sábado, 18 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25539: Os nossos seres, saberes e lazeres (629): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (154): Lembranças de Manuel de Brito e da Galeria 111 (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Maio de 2024:

Queridos amigos,
É um adeus e até ao meu regresso, a 111 mantém-se imparável, estou certo e seguro que o Centro de Arte Manuel de Brito nos reservará agradáveis surpresas depois de agosto. Aquele espaço é para mim lugar de culto e aqui faço um arrazoado de alguns achados que me transfiguraram a existência. Não cometo nenhum excesso de linguagem quando digo que na 111 vi com os meus olhos exposições esplendentes, que aqui se cimentou um modo de olhar e que me perdoem ter-me desdobrado a falar do meu deslumbramento por esta exposição onde encontrei pontos de ancoragem para o meu gosto, e daí lembrar com muita saudade o Manuel de Brito que lançou esta bela aventura do espírito.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (154):
Lembranças de Manuel de Brito e da Galeria 111 - 4


Mário Beja Santos

Despeço-me com pesar desta romagem de saudade a um espaço que frequentei nos anos 1960 e 1970, com bastante assiduidade. Antes de começar a trabalhar aos 19 anos, fiz-me sócio da Gravura e alguns dos nomes proeminentes que irei ver desfilar neste espaço recebi a informação e anualmente um trabalho artístico, a quotização era baixinha. Enquanto visitava esta exposição que está patente até dia 3 de agosto lembrei-me de duas conversas havidas, uma com Manuel de Brito, outra com António Dacosta. Brito insistia que eu devia comprar aquela serigrafia do autorretrato da Sonia Delaunay, e eu insistia no meu salário magro e numa filha recém-nascida, ele advertiu-me que me iria arrepender, e o mínimo que hoje posso dizer é que teria sido preferível andar um mês a pão e laranjas, e poder hoje ter esta obra admirável para regalo dos meus olhos; Dacosta, que eu não conhecia, entendeu que eu era merecedor de uma visita guiada, falei-lhe de que convivera com um quadro seu, uma obra admirável do período surrealista, estava pendurada numa parede da sala do poeta Ruy Cinatti, fizemos a visita guiada a falar do Cinatti.

A 111 foi uma casa ofuscante da minha formação, deu facilmente para entender que estes movimentos estéticos que as exposições apresentavam traduziam uma abertura de espírito cada vez mais longe da “política de espírito” de António Ferro e que o regime de Salazar, com maior ou menor aceitação, apoiava nos seus certames, tudo sobre a aura do modernismo. A 111 trazia a rotura, a multifacetada modernidade, a Lourdes Castro, o Costa Pinheiro, o Noronha da Costa, António Areal, Eduardo Batarda, Helena Almeida, João Cutileiro, foi neste espaço que conheci a arte de Palolo, de Paula Rego, o outro Pomar, enfim, a redescoberta daquela Sonia Delaunay. É evidente que estavam em marcha iniciativas que iriam transfigurar a arte portuguesa, logo as bolsas de estudo atribuídas pela Gulbenkian, as exposições de artistas estrangeiros, as celebrações de efemérides, os prémios que, de um modo geral, confirmavam os talentos que ajudaram a reforçar o que veio depois a acontecer com o 25 de Abril.

Despeço-me deste arco histórico de seis décadas de alguma das melhores artes plásticas portuguesas que a 111 guarda no seu bojo, enfim, que me perdoem este paraninfo que envolve aquelas décadas em que se me formou o gosto, e até me apetece recordar o que naquele tempo estava a mudar no design gráfico, o Sena da Silva, o Victor Palla, o Sebastião Rodrigues, o Infante do Carmo, eram novos caminhos, eu não desdenhava as belas capas de livros de Bernardo Marques, João da Câmara Leme ou Paulo Guilherme, até mesmo o Cândido Costa Pinto de que guardo religiosamente alguns livros da Coleção Vampiro, onde ele pontificou até perto do nº100, só que foi neste espaço que alguém que caminhava para os 20 anos e até uma década mais tarde veio aqui ver alguma das mais esplendentes exposições que houve em Portugal.

Manuel de Brito e Costa Pinheiro
António Dacosta e Manuel de Brito
Júlio Pomar, José Saramago e Menez
António Dacosta, Ilha
Bartolomeu dos Santos, Parabéns pela menina de Abril, 1975
Nikias Skapinakis, Santa Liberdade
Noronha da Costa, sem título
Lourdes Castro, Sombra Deitada
Costa Pinheiro, Universonaut
Maria Helena Vieira da Silva, Quer-Luz
Eduardo Luiz, sem título
Sónia Delaunay, Autorretrato
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Nota do editor

Último pose da série de 11 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25508: Os nossos seres, saberes e lazeres (628): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (153): Lembranças de Manuel de Brito e da Galeria 111 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25538: O Cancioneiro da Nossa Guerra (20): Nemíades e bolanhíades, as "ninfas" ao estilo camoniano imaginadas pelos "Cobras" da CCAÇ 2549 (Cuntima, Nema e K3 Farim, 1969/71), do ex-cap inf Vasco Lourenço


Capa do livro de Vasco Lourenço - N6o regressso vinham todos: relato da Companhia nº 2549. Lisboa: Editorial Notícias, 1997, 103 pp.  (1ª edição, 1975) (A guerra colonial em livros, 3). (*)


1. Não
 temos muitas referências à CCAÇ 2549 (Cuntima, Nema e K3, 1969/71): apenas 15. O que se explica por uma razão: não temos nenhum representante dessa subunidade do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) na nossa Tabanca Grande. O seu comandante, o então  cap inf Vasco Lourenço  (**) e uma das figuras mais conhecidas do MAF (Movimento das Forças Armadas),  tem também apens 26 referências.

Uma dos primeiros livros a sair ao 25 de Abril de 1974 com testemunhos da experiência da  guerra colonial foi justamente o "No regresso vinham todos":  o ex-cap Vasco Lourenço dá a cara, o livro tem o contributo de outros graduados:

  • alf mil Ferreira (Manuel do Carmo Ferreira)
  • alf mil Carvalho (Luís Fernando da Silva Carvalho)
  • alf mil Sampaio (João Borges Frias Sampaio)
  • fur mil Leonel
  • fur mil Paulo (Armindo Aníbal Pinto da Costa Paulo)
  • fur mil Brotas (Francisco António Brotas)
  • fur mil Mano Nunes (António Manuel Mano Nunes)

O mais representado nas 103 páginas do livro é o ex-alf mil Ferreira, de seu nome completo Manuel do Carmo Ferreira (**). E é da sua autoria,  as estrofes que a seguir se reproduzem e que são uma paródia, inspirada nos nossos "Lusíadas", do Luís de Camões. Destaque para as figuras mitológicas criadas pelo Ferreira: as "nemíadas" (referência a Nema, nos arredores de Farim) e as "bolanhíadas" (de "bolanha)... (Ou sejam: as "ninfas" de Nema e das bolanhas...) .O tom, poético-burlesco, é o de outras letras "parodiadas", em que se exaltam os "perigos" e "trabalhos esforçados" e se anseia pelo regresso a casa. 

O Ferreira é decidifdamente nortenho pelo uso da variante regional "désteis" e "fizésteis" (2º pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos "dar" e "fazer").


Nemíadas

Da piriquitagem afastada,
Se narra com verdades e conscicência
A vida triste desventurada
Dos heróis da paciência;
Como à força de tanta calcadela
Perdendo a malta a potência,
Fugiu de Cuntima que alto berra:
Pobre Companhia, quem te desterra ?

E vós, bolanhíadas minhas,
Que às pernas energia tirais,
Ajudai-me a preencher estas linha
Com umas verdades cruais, reais;
Deixemos de lado as queixinhas,
Sejamos connosco sicneros, leais,
Diagmos a verdade. Nada nos demove...
Falemos dos lixados da 49!!!

De Cuntima connosco veio
A má sina o esgotamento;
O trabalho não encontra freio
Ao mirarmos o novo aquartelamento,
E monumentos tão cheio,
Que as obras têm seguimento.
É operacional ? É de Engenhria )
ão, é construtora. É de Infantaria...

Do outro lado que a distância cala
Nos destinam ruinas em montão;
E vê-lo se estremece, se perde a fala,
Nos pôem em mãos um trabalhão;
E o que mais nos irrita, nos abala,
Era saber só em Cuntima a inspeção.
É mesmo de encarar este desmando:
Como é possível tão perto do comando ?

Há tanta coisa p'ra fazer
Nesta vila tão trópica, tão pacata
Que a Compnhia tem de  oferecer
Quatro diáras para arranjar a sucata,
Mas mais tarde vão verde
Os ditos que lançará a malta
- Vós,  da 49, que ajuda désteis ?
Nada tendes a dizer, nada fizesteis...

Narro agora as colunas, narro as picadas,
De uma companhia tão lixadsa
Que durantte um ano só viu emboascadas,
Sonhou vida mais regalada;
Que gramou constantes chuvasdas
E ferradelas da atroz mosquitada.
Que, matando a febre de Sitató,
Foi pilhada na bolsa de Faringó.

Meses de tragalho e esgotamento
Ficam lembrados neste papel;
De Cuntima, o reordenamento,
Em Nema, emboscando Lamel.
Que mais teremos de tormento ?
Qual será o róximo pimcel ?
Deixemos a roleta rodar,
Até quando podem as forças durar ?

Trista sina nos fazem acarretar
Não lobrigo a vida folgada:
A Companhia continua a penar,
Há sempre mais trapalhada.
Quando acabaremos de emboscar
Essa maldita carreirada ?
Estou a ver isto tantas vezes
Que penso só daqui a nove ou dez meses...

Depois de tantaas fornicadelas,
Há de vir por força a bonança,
E então firmes nas canelas
Acabará para todos a estafança;
E em copos afogaremos todas elas
Quando deixarmos esta matança.
E a caminho da nossa terra
Gritaremos: camaradas,  acabou a guerra! (***)

Alferes miliciano Ferreira (Manuel do Carmo Ferreira) (****)

(Revisão  /  fixação de texto: LG)


(Foto à esquerda: o nosso camarada Manuel do Carmo Ferreira, ainda cadete em Mafra, c. 1968; cortesia de Carlos Silva,  poste P2525)





2. Ficha de unidade  CCAÇ 2549 / BCAÇ 2879

Identificação; BCaç 2879
Unidade Mob: RI 2 - Abrantes
Cmdt: TCor Inf Manuel Agostinho Ferreira | TCor Inf António José Ribeiro | TCor Inf Carlos Frederico Lopes da Rocha Peixoto
2.° Cmdt: Maj Inf Alexandre Augusto Durão Lopes
OInfOp/Adj: Maj Inf Lourenço Calisto Aires

Cmdts Comp:
CCS: Cap SGE Manuel Landeiro | Cap Mil Art José Manuel Lopes do Nascimento
CCaç 2547: Cap Mil Art José Fernando Covas Lima de Carvalho |! Cap Mil Art João José Pires de Almeida Loureiro
CCaç 2548: Cap Mil Inf Luís Fernando da Fonseca Sobral
CCaç 2549: Cap Inf Vasco Correia Lourenço
Divisa: -
Partida: Embarque em 19ju169; desembarque em 25Jul69 | Regresso: Embarque em 26jn71

Síntese da Atividade Operacional

Em 4ago69, substituindo o COP 3, assumiu a responsabilidade do Sector O2 (Oeste Dois), novamente transferido para esta zona de acção, com a sede em Farim e abrangendo os subsectores de Cuntima, Jumbembém, Canjambari e Farim. 

Em 25abr71, foi incluída na zona de acção do sector a área do destacamento de Binta, transferida do COP 3. As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do batalhão.

Desenvolveu intensa actividade operacional, particularmente orientada para a contrapenetração nas linhas de infiltração de Lamel e Sitató, para a segurança e controlo dos itinerários, para impedir a instalação de bases inimigas na sua zona de acção e ainda para a segurança, defesa e construção de aldeamentos e promoção socioeconómica das populações.

Pelos resultados obtidos e pela acção continuada de contrapenetração, destacam-se as operações "Camélia", "Caminhos Detidos", "Barragem Contínua" e "Corvina", entre outras.

Do armamento capturado mais significativo, salienta-se: 2 canhões sem recuo, 6 metralhadoras ligeiras, 43 pistolas-metralhadoras, 25 espingardas, 3 LGFog, 660 granadas de armas pesadas e mais de 155 mil munições.

***

A CCaç 2549 seguiu em 30jul69 para Cuntima, a fim de efectuar o treino operacional e render a CCaç 1789, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector em 4ag069 e ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

Em 17Ju170, por troca com a CCaç 2547, foi colocada em Farim, com um pelotão destacado em Saliquinhedim /K3, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector e colaborando também no esforço de contrapenetração no corredor de Lamel.

Em 12jun71, foi rendida pela CArt 3358 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 110 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 127/129.

Sobre Cuntima, ver a carta de Carolina do Norte (1956), escala 1/50 mil
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Notas de  leitura:


(***) Último poste da série > 17 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25535: O Cancioneiro da Nossa Guerra (19): O "soneto do artilheiro" (17º Pel Art + CCAÇ 6, Bedanda, 1971/73)

Guiné 61/74 - P25537: Parabéns a você (2273): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil Art da CART 1659 (Gadamael, 1967/68)

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Nota do editor

Último post da série de 17 de Maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25534: Parabéns a você (2272): António Pinto, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 506 (Nova Lamego, Geba, Madina do Boé, Beli e Bolama, 1963/65)

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25536: Notas de leitura (1692): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 a 1853) (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Iniciámos a leitura do Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde (e da Costa da Guiné) em 1850, deu-se conta de que os assuntos continentais tinham um peso ínfimo, referências às taxas e pautas aduaneiras, nomeações, transferências, dentro daqueles conteúdos de caráter cultural aparecia um artigo sobre a cultura do amendoim; das tentativas de usurpação quer britânicas quer francesas, nem uma só palavra; e eis que, inopinadamente, em 1853, sucedem-se as referências a Honório Pereira Barreto, a um auxílio francês a uma sublevação em Bissau de que resultou um oficial morto e o governo de Sua Augusta Majestade entendeu conceder uma pensão à viúva, o Governador Geral aceita visitar a Costa da Guiné e na praça de S. José de Bissau conversa com os reis locais e com o juiz dos Grumetes, promessas de amizade não faltam; até um 2º farmacêutico é deslocado da vila da Praia para Bissau... Algo está a mexer nas preocupações coloniais com os estabelecimentos de Cacheu e Bissau e até ficamos a saber que uma alta entidade está isenta de pagar qualquer importância por entrar em Bissau com um seu escravo que é também seu criado. A ver se daqui em diante este Boletim Oficial, tão silencioso com a Senegâmbia, passa a ser mais informativo.

Um abraço do
Mário



Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX
(e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 a 1853) (3)


Mário Beja Santos

O ano de 1853 traz surpresas, fala-se da Costa da Guiné com mais fluência, não são só as taxas aduaneiras nem as receitas alfandegárias, nem as férias nem as transferências de militares e funcionários, até Honório Pereira Barreto é mencionado com mais regularidade, os negócios guineenses, afinal de contas, chegam ao Reino. Como vamos ver.

No Boletim Official de 19 de abril desse ano, o Chefe de Estado-Maior da Praça de S. José de Bissau, Francisco Maria Barreiro de Arrobas, dirige-se ao negociante António Joaquim Ferreira, este fizera oferecimento para que na escuna Progresso de Bissau sua Excelência o Brigadeiro Governador Geral da Província viajasse da vila da Praia para Bissau, o governador agradece e aceita e dará o devido conhecimento ao governo da Augusta Soberana de mais um feito de um dos habitantes de Bissau que tem concorrido para cimentar a sua prosperidade. Neste mesmo boletim fala-se do Forte de S. Belchior, que dominada a navegação do rio Geba, era premente concluir a reparação do armamento da instalação militar, eram insuficientes os donativos oferecidos por vários habitantes de Bissau, pelo que o governador determinava haver despesa por conta da Fazenda; mas há mais informações, desta feita o conserto do Forte do Pidjiquiti, da tabanca e da estacada que limitam a povoação de S. José de Bissau, o Governador Geral ordena que o governador interino da Guiné Portuguesa faça arrematar em hasta pública a reparação das obras, adjudicando-a a quem por menor preço a fizer, e com as precisas garantias de segurança, devendo o Recebedor Particular da dita Praça satisfazer o preço da arrematação logo que as obras estejam concluídas; e também se fica informado que João Marques de Barros dera conhecimento ao Governador Geral da oferta de construir à sua custa uma casa em continuação da que serve atualmente de hospital militar, oferecendo também o seu patacho Sabino para transportar gratuitamente de Cabo Verde para Bissau a força de tropa que convier ao mesmo Governador-Geral; não se ficam por aqui as informações do Boletim Oficial de 19 de abril, como se pode ler adiante:
“Tendo o cirurgião civil António Joaquim Ferreira, encarregado do hospital militar dessa Praça de S. José de Bissau, representado em indispensável necessidade e um farmacêutico para os medicamentos para o mesmo hospital, e para os particulares, obrigando-se a empregar o dito farmacêutico na sua botica particular, com os vencimentos que lhe competem por lei, pagos à sua custa, e fazendo-lhe ainda outras vantagens: o Governador Geral, reconhecendo quanto esta proposta é vantajosa à Fazenda, à humanidade, e até mesmo ao empregado que para isso fora nomeado: ordena que o 2.º Farmacêutico da Província, atualmente sem exercício algum na vila da Praia, embarque a bordo da escuna Progresso de Bissau, e venha para esta praça exercer as funções que lhe são próprias.”

E temos agora uma nomeação de Honório Pereira Barreto, vejamos os termos:
“Sendo da mais urgente necessidade estabelecer um sistema de administração para as possessões da Guiné Portuguesa que esteja em harmonia com os costumes dos habitantes das mesmas possessões e livre as autoridades do arbítrio que muitas vezes se veem obrigadas a recorrer pela inexequibilidade do que se acha determinado no Código Administrativo em uso na província: o Governador Geral manda criar uma comissão, composta do Governador da Guiné Portuguesa, que será o presidente, do Comendador Honório Pereira Barreto, residente em Cacheu, e do negociante e proprietário de Bissau, António Joaquim Ferreira, a qual comissão, tendo em vista as necessidades dos povos, e as medidas que melhor efeito tem produzido nas possessões estrangeiras desta mesma Costa da Guiné, discuta, organize, e proponha o projeto de Regulamente para a Administração Civil da Guiné Portuguesa, que mais conveniente lhe parecer.”

Mas ainda a missa vai no adro, temos agora matéria para o Diretor da Alfândega de Bissau, veja-se a delicadeza do assunto, quem assina é o Governador Geral:
“Tendo representado o Major de Veteranos – Francisco Alberto de Azevedo – que quando fora ultimamente para Bissau na qualidade de Governador Interino da Guiné – levara em sua companhia um escravo bona fide do serviço da sua casa, tendo prestado na alfândega desta vila a competente fiança, na conformidade das obras estabelecidas, acontecera que na Alfândega de Bissau lhe exigiram o pagamento de direitos pela importação do mesmo escravo: e sendo certo que tais direitos foram indevidamente exigidos, porque a lei isenta de tal pagamento um escravo que for transportado deste arquipélago para qualquer possessão portuguesa aonde hajam escravos – em companhia de um cidadão que se ausente por tempo indeterminado; o Governador Geral determina que o Diretor Interino da Alfândega de Bissau faça restituir ao referido major os direitos que porventura tiver pago pelo escravos que levou em sua companhia quando ultimamente foi àquela Praça na qualidade de Governador Interino da Guiné.”

Estamos agora 6 de outubro do mesmo ano de 1853, fala-se de ocorrências que tiveram lugar na Praça de Bissau onde houvera atos de manifesta indisciplina e rebelião, houve que intervir o brigue de guerra francês Palinure e fazer punir os criminosos. Foi muito agradável a Sua Majestade ver as diligências do Governador Geral, a quem solicita que lhe seja participado que é mandado o vapor Mindelo à província de Cabo Verde conduzindo a força militar e pólvora constantes da relação elaborada; que o Governador Geral dará a esta força o emprego que lhe parecer mais conveniente; que foi muito sensível à mesma Augusta Senhora a morte do Primeiro Tenente La Gillarduse, da tripulação do brigue francês Palinure, comandante do primeiro pelotão da força daquele brigue que atacou os sublevados; e que tendo decidido decretar uma pensão à viúva do mesmo oficial e dar testemunho de agradecimento aos oficiais do mesmo brigue.

Por último, dá-se conta da palavra com que os reis de Bandim, de Antim e de Antula e o juiz dos Grumetes de Bandim, Simão Cabral. Houvera reunião na Praça de S. José de Bissau em 30 de setembro de 1853, tinham estado presentes o Governador Geral, os referidos reis e o referido juiz de Grumetes com os seus séquitos. O governador expressou a sua satisfação de ver reunidos estes reis amigos e que queria que ficasse estabelecido para sempre que tanto os habitantes da Praça podiam ir livremente ao chão dos reis como estes podiam vir à Praça sem que de parte a parte houvesse receio algum. Sua Excelência disse que tinha toda confiança no que os ditos reis prometeram. O rei de Bandim declarou que uma vez que esta amizade, que ele queria, fosse sincera e verdadeira, ele não se opunha à entrega dos escravos fugidos, mas era preciso que fosse da Praça buscá-los, e assim seriam entregues. O juiz dos Grumetes e o rei de Bandim declararam mais, que eles julgariam firme a amizade, se fosse permitido que os Grumetes tornassem para dentro da Praça como dantes estavam. Assentou-se que seria permitido aos Grumetes virem a edificar casa junto da povoação e ficou também acordado quanto aos escravos que as canoas que os transportassem para Serra Leoa ou outro ponto qualquer seriam apreendidas.

É fácil de concluir que o relacionamento entre a governação portuguesa e os reis de Bissau melhorava a olhos vistos, sabe-se que eram juras e entendimentos muito temporários, tudo voltava a faiscar rapidamente com as respetivas sublevações e mortandades.

Mas algo se pode reter da leitura deste Boletim Official em 1853. Há uma administração que começa a funcionar; a França, por tática diplomática, auxilia as autoridades a reprimir as rebeliões; a classe mercantil prontifica-se a ajudar a pagar reparações; em 1853, há Forte em S. Belchior, o que significa que se caminha tenuemente para uma ocupação; e, melhor ou pior, as alfândegas funcionam e ajudam a cobrir os encargos inerentes à presença portuguesa.


Vista antiga de Cacheu
Estátua de Honório Pereira Barreto na Bissau colonial
Imagem do século XIX de Vila da Praia

(continua)
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Notas do editor:

Vd. post anterior de 10 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25504: Notas de leitura (1690): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Oficial do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 e 1851) (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 13 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25518: Notas de leitura (1691): BART 3873 - História da Unidade - CART 3492 / CART 3493 / CART 3494 - O Sector L1 de 1972 a 1974, e as minhas lembranças de 1968 a 1970 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25535: O Cancioneiro da Nossa Guerra (19): O "soneto do artilheiro" (17º Pel Art + CCAÇ 6, Bedanda, 1971/73)




O "soneto do artilheiro", 

da autoria dos Fur Mil Art Machado e Fereira




Fonte: "O Seis do Cantanhês", nº 1, 1973 (?)... Jornal mensal (só saíram dois números)...



1.  Em 1 de julho de 1971, no subsetor de Bedanda, o dispositivo das NT era o seguinte: CCaç 6, 17° PelArt (14cm), 1 Esq" do Pel CanhSRc 3079, e  Pel Mil 237.
 
Não conhecemos  ninguém do 17º Pel Art (14cm)... Descobrimos entretanto, num exemplar do jornal de caserna "O seis do Cantanhez", milagrosamente salvo pelo nosso saudoso António Teixeira (ex-Alf Mil da CCAÇ 6, Bedanda, 1972/73), este cantinho dedicado ao "dezassete"... (Leia-se: 17º Pel Art;  17=3 secções + obus 14). De qualquer modo, gostaríamos de saber quem eram e por onde param estes dois graduados do 17º Pel Art.

Pois, camaradas e amigos da Guiné, vemos  que a malta do 17º Pel Art  era rapaziada que tinha coragem para dar e vender. Não sei se a artilharia era a aristocracia do exército (não me metemos nessas polémicas intestinas). De qualquer modo, o coice da coisa, o clarão do obus, o silvo, o trovão... era qualquer coisa que fazia acelerar as pulsações do infante... 

Senti-las passar e silvar por cima da cabeça é uma experiência inesquecível, para alguns de nós, infantes: a princípio, uma gajo sente-se acagaçado, mas no fim o coração é invadido por um estranha e inebriante tranquilidade quando elas [as granadas de obus] fazem calar as armas do inimigo... Sobretudo no mato, quando um gajo não tem buraco para enfiar os "cornos"...

Em contrapartida, o que lhe sobrava em sentido de humor era capaz de lhes faltar em talento... literário. Não se pode ter tudo, ou não se pode ser bom em tudo: mesmo assim a dupla Machado & Ferreira (onde é que vocês param, rapazes ?) deixaram-nos um soneto, pouco canónico é certo (na realidade, 4 quadras), mas bem humorado, e seguramente digno de figurar no Cancioneiro da Nossa Guerra (*).

Adorámos  o último verso, um conselho (prático e terapêutico) para muita gente que neste país usa e obusa/abusa, todos os dias, do seu "tempo de antena", e que tem um problema de "incontinência verbal"... Pois aqui fica, contra o desvario da loquacidade nacional, a advertência do artilheiro de Bedanda (**):

- Findo, p'ra não 'obusar'...

E nós também  ficamos por aqui... Não queremos  'obusar', mesmo que às vezes nos dê uma enorme vontade de 'obusar'... Durmam bem, artilheiros de todo o mundo! 

PS - Não se pode falar da nossa heróica artilharia no TO da Guiné, em geral, nem do 17º Pel Art que esteve em Bedanda, em particular, sem chamar à colação o nosso doutor Amaral Bernardo e a sua famosa foto do obus 14 a fazer horas extraordinárias... (ou a "faturar", como queiram).

Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº 135/199 > O temível obus 14... mais um elemento da guarnição africana do Pel Art, que dependia da BAC 1 (Bissau).

Foto (e legenda): © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > A famosa e feliz foto do ex-Alf Mil Médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007: a saída do obus 14, de noite. 

Legenda: "Foi tirada com a máquina rente ao chão. Bedanda tinha três. Uma arma demolidora. Um supositório de 50 quilos lançado a 14 km de distância... Era um pavor quando disparavam os três ao mesmo tempo... Era costume pregar sustos aos periquitos... Eu também tive honras de obus, quando lá cheguei"... 

Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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(**) Vd. poste de 1 de outubro de  2011 > Guiné 63/74 - P8843: Cancioneiro de Bedanda (2): O soneto do artilheiro do 17º PELART, que termina com um sábio e genial conselho contra a loquacidade nacional: Findo, p'ra não obusar...

Guiné 61/74 - P25534: Parabéns a você (2272): António Pinto, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 506 (Nova Lamego, Geba, Madina do Boé, Beli e Bolama, 1963/65)

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Nota do editor

Último post da série de 16 de Maio de 204 > Guiné 61/74 - P25529: Parabéns a você (2271): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 8351 (Aldeia Formosa e Cumbijã, 19772/74)

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25533: Os 50 anos do 25 de Abril (22): Do Precedido Ao Sucedido (António Inácio Correia Nogueira, ex-Alf Mil da CCAÇ 16 - CTIG, 1971 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 3487 / BCAV 3871 - RMA, 1972/74)

Desenho da tomada do Quartel do Carmo, em 25 de Abril de 1974, da autoria do Tomás, um menino do Escola Básica do 1º ciclo de Fala (tem na página no Facebook), freguesia de São Martinho do Bispo e Ribeira de Frades, Coimbra.

1.
 Mais um testemunho do nosso camarada António Inácio Correia Nogueira, Doutor em Ciências Sociais, especialidade em Sociologia, ex-Alf Mil da CCAÇ 16 (CTIG, 1971) e ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 3487 / BCAV 3871 (RMA, 1972/74), enviado ao Blog no dia 14 de Maio de 2024:



TESTEMUNHOS

Do Precedido Ao Sucedido

António Inácio Correia Nogueira

Com este artigo darei por já contadas as minhas memórias, estórias e história sobre os 50 anos do 25 de Abril, comemoração que é um privilégio acompanhar, sinal evidente de que ainda ando por cá
.

Vou apresentar-vos os factos o acontecimentos que, na minha modesta opinião, deram safanões, empurrões, encontrões e impulsos para o Estado Novo cair e esboroar-se, quase sem resistência, às mãos dos Capitães de Abril.

1. O primeiro sinal foi dado, tinha eu 15 anos, por Humberto Delgado, o conhecido general sem medo, ao tentar derrubar o regime de Salazar, candidatando-se às eleições presidenciais. Apesar da minha tenra idade, fiquei embasbacado com as muitas centenas de pessoas que correram a aplaudir o homem da oposição, numa cidade interior, periférica, paroquial ao tempo, de muita submissão aos poderosos, – aos senhores doutores, – numa comunidade onde o analfabetismo era reinante nessa data. Apesar da arquitectura social da cidade da Guarda, expiava-se já um descontentamento com o regime. É claro que o General não ganhou, por fraude eleitoral e pelo medo instalado. Mas ficou a primeira semente de contestação, o safanão para que muitos anos mais tarde pudesse haver o 25 de Abril. Depois de 1958, a oposição foi-se arrogando lentamente, havendo diversas acções que estremeceram o regime como, por exemplo, o ataque ao quartel de Beja, o lançamento sobre Lisboa de panfletos contra a ditadura, o assalto à filial do Banco de Portugal da Figueira da Foz e a tomada do paquete Santa Maria, de enormes repercussões internacionais, – para relembrar alguns.

No entanto, só com as eleições legislativas de 1969 se viria a verificar uma radicalização da atitude política, nomeadamente entre as camadas jovens (vejam-se as revoltas estudantis universitárias de 1962 e 1969), que mais se sentiam vitimadas pela continuação da Guerra Colonial. É neste ambiente conturbado que a Acção Revolucionária Armada (ARA) e as Brigadas Revolucionárias (BR) se revelam como uma importante forma de resistência contra o sistema colonial português. Outros agrupamentos políticos começam a irromper plenos de vitalidade, como por exemplo o MRPP, com o lema, “nem mais um soldado para as colónias”. Instalou-se a «guerra à guerra». Também o alinhamento de alguns ramos da finança e negócios, classes médias e movimentos operários começaram a ser um importante ponto de inflexão na contestação à política do regime, principalmente a partir de 1973. Retratado está, de forma sintética, o primeiro safanão no regime.

2. A Guerra Colonial foi o grande motor, que desmoronou a ditadura, deixando-a, ano após ano, em decadência visível e isolamento internacional, apesar da PIDE e da propaganda continuarem a desempenhar o seu papel.

A guerra obrigou dezenas de milhares de jovens a combater em África, anos a fio, exauriu os já poucos quadros profissionais das Forças Armadas, cansados de muitas comissões, e os que ainda não as tinham pouco estavam interessados em vivê-la. Atropelados, sistematicamente, por leis absurdas que lhe retiravam direitos, os capitães do quadro vêem chegar ao seu posto, oficiais oriundos de milicianos, feitos à pressa na Academia Militar (apesar do seu comportamento meritório já provado em combate). Todos estes ditames (e ainda o facto de estarmos em presença de um Exército quase-miliciano, com preparação duvidosa e apressada), capitalizam um movimento corporativo de contestação arrojada, por parte dos futuros Capitães de Abril. Primeiro uma reacção solidária e quase sindical, depois, com o tempo, foi-se forjando, em alguns, uma conscientização política, que incluía o fim da guerra e a descolonização. Segundo solavanco.

3. O terceiro e o mais importante contributo foi a guerra na Guiné. A guerrilha do PAIGC para além do armamento já possuído, foi equipada com mísseis e deitou abaixo aviões da Força Aérea Portuguesa. As nossas tropas deixaram de controlar os céus. O apoio aos aquartelamentos e às operações na mata fracassou. Os ataques persistentes aos quartéis e o abandono de alguns, como o de Guileje, provaram à saciedade que a guerra estava prestes a ser perdida. O PAIGC declarou a independência em pleno território da Guiné. Por todos esses motivos não admira que em 1973 aí nascesse o primeiro núcleo do Movimento dos Capitães. Por lá passaram muitos capitães de Abril, de que me permito salientar Salgueiro Maia e Otelo Saraiva de Carvalho. Todos tinham a convicção plena de que a guerra aí estava perdida. Observaram-na de perto e alguns sentiram-na na pele. Acresce a esse facto a casualidade de terem sido colocados na Guiné muitos milicianos politizados e oriundos das lutas académicas. Esses oficiais, espalhados pelo território, deram oportunidade, através de algumas formas organizativas, a um movimento de milicianos construindo um compromisso ético de acção política permanente cruzando-se com a insurgência exuberante dos jovens oficiais do quadro permanente. Nessa aliança radicaram todos os fundamentos para impor vitoriosamente, sobre obstáculos variados, a recusa da solução neocolonialista (veja-se o livro Guiné: os oficiais milicianos e o 25 de Abril). Terceiro solavanco.

4. De lá se confrontou o regime com veemência. Lá se rascunhou uma espécie de plano alternativo de actuação, caso o 25 de Abril em Lisboa falhasse, com a destituição do Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné e o inicio das conversações com o PAIGC para a obtenção da paz. A Guiné, a sua tropa miliciana e do quadro, foram a rectaguarda segura contributiva para o sucesso do 25 de Abril. Solavanco maior.

OBS. - O desenho que acima se apresenta, foi feito e oferecido pelo menino Tomás, após uma sessão por mim efectuada na escola do 1.º ciclo de Fala, a convite da professora Ana Lúcia.

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Notas do editor:

Post anterior de 11 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25509: Os 50 anos do 25 de Abril (20): A Força das Músicas e Palavras Que Inspiraram O Meu Ser D´Abril (António Inácio Correia Nogueira, ex-Alf Mil da CCAÇ 16 - CTIG, 1971 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 3487 / BCAV 3871 - RMA, 1972/74)

Último post da série de 13 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25516: Os 50 anos do 25 de Abril (21): Hoje, na RTP1, às 21:01, o 5º episódio da notável série documental, "A Conspiração", do realizador António-Pedro Vasconcelos (1939-2024). Os episódios anteriores estão disponíveis na RTP Play

Guiné 61/74 - P25532: S(C)em Comentários (37): no séc XVI, a língua portuguesa tornou-se a língua-franca de quase todo o Oceano Índico...Para o bem e para o mal, os portugueses fazem parte da própria história de muitos daqueles povos (Fernando de Sousa Ribeiro)



Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf,
CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e 
Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);
membro da Tabanca Grande 
desde 11 de novembro de 2018, 
com o nº 780


1. Comentário de Fernando de Sousa Ribeiro  ao poste P25426 (*):


Com a chegada dos portugueses, não foi só o tétum que passou a ter novas palavras. Praticamente todas as línguas do sul e sudeste asiático tiveram essas novas palavras: tailandês, cingalês, vietnamita, malaio, indonésio, japonês, etc. etc. 

Isto é assim porque, no séc XVI, a língua portuguesa tornou-se a língua-franca de quase todo o Oceano Índico. Era a língua que permitia que pessoas falando diferentes idiomas se entendessem entre si nas trocas comerciais ao longo da África Oriental, Arábia, Índia, Birmânia, Malásia, Japão e por aí adiante. 

Desde então, praticamente todos os habitantes do sul e sudeste da Ásia passaram a incorporar palavras portuguesas nas suas línguas, que adaptaram à sua própria pronúncia. Cinco séculos depois, ainda as utilizam: "escola", "sapato", "bandeira", "copo", "mesa", etc. etc.

O tétum oficial de Timor Leste é, de facto, considerado um idioma crioulo. Foi em cima do tétum original, que já ninguém fala, que se desenvolveu o tétum simplificado de hoje. Este é por vezes chamado tétum-praça ou tétum-Díli, certamente porque era uma variante do tétum nascida na praça do mercado de Díli. Veja-se, por exemplo o que diz a este respeito a Wikipedia.

Em português
 
Em mirandês

Nestas coisas linguísticas, uma das referências mais credíveis costuma ser o Ethnologue.

Timor Leste:
 
Guiné-Bissau:
 
Qualquer criança em idade escolar de um qualquer país da Ásia sabe localizar Portugal no mapa. Pode não saber localizar a Suécia ou a Bulgária, mas Portugal sabe. 

Para o bem e para o mal, os portugueses fazem parte da sua própria história. 

O Japão, por exemplo, nunca mais foi o mesmo depois da chegada dos portugueses com as suas armas de fogo; esta chegada marcou o fim do feudalismo no Japão. 

No Sri Lanka, milhões(!) de pessoas possuem apelidos portugueses, como Silva ou Pereira.

 A língua vietnamita é escrita em carateres latinos, por influência dos jesuítas portugueses. 

Nós podemos não saber nada sobre todos estes povos e nações, mas eles sabem sobre nós. Os portugueses não são para eles uns ilustres desconhecidos, seja no Camboja, seja em Taiwan (a que os portugueses chamaram Formosa), seja na Indonésia, seja onde for. (**)


Japão > Museu da cidade de Kobe > Biombo namban (séc. XVI/XVII) > Representação de um caraca portuguesa. A famosa "nau do trato" (os japoneses chamava-lhe  Kurofune, navio negro). 

Imagem do domínio público. (A carraca um tipo de navio utilizado no transporte de mercadorias, concebido pelos portugueses especificamente para as viagens oceânicas. Tinha   velas redondas e borda alta, e possuíam três mastros. Os da carreira da Índia tinham capacidade até  2 mil  toneladas.

Fonte: Wikimedia Commons (com a devida vénia...) 

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25426: Timor-Leste, passado e presente (2): Exorcizando fantasmas da história: reparações... ou reconciliações ?... Apostemos, isso, sim, no ensino e promoção do tétum e do português

(**) Último poste da série >  9 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25499: S(C)em Comentários (36): Os 50 anos do 25 de Abril foram bem celebrados neste canto do mundo, Timor-Leste , onde quase ninguém fala o português, mas que tem um grande carinho e afeição com os portugueses, com Portugal (Rui Chamuco)

Guiné 61/74 - P25531: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (43): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Sobreposição à CCAV 3378



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


SOBREPOSIÇÃO À CCAV 3378

No dia 13 de Maio de 1971, chegou ao Olossato a CCAV 3378 para render a minha CCAV 2721.

Era uma companhia comandada por um capitão miliciano, engenheiro agrónomo, que diziam ter sido colega do Amílcar Cabral, com quem se correspondia através de um intermediário em França.

Por estes motivos estavam, ou foram, convencidos de que o Amílcar Cabral ia dar instruções aos guerrilheiros do PAIGC naquela zona para não atacarem esta companhia.

Os graduados, talvez por melhor formação, aceitavam os nossos conselhos, mas os soldados eram irresponsáveis.

Nas saídas que fizeram com o meu grupo de combate, obrigava-os a cumprir as minhas ordens, porque a minha vida e a vida dos meus soldados não podiam correr riscos desnecessários, provocados pela falta de consciência dos periquitos.

Exemplifico:

Em emboscadas noturnas falavam alto, dormiam, ressonavam, fumavam, etc. Não cumprindo as minhas ordens, falava com o graduado deles e levantava a emboscada, porque a nossa presença já estava denunciada.

Evitava andar nas bolanhas. Fazia a progressão 30 a 40 metros dentro da mata de forma a evitar ser surpreendido, mas eles queriam atravessar as bolanhas à balda, sem qualquer tipo de segurança.

Várias vezes avisei os graduados e os soldados que eles a procederem assim, iam ter muitos problemas e sofrer grandes desilusões.
Guiné > Região do Oio > Olossato > 1966 > Vista aérea do aquartelamento, pista de aviação e povoação.
Foto: © Rui Silva (ex-Fur Mil, CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67).

Entretanto, chegou o dia 31 de Maio e os 1.º e 3.º GComb seguiram para Nhacra, acompanhados por parte do comando e especialistas.

Os 2.º e 4.º GComb só foram para Nhacra no dia 9 de Junho.

Acabámos a comissão e regressámos no dia 28 de Fevereiro de 1972.

Em Março, ao descer a Rua de Sá da Bandeira, no Porto, cruzou-se comigo um indivíduo que me reconheceu e falou.

Era um dos furriéis da CCAV 3378, que nos tinha rendido no Olossato.

Durante a conversa perguntei-lhe como estava a correr a comissão deles e ele respondeu-me que não estava bem. Os soldados iam de G-3, morteiro e bazuca para o refeitório porque os "turras" tinham ido ao arame farpado.

Lembrei-lhe dos "avisos" que lhes tinha feito durante o tempo da sobreposição ao que ele me informou que a partir dessa altura todo o pessoal dizia:
- O furriel Moreira avisou-nos várias vezes que o Amílcar Cabral não ia dar ordem para não atacarem aquela Companhia por ser comandada por um amigo dele. ELE É QUE TINHA RAZÃO.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 9 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25500: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (42): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Os meus pedidos aos soldados do meu 4.º Grupo de Combate

Guiné 61/74 - P25530: O Cancioneiro da Nossa Guerra (18): CCAÇ 5, Canjadude: (i) o Hino dos Gatos Pretos; (ii) Binóculos de Guerra (José Martins, 1968/70; João Carvalho, 1973/74)


Guiné > Região do Gabu > Canjadude  (carta de Cabuca, 1959, escala 1/50 mil)> CCAÇ 5 (Gatos Pretos) > 1973 > Interior do "Clube de Oficiais e Sargentos de Canjadude"... O ex- fur mil enf João Carvalho, um histórico da nossa Tabanca Grande, é o terceiro a contar da esquerda... No mural, na pintura na parede, pode ler-se: [gato] preto agarra à mão grrr....

Percebe-se que estamos no Rio Corubal com o destacamento de Cheche do lado de cá (margem direita) e... o mítico campo fortitificado de Madina do Boé, do lado de lá (margem esquerda)... Em 24 de setembro de 1973, não em Madina do Boé, na vasta e desertificada região do Boé, junto à fronteira (se não mesmo para lá da fronteira...), o PAIGC proclama "urbi et orbi", numa  "jogada de mestre", a independência unilateral da nova República da Guiné-Bissau: foi um verdadeiro xeque-mate à diplomacia portuguesa...  O aquartelamento de Madina do Boé, como se sabe, foi retirado pelas NT em 6/2/1969 (Op Mabecos Bravios).

Foto: © João Carvalho (2005). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Caamaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Canjadude > CCAÇ 5 (1973/74) > O  fur mil enf João Carvalho (1973/74)  junto a ao Morteiro 81 mm: uma arma poderosa, eficaz, mortífera, quando bem manejada, e apontada para as linhas inimigas... O nosso camarada é hoje farmacêutico.

Foto: © João Carvalho (2006). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Caamaradas da Guiné]



Carta geral da antiga Província da Guiné Portuguesa (1961) (Escala 1/500 mil) > Posições relativas de Nova Lamego, Cabuca, CanjadudeBéli, Ché-Ché (ou Cheche), e Madina do Boé (as duas últimas posições,  na margem esquerda do rio Corubal)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)



"Canções da Guerra!", um programa de Luís Marinho, que passou todos os dias, desde meados de outubro de 2015, de 2ª a 6ª feira, na Antena Um, às 14h55. Havia mais de meia centena de canções disponíveis "on line" do portal da RTP. Infelizmente já não há...  Os "podcasts" já não estão "on line" *) 


1. Podemos dizer que há um Cancioneiro da Guiné, o Cancioneiro da Nossa Guerra, composto por letras, de diferentes épocas e sítios, que são sobretudo letras de "canções parodiadas", e com músicas conhecidas, da época: tinham um propósito, não tanto de "contestação, resistência e denúncia", como sobretudo de "humor negro" e "resiliência".

Um ou outro de nós, em pequenos grupos, às tantas da noite, já com uns uísques ou cervejas no bucho, éramos capazes de cantar, tocar ou cantalorar "coisas proibídas" ou "censuradas", como era o caso de algumas canções da guerra colonial / guerra do ultramar que foram recuperadas e relembradas no programa do Luís Marinho, na Antena Um, no último trimestre de 2015 (*)...


2. O nosso camarada, amigo e colaborador permanente do nosso blogue, José Martins (ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70)  [foto à direita ], colaborou com o Luís Marinho no programa "Canções da Guerra", com duas canções do Cancioneiro da Nossa Guerra, o Hino dos Gatos Pretos e Binóculos de Guerra (integradas no Cancioneiro de Canjadude). (**)

O José Martins recordou, na altura, no programa,  o "making of" destas duas canções. 

Da nossa parte, continuamos recuperar e a juntar numa só série, "O Cancioneiro da Nossa Guerra" (***),  os nossos vários "cancioneiros" (Bambadina, Bedanda, Cachil, Canjadude, Empada,  Gadamael, Gandembel,  Mampatá, Xime, etc.,)  dispersos pelo blogue... 


2.1. CANÇÕES DA GUERRA: Programa da Antena Um

Portal da RTP > Antena Um > "Canções da Guerra": programa de rádio, 2015 > Passava todo os dias, de 2ª a 6ª,  na Antena Um, às 14h55, no último trimestre de 2015.. 

Sinopse:

(...) "A guerra colonial, tendo em conta o seu enorme impacto social, foi motivo de canções.

"Desde o hino 'Angola é Nossa', criado após o início da rebelião em Angola, que levou a uma guerra que durou 14 anos.

"As canções ligadas à guerra, falam da vida dos soldados, da saudade da terra, ou criticam de forma mais dissimulada ou mais directa, a própria guerra.

"De 2ª a 6ª feira, às 14h55 na Antena1, ou nesta página, escute as canções da guerra colonial, enquadradas por uma história. Que pode ser a da própria canção, do seu autor ou de um episódio que com ela esteja relacionado.

"Um programa: António Luís Marinho | Produção: Joana Jorge".

Infelizmente já não está disponível "on line".

https://arquivo.pt/wayback/20151117234402/http://www.rtp.pt/play/p1954/e213787/cancoes-de-guerra


2.2.O Hino dos Gatos Pretos | Antena Um, 17 de novembro de 2015.


Sinopse:

No Leste da Guiné, entre Madina do Boé e Gabu, na altura Nova Lamego, estava instalada, em Canjadude, a Companhia de Caçadores 5.

Eram os Gatos Pretos. O ex-furriel José Martins, conta-nos a história desta companhia e também a do seu hino.


2.3. Binóculos de Guerra | Antena Um, 16 de novembro de 2015

Sinopse: 

Num quartel na região leste da Guiné, Canjadude, numa zona de grande atividade da guerrilha do PAIGC, estava uma companhia africana do exército português, a de Caçadores 5.

A maioria dos oficiais e sargentos era oriunda da metrópole e, nas horas de descanso, criavam-se canções.

O ex-furriel José Martins, que esteve na Guiné entre 1968 e 1970, foi um dos autores de algumas destas canções.

Enviou-nos uma delas, Binóculos de Guerra,  e contou-nos também como nasciam …

(Fonte: Media > RTP  > Canções da Guerra... Com a devida vénia)

Infelizmente já não está disponível "on line" o podcast:

https://arquivo.pt/wayback/20151116232440/http://www.rtp.pt/play/p1954/e213611/cancoes-de-guerra


3. Fichas de unidade > CCAÇ 5

Companhia de Caçadores N.o 5
Identificação:  CCaç 5
Crndt: Cap Mil Inf João Alberto de Sá Barros e Silva | Cap Cav José Manuel Marques Pacífico dos Reis | Cap Inf Manuel Ferreira de Oliveira | Cap Inf António José Guerra Gaspar Borges | Cap Inf Arnaldo Carvalhais da Silveira Costeira  | Cap Cav Fernando Gil Figueiredo de Barros | Cap Mil Inf José Manuel de Matos e Silva de Mendonça

Início: 1abr67 (por alteração da anterior designação de 3* CCaç) | Extinção: 20ago74

Síntese da Actividade Operacional

Em 1abr67, foi criada por alteração da anterior designação de 3ª CCaç.

Era uma companhia da guarnição normal do CTIG, constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local. 

Continuou instalada em Nova Lamego, onde detinha a responsabilidade do respetivo subsetor e se integrava no dispositivo e manobra do BCaç 1856, tendo então pelotões destacados em Canjadude, Cabuca e Ché-Ché.

Ficou sucessivamente na dependência dos batalhões que assumiram a responsabilidade do Sector L3.

Em 14Ju168, foi deslocada para Canjadude, no mesmo sector, tendo assumido a responsabilidade do respectivo subsetor, então criado, tendo então um pelotão destacado em Cabuca até meados de fev69 e sendo substituída mais tarde em Nova Lamego, em 9ago68, pela CCaç 2403. 

Por períodos variáveis, destacou ainda pelotões para reforço temporário de outras guarnições, nomeadamente em Nova Lamego, de meados de abr70 a 21nov70, em Buruntuma, de 21nov70 a 18jun70, em reforço do BCav 2922 e de Copá, de 3ljan71 a princípios de mar71 , em reforço do COT1. 

Efectuou diversas operações de que se destaca a captura de 70 granadas de armas pesadas, 10 minas e 650 quilos de munições de armas ligeiras, na região de Siai.

Em 20ago74, após desactivação e entrega do aquartelamento de Canjadude ao PAIGC, foi desactivada e extinta.

Observações - Tem História da Unidade referente ao período de 1jan70 a 3lju173 (Caixa n."
130 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 629

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(...) O isolamento em que nos encontrávamos, a necessidade de ocupar a mente com algo diferente que não fosse a actividade operacional, a tentativa de encurtar a distância que nos separava da metrópole, o sentido de improvisação e muitas mais razões, levaram a que os militares tomassem como suas as músicas em voga, na época, e lhes dessem nova vida, com factos que lhes estavam mais próximos e, sobretudo, que ajudavam a manter um espírito de corpo.

Os textos das canções ou poemas que se seguem, quando não identificam o autor, devem ser considerados de criação colectiva, pois que, se sempre há quem lance a ideia e lhe dê uma forma inicial, será o conjunto a sancioná-la e a transmitir-lhe a forma definitiva. (...)

(***) Último poste a série > 13 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25515: O Cancioneiro da Nossa Guerra (17): "Isto é tão bera"! (Letra do sportinguista e "caça-talentos futebolísticos", Aurélio Pereira, música da canção cubana "Guantanamera") (Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)