grande banho para nos aliviarmos da grande quantidade de areia que se espalhava pelo cabelo e pelo resto do corpo.
Fizemos uma refeição no quarto com os produtos que levávamos.
Expedição Porto-Bissau, organizada por Xico Allen e A. Marque Lopes... 9 de abril de 2006...Dia 5, De Roc Chico a Nouakchott, capital da Mauritânia... Um encontro amigável com sarauis e camelos... Fabulosa foto oesta, de um grande fotógrafo, o nosso Hugo Costa, filho do Albano Costa que, juntamente com a Inês Allen, integrou esta viagem à Guiné, por terra, pelo deserto do Sara...
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Porto-Bissau... 9 de abril de 2016...Dia 5, Roc Chico a Nouakchott, capital da Mauritânia...
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Fotos (e legendas): © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
5º dia, sexta-feira, 22 de setembro
Saímos de Nouakchott, às seis da manha, para chegarmos o mais cedo possível à fronteira com o Senegal, aonde o Camilo, primo da Luzinha, tinha contactos anteriores, para tratar dos seguros das viaturas e das burocracias da passagem entre fronteiras.
Quando estávamos a fazer o controlo na saída da Mauritânia, ao ser necessário entregar os passaportes, passámos por um grande susto, porque o Francisco Allen, não encontrava o seu passaporte. Durante mais de uma hora vimos em todos os sítios possíveis sem sucesso, inclusive, telefonámos para o hotel onde pernoitámos. Depois de uma última busca no jeep, iniciada pelo comandante do posto da Alfandega da Mauritânia, que se mostrou de uma grande simpatia e disponibilidade, muito diferente da maioria dos anteriores, encontrámos o passaporte metido entre uma ranhura do tablier.
Foi um alívio para todos, o que nos permitiu passar para a fronteira do Senegal, onde surgiram mais complicações e gastos, tendo que pagar gratificações e taxas de viaturas que importaram em cerca de duzentos euros por cada, nos quais se incluiu a comissão do mediador.
Quando, finalmente, reiniciámos a viagem, continuámos a entregar as fichas identificativas que tínhamos preparadas, até que encontrámos um controlo que nos pediu o passaportes e começou a colocar vários entraves com o objetivo claro de nos extorquir dinheiro, o que me irritou, não sendo muito inteligente da minha parte, porque trazíamos garrafas de vinho escondido, que, se fosse encontrado, nos poderia levar à prisão, atendendo a que os países de religião muçulmana são muito intransigentes, no que diz respeito ao álcool.
Depois de muita discussão entreguei-lhe três pacotes de leite, tendo sido questionado se aquilo era bom. Em face das dúvidas, pedi-lhos de volta, o que ele não fez. Depois de nos entregar os passaportes arrancámos, quando se preparavam par nos fazerem novas exigências.
Durante o trajeto, o deserto foi-se amenizando até próximo do Senegal, não sendo surpresa encontrarmos a barragem de Diama e um parque protegido, que percorremos por cerca de quarenta quilómetros, por picada, no fim do qual nos foi exigida o pagamento de trinta euros, por viatura, acabando por pagarmos o total de dez euros.
A partir da entrada no Senegal, tendo em atenção o que já acontecia no Sul da Mauritânia, deixamos o deserto e passámos a encontrar a vegetação própria da região subsariana: pequenas árvores e muita vegetação de várias espécies.
Finalmente, já com muitas horas de viagem e de atraso, em relação ao previsto chegámos a Saint Louis, cidade costeira, que, no tempo da colonização francesa chegou a ser a capital do Senegal. Quando atravessamos a cidade para nos dirigirmos ao hotel onde pretendíamos pernoitar, ficámos impressionados com a pobreza e sujidade que encontrávamos, imaginando como seria o Hotel para onde o Camilo e o Francisco nos levavam. Durante o trajeto, ao longo de um grande estaleiro de barcos abandonados coabitavam o lixo, as cabras, os burros e as pessoas.
Depois de o hotel inicialmente escolhido se encontrar fechado para férias, fomos ficar no Diamarek, que lhe fica continuo, acabando por ficarmos num bangaló bastante espaçoso e com dois quartos, ao lado da praia, com um piscina espaçosa e com água morna. Podemos considerar que encontrámos um oásis depois do deserto! Porque gostámos das condições do hotel, porque tinha Hi-Fi de banda larga e porque o preço negociado ficou em 60,00, marcámos mais um dia para disfrutarmos das ótimas condições.
6º dia, sábado, 23 de setembro
Estando em Saint Louis, aproveitámos para visitar a parte antiga da cidade, da época colonial, aonde se encontram dois bons hotéis dessa época e um bom restaurante, bem próximo da sujidade que referenciámos.
Comprámos alguns artigos locais, nomeadamente uma máscara da tradição africana. Depois do almoço disfrutámos da piscina e, eu a Luzinha, demos um passeio pela praia, que é a perder de vista e de areia fina, que se encontrava cheia de lixo
Ao fim do dia, graças à capacidade do sinal Hi-Fi, consegui, através de um site de desporto, o Events Guide, ver o Sporting 1 – Moreirense 1, com pouca atenção, à espera para ver o Benfica 2 – Paços de Ferreira 0. Foram dois bons resultados!
Como eu não abdiquei de ver o jogo do Benfica – Paços de Ferreira, preparámos o jantar com produtos que trazíamos e jantamos à fresca, em frente do Bangaló.
Devo ter um problema no envio de e-mails, porque, apesar da boa capacidade da rede Hi-Fi, não tenho conseguido enviar e-mails, apesar de os receber.
Consegui aceder ao Citius e fiquei aliviado por não ter nenhuma notificação. Uff!!
Deitámo-nos cedo, porque era necessário levantar cedo.
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Outubro de 2015 > Restaurante "Ponte de Encontro", do casal Célia e João Dinis (1941-2021).
Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2016) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
7º dia, domingo, 24 de setembro
Quando me levantei, por volta das cinco horas locais, seis horas em Portugal, estava sem equilíbrio, o que me deixou preocupado. Contudo, pouco tempo depois, recuperei permitindo-nos sair por volta das 5,30 horas.
Depois de atestarmos os depósitos, pela sétima vez, seguimos em direção ao Sul com o objetivo de irmos pernoitar a Bambadinca, já na Guiné, onde o Camilo tem uma casa.
A estrada ao longo do Senegal não está má, o que nos permitiu avançar dentro do previsto, fazendo alternância na condução em função do cansaço de cada um. Apesar de tanto eu como a Luzinha também conduzirmos, a maior parte da condução tem sido feita pelo Camilo e pelo Francisco.
Para evitar as muitas complicações e controlos levantados na Gâmbia, fizemos um desvio para a contornar. Seguimos o trajeto de Saint Louis, Kebemer, Touba, Kaffrine, Tambacounda, descendo depois para Velingara, KounKané, Wassadou, chegando, por fim, a Pirada, fronteira da Guiné, onde se passou com facilidade, porque o Camilo, com a sua capacidade de persuasão, conseguiu passar sem pagar a escolta que nos acompanharia a Gabu. Isto é mais uma forma de extorquir dinheiro aos viajantes, já que não existia escolta para nos acompanhar. O Camilo começou logo ali a distribuir pelo chefe do posto algumas das roupas que trazemos, também como forma de agradecimento.
A estrada de Pirada a Gabu, ou melhor a picada, está num estado inimaginável para quem nunca esteve em Africa. São sessenta quilómetros de buracos uns a seguir aos outros e ainda com água porque a época das chuvas só agora terminou.
Demorámos mais de duas horas para fazer esta distância. Viemos a saber mais tarde, quando encontrámos o Sr. Jorge, que um dos jeeps que um seu empregado trazia, partiu ali o cárter.
Ao chegarmos a Gabu, o Camilo não parou na alfàndega, o que deveria ter feito, vendo-se obrigado a regressar, porque a nossa passagem foi barrada. Aqui perdemos muito tempo e tivemos que pagar o que não tinha sido pago em Pirada. Penso que, mesmo assim, as coisas podem ter sido facilitadas depois de ter falado com o Tenente Coronel Sado, que é um amigo do meu primo Fernando Mota, Eng.º Silvicultor, que esteve com ele na tropa, aqui, na zona de Saltinho.
Não telefonei para este amigo do Fernando, até porque perdi o telemóvel, mas a oportunidade surgiu quando veio meter conversa comigo um graduado da Guarda Fiscal, que não é daquele posto e que fez formação na Guarda Fiscal, em Lisboa, juntamente com o Tenente Coronel Sado e com o graduado daquele posto. Ao referir-lhe que trazia cumprimentos para o amigo, de imediato ligou para ele com o qual conversei algum tempo. Após a nossa conversa eles voltaram a falar e o telefone foi passado ao comandante da Alfandega. As coisa resolveram-se e no final, o comandante do posto, deu os seus contactos ao Camilo, o que deixa pressupor que as próximas passagens, se as fizer, já serão mais fáceis.
Reiniciámos a viagem com destino a Bambadinca, pretendendo passar por Bafatá para jantarmos no restaurante da D. Célia, aonde chegámos por volta das nove e meia, à mesma hora em que partimos no domingo anterior. Comemos um estufado de vitela, acompanhado de arroz e batatas fritas e de umas Sagres geladas. Recusámos a salada para evitar problemas de saúde. A comida estava ótima e o restaurante é muito frequentado pela qualidade da comida. As instalações, mesmo aquela hora, estavam limpas, mas os anexos e a casa de banho são uns barracões decrépitos. Se lá voltar, porque os achei simpáticos, vou sugerir que façam umas melhorias nas instalações.
O marido da D. Célia, o Sr. Dinis, é natural de A. dos Cunhados. Fez cá a guerra, uns anos antes do 25 de abril e por cá ficou. Quando comentei a qualidade das instalações com o Camilo ele deu-me uma justificação que se aplica a este caso: “branco quando está muito tempo a viver entre os nativos fica pior do que eles”. Não direi pior, mas igual.
A parte final da viagem até Bambadinca foi aquela em que tive mais medo de um acidente, atendendo a que nos cruzávamos com outras viaturas com os máximo ligados e o Francisco, mesmo podendo fazê-lo não os ligava, o que só fez mais tarde, o que diminuía o nosso campo de visão, agravado por as bermas serem baixas ou inexistentes e por circularem na estrada bicicletas e pessoas sem qualquer sinalização.
Finalmente acabámos por chegar bem, tendo percorrido 4 250 quilómetros, mais os que gastámos na travessia do Mediterrâneo até Tanger.