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segunda-feira, 1 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5915: Blogpoesia (66): Poemas de Macau e Hong Kong - Parte II (António Graça de Abreu)



Tão pequeno o quarto no
Íbis Hong Kong pendurado na baía!...
O que tenho cá dentro ?
Apenas uma janela para olhar o mar,
uma cama larga, ar fresco,
e um montão de livros.

Hong Kong, nove dragões,
no outro lado da baía,
ondulam no sabor dos dias.

Arranha-céus em Hong Kong,
montanhas depuradas de betão,
brotam do mar e da terra. 




O teleférico sobe pelos ossos da ilha,
oscila nos lábios brancos do vento.
Lá em baixo, mil perfumes
rasgam a capa verde dos montes,
nas alturas de Lantao, a névoa cresce.


À entrada do tempo de Pó Lin,
o chilreio de todos os pássaros.
Grotescos os guardiões do templo de Buda,
na mão um pagode, um alaúde,
uma esfera, um dragão, uma espada.



















Almotolias, lamparinas, óleos,
fumos cinzentos de incenso,
Tesouros de Lótus nos jardins,
estranhas flores de um Maio triste.
A bruma afga a crista dos pinheiros,
o viajante afasta-se no vazio,
o mosteiro bebe a névoa do céu.

Entro por nuvens brancas,
e saúdo o velho Buda,
sentado num lótus de bruma



Os montes de Lantao, a aldeia de Ngong Ping,
mais longe da desfaçatez das gentes do mundo,
aqui novelos de sagesse no olhar.
Um almoço de massa, porco frito e camarão, 
mais perfumes de chá da China.
Depois, após o levantar da bruma,
Buda à minha espera
para uma conversa entre deuses e homens.


_____________

Segunda e última parte dos fotopoemas de Macau e Hong Kong, Maio-Junho de 2009, da autoria de António Graça de Abreu.  É um privilégio, para os seus amigos e camaradas da Guiné, poder acompanhá-lo por estas paragens que inspiraram grandes poetas e escritores portugueses como Luís de Camões, Camilo Pessanha ou Venceslau de Moraes. O António é também portador de valores de que nos orgulhamos, na nossa portugalidade, como é  por exemplo a nossa capacidade de entender (e comunicar com) outros povos, outras culturas.

António Graça de Abreu (n. 1947, no Porto), membro da nossa Tabanca Grande, foi Alf Mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74) [, foto à esquerda]. É um conceituado especialista em cultura chinesa, tradutor (premiado) de clássicos da poesia chinesa como o poeta Li Bai  (701-762), é autor de mais de um dúzia de livros, entre poesia e ensaio histórico,  incluindo o Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra e Paz, 2007). Viveu em Pequim e Xangai, de 1977 a 1983. É casado com a médica Hai Yuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais (*).

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Nota de L.G.:

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4483: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (11): Macau: A. Graça Abreu com José Martins, ex-Cap CCAÇ 16 (Bachile, 1971)


China > Macau > Ruínas da Igreja de São Paulo, uma das 27 maravilhas do mundo, de origem portuguesa
Fonte: Wikipédia (2009). Copyleft
1. O nosso Camarada Jorge Picado em 13 de Maio de 2009, enviou o seguinte e-mail ao Luís Graça, sob o título: Reencontro telefónico com o Cmdt. da CCaç. 16:

Luís,

Acabo de falar com o José Martins.

Era de facto o Cap da CCaç 16 e terminou essa comissão uns meses depois de eu ter regressado ao Continente.
É espantoso, pois disse-me que me reconheceu logo que viu a foto no Blogue e daí o ter procurado nas listas o meu contacto telefónico, mas foi parar à Costa Nova.
Falou-me nos nomes da maioria dos Oficiais do CAOP 1.
Possivelmente o Graça de Abreu já não o terá de facto encontrado.
Lê sempre o Blogue. Por isso já sabia do comentário e quando acabou de falar comigo disse que ia tentar ligar para o Abreu.
Também é casado com uma chinesa, médica se percebi bem e vive em Macau.
Era Miliciano e seguiu a carreira, sendo do CPC do Rui Alexandrino que o deve conhecer.

Antes do CPC fez a 1.ª comissão em Angola e depois dessa, na Guiné, voltou a ir outra vez para Angola.

É portanto Tenente Coronel se bem entendi, mas já está reformado, depois de ter ido para Macau onde esteve em algo de Segurança.

Perguntei-lhe se não tinha endereço da Net, com o intuito de o "aliciar" para o Blogue, mas respondeu-me que não está familiarizado com a "máquina".

Talvez o Graça de Abreu consiga saber mais.

Abraço,

Jorge Picado

2. No mesmo dia, Luís Graça respondeu ao Jorge Picado, com o mesmo título: Reencontro telefónico com o Cmdt da CCaç 16:

António,

Aqui tens... a resposta do outro lado do mundo.

Amazing,

Luís

3. Ao que o António Graça de Abreu, em 05 de Junho de 2009, também via e-mail, ripostou ao Luís Graça, Cc ao Jorge Picado, com o título: Encontro com o Cmdt. da CCaç. 16:
Voltei ontem de Macau.
Estive lá com o José Martins, Cap da CCaç 16, no Bachile.
Graças ao blogue fui encontrar em Macau um nosso camarada da Guiné (há 23 anos em Macau!), com mais mil estórias para contar.
O Martins lê o blogue mas creio que não sabe como aderir como “tertuliano”.
Está reformado e comprou agora uma casa na ilha de Hainan, no sul da China, perto do Vietname, e vai para lá passar largas temporadas.
Estive quase 15 dias em Macau e almoçámos e jantámos umas cinco ou seis vezes.
O Martins esteve também na apresentação do meu novo livro, a minha tradução dos Poemas de Han Shan (séc. VIII) no auditório da Livraria Portuguesa, em Macau.
Foi um gosto enorme ter conhecido o José Martins, camarada da Guiné.
Luís, vê as maravilhas que o teu blogue provoca.
Um abraço,
António Graça de Abreu
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Notas de M.R.:

Vd. último poste da série em:

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4425: No 25 de Abril eu estava em... (11): No Xitole, a guerra não acabou no dia 25 de Abril de 1974 (Joaquim Macau)

1. Mensagem de Joaquim Macau, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74, com data de 25 de Maio de 2009:

Camarada Carlos vinhal
É com satisfação que vou responder às questões que me colocavas, mas antes, gostaria de fazer umas pequenas correcções.

Eu e outros camaradas só chegamos à Guiné no último dia do ano de 1973, houve outros que foram chegando até 5 de Janeiro de 1974, se o ingresso na vida militar foi para todos em 1973, alguns de nós só abalaram de Portugal já em 1974. Portanto nós, 2.ª CCAÇ só fomos para Xitole já em 1974.

A entrega do Xitole, não foi feita um mês depois da emboscada, foi muito tempo depois.

A 15 de Junho de 74 foi o primeiro contacto entre (forças inimigas), disso já o Zeferino fez referência anteriormente.

No mesmo dia, um GCOMB já tinha saído do quartel para ir buscar a correspondência, algures, ao rio Corubal, eu, nesse dia, fui com o Grupo como acontecia frequentemente para aquele lugar, onde nunca se consta que tenha havido algum encontro entre as forças inimigas.

Chegados ao local, como era normal, entrei em contacto com o quartel, para anunciar que tínhamos chegado ao destino, sem qualquer problema, foi quando, do quartel, o camarada que comigo trocou de serviço, me informou que o Capitão tinha saído para um encontro com elementos do PAIGC. Como devem calcular quando informei o Grupo do que se estava a passar, a alegria e a satisfação de todos era enorme. Assim que recebemos o correio, partimos em festa para o quartel e, quando chegamos, ainda o grupo do Capitão não tinha chegado. Os camaradas que estavam no quartel, também eles estavam em festa. Quando ia a caminho do posto de transmissões, atirei 2 ou 3 tiros de pistola para o ar, eram os foguetes festivos, logo criticados por um sargento do quadro que não me recordo o nome, pensava ele que tinha sido um acidente e não uma comemoração.

Pouco depois chegou o Comandante e seus acompanhantes que nos descreveu como tinha corrido o encontro e que a guerra felizmente tinha acabado.

Nos dias seguintes começamos a receber visitas e a conviver com os, outrora, inimigos. Na altura receava-se que pudesse haver alguma tentativa de aproveitamento por parte de elementos de um grupo há muito inactivo, mas o tempo mostrou que de facto só o PAIGC existia como organização.

Pelo menos uma vez formamos uma equipa de futebol que foi a Bambadinca disputar um encontro na sede do BCAÇ 4616. Na picada onde aconteceu a tragédia de 15 de Maio de 74, combinado com as nossas tropas, estavam os elementos do PAIGC, a fazer segurança para que nada de mal acontecesse.

O convívio com eles foi sempre cordial, nunca houve qualquer tipo de problemas. A única vez que existiu uma situação quase complicada, foi uma tentativa de assalto ao armazém de géneros alimentícios por parte de um grupo de milícias que eram parte integrante das nossas tropas. As nossas forças conseguiram dominar a situação sem incidentes.

Na nossa zona, o primeiro quartel a ser entregue ao PAIGC, foi o do Saltinho. Uma parte significativa do nosso equipamento, ficou nos quartéis, os meios de transmissões ficaram todos, eles, no inicio, tiveram dificuldade em conseguirem utilizá-lo convenientemente. Já depois do Saltinho estar entregue, as baterias dos rádios não recarregavam, as frequências utilizadas não eram as mesmas e logicamente os rádios não funcionavam, foi então enviada uma equipa do Xitole, em missão solidária, ajudar a resolver os problemas que entretanto surgiram. Corrigidas as deficiências, falámos àcerca da guerra já terminada, trocamos peças de fardamentos e fomos ao rio. Terminada a visita, os cumprimentos de despedida e os desejos de felicidade recíprocos, partida de regresso ao Xitole onde chegamos já ao escurecer. Foi uma viagem agradável e a única vez que visitei aquele sítio maravilhoso.

No Xitole tudo corria calmamente, os contactos e o convívio continuavam sem problemas e os acontecimentos menos bons faziam parte do passado, estávamos ansiosos pela nossa vez de partirmos a caminho de Bissau.

A data de partida do Xitole não me recordo, talvez o Zeferino no trabalho que está a preparar, me consiga complementar, mas foi muito tempo depois de 15 de Junho. Estivemos algum tempo em Bambadinca, depois fomos para Bissau, onde estivemos mais alguns dias a aguardar a nossa vez de embarque, o que aconteceu a 12 de Setembro de 74.

Por agora é tudo, se entenderem que alguma parte merece divulgação estejam à vontade.
Gostaria imenso que divulgassem o meu e-mail: joaquimmacau@gmail.com, para possíveis contactos com camaradas da 2.ª CCAÇ 4616, os quais, aguardo esperançado.

Para todos, um grande abraço, até logo.
Joaquim Augusto Pombinho Macau
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4354: Tabanca Grande (142): Joaquim Macau, camarada do último morto em emboscada do PAIGC (2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, Xitole, 1973)

Vd. último poste da série de 9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4311: No 25 de Abril eu estava em... (8): Chugué, num buraco com um tecto de quatro toros (José Pedrosa)