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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 : P21809: In Memoriam (385): José Pardete Ferreira (1941 - 2021), ex-alf mil médico, CAOP, Teixeira Pinto, e HM 241, Bissau, 1971; cirurgião, médico especialista em medicina desportiva, foi diretor clínico do Hospital de São Bernardo, e presidentedo Rotary Club de Setúbal, poeta e escritor (Hélder Sousa / Luís Graça)


José Pardete Ferreira, médico, natural de Lisboa, 
residente em Setúbal (1941-2021)


Ministério do Exército > CTIG > HM 241 > Bissau, 24 de junho de 1962 >
 BI Militar do alf mil médico José António Pardete da Costa Ferreira



1. Mensagem do Hélder Sousa, nosso colaborador permanente, residente em Setúbal:
 
Date: terça, 26/01/2021 à(s) 01:11
Subject: Falecimento do nosso "camarada da Guiné" Dr. José Pardete Ferreira 

Caros amigos

Como seria de prever, as notícias de falecimentos de camaradas do "nosso tempo" tendem a aumentar e a aumentar rapidamente. Seja pelo avançar inexorável da idade, seja pelas maleitas que nos vão apoquentando, seja por alguma doença "tradicional", seja até por consequência da "doença da moda", a Covid-19,

De facto o nosso "camarada da Guiné", médico, José A. Pardete Ferreira, faleceu, embora não se encontrem muitas notícias sobre isso, nem de que ocorreu o infausto acontecimento.

Procurei junto do nosso tabanqueiro Vitor Raposeiro [ex-Fur Mil, Radiotelegrafista, STM, Aldeia Formosa, Bambadinca e Bula, 1970/72] que ainda tem parentesco com ele e, ironia do destino, fui eu que acabei por lhe dar conhecimento. Nem ele nem a prima ainda sabiam.

Portanto, à falta de mais e melhor informação, adianto que a morte terá ocorrido no passado dia 13 já que encontrei num post do TAS (Teatro Animação de Setúbal) datado de 14 às 07:57 a dar conta do seu falecimento e a lembrar a colaboração que ele tivera com o TAS, nomeadamente com a tradução duma peça levada à cena em 2008.

O jornal regional "Semais" recebeu uma "Nota de pesar" por parte da Liga dos Amigos do Hospital de São Bernardo (Hospital de Setúbal) que a seguir reproduzo.

Nota de Pesar - Dr. Pardete Ferreira,

Partiu um amigo e companheiro - conhecido Médico Cirurgião que conta no seu percurso clínico também o exercício da medicina desportiva. Foi Diretor Clínico do Hospital de São Bernardo - no mandato do Dr. David Martins como Diretor do Hospital.

Com ele, fiz parte da Direção da Casa do Pessoal do HSB. Mais tarde, veio também a integrar os Órgãos Sociais da LIGA - como Presidente do Conselho Fiscal da Liga de Amigos do Hospital São Bernardo/LAHSB-CHS.

Teve relevante intervenção cívica, associativa, filantrópica, cultural e desportiva. Foi Escritor, Membro Rotary e jogador de andebol no Sporting Clube de Portugal.

Os Órgãos Sociais da LAHSB-CHS, associam-se ao pesar sentido pelos seus associados que partilharam e vivenciaram com o Dr. Pardete Ferreira momentos muito felizes e profícuos.

Há a indicação de que a Câmara Municipal de Setúbal em sessão pública ocorrida, salvo erro, no passado dia 21 relembrou e aprovou votos de pesar a três personalidades de Setúbal recentemente falecidas, o Capitão Quaresma Rosa, antigo Comandante dos Sapadores Bombeiros, a 16, e os médicos Machado Luciano, vítima de doença súbita a 11 e Pardete Ferreira a 13, destacando as suas atuações no desempenho de funções no Hospital de São Bernardo.

Por sua vez também obtive do Rotary Club de Setúbal [, cuja página no Facebook está está parada desfe 6/12/2020], a nota que republico:


Participação de Falecimento: O RCS está de luto


"É com profundo pesar que comunicamos o falecimento do nosso sócio representativo José António Pardete Ferreira.

O companheiro Pardete Ferreira entrou para o Rotary Club de Setúbal em 1984 com a classificação "Medicina-Cirurgia", tendo sido 3 vezes seu Presidente (1990-91; 2002-03 e 2009-10) e passado por todas as suas comissões, sendo considerado a referência de "sapiência" rotária do nosso clube.

Adepto do Rotary no seu aspecto mais "puro", defendia intransigentemente o protocolo e a praxis rotária original.

Profissional de excelência, era dono de um intelecto brilhante e professava a sua profunda fé e conhecimento eclesiástico em várias colaborações com a Igreja Católica, escrevendo regularmente para algumas das suas publicações. 

Exerceu várias missões ao serviço de Rotary a nível Distrital, sendo de destacar ter sido Team Leader do IGE em Distrito do Rio Grande do Sul, Brasil.

Era um companheiro muito querido e estimado do nosso clube e a sua perda é impossível de reparar!

O Rotary em particular e Setúbal em geral, ficam mais pobres.Que descanse em Paz!

Cordiais saudações rotárias"

O Presidente Rotary Club de Setúbal

Alberto Vale Rêgo


Caros camaradas, cuidemo-nos! A "ceifa" anda por aí.

Hélder Sousa


2. Comentário do nosso editor Luís Graça:


Hélder, obrigado por nos teres dado, em conversa telefónica,  a infausta notícia. Alguém, desgraçadamente, nos tempos que correm, tem de fazer este indesejável papel de "mensageiro da morte".

Já tinha, entretanto, confirmado, o desaparecimento do teu vizinho de Setúbal e membro da nossa Tabanca Grande, o dr. José Pardete Ferreira, O último poste, dele, na sua página do Facebook é de 12 de janeiro...

Deve ter sido morte súblita. Nasceu em 1941. Ia complementar em 15 de fevereiro próximo os 80 anos. Infelizmente não temos qualquer contacto com a família. Diz-nos que era casado com uma senhora francesa, e primo da mulher da do Vitor Raposeiro, nosso camarada e meu contemporâneo de Bambadinca.

O J. Pardete Ferreira foi alf mil médico [CAOP, Teixeira Pinto, e HM 241, Bissau, 1969/71]. Tem 32 referências no blogue;

Deu-nos preciosas informações sobre os colegas médicos que com ele trabalharam, sobretudo no HM 241, e de outros que conheceu, bem como sobre a organização e o funcionamento dos serviços de saúde militares, no CTIG.

Entrou para a Tabanca Grande em 27/6/2011.  Um resumo do seu "curriculum vitae" está disponível aqui;

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/06/guine-6374-p8474-tabanca-grande-292.html

Nascido em Lisboa a 15 de fevereiro de  1941, foi  cirurgião – médico, especialista em medicina desportiva. Entre outras funções,  desempenhou os cargos de:

  • Director Clínico do Hospital de São Bernardo (Setúbal);
  • Director do Centro de Medicina Desportiva de Setúbal;
  • Director do Serviço de Cirurgia II do Hospital de são Bernardo (Setúbal);
  • Médico da Selecção Nacional de Andebol;
  • Presidente do Rotary Club de Setúbal.

Poeta e escritor, publicou, nomeadamente, “ O Paparratos – Novas Crónicas da Guiné – 1969/1971" (romance); Prefácio – Edição de Livros e Revistas, Lda – ISBN: 972-8816-27-8 (DL nº 213619/04). Ver aqui nota de leitura do Beja Santos.

(...) Paparratos é a candura, a simplicidade e a força da natureza daqueles soldados portugueses que se adaptavam como podiam ao meio estranho (...)

 O Paparratos é uma divertimento sério, supera as situações caricatas e cómicas, na senda da literatura de humor, que se perde na noite dos tempos, comprova que muitas vezes o que se diz a rir é para reter em todo o horizonte da amargura, a sisudez pode ser troça e não é difícil provar que há muito Paparratos que servem de carne para canhão.

É o prazer da memória e, insiste-se, não se conhece um fresco tão vigoroso sobre o meio estudantil universitário daqueles longínquos anos 60. (...)

 

Mandou-nos também em tempo uma letra de fado, da sua autoria, o Fado da 'Orion', e que voltamos a reproduzir em sua homenagem e aos nossos camaradas da Marinha, e em especial à malta da LFG Orion:

 
Fado da 'Orion'

Tristes noites de Bissau,
Neste clima tão mau,
Passá-las não há maneira,
Sem comer arroz, galinha.
Ou então ir à "Marinha"
Aos "jantares da quinta-feira"!

Às vezes um Comandante,
Bom amigo, bem falante,
Obriga uma pessoa,
Com uma grande bebedeira,
Pensar que o Ilhéu do Rei
Fica em frente de Lisboa.


Refrão 

Ser marinheiro
De "LFG' no estaleiro,
Sem motores nem cantineiro,
Junto ao cais sem navegar,
E esperando,
A comissão foi passando,
Ai!, os amigos engrossando,
Com o Geba a embalar.


Quando vinha dessa Terra
E voltava à minha Serra,
Nem eu queria acreditar !
Virei-me ainda p'ra ver,
O meu Adeus lhe lançar
E também lhe agradecer:

Com meu suor derramado
No teu chão, tão maltratado,
Deixo-te votos amigos
E, também, as minhas preces,
'squecendo rancores antigos,
Por ti, Guiné, que mereces.

Refrão...


(Nota do autor: 1ª parte e Refrão escritos em Bissau em Novembro de 1970. 2ª parte escrita em Setúbal na madrugada de 15 de Dezembro de 1997. Para ser cantado com a Música do "Fado do Cacilheiro" do Maestro Carlos Dias).


Infelizmente, não tivemos, em vida, ocasião para  nos conhecermos pessoalmente. Trocámos diversas mensagens por email. E a sua colaboração no nosso blogue foi extremamente valiosa. Era um homem crente. Continuará, connosco, em espírito, sob o nosso sagrado e fraterno poilão, no lugar que lhe coube, o nº 505. 

À família enlutada (e muito em particular ao seu filho Jean-Jacques Pardete, que tem página no Facebook), a Tabanca Grande envia a sua solidariedade na dor.(**)


 ____________

Notas do editor:


(*) Vd. poste de 30 de outubro de  2011 > Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

(...) Caro Luís, o prometido é devido:

O Fado da Orion foi escrito em Homenagem ao Comandante [Alberto Augusto]  Faria dos Santos [, entretanto falecido em 1986; como 1º ten, comandou o NRP Orion, 1968/70]. 

A LFG {Orion]G passou mais de um ano acostada ao molhe do Pi(n)djiguiti porque tinha cedido à [LFG] Batarda um dos motores.

Quando o recebeu de volta ou ele foi substituído por um novo, já não posso precisar, fez uma viagem experimental e de contrabando "a acreditar nos praticantes da má-língua" e, de seguida, foi o navio almirante da ida a Conacri [, Op Mar Verde,  22 de novembro de 1970], sob o Comando de Faria dos Santos, mais tarde Comandante do porto e, em seguida, Governador Civil de Aveiro.

Poeta e grande amigo, recebia a jantar e bem um pequeno número de amigos na torre, onde, no final, a poesia expulsava o álcool.

Ele foi, igualmente, a nossa chave de acesso à Base Naval de Bissau onde, às quintas-feiras, havia jantar melhorado e aberto a convidados. (...)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9276: O nosso fad...ário (8): Canção do Adeus (letra de Manuel Moreira, CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vieira Moreira, ou apenas Manuel Moreira, letrista de fados e outras canções, natural de Aguada de Cima, Águeda,  ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69):


Data: 8 de Dezembro de 2011 18:21
Assunto: Canções da Guiné


Luís, vai a minha primeira canção de Guerra (*),  começada na viagem de ida para a Guiné dentro do navio Uíge. Como sabes,  eu já era casado e com dois filhos. Com música de: Au Revoir Sylvie, do Duo Ouro Negro, a que lhe dei o título "Canção do Adeus". Um Abraço
Manel Moreira,
CART 1746


O N/M Uíge, da Companhia Colonial de Navegação (Imagem: Com a devida vénia... Página da CCAÇ 1496, 1966/68)... Muitos de nós partiram para a Guiné neste navio (ou regressaram nele, como foi o meu caso)... Foi aqui que o Manuel Moreira escreveu a sua Canção do Adeus... Que também podia ser um fado... Mas, neste caso, ele foi buscar a inspiração ao famoso Duo Ouro Negro. Continuamos entretanto a recolher letras de fados, baladas e outras canções, ligadas à temática da guerra colonial. O nosso objetivo é podermos vir a ter uma secção de letras (e músicas) de fados, no Museu do Fado, dedicada à guerra colonial, com destaque para a Guiné... (LG)

__________

Canção do Adeus

Letra: Manuel Moreira
Música: Au Revoir Sylvie,  do Duo Ouro Negro [, há um versão disponível no YouTube,] (**)


1
Adeus, minha querida,
Eu vou-te deixar
Vou p´ra outra vida
Que é militar;
Eu vou para a guerra,
Mas sempre a pensar,
Na minha querida terra,
Que um dia hei-de voltar.

Refrão

Adeus, adeus,
Adeus, ó minha Mãe,
Não chore por mim
Porque eu voltarei.
Adeus, adeus,
Adeus, querida Mulher,
Não chores por mim
Que eu volto, se Deus quiser.

2

O I.A.O. terminou,
Fomos embarcar,
O Uíge abalou
Para o Ultramar;
Com Homens a valer,
Partimos com fé
Para defender
A nossa Guiné.

Refrão

Adeus, adeus, etc.
_______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 13 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9189: O nosso fad...ário (7): O fado do BART 2857: Parte I: Obras em Piche: letra de José Luís Tavares, recolha de Manuel Mata (Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71)

(**) Letra da canção (disponível aqui)

Au revoir Sylvie
Duo Ouro Negro

E setembro chegou,
Vamo-nos separar,
O verão terminou,
Diremos au revoir.

Ela vai pra Paris
E eu vou ficar,
Vou ficar infeliz
E Sylvie vou lembrar.

Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie
Au revoir, Sylvie.

Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie
Au revoir, Sylvie,

Sylvie, Sylvie, Sylvie
Oh! mon amour,
Oh! Sylvie Oh! Sylvie Oh! Sylvie,
Au revoir, Sylvie.

Na praia deserta,
Nem o sol sorri
E a solidão me fala de ti,
O meu violão também se calou,
Dissemos adeus e tudo acabou.

Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Au revoir, Sylvie.

Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Au revoir, Sylvie,

Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Oh! Sylvie Oh! Sylvie Oh! Sylvie
Au revoir Sylvie

Para saber mais sobre o Duo Ouro Negro clicar aqui na Wikipédia

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9189: O nosso fad...ário (7): O fado do BART 2857: Parte I: Obras em Piche: letra de José Luís Tavares, recolha de Manuel Mata (Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71)



Guiné > Zona Leste > Bafatá > Esq Rec Fox 2640 (1969/71) > Jardim da Bafatá > Eis o autor das quadras que aqui se publicam, buscando inspiração na espuma dos dias, o José Luís Tavares, sentado, à direita, sob a estátua de João Augusto Oliveira Muzanty, um dos pacificadores da Guiné tal como Teixeira Pinto. Primeiro tenente da Marinha,  foi governador do território entre 1906 e 1909.

O monumento a Oliveira Muzanty, inaugurado em 28 de Maio de 1950, foi obra do escultor António Duarte e do arquitecto Fernando Pessoa. Encontra-se hoje parcialmente destruído (só resta a base em pedra onde assentava a estátua do nosso antepassado).

Foto: © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados




Guiné > Zona Leste > Bafatá > Esq Rec Fox 2640 (1969/71) > O Manuel Mata em cima de uma Autometrelhadora Daimler.

Foto: © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados


1. Manuel Mata é dos mais antigos membros da nossa Tabanca Grande. Na I Série do nosso blogue tem diversos postes publicados. Foi 1º cabo apontador de Carros de Combate M 47 (, máquina de guerra que nem sequer havia no TO da Guiné...). É do meu tempo do leste: pertenceu ao Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71, e era amigo (e confidente) do velho Teófilo, do Café Teófilo.

Há cinco anos atrás, ele mandou-nos algumas quadras que foram agrupadas, com maior ou menor propriedade sob a designação de Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá. Foi a minha maneira de fazer uma pequena homenagem aos nossos camaradas da arma de cavalaria que penaram lá para os lados de Bafatá, Nova Lamego, Piche, Buruntuma... Também iam a Bambadinca, mas menos vezes. Bambadinca tinha o seu Pel Rec Daimler, que fazia o que podia (e podia pouco) para, com dignidade e coragem, ir aos pontos mais críticos e difíceis (sobretudo na época das chuvas) do Sector l1, como Mansambo, Xitole, Saltinho...

Do alentejano Manuel Mata, que vive no Crato, aqui vão algumas quadras do seu amigo José Luís Tavares, "homem de transmissões, companheiro do Esquadrão e das lides de organização dos convívios anuais" (sic)... Ele fez, em 2006, questão de sublinhar que se destinavam aos "amigos que gostam de quadras com algum sentido crítico-satírico"... 


Nunca cheguei a saber, junto dele, se na Cavalaria de Bafatá se cantava o fado... marialva ou não. Presumo que sim... Mas não tenho qualquer indicação de música de fado (ou outra) para acompanhar esta letra...  As quadras, com versos de 7 sílabas, são perfeitas (depois de um retoque final),  tocam-se com música de um fado tradicional, haja uma viola, um guitarra e uma garganta afinada. Pode ser o fado corrido, que casa bem com as quadras populares. Chamei-lhe nesta revisão o Fado do Bart 2857, com uma 1ª parte, Obras em Piche... (Com a devida vénia, ao autor da letra e ao Manuel Mata, que a recolheu) (*) (LG)


2. Fado do BART 2857: Parte I: Obras em Piche (***)

Aqui em Piche é mato,
Mas manga de animação,
Tem cá uma [bela] piscina,
Foi hoje a inuguração.

F'zeram várias brincadeiras
Que meteram muita graça,
Jogaram também f'tebol
E, ao fim, entrega da taça.

Foi um jogo de grande interesse,
Como já é natural,
Mas ao fim, em vez da taça,
Deram uma cerveja Cristal.

Vou dizer-lhes o resultado.
Só para nós em comum,
Que perderam os furriéis
Por nove golos a um.

Foi um jogo bem disputado,
Ouvi eu, numa entrevista,
Que mais par'cia uma final
Com Sporting e Boavista.

Passou-se isto a vinte e oito,
Mais nada, vou terminar,
E quanto à arbitragem
Acho que foi regular.

José Luis Tavares - Radiotelegrafista
28 de Junho de 1970


[Recolha: Manuel Mata] (**)

[Revisão /fixação de texto: L.G.]

__________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de Dezembro de 2011 Guiné 63/74 - P9165: O nosso fad...ário (6): Fado Canção da Fome: Livrou o autor de levar uma porrada do célebre Pimbas (Manuel Moreira, CART 1746, Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69)


(**) Vd. I Série >
 Poste de 31 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXV: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (1): Obras em Piche

(***) Ao tempo do BART 2857 (Piche, 1968/70), que tem um blogue próprio, aqui. Pelo "slideshow" com fotos do João Maria Pereira da Costa, vê-se que era malta danada para jogar á bola...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9165: O nosso fad...ário (6): Fado Canção da Fome: Livrou o autor de levar uma porrada do célebre Pimbas (Manuel Moreira, CART 1746, Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > CART 1746 (1968/69) >  Destacamento da Ponta do Inglês > Em primeiro plano, do lado direito, o ex-1º Cabo Mec Auto Manuel Vieira Moreira... Foi aqui, neste destacamento, de má memória para muitos de nós, que o Manuel Moreira escreveu o seu fado, Canção da Fome...

Por detrás dos militares da CART 1746 (unidade de quadrícula do Xime), à mesa, partilhando uma refeição, vê-se uma parede revestida a chapas de bidão... que lá ficaram, quando as NT retiraram do destacamento, por ordem do Com-Chefe, em Novembro de 1968, desguarnecendo a posição estratégica que era a foz do Rio Corubal... (LG)

Foto: © Manuel Moreira (2009). Todos os direitos reservados






Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor do Xime > Margem direita do Rio Corubal > Foz do Corubal, tendo à direita a Ponta do Inglês, de triste memória para muitos de nós... Mais acima, na margem esquerda, Ganjauará, perto de Gampará, de triste memória para o Vitor Tavares e os seus  camaradas da CCP 121/BCP 12 (Mapa de Fulacunda, Escala 1/50000 (detalhes).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011).

 
1. Texto do Manuel Moreira, um dos fadistas da nossa Tabanca Grande, natural de Águeda, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69), com data de hoje, com mais um magnífico contributo para a série O Nosso Fad...ário (*)

Camarada e Amigo Luís

O porquê da Canção da Fome já foi dito, agora vai a história :

O meu fado, Canção da Fome,é baseado na música do fado gingão Tempos que já lá vão,  de Manuel de Almeida. Mas eu canto-o de forma diferente de modo a dar-lhe o sentido próprio da situação vivida. Foi gravado em bobines de fita, porque na altura não havia cassetes, e acompanhado por duas violas tocadas pelo Alf Mil [Gilberto]Madail e pelo [Soldado] Corneteiro Agostinho Pacheco Moreira.

Fez sucesso por todos os Destacamentos onde esteve colocada a CART 1746, como sendo: Ponta do Inglês, Taibata, Demba Taco, Amedalai e Galomaro.

Foi de Galomaro que apanhei o maior susto quando o Comandante do Batalhão de Bambadinca [, Ten Cor Pimentel Bastos, do BCAÇ 2852, 1968/70] fez visita a Galomaro em Março de 1968. O gravador do Fur Melo estava a passar a Canção da Fome e quando se apercebeu da sua presença correu a desligar o aparelho. De seguida, foi admoestado pelo Comandante por ter feito o que fez e pediu para ligar o aparelho onde ficou a ouvir com atenção e repetiu...

Quando se ouvia o meu nome no final, o então guarda costas do Comandante, já falecido, que era de Águeda,  de seu nome Emanuel Carvalho, disse que me conhecia e ficou incumbido de me convidar a fazer uma visita ao Gabinete do Comandante.

Quando a comitiva se retirou, logo o Fur Melo enviou uma mensagem via rádio para o Xime a contar o sucedido para que eu fosse avisado. E então o Cabo de Transmissões Laurentino Ribeiro, que é de Barcelos, veio ter comigo à Oficina e começa por me dizer, bem à moda do Minho:
- Ó Moreira, estás fodido, pá !

Ao que eu respondi:
- Pois estou,  e já há muito tempo e só acaba quando for embora daqui ... - Mas ele muito sério repete e diz :
- O Comandante  do Batalhão ouviu a tua Canção da Fome e quer que vás ao Gabinete dele responder. - Por isso, aí eu pensei e disse:
- Estou fodido mesmo !

Demorei bastante tempo a ir a Bambadinca a ver se o tipo se esquecia mas não, estava sempre a perguntar ao Emanuel Carvalho por mim.

Depois de vários comentários deste,  com os meus camaradas mecânicos do Xime, lá me convenceram a ir a Bambadinca e qual o meu espanto, quando o Comandante [, o Ten Cor Pimentel Basto,]queria só e apenas que eu cantasse para ele gravar e levar para casa e mostrar aos netos...

Aí eu acreditei. Eu só tinha medo da PIDE.

E tive sorte porque, precisamente em Galomaro,  no dia 5 de Março de 1968,  aquando da rendição de Secção por Secção, o condutor João Medeiros ausentou-se com o Unimog sem autorização e conhecimento,  levando a minha G3 junta com a do Alf Madaíl no banco direito, mecânico e oficial de coluna, que eram as únicas que iam e vinham. Fui beber umas aguardentes de cana e na vinda, depois de vários saltos nos buracos da estrada, a minha G3 caiu e passou-lhe por cima ficando em três pedaços. Ora, auto às costas... Auto que estava nas mãos do Comandante do Batalhão que o arquivou,  graças à Canção da Fome.

O Madaíl não cantava o Fado mas dava uns toques na viola. Eu sempre cantei e canto, de tudo. Cantar faz bem e espanta as tristezas !

Um Abraço Amigo

Manel Moreira
CART 1746

2. Letra do fado Canção da Fome (**)

[Adpat. de Tempos que já lá vão,  de Manuel de Almeida, n. 1922; música do Fado Corrido]

CANÇÃO DA FOME

Estamos num destacamento,
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês.
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.

A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da Guiné.

Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.

Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos turras à cabeça,
Não sei que será de mim.

Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao Sol
Junto ao Rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.

A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino:
Manuel Vieira Moreira.

Xime, Ponta do Inglês, 28/01/1968

_________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9144: O nosso fad...ário (5): Fado Brito que és militar (Letra de Tony Levezinho, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

(**) Vd. poste de 31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1009: Cancioneiro do Xime (1): A canção da fome (Manuel Moreira, CART 1746)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9144: O nosso fad...ário (5): Fado Brito que és militar (Letra de Tony Levezinho, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Convívio no bar de sargentos, em meados de 1970 (ainda estávamos em lua de mel, os velhinhos da CCAÇ 12, e os piras do BART 2917, aqui representados pelo 2º Comandante, Maj Art Anjos de Carvalho, e o 1º Sargt Art Fernando Brito)...  Quanto às senhoras: à direita do 1º Srgt Brito (hoje major reformado...), (i) a Helena, mulher do António Carlão, ex-Alf Mil At Inf, CCAÇ 12; à direita do Major Anjos de Carvalho (hoje provavelmente coronel, faço votos que esteja bem de saúde), (ii) a esposa do Major de Operações Barros Bastos (cujo nome lamento não me recordar); e à sua esquerda, (iii) a Isabel, a mulher do José Coelho, o Fur Mil Enf da CCS/BART 2917. (LG)

Foto: © Vitor Raposeiro (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

1. Comecemos pelo princípio: Este fado faz parte do Cancioneiro de Bambadinca. Quem o salvou, do limbo do esquecimento, foi o Gabriel Gonçalves, o 1º Cabo Cripto da CCASÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71). Eu reconheci a letra e o autor, o nosso querido amigo Tony Levezinho.

Quanto ao homenageado, era o  Fernando Brito, o 1º Sargento da CCS/BART 2917, que chegou a Bambadinca, para tomar conta do Sector L1, em finais de 1970, quando a malta da CCAÇ 12 já pertencia à velhice, com um ano de porrada... O Brito era um senhor, que se impunha não só pelo físico e pelo verbo fácil como pela tarimba e pela autoridade... Naturalmente, suscitava amores e ódios. Tinha idade de ser nosso pai, era um homem esperto e sobretudo sedutor... Tinha uma cultura acima da média, se considerarmos o meio social de origem dos sargentos do quadro. Fazia gala de referir-se à esposa, de ascendência ou de apelido russo (já não posso precisar... Natasha ?).

Fazia questão de sublinhar, perante os reles infantes,  que pertencia à orgulhosa arma de artilharia. Quando ouvíamosum disparo de obus, no Xime ou em Mansambo, comentava ele:
- Lá se foi mais um fato completo!...  De

Não sei porquê, criámos - os furriéis da CCAÇ 12, já velhinhos - uma relação de empatia com o nosso Primeiro Brito, o chefão dos periquitos da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)...

A nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12 deixou cedo de ter 1º Sargento (O Fragata foi tirar o curso de oficial em Águeda), sendo essas funções desempenhadas pelo nosso querido 2º Sargento José Manuel Rosado Piça, alentejano dos quatro costados, grande cúmplice, grande camarada, grande amigo... Tinha 37 ou 38 anos mas não se foi embora da Guiné sem levar o seu baptismo de fogo... Já no final, nos princípios de 1971, obrigámo-lo a ir ao Poindon, desenfurrejar as pernas e a G-3... Qualquer deles, o Brito e o Piça, alinhavam nas nossas noitadas de Bambadinca. (LG)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da ponte do Rio Udunduma > Um bu...rako de muitas estrelas... Na foto, em primeiro plano o Tony Levezinho e o Humberto Reis,  mais os seus Baldés, neste caso o  2º Gr Comb da CCAÇ 12, na ausência do Alf Mil At Inf António Carlão, destacado para o reordenamento de Nhabijões,. "ali ai lado"...


Foto: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




 Brito... que és militar!



Letra: Tony Levezinho

[Adpat: Fado "Povo que lavas no rio"

[Música: Fado Victória, composição original de Joaquim Campos (1911-1981)
Letra: Pedro Homem de Melo (***)
Criação de Amália Rodrigues, 1961] [Uma interpretação de Amália pode ser aqui ouvida, no YouTube -ficheio apenas áudio]


Refrão

Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão.
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.

Fui ver à secretaria,
Por ouvir a gritaria
Que fazia confusão:
- Mim quer saco de bianda!
- Põe-te nas putas, desanda,
Que a mim cá têm patacão!

Filho da puta e sacana
É o que eles te chamam,
Tenho a mesma condição
- Mamadús, eu vos adoro,
se for preciso eu choro,
mas Patacão... é que não!

Refrão

Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão.
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.

[ Recolha: GG / Revisão: LG]

__________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 2 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9129: O nosso fad...ário (4): O Fado da Orion (J. Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Médico, 1969/71)

(**) Letra recolhida aqui:

Povo que lavas no rio

E talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida não.

Fui ter à mesa redonda,
Bebi em malga que me esconde
O beijo de mão em mão.
Era o vinho que me deste,
A água pura, fruto agreste
Mas a tua vida não.

Aromas de luz e de lama,
Dormi com eles na cama,
Tive a mesma condição.
Povo, povo, eu te pertenço,
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida não.

Povo que lavas no rio
E talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9129: O nosso fad...ário (4): O Fado da Orion (J. Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Médico, 1969/71)

1. Há tempos o nosso camarada   J. Pardete Ferreira, (ex- Alf Mil Med, CAOP, Teixeira Pinto; HM241, Bissau, 1969/71) mandou-nos a letra do Fado da Orion. Já foi publicada no poste P8966, na secção Blogpoesia (*)... Mas hoje queremos recuperá-la para a secção O nosso fad...ário (**).

E esperamos um dia poder ouvi-la cantar por um dos nossos fadistas, num dos nossos encontros ou até, quem sabe, numa "grande noite do fado dedicada à Guiné"...


Uma explicação é devida pelo autor da letra:


(...) " O Fado da Orion foi escrito em Homenagem ao Comandante Faria dos Santos. A LFG [Orion] passou mais de um ano acostada ao molhe do Pidjigiti porque tinha cedido à [LFG] Batarda um dos motores. Quando o recebeu de volta ou ele foi substituído por um novo, já não posso precisar, fez uma viagem experimental e de contrabando 'a acreditar nos praticantes da má-língua' e de seguida foi o navio almirante da ida a Conacri [, Op Mar Verde, em 22 de Novembro de 1970,]  sob o Comando de Faria dos Santos, mais tarde Comandante do porto e, em seguida, Governador Civil de Aveiro. Poeta e grande amigo, recebia a jantar (e bem) um pequeno número de amigos na torre, onde, no final, a poesia expulsava o álcool. Ele foi, igualmente, a nossa chave de acesso à Base Naval de Bissau onde, às quintas-feiras,  havia jantar melhorado e aberto a convidados" (...)



Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > 1971 ou 1972 > A LFG Orion é (ou era, uma vez que já não existe) como a Nau Catrineta: tem (tinha) “muito que contar”, do Cacheu a Cacine, passando por Conacri… Dois camaradas nossos, o Manuel Lema Santos (como 2º Ten RN, e o Pedro Lauret  (como 2º Ten) foram seus Imediatos  embora em épocas (1966/69 e 1971/73, respetivamente)…

Nesta foto vemos o actual comandante reformado, Pedro Lauret, em 1971 ou 1972, então oficial imediato do NRP Orion (1971/73), na ponta do navio, a navegar no Rio Cacine, tendo a seu lado o comandante Rita, com quem ele faria a primeira metade da sua comissão na Guiné. "Um grande homem, um grande comandante" (PL)… 

O 1º Ten  José Manuel Baptista Coelho Rita foi comandante do NRP [, Navio da República Portugesa,] Orion, de 7/12/1970 a 15/10/1972, tendo substituído o 1º Ten Alberto Augusto Faria dos Santos (que comandou a Orion, de 6/12/1968 a 7/12/1970) (Fonte: Wikipédia > NRP Oríon).

Mas nem só o Pardete Ferreira matava a fome e a sede no bar da Orion... Também o nosso amigo e camarada Paulo Santiago já aqui contou, em 2006, como se tornou habitué da Orion sempre que ía a Bissau (***)...

Foto: © Pedro Lauret (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

2. Fado da Orion


Letra: José Pardete Ferreira 

["1ª parte e Refrão escritos em Bissau em Novembro de 1970. 2ª parte escrita em Setúbal na madrugada de 15 de Dezembro de 1997. Para ser cantado com a Música do Fado do Cacilheiro, do Maestro Carlos Dias"].

Adapt do Fado do Cacilheiro

[Letra : Paulo Fonseca (****); música: Carlos Dias]

[Há várias criações deste fado - do José Viana ao Antónioo Mourão, do Tristão da Silva ao Nuno da Câmara Pereira, ... Talvez a mais conhecida seja a do Zé Viana, justamente imortalizado como o Zé Cacilheiro. Veja-se aqui um vídeo, de 1966, que passou na RTP Memória, e está disponível aqui, no YouTube]



Tristes noites de Bissau,
Neste clima tão mau,
Passá-las não há maneira,
Sem comer arroz, galinha.
Ou então ir à Marinha
Aos jantares da quinta-feira!


Às vezes um Comandante,
Bom amigo, bem falante,
Obriga uma pessoa,
Com uma grande bebedeira,
Pensar que o Ilhéu do Rei
Fica em frente de Lisboa.


Refrão

Ser marinheiro
De LFG no estaleiro,
Sem motores nem cantineiro,
Junto ao cais sem navegar,
E esperando,
A comissão foi passando,
Ai!, os amigos engrossando,
Com o Geba a embalar.


Quando vinha dessa Terra
E voltava à minha Serra,
Nem eu queria acreditar !
Virei-me ainda p'ra ver,
O meu Adeus lhe lançar
E também lhe agradecer:


Com meu suor derramado
No teu chão, tão maltratado,
Deixo-te votos amigos
E, também, as minhas preces,
'squecendo rancores antigos,
Por ti, Guiné, que mereces.


Refrão...
____________________

Notas do editor:
 
(*) Vd. poste de 30 de Outubvro de 2011 > Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

(**) Último poste da série > 1 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9122: O nosso fad...ário (3): Fado Sangue, suor e lágrimas (Manuel Moreira, CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1968/69)

(****) Letra de Paulo Fonseca, recuperada aqui (com a devida vénia):

Fado do Cacilheiro

Quando eu era rapazote,
Levei comigo no bote
Uma varina atrevida,
Manobrei e gostei dela
E lá me atraquei a ela
P’ró resto da minha vida.

Às vezes a uma pessoa
A idade não perdoa,
Faz bater o coração
Mas tenho grande vaidade
Em viver a mocidade
Dentro desta geração.


Refrão

Sou marinheiro
Deste velho cacilheiro,
Dedicado companheiro.Pequeno berço do povo,
E, navegando,
A idade vai chegando,
Ai…
O cabelo branqueando,
Mas o Tejo é sempre novo.

Todos moram numa rua
Mas eu cá não os invejo,
O meu bairro é sobre as águas
Que cantam as suas mágoas
E a minha rua é o Tejo.

Certa noite de luar
Vinha eu a navegar
E, de pé junto da proa,
Eu vi ou então sonhei
Que os braços do Cristo-Rei
Estavam a abraçar Lisboa.

Refrão

A que chamam sempre sua,