sábado, 28 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20785: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (4): "Snaps", salmão fresco curado, filetes de arenque do Báltico recheados com salmão fumado... (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia, o único luso-lapão que sobrevive nestas paragens. Se houver outro, dão-se alvíssaras!)


Ingenuidades do único luso-lapão que existe no mundo: "Com tantos senhoritos a falarem desde Bruxelas, com displicências e arrogâncias várias, sobre os países da Europa do Sul, somos obrigados a verificar que vistos desde este extremo do extremo norte europeu,tanto a Alemanha,como a Holanda,e ainda mais a Áustria,säo países lá bem do...Sul!"

(José Belo, 28 de março de 2020,  13h53)



Snaps ("shots")


Salmão ("gravadlax"),  fresco,  curado


Filetes de arenque do Báltico ("strömming"), recheados com salmäo fumado

Fotos (e legendas): © José Belo (2020) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Joseph Belo, régulo da Tabanca da Lapónia,  também "aquarentenado" nas proximidades do "Círculo Polar Ártico", no extremo extremo norte da  nossa velha Europa:


Data: 28 mar 2020 10:41

Assunto. Inveja de Lusitano

Caro Luís

Depois das favas suadas (*), aparecem hoje no blogue as sardinhas de Peniche! (**)

Para não referir as fotografias do cozido à portuguesa da Tabanca do Centro..

Sinto-me quase obrigado (!) a enviar desde aqui para todos os Amigos e Camaradas isolados pelo vírus algumas das nossas especialidades locais.

Porque, em verdade, na Lapónia Sueca não há só renas e vodka multidestilada a mais de 90% !

Seguem noutros e-mails algumas fotos legendadas [com petiscos para a semana toda!]

Um abraço,

PS - Hoje a ementa é: Salmão fresco curado, e filetes de arenque do Báltico recheados com salmäo fumado


2. Resposta de LG:

Zé, no céu não disto!... (Diz o meu velhote com quem vou trocando umas conversas meta-físicas...).

Pelas fotos que já me mandaste hoje em meia dúzia de mails, isto parece a festa da Babete!... (Vi o filme, baseado num conto da tua vizinha Karen Blixen)... Se aspeto é bom, o sabor ainda deve ser melhor, se bem que eu seja mais peixeiro do que carneiro... Se não te importas, segue para a nossa série "Comes & Bebes"... Temos que manter o "moral da tropa"... Os pratos do Chef Lusitano vão fazer furor!...

Por cá, a pandemia de (e o combate à) Covid-19 (a doença, que o vírus esse é o SARS-CoV-2) continua... com números que estão a crescer a uma média de 20% e tal por cento ao dia... Esperemos que as medidas decretadas pelo Governo (, estamos me confinamento desde 19 de março, mas as escolas já tinham fechado...). O problema mais grave é o Norte (que tem mais do dobro dos casos da região de Lisboa)... Acabamos chegar hoje aos 100 mortos ...e ultrapassar os 5 mil casos de infectados..  

O pico da pandemia deve ser lá para princípios ou meados de maio... Estamos há duas semanas, rigorosamente trancados em casa... E tu, estás mesmo lá para Abisco ou coisa parecida, que a Tabanca da Lapónia não vem no mapa do Google?!... Sei que te cuidas... Ou melhor:  não tens ninguém que te infecte ou que tu possas infectar com o corno do vírus... É verdade?...

Mantenhas.

PS - A COVID-19 não passará!... (Mas está a causar muito sofrimento e mortes na nossa "aldeia global"...). Viva a Itália, viva Espanha, viva Portugal,  vida a Suécia..., viva a nossa velha Europa doente!... Física, moral e politicamente doente!
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Guiné 61/74 - P20784: Os nossos seres, saberes e lazeres (383): Andar por Ceca e Meca e não pelos olivais de Santarém (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Agosto de 2019:

Queridos amigos,
Nenhum de nós se pode subtrair a esta tremenda hesitação de descartar imagens das nossas viagens, seja qual for a sua dimensão, perto ou longe. É então, nesse terrível processo seletivo que a memória é sujeita à revisão daquilo que se viu e se sentiu. Feito o gosto ao mecanismo da memória, pergunta-se sempre se aquele material sobrante não deve ser entregue aos outros. E neste caso tomou-se a decisão de que aquilo que foi visto maravilhara tanto o andarilho que devia ser entregue aos seus amigos. O que ora acontece, com imensíssima satisfação.

Um abraço do
Mário


Andar por Ceca e Meca e não pelos olivais de Santarém

Beja Santos

Os andarilhos captam aqui e acolá imagens recordatórias, e quando chega a hora de rever o que se percorreu, com, onde e como, tem-se por vezes uma segunda gratificação, o prazer de ver estampado na imagem a alegria que se viveu, pormenores que se desentenderam. Por isso o andarilho vai concatenar as imagens que joeirou de várias andanças, passeios de fim de semana, por exemplo, e dá conta ao leitor, em forma de partilha, de itinerâncias que deixaram saudade, muito aprazimento, gosto de regressar. Começa-se pelo Agroal, imagine-se, a praia fluvial dos tomarenses fica na freguesia de Formigais, concelho de Ourém. É uma nascente de água muito limpinha, goza de tradições de ser curativa para várias maleitas, no caminho da praia avistam-se imagens do passado, aqui se vinha à procura de lenitivos para a saúde. Vê-se a nascente, veem-se os borbotões dos olhos de água, e tudo escorre a caminho do Nabão, afluente do Zêzere. A água é limpa mas muito fria, tendo nós de viver com o que temos, aqui as crianças saltam e pulam, há parque de merendas e restaurantes de múltiplos pitéus.





Água chama água, de praia fluvial inflete-se para outra. Chama-se Mosteiro, no concelho de Pedrógão Grande, festa rija para criançada e adultos de todas as faixas etárias, transformou-se um lagar de azeite em restaurante, a ribeira escorre em fluência, sem empecilhos, é um lugar onde se avistam três pontes, com boa vontade até se associa o quadro da paisagem a pinturas impressionistas. A ribeira de Pera irá sinuosa desembocar nas fímbrias do Penedo do Granada, mítico a vários títulos, já na correnteza de águas da Barragem do Cabril, o mesmo é dizer Zêzere a caminho de Constância.


Muda-se de azimute, vem-se até Ourém, é sempre com enorme satisfação que se contempla o paço-castelo erguido, por volta de 1450, por D. Afonso, Conde de Ourém e Marquês de Valença, filho do 1.º Duque de Bragança. Este D. Afonso prezava a sua fidalguia, levava-se muito a sério, visitou Itália, de onde seguramente trouxe referências para esta monumentalidade um tanto exótica na região. Era neto de Nuno Álvares Pereira, teve pretensões a ser O Condestável, a Coroa ignorou-o, mais tarde voltou a Itália, foi levar a infanta D.ª Leonor a casar com o imperador Frederico III. A paisagem que de aqui se avista é de estalo, as serras de Minde e de Aire parecem dali tão perto. Está sepultado na atual igreja de Ourém, a estátua jacente é verdadeiramente dramática. A quem nos lê apela-se a uma visita a este castelo cujo dono era neto de D. João I e de Nuno Álvares.



Ourém velho é riquíssimo em detalhes, e o andarilho não resistiu a este conjunto azulejar dedicado à mulher de Carlos II de Inglaterra, a tal soberana que introduziu o hábito do chá, que está imortalizada no castelo de Windsor, com toda a pompa e circunstância. Não teve feliz sina, levou dote altíssimo para o nosso velho e nem sempre fiel aliado, em moedas de ouro, com Tânger e Bombaim, viúva e sem filhos para cá regressou, quem queira ver sinais da obra que deixou passe pelo Paço da Rainha, junto à Academia Militar. Terá uma agradável surpresa.


É bem interessante verificar a crescente notoriedade da Festa dos Tabuleiros em Tomar. Uma comunidade prepara-se, labuta discretamente para que o programa das festas fascine a gente local, nacional e internacional. Na véspera do grande dia, uma multidão magnetizada percorre o casco histórico de Tomar, a arte do papel atinge aqui proporções incomparáveis, são cordames de cor intensa, que a noite aviva, não só acima das nossas cabeças, há os tapetes que parecem bordados, têm efeitos tocantes. Quem aqui se deslumbra com esta paleta de cores, este inusitado de formas está a preparar a alma para o que vem no dia seguinte, um aparatoso desfile em que o espetáculo se sujeita a múltiplas incógnitas, ali vão mordomos transportando a Coroa do Espírito Santo, impossível não questionar esta sobrevivência de devoções que extravasam a ortodoxia católica, todo aquele cerimonial tem reminiscências do passado, é mistérios e lendas. E por mais ruído que estrondeie pela cidade, até porque tudo começa com o silvo dos foguetes, é o Espírito que esmaga, é o Espírito que fica, e que preparará a nova edição. Assim se fecha este cotejo de imagens com a seguinte frase: Até à próxima.




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Nota do editor

Último poste da série de 21 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20756: Os nossos seres, saberes e lazeres (382): Itinerâncias pelo Sotavento Algarvio (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20783: Tabanca da Diáspora Lusófona (8): Em quarentena em Nova Iorque, combatendo o coronavirus com "Coronita" mexicana e sardinhas de Peniche... enquanto a Vilma tomou a decisão (corajosa) de aprender português e eu a missão (heroica) de aprender esloveno... (João Crisóstomo)




Nova Iorque > março de 2020 > Vilma e João Crisóstomo, "trancados em casa", por causa da pandemia de COVID-19, decidiarm abancar no quintal e fazer um piquenique: "Sardinhas de Peniche; “coronita” mexicana (, a sério mesmo: é uma "corona”, cerveja mexicana,  em garrafa mais pequena e daí o nome “coronita”); pão português (para comer a sardinha como deve ser à portuguesa), enfim, para fazer esquecer o famigerado coronavírus…

Fotos (e legenda): © João Crisóstomo  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada e amigo João Crisóstomo, luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes... Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun]

Date: quinta, 26/03/2020 à(s) 23:01
Subject: Em quarentena em Nova Iorque, batalhando o coronavirus com "Coronita" mexicana e sardinhas de Peniche...


Caro Luís Graça,

Gostei de poder falar ao telefone. Obrigado.   Mesmo meio aquarentenado,  como estás também,   não sei como consegues tempo para tanta coisa… 

Há duas semanas que nós  quase não saímos  de casa: contra a opinião do Senhor Trump que dizia, que graças à sua sábia decisão de ter parado os voos de e para a China,  os 15 casos de coronavirus na altura nos USA  cedo seriam reduzidos a zero e tudo voltaria ao normal...

Logo que os especialistas de saúde começaram a dizer que as pessoas com mais de sessenta anos ( e nós já vamos nos setentas bem entrados) deviam evitar sair de casa, nós  pegamos no carro e fomos ao  armazém. Pelo sim e pelo não   abastecemo-nos para duas ou três semanas. E passados dias,  com as notícias a ficarem mais alarmantes,   voltamos ao mesmo armazém para  reabastecimentos mais prolongados  , mas desta vez já havia fila e  alguns   materiais  a desaparecerem  como era foi o  caso de  sabão para as mãos que  depois  conseguimos   encontrar noutro lugar.

E desde então o  triste   pandemónio e tragédia que  viamos com apreensão  noutros lugares mundo fora  chegou aqui. Ontem as autoridades internacionais de saúde avisavam que o que sucedeu na China, Itália e Espanha pode vir a acontecer brevemente a  Nova Iorque . Infelizmente os números desde então (que as notícias agora não  variam  dia a dia mas de hora a hora) parecem confirmar esse prognósitico.

Como toda a gente, que de boa vontade ou sem ela é obrigada a obedecer a instruções  cada vez mais restringentes, passamos o tempo dentro de casa…  E  como não sou muito de facebook e coisas assim, tenho aproveitado o tempo para falar/ chamar    os nossos amigos— os que ainda respondem ao telefone;  quando este falha vai então uma mensagem por E mail.

Até consegui apanhar e falar com a São, esposa do nosso saudoso Eduardo.  Desta maneira já avisei ---a quem consegui chegar ---que o nosso encontro  da "Tabanca da Diáspora luso-americana" tentativamente programado para 31 de Maio em Newark foi adiado, ainda sem outra data,  possivelmente para fins de Outubro.

Além da televisão  e alguns jornais "on line"  que subscrevo,   o nosso blogue tem sido valioso para "ajudar  a passar o tempo". Sigo:

(i) os  muitos  e bons trabalhos do Beja Santos ; 

(ii) o conselho do  régulo Jorge Araújo  para não perder a validade da "bicha de pirilau":

(iii)  o José Belo e as suas vodkas curativas;

(iv)   o drama do Constantino Ferreira,  apanhado num cruzeiro  no cabo do fim do mundo a querer voltar ao nosso torrão natal; 

(v) as " favas suadas" e o  "butelo com casulas" …   da Alice Carneiro (, sua "malvada" que me deixaste com água naboca !)… ; enfim…

Mas por mais que queiramos não é fácil  deixar de sentir  este forçado  isolamento.

E da mesma maneira que  a necessidade faz o ladrão, este coronavírus   veio tornar realidade o que há  muito tempo desejava  acontecesse , mas  que via nunca suceder: a Vilma  finalmente resolveu fazer um esforço maior para aprender português….mal podes imaginar o quanto sido engraçado… mas o pior é que, " para que ela não esmoreça" eu me senti agora mais  obrigado a aprender mais um pouco de esloveno. E para quem  quem não conhece esloveno… nem pensem em começar. Mas que língua mais complicada!… mesmo para um indivíduo que teve sorte em ter alguns anos de latim como alicerce , depois reforçados com estadias em Franca, Inglaterra e  Alemanha (e por força de inesperadas situações de trabalho e exigências profissionais também   alguma  "experiência" de espanhol e italiano...  isto é problema mesmo sério… Calem-se do grego e do alemão  as dificuldades das declinações; e   do latim e do francês  as sensibilidades  e insinuações.. E se alguém não me quer acreditar… desafio a provarem-me errado nas minhas impressões…

Hoje numa das minhas chamadas telefónicas fui convidado por um amigo a ir passear para a praia de "Jones Beach", ( a uma hora e meia daqui ):. Que não havia problema nenhum pois são muitos quilómetros de praia, agora totalmente deserta. E a Vilma logo se apressou a apoiar a idéia! …  Fiquei sem jeito!  Puxa vida, disse eu para mim mesmo, com a memória duma queda ainda bem fresca , mesmo com um braço ainda meio amarrado, vejam a que ponto chegamos,  só porque  uma possibilidade e  a ideia de sair desta"prisão" de repente apareceu .

 De jeito nenhum, foi a minha resposta imediata. Ando eu com  um frasco de álcol sempre na mão a desinfetar e pulverizar á minha frente, à esquerda e à direita...,  sempre a desviar-me de alguém, conhecido ou não que aparece no caminho como se de um diabo se tratasse … e agora estão-me a falar em ir passear na praia… e de repente pareceu-me a salvação:
- Vilma, está um dia cheio de sol, sem vento... porque não fazemos antes um "almoço picnic" no quintal?

E se  bem pensado... logo  feito: preparei o "fogareiro" a brasas  ( carvão natural,  comprado numa loja portuguesa ), busquei as   sardinhas do congelador; pão português e  até o resto dum frasco de tremoços… e a Vilma logo se lançou, mesmo com o braço meio ligado ainda, a preparar a sua salada… e não se pensou mais em sair de casa, "não vá o diabo ser tendeiro"…

Para  te fazer crescer  a água na boca como me sucedeu com as " favas suadas" aqui te envio umas fotos  para mostrares à tua Alice e outros se assim bem entenderes …

 A Vilma envia um beijinho à Alice (, dá lhe um  outro meu!) e manda outro para ti. 
Um abraço grande para ti,  teus colaboradores mais próximos e todos os nossos  camaradas. 
João e Vilma

Legendas: Sardinhas de Peniche; "coronita" mexicana (. a sério mesmo: é uma "corona", cerveja mexicana, em garrafa mais pequena e daí o nome "coronita"); pão português, para comer a sardinha como deve ser à portuguesa… e para fazer esquecer o famigerado coronavirus…
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sexta-feira, 27 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20782: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (32): O tempo de serviço militar passado em Lisboa (Hélder V. Sousa, ex-Fur Mil TSF)

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de hoje, 25 de Março de 2020:

Caros amigos e camaradas, saúde!

Espero que consigam manter a física e a mental, pois temos que vencer esta provação com a mesma determinação com que se viveram "tempos anteriores".
Com serenidade e sem bravatas, pois já vi pela net um camarada Guiné a "argumentar" que tinha estado na Guiné, que tinha "bebido água da bolanha" e que por tal não tinha medo nenhum desse tal COVID-19 e que por isso achava mal que se adiassem almoços.

Como tinha prometido, envio então um texto relativo à minha segunda fase da incorporação militar, a correspondente ao 2.º Ciclo do CSM, ocorrido em 1969 (da última semana de Setembro à segunda de Janeiro do ano seguinte) no então BT, em Lisboa.

Em 2009 estiveram 10 dos 15 reunidos. Em 2012 foram só 6.
Mas depois recuperou-se a dinâmica e nos Encontros seguintes já estivemos sempre 8 ou 9, pese embora os 3 já falecidos e o elemento que vive nos Açores, em São Miguel e o elemento de Elvas que se nega a "alinhar" com estas "novas tecnologias".

Abraços
Hélder Sousa

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O TEMPO DE SERVIÇO MILITAR PASSADO EM LISBOA

Caros amigos
Nestes tempos de “isolamento social” ocorreu-me que já há 6 anos escrevi para uma série a que foi dado o título de “A cidade ou vila que mais amei ou odiei no meu tempo de tropa antes de ser mobilizado para o CTIG”.
Não gostei do título mas lá comecei com as minhas recordações. Esse primeiro artigo foi sobre Santarém (P12815) onde fui incorporado no 3.º Turno de 1969, em 15 de Julho desse ano, para frequentar o 1.º Ciclo do CSM.

Continuo a pensar que o pretendido seria mais como interagíamos com as localidades por onde passámos, com as suas gentes, etc., do que com os episódios da “vida militar” que por lá vivemos. Mas considero que uma coisa e outra estão intimamente relacionadas e é “impossível” não referir ambos os aspectos.
Ora bem, no final da “recruta” saiu-me a especialidade de TSF. Na ocasião não estava a perceber o que seria nem em que é que consistia. De todos os mancebos que então estavam nesse 1.º Ciclo do CSM em Santarém, e seriam cerca de cinco centenas, essa especialidade “saiu” a dois deles.

Deste modo, no final de Setembro, não recordando a data exacta pois não tenho aqui a Caderneta Militar ao alcance, mas foi certamente na última semana desse mês em 1969, lá me apresentei no “Quartel de Sapadores”, o BT, em Lisboa (foto com a entrada com vista do ano passado, 2019, onde já não se vê nem o “BT” do meu tempo nem o “Regimento de Transmissões” que foi a sua designação mais tarde).


É então sobre Lisboa que me deveria pronunciar, como vivi esses tempos do 2.º Ciclo do CSM, de Setembro de 1969 ao início de Janeiro de 1970. Mas também mais semana e meia em Abril de 70 quando voltámos lá para fazer os testes finais e ordenar a classificação e mais tarde ainda, de meados de Setembro ao início de Novembro, como adstrito ao Quartel de Adidos a aguardar transporte para a Guiné, que só foi marcado para 26 de Outubro, embora a saída fosse apenas em 3 de Novembro (episódio que contei no P2438).

Falar sobre Lisboa é fácil, embora possa ser uma conversa comprida. Por isso refiro apenas que, para além de ser a Capital do País e dispor de um conjunto de monumentos, equipamentos, jardins e outras coisas para ver e visitar, era o local onde me movimentava com algum à-vontade já que diariamente fazia o percurso de Vila Franca para Lisboa, onde estudava e onde “crescia” socialmente.
Nesse 2.º Ciclo do CSM já não me lembro ao certo quantos fomos no total, para além de que os TSF eram 15, tenho a ideia que os TPF eram 10 ou 12 e haviam ainda outros que iriam ter outras qualificações.

No período em causa, naturalmente como sucedeu noutros locais, ocorreram episódios ou peripécias interessantes, as quais podem consubstanciar histórias próprias. Uma delas já por aqui relatei (P3981), em que acabei por dar vários aspectos que esse episódio proporcionou.
Mas também podia descrever como passávamos o tempo na caserna tocando e cantando (não fosse o grosso dos TSF oriundos dos conjuntos musicais que havia por esse tempo), fazendo patifarias e partidas aos mais incautos.

Assim, rapidamente, lembro-me de uma manhã de muito frio e de cerrado nevoeiro, em Dezembro de 1969, aquando da alvorada, estávamos a formar na parada do Quartel (foto da parada vista do interior), em frente à porta da caserna (a nossa caserna era a 2.ª porta à esquerda) e fomos informados que o Comandante ia passar revista. Como habitualmente isso não sucedia, havia sempre um ou outro mais dorminhoco que se baldava a essa formação e nós lá íamos suprindo a sua falta com um “pronto” ou “presente” aquando da chamada. Ao tomar conhecimento dessa informação fui rapidamente à caserna avisar o(s) dorminhoco(s) do dia, o Canudo e/ou o Lã, já não recordo bem e disse “é pá, rápido, levantem-se que o Comandante vai passar revista à formatura. Vá, depressa, que está um frio e um nevoeiro do caraças” e tive como resposta “ai tá nevoero? Atão ele na vê e na dá pela minha falta” e acto contínuo puxou mais a roupa para cima da cabeça. Não tenho presente como se fez, mas lá se safaram….



Outro aspecto interessante é que à época também estavam por lá uns Tenentes a fazer tirocínio, o que nos permitiu, com essa contemporaneidade, travar algum (relativo, é claro!) relacionamento o qual, no caso dos que fomos depois contemplados com a Guiné, foi útil, em termos de simpatia, pois um deles era o Comandante do STM e o outro (por acaso eram cunhados) era o Comandante da Companhia de Transmissões.

Também o período em que essa estadia no BT decorreu, coincidiu com o que se designou por “eleições de 69” (em 26 de Outubro desse ano) e, como devem calcular, nunca faltou no BT folhetos de propaganda das listas da Oposição (emblema da CDE). “Alguém” conseguiu que isso fosse possível, apesar das tentativas goradas para o impedir.


Para mim os arredores do Quartel não eram estranhos. Conhecia relativamente bem a Graça, percorri a Av. General Roçadas, a Praça Paiva Couceiro e desta para a esquerda pela Morais Soares até à Praça do Chile ou para a direita até à Parada do Cemitério do Alto de S. João onde tinha ali perto, no Bairro Lopes, um amigo da minha aldeia. Para “tratar de assuntos à civil e do foro civil” ia até uma casa na Rua de Angola (placa toponímica), que ficava perto da morada de um Oficial do Exército, um Major, que chefiava uma corporação policial e que, por tal, tinha sempre um polícia à porta. Calculo que nunca lhes passasse pela cabeça e por isso não davam importância, que o militar que entrava e o civil que saía e depois vice-versa, pudesse não estar “sintonizado” com a política governamental…


Relativamente aos meus camaradas de Curso de TSF, fomos depois paulatinamente autodesignados por “Ilustres TSF” pois se “TSF” há muitos, de facto “Ilustres” só nós mesmos. Sobre eles, todos e cada um, darei conta em artigo próprio, se isso for autorizado.
para ilustrar o texto envio algumas fotos.

Ilustres TSF em Setúbal, 2009 - Martinho, Marques, Fanha, Batalha, Miguel, Lã, Cruz, Camilo, Hélder e Eduardo

Ilustres TSF em Lisboa, 2012 - Marques, Lã, Miguel, Hélder, Cruz e Eduardo

Abraços
Hélder S.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18332: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (31): Abrantes, sede do antigo RI 2 - Regimento de Infantaria 2, mais tarde Escola Prática de Cavalaria (2006) e hoje Regimento de Apoio Militar de Emergência

Guiné 61/74 - P20781: Notas de leitura (1276): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (51) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Outubro de 2019:

Queridos amigos,
Com o fado do regresso, o bardo e este seu companheiro despedem-se desta estranhíssima lide, que vale a pena recordar como tudo começou.
Um dia, num alfarrabista, encontrei esta "Missão Cumprida", irresistível não a ler num serão, e pronto começou a germinar a ideia de republicar a obra, peça a peça, gerando formas de diálogo, associações imaginárias, tudo a propósito da ida à tropa, a recruta, a especialidade, a formação do batalhão, todo o corolário do período operacional.
Há bastantes anos que me acicatava a curiosidade de descer ao fundo deste poço do início da guerra, tão escarnecido ou detratado enquanto crescia a mitologia spinolista, aquilo é que era fazer a guerra, conversando com o povo, tornando a guerra avassaladora, e o muito mais que todos sabemos, tudo apresentado como soluções que rasuravam um passado de insucessos, os generais que tinham antecedido aquele guerreiro de monóculo não tinham sido mais que dois mal enjeitados. Ora nada foi assim, embora os mitos continuem a pairar na atmosfera, a despeito da documentação publicada que revelam, por A mais B, que era uma evolução imparável que se prendia com uma vontade humana irrefragável de ficar independente, como veio a acontecer, deixando, felizmente, os dois povos em relação fraterna, e espera-se que para todo o sempre.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (51)

Beja Santos

“Depois de penar na guerra
eu voltei à minha terra
para meus pais abraçar.
Ao ver-me, a minha mãezinha,
com alegria, coitadinha,
abraçou-se-me a chorar.

Muita lágrima deitou
o tempo que demorou
seu filho no Ultramar.
Passando muita agonia,
ela, coitada, pedia
a Deus para me salvar.

Tive então essa sorte
e Deus me livrou da morte
e à nova vida voltei.
Ficou-me de recordação
a grande satisfação
quando meus pais abracei.

Lutando com os africanos
passei então os dois anos,
hoje estou já descansado.
Já me vejo ao pé dos meus
posso dar graças a Deus
de tudo me ter livrado”.

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Assim culmina, com este fado do regresso, a grande ode que o bardo dedicou às gentes do seu Batalhão. Compôs e recompôs, seguramente que pediu escrutínio a algum censor, seguramente de juízo benevolente, não se podia imprimir em letra de forma, ainda por cima para o grande público, algo que pudesse revelar os itinerários daquela guerra a que o Estado Novo tratava com discrição, chamando-lhe ações de policiamento, ora toma. No cômputo da literatura da guerra há finais lancinantes, avultam lágrimas, são regressos em que o lugar muitas vezes não mudou mas quem chegou sabe de antemão que vem mudado.

Aqui quero ombrear com o bardo, e a todos dar conta do meu dia de chegada, naquele agosto de 1970, o navio Carvalho Araújo meteu-se pelo Canal do Geba e foi direito ao oceano, houve uma primeira paragem na Ilha do Sal, para largar cabo-verdianos sorridentes que nem olharam para trás, tinham a terra à vista, bem como as famílias em plena agitação, à sua espera. Dali se seguiu para Mindelo, o viandante guarda bilhete-postal que enviou à mãe, dizendo-lhe que não havia diferença entre o que estava a ver ali e talvez o centro de Mortágua ou Oliveira do Hospital, o casario tinha afinidades inequívocas, com coreto e jardins, e bem impressionante era avistar, a curta distância, Santo Antão, negro e escalvado. E continuou a viagem até Ponta Delgada, a receção mais comovente nunca assisti, estou no convés e o navio aproxima-se do porto, o silêncio é sepulcral entre a multidão que espera e a mole humana dependurada pelos varandins. Súbito, ouve-se um grito, como se um ser humano estivesse a ser retalhado, nada disso, foi mãe que avistou filho, irrompeu uma gritaria medonha, aquela mole humana vestida de preto estava a deitar fora o luto, era a plena alegria da chegada.

Também fui bafejado pelos amigos que me esperavam e que me obsequiaram com um belo jantar, acontecimento inesquecível, guardo-o com esta memória fotográfica com que Deus me privilegiou. E rumámos até Lisboa, chegámos pela noitinha, foi uma vigília com gritos estrídulos, gente desorientada, gente bem bebida, era Lisboa iluminada à vista, com a mesma Ponte Salazar antes do cais da chegada.

Muitos anos depois, quando decidi pôr tudo em letra de forma sobre a minha vida na Guiné, finalizei a obra com o texto que se segue, e que consta do livro “O Tigre Vadio”, 2008:
“Comemos o pequeno-almoço à pressa, há quem esteja à mesa com os seus pertences à volta, não vá chegar aí uma ordem para regressar à Guiné. Saímos de roldão, quem vem em unidade militar tem de controlar as emoções, a gente da rendição individual foge para as saídas, indiferente à gritaria dos diferentes administrativos a quem compete indicar aonde nos devemos apresentar. Fico a saber que as minhas caixas seguem para um quartel na Calçada da Ajuda, informam-me que tenho uma entrevista com um major da unidade na manhã seguinte, o Exército pretende fazer um contrato comigo. Saio desabrido por aquele Cais da Rocha do Conde de Óbidos onde embarquei na manhã de 24 de Julho de 1968. Visto a farda n.º 2, com a calça comprida, não tive dificuldade em conseguir um táxi, quando me instalo, com a mala bem pesada e a arte guineense atada por cordas, posta nos meus costados, parece que estou a dar ordens para partirmos para o Xime ou o Xitole. Faço perguntas, oiço comentários, identifico sítios, assombro-me com algum edifício desconhecido.

O táxi passa pelo Cais das Colunas, esta é a minha Lisboa, pareço um gaiato a apontar para o Castelo de São Jorge, banzado com os cacilheiros, o trânsito da Baixa, a imponência quieta da Avenida da Liberdade. Passamos pelo Saldanha, só faltou acenar ao Monumental, onde fui tantas vezes ao cinema e teatro. É uma manhã de Agosto quente, mas não sinto a humidade da Guiné, incendeia-me o entusiasmo de querer avisar meio mundo que cheguei a Lisboa e que tenho planos para recomeçar a minha vida. O táxi parece voar, é a vez de o chofer fazer perguntas, tem um filho a fazer recruta, quer saber se a guerra da Guiné é tão dura quanto por aí dizem à boca calada. Dou respostas assépticas, hoje não quero que o senhor chofer tenha maus sonhos. Passamos pelo Campo Grande que conheço a palmo, o jardim está a definhar, talvez seja do calor do Verão, tem pouco a ver com o verde viçoso e os lindos canteiros de flores que sempre conheci em miúdo. De repente, lembrei-me da felicidade que senti, tinha eu 11 anos, quando achei uma nota de 20 escudos dentro do jardim e ofereci à minha mãe. O táxi vira à direita e entra na Avenida do Brasil, pára ao lado da Garagem Dragão, tinha sido esta a referência que a Cristina me dera ao telefone, estava eu em Ponta Delgada.

Tiro a custo o malão pesado, a arte guineense chocalha com tanto movimento, os mirones param na rua com este quadro insólito. Toco à campainha, oiço a declaração de alegria da Cristina. À porta de um sexto andar gritamos e beijamo-nos. Arrasto o malão para a entrada, a Cristina freme de entusiasmo, quer mostrar o espaço organizado: a salinha com alcatifa em tom azul-marinho, depois um quarto ainda vazio, a cozinha com a mesa já posta para o almoço, é daqui que avisto uma Lisboa com arranha-céus até ao Sheraton, vou fazendo perguntas, a Cristina procura responder. Depois o corredor faz um cotovelo, há uma casa de banho e ao fundo o nosso quarto com janela tendo o Júlio de Matos como fundo. É um ambiente cheio de ternura, a Cristina foi uma grande artífice com os poucos tostões disponíveis.

É no momento em que lhe estou a pegar nas mãos e lhe procuro agradecer tudo quanto tem feito por mim que sinto um rugido medonho, as paredes estremecem, sinto um pânico, estendo os braços com as mãos viradas para a frente, sinto-me em Missirá, procuro um morteiro 81 cercado por bidões cheios de terra e cimentados, preparo-me para gritar, quero todos a postos para reagir contra as gentes de Madina. São segundos de total desencontro, os olhos procuram orientar a melhor resposta para aquele ataque ao fim da manhã. A Cristina apercebe-se de que estou a viver aquilo que ela já lera em relatos sobre quem chega da guerra: um simples estampido de um carro põe um ex-combatente à procura do inimigo, deitado no chão ou lançando-se sobre as pessoas. A Cristina serena-me: “Estamos na linha do aeroporto, dentro de dias estás completamente habituado a este barulho. Acalma-te, Mário, a guerra acabou. Olha, tens ali uma carta do Ruy Cinatti. Vou acabar o almoço, tenho sardinhas no forno, como tu pediste.”

Lago do Campo Grande

Cineteatro Monumental, na Praça do Saldanha

Finais destas histórias são infinitos, na impossibilidade de dar voz a tanta eloquência e emoção das chegadas, finda a guerra, festeja-se este mano-a-mano com que convivi com o bardo com uma bela página de “sairòmeM, Guerra Colonial”, de Gustavo Pimenta, com data de 2000, é um encontro universal que não pode deixar indiferente qualquer velho combatente que passou pela experiência:
“A casa antiga – para não dizer velha – acolheu-me com o cheiro e o conforto que a memória reconheceu. Quanto tempo passado e como tudo me pareceu, de súbito, regressar ao princípio. As mesmas cores esmaecidas, em particular o amarelo das portas e janelas, o mesmo soalho corrido com tábuas carcomidas entremeadas, aqui e ali, por novas impecavelmente aplicadas, a motorizada logo à entrada do corredor e, ainda, a mesma cortina encobrindo o cubículo das garrafas de gás.
Meu pai acabava de me abrir a porta num abraço raramente acontecido: que me lembrasse, em adulto, era a segunda vez que estreitávamos os ossos. Com ele, diluíram-se num ápice os mais recentes dois anos da minha vida. A guerra parecia não ter acontecido: eis-me, de novo, naquele ambiente seguro e certo, inamovível, que sempre me foi a casa de meus pais”.

É com pesar que me despeço, gostei imenso de me ter atravessado na vida de um poeta popular que contou a sua vida no início de uma guerra que continua por ser escrita em linhas mais direitas, esclarecedoras. Cheguei à Guiné nos finais de julho de 1968, o Brigadeiro Spínola subia os degraus do pódio da mitologia e do estrelato, pelo tempo que se seguiu sucediam-se os rumores que ele estava a pôr a casa no sítio, os generais que o precederam tinham andado às aranhas, num perfeito descaminho, implantando destacamentos ao acaso, vendo a guerra agravar-se de ano para ano. Era assim, com comentários mordentes, que estes oficiais eram postos num banco dos réus, como que incriminados pelo crescimento da guerra. E como aqui se procurou desvelar, não foi nada assim, felizmente que documentos neutrais como a “Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África”, nos volumes dedicados à Guiné, mostram à saciedade que se procurou agir e travar a guerrilha. Só que esta se revelou imparável, por diferentes fatores que não se prendiam diretamente com a liderança ou mesmo a bravura do soldado português. Quem se sublevara era portador de ideologia, havia um histórico de insubmissão, um pouco por toda a colónia da Guiné, o líder da guerrilha prepara com conta, peso e medida a insurreição, tinha jovens quadros, com os anos o armamento tornou-se muito mais sofisticado e um dia os oficiais portugueses aperceberam-se que não havia solução militar e que se avizinhava uma tremenda humilhação, mais um desvario a averbar ao delírio de querer perpetuar um império colonial. Não foi por acaso que esta Guiné onde o bardo e este outro autor passaram a mocidade se tornou a chave, e até a fechadura, que levou ao fim do império.
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Notas do editor

Poste anterior de 20 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20752: Notas de leitura (1274): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (50) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 23 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20763: Notas de leitura (1275): "O Adeus ao Império", organização de Fernando Rosas, Mário Machaqueiro e Pedro Aires Oliveira; Nova Vega, 2015 - Das guerras em África à descolonização, diferentes olhares, quarenta anos depois (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20780: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (120): A COVID-19 não passará!... Felizes reencontros de 3 camaradas, que estão à distância de um clique... mas fisicamente separados e agora confinados... Falamos de: (i) José Joaquim Pestana, gravemente ferido em combate em 9/3/1970, no Xime, quando era fur mil da CART 2520, e que vive em Torre de Moncorvo, sua terra natal; (ii) José Nascimento (em Faro, a 671 km, de carro); e (iii) Paulo Salgado, amigo de infância e vizinho do Pestana, a 400 metros da sua porta...


CART 2520 > c. abril/maio 1969 > Campo Militar de Santa Margarida > Santa Margarida - José Joaquim Pestana é o segundo de pé a partir da esquerda. O José Nascimemto é o primeiro da esquerda, na primeira fila. O pessoal da CART 2520 (Xime e Quinhamel, 1969/71) partiu para o CTIG, no T/T Niassa, em 24/5/1969.



Guiné > Regiaão de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca > Xime > O Fur Mil Pestana, sentado num heli AL III.

Fotos (e legendas): © José Nascimemto (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Paulo Cordeiro Salgado [ex-Alf Mil Op Esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor do livro (, o mais recente,) "Milando ou Andanças por África" (Torre de Moncorvo: Lema d'Origem, 2019); vive em Vila Nova de Gaia; está neste momento na sua casa de Torre de Moncorcvo, donde é natural;

Date: quarta, 25/03/2020 à(s) 22:31

Subject: O caso do furriel miliciano Pestana

Meus Caros Camaradas editores,

Abaixo o que me parece ser razoável, neste momento, sobre o texto do José Nascimento. Um bom e sentido texto. Acabei de ligar ao Zé Pestana. Como ele não bloga, li-lhe o texto. Ficou admirado...e decerto a pensar que há amigos que se recordam de nós...

Junto abaixo.

Um abraço e coragem perante esta guerra...

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José Pestana - um amigo

Pois é: o texto que o camarada José Nascimento escreveu (*) a falar do José Joaquim Pestana, furriel miliciano da CART 2520, despertou em mim um desejo de partilhar algo sobre este meu amigo. Apreciei a forma como o Nascimento aborda o tema. Obrigado, camarada.

Vamos por partes.

1.º - O Zé – assim o passo a designar – foi meu condiscípulo desde a 3.ª classe até ao 5.º ano liceal, aqui na nossa Vila de Torre de Moncorvo; nas brincadeiras de garotos e já adolescentes, uma amizade sã. Há fotografias que atestam esta fase da nossa vida.

2.ª – Desde jovem, o Zé foi um apaixonado pela viola; ele e o irmão (o Manel, que esteve em Angola, logo em 1961, onde viveu intensamente as "bernardas" iniciais naquela colónia, eufemisticamente chamada província…) fazem um duo de viola e guitarra de grande estilo; ainda hoje tocam quando convidados; eu próprio já me "servi" da sua disponibilidade autêntica e sã aquando da apresentação de um dos meus livros – Milando ou Andanças por África. Mas noutras oportunidades também. Imagino como ele terá sido importante com a sua viola, no Xime…Há fotografias nossas.

3.ª – Fui encontrá-lo em Bissau, em 1970 e ainda um pouco em 1971, por acaso, estando eu de passagem para o Olossato, e logo fizemos algumas almoçaradas de ostras e camarões no Pelicano e noutros restaurantes de Bissau. E conversámos…Apoiou-me logisticamente, pois ele já estava em serviços auxiliares, mas sempre prestando grandes serviços nas novas funções, após ter sido ferido em combate. Há fotografias que atestam estes momentos.

4.º - Vive em Moncorvo e onde eu, actualmente, paro mais vezes; e é tempo de voltarmos a conviver. Acabei de lhe telefonar dando conta do texto e fotos que estão no nosso blogue e ele ficou emocionado – oh, o Nascimento! – referiu.

Infelizmente, estamos confinados por causa deste maldito vírus. Só pelo telefone, apesar de as nossas casas distarem 400 metros, aproximadamente. (**)

Um abraço ao Nascimento.

Paulo Salgado

2. Comentário do José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), que vive em Faro:


26 mar 2020 15:21




Caro Luís,

Agora sou eu a dizer: Oh, o Pestana?!

Fiquei deveras emocionado com o que acabei de ler.

Estas coisas não se esquecem.

Um abraço para o Paulo Salgado e também para ti, Luís

Nascimento
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20768: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (16): O Furriel Pestana

Guiné 61/74 - P20779: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (3): Op. Mogadouro II - Lançar um livro e não só - II Parte

1. Em mensagem do dia 23 de Março de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos a segunda Boa memória da sua paz, desta feita a Op. Mogadouro II - Lanlar um livro e não só, que agora se conclui.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ

3 - Op. Mogadouro II - Lançar um livro e não só - II Parte


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Nota do editor

Poste anterior de 26 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20777: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (2): Op. Mogadouro II - Lançar um livro e não só - I Parte