Caros amigos e camaradas, saúde!
Espero que consigam manter a física e a mental, pois temos que vencer esta provação com a mesma determinação com que se viveram "tempos anteriores".
Com serenidade e sem bravatas, pois já vi pela net um camarada Guiné a "argumentar" que tinha estado na Guiné, que tinha "bebido água da bolanha" e que por tal não tinha medo nenhum desse tal COVID-19 e que por isso achava mal que se adiassem almoços.
Como tinha prometido, envio então um texto relativo à minha segunda fase da incorporação militar, a correspondente ao 2.º Ciclo do CSM, ocorrido em 1969 (da última semana de Setembro à segunda de Janeiro do ano seguinte) no então BT, em Lisboa.
Em 2009 estiveram 10 dos 15 reunidos. Em 2012 foram só 6.
Mas depois recuperou-se a dinâmica e nos Encontros seguintes já estivemos sempre 8 ou 9, pese embora os 3 já falecidos e o elemento que vive nos Açores, em São Miguel e o elemento de Elvas que se nega a "alinhar" com estas "novas tecnologias".
Abraços
Hélder Sousa
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O TEMPO DE SERVIÇO MILITAR PASSADO EM LISBOA
Caros amigos
Nestes tempos de “isolamento social” ocorreu-me que já há 6 anos escrevi para uma série a que foi dado o título de “A cidade ou vila que mais amei ou odiei no meu tempo de tropa antes de ser mobilizado para o CTIG”.
Não gostei do título mas lá comecei com as minhas recordações. Esse primeiro artigo foi sobre Santarém (P12815) onde fui incorporado no 3.º Turno de 1969, em 15 de Julho desse ano, para frequentar o 1.º Ciclo do CSM.
Continuo a pensar que o pretendido seria mais como interagíamos com as localidades por onde passámos, com as suas gentes, etc., do que com os episódios da “vida militar” que por lá vivemos. Mas considero que uma coisa e outra estão intimamente relacionadas e é “impossível” não referir ambos os aspectos.
Ora bem, no final da “recruta” saiu-me a especialidade de TSF. Na ocasião não estava a perceber o que seria nem em que é que consistia. De todos os mancebos que então estavam nesse 1.º Ciclo do CSM em Santarém, e seriam cerca de cinco centenas, essa especialidade “saiu” a dois deles.
Deste modo, no final de Setembro, não recordando a data exacta pois não tenho aqui a Caderneta Militar ao alcance, mas foi certamente na última semana desse mês em 1969, lá me apresentei no “Quartel de Sapadores”, o BT, em Lisboa (foto com a entrada com vista do ano passado, 2019, onde já não se vê nem o “BT” do meu tempo nem o “Regimento de Transmissões” que foi a sua designação mais tarde).
É então sobre Lisboa que me deveria pronunciar, como vivi esses tempos do 2.º Ciclo do CSM, de Setembro de 1969 ao início de Janeiro de 1970. Mas também mais semana e meia em Abril de 70 quando voltámos lá para fazer os testes finais e ordenar a classificação e mais tarde ainda, de meados de Setembro ao início de Novembro, como adstrito ao Quartel de Adidos a aguardar transporte para a Guiné, que só foi marcado para 26 de Outubro, embora a saída fosse apenas em 3 de Novembro (episódio que contei no P2438).
Falar sobre Lisboa é fácil, embora possa ser uma conversa comprida. Por isso refiro apenas que, para além de ser a Capital do País e dispor de um conjunto de monumentos, equipamentos, jardins e outras coisas para ver e visitar, era o local onde me movimentava com algum à-vontade já que diariamente fazia o percurso de Vila Franca para Lisboa, onde estudava e onde “crescia” socialmente.
Nesse 2.º Ciclo do CSM já não me lembro ao certo quantos fomos no total, para além de que os TSF eram 15, tenho a ideia que os TPF eram 10 ou 12 e haviam ainda outros que iriam ter outras qualificações.
No período em causa, naturalmente como sucedeu noutros locais, ocorreram episódios ou peripécias interessantes, as quais podem consubstanciar histórias próprias. Uma delas já por aqui relatei (P3981), em que acabei por dar vários aspectos que esse episódio proporcionou.
Mas também podia descrever como passávamos o tempo na caserna tocando e cantando (não fosse o grosso dos TSF oriundos dos conjuntos musicais que havia por esse tempo), fazendo patifarias e partidas aos mais incautos.
Assim, rapidamente, lembro-me de uma manhã de muito frio e de cerrado nevoeiro, em Dezembro de 1969, aquando da alvorada, estávamos a formar na parada do Quartel (foto da parada vista do interior), em frente à porta da caserna (a nossa caserna era a 2.ª porta à esquerda) e fomos informados que o Comandante ia passar revista. Como habitualmente isso não sucedia, havia sempre um ou outro mais dorminhoco que se baldava a essa formação e nós lá íamos suprindo a sua falta com um “pronto” ou “presente” aquando da chamada. Ao tomar conhecimento dessa informação fui rapidamente à caserna avisar o(s) dorminhoco(s) do dia, o Canudo e/ou o Lã, já não recordo bem e disse “é pá, rápido, levantem-se que o Comandante vai passar revista à formatura. Vá, depressa, que está um frio e um nevoeiro do caraças” e tive como resposta “ai tá nevoero? Atão ele na vê e na dá pela minha falta” e acto contínuo puxou mais a roupa para cima da cabeça. Não tenho presente como se fez, mas lá se safaram….
Outro aspecto interessante é que à época também estavam por lá uns Tenentes a fazer tirocínio, o que nos permitiu, com essa contemporaneidade, travar algum (relativo, é claro!) relacionamento o qual, no caso dos que fomos depois contemplados com a Guiné, foi útil, em termos de simpatia, pois um deles era o Comandante do STM e o outro (por acaso eram cunhados) era o Comandante da Companhia de Transmissões.
Também o período em que essa estadia no BT decorreu, coincidiu com o que se designou por “eleições de 69” (em 26 de Outubro desse ano) e, como devem calcular, nunca faltou no BT folhetos de propaganda das listas da Oposição (emblema da CDE). “Alguém” conseguiu que isso fosse possível, apesar das tentativas goradas para o impedir.
Para mim os arredores do Quartel não eram estranhos. Conhecia relativamente bem a Graça, percorri a Av. General Roçadas, a Praça Paiva Couceiro e desta para a esquerda pela Morais Soares até à Praça do Chile ou para a direita até à Parada do Cemitério do Alto de S. João onde tinha ali perto, no Bairro Lopes, um amigo da minha aldeia. Para “tratar de assuntos à civil e do foro civil” ia até uma casa na Rua de Angola (placa toponímica), que ficava perto da morada de um Oficial do Exército, um Major, que chefiava uma corporação policial e que, por tal, tinha sempre um polícia à porta. Calculo que nunca lhes passasse pela cabeça e por isso não davam importância, que o militar que entrava e o civil que saía e depois vice-versa, pudesse não estar “sintonizado” com a política governamental…
Relativamente aos meus camaradas de Curso de TSF, fomos depois paulatinamente autodesignados por “Ilustres TSF” pois se “TSF” há muitos, de facto “Ilustres” só nós mesmos. Sobre eles, todos e cada um, darei conta em artigo próprio, se isso for autorizado.
para ilustrar o texto envio algumas fotos.
Ilustres TSF em Setúbal, 2009 - Martinho, Marques, Fanha, Batalha, Miguel, Lã, Cruz, Camilo, Hélder e Eduardo
Ilustres TSF em Lisboa, 2012 - Marques, Lã, Miguel, Hélder, Cruz e Eduardo
Abraços
Hélder S.
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18332: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (31): Abrantes, sede do antigo RI 2 - Regimento de Infantaria 2, mais tarde Escola Prática de Cavalaria (2006) e hoje Regimento de Apoio Militar de Emergência
2 comentários:
Caro amigo Hélder parabéns e obrigado pela discrição ou descrição dos teus amores. Um abraço.
Caro Helder Sousa
Obrigado pelo"tour" por este Quartel, para mim uma novidade!
Abraço,
Miguel Rocha
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